semlegenda
Light's gone, day's end.
2K posts
Don't wanna be here? Send us removal request.
semlegenda · 6 years ago
Quote
Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio.
Clarice Lispector.   (via inverbos)
140K notes · View notes
semlegenda · 6 years ago
Quote
O dia que Júpiter encontrou Saturno Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos. Não que estivesse triste, só não sentia mais nada. Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. Para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse. Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha. E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou 'every day, every way is getting better and better'. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos dos moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro. -Você gosta de estrelas? -Gosto. Você também? -Também. Você está olhando a lua? -Quase cheia. Em Virgem. -Amanhã faz conjunção com Júpiter. -Com Saturno também. -Isso é bom? -Eu não sei. Deve ser. -É sim. Bom encontrar você. -Também acho. (Silêncio) -Você gosta de Júpiter? -Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra". -Que é isso? -Um poema de um menino que vai morrer. -Como é que você sabe? -Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro. (Silêncio) -Você tem um cigarro? -Estou tentando parar de fumar. -Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora. -Você tem uma coisa nas mãos agora. -Eu? -Eu. (Silêncio) -Como é que você sabe? -O quê? -Que o menino vai se matar. -Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda. -Eu não sei nada. -Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo. -Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo. -Ninguém compreende. -Às vezes sim. Eu te ensino. -Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também. -Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo? (Silêncio) -Você tomou alguma coisa? -O quê? -Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina. -Não tomei nada. Não tomo mais nada. -Nem eu. Já tomei tudo. -Tudo? -Cogumelos têm parte com o diabo. -O ópio aperfeiçoa o real. -Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo. (Silêncio) -Acho que estou voltando. Usava saias coloridas, flores nos cabelos. -Minha trança chegava até a cintura. As pulseiras cobriam os braços. -Alguma coisa se perdeu. -Onde fomos? Onde ficamos? -Alguma coisa se encontrou. -E aqueles guizos? -E aquelas fitas? -O sol já foi embora. -A estrada escureceu. -Mas navegamos. -Sim. Onde está o Norte? -Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta. (Silêncio) -Você é de Virgem? -Sou. E você, de Capricórnio? -Sou. Eu sabia. -Eu sabia também. -Combinamos: terra. -Sim. Combinamos. (Silêncio) -Amanhã vou embora para Paris. -Amanhã vou embora para Natal. -Eu te mando um cartão de lá. -Eu te mando um cartão de lá. -No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar. -No meu não vai ter pedra, só mar. E uma palmeira debruçada. (Silêncio) -Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil. -Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol. -Vamos nos ver? -No teu chá. No meu chá. (Silêncio) -Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você. -Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você. -Vou te escrever carta e não te mandar. -Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir. -Vou ver Júpiter e me lembrar de você. -Vou ver Saturno e me lembrar de você. -Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar. -O tempo não existe. -O tempo existe, sim, e devora. -Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema? -Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida. -E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros. (Silêncio) -Mas não seria natural. -Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. -Natural é encontrar. Natural é perder. -Linhas paralelas se encontram no infinito. -O infinito não acaba. O infinito é nunca. -Ou sempre. (Silêncio) -Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos. -Você quer dormir comigo? -Não. -Porque não é preciso? -Porque não é preciso. (Silêncio) -Me beija. -Te beijo. Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta. Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo. Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-sena janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido. De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás.
Caio Fernando Abreu
0 notes
semlegenda · 6 years ago
Text
“Louco é quem não procura ser feliz.”
— Mário Quintana.   
101K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Text
Que prevaleça a fé até na dor.
32K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Text
não te desejo outra coisa a não ser reciprocidade
que o universo retorne pra você tudo que você faz.
22K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Text
“Mas tudo na vida tem um propósito, nada acontece por acaso. Certas pessoas vão embora para que outras cheguem. Ou as vezes, algumas chegam, para que outras saiam.”
— Mateus Yoshitani.  
65K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Photo
Tumblr media
36K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma ou outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, sei que essa não é uma atitude muito simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.
Charles Bukowski.   (via inverbos)
18K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Photo
Tumblr media
1M notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
Dizem que o amor supera tudo, e ,sabe, eu acredito. Eu aprendi com meus pais que não importam quais sejam as diferenças, quantas imperfeições tem, o amor sempre irá superar todas dificuldades que estiver no caminho. Porque quem ama cuida, protege, tem paciência. Quem ama dar a vida um pelo outro, se esforça. Quem ama quer o bem para os dois. Quem ama não deixa nada abalar o sentimento mais poderoso que é o amor.
fantasies of a girl. (via inverbos)
70 notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
É possível que lar seja uma pessoa e não um lugar?
Anna e o Beijo Francês.  (via inverbos)
50K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Photo
Tumblr media
458K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
O mundo fica mais bonito quando a gente carrega coisas boas no peito.
Clarissa Corrêa.  (via inverbos)
140K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Text
É mt bom conhecer gente com mente aberta e que não tem regrinhas sobre o que a gente pode ou não conversar
1K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
Talvez não seja a ligação de sangue que nos torna uma família. Talvez seja as pessoas que conhecem nossos segredos e nos amam mesmo assim, para que possamos então ser nós mesmos.
Gossip Girl. (via eternue)
32K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Tati Bernardi. (via inverbos)
21K notes · View notes
semlegenda · 7 years ago
Quote
Oi, sou eu. Desculpa a carta à moda antiga, ta meio fora de moda, né? Pois é, mas de que importa, eu sempre gostei de coisas antigas mesmo… Queria lhe agradecer por existir e principalmente por ter me feito viver, mesmo que por tão pouco tempo. Perdoa o jeito e a falta dele, não foi minha intenção bagunçar tanto as coisas e muito menos ter feito tanto barulho, eu só queria ter entrado quietinho e sem causar tanto problema. Saído pela porta dos fundos, sem quebrar nada… Perdoa a lotação de si, queria ser mais vazio de mim pra me encher de ti. Eu sempre gostei da minha singularidade, mas você bota tudo que sempre gostei em jogo quando chega perto. Sempre odiei abraços por serem sempre invasivos e desajeitados, sem contar que meu corpo nunca foi muito propício a isso, porém os teus me dão a liberdade que espaço algum jamais me deu. É estranho que eu me sinta menos dono de mim quando falo de ti, contudo me sinto bem mais eu quando estou contigo.
Marcos Filipe.   (via inverbos)
19K notes · View notes