#FerraçãoDeCanindé
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Zé Baiano
Mané Moreno, Zé Baiano e Zé Sereno (FOTO)
Zé Baiano - José Aleixo Ribeiro da Silva - foi um dos cangaceiros mais famosos, mas também um dos menos estudados. As histórias e referências a seu respeito são repetidas por muitos autores sem a devida reflexão e sem preocupação com a verdade.
Seu nome era José Aleixo Ribeiro da Silva. Pertencia à família dos Engrácia, nome de sua avó – família Ribeiro da Silva. Era sobrinho de Cirilo e Antônio de Engrácia, e primo de Zé Sereno, Mané Moreno, Antônio de Seu Naro, Sabonete e vários outros cabras, em torno de quinze. Zé Baiano era um rapaz comunicativo, mas não falador. Estava sempre tranquilo, alegre. Usava óculos de grau. Foi um dos cabras mais fiéis a seu chefe, obediente ao código do cangaço, tanto assim que quando os parentes romperam com Lampião Zé Baiano ficou com ele.
Além dos grandes fazendeiros da região, ele mantinha contatos com figuras poderosas da política estadual, usineiros da Cotinguiba e grandes comerciantes de Aracaju, aos quais emprestava elevadas somas a juros. Certo dia, surpreendeu o poderoso Otoniel Dória (Dorinha), chefe político de Itabaiana, em sua fazenda São João, município de Carira. Trocaram cumprimentos. O fazendeiro convidou-o para jantar, e a partir daí firmaram uma profunda amizade.
Inf��ncia e primeiros passos no cangaço
Zé Aleixo – o Zé Baiano – nasceu nas Areias, acima de São Saité, na zona de Feira do Pau (atual Macururé). Era filho de Teodora e Faustino Ribeiro da Silva (Faustino Mão de Onça), irmão de Antônio e Cirilo de Engrácia. Criou-se ajudando o pai no manejo de bodes e ovelhas entre as Areias, Lagoa do Esquixique, Lagoa das Vacas e Baixa do Ribeiro. Quando as lagoas e cacimbas secavam, o último recurso eram os poços do Riacho Grande. Tinha jeito para carpinteiro e pedreiro – naquele tempo as casas de pobres eram feitas de madeira trançada e barro, com cobertura de palha, e as dos mais remediados eram de adobe, cobertas de telha.
Quando o tio Antônio de Engrácia cometeu o primeiro crime, em 1925, toda a família se viu envolvida, pois a vítima era um homem de posses. Os Engrácia pediram proteção inicialmente a Inácio Grande, o maior fazendeiro de Chorrochó. Depois foram viver sob a proteção de Gregório da Pedra da Chica, no outro lado do São Francisco, em Pernambuco. Foi nessa ocasião que José Aleixo recebeu o apelido de Zé Baiano, para se distinguir de outros José. Juntou-se ao bando de Lampião pela primeira vez em setembro de 1926, desligando-se dois meses depois, após a Batalha da Serra Grande. Reincorporou-se ao bando definitivamente em julho de 1929.
Ferração em Canindé
Balbina da Silva (FOTO)
Maria Marques (FOTO)
Isso aconteceu em Canindé, em janeiro de 1932, quando ele, por vingança, ferrou de uma só vez três mulheres ligadas a soldados que haviam espancado sua mãe. A história dessa ferração é a seguinte:
Um soldado chamado Vicente Marques – da família Marques, de Santa Brígida, Marancó e Canindé – certa vez espancou a mãe de Zé Baiano para obrigá-la a informar o paradeiro do filho e dos parentes cangaceiros. A velha ficou irreconhecível, tantas foram as coronhadas de fuzil que recebeu no rosto.
Quando Lampião esteve em Canindé, em janeiro de 1932, onde moravam pessoas da família Marques, Zé Baiano recebeu carta branca de Lampião para vingar-se do que fizeram com sua mãe. Ao prender Maria Marques, irmã do soldado que supliciara sua mãe, Zé Baiano decidiu deixá-la marcada para sempre e mandou que um morador chamado Zé Rosa fosse buscar um ferro de marcar gado. Zé Rosa tinha sido vaqueiro do finado coronel João Brito (João Fernandes de Brito). Trouxe o primeiro ferro que encontrou, o ferro utilizado no passado para marcar os bois de seu falecido patrão, que tinha as letras “J-B”, de João Brito. Além de Maria Marques, foram ferradas no mesmo dia outras duas mulheres, ambas ligadas também a soldados por casamento ou mancebia.
Por fim, quando observaram que as letras do ferro – “J-B” – eram as letras do seu nome, o cangaceiro decidiu levar o ferro como recordação de sua vingança, porém não há nenhum relato de fonte segura de que o tivesse utilizado outras vezes. Na área que lhe foi reservada, compreendendo terras de Ribeirópolis, Frei Paulo, Macambira, Pedra Mole, Pinhão e Carira, nunca se soube que ali Zé Baiano tivesse ferrado ninguém, seja homem ou mulher.
A principal atuação de Zé Baiano ocorreu no povoamento de Alagadiço, local onde Lampião realizara alguns ataques, assaltando moradores. A região foi invadida pela primeira vez em 1930, quando descobriram que a cidade era perfeita para o bando passar alguns dias em liberdade.
Além de ser um local estratégico e protegido, — sem grandes contatos com áreas maiores—, não tinha uma estrutura policial forte, estando aberta a atuações criminosas.
Numa das últimas visitas do cangaceiro a Alagadiço, em 1934, o líder bandoleiro deixou Zé Baiano como administrador local dos saques, ou seja, um comandante regional sob o nome do capitão. Ele passou a realizar patrulhas junto aos companheiros Chico Peste, Acelino e Demudado, com quem realizava roubos e abusava de sua autoridade concedida pelo Rei do Sertão.
Cidades como Frei Paulo, Alagadiço e arredores passaram a viver na lei de Zé Baiano, em que quase tudo se resolvia no facão e balas. As poucas passagens locais da polícia, que vivia perseguindo o bando de Lampião, eram inúteis. Os cangaceiros se escondiam em casas de fazendeiros e matas locais. Ao mesmo tempo, ele também roubava de locais para emprestar dinheiro a comerciantes e lucrar com juros.
Ganhou o apelido de Pantera Negra dos Sertões — por sua pele escura — e Ferrador de Gente, por um hábito infeliz: usava um ferro com as iniciais JB escaldante, pois era esquentado na brasa, para marcar a pele do rosto ou do púbis de moças dos quais os hábitos ele discordava.
Um coiteiro regional, chamado Antonio de Chiquinho, costumava estar entre os procurados pela polícia. Isso porque era o informante de Lampião sobre a posição das volantes que o perseguiam. Porém, com o tempo, cansado da vida de fuga e da violência dos cabras, o cúmplice dos cangaceiros decidiu livrar a cidade de Zé Baiano.
Ele montou uma emboscada contra o comandante regional e seus aliados, na cidade de Frei Paulo (Sergipe). Zé e mais três companheiros iriam receber alimentos na cidade quando Antonio e mais cinco homens iniciaram o ataque, os baleando naquele 7 de julho de 1936, numa luta sangrenta.
Zé Baiano foi esfaqueado, baleado e, então, decapitado por Antonio. Porém, o fato gerou grande temor ao coiteiro e à população local: se imaginava que Lampião voltaria à cidade em busca de vingança. Então, mantiveram-se em silêncio por dias sobre o episódio, até que a informação fosse divulgada acidentalmente numa Festa de São João.
Zé Baiano (FOTO)
Nunca houve represálias do Rei do Cangaço. Isso porque foi convencido por Maria Bonita que uma vingança não valeria a pena, dado que a cidade ainda tinha um canhão para a defesa local e que Zé Baiano era um homem com uma imagem manchada por ter enriquecido com o dinheiro da população. A polícia do estado, porém, ao descobrir o fato, rumou à cidade de Frei Paulo, onde desenterraram os corpos e os analisaram, identificando os cangaceiros.
Os cadáveres, enterrados num formigueiro, estavam em estado avançado de putrefação. Os três aliados de Zé — e a cabeça decapitada do bandido — foram fotografados e seus corpos foram novamente enterrados no local.
Lídia: amor e desdita
No segundo semestre de 1931, depois de uma viagem por Alagoas e Pernambuco para se reabastecer de munição, Lampião havia escondido a munição excedente na fazenda Maranduba, perto da Serra Negra, indo descansar nas imediações do povoado Poços, na entrada do Raso da Catarina. Ele conseguira também com seus amigos em Pernambuco algumas armas, porém a maior parte apresentava defeitos. Decidiu então levá-las para o seu amigo Venâncio Teixeira, residente em Olhos d’Água do Sousa, nas imediações de Santo Antônio da Glória – Venâncio era muito bom nesse negócio de armas velhas, deixava-as novinhas em folha.
No caminho, Zé Baiano começou a sentir dor de cabeça. Tinha febre. Tremia de frio em pleno meio-dia. Estava saindo um caroço no pescoço. Não suportava nem o chapéu na cabeça.
Lampião conhecia um velho chamado Luís Pereira, que morava no Salgadinho, ao lado da Serra do Padre. A mulher dele, Maria Rosa (dona Baló), era costureira e já havia feito muitas roupas para os cangaceiros. Lampião pediu ao velho que cuidasse do doente, enquanto o resto do bando prosseguia a viagem.
A casa de Luís Pereira tinha uma sala ampla, 3 quartos, cozinha espaçosa, e no fundo ficava o chiqueiro dos bodes, pegado a um tanque. Zé Baiano passou uns 15 dias ali. O tumor era tratado com remédios dos matos – chás e emplastros de ervas. Era bem cuidado por todos, inclusive pela filha caçula de Luís Pereira, chamada Lídia, uma linda garota de 15 anos. Quando ficou bom, o cangaceiro fugiu com a menina.
Lídia não foi propriamente raptada, mas, muito jovem, não sabia o que estava fazendo, e no mesmo dia, ao perceber a vida que teria pela frente, tendo de dormir nos matos e viver se escondendo como bicho, se arrependeu de ter saído de casa. Mas aí já era tarde.
Zé Baiano fazia de tudo para agradá-la. Cobria-a de presentes. Quando iam comer, ele reservava os melhores pedaços de carne para ela, cortava a carne em pedacinhos e punha-os na boca de sua beldade. Só tinha olhos para ela.
Nada, porém, era capaz de tirar da mente da garota a mágoa por ter sido arrancada do convívio de sua família. Não escondia de ninguém a revolta com o seu destino. No fundo, odiava Zé Baiano, o causador de sua desgraça.
Havia no bando um cangaceiro chamado Ademórcio, que Lídia conhecia desde criança, nascido e criado no Arrastapé. No bando, ele recebera o apelido de Bentevi. Aquele era o rapaz com quem ela gostaria de viver, e se ambos não tivessem sido arrastados para o cangaço poderiam, quem sabe, ter casado, pois seus pais eram amigos. Com o tempo, Lídia e Bentevi passaram a corresponder-se.
Encontravam-se às escondidas sempre que Zé Baiano estava viajando.
Lídia Pereira de Sousa foi possivelmente a mais bonita das mulheres que participaram do cangaço. Era uma morena cor de canela, de cabelo liso, rosto bem delineado, lábios carnudos, olhos negros, com uma dentadura que parecia um colar de pérolas.
Um cangaceiro chamado Coqueiro apaixonou-se por ela. Vivia seguindo-lhe os passos. Certo dia, viu-a mantendo relações sexuais com Bentevi. Coqueiro deixou que os dois terminassem o ato. Bentevi vestiu-se, foi embora. Lídia ficou só. Então, Coqueiro apresentou-se, dizendo:
– Eu vi tudo, do cumeço até o fim. E eu quero tamém...
Lídia refugou:
– Vai-te pros inferno, cabra nojento! Nun tá veno qui eu nun me passo pra um canaia da tua marca? Nun seja besta!
– Ou resorve ou vou contá tudo a Zé Baiano... E tem qui sê agora...
– Pode ir contá até pro diabo! Eu já diche qui não, e pronto!
Isto foi na segunda semana de julho de 1934. O bando estava acoitado perto de Poço Redondo, nas Pias das Panelas, junto ao Riacho do Quatarvo, em terras da fazenda Paus Pretos do coronel Antônio Caixeiro. Lampião tinha chegado de Alagadiço, onde havia matado um filho de Cazuza Paulo. Zé Baiano havia ficado por lá para fazer umas “cobranças” junto a fazendeiros daquela região. Quando ele chegou às Pias das Panelas, Coqueiro decidiu contar o que tinha visto. À noite, os cangaceiros estavam sentados no chão, uns vinte ou trinta, inclusive as mulheres, em volta do fogo onde assavam carne de bode. O delator expôs o que viu, omitindo, porém, a parte que o comprometia. Zé Baiano franziu a testa, os olhos arregalados, como se não estivesse escutado direito, e rosnou para a companheira:
– O qui esse sujeito tá dizeno é verdade, Lida?
– É verdade, Zé – sustentou Lídia, com voz firme. – Só qui esse canaia nun diche a histora toda... Ele dexou de dizê o preço qui izigiu pelo segredo. Ele quiria qui eu desse a ele tamém, pra nun lhe contá. Se eu tenho qui morrê, qui morra, mais um cabra safado desse nun me come!
Um silêncio de chumbo caiu sobre o acampamento. Zé Baiano ficou olhando para Lampião, aguardando ordens.
Lampião levantou-se, andou de um lado para outro, remoendo o terrível problema. Depois, sentenciou:
– O causo dela aí o cumpade Zé Baiano é qui resorve. Ela é dele, faça o qui achá qui deve fazê.
Fez uma pausa, ajeitou os óculos, e continuou:
– Agora, Coquero e Bentevi é cum a gente mermo. Gato, mate esses cabra!
Gato puxou o parabelo, aproximou-se de Coqueiro e deu-lhe um tiro na cabeça. Coqueiro, colhido de surpresa, não esboçou nenhuma reação. Não teve tempo sequer de pedir clemência.
Chegada a vez de Bentevi, percebeu-se que ele havia fugido. Os cabras queriam ir procurá-lo, mas Lampião mandou que tivessem calma:
– Deixem ele. Bentevi é subordinado a cumpade Virgínio, qui nun tá presente. Vou dexá qui ele dicida a sorte desse fio dũa égua.
Zé Baiano mandou que Demudado amarrasse Lídia num pé de imburana. Ele, que já supliciara tantos homens e mulheres com a sua palmatória de baraúna, de repente estava sem saber o que fazer. Lídia era tudo para ele. Passou o resto da noite acordado, sem falar com ninguém. Quando o dia amanheceu, pegou um cacete, foi até o pé de imburana, desamarrou a mulher e matou-a a pauladas, quebrando-lhe vários ossos. Lídia não emitiu uma palavra sequer, não gritou, nem ao menos gemeu. Como arremate, Zé Baiano esmagou a sua cabeça, como se faz com uma cobra. Sangue e massa cefálica esguicharam pela boca, narinas, olhos e ouvidos.
Depois, sem pedir ajuda a ninguém, o cangaceiro cavou uma cova rasa, enterrou-a e, não suportando mais, chorou.
Junto ao pé de imburana, no sangue coagulado, começou a juntar formigas.
A Morte de Zé Baiano
Pedro Guedes, Toinho, Birindin, Dedé,
Antonio de Chiquinho e Pedro de Nica (FOTO)
A rotina era essa: Zé Baiano extorquia dinheiro de uns para emprestar a outros, a juros.
Na região de Alagadiço, quem mais devia a Zé Baiano era Ioiozinho Capitinga, dono da fazenda Jiboia. Havia poucos dias, o cangaceiro tinha-lhe emprestado 20 contos de réis.
Antônio de Chiquinho também devia dinheiro a Zé Baiano. Não se sabe quanto. Segundo Alcino Costa, estes empréstimos geraram a suspeita de que a traição do coiteiro tivesse sido motivada por interesses de seus devedores, entre eles Ioiozinho Capitinga e o próprio Antônio de Chiquinho. “O que se sabe de real e verdadeiro” – escreveu Alcino Costa – “é que a morte do cangaceiro chega no momento em que Ioiozinho, por exemplo, mais que depressa se desfaz de seus burros e compra a maior loja de tecidos de Frei Paulo; tudo fazendo crer que o dinheiro de Zé Baiano o empurra para o caminho da riqueza. Muda-se para a capital, Aracaju, aumentando a sua grande fortuna com os lucros obtidos com a Casa da Seda. Tempos depois, vende a loja de Frei Paulo ao empregado Justiniano Batista de Oliveira e deixa Sergipe, indo residir no oeste da Bahia com o ramo da pecuária.”
Alcino Costa prossegue dizendo que Antônio de Chiquinho, que era o homem da maior confiança de Zé Baiano, fazia de tudo para agradá-lo, promovia bailes e festas em sua casa. “As reuniões são quase todas na fazenda Baixio; pode-se dizer que eram festas familiares, tão grande era a afinidade e a intimidade dos bandidos com aquele povo”. Depois de falar da forma bárbara como o cangaceiro havia matado sua mulher, Lídia, passando dias amargurado, pois sem dúvida era apaixonado pela morta, a mais bonita de todas as cangaceiras, o autor prossegue: “Mas agora o seu coração de homem estava amando. Amava e queria justamente uma das filhas do amigo Antônio. Moça também bonita, amorenada, alta e esbelta, cabelos grandes e pele macia. O cangaceiro a cada dia mais deseja aquela mulher”.
Felipe de Castro vai além, afirmando que Zé Baiano se amancebou com uma filha de Antônio de Chiquinho, chamada Zefa.
Sujeito destemido, conceituado, Antônio de Chiquinho vivia incomodado com o futuro de sua filha, uma menina, que corria o risco de ser arrastada para a perdição sem volta. Juntando tudo, o coiteiro concluiu que matando Zé Baiano se resolviam três questões: seu problema com a polícia, a confusão com sua filha e a quitação das dívidas.
Há exageros e equívocos nessas informações. Antônio de Chiquinho não tinha nenhuma filha chamada Zefa. As filhas de Antônio de Chiquinho chamavam-se Lindinalva (Lindô), Luísa, Salvelina (Salva) e Avilete. A mais velha era Lindô, e a mais bonita era Luísa. O interesse do cangaceiro seria por Luísa. Porém os antigos moradores de Alagadiço não confirmam nada que desabone aquelas moças. O que havia era muito fuxico, e talvez inveja, pois Zé Baiano era rico e muitas jovens eram loucas para se arranjar com ele.
Quanto às insinuações envolvendo dinheiro, não se tem notícia se Ioiozinho Capitinga, Antônio Franco e os grandes devedores ofereceram ou deram alguma vantagem pecuniária ao coiteiro pelo seu “trabalho”.
Seja como for, uma série de fatores contribuiu para que Antônio de Chiquinho tomasse a decisão que tomou. Ele vinha sendo vigiado e perseguido pela polícia. Depois de ser preso duas vezes, ele passou uns tempos escondido na fazenda de Totonho do Mulungu (Antônio Joaquim de Andrade), foi para a Usina Central e em seguida para a Usina São José, na Cotinguiba. Quando voltou ao Alagadiço, foi preso novamente pela volante de Zé Rufino e levado para Carira, dizendo o comandante que ia enviá-lo para Jeremoabo, na Bahia. Donana, a esposa de Antônio de Chiquinho, viajou para Laranjeiras a fim de pedir a Zezé do Pinheiro para interceder pelo marido junto ao governador do Estado. Zezé do Pinheiro e o coronel Antônio Franco, poderosos usineiros da Cotinguiba, conseguiram barrar a ida do coiteiro para a Bahia – no último minuto, chegou a Carira um telegrama do interventor federal ordenando a liberação do preso.
Consta que o plano de eliminação de Zé Baiano foi combinado por Antônio Conrado com o tenente Afonso Antônio da Mota, que era o comandante das forças volantes sergipanas. O tenente queria envolver a polícia no plano, mas Antônio de Chiquinho não concordou – não confiava em macaco.
Antônio de Chiquinho tinha um pequeno comércio e era marchante. Havia sido preso pela terceira vez em abril de 1936. Ao ser solto, ele voltou a Alagadiço disposto a matar Zé Baiano, de acordo com o plano traçado por Antônio Conrado.
O mais difícil era a escolha de outras pessoas para ajudá-lo, pois Zé Baiano nunca andava sozinho. Antônio precisava procurar uns quatro ou cinco amigos da maior confiança, e estes teriam de ser cabras dispostos, que não fossem se acovardar na hora da verdade. Primeiro pensou em Pedro de Nica, um sujeito valentão, temido naquelas paragens – ninguém sabe como já não tinha se tornado cangaceiro. Pensou também em Pedro Guedes, um rapagão enorme, de 24 anos.
A seleção foi mais fácil do que Antônio esperava. Pedro de Nica e Pedro Guedes disseram que topavam. Os outros escolhidos eram empregados de Antônio de Chiquinho: Toinho (Antônio de Júlia) e Dedé de Lola, que trabalhavam em sua fazenda, e Birindim, seu ajudante de marchante.
Escolhidos os companheiros, passou-se a aguardar uma oportunidade propícia.
Zé Baiano tinha uma grande e respeitosa estima pela professora Prazeres, que lecionava na fazenda Altamira, de Antônio de Inês. Ele costumava acoitar nessa fazenda.
No início de junho, Antônio de Chiquinho soube que a Festa de São João na Altamira ia ser um sucesso.
Na zona do Guedes e das Pias só se falava então no baile da professora. Com certeza Zé Baiano estaria lá. Antônio de Chiquinho pensou em surpreender Zé Baiano durante a festa. O problema é que nessas festas costumavam aparecer também os grupos de cangaceiros chefiados por Zé Sereno e Canário. Não ia dar certo. A coisa teria de ser feita ou antes ou depois.
Foi quando, no dia 3 de junho de 1936, quarta-feira, Antônio recebeu um recado de Zé Baiano dizendo que estava precisando de mantimentos, os de costume – jabá, feijão, farinha, café, sal, açúcar, fumo, rapadura, querosene...
Antônio de Chiquinho decidiu que era chegada a hora. Mas precisava saber quantos cangaceiros estavam com Zé Baiano. Para verificar isso, enviou Dedé, numa missão aparentemente inocente: Dedé iria dizer ao cangaceiro que Antônio de Chiquinho estava custando a levar a encomenda porque vinha sendo vigiado pela polícia, mas no domingo à tarde, depois da feira, a encomenda seria entregue, sem falta.
Dedé encontrou Zé Baiano na fazenda Preá. Deu o recado. Notou que ele estava com apenas dois cangaceiros, Demudado e Chico Peste.
Ao saber que Zé Baiano estava somente com dois cabras, Antônio de Chiquinho animou-se. Ia ser fácil.
No domingo, 7 de junho de 1936, Zé Baiano, acompanhado de Demudado, Chico Peste e um cangaceiro novato chamado Acilino, passou de manhã pela fazenda Altamira para saber como iam os preparativos para a festa. A professora Prazeres o recebeu com alegria, disse que ele não poderia faltar e mandasse chamar também os primos de Poço Redondo. Zé Baiano disse que viria, com certeza, e ia mandar chamar Zé Sereno e Manoel Moreno. Zé Baiano tinha encomendado presentes para algumas moças. Só pelo feitio de um vestido tinha pagado 30 mil-réis. Despediu-se da professora e foi para a fazenda Baixio, do amigo Antônio de Chiquinho.
Antônio de Chiquinho não se encontrava na fazenda porque, sendo domingo, dia de feira no povoado, ele estava ocupado, pois era marchante. Porém, ao dar meio-dia, Zé Baiano começou a ficar desconfiado da demora do coiteiro, pois a feira de Alagadiço terminava antes do meio-dia, Antônio de Chiquinho só matava um carneiro e um porco, e portanto já devia estar na fazenda. Zé Baiano deixou um recado para que Antônio de Chiquinho fosse encontrá-lo na fazenda Lagoa Nova – a Lagoa Nova pertencia justamente a Pedro de Nica, um dos homens que Antônio de Chiquinho tinha convidado para a melindrosa empreitada.
Antônio de Chiquinho e os companheiros chegaram ao Baixio logo depois com as encomendas. Ao tomarem conhecimento de que os cangaceiros tinham ido para a Lagoa Nova, rumaram para lá. Conheciam o esconderijo, que ficava não muito longe da estrada, a meia légua do Baixio.
Antônio ia um pouco apreensivo. Desde que fora preso, nunca mais tinha se encontrado com Zé Baiano.
Além dos mantimentos, os coiteiros levavam também uma pá e uma picareta. Perto da Lagoa Nova, esconderam as ferramentas no mato. Apenas Antônio de Chiquinho ia armado – portava um parabelo. Dedé levava um facão metido na bainha, preso na cintura.
Deixaram a estrada e seguiram por uma vereda do gado. Logo adiante, avistaram os cangaceiros, sentados no chão, debaixo de umas baraúnas. Zé Baiano e seu cangaceiro de confiança, Demudado, vieram ao encontro dos coiteiros. Zé Baiano estava aborrecido com a demora. Antônio justificou-se explicando que seus passos estavam sendo vigiados, tinha sido preso...
– Não, Antonho, você nun tem discupa, andou munto má!
Demudado emendou:
– Cuma é qui você fais nóis isperá nun sei quantos dia? Tá pensano o quê? E pere aí: pur qui é qui aquele cabra tá cum um facão?
Dito isto, Demudado tomou o facão de Dedé e deu-lhe uns safanões, segurando-o pela abertura da camisa, chegando a rasgar a jabiraca que o coiteiro usava no pescoço. Zé Baiano também queria saber para que Dedé queria o facão.
Dedé explicou que era carreiro e precisava tirar uns paus a fim de fazer uns canzis e fueiros para o carro de bois. A resposta não convenceu Demudado, que objetou:
– Mais qui mintira é essa, cabra? Hoje é dumingo... Ninguém trabaia no dumingo! Nun é pecado?
– Cortá ũas varinha nun é trabaio... – justificou-se Dedé.
Antônio de Chiquinho contemporizou:
– Voceis tão fazeno ũa tempestade num copo d’água. Pra qui diabo serve um facão? Acho qui Demudado nun pricisava dismoralizá o meu carrero...
– Nóis nun gosta de vê coitero armado! – disse Zé Baiano.
– Apois eu tou armado – avisou Antônio de Chiquinho. – Tou cum meu parabelo.
– Ora, Antonho, você é meu amigo! Você pode! Agora, me diga ũa coisa: qui diabo tá haveno hoje, Antonho? Pur que você veio cum tantos home?
– Oxente! E cuma era qui eu pudia trazê essas coisa toda sozim? Eu nun sou jegue não... Eles viero pra me ajudá...
– Hum! Já vi você sozim carregá munto mais coisas, Antonho!
– É qui eu tou ficano véio... – brincou Antônio de Chiquinho.
Todos riram. Zé Baiano conformou-se. Estava entre amigos. Conhecia Pedro Guedes, Toinho e Birindim. Só nunca tinha visto Pedro de Nica. Perguntou quem era. Antônio de Chiquinho respondeu que Pedro de Nica era justamente o dono daquele lugar onde eles estavam, e era gente de confiança, tinha vindo para ajudar. Zé Baiano comentou:
– É... cabra forte... dava um bom cangacero...
Antônio de Chiquinho aproveitou a oportunidade e observou, meio desinteressadamente:
– Tou notano qui você tá cum um cabra novo. Eu só cunheço Demudado e Chico Peste. Quem é o outo?
Zé Baiano respondeu que o novato se chamava Acilino. Era da fazenda Pulgas, ao lado das Cotias, na zona do Gameleiro. Tinha ingressado no bando no dia anterior. Parente de Chico Peste, nascido e criado no Bandeira.
Passados aqueles momentos de tensão, todos relaxaram. Antônio de Chiquinho mandou que os companheiros acendessem o fogo, pois ele tinha trazido uma buchada de carneiro já pronta, bastava esquentar. Tinha trazido também três litros de conhaque.
O plano era este: embriagar os cangaceiros para facilitar o ataque; Antônio de Chiquinho seguraria Zé Baiano, Toinho e Birindim pegariam Demudado, e Dedé de Lola ficaria com Chico Peste; bastava agarrá-los, para que Pedro Guedes e Pedro de Nica, que ficavam sobrando, pudessem matá-los. O problema é que encontraram um cangaceiro a mais. Enquanto acendiam o fogo, numa trempe de pedras, Antônio de Chiquinho falou baixo para os companheiros:
– Tem nada não. Pedo Guede ajuda Toinho, e Birindim fica cum o discunhicido. Pedo de Nica mata tudo sozim.
Alegando que estava fazendo muito calor, Antônio de Chiquinho tirou a jabiraca do pescoço e depois a camisa. Lutar sem camisa era mais fácil. Tirou também o parabelo e colocou-o ao pé de uma árvore. Como haviam combinado, os companheiros também se queixaram do calor e tiraram suas camisas.
Antônio de Chiquinho abriu um litro de conhaque e foi o primeiro a tomar um trago, para mostrar que a bebida não tinha veneno. A garrafa foi passando de mão em mão, cada um despejando a bebida na boca diretamente do gargalo, pois não havia copos ou canecos.
Só Zé Baiano não bebeu:
– Quero não. Bibida é coisa de gente rũim...
Quando a buchada começou a ferver, Antônio de Chiquinho tirou a panela do fogo, preparou o pirão e fez um molho com bastante pimenta. Cada homem encheu o seu prato. Sentaram-se nas sombras das árvores e foram comer. A essa altura, já estavam no segundo ou terceiro litro de conhaque. A bebida aumentava o apetite. Comiam com ganância, mastigando forte, como bichos. E haja conhaque.
O fato de Zé Baiano se manter sóbrio não era problema para Antônio de Chiquinho, porque, apesar de Zé Baiano ser um homem grandalhão e corpulento, não tinha força no braço direito, em virtude de um ferimento recebido tempos atrás.
Quando terminaram de comer, alguns se deitaram no chão para dormir. Outros continuaram sentados, proseando, contando lambanças, como era de costume. Zé Baiano mostrou a Antônio de Chiquinho um lindo punhal com incrustações de ouro, sendo o cabo e a bainha de prata, uma verdadeira obra de arte, presente de Lampião.
Conversa vai, conversa vem, Antônio de Chiquinho começou a cantar uma musiquinha que estava na moda, cuja letra tinha um trecho mais ou menos assim: “Ajoelha, Marica! / Mulher comprida / De cabeça seca. / Já soube / que estou nos braços de Marinete?”. Tinha sido combinado que esta seria a senha para o ataque. Antônio de Chiquinho pôs-se de pé e continuou cantando a musiquinha meio desafinado. Chico Peste, completamente bêbado, esparramou-se debaixo de um pé de esporão-de-galo e fechou os olhos. Os coiteiros aguardavam impacientes o momento em que seriam cantados os versos da senha combinada. No ponto certo, Antônio de Chiquinho caprichou na letra:
– Ajueia, Marica, muié cumprida, de cabeça seca, já soube qui tou nos braço de Marinete?
E aí o mundo fechou. Antônio de Chiquinho e Pedro de Nica voaram em cima de Zé Baiano, ao tempo em que Pedro Guedes e Toinho se atracavam com Demudado, enquanto Birindim se engalfinhava com Acilino, e Dedé pegava Chico Peste.
Parecia uma briga de touros. Tendo ajudado Pedro Guedes a dominar Demudado, Toinho deu uma cacetada em Chico Peste, que conseguira desvencilhar-se de Dedé. Dedé correu para pegar o facão, e Chico Peste precipitou-se atrás dele, com o punhal na mão. Toinho gritou:
– Coidado, Dedé!
Dedé voltou-se, brandiu o facão, golpeando o cangaceiro no pescoço. Chico Peste caiu, e Dedé deu-lhe mais três facãozadas, acabando de matá-lo. Correu em seguida para socorrer Birindim, que estava atracado no chão com Acilino, e enfiou o punhal no cabra, à altura do tórax.
Toinho e Pedro Guedes estavam tendo dificuldades com Demudado. Pedro de Nica deixou Zé Baiano com Antônio de Chiquinho e foi socorrer os companheiros. Toinho aplicou quatro punhaladas em Demudado. Pedro Guedes deu um empurrão, e Demudado caiu, se estrebuchando, arrastando-se, tentando alcançar o fuzil. Pedro de Nica acabou de matá-lo, enfiando-lhe o punhal bem na veia do pescoço.
Antônio de Chiquinho havia dominado por completo Zé Baiano, já que o cabra só tinha força no braço esquerdo, pois o direito só servia para manejar o fuzil, era meio dormente. O cangaceiro esbatia-se no chão, esperneava-se, urrando como uma fera no laço, com Antônio de Chiquinho montado sobre ele, ajudado agora pelos companheiros. A camisa de Zé Baiano estava toda rasgada. A luta tinha sido terrível, e o cangaceiro, cansado, aflito, molhado de suor, aos berros, subjugado pelos coiteiros, implorava que o soltassem, prometendo que nada de mal faria a eles, lhes daria o tudo o que tinha.
– Cadê o seu dinhero?! – perguntou Antônio de Chiquinho.
– Tá tudo nos meus bolso. Tem uns seis conto e pouco.
– Só? E o resto? Onde tá o resto?!
– Nun tenho mais aqui purque meus dinhero tão imprestado.
– Deixem ele ficá im pé – disse Antônio de Chiquinho aos companheiros. – Vamo fazê um trato, Zé Baiano. Se você diché os nome de todo mundo pra quem você imprestou dinhero e quanto imprestou a cada um nóis lhe sorta.
– Eu imprestei esta sumana vinte conto a Ioiozinho Capitinga e mais vinte a outos fazendero.
– Diga os nome – ordenou Antônio de Chiquinho –. Eu quero qui você diga o nome de um pur um, e quanto foi qui imprestou.
O cangaceiro passou a citar nomes e valores. Era muita gente. Uma fortuna.
Antônio de Chiquinho fez uma proposta aos companheiros:
– Vamo prendê ele num quarto bem fechado qui eu tenho na mĩa casa, nóis fais ele ficá sem roupa e obriga ele a iscrevê ũas carta pros fazendero, e daqui uns vinte ou trinta dia nóis mata ele...
Pedro de Nica deu sinal de que concordava com a proposta. Zé Baiano viu ali uma forma de ganhar tempo. Prometeu:
– Amanhã vou recebê setenta conto e dou tudo a voceis. Me sortem!... Me sortem!... Pelo amô de Nossa Sinhora, me sortem!...
Então Pedro Guedes se postou na frente do cabra e disse:
– Ô seu peste, cê tá lembrado da morte de Moisés, fio de Cazuza Paulo? Cê teve pena dele, quando sangrou o rapais sem nĩhum mutivo?
– Eu tenho munto dinhero! Dou tudo a voceis! Vou dexá voceis rico! Eu prometo qui vou simbora daqui pra bem longe, dexo o cangaço! Antonho, pelo amô de Nossa Sinhora, me sarve! Se alembre de nossa amizade! Quano foi qui eu lhe fartei cum a palava? Pelo amô de Deus, Antonho, nun me mate!...
Antônio de Chiquinho era um homem bom. Seu coração amoleceu ante os rogos do amigo. Estava propenso a soltá-lo. Ponderou:
– Nóis pudia dexá esse cabra ir simbora...
– Nada disso! – gritou Pedro Guedes.
E, antes que Antônio de Chiquinho tomasse qualquer atitude maluca, Pedro Guedes aplicou uma punhalada no cangaceiro, e Birindim, outra, ambas na clavícula. Zé Baiano, ao cair, gemeu, dizendo:
– Matou-me agora...
O cangaceiro tentou levantar-se, mas Pedro de Nica e Dedé o seguraram pelas pernas e o atiraram de novo ao chão, enquanto Birindim lhe aplicava várias punhaladas no peito. Em seus estertores, ofegando, de olhos esbugalhados, Zé Baiano murmurou:
– Se acabou-se o home de Segipe...
Foram estas suas últimas palavras, pois logo em seguida recebeu mais duas punhaladas de Birindim. Pedro Guedes pegou o facão de Dedé e cortou o pescoço do cangaceiro.
A luta durara cerca de 5 minutos. Em toda parte, a terra estava revolvida, o mato estava amassado, e sentia-se um cheiro de sangue insuportável.
Eram 4 horas da tarde do dia 7 de junho de 1936.
Os matadores diziam que em dinheiro só encontraram nos bolsos de Zé Baiano pouco mais de seis contos, informação esta pouco confiável. Além do dinheiro, eles recolheram 3 rifles, vários punhais, sendo um com cabo e bainha de prata, um parabelo e outras pistolas e revólveres, muita munição e diversos artefatos de ouro. Porém isto é o que foi declarado oficialmente.
Falta muita coisa nessa relação. A bandoleira do fuzil de Zé Baiano era toda enfeitada de moedas de ouro. Seu chapéu tinha 65 medalhas de ouro na testeira e duas alianças na barbela. Isso tudo sumiu. Na relação dos bens apresentados às autoridades não constam os bornais dos cangaceiros. Ora, era nos bornais que os cangaceiros carregavam seus pertences de valor, especialmente dinheiro. Cada cangaceiro costumava portar quatro bornais. Falou-se que em vez dos 6 contos e quebrados que foram declarados, somente de Zé Baiano os matadores se apossaram de mais de 25 contos de réis.
Os quatro corpos foram enterrados num formigueiro, onde a terra era fácil de ser cavada.
Terminado tudo, sujos de barro e sangue, os coiteiros limparam-se com o que sobrou do conhaque. A caminho do povoado, passaram por um tanque e se lavaram bem. Só à noite voltaram para casa. Os objetos dos cangaceiros foram guardados na casa da mãe de Birindim.
Combinaram guardar segredo, porque temiam o que poderia vir a acontecer quando Lampião soubesse do fato. Não só Lampião, mas também, e principalmente, Zé Sereno e Manoel Moreno, primos de Zé Baiano.
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