#ㅤ 𝄒 ㅤdaphne 𝓍 cassandra.
Explore tagged Tumblr posts
Text
às vezes, quando se lembrava da infância, com os poucos incentivos de memória que ainda tinha de thornhill daphne sentia uma pontada de culpa por não tê-la amparado mais quando podia. havia tentado, é claro; tinha um instinto cuidadoso intrínseco, e sempre tentou ser uma figura que passasse uma sensação de cuidado para as outras crianças, exprimindo um cuidado que havia desenvolvido quando percebeu que não bastaria ser uma menininha chorona; havia de ser uma moça prestativa aos mais necessitados. quando os menores eram assustados por cassandra, mesmo que ela não fizesse por mal, daphne tentara insistentemente ajudá-la por um tempo, até que um acidente envolvendo as crises contínuas de marwood fizeram com que se afastasse, pelo bem ou pelo mal. havia errado com ela, não tinha? poderia ter sido um pouco mais gentil, talvez atenciosa, mas o sentimento que ficava, apesar das lembranças falhas era a sensação do medo grudada ao paladar, entendendo que jamais poderia entender o que aquela menina falava ou passava… das crises, lembrava-se pouco; cassandra falava de santos? não se recordava, mas àquela altura do campeonato, sabia que também não valia a pena perguntar, além da natural deselegância de tomar aquilo como assunto. aparentemente, a mulher havia superado essa fase de sua existência. ‘ então está marcado; visitaremos o seu atêlie quando possível. ’ o sorriso tingido em seus lábios era polido e simples, satisfeita com o rumo pacato, até então, que aquela conversa estava trilhando. ‘ ah, entendo. infelizmente, não tenho um profundo conhecimento das artes, mas o surrealismo é bastante interessante. ’ a palavra escolhida não distava da verdade, mas daphne também atribuiria confuso à uma de suas descrições oficiais. ‘ acho que o que foge ao natural é bem interessante. como você se inspira? digo, acabou de falar das suas emoções, mas o que mais serve como inspiração pra você? ’
"Fui, uma vez", Cassandra assentiu com a cabeça, um sorriso discreto nos lábios. Ela conseguia se lembrar distintamente da ocasião, mesmo que houvesse ocorrido há tantos anos; era difícil se esquecer de como seu coração ficara apertado durante todo o recital, os olhos cheios de lágrimas enquanto via a criança que um dia conheceu rodopiar pelo palco com uma elegância etérea. Havia ido embora antes do fim, incapaz de suportar aquele sentimento por mais um segundo que fosse, e então chorou contra o próprio travesseiro a noite toda, sem entender o porquê. Mas Daphne não precisava saber daquilo. "Gostei bastante, foi muito bonito", foi o que conseguiu dizer, mas foi capaz de perceber o brilho triste nos olhos da outra enquanto ela agradecia. Ficou curiosa sobre o que seria aquilo, mas não iria investigar. Abriu um sorriso mais genuíno com o desejo de Daphne de ter um quadro seu. "Seria uma honra. Quando voltarmos a Londres, você pode ir ao meu ateliê e ver de qual você gosta mais." Cassandra sabia que sua obra poderia ser inquietante e, no caso de alguns quadros em específico, até mesmo perturbadora. Para a sua sorte, ela havia agradado aos críticos de arte e ao restante do cenário artístico londrino. Mal sabiam eles que, em sua arte, estava a verdade de tudo o que ela era obrigada a esconder para sobreviver.
"Já pintei algumas paisagens, sim, mas não é o meu foco. A minha arte acaba por pender ao surrealista e, às vezes, ao abstrato. Gosto de dizer que minhas emoções comandam o que eu pinto, e não a minha razão." Talvez justamente por isso ela acabasse por criar obras tão confusas e tumultuadas; ou talvez porque, quando não comandada por suas emoções, sua arte era comandada pelas vozes que ainda a acompanhavam.
40 notes
·
View notes
Text
‘ você foi me ver dançar? ’ questionou, erguendo as sobrancelhas em uma faceta que era tingida de surpresa. quase sempre sabia quando uma das outras crianças de thornhill iam prestigiá-la, um acontecimento que já havia ocorrido com pessoas mais próximas a ela quando em thornhill. não imaginava que cassandra havia ido vê-la, ainda mais dizendo que já imaginava que daphne seria uma bailarina incrível. ‘ obrigada. fico muito feliz que tenha gostado. ’ os lábios se turvaram em um pequeno sorriso, o máximo que pôde, disfarçando o pequeno tracejo de tristeza na feição que exibira. não gostava de se martirizar tanto, mas ao mesmo tempo, era incapaz de disfarçar tão bem em thornhill. talvez fosse o efeito da casa. da infância. ‘ uma pintora, então? que deslumbrante! fiquei curiosa em ver suas obras. estou precisando redecorar a minha casa, e adoraria ter um quadro seu. ’ exprimiu com certa gentileza, pensando em todos os quadros nas paredes de sua moradia em kensington que, com o tempo, havia passado a odiar. nunca havia conferido anteriormente uma das pinturas de cassandra mas, por algum motivo maior, confiava nela quando dizia que tinha se tornado boa nas pinturas. não era algo que imaginaria da miúda cassandra que havia conhecido, mas a mulher em sua frente era outra pessoa, e parecia combinar muito mais com essa profiss��o. mesmo que a proximidade tivesse lhes faltado quando eram jovens, e a conversa, ainda que amigável, estivesse tomando forma em uma atmosfera um pouco confusa, daphne estava se esforçando para ser o mais polida possível. ‘ já que gosta mais do campo e dos cenários daqui… acha que vai sair daqui com alguma inspiração de pintura? é o que você costuma pintar, paisagens? ’ não sabia se era o tipo de pergunta certa a se fazer, se é que havia algum manual para esse tipo de coisa quando se tentava ser educada, mas não impediu-se ao voltar a observar o astro rei deslizando naquela tarde que se findava, o céu ao redor delas uma mistura que ia do alaranjado ao lilás, até que cedesse vagarosamente ao peso do azul escuro.
"Sim, isso é inegável", concordou com Daphne, se sentindo estranha por manter uma conversa tão casual com a outra quando ambas eram sobreviventes daquela mansão em que se encontravam novamente, duas das poucas testemunhas restantes da inquietude que Thornhill era capaz de causar. Mas do que falariam, afinal de contas? Mesmo quando crianças, não eram próximas; Daphne era uma das pequenas que tinha medo de Cassandra e suas vozes. Não a culpava, é claro que não; mas isso não tirava a estranheza do momento. "O campo sempre vai ganhar da cidade quando o assunto é cenário. O homem ainda não foi capaz de se igualar à natureza quando o assunto é beleza."
Deu um sorriso modesto e delicado com o elogio ─ era um elogio, certo? ─ de Daphne. Sabia que parecia bem; havia lutado muito para isso, para deixar a criança magra de olhos assustados para trás, a pequena profeta que amedrontava as outras crianças com suas convulsões. Se estava de fato bem, isso não era capaz de dizer, mas havia aprendido a mascarar suas dores. "Obrigada, Daphne", respondeu ainda sorrindo, voltando o olhar para ela. "Você também está ótima." E estava; Daphne havia se tornado uma linda mulher. Ela sabia, porém, que aparências podiam enganar, e por isso não assumia nada. "Eu me tornei uma pintora. É engraçado porque, durante a infância, essa não era uma carreira que imaginei seguir, mas no fim das contas sou bastante boa nisso." Ou ao menos boa o suficiente para levar uma vida confortável, mesmo que solitária. "Você se tornou bailarina, certo? Eu vi você dançar, você se tornou tão incrível quanto imaginávamos que seria."
40 notes
·
View notes
Text
cassandra sempre fora uma incógnita, a imprevisibilidade de uma tempestade; por mais que tentasse, daphne nunca conseguia saber o que ela estava pensando, envolta em uma névoa cinzenta que os outros não conseguiam ultrapassar. pelo menos, não daphne, que tanto tentou quando eram mais jovens, até que a condição de cassandra fosse suficiente para que a bailarina se assustasse e, temerosa por consequências, não tentasse mais qualquer tipo de contato. ‘ entendo. londres é um bom lugar, é claro, mas lugares como esse tem vistas mais bonitas. ’ havia tido o prazer de visitar cidades um pouco mais calmas e bucólicas, que escapavam um pouco da caoticidade que a capital tinha a oferecer; ainda assim, via londres como casa, apesar do charme encontrado em províncias menores. há anos, londres era sua única casa. até aquele momento, em que se via envolta novamente na thornhill que havia deixado para trás, escrita somente nos pergaminhos de sua adolescência. ‘ é bom ver você. você parece… ’ como não ser insensível? sabia que cassandra sempre tivera problemas, do tipo que não poderiam ser resolvidos por ela mesma ou por qualquer outra pessoa de thornhill, e não tivera qualquer contato com ela para saber como ela estava. sequer se sentia no direito de saber, e ainda assim, tentava avaliá-la; a postura parecia mais recatada, mais sútil. o tom de voz era calmo. mas os olhos, daphne não tinha acesso; não sabia, ao certo, como lê-la. ‘ bem, você parece bem. o que anda fazendo? ’ completou, esperando que tivesse sido cordial e educada, como havia sido ensinada pela senhora banks ainda tão menina. não observa marwood diretamente, mas dividia a própria mirada entre os vislumbres da companhia e do sol que se punha no ambiente vasto à frente delas.
Se virou para Daphne quando ouviu sua voz. É claro que havia ouvido falar da mulher na vida adulta, até mesmo tendo a visto dançar uma vez, mas nunca havia se aproximado; com raras exceções, ela preferia deixar Thornhill e seus moradores na posição confortável de passado. Qualquer um que a conhecesse na infância saberia quem um dia ela foi ─ quem ainda era, mesmo que negasse ─ e isso era algo que ela preferia deixar para trás.
Deu de ombros com a pergunta, voltando os olhos para o pôr do sol que se tornava mais e mais alaranjado conforme o tempo passava. "Gosto de Londres tanto quanto qualquer outra pessoa, suponho", foi a resposta vaga, levemente evasiva, que conseguiu oferecer. "É uma boa cidade. Tem tudo o que preciso. Foi onde morei por toda a minha vida." Com exceção dos anos que vivi aqui ficou silenciado, subentendido, mas é claro que Daphne entenderia. Não seria a mesma verdade para ela?
40 notes
·
View notes
Text
daphne sempre quis ter uma casa com um grande jardim quando era criança. mesmo quando casou-se e, já adulta, tinha um jardim que poderia ter todos os requisitos de seus sonhos de infância, a pouca memória que tinha da área verde em thornhill era o que imaginava quando se relembrava desse desejo. lembrava-se somente de achar as roseiras tão belas na infância, apenas para encontrar os troncos espinhosos e esqueléticos que o pesar do tempo havia imposto entre o jardim. mesmo assim, talvez somente por uma memória infantil, o lugar lhe apetecia o suficiente para que se sentisse confortável ao estar ali, observando o sol desaparecer entre ramos e espinhos. percebeu logo depois o fato de estar acompanhada, mesmo que a outra presença tivesse conquistado primordialmente o território. não se atentou á quem era pela voz mas, sim, quando tomou lugar ao lado da fumaça do tabaco e encontrou os olhos de cassandra. nunca mais havia visto cassandra. ‘ é verdade. os fins de tarde aqui são muito mais bonitos. ’ o céu se transmutava de alaranjado para azul, dando lugar ao império noturno. ‘ embora eu também ache que londres tem seu charme. não gosta da capital? ’
Starter: Aberto Local: Jardim Horário: 18:00
Cassandra não sabia ao certo como se sentir, pela primeira vez depois de tanto tempo em Thornhill. Em parte, suas emoções eram nubladas pelo coquetel de remédios que tomava todas as noites, talvez sendo seu amigo mais fiel, mas nem mesmo toda a medicação do mundo seria capaz de apagar a dor aguda no fundo de seu peito por estar de volta. Talvez, depois do sanatório, aquela mansão fosse o lugar que mais temia; não por uma repulsa sentida, como era o caso do primeiro, mas justamente pelo contrário. Não era Thornhill, afinal de contas, o lugar onde as vozes falavam mais alto? Não era ali que sua reputação de louca havia sido consolidada? Não queria voltar àquilo; havia lutado demais para abafar aquela parte de si. Sem coragem de enfrentar a casa por hora, se refugiou no jardim após guardar suas coisas no seu quarto antigo e, com um cigarro aceso entre os lábios, assistia o pôr do sol, como fizera tantas vezes antes. Abriu um sorriso curto ao ouvir os passos atrás de si, se aproximando. "É lindo, não é? O pôr do sol aqui. Não existem cenas assim em Londres."
40 notes
·
View notes