#ㅤㅤ💀ㅤ﹒ㅤ❪ㅤinteractionㅤ❫ㅤㅤ›
Explore tagged Tumblr posts
Text
ㅤㅤㅤHá algo em Thomas que acende a única faísca de fogo necessária para acender o perigoso rastro da pólvora adormecida no interior de Cecile. Quando ele abre aquele sorriso irritante e usa as palavras certas, a raiva dispara incendiando tudo e, numa explosão inevitável, os sentimentos que geralmente mantém sob controle revelam a incrível capacidade de dominá-lo. Se Wentworth pressionasse os botões certos por tempo o suficiente, Cecile sabe — ou melhor, sente — que cederia aos próprios impulsos feito um animal. É idiotice deixar-se ser tirado do sério, pois o arrependimento que sente depois sempre o incomoda muito mais, com os pensamentos arranhando as paredes de seu crânio. Ele odeia a pessoa que é quando está com Wentworth. Era a prova desagradável que, perto dele, não tem tanto controle assim sobre si mesmo quanto pensa.
ㅤㅤㅤThomas é um vulcão fadado a destruir tudo o que está ao seu redor. É estúpido permanecer ao lado quando se sabe exatamente onde isso vai dar. Abandoná-lo à mercê da própria miséria era, na verdade, uma tentativa de autopreservação ⸺ mas é claro que até esse direito lhe seria negado. Ele sentiu o corpo enrijecer com o disparar de todos os alertas em seu corpo quando a promessa da violência veio no aperto no braço, com Wentworth puxando-o de volta para a briga. Os dedos alcançaram o pingente do colar em seu pescoço antes mesmo que pudesse raciocinar, os olhos escuros sendo forçados a encará-lo com uma proximidade que o deixava quase que desarmado. No entanto, não vê nenhum outro movimento brusco vindo de Thomas, que somente despeja as palavras firmes carregadas com a teimosia de alguém que não suporta ser deixado no escuro. “Ah.”, ele disse, secamente, com a compreensão o atingindo como uma flecha que, com a adrenalina anestesiando a dor, só percebeu ter atravessado seu corpo no momento em que lhe avisaram. Ainda segurava o pingente com força, sem saber dizer se realmente não precisaria transformá-lo no chicote de ferro. Era Wentworth, afinal de contas. Um furacão imprevisível que não podia confiar. Ele se forçou a afrouxar os dedos, uma estranha apatia tomando os olhos negros ao que ponderava sobre a resposta que o filho de Tânatos queria arrancar dele. O breve momento de silêncio pareceu se estender por tempo demais, quase como se Cecile lentamente erguesse de volta a parede entre os dois. Tornou-se distante, apesar da proximidade. Afinal, como podia confiar em alguém que jamais confiaria nele? E que, como tinha acabado de perceber, ele também teria dificuldade em fazer o mesmo? Nenhum dos dois estava desesperado o suficiente para isso poder ser concebível. “Eu ia sugerir que você seria mais útil lambendo minhas botas, mas receio que não tenho nada a oferecer para pagar pelos seus serviços. Uma pena mesmo.”
Thomas refletiu por alguns instantes se deveria acertar Cecile com um soco, porque era o que ele parecia querer receber com toda aquela postura austera e pateticamente suprimida, distante de qualquer estapafúrdia que pudesse rotulá-lo como alguém tão consumido pelos sentimentos quanto o Wentworth era. E, se o filho de Tânatos parasse para pensar, era exatamente isso que o tirava do sério; ver o filho de Hades agindo com tanta tranquilidade e arrogância quando ele próprio era um furacão sem previsão de contenção ou minimização dos desastres por onde passasse. Sendo assim, seu desprezo por Cecile não era exatamente particular, mas por algum motivo, era o mais forte dentre todos os que sentia por outras pessoas. Thoamas só tentava não pensar muito nisso, porque admitir tal coisa seria colocar Cecile em um lugar de importância e relevância muito grande em sua vida.
— Eu com certeza vou fazer muito bom uso de toda a pena que sente de mim, princesa do Submundo. Pode deixar. — Lançou-lhe uma piscadela pouco antes de perceber que, aparentemente, havia atingido um limite de Cecile. Internamente, Thomas estava satisfeito e se sentindo divertido com a situação. Em contrapartida, se ele havia começado a falar, ele terminaria. Por isso, quase imediatamente, o Wentworth agarrou um dos braços dele, forçando o aperto contra a carne de Cecile por baixo daqueles tecidos. Segurava-o de maneira firme, os olhos castanhos ainda mais fixados nele ao que puxava o mais novo num solavanco, para mais perto. Perigosamente perto, mas ainda assim... Não estava mais brincando e nem sendo sarcástico. Estava falando sério agora. — Não. Você fica aqui até me explicar sobre o que estava falando. No que quer me enfiar? Não que eu confie em você, mas agora me deixou curioso. — Então puxou-o mais um pouco, agora sentindo seu próprio peito contra a lateral do ombro de Cecile por conta do puxão, olhando-o de poucos centímetros acima. — Queria minha atenção, agora tem. Vai em frente. Sou todo ouvidos se me disser algo que vale à pena.
9 notes
·
View notes
Text
ㅤㅤㅤ﹡ㅤㅤflashback ㅤ⸻ㅤ antes da desgraça acontecer.
ㅤㅤㅤCecile se virou, esperando receber um pedido de desculpas pelo esbarrão repentino em sua pessoa. Quando os olhos encontraram a figura da filha de Zeus, com seus cabelos claros brilhando como fios de ouro sob a luz do sol, ele soube que não iria recebê-las. Tende a ser uma pessoa relativamente otimista, mas com certeza não espera que milagres aconteçam. O cigarro foi roubado dos lábios antes que pudesse dizer qualquer coisa à ela, mas as reclamações que subiram até a ponta da língua foram varridas para longe com o odor forte do álcool que envenenou o ar no momento em que a semideusa abriu a boca. Argh. Cecile torceu o nariz, desviando o olhar para o cálice vazio que ela tinha em mãos.
ㅤㅤㅤ“Jesus Cristo, mulher. Já está bêbada a essa hora do dia?” Naquele momento, a princesa arrancada de sua época conseguiu parecer ainda mais fora de órbita, vivendo num mundinho próprio. Era como um retrato dele mesmo. Uma coisa triste de se ver. E vendo-a daquele jeito, o Grimm-Pitch se lembrou da razão de desaprovar o álcool: a constante presença dele em sua vida, envenenando mais partes de seu passado do que gostaria de admitir. Seu fígado conheceu o álcool cedo demais, pois usava como anestésico quando não podia ir ao hospital para não arriscar colocar sua família numa situação complicada. Os Grimm-Pitch sempre prezaram por manter aparências em primeiro lugar. Nas noites em que a governanta o costurava, não podia faltar a companhia de uma garrafa de gim logo ao lado. Ele adoraria poder dizer que essa foi a única razão para colocar qualquer gota de álcool na boca, e assim omitir a frequência que usava como fuga da vida miserável que levava, fosse invadindo a produção de vinho da família ou enfiado nos bares de Londres.
ㅤㅤㅤNão era mais essa pessoa. Sabia agora o quanto era infantil querer fugir da própria realidade. Foi uma página que ele virou há muito tempo, mas ver a princesa parecer tão miserável foi como ter as páginas novas arrancadas, obrigando-o a encarar as antigas. Com o incômodo das memórias, sentiu vontade de fumar — e como o cigarro foi roubado, ele enfiou a mão no bolso na parte interna do terno, tirando outro.
ㅤㅤㅤ“Oh, que horror.”, ele disse, sem uma única gota de emoção na voz, levando o novo cigarro aos lábios para segurá-lo entre os dentes. Não se sentia ofendido pelas palavras da princesa, embora a capacidade de conseguir se manter igualmente arrogante e sem noção quando embriagada o surpreendesse. Filhos de Zeus eram mesmo presunçosos. Nem o álcool podia derrubá-los do pedestal que achavam estar. “Devia cogitar me banir do seu reino. Seria mais eficiente, não acha?”
Ofélia mal podia se movimentar pela grama. O vestido daquela noite era muito mais sofisticado do que qualquer traje de princesa dos filmes da Disney. A aparência lembrava a de uma petúnia — uma flor delicada, se abrindo com paixão ao primeiro carinho da primavera. Delírios e mais delírios de seda e rendas rosé caíam aos seus pés. De repente, Ofélia só conseguia visualizar a parte superior do corpete. As pernas? O quadril? Bem, tudo isso se apagava sob os quilos de tecido. Quem a visse de longe pensaria em uma noiva prestes a entrar na igreja, mas como não havia cerimônia (e nem noivo) por perto, tratava-se, na verdade, de uma noiva em fuga. Deveria, portanto, correr. E assim o fez, segurando os panos, movendo corpo com rapidez e sentindo o suor escorrer pela tez pálida conforme a princesa ia em direção às profundezas da floresta...
E então... o preto. O nada. Ofélia piscou os cílios loiros, como se despertada do pesadelo à noite, e o cenário ao redor mudou por completo. Não era realmente noite. Talvez, daqui a pouco, tornasse a ser. No momento atual, o laranja do horizonte dava cor ao lugar onde os raios do sol poente queimam. Ofélia observa suas roupas e percebe a ausência do peso, do calor e do tecido que a havia envolvido durante mais um de seus saborosos delírios. Coisa frequente, você sabe: a Morte nunca nos devolve inteiro. Se devolve, então não teve a mesma consideração por Lady Ofélia. Ela até concorda: é uma jovem dama detestável. Com a tendência de retribuir com desprezo aqueles que ousam desafiá-la. Não, ela não aceita que a desafiem; ou mesmo que a contradigam — o que talvez forneça razão à Morte por ser uma pestinha tão sem coração, ao ponto de escolher roubar o dela.
Foi girando, girando, girando... até o momento que não pôde completar a curva do quarto rodopio. Uma parede — espere, risque a palavra. Um corpo. Mas era tão gélido que poderia muito bem se passar por uma parede; não fosse o paletó escuro revelado diante dela após o esbarrão. O destino, na visão da princesa, é uma criança petulante e cheia de travessuras indesejadas. Ela mesma fazia parte dele, com toda certeza. Não significa que goste, contudo, das eventualidades. Não quando a face a ser observada no horizonte era indiferente. Um homem feito, cheio a ponto de transbordar com os próprios mistérios.
Às vezes, escute-a: é preciso um refúgio, onde as memórias preciosas possam ser eternamente preservadas das influências. Amores, guardados. Sonhos, jamais perdidos, mas protegidos e zelados. Para Ofélia, o fundo pegajoso de um cálice vazio era esse lugar — um abrigo familiar e oco, ao qual ela certamente voltaria a preencher com bebida se tivesse a chance. E teria, sabia disso. Mas este homem... ele não possuía um lugar. Tinha cheiro de cigarro; áspero e seco. Era igual ao cálice na mão esquerda dela. Sem um pingo de sentimento, de poesia, de nada. Se alguma coisa, ele os destruía por prazer...
... Como um vilão a quem ela atearia fogo. Bem. Ofélia nunca encontrou um vilão antes, mas, se encontrasse, gostava de saber que poderia tomar atitude sobre. Não tinha o fogo em mãos agora, mas ele prendia entre os lábios um cigarro. Ofélia, em sua preguiça bêbada, roubou o filtro. Nunca foi escrava da nicotina. Não, a Lady possuía várias coleiras ao redor do próprio pescoço... só que nenhuma delas compartilha um elo com as dele. Do homem. O Diabo.
"Cavalheiro," sussurrou, a voz rouca. Grave, como o eco esquecido de um dom valioso que se partira há muito, muito, tempo. "estou confiscando-o. Você ofende a meu nariz. E também aos meus olhos. "
@cecilez
6 notes
·
View notes
Text
ㅤㅤㅤ﹡ㅤㅤflashback ㅤ⸻ㅤ no evento.
“Hm.” Cecile a estudou silenciosamente, mais curioso ainda pelos fortes indícios de insatisfação transbordando da semideusa. Ele certamente não tinha muita propriedade para falar sobre as amizades de Santorini, pois nunca foi lá muito interessado na vida pessoal dele além das partes que poderiam ser úteis. As conversas dos dois eram tão estranhas e aleatórias que não havia muita margem para ficar sabendo muito sobre esses detalhes desnecessários. No entanto, não achou necessário explicar nada disso à loira. Se ela estava magoada, certamente já devia ter um histórico que justificasse. “As coisas nem sempre são o que parecem, não é? Uma pena.” Deu de ombros, como se dizendo que não podiam fazer nada sobre a falta de consideração de Santorini. Não fazia sentindo defendê-lo sem saber.
ㅤㅤㅤ“Você? Deslocada?”, perguntou, erguendo uma das sobrancelhas com uma genuína curiosidade. Era algo que não conseguia conceber muito bem, visto que a única coisa que sabia sobre a loira era que ela tinha facilidade em iniciar conversas, uma vida social minimamente boa e uma energia inexplicável. “Por quê? Se não for muito invasivo perguntar, é claro.” Cecile baixou o olhar, seguindo a direção que a loira buscou alcançar, e deparou-se com a liga da coxa aparecendo de relance. Por respeito, desviou o olhar para o lado. Ele enfiou a mão no bolso, seus dedos alcançando a frieza do objeto metálico que era seu velho companheiro de guerra — e provavelmente o isqueiro com o modelo mais antigo que já se viu nesse acampamento. A chama amarelada brilhou depois de duas tentativas para acendê-lo, e ele estendeu o isqueiro em direção à loira.
Quando escutou o comentário sobre Santorini não ter falado dela com Cecile, o humor de Léonie subitamente mudou da água para o vinho. — Bom saber. — Foi o que disse por ora, os pensamentos a traindo em sua mente; de vez em quando sentia que seus sentimentos por Santorini a colocavam em um lugar perigoso de quem não enxergava que ele não via nela nem mesmo a amizade que a Allaire achava que possuíam. E isso incomodava um pouco agora, como seus sapatos machucavam os pés dela. — Eu achava que éramos, mas eu não deveria esperar muito. Sou Centuriã da Segunda Coorte, ao lado do Desmond, e ele é da Quarta. Faz sentido não me levar tanto em consideração. — Deu de ombros enquanto jogava os longos cabelos platinados sobre eles, atentando-se então aos comentários de Cecile. — Eu acho que vai, sim. Mas tá tudo bem também se não se acostumar. Eu vivo a minha vida toda me sentindo deslocada e continuo sobrevivendo. De vez em quando a gente encontra alguém que também não se encaixa e as coisas melhoram um pouco, mas temos que nos apegar aos nossos valores e eles têm que bastar. Você deve saber bem disso. — Léonie meneou levemente a cabeça antes de alcançar na liga de perna que usava, sutilmente revelada por remexer na saia do vestido, um cigarro solto estrategicamente posicionado ali, constatando que o isqueiro havia sumido em alguma parte de seu trajeto. Merda. — Por acaso você teria um isqueiro, um fósforo, ou, sei lá, um poder pra me ajudar a acender isso daqui, petit?
5 notes
·
View notes
Text
O estrondo ecoa tão alto que, no segundo seguinte de um silêncio ensurdecedor na plateia, o mundo parece ter acabado. Talvez tenhamos sido engolidos pelo vácuo do espaço. Vendo Santorini estatelado no chão do palco, o choque varre embora todo o roteiro cuidadosamente memorizado na minha cabeça ⸺ mas não que fosse algo ruim, já que, naquela situação, ele não serve mais de absolutamente nada. Sem saber que roteiro seguir agora, engulo em seco, olhando-o inerte com a esperança que se levante. Nunca fui bom na arte do improviso. Eu deveria sair do personagem e ir ajudá-lo? O que seria mais bem visto pelos olhos do público? As dúvidas me paralisam, mas então, meus olhos captam os sinais do que parece ser uma risada reprimida vinda do bastardo que supostamente estava desmaiado, e uma raiva transborda como um tsunami violento para dentro dos meus pulmões, quase escapando de vez no inevitável sorriso afiado erguido pela indignação e incredulidade, um cintilar assassino iluminando as íris escuras.
Perfuro-o com o olhar, esperando que sinta a dureza da repreensão silenciosa e se levante para consertar imediatamente o erro, mas é tão inútil quanto tentar ensiná-lo qualquer outra coisa. Me preocupei tanto com a possibilidade de Santorini esquecer as falas que não me ocorreu que ele poderia dar outros tipos de problemas. Parando para pensar, já devia mesmo ser o esperado. Os murmúrios começam a surgir na plateia, impulsionando-me a fazer alguma coisa a respeito.
❝ Minha amada Julieta! ❞ Ponho-me ao lado dele às pressas, os joelhos tocando a imundice do chão do palco. Não sei como demonstrar estar sofrendo pela tragédia ocorrida com minha suposta amada quando na verdade quero chutá-lo feito um cachorro morto ali mesmo. Como ele pôde jogar tudo para meu colo desse jeito? Empurro-o com uma mão para virá-lo com uma grosseria que não é muito esperada num amante supostamente romântico e apaixonado, meu olhar cravado no rosto do demônio fingindo estar desacordado. Inacreditável! Quando balançá-lo não se mostra eficiente em trazer Julieta de volta à vida, sou obrigado a escrever um novo roteiro para essa peça. Nesta, Romeu ganhará um lado das trevas.
❝ Não pode ser! Eu… eu... não posso viver num mundo sem minha amada. Julieta, imploro-te... volte para mim. ❞ Segurando sua mandíbula com uma das mãos, o toque não é gentil; mais pareço estar segurando um copo que quero quebrar, com a força desnecessária transmitindo o aborrecimento. Quanto mais devastado eu me pareço, mais indignado fico pela situação. Isso é jogar fora tudo o que ensaiamos naqueles poucos minutos, além de ser um ultraje com a peça! Com uma mão dramática no peito, eu imploro de joelhos aos céus ⸺ mas na verdade é para o inferno: ❝ Eu imploro pela ajuda do único ser que pode contornar a morte: o senhor das trevas. Eu, Romeu, lhe ofereço o que há de mais valioso: minha alma. Uma vida por outra, pois nada sou sem minha amada Julieta. ❞ Com a umbracinese, faço as sombras serpentear até mim, envolvendo-me num véu de escuridão que parece estar tomando minha alma, sugando minha vida. Completamente coberto pelas sombras, aproveito o fato de estar longe dos olhos da plateia para desferir um soco no espaço entre o ombro e o peito do patife ⸺ tanto por vingança quanto para acordá-lo à força. Quando as sombras se desfazem, é meu corpo sem vida que agora está estirado no chão, certamente sendo um cadáver mais realista que o de Santorini.
"Meu irmão. Sinistro." sussurra a voz da consciência de Santorini, enquanto a carícia de Cecile — chamando um marmanjo cheio de tatuagens por "minha querida" — captura a atenção dos que estão por perto. Procurou evitar transpor o desagrado, mas ele era (e sempre foi) tão previsível quanto um livro aberto a quem se dispor a ler. Se possível, as letras "E.C.A." transcreveram sozinhas na testa como por encanto. E mesmo que o príncipe interpretado por Cecile fosse convincente o bastante para dar ao público uma impressão diferente da que todos possuíam dele até então… bem, ainda assim, ele continua sendo um príncipe-metido extremamente presunçoso. A realidade é que os campistas Meio-Sangue apresentam uma aparência mais suave; quase angelical, comparados à dureza que domina os arredores em Júpiter. Na opinião da Julieta, isso se dá graças ao temperamento bondoso de Quíron.
⸻ Ótimo. ⸻ respondeu ao Romeu. Olhos azuis como o céu após a nuvem de chuva encararam Niccolo, que percebeu neles apenas uma dureza estranha — ou talvez um abismo escuro de desinteresse. O que poderia dizer em sua defesa? É justo. Niccolo está longe de ser uma obra de arte a ser contemplada na vitrine do museu, afinal. ⸻ Devemos nos encontrar e...!
Mas, então, deixo aqui um conselho valioso para quem lê este texto: esteja atento aos locais inesperados onde os cadarços dos seus tênis podem enroscar. Talvez salve sua vida saber que, durante a peça de teatro, no alto da torre improvisada; um dos seus cadarços encontrou uma maneira inusitada de se agarrar ao cenário ao redor. Imagine o que ocorre quando alguém, confuso, tenta avançar enquanto esse pequeno obstáculo o mantém preso ao mesmo ponto. Santorini só teve tempo de arregalar os olhos e proteger a cabeça. O estrondo acompanhou as sombras da queda. Para a plateia, Julieta optou pelo suicídio um pouco mais cedo que o previsto no script. Ele, na bagunça, despencou com muita força contra o palco da peça — mas será que foi mesmo somente o vento quando escutara o estalo de ossos no instante seguinte ao acidente?
Era definitivo; ele morreria. Não literalmente, mas morreria ali. Não havia outra maneira de disfarçar ter caído de cara; e mesmo que existisse uma alternativa, Santorini ainda optaria pelo desmaio fingido — porque parecia algo planejado, quase profissional, em vez de um simples acaso que desorganizou totalmente o ambiente ao redor. No caos, podia visualizar com tranquilidade o rosto de Cecile. Raivoso, se engasgando com a mudança abrupta dos planos. Ufa, pelo menos agora havia uma justificativa para o aumento inesperado da temperatura ambiente. O semideus, filho de Hades, estava botando fogo na figura estatelada de Niccolo à distância, usando apenas a força magnética do seu olhar azulado. Mas, ei, escute aqui: este é um cara inteligente, comunicativo e desenrolado. Daria o jeito dele; caso contrário, esqueça a recompensa para os dois patetas que se dispuseram a reivindicar o prêmio do Deus do Vinho...
Espere aí.
Por que raios Santorini está sorrindo? Escondendo o balançar sútil dos ombros, achando graça — ah, sim, muita muita graça! — do pensamento de Cecile abandonado à própria sorte? Ah, bom. Realmente. Parecia — e, de fato, é — muito cômico a imagem da elegância e do calculismo se submetendo a humilhação do improviso e das falhas ocasionais do destino.
8 notes
·
View notes
Text
ㅤㅤㅤ﹡ㅤㅤflashback ㅤ⸻ㅤ antes da desgraça acontecer.
ㅤㅤㅤtw: automutilação/suicídio (mas é só uma citadinha de nada)
ㅤㅤㅤEra irritante o prazer que Thomas parecia sentir em achar um monte de coisas sobre Cecile, que não pôde evitar revirar os olhos com o aborrecimento de ter que lidar com tamanha persistência. Era como conversar com as paredes. “Sim, que desastre… Acho que daqui pro fim do mês eu corto os pulsos. Conto com sua presença no funeral pra não me sentir tão solitário.” As palavras saiam com a sensibilidade de um robô. A esse ponto, desconfiava que era justamente o que Thomas buscava: o prazer de vê-lo mais miserável do que ele para se sentir um pouco melhor. Cecile não estava disposto a servir de alimento para um ego que já era tão grande. Poderia acabar causando algum desequilíbrio no universo. “A única coisa que você está conseguindo aqui é a minha pena. Mais dos seus pais do que de você, pra ser sincero.”
ㅤㅤㅤCom os rostos perigosamente próximos, podia sentir a respiração de Wentworth bater contra o rosto, a tensão quase palpável no ar. De alguma forma, sempre acabavam desse jeito. Quando nenhum dos dois demonstrou intenção de recuar, Thomas trouxe à tona um tópico que o incomodava ainda mais: o fato de que foi esquecido naquele cassino. O quão inútil era ter retornado. Que não faria diferença alguma se de fato cortasse os pulsos. “Vá se foder.”, disparou, simplesmente. Nem se lembrava qual foi a última vez que havia xingado em voz alta, mas nenhuma outra palavra pareceu o suficiente. O filho de Hades rangeu os dentes, sentindo cinzas sobre a língua, as íris escuras como obsidianas faiscando com a irritação. “Devo ter saído de lá só pra ser perturbado por você, certamente. Só pode ser meu inferno particular mesmo. Você faz esses bicos como demônio por que o salário de ceifador parou de cair na conta?” Mas com a insinuação absurda e depravada, Cecile se afastou dois passos para trás, profundamente incomodado. O encarou com tanto desgosto que nem precisaria de palavras para censurá-lo. “Claro, porque obviamente essa foi a primeira coisa que eu pensei. Ahh, tenha santa paciência, Wentworth!” Entre todas as asneiras que poderia ficar escutando, aquela não estava inclusa na lista, e portanto Cecile girou sobre os calcanhares, decidido a abandoná-lo na própria miséria e ir procurar outro canto no festival. Thomas Wentworth não valia a pena.
As palavras de Cecile arrancaram um sorriso perigosamente divertido de Thomas; um que vinha do mesmo lugar de quando, em sua função como Ceifador, acabava encontrando almas que resistiam à morte ou tentavam fugir de alguma forma, forçando-o a soar mais como um caçador do que alguém apenas executando sua função, simplesmente porque Tânatos era o deus da morte pacífica; ele, não. Sangue tendia a atraí-lo mais do que qualquer coisa, então se poderia descontar sua raiva e frustração em algo que estivesse se debatendo... Por que não? E Cecile soava, agora, como uma dessas almas que tentava se dispersar, atônita, negando e refutando o incontestável. No caso, o fato de que estava sozinho, entregue à própria sorte como semideus e não valia mais muita coisa no tempo atual após tanto tempo no Lótus. — Eu acho que você tenta bancar essa pose toda justamente porque já passou da fase que é mais frágil do que eu, Cecile: você já tá quebrado. Sem uma família, sem ninguém que te ame ou te ature a não ser por interesse, porque temos vários lambe-botas dos Três Grandes por aqui. — Negou com a cabeça, sustentando o sorrisinho ladino; os sentimentos nunca seriam algo do qual Thomas se envergonharia, então apesar de meio reflexivo por alguns instantes, não se deixou abater; na verdade, aproximou-se em mais alguns passos de Cecile. Um pouco mais perto, perto demais, só para aproximar mais seus rostos e olhá-lo diretamente nos olhos. — A pena das pessoas não é o que me interessa, prefiro a arrogância de gente como você. Cuspindo veneno só porque não aguenta ter ele lá dentro, te corroendo, te fazendo pensar demais, né? Pelo jeito você é o mais patético entre nós, boneca. E meus aliados me são úteis, mas não dependo deles pra ser alguma coisa mínima na vida como você, simplesmente esquecido naquele cassino e precisando de alguma relevância agora pra não ser esquecido de novo. Por que foi que você saiu mesmo, afinal? — Os olhos se estreitaram antes da pergunta que veio no fim. Thomas era naturalmente curioso, então acabou por endireitar a postura, afastando-se um pouco do rosto de Cecile. — Essa eu quero ver. O que alguém que não tem nada na vida, como vossa senhoria, teria a me oferecer? Tenho que te adiantar que não vai me comprar se ajoelhando ou dando pra mim.
9 notes
·
View notes
Text
﹡ㅤㅤflashback ㅤ⸻ㅤ antes da desgraça acontecer.
Cecile não pôde evitar encará-lo torto, reagindo como se Wentworth tivesse acabado de dizer a maior estupidez que ele já ouviu na vida. Nunca o tinha visto daquele jeito, tão manso e desmunido de esperanças. Não combinava nada com ele. Era como ver uma fogueira apagada. “Onde você quer chegar com isso?” Quando Thomas se aproximou, o Grimm-Pitch cruzou os braços na frente do corpo, já impaciente em vê-lo dar tantas voltas desnecessárias para ocultar as verdadeiras intenções por trás daquela conversinha mole. N��o era ingênuo a ponto de pensar que o filho de Tânatos estava genuinamente preocupado com ele, é claro. Cecile odiava perder tempo com joguinhos. Preferia quando Wentworth usava sua face de demônio de uma vez, pois ao menos era uma parte verdadeira. Por isso, quando as coisas começaram a fazer sentido e o véu daquela mansidão esquisita que Thomas se deu ao trabalho de fingir caiu, um sorrisinho cínico se ergueu no canto dos lábios do filho de Hades, que soltou um ar de escárnio pelo nariz, levando as palavras ásperas como uma pequena conquista particular. Cecile não se surpreendia por Thomas parecer um cão assustado, indeciso quanto a se devia baixar a cabeça ou mostrar os dentes. Homens dessa geração vinham com esse problema ⸺ precisavam de alguém para guiá-los pela coleira. Era uma pena. “Wentworth, entenda uma coisa: eu não sou frágil como você. Francamente, você acha que sair por aí lambendo as botas de todo mundo é alguma vantagem? Não minta para si mesmo imaginando que isso tem alguma razão além de sua extrema carência.” Ele deu um passo à frente, encurtando novamente a distância que Wentworth não havia sustentado por muito tempo. “Você pensa que só porque não perco tempo brincando de casinha como você faz, não tenho aliados? Tenho mais aliados do que amigos, pois são mais úteis para mim. Posso contar com pessoas que eu sequer gosto, mas e quanto a você? O que tem além disso?”, questionou, erguendo uma das sobrancelhas. Ele ignorou o cheiro do cigarro, os olhos escuros passando a encará-lo com uma frieza feroz, sustentando o olhar crítico para a figura detestável à sua frente. Era muita petulância da parte de Thomas julgá-lo estando numa posição tão decadente. “Está fazendo alguma coisa além de perder tempo trocando saliva e chorando no ombro alheio por aí? Vou te dizer uma coisa: conquistar a pena das pessoas não é o bastante. Não é só meu pai que está desaparecido aqui.” Provavelmente não deveria estar denunciando que reparava na forma que o filho de Tânatos perdia seu tempo com o enredo patético de sua vidinha medíocre por aí, mas Thomas havia cutucado um pouco mais que o ego: ele trouxe à tona o incômodo e a incerteza que tanto perturbavam Cecile ultimamente. Não precisava de mais uma dose disso. “Quer fazer alguma coisa além de ficar perdendo tempo? Dou uma utilidade a você, se estiver disposto.”
— Não é sobre ser negativo ou positivo, Cecile. É sobre ser realista. — Bufou levemente. Àquela altura, Thomas já teria dado as costas ao outro ou o importunado até tirá-lo dos eixos, mas realmente não estava no humor para isso. A preocupação envolvendo seu pai havia conseguido tirar as forças de Thomas, então nem mesmo o desprezo que sentia pelo filho de Hades parecia conseguir falar muito mais alto. Quer dizer, não por enquanto. — Não espero nenhuma dessas coisas em relação à mim, mas você vai precisar disso em alguma hora, Cecile. Algum amigo. Alguém que goste de você. Como vai viver aqui sendo odiado por todos? Sem ninguém que queira sair em missões em grupo com você? — Agora seu lado político estava genuinamente ativado, enquanto estreitava os olhos na direção do rapaz e se aproximava dele em alguns passos. — Você se acha o suficiente, mas não é. Os tempos mudaram e nós semideuses não temos tanta força sozinhos. Sem ninguém por perto, você vai ser comido vivo e voltar ao reino do seu pai pelos motivos errados. E fracassando, você expõe mais o acampamento ao que pode dar errado. Acha que isso é justo? — Indagou em tom retórico. Não seria ele a andar em um trio com Cecile, definitivamente, mas Thomas se preocupava com o fato de um dos filhos dos Três Grandes não fazer jus ao legado que tinha. Simplesmente porque significava que todos estariam fodidos e, no caso de Cecile, simplesmente não podiam confiar nele. Por que mantê-lo no Acampamento, então? — Tá vendo só? Você não consegue mostrar apreço nem por uma criatura, imagine por outro semideus? Quem ia gostar de sair em miss��o com você ou se esforçaria pra te ajudar quando você precisasse? — Balançou a cabeça em negação, antes de recuar um passo novamente. Cecile parecia mais medíocre ainda em sua concepção; e a visão de um Thomas entristecido era bem difícil de se deixar corromper. — A título de curiosidade, não, meu nome do meio é Belial. Mefisto foi o nome que ele usou comigo quando apareceu pela primeira vez. — Respondeu enfim, remexendo nos bolsos atrás de algum cigarro, imediatamente posicionando o filtro contra os lábios e isqueirando a ponta até acender e dispersar a fumaça na direção oposta. Normalmente, jogaria na cara de Cecile sem maiores problemas. — Você acha que seu humor fodido e seu desprezo pelo resto de nós vai te manter seguro por mais quanto tempo? Principalmente agora que todos nossos poderes foram pro caralho?
9 notes
·
View notes
Text
❝ Não? ❞ ele perguntou, erguendo uma sobrancelha com um ar imenso de ceticismo só para provocá-lo um pouquinho. Não achava a ideia tão impossível quanto Thomas fazia parecer. As coisas eram tão simples assim e, é claro, Cecile não era ingênuo a ponto de pensar que Thomas não queria algo dele. Todos sempre querem algo, mesmo que às vezes sequer saibam exatamente o quê. ❝ Jesus, Wentworth… Sua positividade é reconfortante. ❞ disse, o sarcasmo tão pesado no tom das palavras quanto o sotaque britânico. O aborrecido escapou num suspiro. Pelos deuses… Não satisfeito em ser miserável sozinho, o filho de Tânatos estava disposto a afundá-lo junto? ❝ Sei. E você espera o quê com isso? Que sejamos confidentes um do outro? Que eu chore no seu ombro? Isso não vai acontecer. ❞ Esclareceu com frieza, as palavras redesenhando a linha que devia haver entre os dois, definindo os limites do que era aceitável ou não entre os nêmesis. Detestava ser visto além dos muros, no campo dos sentimentos, como se fosse um livro aberto que até Wentworth podia facilmente ler que tudo aquilo o afligia, apesar de seus esforços para não demonstrar. ❝ É isso que está querendo? Que eu alivie seus medos e preocupações? Se eu descobrir algo, contarei a você. Não precisa continuar sendo tão esquisito pro meu lado. ❞ A possibilidade de nunca mais ver Hades e do reinado no submundo nunca ser devidamente recuperado o assustava, mas a mudança abrupta do comportamento de Thomas conseguia ser ainda mais aterrorizante. Era como se os pais dos dois já estivessem condenados a um fim terrível. Quase um luto precoce. Interrompendo-os, a ave de plumagem escura parou do lado de Thomas ⸺ tão intrometida quanto o dono, aparentemente. ❝ Mefistófeles. Hm… ❞ Ele olhou para o corvo, as íris brilhando com uma repentina curiosidade. Gostava de animais e, é claro, achava os corvos muito interessantes. Seria ótimo se pudesse atrair bichos assim, em vez de ter que vender a alma pelos seus. ❝ Nome adequado. É em sua homenagem? ❞
— Eu acho muito poética a forma como espera que eu deseje algo vindo de você. Isso não aconteceria tão facilmente, te garanto. — Tornou a rir baixo, o tom ainda ameno, apesar de um pouco mais defensivo. Nunca poderia baixar a guarda com Cecile? Bom, paciência. Thomas estava tão preocupado e com a cabeça vagando por tantas direções preocupantes, que a presença do filho de Hades era seu mais insignificante pormenor, já que, olhando uma segunda vez, Cecile não parecia tão detestável assim. De boca fechada, pelo menos. — Não acho que esteja bem. Não estamos tendo notícias dos nossos pais e a tendência é que fiquemos cada vez mais afastados de qualquer boa notícia. — Suspirou com a própria constatação, baixando o olhar para os próprios pés por alguns instantes, também fitando o cinto de correntes, contando alguns nós delas naqueles breves segundos. Pelo lado positivo, as auras fúnebres e submundanas deles não se afetavam, então era pelo menos uma preocupação excetuada quando estava na presença do outro. — Até mesmo alguém como você deve ter preocupações e medos, Cecile. E esconder cada um deles não vai fazê-los sumir, mesmo que eu saiba que não faz sentido falar disso com uma pessoa que seus sentidos detestam tanto. — Não era seu intuito fazê-lo falar, todavia. A bem da verdade, não queria iniciar uma discussão, então se pudesse ser poupado das falas atravessadas do outro, já era de grande ajuda. De qualquer forma, sua atenção acabou se voltando para a ave mediana que pousou ao seu lado, a penugem enegrecida posicionando-se ao lado do mestre. Mefisto era imponente, com aqueles pares de olhos e as garras imensas, mas ainda era um animal e encarava Cecile com curiosidade. — Mefistófeles, Cecile. — Apresentou rapidamente sem olhar outra vez pro filho de Hades. — Ele me disse que conhece seus cachorros.
9 notes
·
View notes
Text
❝ Nos conhecemos brigando por motivos estúpidos, mas aprendemos a conviver. ❞ respondeu, resumindo a história um tanto complicada para a loira curiosa. Já não sabia dizer quem dos dois ela estava investigando. Talvez estivesse usando-o para stalkear Santorini, e ele sinceramente não sabia dizer qual das opções mais o deixava desconfortável. ❝ Ele nunca me falou sobre você... São próximos? ❞ perguntou, investigando-a de volta com a mesma casualidade, agora mais interessado na conversa. Ele seguiu o olhar da loira para os campistas que estavam chamando a atenção, demorando um pouco para entender o que diabos estavam fazendo misturando bebida e pele exposta ⸺ curiosamente, duas coisas que Cecile não curtia. Ele se lembrou dos tempos enfiado nos bordeis, a mente rapidamente repassando a memória dos cenários absurdos que já presenciou nos ambientes mais sórdidos de Londres, mas nenhum parecia realmente equiparável a um que era aceito aos olhos da sociedade. Com todos agindo como se fosse normal, despidos de qualquer pudor. Aqueles campistas pareciam completamente livres do peso invisível da repreensão e do julgamento que mantinha pessoas como Cecile em suas gaiolas. ❝ Sim… É, realmente ❞ Inexplicavelmente, apesar de desprezá-los, ele sentiu uma onda melancólica contaminá-lo. ❝ Acho que nunca vou me acostumar com algumas coisas. ❞
Léonie recebia bem aquele tipo de olhar por mais que estivesse imerso em desconfiança. Ela era uma Centuriã e não havia alcançado o cargo sendo estritamente gentil ou detentora de políticas pacíficas e amenas em combate ou diplomacia; então o tal Cecile (nome esquisito para um rapaz, a menos que fosse francês) tinha lá sua razão em encará-la de forma tão pontual. Nada que a preocupasse, entretanto. — Tem razão. Ele é talentoso, só meio atrapalhado às vezes, mas tem bom coração. Como vocês se conheceram? — Indagou genuinamente curiosa, bebendo mais um pouco do que havia trazido consigo. Na verdade, Léonie recebia perguntas tão frequentes sobre sua vida quando anunciava quem era e de onde havia vindo, que escutar outras pessoas falando soava como uma ótima ideia, mesmo que a pessoa em questão fosse alguém com cara de tão poucos amigos quanto Cecile. — Ah, são seus, então. Legal, eles parecem muito úteis. Prefiro gatos, mas cachorros têm seu valor. Principalmente os do submundo. — E tinha planos de encerrar seu contato ali, quando uma cena não tão distante deles, mas ainda não na área onde estavam, se desenrolou: meia dúzia de campistas num body shot, eufóricos e bem mais bêbados do que aparentavam, certamente. — Ver esse tipo de coisa quando você veio de outra época, deve te fazer sentir bem deslocado, não é?
5 notes
·
View notes
Text
Cecile o encarou feio, fuzilando-o com o olhar para repreender a brincadeirinha até a nuca de Santorini sumir da vista. Que patife mais folgado! Ele ouviu os barulhos da plateia, sentiu as luzes batendo contra o rosto quando abandonou a área atrás da cortina, o som dos passos no palco parecendo ecoar altos demais para seus ouvidos. Então, parou diante a torre, erguendo os olhos para avistar a figura de Santorini acima de si.
⸻ Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria. ⸻ Naquele palco, Cecile incorporou o príncipe que era, fazendo um bom uso da educação impecável e das aulas de etiqueta que recebeu em casa desde cedo. A memória, sempre igualmente bem treinada, guardava as falas com clareza, e ele as reproduzia com paixão e naturalidade, se adaptando ao tom que a cena exigia. Dizem que o fingimento sempre cai bem nos Grimm-Pitch.
⸻ Minha querida? ⸻ respondeu ao chamado da donzela. A última coisa que Cecile imaginava fazendo após todo esse clima de morte do submundo era estar numa situação dessas, se declarando para a Julieta mais esquisita que já viu na vida enquanto trajava uma fantasia barata por cima da roupa que lhe causava uma coceira desagradável no pescoço, como se alguém tivesse esquecido de arrancar a etiqueta. No entanto, estava ali — servindo o pão e circo para uma plateia de semideuses e alguns deuses que aparentemente não tinham mais o que fazer. Que decadência. ⸻ Às nove horas.
Engoliu uma reclamação, perturbado pela pressa de Cecile e também por estar prestes a interpretar o ridículo diante dos olhos de todos os semideuses. Deu um passo à frente, abandonando a discrição da coxia, e se permitindo o bom-humor de estapear de leve a boina na cabeça do garoto grego; sempre muito preocupado em garantir a perfeição das próprias roupas. Ah, se Santorini pudesse apenas ter um chapéu parecido e enfiar a cara dentro do pano para que ninguém fosse capaz de enxergar o constrangimento forçando caminho às suas bochechas...
A ansiedade se entrelaçou pelos dois olhos castanhos, captando a presença das pessoas que se prontificaram a estar ali. O rapaz pisou forte, ganhando, senão a total confiança, ao menos adquirindo uma parcela desta através do fingimento. Ele não se deixaria levar pelos olhares dos espectadores, especialmente aqueles que viam como conveniente cochichar durante a apresentação, usando as palmas em concha para se aproximar do ouvido do colega. A esses Santorini reservara o desprezo, subindo os degraus da plataforma disfarçada ao público como torre, para que Julieta — neste caso uma Julieta repleta de tatuagens, vestindo calças justas, com o cabelo cacheado e a expressão de um homem que, se perguntado, optaria pela morte rápida — pudesse gritar a todos os mares sua profunda paixão por Romeu.
⸻ Romeu. ⸻ disse, alto o bastante para se ouvir ecoando no anfiteatro ⸻ Renega teu pai. Despoja-te do nome. Eu também faço isso. ⸻ Teatro. Às vezes é tenso, como os fios segurando a marionete, e às vezes é fluído como um comercial de manteiga sendo reproduzido na televisão. Julieta soava para todos como um tenente lançando ordens aos subordinados da plateia. Se alguém desse à ela — a ele — uma lança, esquema nenhum nesse mundo poderia separar o amor românticos dos herdeiros inimigos... aos audaciosos, a ponta da lâmina estaria preparada e na mira. ⸻ A que horas, cedo, devemos nos encontrar?
8 notes
·
View notes
Text
“Sabia.” Encarando-o meio torto, a testa ligeiramente franzida de Cecile quase estampou uma interrogação gigante para a alucinação absurda bem diante de seus olhos: Thomas Wentworth quase sendo amigável com ele. Ele viu os lábios se curvando na estranha forma de sorriso brando; uma coisa que normalmente se usa para suavizar o clima, em vez de para colocar mais gasolina no fogo, como os dois costumavam fazer. Havia algo de profundamente errado nisso. Realmente, Wentworth podia ser uma criatura bastante ardilosa. “Estou ótimo.” A mentira saiu fácil entre os lábios, um reflexo do escudo que se acostumou a manter ⸺ e que ocasionalmente usava para bater em Thomas com as palavras. Não tinha intenção alguma de demonstrar a mínima fraqueza para uma criatura tão baixa; alguém que há pouco tempo esteve desdenhando do fato que, com a queda de Hades e a tomada do submundo, Cecile não tinha mais nada além de um mundo que não devia fazer parte. Ousando tentar afetá-lo usando a grande possibilidade de Hades estar morto como arma. O bastardo podia usar a cara que quisesse, mas ainda era o mesmo infeliz espinhento, hábil em trazer a tona justamente o que o Grimm-Pitch queria evitar pensar. Wentworth sempre parecia saber muito bem quais eram os melhores pontos para se enfiar a faca. Ele sentiu o ressentimento voltar a ferver, a aspereza retornando a ponta da língua. “Não vou dar o chapéu a você, se é o que está querendo.”
PRIMEIRA NOITE
Em geral, não era de seu feitio fugir do foco da animação e das pessoas durante uma festa. Todavia, naquela noite, Thomas não se sentia tão disposto a se envolver com a primeira desavisada que lhe desse alguma condição ou ficar tão próximo de todo o epicentro de atividades. Por isso, após vagar um pouco, instalou-se em um canto, se distraindo com os próprios bolsos atrás do que desejava, até que seu olhar se voltou para a pessoa mais próxima. Alguém que o Wentworth normalmente sentiria prazer em atormentar, mas não naquela ocasião. Não quando os dois não tinham notícias dos pais e a situação deles no Submundo. — Não é educado ficar de canto em uma festa, sabia? — Fez menção de rir baixo, abrindo um leve sorriso demonstrando como, inacreditavelmente, estava brincando com Cecile. Ou sendo minimamente mais suportável. — Não que dêem falta da gente. Os filhos de Dionísio estão se encarregando dos holofotes sobre eles. — Meneou levemente a cabeça. — Foi uma boa luta, à propósito. Como tá se sentindo?
@cecilez
9 notes
·
View notes
Text
“Que bom.” Cecile não sabia o porquê a loira estava falando com ele, mas sabia que gentileza nunca vinha de graça ⸺ especialmente quando vinha de alguém do Acampamento Júpiter. Ciente que devia ter alguma razão oculta por trás da simpatia repentina, ele a encarou com um misto de desconfiança e curiosidade, estudando-a impassível, protegido sob a redoma de cautela que mantinha por natureza quando lidava com outros indivíduos. Saber que era uma amiga de Santorini não o desarmava.
“Ele me surpreendeu bastante, na verdade.” disse, imediatamente partindo em defesa do seu parceiro de cena. Santorini era um desastre em pessoa, mas Cecile não achava justo não dar os créditos a alguém que aceitou interpretar a Julieta na peça escolhida por ele, sem sequer abrir a boca para reclamar ⸺ mesmo que fosse movido pelo prêmio. Cecile era grato por isso. “Acho que seu amigo acrescentou um toque de drama bem interessante. Deixou a peça mais única.” Ele se lembrou do desespero que sentiu no palco; em como quis xingá-lo de todos os nomes quando teve que se virar nos trinta para voltar aos eixos. No entanto, a entrega de Santorini na performance tinha genuinamente surpreendido o filho de Hades. “Mas agradeço pelas palavras.” E deu um meio sorriso cortês, sendo educado.
Ele não gostava da forma como se sentia observado e analisado pela loira. Era uma sensação bastante frequente na vida dele, visto que além de ser um Grimm-Pitch ele também era um filho dos três grandes ⸺ e logo do que mais gerava curiosidade nas pessoas. Queriam testá-lo o tempo todo, e a conclusão que tiravam nunca poderia ser boa, independente de ser uma visão positiva sobre Cecile. Se mostrar digno gerava interesse; e consequentemente palavras vazias e inconfiáveis para agradá-lo, exatamente como a loira parecia estar fazendo, parabenizando-o pela luta. “Obrigado.” Contrastando com o estranho bom humor da loira, o agradecimento beirou ao robótico. Não entendia qual era o propósito daquilo. “Mas imagino que já tenha conhecido meus cachorros.” disse à Léonie, referindo-se aos cães infernais que foram para o Júpiter. “Cecile. De Hades.”
Apesar de estar no meio de toda a agitação, conversando com amigos que estava revendo naquele momento, Léonie mantinha-se atenta a alguns nomes em particular, como no caso daquele rapaz de Hades que avistou em determinado momento, aproximando-se dele no instante em que saiu da mesa de bebidas por ter ido atrás de um pouco de ponche sem álcool (já que havia prometido a Niamh que só beberia na companhia dela). Pensou em se apresentar e se anunciar, mas seria conversa fiada, já que seu único intuito ali, no momento, era elogiá-lo e deixá-lo em paz, já que não parecia tão aberto a novas aproximações e Léonie realmente não queria incomodá-lo. — Gostei da peça. — Começou com um leve aceno de cabeça, virando parcialmente o corpo na direção do rapaz numa demonstração de que estava se dirigindo a ele. — Sei que meu amigo não colabora muito com o cuidado do roteiro, mas gostei da sua performance. Uma atuação leve e pontual, se me permite dizer. — Deu levemente de ombros incapaz de conter seu próprio lado técnico: havia acompanhado o pai em tantos sets de filmagem e conhecido tantos atores, que uma hora ou outra sua atenção se voltava para aquele tipo de coisa. — Parabéns pela luta também. Sei como a Clarisse pode ser difícil, na época em que estávamos com nossos poderes no auge, era pior ainda. — Riu baixo. E seu plano era encerrar o contato por ali, mas acabou deixando sua curiosidade falar mais alto. — Acho que nunca te vi nas vezes em que vim até o Meio-Sangue, então... Sou Léonie, de Vênus. É um prazer conhecê-lo.
@cecilez
5 notes
·
View notes
Text
⸻ Quê? ⸻ Cecile franziu o cenho, virando minimamente o rosto para lançar um olhar meio torto para Santorini quando sentiu a cutucada no ombro. A dificuldade na leitura fazia ele parecer uma criança ainda aprendendo a ler. Vestido daquele jeito, era ainda mais difícil levá-lo a sério. ⸻ Ah. Ninguém. É só poesia, não precisa esquentar a cabeça com isso. ⸻ aconselhou, voltando sua atenção para as mangas da própria fantasia, dando os últimos ajustes para ficar impecável.
Sendo sincero, Cecile se preocupava com a possibilidade de Santorini, com o cérebro limitado que tinha, acabar se esquecendo das falas por estar focando na parte errada da coisa. A escolha dos papeis foi feita justamente para tentar evitar isso, visto que Romeu tinha as falas mais rebuscadas — e também porque Cecile não tem coragem de se prestar a um papel tão ridículo, embora não fosse admitir que essa era uma das razões. De qualquer forma, o papel combinava mais com Santorini.
O Grimm-Pitch ajustou a boina na cabeça. Com os dois atrás das cortinas, a apresentação já estava prestes a começar. ⸻ É sua deixa. Vai lá!
onde: atrás das cortinas do palco. equinócio de outono. com: cecile. @cecilez
"Mas que maravilha," pensou Santorini, ajustando o laço do avental ao redor da cintura. "Agora pareço a empregadinha particular de alguém". Uma voz interior, desconfiada até o último fio de cabelo, gritava que Niccolo deveria retornar e se refugiar no silêncio do quarto de hóspedes. E ele teria obedecido ao conselho, não fosse o tempo perdido memorizando cada fala da personagem que estava prestes a interpretar no palco. Julieta era uma mulher estranha. Tola. A péssima educação de Santorini não abrangeu os clássicos da literatura; nem conhecia uma só instituição pública que faria isso sem a promessa de reguadas na mão dos alunos. Se surpreendeu ao perceber que a peça sugerida — a única entre as que conhecia, vale ressaltar — se encerrava com um desfecho trágico e suicida. Triste. Ainda bem que abandonou a escola; imagine só, tomar como exemplo de vida dois jovens inconsequentes que escolhem a frieza da morte antes dos vinte anos...
⸻ Só não entendi uma coisa, ⸻ começou, cutucando Cecile no ombro esquerdo. Sendo sincero, ele não compreendia o porquê um cara com o nome de garota deveria receber o papel do protagonista masculino, mas se recusara a dar o braço a torcer e admitir o desagrado com a designação dos dois personagens. Santorini era muitas coisas. Previsível, falador, exigente. Recusava-se a incluir a palavra "frágil" à esta lista. ⸻ "Apenas. teu. nome. é. meu. inimigo." ⸻ leu a cena em voz alta, se atrapalhando com as sílabas refinadas do conteúdo. ⸻ Quem foi que disse à Julieta que o nome do Romeu é inimigo dela? Hã?
8 notes
·
View notes