Todas as imagens presentes são editadas por mim e desenvolvidas pela IA.
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À Beira do Limite
A sala estava imersa numa penumbra suave, apenas com as luzes ténues da cidade a piscar ao fundo. Carolina e Miguel riam, como tantas outras noites, trocando provocações entre cartas e copos vazios espalhados pela mesa. Conheciam-se há anos, partilhavam memórias e confidências como dois cúmplices inseparáveis. Contudo, esta noite parecia diferente. Havia algo no ar. Uma carga eléctrica, um calor que fazia com que cada olhar entre eles fosse mais intenso, mais demorado, como se qualquer palavra ou toque pudesse finalmente quebrar a linha ténue entre amizade e um desejo muito mais profundo.
À medida que as apostas avançavam, Miguel sorria com aquele jeito traquina que só ela conhecia, o olhar a provocá-la sem qualquer pudor, como se procurasse desvendar cada reação sua. Carolina tentava manter a compostura, rindo, como se a proximidade entre eles fosse algo habitual. Mas, por dentro, o coração acelerava, como se aquele momento fosse um segredo há muito aguardado.
Entre uma jogada e outra, ela começou a perceber o olhar de Miguel, uma intensidade que se misturava com algo mais, como se ele estivesse prestes a cruzar uma linha que ambos mantinham há muito tempo. E a cada vitória de Miguel, o ar à volta deles parecia aquecer, o espaço entre os dois torna-se ainda menor, até ele finalmente anunciar a sua vitória.
O sorriso de Miguel ampliou-se, os olhos a brilhar com uma expressão que só ela podia decifrar. Ele inclinou-se sobre a mesa, o rosto perigosamente próximo, tão próximo que ela sentiu o calor da respiração dele na pele. Ele parou, prolongando o momento, intensificando ainda mais a expectativa.
"Sabes o que quero, Carolina?" murmurou, a voz baixa e rouca, como um segredo partilhado na penumbra.
Ela engoliu em seco, o coração a martelar no peito. "Diz-me."
Ele estendeu a mão, os dedos a roçar nos dela, como se explorasse cada linha da sua pele. - "Quero algo que esperei por muito tempo… algo que talvez nunca imaginaste", confessou, o olhar fixo no dela, deixando claro que não havia regresso possível.
A respiração dela acelerou, cada palavra a ecoar no silêncio carregado entre os dois. Com um toque lento e intencional, Miguel entrelaçou os dedos nos dela, puxando-a para mais perto, cada movimento imbuído de um desejo que ambos tinham contido durante anos. Quando estavam a meros centímetros de distância, ele sussurrou, num tom grave que lhe arrepiou o corpo inteiro:
"Quero-te, Carolina. Só a ti!"
As palavras ecoaram pela sala em silêncio, cada sílaba carregada de uma intensidade que eles haviam evitado por demasiado tempo. E quando ele a beijou, foi como se uma chama se acendesse entre eles, consumindo tudo ao redor. Já não havia barreiras, apenas a urgência de um sentimento reprimido, agora libertado numa torrente avassaladora. Ele puxou-a para mais perto, segurando-a como se ela fosse o centro de tudo, como se nada mais importasse.
O beijo era ardente, possessivo, e naquele instante Carolina soube que a amizade entre eles jamais voltaria a ser a mesma. Era algo que ambos esperavam há anos, algo que nenhum deles queria deixar escapar. E quando os lábios dele se afastaram finalmente, ficaram ambos suspensos naquele momento, os corações acelerados, como se um novo jogo tivesse começado. Um jogo que nenhum dos dois desejava ver terminar.
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Caminhos Sobre Fios
Laura sempre viveu cercada por uma sensação de vazio, como se a alegria estivesse sempre a um passo à frente, fora do seu alcance. Enquanto as pessoas ao seu redor pareciam avançar, construir, rir, ela permanecia presa numa teia invisível, sufocada por uma tristeza que nem ela sabia explicar. Era como caminhar num deserto, sem rumo, sem horizonte. A depressão tornou-se a sua companheira mais fiel, numa sombra constante que a puxava cada vez mais fundo, roubando-lhe o ar, a energia e até a vontade de lutar. O simples ato de acordar era uma batalha diária, uma travessia em que cada minuto parecia arrastar-se como horas e cada hora como dias.
Os pensamentos sussurravam na sua mente, repetitivos e cruéis, lembrando-a incessantemente de tudo o que ela era, de tudo o que falhara em ser. Como uma tempestade silenciosa, cada nova manhã trazia uma luta contra essas vozes internas que a faziam duvidar do seu próprio valor. Mas não havia ninguém ali para testemunhar. Laura mantinha-se em silêncio, escondendo o caos por trás de sorrisos forçados, de olhares vagos. A ajuda parecia uma palavra distante e pedir socorro soava como fraqueza.
Então, refugiou-se onde ninguém a poderia julgar. Na música, nos filmes, nos videojogos. Foram essas formas de arte que lhe deram um motivo para continuar quando tudo parecia desabar ao seu redor. Nas canções, ela encontrou palavras que nunca conseguiu dizem em voz alta. Cada melodia era como se alguém, em algum lugar, compreendesse a profundidade da sua dor, como se aquelas notas estivessem desenhadas para aliviar a sua alma. Não havia necessidade de falar nem explicar. Bastava fechar os olhos e deixar que o som preenchesse o silêncio esmagador.
Nos filmes, descobriu mundos onde a luta fazia sentido, onde os protagonistas enfrentavam as suas próprias batalhas, onde havia uma resolução, um fim, uma vitória. Sentia-se menos só ao ver aquelas histórias de resiliência, como se as personagens estivessem a lutar por ela, como se a esperança nascesse na tela quando não conseguia encontra-la na sua própria vida. Eles eram o espelho de uma força adormecida dentro dela, uma força que, até então, desconhecia.
E nos Videojogos, tornou-se a heroína que a vida real lhe negava ser. Ali, as regras eram claras, as lutas tinham um propósito e o mais importante… ela podia vencer. Podia cair inúmeras vezes, mas sempre tinha a oportunidade de se reerguer, de lutar novamente, de conquistar pequenos triunfos que, por mais digitais que fossem, a faziam sentir viva, capaz, suficiente. Em cada nível superado, Laura recuperava uma parte de si mesma, uma parte que acreditava perdida para sempre.
A sua vida tornou-se um ciclo entre a escuridão real e a luz que encontrava nesses refúgios. Ela ainda estava de pé, mesmo quando tudo dentro dela gritava para desistir. E, aos poucos, entre os acordes de uma música que parecia ter sido escrita por ela, entre os diálogos de um filme que espelhavam a sua luta, entra as vitórias e derrotas em mundos digitais que lhe ofereciam a fuga que tanto precisava, algo começou a mudar. Não foi uma mudança grandiosa ou súbita. Era como uma chama pequena, frágil, mas real. A dor ainda estava lá, mas já não a dominava.
Cada música, cada cena, cada jogo era um lembrete de que, apesar de tudo, ela ainda estava ali. E essa simples contestação, de que havia desaparecido, de que a sua existência, mesmo envolta em sombras, ainda importava. Deu-lhe a força para continuar. Talvez a vida fosse mais caótica e incerta do que qualquer filme e canção, mas, no fundo, Laura sabia que, como nas histórias que a mantinham viva, a sua também poderia ter um final onde a esperança prevalecesse.
Ela ainda caminhava sobre fios, finos e frágeis, mas agora, o horizonte já não parecia tão inalcançável.
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O Silêncio que Ficou
O céu escurecia lentamente, e com ele, o coração de Sofia afundava numa tristeza indescritível. A cada segundo que o sol se escondia, sentia-se como se estivesse a descer mais fundo num abismo sem fim. O café estava quase vazio, mas para ela, o ruído dos copos, o tilintar das colheres e as vozes ao longe eram apenas murmúrios distantes. Tudo parecia insignificante agora, pois a única coisa que importava já não estava ali. Nem nunca estivera, talvez.
As mãos dela tremiam levemente ao segurar o telemóvel. As suas mensagens, que outrora vibravam de esperança, agora eram apenas memórias de conversa antigas, diálogos que pareciam de outro mundo, de uma vida que ela já não reconhecia. Cada palavra, cada promessa, agora soava oca, como o eco numa sala vazia. Perguntava-se como tinha sido tão cega. Como é que algo que parecia tão real, tão puro, se revelou nada mais do que uma ilusão cruel.
A descoberta veio como uma facada lenta, fria e certeira. Ela lembrou-se do momento em que o coração lhe apertou no peito, ao ver a primeira fotografia. Uma fotografia que não era para ela. Os dedos dela deslizaram sobre o ecrã, revendo cada imagem que a atirava mais fundo para a escuridão. Ele estava lá, com ela. A outra. Sorria de uma forma que Sofia nunca o tinha visto sorrir e o choque inicial transformou-se num vazio esmagador. Era como se estivesse a assistir ao próprio funeral, enterrada viva sob as memórias de tudo o que viveram. Ou que ela pensava que tinham vivido.
"Não pode ser…" murmurou para si mesma, como se o som da própria voz pudesse romper o silêncio opressivo que pairava no ar. Mas as evidências estavam à sua frente, claras e cruéis. O homem que a fazia sentir como se fosse a única no mundo, que prometia que o dia deles estava para chegar, já tinha encontrado o seu "dia" com outra pessoa. Ele não desapareceu por estar ocupado, como ela ingenuamente acreditara. Ele não estava longe por causa da distância física. Ele estava ausente porque já tinha desistido dela. E o pior? Ele desistiu sem sequer lhe dar a oportunidade de lutar.
Cada conversa, cada riso, cada promessa parecia agora um teatro cruel montado apenas para que ela fosse a única espectadora. E a única enganada. Como é que alguém pode fingir tão bem, durante tanto tempo? Aquele sorriso que tanto a encantava, aquela forma carinhosa como a chamava de madrugada, tinham sido reais? Ou eram apenas palavras vazias, um jogo no qual ela nunca teve oportunidade de ganhar? A dúvida corroí-a como veneno, espalhando-se em cada recanto da sua mente, envenenando cada lembrança.
Ela afundou-se no banco, os olhos a arder com lágrimas que ela não queria deixar cair, não ali. Mas dentro dela, era como se houvesse uma tempestade prestes a explodir. Sentia-se patética por ter acreditado, por ter esperado, por ter desejado tanto um futuro que nunca ia acontecer. Cada vez que tentava forçar-se a pensar de forma racional, a dor parecia mais forte, mais crua. Não havia lógica que pudesse acalmar um coração despedaçado por uma traição tão silenciosa, tão cobarde.
E agora, ele estava ali. Ela tinha-o visto hoje, de relance, a passear como se nada fosse, como se não tivesse deixado destroços por onde passara. E não estava sozinho. A mulher ao seu lado segurava-lhe a mão com a mesma confiança com que ele, um dia, segurava o coração de Sofia. Mas desta vez, ele não ia deixá-lo cair.
Quando os seus olhos se cruzaram brevemente na rua, foi como um soco no estômago. Aquele olhar vazio, desprovido de qualquer reconhecimento, quase a faz enfraquecer. Ele não se lembrava? Ou simplesmente não se importava? Sofia não sabia o que doía mais. A indiferença ou a certeza de que, para ele, tudo aquilo tinha sido tão fácil de esquecer. Ela, por outro lado, continuava presa nas memórias, num passado que agora parecia tão distante quanto uma fantasia maldita.
Tinha visto que ele estava noivo, era o que dizia na sua rede social, apesar de não querer acreditar. Ia casar com ela, a mulher que conhecera enquanto Sofia ainda o esperava. Enquanto ela, estúpida, acreditava que um dia o amor deles ia sobreviver à distância, ele estava a construir uma vida com outra pessoa, sem nunca lhe dar uma palavra, uma explicação.
O mundo continuava a girar à sua voltam indiferente à sua dor. E Sofia, perdida no meio da multidão, compreendia finalmente que tudo o que tinham vivido não passava de uma sombra. Ela ficou com o eco, ele seguiu com a vida. Mas naquele momento, sentada sozinha depois de se terem cruzado, Sofia soube que ele não a tinha esquecido. Ele tinha escolhido esquecer. E essa escolha, mais do que qualquer coisa, era o golpe final.
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Ventos da Verdade
Mariana estava à beira da varanda, a mão pousada levemente no corrimão de pedra fria. A cidade estendia-se à sua frente, com as luzes a cintilar na noite, como se mil pequenas estrelas estivessem espalhadas pela terra. Apesar da beleza da vista, sentia um aperto fresco, nítido e pesado com o peso de algo não dito, algo a crescer dentro dela, que não podia mais ignorar.
Os seus olhos desceram até ao copo de vinho que tinha na outra mão. Mal o tinha tocado. Não estava com vontade de beber, não naquela noite. Não com ele.
Lá dentro, o Lucas movia-se pela sala de estar, alheia à tempestade que se agitava dentro dela. A sua voz, normalmente tão reconfortante, tornara-se apenas ruído de fundo. Estática num mundo que ela começava a ver de forma diferente e não era só hoje. Ele estava a falar de um novo projeto de negócios, o seu entusiasmo era inegável, mas nada disso a tocava. Mas, ultimamente até a ideia de "juntos" parecia um conceito estranho, algo a que ela se agarrava por razões que escapavam-lhe mais a cada dia.
Fechou os olhos, tentado evocar o sentimento que tinha quando se conheceram. Aquele arrepio de emoção, a certeza de que ele era tudo o que sempre quisera. Ela acreditava nisso durante anos. O Lucas tinha sido a escolha segura, a escolha que fazia sentido. Todos lhe diziam que ele era perfeito para ela, e, por um tempo, convenceu-se de que eles estavam certos. Mas o amor não deveria ser assim... vazio.
O pensamento surgiu de repente, deixando o estômago às voltas, nada estava certo. Não era o Lucas. Ele era amável, confiante, carinhoso, tudo o que uma mulher poderia pedir. Mas algo dentro dela, algo mais profundo, começara a revelar-se contra a ideia de "perfeito". Aquela voz interior, suave ao início, crescera em volume e insistência, até que não podia mais ser ignorada. Não era ele. O problema era ela.
Um nome familiar ecoou na sua mente sem ser convidado. Gabriel. Só o pensamento dele fazia o seu pulso acelerar, a respiração prender-se. Há quanto tempo não o via? Meses. Demasiado tempo, mas não o suficiente para o esquecer. Não devia sentir-se assim, por ele. Não devia sequer pensar nele.
Gabriel era só um amigo, alguém com quem podia falar, alguém que compreendia partes dela que nem ela própria sabia que precisavam de ser compreendidas. Mas ali não havia futuro. Não podia haver.
E, no entanto...
O coração disparou ao recordar a última conversa que tiveram. O jeito como ele a olhou, como se ela fosse a única pessoa no mundo. O jeito como o riso dele a fazia sorrir, sem esforço, sem o peso que muitas vezes sentia com o Lucas. O jeito como podia ser ela mesma com ele, sem defesas, livre. Sempre se dissera que era inofensivo, que estava a exagerar, mas, no fundo, sabia. Sabia que estava a mentir a si própria.
Um rajada de vento puxou-lhe o cabelo, trazendo-a de volta ao presente. Ouviu Lucas chamar o seu nome e o estômago apertou-se de culpa. Estava a ser injusta, guardando tudo isto para si, fingindo que estava tudo bem, quando claramente não estava. Ele não merecia isso. Mas como podia contar-lhe a verdade, quando ela própria não tinha a certeza de qual era essa verdade?
De repente, o toque da campainha ecoou pela casa, cortando o ar da noite. Sobressaltou-se, arrancada dos seus pensamentos. Lucas virou-se, olhando para a porta antes de lhe lançar um sorriso rápido.
"Eu atendo", disse ele, desaparecendo no corredor.
Mariana ficou imóvel, o coração a bater descontroladamente, como se já soubesse quem estava do outro lado. Não, não podia ser. Não era possível. E, no entanto, no momento em que Lucas abriu a porta, ouviu uma voz que conhecia demasiado bem.
Gabriel.
O seu pulso acelerou, a mão apertando-se em torno da haste do copo de vinho. O que estava ali a fazer? O que poderia querer àquela hora, e por que motivo não tinha telefonado antes? Não o via há meses. De propósito. Dissera a si mesma que precisava de espaço, que era melhor, mas agora ali estava ele, a invadir o seu mundo outra vez, a destroçar o frágil equilíbrio que ela tanto se esforçara por manter.
Lucas cumprimentou-o calorosamente - "Obrigada por vires" - alheio à tensão que imediatamente encheu o ar. Gabriel entrou, os seus olhos percorrendo a sala antes de pousarem nela. Os seus olhares cruzaram-se e por uma fração de segundo, foi como se o tempo parasse. O mundo desvanecia-se e tudo o que existia era a conexão não dita entre eles, a atração que nenhum dos dois conseguia mais negar.
"Gabriel", conseguiu dizer, a voz quase num sussurro.
Ele sorriu, mas havia algo no seu olhar que nunca antes vira. Algo cru, quase vulnerável. "Mariana", disse ele suavemente, como se o seu nome contivesse todas as respostas que ele tinha procurado.
O seu peito apertou-se. Lucas, de pé entre eles, alheio à tempestade que a devorava por dentro, acolheu Gabriel de braços abertos. Era tortura, ver os dois homens que ocupavam lugares tão diferentes no seu coração, interagir de forma tão casual, como se nada tivesse mudado. Mas tudo tinha mudado.
Mariana sentia-o nos ossos.
O tempo parecia arrastar-se enquanto a noite avançava, com a presença de Gabriel a pulsar sob a sua pele como uma corrente elétrica. Lucas, felizmente inconsciente, continuava a contar as suas histórias das suas últimas viagens e planos, rindo de piadas que ela não conseguia achar graça e a continuar sem saber o que ele veio aqui fazer. O tempo todo, os olhos de Gabriel encontravam os dela, repentinamente, dizendo muito mais do que qualquer palavra.
Finalmente, incapaz de aguentar mais, pediu licença e retirou-se novamente para a varanda, agora mais silenciosa. A noite estava muito mais fria, o vento a rasgar-lhe a pele como pequenas lâminas de gelo. Precisava de sentir o ar frio, como se esse frio pudesse congelar todas as certezas que acabara de sentir, adormecer o turbilhão de emoções que começava a esmagá-la.
Mas o frio não a salvara. Não era a brisa gélida que a fazia tremer. Era a verdade nua e crua, aquela que vinha tentando sufocar há tanto tempo e que agora a dominava, inevitável, insuportável. A dor daquela sensação atingia-a como uma corrente elétrica, percorrendo-lhe o corpo e deixando-o latejar. Sentia-se esvaziada, como se o chão sob os seus pés estivessem a desabar.
Ela não amava Lucas.
Nunca tinha amado.
O seu peito apertou-se como uma força sufocante, como se as próprias costelas estivessem a tentar conter algo que não podia mais ser contido. Como não tinha percebido antes? Como conseguira mentir a si mesma, durante tanto tempo, que aquilo era amor? Tudo o que partilhavam, os sorrisos, as conversas, não passavam de uma ilusão que ela tinha aceitado cegamente. Uma mentira bela, segura, confortável, mas que agora revelava o seu vazio como um abismo sem fim.
Ela amava Gabriel.
E essa certeza era tão devastadora quanto libertadora. Doía-lhe mais do que qualquer outra coisa que já sentira, como uma ferida profunda que acabava de ser exposta ao ar. Cada batida do seu coração parecia amplificar essa dor, a perda iminente de uma vida construída em bases falsas.
Lágrimas arderam nos seus olhos, mas piscou para afastá-las, recusando-se a deixá-las cair. A culpa era sua. Ela tinha-se permitido a acreditar numa fantasia, na ideia do que o amor devia ser, em vez de ouvir o seu coração.
E agora... agora era tarde demais.
Ou não seria?
O som de passos atrás dela arrancou-a dos pensamentos. Não precisou de se virar para saber quem era. Sentiu-o antes de ele sequer falar.
"Mariana", a voz de Gabriel era suave, hesitante. "Precisamos de conversar."
Ela fechou os olhos, preparando-se para a conversa que vinha evitando há tanto tempo. Quando se virou para o encarar, as palavras que tinha enterrado bem fundo finalmente vieram à superfície, prontas para serem ditas.
Era hora.
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