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diário III - adolescentes
escrever.
a parte mais difícil de tudo talvez seja escrever, verbalizar o que a gente sente. o ato de raciocinar e colocar tudo no papel ou mesmo o caminho inverso, é extremamente trabalhoso e quem sabe até doloroso, porque você encara todas as coisas que havia sentido e não sabia. mas eu sei que é necessário. necessário porque aqui me encontro e aqui tenho contato com as minhas emoções mais profundas e com aqueles pensamentos que evito ao longo de um dia cheio.
na verdade, creio que o segredo de escrever bem seja escrever com o coração. a ortografia e a concordância são coisas que vêm depois. e um autor perspicaz sabe identificar isso, mas quando entramos em contato com esses sentimentos que precisam ser verbalizados nem tudo fica bonito ou bem escrito. e tudo bem. assim como o aquilo que sentimos, nem tudo é bonito e a vida claramente não é um texto em prosa e não segue regras; se a vida for um texto, então no meu há várias inadequações de ortografia e de concordância também....e de sintaxe. veja, na vida não há como não errar, assim como em um texto nem sempre conseguimos concordar alguns elementos. a vida, olhando por essa perspectiva, é como um texto literário: a gente lê com fluidez e se gostamos mesmo daquilo que estamos lendo, a leitura não para, ela fica boa. aí, PLAU, acabamos o livro.
há momentos em que quero distância de uma caneta pois sei que quando eu escrever não vai ficar bom, uma vez que, estando no papel de suposta escritora, me cobro para escrever incansavelmente, mas entendi que não sou uma máquina, sou um ser humano e as vezes sintetizar os sentimentos por meio das palavras é uma tarefa mais difícil do que construir um edifício sem um nível. geralmente eu busco escrever quando encontro algo que me inspira, que me move, que me faz refletir. depois que virei professora algo em mim mudou, entretanto. tudo passou a me inspirar, me mover e me fazer refletir, justamente. por isso, escrever tornou-se um jeito de canalizar toda aquela gama de sensações que eu carregava e ainda carrego dentro de mim. ser professora é lidar com várias realidades ao mesmo tempo, num mesmo dia. você vê de tudo, você ouve de tudo. e isso não é algo negativo, muito pelo contrário.
ao pensar novamente na minha escrita, penso que não escrevo visando uma estética e também não escrevo porque quero virar uma autora conhecida (muito embora isso seja atrativo, veja bem). escrevo porque essa é a chama que me mantém viva, ainda que essa chama só apareça em momentos muito específicos da minha vida. hoje ela apareceu e veio atear fogo em tudo: na caneta, no papel, no meu peito.
ver os meus alunos escrevendo poesias, textos literários em geral, falando sobre pautas sociais com tanta firmeza, sendo carinhosos uns com os outros, amando e de fato vivendo a adolescência, só fez eu sentir saudade do que eu era. eu já fui uma garota com quinze, dezesseis, dezessete anos. já fui sonhadora como eles, porém muito insegura. e eu amava, principalmente. ainda amo, mas vejo a diferença do amor adulto e do amor jovem. o amor adulto fortalece, mas o amor jovem revigora. e ver esse amor florescendo entre os jovens (quando falo sobre “amor”, englobo todos os tipos de amor) me faz pensar se vivi minha adolescência do melhor jeito. lembro bem, inclusive, de ter vivido as piores fases da minha depressão quando estava ali entre os dezesseis e dezessete anos. não tinha amigos, me trancafiava no quarto o tempo todo, minha autoestima era muito baixa (não mudou muito, mas hoje vejo a diferença). todas essas coisas me fazem pensar e consegui refletir que por ser professora e amar o que faço, consequentemente consigo viver minha adolescência todos os dias, mas me colocando como profissional quando em sala. tendo mostrar pra eles que sou um ser humano também e que a ideia da minha matéria, língua portuguesa, não é só aprender sobre verbos, mas aprender sobre a vida. aprendemos sobre a vida amando, sim, mas também passando por essa fase crucial que é adolescência que, inclusive, achei que nunca iria acabar. hoje me encontro beirando os vinte e três anos e questionando sobre o que quero fazer com o redemoinho que é a minha vida. com certeza ser professora é uma dessas coisas. por outro lado, eu sei que existe a Isadora professora e a Isadora mulher. esta última ainda não sabe o que tá fazendo da vida e sempre cai na armadilha de amores muito destrutivos e relacionamentos que passam longe daqueles que ela vê entre os adolescentes. é por isso que ela sente falta de ser mais nova.
creio que o ponto todo de escrever sobre essas coisas seja um jeito de tentar organizar minha vida em parágrafos. talvez assim não doa onde dói. usei pleonasmo nessa frase e foi proposital... minha vida virou um grande livro didático, bem que ela podia ser um livro da cecília meireles. a certeza é a de que eu realmente eu amo a professora que há em mim, mas não sei me sinto da mesma forma sobre a mulher que há em mim.
escrever, ao longo do tempo, talvez me traga essas respostas. eu espero que isso aconteça em breve.
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Greece, Photo by Henri Cartier-Bresson, 1961
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“Eu me apaixono por você todas as vezes que nos falamos.”
— Gramaticas.
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Peter De Potter - Vape Shop Olympia, monograph book, published Oct 2018. Softcover, 224 pages, 21 x 26 cm. Limited edition of 500 copies. Published by Claire de Rouen London.
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diário II - mães preocupadas
hoje é dia 28 de setembro e incrivelmente aqui estou eu completando mais um dia de diário. engraçado, raramente imaginei que voltaria a escrever no tumblr mas aqui estou.
não sei quanto tempo esse meu âmago de escrever durará, mas quero aproveitar cada segundo. ninguém entende o que se passa na minha cabeça e nem deveria, as pessoas não têm obrigação nenhuma de ouvir o quão depressiva eu tava na noite passada ou que fiquei escrevendo poesias pra alguém que nem se importa muito com elas. e realmente, ontem antes de dormir escrever algumas coisas fez com que meu peito pesasse menos e que minha cabeça não doesse tanto. aí acordei. eram seis horas da manhã de novo. levantei como normalmente, tirei meu pijama e me olhei no espelho. de repente uma tristeza enorme me invadiu: era hora de começar de novo.
“começar de novo, ainda bem!”, minha mãe é do tipo de pessoa que fala isso. muito religiosa e conservadora, reza muito e diz que é pra eu agradecer por todos os dias que levanto. só que eu nunca agradeço, nunca nem me importo em agradecer. qual é a graça de acordar e ter que ir trabalhar? a rotina? o frio de hoje? a chuva? e principalmente esta última, a chuva, me faz pensar em todas as pessoas que estão desabrigadas, nos animais que sofrem por conta do frio e também da chuva. e enquanto escrevo me lembro da cena do filme parasita, em que uma das personagens agradece pela chuva quando na verdade nem imagina o quão desastrosa uma chuva pode ser. então, “agradecer pra quê?” - eu me pergunto.
voltando ao meu fatídico dia: me arrumei, coloquei um chiclete de não-sei-o-quê na minha boca, provavelmente de blueberry ou algo assim e fui trabalhar. peguei um uber, não fui de ônibus por conta da chuva. veja, é um privilégio mesmo andar de uber em tempos tão difícieis como esses, em que tudo é muito caro. mas sim, fui de uber e paguei exatamente vinte e quatro reais - que seja - eu pensei. uma coisa boa é que o motorista do uber foi muito gentil e fiquei feliz de ter estado nessa viagem de carro, ainda que por meros cinco ou seis minutos. bem, cheguei no trabalho e lá estava ele: o fulano que tinha dito anteriormente, nos outros diários. dando nomes aos bois, o professor. como de costume olhei pra ele e como sempre ele estava muito bem vestido e agasalhado. por um momento invejei da vestimenta, já que estava muito frio. trocamos olhares momentâneos, nada muito profundo. nada que eu quisesse que fosse muito profundo. quanto mais eu fujo dele, melhor meu coração fica. acho que ele nunca vai entender como eu me sinto.
e fica difícil pra quem lê esses pequenos textos em que relato minha vida nada fora do comum o que exatamente tem acontecido entre eu e o professor. primeiramente devo dizer que é muito esquisito referir-me a ele como “professor”, mas não quero relatar nomes e nem nada, ainda que isso não seja algo de extrema relevância. saímos algumas vezes, falamos coisas um pro outro que talvez não deveriam ter sido ditas (coisas boas, que me arrependo de ter dito e acredito que ele também), nos beijamos. sim, como nos beijamos. e ele gosta de beijar, de selinho. eu não gosto de beija-lo no nosso ambiente de trabalho, nunca gostei. mas ele nunca se importou se outros colegas de trabalho vissem ou até mesmo alun@s (mesmo conhecendo a linguagem neutra é do meu gosto usar esse arroba, ta?). bom, não me importa muito relatar o que aconteceu até aqui. fato é que ele não vai saber mesmo como eu me sinto nem a metade das baboseiras que eu escrevo pra ele, muito embora ele já imagine tudo isso.
desde meio de julho, pra ser mais exata, trocamos mensagens e nos vemos na escola. ele me trata com carinho e sempre que pode quer me dar a mão quando sentamos um do lado do outro. o que nesses últimos dias tem sido estranho e não aparenta ser um ato genuíno vindo da parte dele. não sei se são paranóias da minha cabeça, algo tão bobo como dar as mãos tornou-se uma coisa extremamente dolorosa pra mim. porque tudo tem que ter significado. teria. é simbólico. ou deveria ser, também. já foi um dia. sabe, não sei porquê trazer tudo isso à tona no relato de hoje, mas quis contextualizar a mim mesma o que vem acontecendo na minha vida.
depois de tantos devaneios, volto para o meu dia de trabalho. com muita chuva, montei (ou tentei montar) um projeto de cápsula do tempo com os meus alunos. não deu muito certo. no final eles se desinteressam e foram jogar truco, mas consegui trocar uma ideia com um pessoal que gosta de poesia como eu. mostramos uns aos outros nossas poesias e foi realmente gratificante e incrível ver que ali nascem escritores natos. pessoas que usam figuras de linguagem de maneiras incríveis, concordância verbal e nominal corretas, vírgulas e tudo o que se possa imaginar. todo esse conhecimento é poético e não exige que você seja um mestre da língua para dominar. que se dane a gramática. eu quero poesia. e quero ensinar com ela.
e foi com essa poesia, a minha, que eu tentei escrever sobre o professor. e saíram coisas que nem eu mesma imaginava. o meu medo de se aproximar e consequentemente me afligir com a frieza dele. hoje mesmo eu vivi isso. o professor é uma pessoa fria e não falo do meme do frio e calculista como uma fachada, mas ele é - de fato - uma pessoa fria. que não esboça sentimento algum. e que se um dia esboçou por mim, como antes eu sentia, hoje já não vejo mais. e tudo isso aconteceu dentro de alguns bons dois ou três meses. e foi o bastante pra que eu sentisse tudo aquilo que havia morrido em mim há mais ou menos um ano. a química, o fogo de uma paixão e a curiosidade por aquilo que é novo. e vocês precisam saber que eu detestava esse cara. tá? detestava. achava ele estúpido e petulante. começamos a conversar e trocar faíscas todo dia e vou resumir assim: ele foi pra itália > eu estava namorando > ele voltou da itália > terminei meu namoro > ele terminou o dele > saímos > vivemos algumas coisas > dias atuais. e os dias atuais são repletos de frieza e muita ansiedade. ansiedade da minha parte, não sei da dele. e não ansiedade por causa dele. tive uma crise bem feia no último sábado causada por gatilhos bem alarmantes e que me fazem perder o controle. não vem ao caso. ou vem. sei lá. voltei a tomar uma medicação, chama quetiapina. a dosagem é pouca, 25mg. não sei se pode ser efeito placebo ou não, mas perdi a fome e também me sinto extremamente apática.
a crise de ansiedade resultou em desastres no meu cérebro. de terça pra cá as coisas tem piorado entre eu e o professor. fazer o quê. o bom é que desde o começo fui bem clara quanto ter um relacionamento. sempre fui direta e até mesmo grossa: não quero namorar com você. veja como escalamos de um “paixão boba por colega de trabalho” para “eu não quero um relacionamento”. sim, tudo isso aconteceu exatamente como estou contando. e foi pra ser assim. desde terça, como disse, o clima está frio e nós também. no fundo eu sinto que ele nem se importa se to bem ou não porque como eu disse, ele é alguém frio que se importa com o próprio bem-estar. critico ele sempre com um tom de orgulho, mas tudo que eu queria é que ele me notasse. pode notar, mas não como desejo. eu desejo um olhar de ternura, mas a questão aqui é que as minhas projeções estão fora do alcance dele e isso não é culpa dele. diariamente vou desconstruir a imagem que criei sobre ele e logo evitarei outro desastre e outra fenda no meu coração. há uns tempos fechei uma fenda enorme e eu não quero abrir outra. ainda mais desse jeito.
tendo relatado meu dia, caminho até o final dele. saindo da escola e evitando de esperar o ônibus no mesmo ponto que ele - por motivos que para mim parecem óbvios mas que para ele estão longe de parecer -, pedi um uber e fui até um salão modelar a minha sobrancelha. conversei sobre política com a minha cabeleireira. ela é nordestina e gosta muito do lula. ouvi a história dela e achei muito bonito. também gosto do lula. gostaria de estudar mais sobre as suas propostas de governo, mas acredito que ele seja uma opção muito boa pro brasil caótico que a gente tá vivendo. minha cabeleireira chama marlene. ela me atende desde que eu tinha doze anos. seu trabalho vale cada centavo. conversamos sobre amor, conversamos sobre o que é dizer “eu te amo” a alguém. comentei que não digo que amo todo mundo. dei um abraço nela. disse que a amo, mesmo sem querer. ela me abraçou de volta e disse que me amava também. ao passo que tudo isso acontecia, não percebi que eram quase duas horas da tarde. meu celular descarregado. não havia encontrado minha mãe ainda. foi aí que pensei: “minha mãe”, “minha mãe...”, “MINHA MÃE”. pois é, eu estranhei não ter nenhuma ligação. achei até que ela não tivesse em casa, por isso o motivo de não ter ligado. mas não era isso. na verdade, ela tinha ligado MUITAS vezes e eu não vi as notificações. primeiro porque ela me ligou pelo instagram. quando parei pra ver, minha família tava maluca me procurando, achando que eu tinha morrido ou algo assim. por uma hora eu meio que sumi e nem notei, mas foi o suficiente pra fazer minha avó chorar quando eu cheguei em casa e minha mãe ficar brava comigo.
minha vó tem passado por umas coisas também que não são da minha alçada, mas sei que essas coisas tem sido difíceis pra ela. bem, ela me viu e chorou. teve uma crise e me abraçou como nunca antes. eu não tenho costume de abraçar minha vó. muito menos a minha mãe. na verdade, eu e minha mãe nem nos abraçamos, não nos falamos muito. ela só disse que ficou preocupada, como sempre e aquela fala fez eu me sentir sufocada, mas ao mesmo tempo fez eu entender que ela é uma mãe. minha vó é mãe. mães se preocupam.
por um momento, eu não quis ser procurada durante a tarde. eu não quis receber mensagens do professor, não quis ligações da minha mãe. um número novo me proporcionou coisas boas, que foi não ser bombardeada com notificações o tempo todo. eu gostei de sumir e não notar que fiz isso. me senti desconectada da própria vida e do meu sofrimento, digo, esse sofrimento que tenho carregado há alguns dias. ele nem deve ser meu.
ver minha vó chorando hoje e talvez até a minha mãe, que tenho procurado evitar, preocupada, tenha me feito entender que as vezes a gente deve agradecer mesmo. agradecer por alguém querer saber se a gente tá bem, se comeu, se precisa de algo. tenho me sentido sozinha, mesmo com muitas pessoas à minha volta. o professor tem me machucado. e nem é culpa dele. é minha culpa. então deixarei o tempo curar. na verdade o que ajuda a curar são abraços sinceros, como o da minha vó hoje. não entendi toda a comoção, eu não me importo de sumir e ficar horas fora, sem ninguém me procurar. nunca fiz isso, mas ultimamente é o que mais tenho vontade.
se um dia eu for mãe, eu vou entender - essa é a fala da minha família. e vou mesmo, talvez. eu quero que meu filho ou minha filha se sintam amados. sem sufocar, nem invadir a privacidade. quero que eles se sintam especiais e não passem pelas coisas que eu passo, pelas coisas que passei hoje.
vivi um dia difícil (dentro da minha cabeça) mesmo, realmente, tendo diversas coisas a agradecer. e tudo bem também.
um dia eu vou ser mãe. um dia eu vou entender. um dia vou agradecer todos os dias e rezar pra são judas tadeu, como a minha mãe faz. um dia. quem sabe.
ps: hoje foi um dia bom, já que minha banda favorita lançou uma música nova depois de cinco anos. então, apenas escutem: this is why, paramore.
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diário I - giz e borboletas
como pode um sentimento tão momentâneo fazer com que meu estômago se revire e fazer com que minhas mãos tremam quando ando nos mesmos corredores que você? fico me perguntando se isso é uma reação física do meu corpo a ansiedade ou se é porque me apaixonei por você. não sei se ambas as coisas deveriam andar juntas, mas aqui estamos novamente.
minha vida não é interessante a ninguém (a não ser a minha família que vive trazendo pautas sobre ela durante os almoços de domingo), mas desde que você apareceu uma faísca alimenta todas as minhas manhãs. minha vida se tornou mais interessante e fazer coisas que uma vez eram banais, também. cito agora coisas banais das quais falo: passar um batom, pentear meu cabelo, cozinhar enquanto ouço música pensando em você. todas as ações que pessoas apaixonadas, quero dizer, tolas, fazem. mas esse sentimento é perigoso. essa paixão só experimentei uma vez na minha vida e foi desastrosa. foi daquelas paixões que incendiavam tudo mesmo e eu deixava bem claro. talvez esse tenha sido meu erro: expor demais ou falar demais, mesmo que subjetivamente. até que ponto devo parar? não sei se você quem lê já vivenciou isso, mas já tentou, nos mínimos detalhes, mostrar a uma pessoa que você gosta dela? e dói a pessoa não perceber, mesmo que essa seja mesmo a sua intenção.
a partir desse monte de baboseira, quero declarar que me apaixonei por uma pessoa mais velha que eu. são sentimentos que, como eu disse, só senti uma vez na vida e confesso, (não gosto de me vitimizar, mas aqui vai uma boa vitimização) sofri muito. eu era mais jovem e infelizmente me deixei levar por um relacionamento abusivo. o medo persiste. as cicatrizes também. e acredito que essa pessoa nem imagine o efeito que causa em mim. não deve nem imaginar que escrevo sobre ela, já que deixo sempre bem explícito o quão desinteressada estou (mesmo que seja mentira, uma baita mentira). que baboseira.
pra falar a verdade, sinto que essa pessoa não me corresponda. as vezes uma troca de olhares ou sorrisos pode não significar nada. palavras não significariam nada no momento, também. não vivo por um amor correspondido e não crio expectativas, muito embora todas as afirmações citadas anteriormente nesse parágrafo se desbanquem a partir do momento em que eu te dizer, caro leitor, que hoje eu senti um vazio no peito quando vi o ônibus dele indo embora. simplesmente isso. e isso me preocupa muito. por que o vazio? por que o frio na barriga? o que está acontecendo comigo? e por que eu? e por que agora?
esse texto foi só um monte de bobagem jogada aos ares. ninguém vai ler. ninguém vai saber. eu só tenho medo. tenho medo do que esse sentimento pode causar na minha vida, tenho medo do que posso sentir a partir do momento em que eu não vê-lo mais entre os corredores. sabe, somos professores. eu de português e ele, de história. vamos chamá-lo de “fulano”. ok? fulano será. fulano é bom.
fulano é alto. fulano tem um sorriso muito lindo que as vezes é coberto pela barba grossa. tem olhos bem negros e profundos, as mãos com calos por segurar por tantos anos o giz. a voz dele? reconheço de longe. e o perfume também. ele é um sucesso entre as alunas. inclusive tem uma que é louquinha por ele, acho fofo (meio perigoso, já que é contra a lei), MAS VOCÊS ENTENDERAM O QUE QUIS DIZER COM FOFO, certo? amor de adolescente, paixão de adolescente. que seja. até entendo.
fui relutante com fulano até mais ou menos quando voltamos das férias. ele foi viajar pra itália e trouxe um lenço bem bonito de presente pra mim. sei o que você deve estar pensando, meu caro (a) e sim, foi apenas um gesto de carinho. enfim, oras bolas. por que estou me justificando? não motivo. o motivo pelo qual esse texto está sendo escrito é que ele representa eu vomitando todos os sentimentos que não consigo expressar pra ninguém. estou cansada de muitas coisas. eu tenho sido um fardo para mim mesma e não consigo fugir de quem eu sou. e se não lido comigo mesma, como lidarei com o dono dos olhos negros e profundos? não tem jeito mesmo.
não sei se as borboletas no estômago são boas. já as senti várias vezes. e duas foram as vezes que elas fizeram estragos. o coração acelerado resultou num problema de saúde como a arritmia e as tais borboletinhas, malditas sejam, me causaram picos de ansiedade que mal sei descrever. e olhando por este ponto, talvez essa paixão adolescente vá embora. eu espero que ela vá. e como fulano é professor, bem que ele poderia me ensinar a esquece-lo e seguir a vida. ele deve fazer isso também, ainda que não tenha existido relação alguma da qual “seguir em frente”. relações. palavra estranha. melhor do que relacionamento, afinal.
não sei se devo chamá-lo de professor, fulano, nome real, mas eu sei e sinto que eu vou me machucar. e eu tenho tentado todos os dias evitar isso. fico no meu canto digitando notas e quando ele passa, mal vê que olho pra ele. ou vê e deve achar estranho, compreensível (dj, toca macaé da clarice falcão aqui, por favor). saio das salas o mais rápido possível pra não encontrá-lo. reuniões? sento longe. peço pra outros colegas, genuinamente, sentarem do meu lado. intervalo...no intervalo não tem muito como fugir, né? mas vou bolar uma técnica.
o mais engraçado enquanto digito tudo isso é o quão contraditória uma (suposta) paixão pode ser. gosto, mas quero fugir. acho que tudo isso é pra evitar estrago. não é querendo ser pessimista ou fatalista (essa última palavra, inclusive, é de autoria do professor), mas quanto mais me distancio daquilo que me prende, menos fadada ao sofrimento eu estarei. forte isso, né? na minha cabeça faz sentido. que seja. usar palavras bonitas ou não, o sentimento foi vomitado. que bom.
só queria que ele soubesse que apesar de todos os estragos mentais já causados por mim mesma, que gosto muito de estar por perto. gosto de as vezes estar no mesmo cômodo da escola do que ele e simplesmente não falar nada. mas ninguém vai entender muito isso. é coisa besta, coisa boba, ilusão. uma ilusão que eu mesma criei. talvez até a imagem de uma pessoa que juraria um bem querer por mim, que cuidaria de mim como já fui cuidada e não quis. sim. também já quebrei um coração. tenho discernimento disso. pra ser sincera, as pessoas mais quebraram meu coração do que eu quebrei o delas. que dramalhão bobo. eu que permiti. oras.
talvez eu deva passar mais o meu tempo lendo manuel bandeira ou ferreira gullar. fazendo biscoito de aveia, acariciando meu gato, ou me dedicando ao meu trabalho. ultimamente a paixão vem me consumindo. até que ponto isso pode ser saudável? uma paixão realmente deveria causar isso em mim? tem algo de errado comigo? acho que nunca vou saber. a única coisa que sei é que infelizmente, quando ela me abraça, essa tal paixão, ela ateia fogo no meu corpo todo e num piscar de olhos, joga água gelada, geladíssima, me deixando apática e as vezes até sem saber o que fazer e pra onde ir. eu queria sua ajuda, fulano, queria entender como você se sente e se realmente me nota. ser mais nova tem suas desvantagens, não é? mas que seja. vamos deixar do jeito que está. vc prefere giz branco e eu prefiro giz colorido. taí. achei um bom motivo pra gente nunca se envolver. achei um motivo, um único, pelo qual não devo mais me apaixonar por você.
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O amor é um grande laço Um passo pr'uma armadilha Um lobo correndo em círculo Pra alimentar a matilha Comparo sua chegada Com a fuga de uma ilha Tanto engorda, quanto mata Feito desgosto de filha De filha O amor é como um raio Galopando em desafios Abre fendas, cobre vales Revolta as águas dos rios Quem tentar seguir seu rastro Se perderá no caminho Na pureza de um limão Ou na solidão do espinho O amor e a agonia Cerraram fogo no espaço Brigando horas a fio O cio vence o cansaço E o coração de quem ama Fica faltando um pedaço Que nem a lua minguando Que nem o meu nos seus braços
Djavan, “Faltando Um Pedaço”
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Amor, a nossa vida andava torta desde o verão. Lançava-se à corrida mas perdeu a direção. Perdeu porque à partida nos faltou respiração, E na primeira curva, amor, ficamos sem, ficamos sem pulmão. Já ‘tou por tudo, Ninguém sabe ao certo o que é viver neste entrudo, Tentar ficar perto, ter um peito que é mudo E quer ser aberto até que acaba estourado. Eu fico em qualquer lado, não vou saber mudar. Quando é que essa partida nos deixou na contramão? Porque é que o nosso amor tem de acabar num abanão? Por mim voltamos a tentar com mais dedicação Até que a nossa vida, amor, se veja livre desta maldição. Já ‘tou por tudo, Ninguém sabe ao certo o que é viver neste Entrudo, Tentar ficar perto, ter um peito que é mudo E quer ser aberto até que acaba estourado. Eu fico em qualquer lado, não vou saber mudar. Não vou saber mudar.
Capitão Fausto, “Amor, a Nossa Vida” (via hayleyllujah)
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“Forgive yourself for not knowing what you didn’t know before you learned it.”
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when bae is super cute and keeps making you laugh but you remember what he did on april 17th at 3:43pm
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“Quando me deparo, estou aos prantos.”
— Privatizou
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