Not quite a diary, but still too personal.
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Por alguns anos, o trecho "you made me hate this city" de Happier Than Ever da Billie Eilish me fazia lembrar dele. E mesmo tanto tempo depois, era estridente. Belo Horizonte foi, por quase 11 anos, uma cidade cheia de memórias ruins e inacabadas. Em 2017, uma crise me fez pensar que jamais conseguiria pisar naquele lugar de novo. Era... sufocante.
Eu gostaria tanto de contar pr'aquela eu que ela ficaria bem, que o mundo ainda poderia e iria virar de cabeça para baixo, e que coisas ainda piores aconteceriam, mas a vida continuaria. Aquele capítulo, que eu nunca soube como finalizar, voltaria numa temporada mais à frente e surpreenderia. E os finais sempre serão uma incógnita, mas nem é o que vem no fim que importa de verdade.
O mundo girou tantas vezes... até o instante em que eu o encontrei de novo. E então, o mundo simplesmente parou.
Onze anos depois. E de repente, Belo Horizonte não era mais tão assustadora. É como se pintássemos por cima das minhas memórias anteriores.
Uma das lembranças mais claras que tenho de 2013 é a das mãos dele no teclado do computador da biblioteca da escola, jogando Guitar Flash.
E eu admirando como se fosse a maior habilidade que alguém poderia ter.
Tenho gravado agora essas mesmas mãos procurando as minhas, tentando se encaixar por entre dedos e anéis. Aqueles mesmos dedos que frenéticamente tentavam acertar as notas no teclado, estavam agora calmamente fazendo carinho nos meus... algo que eu observei por tanto tempo que a sensação é que eu poderia desenhar de olhos fechados.
E eu admirando como alguém que queria nunca mais soltar.
Sempre fui fascinada pela relação dele com a música. As cenas mais vividas que tenho daquela escola são daquele garoto sempre com diferentes fones de ouvido, pra lá e pra cá. O tempo todo. Todos os dias.
Os fones já não são mais de fio, e lá está ele, milagrosamente de branco, me esperando debruçado na porta do hotel em que eu estava hospedada. Ele abriu aquele bendito sorriso ao me ver, enquanto me repreendia por ter atrasado, mesmo após ele ter se atrasado primeiro.
Deus, como eu gosto de ser perturbada por esse ser.
Nosso reencontro pareceu um sonho o tempo inteiro, talvez porque eu estivesse em êxtase. Quantas vezes eu realmente sonhei com isso? Tudo parecia mágico. Cada momento, cada toque, cada palavra. Era como se a vida tivesse roteirizado cada cena. Como arte.
Para mim, todos os outros eram meros "NPC's".
Exceto um gatinho que escolheu meu colo para ficar, como se soubesse que a calma era necessária naquele momento onde meu coração estava pra sair pela boca.
E exceto um morador de rua tocando tanto sentimento com sua alma gaita enquanto eu estava no calor do abraço dele no centro da cidade que de cinza do nada começou a brilhar.
Cada nota parecia sair de um lugar tão profundo que doía.
O senhor dizia que o amor era a coisa mais linda que já existiu. Que devíamos nos segurar, que não nos deixássemos escapar. E falava sobre amor com uma sinceridade que só quem perdeu muito consegue ter.
Tive uma sensação de urgência, como se precisasse agarrar aqueles momentos com força antes que escorressem pelos meus dedos.
580 km e eu ainda esperava não precisar te soltar.
Beautiful Things de Benson Boone, ou 'a música do tiktok' (em suas palavras), foi a trilha sonora do meu ano de 2024. Mas só fez sentido mesmo quando eu estava deitada em você na virada do ano. Foi a única vez em que escutei aquela música e realmente quis que o momento se congelasse ali e ficasse. A maior parte daquela letra nunca fez tanto sentido.
"That's a feeling I wanna get used to"
Desejei que nada e nem ninguém me tirasse dali.
Cada tic-tac do relógio na sala de sua casa no último dia da viagem era uma lembrança incessante de que eu teria que partir em poucas horas, e essa parte foi, de certa forma, torturante.
Ainda consigo sentir os selinhos suaves no meu rosto e nunca vou esquecer do jeito como me olha. Logo eu, que sou tão fascinada por olhares, não consigo manter o meu nos seus por mais de 2min sem desviar, com medo de me perder de novo em tanta intensidade.
Uma vez você me ensinou a sentir, me apresentou o amor e, ao mesmo tempo, me ensinou a perder e a abrir mão, mesmo quando isso parecia me rasgar por dentro. Foi isso que me preparou e protegeu. Nenhuma das outras perdas foi tão avassaladora quanto aquela.
Hoje, você fez com que envelhecer parecesse menos assustador. Nosso reencontro me ensina sobre coragem, sobre despedidas, sobre se permitir sentir tudo intensamente, mesmo sabendo que pode acabar. E que o medo da perda ou de qualquer outra coisa não pode ser maior do que a vontade de viver o momento.
E, sinceramente? As luzes daquela exposição provavelmente eram deslumbrantes. Mas não tirariam tanto o meu folego quanto as que eu vi no céu da sua boca.
Anie B.
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Protect her like she’s made of glass, fuck her like she’s indestructible.
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Segunda, 26/07/21 - desabafo pós crise
Você me quebrou.
Tudo bem, você não é 100% o culpado por eu estar tão destruída. Mas, com certeza, foi o pior.
Não consigo sair na rua sozinha sem ter uma crise.
Não consigo dormir. E quando consigo, você assombra meus pesadelos.
Não consigo ficar tranquila e nem me sentir segura sozinha com qualquer homem.
Não consigo sentir pleno prazer com um homem.
Tenho medo de deixar minha mãe sozinha com um homem.
Tenho medo dela não voltar pra casa depois do trabalho.
Você está satisfeito? Era isso que você queria? Será que você gosta disso?
Eu prefiro pensar que você não queria causar nenhum mal e que só é doente mesmo. E que as poucas vezes que você fazia algo de bom, era verdadeiro. Mesmo que você usasse isso em seguida pra nos manipular e nos prender.
Ou você já fazia com a pretensão de jogar na nossa cara?
Como se tudo que você fez fosse fácil assim de ser perdoado. Não se compra perdão fácil assim. Não quando as feridas que você abriu foram tão profundas.
Eu cheguei a te chamar de pai. E você me quebrou. Agora parece que nem tenho mais conserto.
São traumas e travas demais pra uma garota só lidar sozinha.
Você disse uma vez que eu deveria te agradecer. Será que eu ainda deveria? Mas agradecer pelo que? Se tudo que você fez foi me deixar paranoica e com medo de tudo? No máximo fiquei mais atenta e cuidadosa.
Eu só queria te esquecer, fingir que nunca passou pela nossa vida. Provavelmente seria mais fácil de lidar sem todas essas cenas passando na minha mente diariamente. Mas como esquecer algo que deixou tantas marcas e que está por aí a solta?
Eu só espero que você tenha me esquecido e nunca mais se lembre.
Espero que esteja feliz, mesmo que você não mereça. Porque pelo menos assim, acredito que nos deixe em paz.
Por favor, nos deixe em paz.
Anie B.
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Domingo, 25.04.21 - 05:47AM
Todos os dias, às 5h da manhã, o padeiro do condomínio me manda um bom dia seguido de algum verso da bíblia e o cardápio do dia. Eu quase sempre ainda estou acordada quando recebo essa mensagem e começo a refletir; que porra eu tô fazendo da minha vida?
Todo santo dia eu planejo regular meu horário, ser uma pessoa útil e produtiva no próximo dia. Fazer tudo que eu preciso ou tudo que me der vontade.
Mas eu não consigo dormir cedo, mesmo com o celular longe. E quando finalmente durmo, não consigo acordar antes das 15h porque os sonhos são tão melhores que a realidade que eu prefiro não levantar e insistir neles.
Minha vida está completamente parada. Eu sinto literalmente que o tempo tá passando CORRENDO em minha volta e eu tô lá. Estagnada. Sem ação. Olhando pra tela do celular. Sequer consigo me mover.
É tão difícil ser alguém. Ser eu mesma.
Difícil ser útil. Ser produtiva. Ser alegre, grata, positiva. O mundo acaba com a gente. É difícil pra caralho viver. Não devia ser assim.
Eu não tenho a mínima vontade de viver ultimamente, e confesso que isso me destrói.
Eu me sinto presa em mim mesma e não consigo escapar. Preciso que essa agonia acabe logo. E sei que depende de mim e isso é o pior. Não aguento mais essa angústia. Eu tô perdida em mim.
Daqui a pouco tô indo na padaria pra perguntar pro padeiro se ele vende um pouco da força de vontade dele, ou alguma dica de como ter vontade de viver de novo. Perguntar se ele quer ser meu coach, sei lá, qualquer coisa.
Qualquer coisa que me fizesse querer viver de novo.
Anie B.
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06.03.21
Eu gostaria tanto que desde criança alguém tivesse realmente se importado comigo quando comecei a apresentar sinais de insegurança e baixa autoestima. Queria que tivessem se importado tanto a ponto de terem tentando evitar isso a qualquer custo.
Assim que comecei a me achar feia, odiar tirar fotos e/ou aparecer em vídeos... quando comecei a ter vergonha de usar biquíni ou até mesmo simples roupas mais apertadas... quando comecei a falar que meu sonho é uma rinoplastia, quando comecei a me comparar com outras meninas... quando até mesmo o meu pé eu odiava.
Quando em nada do que eu fazia eu me achava boa o suficiente. Quando eu tinha vergonha de tudo... de sair, de falar e, principalmente, quando eu tinha vergonha de cantar, sendo que meu sonho era e é ser cantora.
Mas ao invés disso cresci com uma madrasta dizendo que "eles estão certos, tem que fechar a boca mesmo" quando eu chegava chorando porque havia sofrido bullying na escola.
Cresci com um irmão, amigos da família e padrasto fazendo piadas gordofóbicas e achando engraçado mesmo quando eu chorava e/ou ficava brava. Mesmo quando eu transparecia o quanto machucava.
Com esse mesmo irmão e uma tia falando que meu dedão do pé é muito grande (?)
Com pessoas que toda vez que me viam comendo algo, comentavam "só nas gordiiiiice, né?".
Eu cresci excluída e apanhando de coleguinhas no caminho da volta da escola pelo simples fato de ser gorda.
Por tanto tempo fui uma Zé Ninguém ansiosa, depressiva, gorda e compulsiva. Insegura pra um cacete. Que tenta se amar todo santo dia mas nunca consegue realmente e que nem gostava de tomar banho porque sempre que se olhava nua chorava no chuveiro e tinha vontade de arrancar a barriga e as coxas com as próprias unhas. Isso foi tão difícil de mudar.
Uma garota cheia de sonhos, mas sem coragem o suficiente pra correr atrás deles e enfrentar toda a maldade do mundo, porque sabe que vai levar porrada atrás de porrada e não está preparada pra isso.
No meio de tudo isso, um "você é linda" da mãe e do pai acaba, infelizmente, sendo pequeno demais. A gente tende a acreditar mais nas críticas e nos julgamentos e descartar os elogios, ainda mais quando é discrepante a quantidade de maldade perto de pouca bondade.
Uma criança não consegue distinguir o que vem de quem te ama e realmente importa do que vem de quem tu não deveria dar a mínima importância. E ela cresce com sequelas difíceis demais de se curar. Ainda mais sozinha.
Agora eu sei de tudo isso. Mas quem disse que consigo, sozinha, me libertar de tantas travas e gatilhos? E eu juro que me esforço todo santo dia. E eu não tenho nem disposição mais pra isso. Eu não aguento mais tentar.
Eu precisava de alguém que realmente estivesse esforçado em não me deixar acreditar em nada daquilo. De alguém que tentasse me mostrar todos os dias a garota maravilhosa que eu era e sou, do meu jeitinho. Alguém que me convencesse que não preciso estar no padrão pra ser bonita, pra gravar vídeos e usar biquíni. Que me dissesse que se mesmo assim eu quiser mudar algo em mim, que seja por mim mesma e não pelos outros pois nunca ninguém vai agradar todo mundo. Que me mostrasse que não precisa nascer sabendo cantar pra se tornar profissional nisso. Que me apoiasse de verdade nos meus sonhos.
Queria ter o hábito de desabafar com meus pais e conseguir conversar coisas sérias com as pessoas sem chorar e perder as palavras. Queria não ficar nervosa em público.
Queria estar nos álbuns da escola... sim! Naquelas fotos das quais eu sempre fugia (e fujo). Só pra ter as recordações. Por mais que tenha sido um inferno. Eu nem lembro do rosto dos únicos coleguinhas que já andaram comigo um dia (mesmo se tornando alvos) e pelos quais sou tão grata.
Gostaria que o mundo fosse menos cruel. Mas já vi que isso é pedir demais. E que o que passou já era.
Mas só queria poder recomeçar do zero sem tantas cicatrizes.
E eu ainda vou, mas a luta só começou. E tá difícil pra cacete. E eu só queria alguém pra realmente me apoiar e dizer que eu posso e que eu consigo.
Mas, infelizmente (ou felizmente), esse alguém tem que ser eu mesma. Porque no fim, sempre será apenas eu e eu. Você e você. Então a gente que lute. Sejamos nossos próprios melhores amigos, pois no fim, só depende de nós mesmos. Por mais desesperador que isso seja.
Anie B.
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