#Bolsonaro desinforma e não aponta soluções
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Para ex-ministros e especialistas, Bolsonaro desinforma e não aponta soluções
“Não há palavra que corresponda à realidade”, resume Rubens Ricupero sobre discurso na ONU O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi “um inventário de fake news requentadas e de falsidades novas”. A frase do ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero sintetiza o sentimento de ambientalistas, ex-ministros e pesquisadores que reagiram aos 15 minutos de discurso gravado para o evento nas Nações Unidas. “Não há uma palavra que corresponda à realidade, um pingo de honestidade. Se imaginaria que ele poderia, 12 meses depois do agravamento de problemas, reconhecer a realidade e dizer o que o governo fez. Mas, não”, diz o diplomata. “Repete todos os chavões do negacionismo sobre a Amazônia e o Pantanal. Atribui a conspirações, a campanhas internacionais, a interesses escusos a cobiça pela Amazônia”. “E ainda tem o desplante de botar a culpa nos mais vulneráveis, os índios e os caboclos”, segue Ricupero. “O discurso nunca foi concebido para a Assembleia Geral da ONU. É para o público doméstico.” Bolsonaro discursa na 75ª Assembleia Geral da ONU Reprodução / YouTube A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira observa “o tom errado” do discurso. “A fala sugere ruptura ou muita desconfiança de uma sociedade multicultural e diversificada como a brasileira”, diz ela, reagindo aos ataques de Bolsonaro às ONGs. “Não se pode escolher interlocutores em um regime democrático. Tem que se falar com todos”. “Ele faz um discurso que lista os interesses do mundo contra o Brasil. Somente os interesses do Brasil são legítimos?”, questiona Izabella. Na sua visão, o presidente “não atualiza a agenda”. Ela completa: “O mundo não está passando a boiada. Quer a rastreabilidade da boiada. É isso que os mercados estão exigindo”. Para João Paulo Capobianco, vice-presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), o discurso de Bolsonaro “é meio fanfarrão”. Ele explica: “Aparentemente, ele luta contra os fatos e não apresenta proposta nenhuma.” Capobianco era secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente durante a gestão de Marina Silva, quando se aplicou um rigoroso plano de combate ao desmatamento conhecido por PPCDAM. O desmatamento caiu de forma consistente, ano a ano. O foco era atuar em municípios prioritários, que correspondiam a 25% da área da Amazônia. “Isso nos permitiu fazer uma fiscalização concentrada e de maior eficiência.” Em relação à fala do fogo causado pelos índios e pelos caboclos, Capobianco contesta. “Isso não é verdade. A maior parte das queimadas ocorre em áreas que eram florestas e foram derrubadas.” Para Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), o discurso de Bolsonaro “foi mais uma peça da campanha de comunicação de desinformação e disputa de narrativa do governo sobre o que está acontecendo na Amazônia, no Pantanal e no nosso meio ambiente”. Ela rejeita as acusações do presidente: “Culpar os caboclos e indígenas pelo fogo, sem nenhuma prova, é criminoso. Eles [o governo] já deveriam ter percebido que a comunidade internacional já está vacinada contra o vírus da desinformação. Querem dados e resultados.” “A menção aos indígenas tem que ser vista como um ataque coordenado do governo”, diz Carlos Rittl, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam, na Alemanha. “É um discurso que visa a reeleição e manter sua turba de whatsapp”, analisa. “Bolsonaro foge dos problemas, aponta culpados e é o mais direto responsável pelo desastre que a gente vê na Amazônia e no Pantanal.” Na visão do deputado constituinte Fabio Feldmann, Bolsonaro “repetiu o que vem dizendo, mantendo o Brasil afastado de qualquer possibilidade de ser respeitado e manter um mínimo de credibilidade”. Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil lamentou o discurso de Bolsonaro. “Infelizmente, foi conforme o previsto. Marcado pelo negacionismo e por acusações infundadas, [Bolsonaro] tentou mostrar ao mundo um Brasil que não condiz com a realidade que vivemos e observamos todos os dias”. “Desmatamento e queimadas em níveis históricos, desrespeito a povos indígenas e a organizações da sociedade civil são marcas da gestão Bolsonaro. A fala diversionista reduz ainda mais a credibilidade do Brasil nos esforços globais por mais cooperação e multilateralismo para o bem de todos”, completa o diretor do WWF-Brasil. Para Roberto Waack, especialista em governança e atualmente em programa de fellowship da Chatam House de Londres, Bolsonaro falou na ONU para o seu público, mas não convenceu ninguém no cenário internacional. “Ele é um pária exótico. O Brasil não é o governo Bolsonaro. Creio que o mundo sabe disso, mas precisa ficar ainda mais claro”, defende. Para André Siqueira, presidente da Ecoa, a fala de Bolsonaro foi previsível. “Foi uma conversa para o seus cabos eleitorais cegos que o seguem até o fundo do poço”, observa ele, à frente de uma ONG fundada em 1989 e baseada em Campo Grande. Siqueira menciona o desastre no Pantanal, com 22% de seu território queimado, três milhões de hectares, e Amazônia com 34% de queimadas a mais de 2019. “Se não é a sociedade civil organizada em diversas frentes de combate a incêndio, não haveria nem como calcular a situação de colapso que estaríamos”, diz, mencionando o trabalho emergencial no Pantanal. Em nota divulgada à imprensa, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede formada em 2002 composta por 50 organizações não-governamentais e movimentos sociais, diz que “ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”. Astrini reagiu às acusações do presidente às ONGs. “Acusou um conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos, é Bolsonaro quem ameaça nossa economia. O Brasil pagará durante muito tempo a conta dessa irresponsabilidade. Temos um presidente que sabota o próprio país.” A Oxfam, por sua vez, em nota, diz que “é lamentável ver o presidente brasileiro fazer o discurso de abertura da Assembleia das Nações Unidas descrevendo um país imaginário”. “O governo atual se especializou em disseminar a ‘pós-verdade’ para eximir-se da responsabilidade pelos graves problemas que o país enfrenta”, diz Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil. Ela também refuta a afirmação do presidente de que as queimadas estão ligadas aos povos indígenas e comunidades tradicionais: “Também não é fato que o Brasil seja um exemplo de respeito aos direitos humanos quando regularmente são relatadas inúmeras ameaças e violência contra povos indígenas, comunidades quilombolas, populações ribeirinhas, lideranças do campo, população LGBTQIA+, mulheres e população negra.” “Os movimentos sociais e as organizações da sociedade civil estão tendo seus espaços de atuação cada vez mais reduzidos e negados”, conclui Katia Maia. Para ex-ministros e especialistas, Bolsonaro desinforma e não aponta soluções
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Para ex-ministros e especialistas, Bolsonaro desinforma e não aponta soluções
“Não há palavra que corresponda à realidade”, resume Rubens Ricupero sobre discurso na ONU O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi “um inventário de fake news requentadas e de falsidades novas”. A frase do ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero sintetiza o sentimento de ambientalistas, ex-ministros e pesquisadores que reagiram aos 15 minutos de discurso gravado para o evento nas Nações Unidas. “Não há uma palavra que corresponda à realidade, um pingo de honestidade. Se imaginaria que ele poderia, 12 meses depois do agravamento de problemas, reconhecer a realidade e dizer o que o governo fez. Mas, não”, diz o diplomata. “Repete todos os chavões do negacionismo sobre a Amazônia e o Pantanal. Atribui a conspirações, a campanhas internacionais, a interesses escusos a cobiça pela Amazônia”. “E ainda tem o desplante de botar a culpa nos mais vulneráveis, os índios e os caboclos”, segue Ricupero. “O discurso nunca foi concebido para a Assembleia Geral da ONU. É para o público doméstico.” Bolsonaro discursa na 75ª Assembleia Geral da ONU Reprodução / YouTube A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira observa “o tom errado” do discurso. “A fala sugere ruptura ou muita desconfiança de uma sociedade multicultural e diversificada como a brasileira”, diz ela, reagindo aos ataques de Bolsonaro às ONGs. “Não se pode escolher interlocutores em um regime democrático. Tem que se falar com todos”. “Ele faz um discurso que lista os interesses do mundo contra o Brasil. Somente os interesses do Brasil são legítimos?”, questiona Izabella. Na sua visão, o presidente “não atualiza a agenda”. Ela completa: “O mundo não está passando a boiada. Quer a rastreabilidade da boiada. É isso que os mercados estão exigindo”. Para João Paulo Capobianco, vice-presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), o discurso de Bolsonaro “é meio fanfarrão”. Ele explica: “Aparentemente, ele luta contra os fatos e não apresenta proposta nenhuma.” Capobianco era secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente durante a gestão de Marina Silva, quando se aplicou um rigoroso plano de combate ao desmatamento conhecido por PPCDAM. O desmatamento caiu de forma consistente, ano a ano. O foco era atuar em municípios prioritários, que correspondiam a 25% da área da Amazônia. “Isso nos permitiu fazer uma fiscalização concentrada e de maior eficiência.” Em relação à fala do fogo causado pelos índios e pelos caboclos, Capobianco contesta. “Isso não é verdade. A maior parte das queimadas ocorre em áreas que eram florestas e foram derrubadas.” Para Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), o discurso de Bolsonaro “foi mais uma peça da campanha de comunicação de desinformação e disputa de narrativa do governo sobre o que está acontecendo na Amazônia, no Pantanal e no nosso meio ambiente”. Ela rejeita as acusações do presidente: “Culpar os caboclos e indígenas pelo fogo, sem nenhuma prova, é criminoso. Eles [o governo] já deveriam ter percebido que a comunidade internacional já está vacinada contra o vírus da desinformação. Querem dados e resultados.” “A menção aos indígenas tem que ser vista como um ataque coordenado do governo”, diz Carlos Rittl, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam, na Alemanha. “É um discurso que visa a reeleição e manter sua turba de whatsapp”, analisa. “Bolsonaro foge dos problemas, aponta culpados e é o mais direto responsável pelo desastre que a gente vê na Amazônia e no Pantanal.” Na visão do deputado constituinte Fabio Feldmann, Bolsonaro “repetiu o que vem dizendo, mantendo o Brasil afastado de qualquer possibilidade de ser respeitado e manter um mínimo de credibilidade”. Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil lamentou o discurso de Bolsonaro. “Infelizmente, foi conforme o previsto. Marcado pelo negacionismo e por acusações infundadas, [Bolsonaro] tentou mostrar ao mundo um Brasil que não condiz com a realidade que vivemos e observamos todos os dias”. “Desmatamento e queimadas em níveis históricos, desrespeito a povos indígenas e a organizações da sociedade civil são marcas da gestão Bolsonaro. A fala diversionista reduz ainda mais a credibilidade do Brasil nos esforços globais por mais cooperação e multilateralismo para o bem de todos”, completa o diretor do WWF-Brasil. Para Roberto Waack, especialista em governança e atualmente em programa de fellowship da Chatam House de Londres, Bolsonaro falou na ONU para o seu público, mas não convenceu ninguém no cenário internacional. “Ele é um pária exótico. O Brasil não é o governo Bolsonaro. Creio que o mundo sabe disso, mas precisa ficar ainda mais claro”, defende. Para André Siqueira, presidente da Ecoa, a fala de Bolsonaro foi previsível. “Foi uma conversa para o seus cabos eleitorais cegos que o seguem até o fundo do poço”, observa ele, à frente de uma ONG fundada em 1989 e baseada em Campo Grande. Siqueira menciona o desastre no Pantanal, com 22% de seu território queimado, três milhões de hectares, e Amazônia com 34% de queimadas a mais de 2019. “Se não é a sociedade civil organizada em diversas frentes de combate a incêndio, não haveria nem como calcular a situação de colapso que estaríamos”, diz, mencionando o trabalho emergencial no Pantanal. Em nota divulgada à imprensa, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede formada em 2002 composta por 50 organizações não-governamentais e movimentos sociais, diz que “ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”. Astrini reagiu às acusações do presidente às ONGs. “Acusou um conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos, é Bolsonaro quem ameaça nossa economia. O Brasil pagará durante muito tempo a conta dessa irresponsabilidade. Temos um presidente que sabota o próprio país.” A Oxfam, por sua vez, em nota, diz que “é lamentável ver o presidente brasileiro fazer o discurso de abertura da Assembleia das Nações Unidas descrevendo um país imaginário”. “O governo atual se especializou em disseminar a ‘pós-verdade’ para eximir-se da responsabilidade pelos graves problemas que o país enfrenta”, diz Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil. Ela também refuta a afirmação do presidente de que as queimadas estão ligadas aos povos indígenas e comunidades tradicionais: “Também não é fato que o Brasil seja um exemplo de respeito aos direitos humanos quando regularmente são relatadas inúmeras ameaças e violência contra povos indígenas, comunidades quilombolas, populações ribeirinhas, lideranças do campo, população LGBTQIA+, mulheres e população negra.” “Os movimentos sociais e as organizações da sociedade civil estão tendo seus espaços de atuação cada vez mais reduzidos e negados”, conclui Katia Maia.
Leia o artigo original em: Valor.com.br
Via: Blog da Fefe
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