semluz
Eu sem vocef
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semluz · 19 days ago
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Faz dias que não escrevo nada. Que nem penso em prosa ou poesia. Gosto desses momentos. Desses desligamentos. Do abraço da alienação e do silêncio. É bom não ter nada na cabeça. Vegetar feito um vegetal na prateleira fria de um supermercado. É um saco ser poeta toda hora. Contista a todo instante. Tenho amigos que são. Que tufam até o peito e fazem questão de serem vistos como tal. Andam com canetas, bloquinhos, gravadores e enchem diários antes de dormir. Não é minha onda. Gosto de ser cutucado. Incomodado com um fato. De me emocionar. Gosto de ficar semanas afastado do lirismo e do caos até bater a ideia "É, acho que agora acabou. A poesia se foi. A literatura morreu pra mim". Anteontem encontrei com a mulher que gosto. Por quem sinto saudade e carinho. Fomos na namorados e viramos amigos. Ela disse que estava se organizando para deixar o Brasil. Fui incoveniente a ponto de me escalar na viagem: "mas a gente não ia juntos?" Ela mordeu o hambúrguer e respondeu que não. Que sou o tipo de cara que não tem ambição. Que vivo só pra comer e beber. Que ela quer alçar outros vôos. Crescer na vida etc. Não fiquei chateado. Ela está certa. E fico feliz que ela vá para um país melhor. Amizade é se alegrar pelas conquistas do próximo, né. Só fiquei pensando um pouco em mim. Na minha falta de ambição "É, sou um cara comum. E não tem nada de errado nisso. Não quero mais publicar um livro numa grande editora. Ter um milhão de amigos. Entrar no jogo de falsidades e favores. Virar best seller ou celebridade da internet. Sair de Manaus e recomeçar em outro lugar. Estou muito bem morando na minha paz. Estou satisfeito com a minha falta de ambição. Acho que comer e beber tá bom. E se rolar a adrenalina de esquentar o sangue escrevendo um conto ou poema tá de boa também. Escrevo pra mim mesmo. Tenho tantos contos e poemas que nem posso publicar. Só a adrenalina da escrita já basta. Publicar pra essa gente moralista e canceladora pra quê?" Aí voltei para o meu quartinho e fiquei em silêncio no meu tédio. A vizinha bateu na porta e me ofereceu um pratinho de doces e salgados do aniversário do filho dela. Estava meio bêbada e dizia que o filho iria ter o segundo filho. Que sempre desejou ser avó de um casal. Ainda bem que não tive filhos. Imagina se o moleque pira em seguir meus passos? Liguei a televisão no canal "curta" e um idiota que nem sabe o significado da palavra literatura falava de seu novo livro. Bocejei. Dei duas batidinhas carinhosas na barriga e disse baixinho: "foda-se a literatura. Foda-se todos os escritores do mundo. Bom mesmo é dormir de barriga cheia. Perdoa pelos meus vacilos, Deus. Abençoe até quem não gosta de mim. Amém".
Diego Moraes
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semluz · 19 days ago
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você é aquilo que eu achava que só acontecia com os outros
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semluz · 19 days ago
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Como nasce uma neurose
Queria ter te perguntado de que cor é o seu medo para assim eu materializá-lo em silêncio. Sei que com você posso fazer perguntas excêntricas: se ele tivesse um gosto seria azedo? Seria pegajoso e grudento com partículas que grudam para sempre no dente? Para que eu possa visitá-lo às vezes porque reúno todos os medos do mundo no meu peito. E sou obcecada por descobertas.
Na verdade queria ter dito para você não ter medo. Eu terei por você, por eles, pelos filhos e netos dos medos. Por aqueles que nem nasceram, pois adormecem no inconsciente.
Queria ter dito, mas tive medo.
Desculpa.
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semluz · 19 days ago
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Eu me permito mais liberdade e mais experiências. E aceito o acaso (…) Estou felizmente mais doida.
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semluz · 19 days ago
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porque família deveria ser o lugar pra onde você volta quando o mundo desmorona, e não de onde você se esforça pra escapar.
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semluz · 19 days ago
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às vezes eu quero me esconder debaixo das cobertas onde o mundo não pode me alcançar e olhares perversos não me firam, onde a falha de comunicação não exista. e a phoebe bridgers canta no meu ouvido não há lugar como o meu quarto. mas é um lugar limitado. eu não posso me esconder pra sempre porque até dá pra ser incrível sozinha no escuro do quarto, mas eu posso ser muito mais. as vezes eu ainda tenho medo de me mostrar pras pessoas - ás vezes eu só tenho medo de como tudo pode ser bem antes de acontecer. ás vezes, eu acho, eu sou sensível demais pra esse mundo. ultimamente eu não sinto o amor de muita gente que eu sentia tanto e antes todas essas coisas me colocavam encolhidas no canto da cama, hoje eu sei que eu sobrevivo e vivo. eu ainda penso muito no meu avô e eu não acho que essa dor vá embora, eu tinha tanto medo de perder um familiar pra sempre e agora que sei como é.. é assustador. eu assisti esse documentário da petra costa e pensei em elena por semanas, ela era tão bonita e sensível demais pra esse mundo.
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semluz · 19 days ago
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// sou a própria blasfêmia personificada. herege de um pseudodeus que criei em meu próprio mundo para não ter que aderir ao deus que castiga, se vinga e tortura. herege porque nem eu o aceito mesmo que eu o tenha criado. mas é a ele que oro. com ele consigo me comunicar sem o temor que a igreja fez-me criar por aquele outro lá. sinto o exílio de todos demônios do meu corpo com meu renascimento, como outra criatura. nem que seja por apenas um dia. mais espírito que corpo. e tudo por ele. nunca o nomeio. pra ele, só escrevo. isso vira minha libertação. escrever retira o peso de não me encaixar. a frequente sensação que diz algo sobre aqui não ser meu lugar (mas onde é? talvez não tenha lugar entre o céu e a terra reservado pra mim).  no princípio, era o verbo. a verbis ad verbera. meu deus te deum.  escrever. bendita válvula de escape. profana e sagrada.
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semluz · 19 days ago
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tua existência colidindo com a minha foi uma coisa bonita.
te agradeço por isso.
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semluz · 19 days ago
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 Gordon Parks, Untitled, Harlem, New York
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semluz · 19 days ago
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Eu já passei por tanta coisa ruim, que quando uma pessoa é carinhosa comigo, é generosa comigo, é bondosa comigo, que se importa comigo, eu simplesmente travo. Não consigo acreditar na boa intenção da pessoa comigo. Eu sempre espero o pior da pessoa
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semluz · 19 days ago
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e ainda que as janelas se fechem, meu pai, é certo que amanhece.
// hilda hilst
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semluz · 19 days ago
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o cheiro de alecrim massala inundando o quarto. switch up do marcos g tocando baixinho. o sol entra e reinventa cores e paredes. a luz faz carinho. você sabe o que é paz? qual o sabor da sua?
ontem fui pra casa de uma amiga ficar sentada no chão comendo jogando e falando besteira. então a paz tinha gosto de guaraná zero e cachorro quente feito em casa
semana passada comprei um sorvete na volta pra casa do mercado e a paz teve gosto de maracujá com chocolate
mês passado ganhei um café da manhã de um amigo. a paz tinha gosto de pão de queijo e toddynho
na próxima semana vou te ver e muito provavelmente a paz terá o seu gosto que eu sempre gostei tanto
a paz às vezes tem o cheiro do meu cachorro quando volta do banho e noutras vezes tem o cheiro do shampoo da minha mãe
tem dias que ela tem o formato do rosto do meu afilhado e tem semanas em que ela abraça como os braços da minha tia em volta do meu corpo
essa é uma das coisas que eu mais gosto do estar em paz. porque antes eu acreditei que ela era algo sagrado inalcançável que brilhava mais que o sol mas no fim do dia quando você olha pra alguém que você ama ela só consegue ser o olhar de amor que você recebe de volta
tudo que eu precisei foi estar atenta. há anos que eu levo a paz nos braços, que ela me dá a mão e me embala o sono
escrevi pra te dizer isso: não carece de correr atrás dela não. olha pros lados. só olha pros lados. capaz dela estar lá
assim como eu estou
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semluz · 19 days ago
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eu sou APAIXONADA apaixonada A P A I X O N A D A aPaIxOnAdA em quem faz questão de mostrar que quer
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semluz · 19 days ago
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Um telefonena ou qualquer outro artifício nunca vai dar conta de um bem que se tem, ele nos conecta, é verdade, mas nunca se equiparará à conexão propriamente dita entre as pessoas. A tecnologia tem seu valor, mas para além dela há as relações e os sentimentos que as perpassam. Da mesma forma que o parentesco em si não é garantia de afeto, de se querer ter por perto e zelar por isso - ser gente acaba sendo ainda mais complexo que qualquer outra coisa que a modernidade se valha. Isso pra dizer, Isa, que o querer bem e a importância que eu lhe dedico vão muito além do fato de sermos primas, mas sim, parte do reconhecimento enquanto amigas. E a amizade ganha importância maior justamente porque nasce não do sangue, mas da escolha de quem elege, do sentimento que brota e se mantém, da história construída em parceria, das identificações que casaram e das diferenças percebidas e ainda assim amparadas e respeitadas. E esse laço eu acolho e abraço com ainda mais ternura. Torço muito por você, torço muito pela sua felicidade, seja ela qual for, esteja ela onde estiver. Eu vou estar sempre pertinho vibrando e me alegrando junto a você, “prisma” (com todo significado e carinho que a adaptação ao “prima” convencional carrega). Feliz aniversário e felizes dias na tua jornada, seja na correria ou na serenidade. Eu amo você daqui do bairro vizinho, eu amo você quando pertinho, amo de todo lugar.
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semluz · 19 days ago
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A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector
Apesar de “como começar pelo começo se as coisas acontecem antes de acontecer?” ser uma frase de A Hora da Estrela, acho que é uma parte que pode dizer algo sobre a paixão do Gênero Humano (infelizmente a resposta para quem é G.H. não está nessa mera suposição dessas iniciais.)
Clarice foi e sempre será relevante, não importa quanto tempo passar. Ela é uma das poucas escritoras que era dotada de uma sensibilidade única e, assim, conseguiu dar um sentido profundo ao cotidiano. Não é nenhum exagero dizer que os leitores e leitoras nunca serão os mesmos depois de entrarem em contato com a ucraniana naturalizada brasileira. Eu poderia inclusive falar sobre toda a vida dela aqui, mas aqui não é lugar para isso.
G.H. seria, para a autora, um livro desejável de ser lido apenas por pessoas “de alma já formada”, mas possivelmente há uma charada em meio a isso. Como pode existir a possibilidade de se formar completamente uma alma se durante toda a vida nós mudamos? Esse livro seria, na verdade, um degrau na formação da alma? Nunca saberemos ao certo o que ela quis dizer com isso, uma vez que ela não está mais entre nós desde 1977. Falando nisso, Hilda Hilst já tentou entrar em contato espiritualmente e não obteve sucesso.
Outra ideia que dá a certeza de que não há uma resposta certa sobre o escrito é exatamente a epígrafe de Bernard Berenson “A complete life may be one ending in so full identification with the non-self that there is no self to die”. Isto pode ser um espelho para ela e seus leitores e leitoras.
A obra é, ao mesmo tempo, muito fácil de falar sobre e, sobretudo, difícil pelo fato de que ele é paradoxalmente tudo e nada ao mesmo tempo. Aparentemente tudo é fútil. G.H. é uma mulher de camada social privilegiada, tem suas iniciais gravadas em suas valises de couro e tem um apartamento muito bom, inclusive com quarto para a empregada (uma herança histórica terrível: pode associar esse quarto com a senzala). Sobre a empregada: ela é despedida e então, agora, com o lugar sem alguém para limpá-lo, a dona do apartamento precisa arranjar um meio de faxinar sua residência, o que deve ser um “desafio”.
Como não amar G.H? Ela externaliza o que não temos capacidade de pensar, ou mesmo a capacidade de suportar parecer insano ao olhar de outrem e, isso tudo, simplesmente porque fomos ensinados a não sermos “estranhos”. Imagine nascer de novo e ter a sorte de aprender tudo pela perspectiva dessa mulher, que, de fútil, somente as suas propriedades.       
Lembro que bem no início, ao ler a parte que dizia algo sobre olhar um retrato e procurar um sentido, senti uma vertigem interior de procurar uma resposta sobre quem sou e quem eu posso vir a ser. De dar uma olhada no abismo e pensar que eu sou uma fração daquilo e posso vir a ser aquilo. Acho o mais inquietante essa questão do futuro, o vir a ser é sempre uma armadilha. O segredo é não pensar no futuro, ao menos não muito. As possibilidades te deixam de mãos atadas se pensar bem.
Ler esse livro é uma verdadeira experiência e, em toda experiência há um ganho, porém, em contrapartida, há uma perda e a perda será, todas as vezes, superior. A fim de entendermos G.H. devemos abandonar a lógica convencional e a nossa própria identidade, saber abandonar e depois notar que aquilo que segurávamos com tanta força era, na verdade um mero acessório da vida, assim como diversas pessoas que passarão nos nossos caminhos.  É preciso coragem para - em algum momento - constatar que é preciso se perder e ir se achando aos poucos, algo parecido com que o filósofo Nietzsche disse e que acho muito coerente com relação a essa obra.
De volta à história, imagine estar prestes a faxinar a casa quando, de repente, ao abrir o guarda-roupas, você vê uma barata, uma forma de vida tão antiga e que você enxerga como ameaça por n fatores. A reação de G.H. é fechar a porta, mas ao fechar, acaba cortando a barata em duas partes. Ela se fascina e se vê perdida no seu cotidiano interior, pensando naquilo que viu, no fim de um amor, em como “Todo caso de loucura é que alguma coisa voltou.” Em como “Os possessos, eles não são possuídos pelo que vem, mas pelo que volta. E assim, pensando “Às vezes a vida volta”. O apse da história eu não direi, apesar de que vários já disseram. Só digo que é nauseante, o que é primoroso para um livro.
Assim como a própria Clarice, A Paixão Segundo G.H não dá respostas. É como a Esfinge, "ou você a decifra, ou ela te devora". A única coisa certa é que ela �� uma pergunta.
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Foto: Empty Room - Val Stoker
Disponível em: https://unsplash.com/photos/ggeI8TyPeZM
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semluz · 19 days ago
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“Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4.12)
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semluz · 19 days ago
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É sobre desejar felicidades acima de tudo
Querer o bem sem troca, genuíno
Sobre respeitar o espaço, posição, escolhas, decisões, momentos.
Respeitar quem te faz bem também.
Sobre ser grata pela existência dela, por te cuidar e proteger
Por ter estado quando não estive
Por amá-la, porque amor é amor, mesmo que o nosso ultrapasse tempo, espaço, vidas.
Por saber da necessidade da existência de uma na vida da outra.
Nada é por acaso, nem os desencontros.
Que a felicidade se faça presente, que seja leve, que o respeito prevaleça, porque sabemos que amor não é o suficiente. O romântico. 
Que saibam ter discernimento na linha tênue entre amor e apego.
Que o tempo eternize o que tiver de ser.
Mercúrio retrógrado. Câncer em eclipse. 
Está tudo bem, e quando não, passarinho. 
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