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giovanna | studyonfire
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curitibana, quinze anos, studygrammer, posto umas coisas que podem te fazer pensar
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studyonfire-blog · 7 years ago
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devaneios sobre a vida e a existência e sobre simplicidade e minimalismo
Nunca percebi a forma como o minimalismo entrou na minha vida. Foi algo extremamente natural e simples, como o conceito é, em si. Me lembro de quando parei de reclamar do espaço pequeno do meu quarto e começei a gostar da forma aconchegante dele. Me lembro quando bani a maquiagem, que usei muito por volta dos dez anos, tentando esconder as imperfeições que a sociedade jogava na minha cara o tempo todo. Me lembro quando deixei de fazer a sobrancelha e vi os pelos tomarem conta da parte de cima dos meus olhos, quando dei tchau a progressiva e parei de cortar o cabelo... Joguei tanta, tanta, mas tanta coisa fora. Dei muitas coisas também. Tentei reutilizar coisas e tentar achar o melhor fim para cada objeto inútil da minha vida. Deu certo. Aos poucos, me via organizando melhor a mente junto com o quarto. Jogava sacolões com coisas, literalmente, inúteis no lixo e fazia um outro sacolão de coisas para doação. Tentei até meditar por uma época, mas esvaziar a mente não me ajuda tanto quando ficar pensando. Desliguei a TV, o rádio, o youtube e qualquer som de qualquer lugar. Descobri recentemente que toda aquela procastinação e pilha de coisas para eu fazer era, na verdade, uma forma de me ocupar. De não deixar a mente vagar, de não me deixar apenas ser, temendo o sentimento de inutilidade ou algo parecido. Mas não. Não era isso. Uma vez, quando eu tinha uns onze, doze anos, estava sentada com os pés dentro da água de uma piscina de plástico montada no nosso quintal. Piscina que eu nem usava e minha mãe se livrou assim que eu disse que não me faria diferença. Eu nem nadar sei gente, então assim, era inútil. Eu estava lendo um livro e tentando não me focar no sol forte que estava sobre mim. E então, me veio. O segredo da felicidade, inclusive, vou compartilhar com vocês: acordar cedo. Espera, que no final, vai fazer sentido. Porque uma menina de uns doze anos acha que o segredo da felicidade é acordar cedo? Pois é, eu também nunca tinha entendido até essa semana mais ou menos. Se pratiquei? Não. Continuei trocando o dia pela noite e dormindo nas madrugadas depois das conversas arrastadas nos grupos do whatsapp, no caso essa fui eu na noite de ontem. Acordar cedo não é apenas acordar cedo. É fazer o dia acontecer. Seu dia fica maior, você fica mais produtivo, menos cansado. Muita gente acorda as cinco, quatro e meia, até mesmo três da manhã as vezes. E sim, mudam a vida dessa forma. Gente jovem, que vai pra escola, trabalha e etc, etc, etc. Nunca entendi porque conforme eu crescia a vontade de apenas largar tudo e viver da forma mais simples e necessária me apetecia. Me lembro de quando eu tinha oito anos e eu tive uma crise de choro horrivêl porque a vida não fazia sentido. Você trabalhava até morrer para comprar coisas que você não precisava, para ter perto gente que nem gosta de você, em função de ser "alguém" na sociedade. Era inútil e eu tinha medo, temia ter que viver assim mais do que eu temia a morte, coisa que a Giovanna criança temia e muito. Essa necessidade de preencher o vazio em si com coisas nunca me pareceu certa, mesmo que eu tenha uma coleção de livros que muitos podem julgar inútil, eu descobri como saber o que é importante e o que não é importante pra mim e para minha vida. Livros, roupas simples, caneta bic e caderno barato, além de um all star que não vai demorar a ficar surrado, são coisas necessárias na minha vida. Recentemente exclui o app do instagram, não vou mentir que as vezes sofro com a necessidade de saber meu número atual de seguidores ou se alguém comentou algo novo em uma foto. Me viciei em algo que nem é real e isso estava me sugando, inclusive pretendo falar mais sobre como as redes sociais afetam a vida em outro post. Esse é sobre liberdade, não sobre como as redes sociais nos prendem. Para falar bem a verdade, eu cansei. Cansei de ficar tentando ocupar minha mente e de colocar vinte mil coisas no meu dia esperando fazer, cansei de ser constantemente importunada por mim mesma, me culpando por ter relaxado ou ficado lendo em vez de estudar. Cansei, apenas cansei. Viver assim nos suga, e suga muito. A espera constante de um elogio ou um like ou uma satisfação ao comprar aquela roupa que a gente sabe que não vai usar e eu nem vou mencionar aquela coisa chata de nos culpar por algo que não é nossa culpa ou que não precisa nos fazer sentir culpados. Então eu decidi, eu não vou mais viver assim, e espero que você também decida. Nem sei se eu conclui o que eu queria dizer ou se eu falei algo que fez algum sentido, mas foi isso aí. Um bejo, G.
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studyonfire-blog · 7 years ago
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PANTERA
Era uma vez, num lugar distante, que a princesa Emília nasceu. Minha pequena Liza era um anjo e uma princesa ao mesmo tempo. Ela tinha o coração mais puro e o olhar mais feliz que eu já havia visto em toda a minha vida. Mesmo que eu tivesse só um mês de vida quando a conheci, devo dizer que senti meu coração pular de alegria quando ela entrou no comôdo onde eu me encontrava, resgatado, junto a meus irmãos. Minha dona havia chegado. Liza era incrivelmente linda. Me lembro de ter me levantado calmamente e olhado pra trás e dar de cara com os cabelos loiros finos e brilhantes da menina. Nunca entendi porque os humanos a chamavam de Liza, quando seu nome era Emília. Mas humanos são estranhos então a gente releva isso. Quando minha dona chegou, ela queria correr e pular e beijar e amar todos os meus irmãos, e eu. Ela demorou pra me ver, eu ficava num cantinho, enquanto meus irmãos se mostravam a todos os candidatos e candidatas a nos adotar. Bando de exibidos. A loirinha era branca e extremamente magricela. Depois, vim a descobrir que era porque ela era um anjo esperando para voltar aos céus, mas eu explico isso depois. Me lembro como se fosse hoje quando ela abriu um sorriso gigantesco ao me olhar e falou: —Mamãe, é o Pantera mamãe, meu gato mamãe! —E correu ao meu encontro para me pegar no colo. O corpo pequeno da menina de seis anos era fraco e mesmo eu sendo pequeno e leve, ela teve certa dificuldade de me abraçar. Me senti amado como nunca. E então, humanos sendo humanos aconteceu. —Filha... Ele é... —A mãe de Liza era estranha, hesitava muito tentando proteger a filha de seus pensamentos antepassados.—Por que você não escolhe um cinzinha? Um branco de olho azul! Imagina que lindo, filha! —Só depois eu fui entender que ela não tinha problema comigo só porque eu era preto, ela tinha problema com todos os seres pretos, especialmente outros humanos. Acho deselegante essa posição nojenta da mãe de minha dona, porém eu não posso simplesmente atacar ela todos os dias. Não que eu não faça isso, mas se eu a machucasse para valer a Liz ia ficar super brava. Do momento que minha pequena entrou dentro daquele quarto, eu sabia que tinha alguém que me amava mais que tudo no mundo, e a humana nojenta queria me tirar da minha garotinha. Me lembro de passar a pata pelo seu rostinho e dar um miado baixo, que fez ela dar uma risadinha e me dar um beijinho, interrompido novamente pela senhora chata... —NÃO BEIJA ISSO LIZA, VOCÊ PODE PEGAR UMA BACTÉRIA! EU SEI LÁ! MOÇO, ME AJUDE, TIRE AQUELA CRIATURA NOJENTA DE PERTO DA MINHA FILHA! —A maluca era histérica. Senti pena da minha humana ter uma progenitora tão doida. Ela gritava pra tudo quanto é canto. Porém, o rapaz que havia resgatado a gente disse para ela se acalmar e isso e aquilo, não prestei muita atençao, eu estava brincando com minha menininha. Naquele mesmo dia a pequena convenceu a chata a me levar pra casa. Ainda bem. Não faz bem para gatos ficarem sem seus humanos, eu posso ser frio e um tanto arrogante, afinal a minha espécie é muito superior a dos humanos, menos a dos donos, porque os donos de animais são anjos, eles não são humanos sujos e nojentos. Vivendo na casa de Liza, percebi que ela era uma menininha diferente. Toda semana, no dia que a mãe saía para comprar ração, ela levava Liz junto para ver um médico. Eu não sei o que um médico é. Conforme eu crescia junto com minha amada, percebi como é ótimo ter o sua cara metade em outra espécie. Liz era como minha mãe. Mas pra falar a verdade, eu também cuidava dela, e como ela não tinha pai, e eu não tinha mãe, a gente meio que fazia o serviço um pro outro. Me lembro que a loirinha precisou ir mais no médico depois que nós tivemos que trocar minha caixa de areia por uma maior porque eu havia crescido. Fiquei muito preocupado. Todas as vezes que Liza passava pela porta, uma grande barreira chata de madeira que me mantinha fora dos lugares onde eu queria estar, meu coração se apertava e eu ficava na cama dela, sentindo seu cheiro para tentar me acalmar. Chegou numa época onde ela tinha que sair todos os dias para ver esse tal de médico. Até que um dia, no meio da noite, me levantei de onde eu dormia com minha princesinha e com cuidado, desci da cama e em seguida as escadas e com cuidado, ouvi a chata falando no telefone. —Tenho que me livrar da criatura depois que Emília ser internada. —O que é internada? Criatura, sei que está falando de mim. Humanos nojentos. Prefiro mais os anjos e almas boas que me dão carinho e amor, como Liz. Conseguia ouvir a voz de outra pessoa de outro lado da linha, mas não entendia o que dizia. Isso que nós animais entendemos todas as línguas do mundo. —Junior, me escute, não tem mais volta. Isso dói muito mais em mim do que em você. Nunca se importou com ela. Dez anos, Junior. Faz dez anos que você não vê sua filha. Não, não fala nada. Me escuta. Ela ta morrendo Junior. Pra falar bem a verdade, ela já está morta. —A humana chata fica em silêncio e consigo ver algo que eles chamam de choro em seu rosto. Consigo sentir sua tristeza e sua preocupação. Quero ajudar ela, fazer ela se sentir bem. Porém, não sei se devo. Não acho que ela goste de animais. —Escuta aqui seu preto imundo, se algum dia eu liberei meu corpo pra você, foi um erro. Uma mentira. Um engano. A única coisa boa que isso me trouxe foi minha menina e agora a porra dessa doença, que ela deve ter por esse DNA imundo seu, vai tirar ela de mim. Ela tem 13 anos, Junior. 13. E ela vai morrer. Assim, de graça. Desde que ela nasceu eu vivo para essa maldita doença pra você querer que ela passe os últimos dias de vida nesse quilombo imundo que você chama de lar? —Odeio quando a chata fala assim. Com assim eu quero dizer cuspindo e com raiva, isso é extremamente irritante. Tratando nós pretos como inferiores. Vi ela fazer isso várias vezes, especialmente com a espécie dela. Alguém deveria ensinar pra ela que cores são o que fazem a vida bonita. Se fosse pra tudo ser de uma cor só as coisas não teriam graça. Liz ama cores. É uma pena que a mãe dela não veja assim. Depois de mais um tempo, Liz parecia melhorar. Queria ir pra faculdade, namorar, casar. Ela era especial, ninguém conseguia negar. Ela se focava tanto e se esforçava tanto. "Pra nada" Conseguia ouvir a voz de sua mãe ecoar na minha mente. Humana nojenta. Nunca entendeu Liz. Quando meu anjo fez 15 anos, a humana maior fez uma festa. Uma grande festa. E me trancou no quarto de hóspedes. Cruel, sim. Porém, eventualmente a minha fofa descobriu e veio atrás, engatando uma briga com a mãe por não me respeitar da maneira como devia. Me lembro disso com uma clareza sem igual. Ver ela toda crescida, batendo boca com a mãe a meu favor, me fez sentir bem. Cruel, porém a verdade. Eu me senti bem ao ver ela brigando por mim. Nessa festa, conheci Amélia. Filha da prima da irmã de uma moça que a humana maior conheceu no salão e que conheceu minha Liz pela internet, a única coisa que ligava ela ao mundo exterior. Essa menina era diferente, tinha olhos verdes, pontos escuros e opacos marrons avermelhados na pele extremamente branca e mesmo assim com vida e cabelos que me lembravam o vestido que minha dona usou no aniversário. Eu não sabia o nome daquela cor, mas era sem igual, era forte, intensa e demonstrava força como nunca jamais uma cor demonstrou. Rebeldia e raiva faziam parte do pote e eu conseguia sentir como a energia da cor afetou minha anja para ela brigar com a mãe. Se bem que se eu fosse ela eu também já estaria de saco cheio aquela altura do campeonato, afinal eu mesmo estava de saco cheio desde que conheci a maldita. Essa amiga da minha humana começou a frequentar muito a minha casa, e um dia eu vi elas se aproximando e encostando suas carnes rosas do rosto uma com a da outra. O cabelo fino da Emília estava começando a cair mais por causa de um tratamento novo e eu entendi que com aquele movimento seguido de um abraço, coisa que a Liz fazia o tempo todo comigo, era uma ação de apoio. —Vai ficar tudo bem, eu amo você, se acalma, vai ficar tudo bem! —A voz controlada e firme da moça de cabelos intensos enquanto tentava acalmar minha humana me fez sentir bem também. Finalmente ela tinha alguém que se importava com ela de verdade, como eu. Inclusive ela, a amiga de Liz, era um ótimo ser. Um anjo também, resgatava gatinhos e os direcionava para seus humanos. O tempo passou e eu via as duas ficando cada vez mais íntimas, entendi que elas eram um casal depois de um bom tempo. Eu sou meio lerdo e elas não faziam coisas de casal dentro da casa, eu não tinha como saber. Até que minha dona recebeu o número e decidiu abrir o jogo com a velha que não gostava de seres pretos. Contou que namorava com aquela menina. A gritaria, o choro, ela apanhando, ela revidando, eu atacando a velha, tentando defender minha menina, ela me segurando, tentando me defender de apanhar, nós dois tentando salvar um ao outro. Como Amélia diz, um inferno. Se a viver naquela casa já era ruim, quando minha humana achou o amor as coisas pioraram. Aparentemente ela também não gosta de humanos que encontram o amor em outros humanos. Imagino se Amélia fosse preta, daí sim a velha chata matava a minha Liz com toda certeza. Descobri que ela era algo chamado "homofóbica, racista, nojenta e uma vergonha" nas palavras que minha dona gritou para a mãe num dia quente de verão. Eu sei o que nojento é, ração mole é algo nojento e eu sei o que é vergonha, pisar no chão com a pata suja me faz sentir vergonha. O resto, acredito que seja ligado ao fato dela não gostar de pretos e  amor. Algo assim. Até que o dia chegou. Trinta e um de maio de dois mil e quatro chegou. Minha lindinha ia ir pro hospital pra provavelmente não voltar mais. A humana velha comprou uma caixa cinza, onde eu deveria entrar, para me levar ao hospital. O que quer que seja que um hospital. Ela viveu tanto e tão bem. Me lembro dos últimos diálogos dela com Amélia, dizendo o quanto a amava e o quanto os anos que viveram juntas foram importantes para ela. Me lembro dos últimos diálogos que ela teve com a mãe. Me lembro dos últimos diálogos que ela teve até com si mesma. Porque eu estava lá, o ser que ela mais amava no universo, estava lá. Eu era mais que seu gato e mais que seu filho, eu era sua alma companheira na estrada fria e suja da vida terrena. Eu era o guia dela por entre os pensamentos da mãe e a força que ela teve para encarar a mulher não uma, não duas, mas diversas vezes, sempre mostrando quem era com força. Na imensidão de seus olhos da cor da ração e na cor pálida de seu couro sem pelos, eu via minha versão humana, eu via minha versão feminina, eu via eu mesmo, em essência. Quando ela partiu eu fiquei mal, muito mal. Era aniversário dela. 17 anos. Jovem e carinhosa, ela sempre se provava. Confesso que não imaginei que ela ia viver tanto. No dia de sua partida, eu consegui sentir ela leve. Consegui sentir o encostar da carne rosada dela e de Amélia. Consegui sentir sua última refeição e seu choro no colo da mãe. —Eu não quero morrer! Eu mudei de ideia! Eu não quero morrer! Mãe, por favor, não me deixe morrer! —Seus gritos desesperados abafados pelo abraço apertado e preocupado da mãe me cortavam a alma. Eu queria miar e avisar a todos que ela estava certa, que iria partir. Ninguém acreditou nela. Diziam "Não diga isso, você vai melhorar". Ela não ia melhorar, não nessa dimensão. A mãe dela havia saído para ir ao banheiro. Amélia tinha sido convencida pela velha a ir para casa descansar e os médicos, bem, ninguém sabe. Era apenas eu e ela. Estávamos de conchinha quando aconteceu. Senti ela ir ficando leve e quando me dei conta eu estava miando desesperado e tentando arranhar e morder e fazer um show gigantesco. "Eu quero ela de volta! Eu quero ela de volta! Eu quero ela de volta!" Me lembro de pensar. Uma enfermeira ouviu meu berreiro e veio ao nosso encontro, tarde demais devo dizer, minha menina já havia ido. Sua expressão de paz me acalmou porém a dor de a perder me doeu muito no coração. Hoje, fazem três dias desde que minha dona morreu e eu estou em cima de sua cova. Porque? Porque eu vou morrer também. Inclusive, já morri.
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