sorceressofeana
Sorceress of Eana
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sorceressofeana · 2 years ago
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A importância da ortopraxia ou como a ortopraxia mudou a minha prática
Nunca dissociei a minha prática mágica ao culto de vários deuses. A identidade que eu construí como bruxa sempre esteve ligada à magia e ao paganismo. Era assim que eu me enxergava e ainda é assim como eu gosto de me ver, mesmo depois de 7 anos de prática.
E mesmo depois de 7 anos na comunidade bruxa, sentia que não havia encontrado o meu lugar. O que eu sabia? Ler algumas cartas de tarot (que eu não lia mais porque ler para as pessoas me deixa exausta)? Meia dúzia de propriedades de alguns cristais? Fazer a Lei da Atração? Quantas vezes eu havia realmente posto a mão na massa e feito um feitiço? Nenhuma. Porque para ser bruxa exige meditação, mas é a meditação quietinha, no silêncio, aquela que você conscientemente se impede de se apegar a certos pensamentos. Porque para ser bruxa você precisa de correspondências exatas, da hora certa, da lua certa, da quantidade certa de movimentos. Mas e quando além de bruxa, você também é ansiosa? E quando além de bruxa você pensa que se não exercer esses exatos passos com esses exatos materiais nessa ordem exata nos dias propícios na quantidade de vezes imposta, então algo de ruim e catastrófico irá acontecer? E quando mesmo você frequentando a terapia e tomando suas medicações esses pensamentos são inevitáveis porque, na verdade, esse tempo todo, a prática mágica tinha sido um gatilho pra você?
E por isso a magia parecia como andar na areia movediça, correndo sempre sem sair do lugar, se esforçando e recebendo migalhas. E por isso chamar os deuses parecia como tentar ouvir alguém em um quarto de isolamento acústico, as vozes completamente abafadas do lado de cá e do lado de lá, cada um sem entender exatamente o que o outro queria, falando com dificuldade em um telefone sem fio. Isso além de me gerar ansiedade, me gerava medo. Medo de me aproximar dos deuses, medo de entrar em contato, medo de eles exigirem mais do que eu tenho pra dar, já que nem o básico da magia eu conseguia executar por conta da minha indisciplina na meditação e da minha falta de disponibilidade para exercer rituais grandiosos em uma casa na qual não sou abertamente praticante de magia e, muito menos, abertamente politeísta. Como eu poderia justificar os dentes de leão, a hortelã e a canela roubada da cozinha guardadas na última gaveta da minha mesinha de cabeceira?
A melhor solução, portanto, foi me afastar tanto da prática mágica quanto do politeísmo. Toda vez que eu me aproximava dos deuses parecia que algo dava errado na minha vida e eu já estava desacreditando da credibilidade de certas magias. Será mesmo que queimar um sigil e junto das suas cinzas colocar pimenta preta e turmalina realmente iriam proteger o meu quarto de energias negativas? Se eu estou questionando a minha fé, então ela não deve mais ser válida.
A ortopraxia chegou para mim em um momento de amadurecimento pessoal e estudos. Estava afastada havia alguns anos da bruxaria, mas sentia falta todos os dias. Hoje, olhando em retrospecto, não sei dizer do quê exatamente eu sentia falta porque a comunicação que eu havia tido com os deuses era ínfima perto do que a ortopraxia dos costumes helênicos me trouxe. A ortopraxia me fez ressignificar toda a minha prática de bruxaria.
O ritual, inicialmente, parecia muita coisa, muitas etapas, muitas oportunidades para errar.
1. Cantar um hino a Héstia e oferecer a vela a ela.
2. Queimar uma folha de louro no fogo da vela dedicada a Héstia e mergulhá-la em água limpa a fim de fazer a khernips, mais conhecida como água lustral.
3. Agora devemos aspergir a água lustral em nós mesmos e no nosso altar a fim de purificar o ambiente.
4. Isso feito, é hora de chamar quem queremos contactar — mas sem esquecer de Héstia, sempre a primeira e a última.
5. Chamada a(s) divindade(s), então é hora de recitar um hino de sua preferência a ela(s).
6. Ao terminar de recitar o(s) hino(s), é o momento de fazer suas preces, oferecer o seu presente, fazer uma libação, pedir algo. Pode fazer uma dessas coisas ou todas elas, esse momento é seu para agir como o seu coração mandar.
7. Acha que o momento chegou ao seu fim? Agradeça a presença da(s) divindade(s) e apague a vela.
Assim, tão simples quanto começou, terminou o ritual. Sem números repetidos, sem momento certo do dia, sem dia da semana exato, sem mover três vezes pra direita.
Esses simples passos foram capazes de salvar a minha fé. Antes se eu escutava abafado, hoje não só escuto claramente, como também sei que sou escutada. Meus olhos se abriram e hoje posso perceber a esfera de ação dos deuses na minha vida.
Eles não me negaram nada, mas também não pedi nada que fosse absurdo. Pedi apenas orientação e eles me orientam todos os dias, os caminhos tão claros quanto a luz do sol ou o luar na penumbra. Athena, Ártemis e Apolo me guiam nas dificuldades diárias da minha vida.
A ortopraxia permitiu que eu finalmente não tivesse mais medo de achar que em vez de estar me aproximando dos deuses eu estava, na verdade, lidando com um espírito mentiroso. A ortopraxia me deixa mais segura em conversar com os deuses, em sentir a sua presença, em oferecê-los flores e incensos, em pedir sua orientação e ação em minha vida porque eu sei que são eles. Porque eu sei que a calmaria que sinto após ler o Hino à Héstia é porque consegui sintonizar o meu rádio à estação deles. Porque eu sei que se eu me embolar com as palavras no meio do caminho eles irão me compreender porque, a verdade, é que eles são sim compreensivos e benevolentes e não uma aura de terror te julgando a cada passo errado pronta para lançar uma maldição.
Eu sou grata todos os dias por tê-los encontrado nessa vida. Sei também que irei encontrá-los na próxima.
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