Sociabilidade, cotidiano, histórias urbanas, mobilidade, a rua como centro.
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Série "abre as linhas" das cidades para falar de colapso e potências
[Originalmente publicado em 27/03/2019 aqui]
Entender a importância de "ir pra rua e tratar o outro com respeito, se interessar de verdade", diz o fotógrafo Zeca Caldeira em um dos episódios de "Linhas Abertas". No mesmo capítulo, o artista Djan Ivson fala sobre como ele percebe o pixo diante da dimensão da vida nas cidades, do quanto observar as marquises, janelas e fachadas faz parte do dia a dia de quem picha, entendendo essa cena como uma "sociedade alternativa que criou seus próprios meios de reconhecimento e memória", diz ele.
"Linhas Abertas" é uma série documental de oito episódios que está sendo exibida pelo Canal Curta abordando temas variados do universo das cidades, de arte visual a moradia, de trânsito a parques, com situações passadas em São Paulo mas também no Rio, em Recife, em alguns casos em comparativo com outros lugares do mundo. O fio condutor é a "linha aberta", o canal de diálogo com potência para criar uma cidade mais humana, o que guia a narrativa.
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"A cidade é a coisa mais próxima das pessoas. A função de país é abstrata, o que você tem de mais concreto é a cidade, e você começa a ver que elas vão colapsando. Junto ao desenvolvimento tecnológico tão avançado, por que as cidades não conseguem melhorar?", diz Malu Campos, produtora executiva da série, cujos episódios têm direção de vários profissionais."
A gente começou a perceber que estava surgindo no Rio, em Recife, em SP, uma série de ONGs que estão discutindo essa questão", explica ela o início do projeto, criação da Pacto Filmes que teve semente em uma iniciativa internacional chamada "Big Cities", que a produtora ajudou a formatar localmente junto a TAL (Televisão América Latina), rede de intercâmbio audiovisual da qual Malu é presidente.
"A gente queria falar de mobilidade, de habitação, do ponto de vista ecológico, da violência", diz ela. Os temas abordados em "Linhas Abertas" são pensados junto a debates sobre identidade, pertencimento e empatia que estão bem presentes hoje na sociedade.
A série tem exibição no Curta até maio. Nesta quarta-feira (27), por exemplo, vai ao ar o episódio "Cidades em Cidades: Uma história do presente", que reflete sobre a criação de favelas, de "cidades informais", tendo em mente tanto os desafios da implementação de políticas públicas quanto a lógica da especulação imobiliária.
[Originalmente publicado em 27/03/2019 aqui]
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Cinco leituras para refletir sobre as cidades (e sair caminhando)
[Originalmente publicado em 18/03/2019 aqui]
Na semana passada, falei sobre a Feira Cartográfica que rolou no fim de semana que passou no Sesc Pinheiros e me peguei pensando em alguns livros deliciosos e/ou informativos sobre nossa vida nas cidades e a relação que estabelecemos com elas. Fiz uma pequena lista com cinco deles, de tipos variados — tem crônica, guia, sociologia, história — e enfocando lugares distintos, para inspirar caminhadas por aí.
"O meu lugar" (ed. Mórula, 2015)
Livro delicioso para os andarilhos, reunindo crônicas sobre diversos bairros e cantos do Rio de Janeiro, com os autores escrevendo sobre seus pedaços, de coisas que os emocionam a relações da infância, de trajetos de ônibus a memórias de família. Tem o Irajá de Nei Lopes, tem a Copacabana de Luiz Antonio Simas (um dos organizadores), tem São João de Meriti de Bruna Beber, tem a Tijuca de José Trajano. Enfim, um jeito bem delicioso de ler sobre o Rio.
"Miudezas de uma cidade do interior" (Conspire Edições, 2017)
Livro delicado, editado com capricho, com escritos sobre a rotina, a vida em uma pequena cidade baiana chamada Cruz das Almas. A dimensão humana do dia a dia, o convívio, ganham destaque nas observações da autora Sarah Carneiro: da venda de geladinho, as cores da feira que tingem o cenário. Ilustrado com fotos de Luciano Fogaça.
"Escritos urbanos" (editora 34, 2000)
O livro reunindo artigos escritos entre 1985 e 2000 pelo cientista político Lúcio Kowarick é uma oportunidade de pensar as transformações da cidade de São Paulo a partir de sua dimensão política e social, com reflexões sobre moradia, produção de periferias, movimentos ativistas. Importante para entendermos como a cidade foi sendo erguida a partir de escolhas (e descasos).
"New York: the big city and its little neighbourhoods" (The NYC & Company Foundation, 2009)
Um dos livros mais legais (foto abaixo) sobre cidades que já tive em mãos, fala sobre Nova York a partir de seus pequenos comércios de bairro, subvertendo a ideia de uma metrópole se fazer a partir somente de seus grande empreendimentos, monumentos, de sua área mais nobre: é nos cantinhos que a cidade imprime sua personalidade.
"Bexiga, um bairro afro-italiano" (Annablume, 2008)
Quem mora no bairro paulistano sabe disso, mas talvez para quem não viva nele, o fato de o Bexiga ser um bairro de origem afro, onde inicialmente havia um quilombo e onde muitos negros alforriados se estabeleceram pós-assinatura da Lei Áurea, talvez seja desconhecido. Esse ótimo livro conta um pouco dessa história que ficou apagada em meio a folclorização do bairro italiano, bem forte em décadas passadas.
[Originalmente publicado em 18/03/2019 aqui]
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Mapas, histórias: uma oficina-percurso pelo Largo da Batata
[Originalmente publicado em 11/03/2019 aqui]
O que "desdobrar o mapa" significa para você?
Caminhar para perceber a cidade, traduzindo essas impressões em uma publicação, é a ideia de uma oficina que ocorre no próximo sábado (16) no Sesc Pinheiros, enfocando no entorno dali, a região do Largo da Batata.
Desenho de Grace Helmer feito no Japão
Ministrada pelas artistas Grace Helmer, britânica, e Vânia Medeiros, baiana residente em São Paulo há uma década, a atividade é parte da Programação Cartográfica que integra a FestA! — evento do Sesc cheio de aulas, oficinas, workshops variados, gratuitos, nas diversas unidades, entre 15 e 24 de março.
"Desdobrar o mapa quer dizer também entender o que está acontecendo com aquele espaço, tentar resgatar o que alguns pontos daquele lugar significam para as pessoas e ver outras camadas de leituras, porque teve uma transformação muito grande ali nos últimos tempos", conta a curadora Bebel Abreu, da Mandacaru Design.
Artista interessada nas narrativas urbanas, Vânia Medeiros explica que a ideia de mapa que ela busca trabalhar em uma oficina como esta se conecta com a visão do [filósofo francês] Gilles Deleuze, de cartografia como método, "na qual você vai buscando o seu objeto no próprio ato de pesquisar".
"Fazer uma cartografia daquela região se deixando afetar pelo espaço. Buscar um interesse por desenho que não é da virtuose, do estético, e sim experimentar situações de desenho", diz ela.
"Cidade Passo", livro de Vânia Medeiros
A oficina que vai incluir o percurso pela região terá 25 participantes. Dali, sairão sete que participarão de uma residência de três dias. "A gente vai fazer um grande mapa coletivo como resultado da oficina, e uma publicação como resultado da residência, que vai contar com esse mapa coletivo e o mapa pessoal de cada um dos sete artistas", explica Bebel. A distribuição do livro vai ser gratuita no lançamento, no dia 23 de março.
A Programação Cartográfica da qual a oficina faz parte vai contar ainda com uma leitura de portfólio na Casa IdeaFixa (dia 18), o lançamento de "Quando Presto Atenção" (dia 17), livro sobre o Rio nos detalhes de Georgia Barcellos, e uma feira bem especial (dias 16 e 17) no Sesc Pinheiros, cheia de publicações que abordam a ideia de mapas e cartografias possíveis. Entre elas, por exemplo, está o Guia Fantástico de São Paulo sobre o qual já falamos aqui, trabalhos de Barbara Malagoli, Conspire Edições, editoras La Tosca, Sê-lo (com o "Entrelinhas Urbanas"), Tereza vale a pena, Banca Tatuí, editoras Lote 42 e Bebel Books, além de livros da Elcaf (East London Comics and Arts Fest), parceira do evento, que tem apoio do British Council.
"Vai ser uma grande chance de encontrar publicações que não existem aqui. Mapas, percursos, pertencimento, viagem, é bem amplo: vai de mapa astral até mapa de cidades", conta Bebel.
Livro de Rafael Sica que estará na feira, na banca da Lote 42
Para os interessados em fazer a oficina, atenção: na quinta-feira (14), às 14h, abrem as inscrições online neste link.
[Originalmente publicado em 11/03/2019 aqui]
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O Carnaval como um motivo para circular mais pela cidade
Arte: MZK | mzk68.tumblr.com
[Originalmente publicado em 28/02/2019 aqui]
Tem bloco, tem escola de samba. A cidade fica mais colorida, agitada. Tem gente que acha ruim, tem motorista que reclama, comerciante que faz abaixo-assinado contra. E tem quem não veja a hora, costure fantasia, chore com o samba-exaltação da sua escola na avenida.
Pensando na nossa circulação pela cidade, é uma época em que se anda — ou se poderia andar — mais a pé: seja porque dirigir fica complicado, seja porque muito da festa acontece na rua. São blocos novos e tradicionais nos bairros ou em grandes avenidas, são escolas em todas as regiões. Dá para atravessar a cidade para conhecer o samba-enredo de uma agremiação que a gente admira, dá para visitar o bairro vizinho atrás de um bloco que empolga a gente. Na verdade, dá para já ir fazendo isso tudo, com menos euforia, um bom tempo antes do Carnaval propriamente dito.
No último sábado, na região de Campos Elíseos, cruzei com um bloco pequeno com um estandarte lindo. Nos arredores dele, uma roda de pagode agitava um boteco no melhor dos climas: calçada larga, churrasquinho sendo preparado. Depois, passei na porta do Camisa Verde e Branco, na região da Várzea da Barra Funda. No domingo, na quadra do Vai-Vai, um amigo me contou que não perderia por nada nesta última segunda-feira a Banda do Redondo, que vi muito desfilar quando morava na República. Para mim, durante anos era como se ela abrisse oficialmente a semana de Carnaval. Ontem, passou na rua de casa — miolo da Bela Vista — um bloco com capoeiras à frente.
Acho legal pensar no quanto a folia também tem seus territórios, na existência de uma relação entre a sua forma e o lugar em que ela acontece. Me parece que ajuda a gente a enxergar as características que marcam as partes da cidade, as belezas e as diferenças de cada canto. E, às vezes, as desigualdades também, as coisas com as quais não concordamos, os problemas de infraestrutura, a comercialização de uma alegria, excessos. Talvez tudo fique mais exposto.
Para além de uma agenda de blocos intensa que permite que se circule bastante (e para muito além do centro expandido), de últimos ensaios que acontecem na quadra de algumas escolas nesta quinta-feira e dos desfiles no Anhembi, dá para assistir aos desfiles de escolas de samba e blocos da UESP no Butantã, na zona oeste, na Vila Esperança, na zona leste, e na avenida São João, no centro, tudo gratuito.
Na Vila Esperança, do alto da passarela da estação Vila Matilde do metrô é possível para acompanhar o colorido das fantasias, a batucada fervendo ali embaixo, na rua. É bem bonito, bem paulistano. Obviamente menos inflamado que o sambódromo, mas muito genuíno. Para quem gosta de samba, e de cidade, é isso.
[Originalmente publicado em 28/02/2019 aqui]
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A importância das "zonas de tropeço" em São Paulo
[Originalmente publicado 18/02/2019 aqui]
Conheci a expressão do título por meio de um livro do arquiteto italiano Francesco Careri, autor de "O Caminhar como Prática Estética", e ela fez sentido imediato para mim, como se fosse uma tradução de algo que muitas vezes vivi nas cidades, especialmente em São Paulo.
Zonas de tropeço, lugares em que um percurso preestabelecido, um caminho, é intermediado por algo novo que teve leva a um lugar onde você não imaginava estar, onde dá vontade de ficar um pouco, conhecer mais, onde dá vontade de estar.
Tantos comércios, casas de pessoas, ruas conheci assim. Para lembrar de algumas que gosto bastante: a Travessa dos Desenhistas e a Vila Adelaide, em Campos Elíseos, lugares em que a arquitetura das casinhas, o ritmo da costura que vem de uma garagem, o sono do cachorro na porta de casa parecem uma quebra no tempo, bem ao lado do Minhocão, de terminal de ônibus, barulho demais, carro demais.
Vila Adelaide. Foto: Google Street View
Já a Travessa dos Arquitetos, no Bexiga, passei pela primeira vez como em um desvio, observando as casas, as diferenças sociais, culturais, as pensões com flores e os sobradinhos com porta de ferro e alarme. A gente fala tanto sobre cortar caminho, que é um conceito que faz muito sentido quando se anda a pé, mas esticar caminho também é legal. Vira e mexe me pego esticando caminho para passar por ali.
Uma zona de tropeço sobre a qual falei no blog, recentemente: conheci a Livraria Simples dessa forma, caminhando pela rua Rocha sem pretensões, entrando ali como quem entra para tatear, sem indicação.
Me parece que zonas de tropeço têm a ver mais com um espírito de curiosidade e de abertura para o que a cidade pode trazer, um conhecimento urbano, venha ele em forma de pessoas, lugares, um mural bonito que te chamou a atenção, uma árvore centenária que te desviou da sua rota voltando para casa, um amigo que te convida para um programa no meio do caminho. Valorizando o acaso, a mágica da rotina.
Garagem na avenida Nove de Julho
Em uma cidade com aspecto de durona, em que parece que se programar é a grande chave, ser menos programado, por vezes, pode ser um exercício interessante.
[Originalmente publicado 18/02/2019 aqui]
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Grupo cria Instagram para divulgar piscina do Pacaembu como espaço público
[Originalmente publicado em 11/02/2019 aqui]
"Queremos ser um canal de informação e de questionamento, além de divulgar a piscina. Estamos unidos pela afinidade do uso do espaço público", conta a programadora cultural Barbara Rangel, que desde que voltou a morar em São Paulo, há dois anos, vai caminhando de seu trabalho na avenida Paulista até o Estádio do Pacaembu algumas vezes na semana para nadar.
O afeto pelo lugar, e também a percepção de que a falta de cuidado ali — como maiores intervalos com a piscina fechada e instalações deterioradas — servia de adubo para que o terreno da defesa da privatização ficasse fértil, fez ela e mais alguns frequentadores se unirem. Há um mês, eles abriram uma conta no Instagram chamada Paca Livre, "perfil para amantes da piscina pública do Pacaembu", com fotos de gente nadando, de competições antigas, frequentadores, detalhes da arquitetura. Ressaltando os usos possíveis, celebrando o local como um espaço de lazer gratuito.
A notícia da continuidade do projeto de concessão do Estádio do Pacaembu para a iniciativa privada, prevista no pacote de desestatização de João Doria (PSDB) antes de deixar a prefeitura para concorrer ao governo do Estado, fez o grupo se posicionar mais firmemente. Na última sexta (8), foi revelado o vencedor da concorrência, arrematada por R$ 111 milhões: a Consórcio Patrimônio SP, que reúne a empresa de engenharia Progen em parceria com o fundo de investimentos Savona, reportou a Folha de S. Paulo. A mesma matéria indicou que a Progen gerenciou complexos esportivos no Rio nas Olimpíadas.
Entre outras coisas, o edital de concessão permite que se cobre para usar locais como áreas de prática esportiva e lazer, caso da piscina. Atualmente ela funciona de terça a domingo das 8h às 17h, com acesso livre para quem tem uma carteirinha que pode ser feita por qualquer morador de São Paulo. No novo cenário, deve ficar aberta menos tempo: cinco horas por dia para atividades livres (antes de retificação, eram apenas cinco horas semanais), e quatro por semana para atividades da Secretaria Municipal de Esportes. A partir da publicação no Diário Oficial, há cinco dias úteis para recursos, conta o blog Olhar Olímpico.
ATUALIZAÇÃO (às 15h30): nesta segunda-feira, foi noticiada a suspensão provisória da concessão (saiba mais aqui).
O Paca Livre se une ao coro de críticas à concessão. A ONG Viva Pacaembu, que vem acompanhando tudo de perto, diz que a medida ignora "duas decisões judiciais nas quais havia exigências específicas". Em comunicado, frisaram ser a favor de um processo mais aberto, com participação popular efetiva.
Um dos argumentos que sustenta a concessão, com prazo de 35 anos, é econômico, mas Bárbara questiona: "você não pode usar o argumento de déficit no equipamento público, porque ele não deveria precisar dar lucro". "Acreditamos que um equipamento público deste porte deve ter como prioridade o atendimento à população, e não o lucro de alguns", defende texto do Paca Livre.
O grupo ressalta que "só em janeiro de 2019, foram 1.200 novos inscritos. De acordo com a própria secretaria do complexo esportivo, a maioria é de fora do [bairro do] Pacaembu".
Nos dias mais quentes de janeiro, Bárbara conta que viu o local, a 15 minutos a pé da linha verde do metrô (estação Clínicas), forrado de gente por volta das 16h30, já perto do horário de fechamento. Gente que toma sol, pratica esportes, paquera, usa a cidade.
Visite o Instagram do grupo: http://instagram.com/pacalivre
[Originalmente publicado em 11/02/2019 aqui]
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Cinco espaços culturais para conhecer a pé no centro de SP
Detalhe de painel no Museu da Casa da Boia. Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress
[Originalmente publicado em 04/02/2019 aqui]
Nem só de Pinacoteca e CCBB vive a programação cultural do centro de São Paulo, e sair da rota é legal também para caminhar por outros cantinhos dessa região. Abaixo, reuni cinco locais um pouco menos conhecidos que podem ser visitados em um passeio pelo miolo da cidade.
O prédio do Centro Cultural dos Correios. Crédito: Rafael Roncato/UOL
Centro Cultural dos Correios
Instalado em um prédio imenso no vale do Anhangabaú, o espaço tem uma programação de exposições que já contemplou de Dorival Caymmi a mostra sobre totens e acervo iconográfico costurando a história das entregas de correios com outros fatos históricos do Brasil ("Carteiros – Entregas que Fazem a Nossa História").
Praça das Artes e Conservatório. Crédito: Folhapress
Praça das Artes + Sala do Conservatório
A construção próxima ao largo do Paissandu tem programação de música erudita, recebe algumas exposições e festas. Em fevereiro, no dia 21 o local recebe apresentação do Coral Paulistano. Ao lado dela fica a Sala do Conservatório, um sobrado menor, branco, que recebe eventualmente apresentações das orquestras municipais.
O casarão do Solar da Marquesa. Crédito: Sylvia Masini/Divulgação
Solar da Marquesa
No Páteo do Colégio, o casarão rosa com estreitas e charmosas sacadas que foi lar da Marquesa de Santos em 1834 é hoje um museu com mobiliário da época e utensílios domésticos. No andar superior do sobrado, estão conservadas paredes de taipa de pilão e pau-a-pique do século 18, pisos assoalhados, pinturas murais.
A Casa da Boia. Crédito: Eduardo Knapp/Folhapres
Museu da Casa da Boia
Ainda na região da São Bento, a Casa da Boia é a mais antiga loja de metais e material hidráulico da cidade, fundada pelo imigrante sírio Rizkallah Jorge. O que nem todo mundo sabe é que o segundo andar do comércio, um sobrado tombado, guarda um museu cheio de peças antigas e imagens de acervo da cidade que é possível visitar mediante agendamento (11 3312-6255).
EMESP. Crédito: Sergio Ferreira/Divulgação
EMESP
No largo General Osório, a região repleta de lojas de instrumentos sedia a Escola de Música do Estado de São Paulo Tom Jobim que, além das aulas, é palco apresentações musicais, como da Orquestra Jovem do Estado. Perto da Sala São Paulo, o local fica em uma área com outras construções antigas de arquiteturas diversas e interessantes: são sobradinhos que hoje abrigam pequenas pensões, bares, lanchonetes. Por ali fica também o Hotel Piratininga, com um letreiro inconfundível.
[Originalmente publicado em 04/02/2019 aqui]
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SP verde, feiras, percursos urbanos: vale a pena descobrir a cidade a pé
[Originalmente publicado em 25/01/2019 aqui]
Nesta sexta-feira (25), São Paulo completa 465 anos. Além dos eventos especiais, comemorativos — de show do Paulinho da Viola a roteiro pelo bairro da Penha –, há uma série de outros programas possíveis. Pensando no que o blog já publicou nos últimos meses, reuni abaixo sugestões tanto de passeios quanto de projetos que olham para a cidade de forma crítica, atenta e sensível, sobre os quais já falamos aqui.
Na zona sul, uma ilha; na zona norte, um parque
Não é bem uma ilha, mas leva a denominação no nome. Para chegar até lá, é preciso tomar uma balsa: a península onde fica a Ilha do Bororé (acima, a Casa Ecoativa) é na zona sul de São Paulo, pertinho do Grajaú, nas margens da represa Guarapiranga. O passeio até lá, além de fácil de transporte público, mostra como uma cidade como São Paulo pode abrigar diferentes climas, modos de vida. Já na zona norte, quem busca verde e cachoeiras pode ir no Núcleo Engordador do Parque da Cantareira, a partir de um ônibus no terminal Santana.
Sampapé, Cidade Ativa: organizações legais para acompanhar
A mobilidade ativa se relaciona com outras questões: da melhoria do transporte público a descentralização dos serviços e infraestrutura da cidade. Andar a pé não é só andar a pé, mas pensar a cidade como um lugar mais igualitário. A ONG Sampapé realiza diversas ações neste sentido, bem como a Cidade Ativa — vale acompanhá-las nas redes. Mapeamentos, roteiros, revitalizações de escadarias junto a organizações locais são algumas das atividades.
Arte: Crônicas Urbanas
Passeando pelas Ruas, Crônicas Urbanas: projetos sobre SP
Tem mais história além da história: indo além das versões hegemônicas sobre as origens e os desdobramentos da formação da cidade, uma série de iniciativas tem surgido nos últimos anos. Algumas delas são os projetos Passeando pelas Ruas, Caminhada das Quebradas e Crônicas Urbanas (projeto acima) que, com publicações e roteiros, têm mostrado mais camadas históricas, propondo uma cidade maior, com mais personagens, ruas e bairros a ganharem protagonismo.
Arte: Guia Fantástico de São Paulo
Guias fantásticos: arte e cidade juntas
Sou do tipo que acha até os guias mais básicos legais, então quando eles são inventivos, abrem espaço para refletir, aí me conquistam mesmo. Para quem também é dessa turma, uma dica é o Guia Fantástico de São Paulo, da espanhola Ángela Leon, que combina a fantasia sonhada ao fator fantástico presente na realidade, das varandas cheias de plantas nos altos prédios do centro aos poéticos caminhões de abacaxi (acima, desenho da publicação). Outro guia nessa linha, inspiracional — já que não fala de SP — é o Cuadernos de Medellín, que aborda a cidade colombiana a partir de vivências urbanas das mulheres.
Mapas, mapas e mais mapas
Bem, se você chegou até aqui creio que gosta de mapas. Ou ama mapas. Entre as muitas cartografias possíveis de São Paulo, algumas foram destaque ou mesmo criadas aqui no blog. Esse post compila mapas das feiras livres, das ciclofaixas e ciclorrotas da cidade. Recentemente, organizei um bem simples para entender o desenho dos sacolões e mercados municipais paulistanos na nossa geografia.
Casa do Norte Nova Mandacaru | Créditos: Alexandre Ribeiro, Guilherme Petro e Yuri Ferreira
Comida é sempre um componente legal
Circular para se alimentar é uma boa, certo? Se ainda não conhece, corra para conhecer o Guia Prato Firmeza, iniciativa da escola e agência de jornalismo ÉNois feita para mostrar que tem comida boa e saborosa em toda parte da cidade, e que a seleção das revistas e jornais por vezes é bastante elitista e preguiçosa. Já rolaram duas edições, indicação ao prêmio Jabuti e tudo mais.
As cidades na música e no cinema
Documentários sobre as cidades são formas da gente conhecer coisas que não viveu, imaginar. Tem um post que compila filmes sobre São Paulo e outros locais — do Rio do artista Heitor dos Prazeres a Nova York de Martin Scorsese em "After Hours". Já esse texto fala de um projeto documental contemporâneo sobre as vilas operárias paulistanas. Recentemente, bati também um papo com a cantora Alessandra Leão sobre os vídeos que grava cantando músicas de compositores variados em cenários urbanos: mercadinhos, avenidas. Unindo som, audiovisual e a percepção de quem gosta de estar na cidade.
[Originalmente publicado em 25/01/2019 aqui]
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Na Bela Vista, uma livraria simples e rara, com aconchego de casa
Foto: Cortesia Livraria Simples [facebook.com/simpleslivroseafins]
[Originalmente publicado em 22/01/2019 aqui]
"Eu já morei em prédio em que eu não sabia o nome de ninguém. Não sabia o nome do senhor que morava na porta da frente, só o dos porteiros. Aqui tem o Cáuboi, o Russo, o Bahia, o Marcelo que é dono do bar, a dona Nena que mora no prédio ao lado dele, a Aguida que tem um brechó…", compara o livreiro Adalberto Ribeiro. "É legal estar próximo da rua porque você se relaciona mais com as pessoas", reflete.
Na rua Rocha, no Bexiga, um sobradinho azul com pinta de casa da avó é lar da Livraria Simples, da Tabacaria Marajó e do acervo do artista Otávio Roth (1952-1993). A casa era da avó mesmo: a de Felipe Roth Faya, um dos sócios do espaço, que passou muitos momentos da infância por ali. Ao lado de amigos como Adalberto, o Beto, desde o meio do ano passado ele deu mais um significado para aquele endereço, que funciona como um local misto em que esses três projetos convivem, combinando aconchego de lar com uma seriedade e um cuidado que podem ser notados pela forma como pensam o que expõem, conservam e vendem.
Foto: Cortesia Livraria Simples [facebook.com/simpleslivroseafins]
Foi o pouco movimento da via em que ficavam no bairro da Mooca, onde funcionavam antes como livraria e tabacaria, que os fez mudar para o Bexiga. No térreo estão os livros, um jardim cheio de plantas, um espaço infantil bem agradável e recheado de livros potentes, além de poltroninha para quem quiser passar um tempo ali, tomando um café que vira e mexe está sendo passado. Subindo as escadas, fica a Marajó e o acervo de Roth.
"Sempre ficou claro na minha cabeça ser o mais popular possível, no sentido de as pessoas não se sentirem intimidadas de entrar, perguntar. Comprar livro no Brasil é muito difícil pra muita gente, então quando a pessoa vem numa livraria tem que ser a coisa mais maravilhosa do mundo", acredita Beto. "E temos a ideia de ser 'a loja dos livros impossíveis', o lugar para encontrar aquele livro que está esgotado e sendo vendido a um preço muito alto na internet. A gente intermedia descobrindo com a editora se ainda há um exemplar em alguma distribuidora, em outra livraria. Somos uma livraria mesmo, além de vender livros temos o serviço adicional de ajudar a pessoa a conseguir o livro."
Pelas estantes da Simples convivem harmonicamente de clássicos da literatura a revistas especializadas em cidades, de livros sobre música a títulos do universo das leis, de best-sellers a publicações de tiragem menor.
A partir da experiência que Beto acumulou desde o fim dos anos 1990 — seja trabalhando em livraria do centro de São Paulo ou em uma megastore com franquias pelo país –, ele chegou ao formato. O fato de a Simples ser uma livraria de porta para a rua, bem integrada a uma via que combina moradia e pequeno comércio, também estimula a circulação de pessoas que estão passeando ou em suas rotinas diárias pela região, sem grandes pretensões de consumo, mas que muitas vezes se tornam clientes, amigas.
Pensando o espaço como um impulsionador de uma troca ampla de conhecimento, eles estão realizando também alguns eventos. Recentemente, o capoeirista Rodrigo Minhoca, responsável pela Casa de Mestre Ananias, esteve ali para falar sobre o legado do mestre baiano em São Paulo e no Bexiga.
Vale ficar de olho na programação. E vale também torcer para, entre uma caminhada e outra, tropeçar em mais lugares como a Simples.
Beto, Aline Tieme e Felipe Beirigo. Foto: Cortesia Livraria Simples [facebook.com/simpleslivroseafins]
Para os fãs das histórias dos moradores em suas relações com a cidade, há ainda uma série disponível nos stories do Instagram da livraria com entrevistas informais feitas com alguns vizinhos citados no início do texto — um deles com quem, não por acaso, ao sair da livraria topamos caminhando pelo bairro.
[Originalmente publicado em 22/01/2019 aqui]
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Já deu uma caminhada até o sacolão da sua área hoje?
[Originalmente publicado em 15/01/2019 aqui]
Me lembro de uma época — antes da existência das ciclofaixas, há que se fazer justiça — ter comentado com um amigo ciclista que eu estava com uma bicicleta em casa, mas andando pouco, porque estava sem tempo. Não percebi a incoerência da minha justificativa: em vez de enxergar a bicicleta como um meio de locomoção, enxergava-a apenas como um lazer. Não que não possa ser lazer, mas a visão dela unicamente como um "hobby", separado da rotina, diz muito sobre como a gente enxerga outros tipos de mobilidade que não envolvam carro nem transporte público, a chamada mobilidade ativa, não-motorizada.
Uma forma da gente andar mais de bike ou a pé pela cidade envolve circular — quando possível em termos de distâncias e condições físicas, é claro –, para efetivamente fazer coisas: ir ao supermercado, ao banco, ao trabalho. E nesses tempos me peguei pensando que feiras e sacolões são boas formas de conhecer a cidade no passo, ou de fazer parte do caminho andando, combinando formas de transporte. Escrevi aqui uma vez sobre os mapas das feiras livres em São Paulo. Já nesse link aqui dá para saber onde estão os sacolões e mercados municipais. Fiz um mapa abaixo reunindo todos eles — lembrando que há ainda os sacolões privados.
Uma das coisas mais legais dos sacolões, me parece, é que cada um tem um estilo: um tipo de produto mais fresco, um pastel com uma cara ou sabor diferente (maior ou menor, com a massa mais amarela ou mais branca, que capricha ou economiza no recheio), vende um queijo específico, temperos que saem mais em determinado bairro — e fazem mais sentido ali do que em outro. Acabam sendo um modo de conhecermos melhor cada região da cidade, as influências culturais que se deram ali e refletem na comida, os fluxos e as problemáticas atuais que explicam a presença ou ausência de produtos.
Guardam, também, lugares preciosos. Conheci recentemente, no sacolão da região em que moro, um pequeno e delicioso restaurante: trata-se do Box62, no Sacolão Jaceguai, que serve pratos do dia com uma farta salada, cuscuz de camarão, coxinhas, mate com abacaxi ou limão para refrescar e, de quebra, sobremesas clássicas como manjar de coco e pudim de leite no capricho. Do lado do box, uma rede para relaxar uns minutinhos após comer. Fica a dica não só para conhecer, mas para circular pelos sabores de outros sacolões.
[Originalmente publicado em 15/01/2019 aqui]
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Parque da Cantareira: verde, cachoeira e calmaria na cidade
[Originalmente publicado em 07/01/2019 aqui]
Com as altas temperaturas de janeiro, quem mora em São Paulo sempre se desespera nessa época. Que falta faz um banho de mar no fim de tarde, ou um rio onde se possa nadar… Para os que buscam alternativas, além das piscinas públicas e do clássico (e delicioso) banho de mangueira no quintal, uma opção não só para se refrescar como também ver um pouco de natureza é o Parque da Cantareira, na zona norte.
Oficializado como parque na década de 1960, trata-se de uma das maiores áreas de mata tropical nativa do mundo dentro de uma região metropolitana. Com 7.900 hectares de Mata Atlântica, o parque tem quatro núcleos (dá para ler mais sobre aqui), englobando áreas dos municípios de Mairiporã, Guarulhos e Caieiras. Recentemente visitei o do Engordador, que reúne cachoeiras, espaço para piqueniques e tem acesso bem fácil partindo da saída do metrô Santana, no terminal de ônibus: basta pegar a linha Cachoeira em uma das plataformas. É curioso que o ônibus tenha esse nome, no melhor estilo "táxi pra estação lunar", mas é porque se trata do nome do bairro, Jardim Cachoeira.
Em pouco mais de trinta minutos de viagem a mudança de paisagem é drástica: saem os prédios, os comércios grandões e o trânsito; entram bairrinhos, quebradas, barzinhos e pequenas lojas caseiras, sítios onde funcionam de clínicas para idosos e comunidades terapêuticas religiosas a clubes da classe média. É um trajeto interessante para pensar o desenho da cidade, seja no que tange aos seus problemas, desigualdades de infraestrutura e moradia, como às suas potencialidades: perceber quão importante é essa região para São Paulo, entender os diversos modos de vida que temos, refletir sobre os nossos rios.
Foto: Rafael Cunha / Folhapress
O ponto do parque é um dos últimos, na Estrada do Engordador. Dali, uma caminhada de 5 a 10 minutos leva ao local, que cobra R$ 15 de entrada (estudantes pagam meia). É bom ir cedo: o parque fecha às 17h e a subida para as trilhas é permitida até as 15h30.
O nome do núcleo se refere aos córregos e riachos da região que faziam cheia ao Rio Engordador. Além de um espaço gostoso para levar crianças, tomar sol, observar plantas e animais — já na estrada para o parque dá para ver esquilos –, o núcleo reúne cachoeiras que fazem dele uma atração bem frequentada no verão. A trilha até elas tem nível médio e duração de 1h30 (em ritmo suave). Em um dia seco, é tranquila, especialmente a que leva até a primeira queda, menor. A segunda é a Véu de Noiva, maior (foto acima).
Vale levar comida, pois não há lanchonete dentro do parque (a simpática vendinha acima fica no bairro vizinho). Para voltar é tão tranquilo quanto para ir: é só esperar um dos ônibus que passa no terminal Santana — muitos vão para lá — na esquina da mesma rua do Engordador (pela qual você subiu) com a via principal. É importante levar repelente e ter tomado a vacina da febre amarela, já que o parque ficou um bom tempo fechado por ser região de risco.
Tel. do Núcleo Engordador: 11 2995-3254 [o parque está abrindo diariamente, das 8h às 17h, até 31 de janeiro; após a data, funciona aos finais de semana e feriados]
[Originalmente publicado em 07/01/2019 aqui]
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Cinco hábitos para tornar a cidade a pé um lugar mais legal
[Originalmente publicado em 02/01/2019 aqui]
Há algumas semanas escrevi nas redes sociais sobre o modo como muitas pessoas enxergam viajar sem carro para pontos próximos, tipo o litoral do Estado, como se andar de ônibus e se locomover a pé pelos lugares fossem coisas estranhas, chatas, ou então perda de tempo.
Apesar de vivermos em uma sociedade que valoriza bastante o carro — e, dada a forma desigual como a cidade está desenhada e o ritmo acelerado no qual muitos vivemos, o automóvel ser de fato funcional –, a realidade é que a maioria das pessoas usa transporte público e anda a pé. Essa pesquisa divulgada nas últimas semanas mostra exatamente isso: andar a pé é a principal forma de se locomover na Grande São Paulo.
E se o nosso transporte público tem problemas e as nossas calçadas, bem como iluminação das ruas, nem sempre ajudam, o lado bom da mobilidade a pé é que ela é janela para outras formas da gente circular na cidade. Como disse a urbanista Gabriela Callejas, falar de mobilidade a pé é falar sobre a cidade de forma ampla: de igualdade de direitos, transporte público, de infraestrutura, valorização local e descentralização.
A partir dessa premissa, resolvi fazer uma lista com cinco sugestões de hábitos simples que podem tornar as caminhadas e os deslocamentos por São Paulo mais agradáveis e proveitosos. São observações pessoais, considerações que venho tecendo a partir tanto de caminhadas quanto de entrevistas que fiz neste ano que passou para o blog e leituras cruzando áreas e saberes. A ideia é que ela seja inspiracional e moldável, como penso que nossa experiência na cidade deve ser.
Vá pela rua de cima.
Não é preciso muito para variar o trajeto: ir pela rua de cima, descer em outro ponto ou estação de metrô, tudo isso é legal para entender a vizinhança, olhar casas, árvores, pessoas, para entender onde a gente vive, os problemas e as belezas dali. Em um papo que bati nesse ano com o pessoal do Caminhada das Quebradas, eles falaram exatamente sobre isso: "Para conhecer o macro você tem que conhecer o micro. A rua de casa, o seu bairro, sua região".
Ouvir música é legal, mas ouvir o som ambiente da rua também é.
Difícil quem não esteja de fone na rua ou no transporte hoje em dia, mas por vezes se ligar no barulho externo — sejam as conversas, a música ambiente do metrô, o radinho dos ambulantes, um pássaro, uma janela fechando — também é legal para imaginar como as pessoas ocupam a cidade. Inspirado nas andanças do poeta Mário de Andrade, um projeto no CCSP criou recentemente um mapa sonoro de São Paulo, a partir de gravações pelo espaço urbano.
Pense trilhas sonoras para os lugares.
Outra coisa com som que eu faço quando não estou muito a fim de ouvir o mundo externo é colocar músicas pensando nos lugares pelos quais estou passando. Enxergando a cidade como cenário, a música como trilha, em um exercício divertido de ficção urbana. Para quem gosta da ideia, vale conhecer esse experimento delicioso da cantora Alessandra Leão, que grava vídeos lindos cantando em lugares diversos da cidade.
Visite amigos que moram em bairros diferentes.
Esse é um hábito que eu adoro e passei a valorizar depois de certa idade. Pensando no tanto de bairro que eu não conhecia em São Paulo, muitas vezes por falta de tempo, passei a entender aquele rolê de atravessar de uma zona a outra para visitar os amigos ou família como uma oportunidade de conhecer mais a cidade, curtindo o trajeto sem pressa: outras ruas, outra coxinha de padaria, outras árvores, outras arquiteturas, outro açaí, outra linha de ônibus, outro tipo de comércio, outros hábitos… Ixe, varia muito de lugar para lugar em uma cidade como São Paulo.
Pergunte mais o caminho para as pessoas na rua.
Outro dia fui abordada, na região da República, por um cara que queria saber como chegava na estação da Luz. Falei que ele podia pegar o metrô logo ali e ele: "Não, vou andando". Ensinei o caminho, o que me fez parar para pensar que existiam vários caminhos — falei do mais longo, falei do mais curto –, e fiquei refletindo sobre como a gente deixou de fazer isso, auxiliada pelos mapas nos celulares, e como isso é um exercício bom de compreensão do espaço. Sem falar que falar com os outros me parece, sempre, a melhor forma de ter empatia, o que por si só já vale o rolê.
[Originalmente publicado em 02/01/2019 aqui]
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Andar a pé tem tudo a ver com memória, e ação na zona sul mostra o porquê
Foto: Letícia Sabino
[Originalmente publicado em 27/12/2018 aqui]
Conhece o Jardim Nakamura? Parte do distrito Jardim Ângela, na zona sul, perto do Parque Estadual Guarapiranga, chegou a ser considerado nos anos 1990 o bairro mais perigoso do mundo pela ONU — essa matéria da Repórter Brasil explica um pouco os motivos, desde questões referentes a planejamento e empregos na ocupação originária do bairro, até como a situação começou a ser revertida.
Além de investimentos públicos, ações sociais realizadas junto a população e organizações locais vêm ocorrendo por ali há alguns bons anos (a Olha o Degrau, da Cidade Ativa, é uma delas). A mais recente tem muito a ver com o que falamos no blog: caminhar para conhecer, criar conexões afetivas com os espaços, além de promover uma mobilidade menos agressiva.
"Passeia, Jardim Nakamura" é um projeto proposto pelas organizações SampaPé! e COURB (Instituto de Urbanismo Colaborativo), com apoio do Fundo Casa Cidades, que implementa sistema de placas que contam histórias do bairro e trazem informações sobre os deslocamentos a pé — que são maioria na região. Nos dias 7 e 8 de dezembro, foi realizado um mutirão espalhando pelo bairro placas de indicação (que apontam em que direção e a que distâncias estão os locais de interesse), de localização (que apontam onde a pessoa está com apoio de um mapa) e de informação (que contam a história de lugares importantes dali).
Trata-se de um projeto piloto de "legibilidade cidadã", as ONGs propositoras do projeto explicam, ou seja, uma iniciativa que busca implantar no espaço público elementos de comunicação para que os cidadãos conheçam melhor seus territórios, entendam seus caminhos e se apropriem das histórias contadas pela paisagem.
A ação foi feita com ajuda de entidades, profissionais e estabelecimentos locais, como o Instituto Favela da Paz, o articulador Roger Beats, a Associação Família Nakamura, a Fluxo Imagens, os restaurantes Vegearte e Nana's BK, o Estúdio Daó, escolas da região, a Subprefeitura de M'Boi Mirim e os coletivos Ciclo Social Arte e Manifestintação Crew — o grafite (bem como o samba) é forte na região (nessa matéria do programa Manos e Minas dá para saber mais sobre o assunto) e rolaram, inclusive, novas pinturas nessa última ação, como mostra a foto abaixo.
Foto: Fluxo Imagens
Michel Onger, artista envolvido na iniciativa, destaca a importância da ação no campo da memória. "Pra gente foi bem bacana se juntar ao projeto, porque ajuda a registrar nossa história, que normalmente é difundida apenas de forma oral e pode ficar perdida até mesmo para pessoas do bairro."
Já Letícia Sabino, da Sampapé!, explica que iniciativas como essa ainda são tímidas no Brasil, e quando existem focam nas regiões centrais e de apelo histórico mais evidente. "Dessa forma, outros bairros ficam à margem, como se não tivessem histórias a ser contadas ou não precisassem de um sistema de informações às pessoas que caminham."
Em 2019, a iniciativa continua com a criação de um roteiro a pé pelo bairro, baseado na ideia de cidades educadoras, ou seja, a cidade onde se aprende caminhando.
[Originalmente publicado em 27/12/2018 aqui]
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Passeando pelas Ruas: toda a cidade é permeada de histórias
[Originalmente publicado em 17/12/2018 aqui]
Todo mundo, de certa forma, passeia por São Paulo cotidianamente, seja para trabalhar, estudar ou, de fato, a lazer. Mas como esses deslocamentos diários podem ser mais ricos? O que há de interessante nos mais diversos pontos da cidade? Como ela pode ser de fato usada por todos os seus moradores? Por que conhecer a história de onde a gente vive é transformador? Partindo de questões como essas, um grupo que se conheceu há uma década na Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, começou a propor atividades voltadas à memória, patrimônio, gestão de espaços públicos e culturais, com atenção especial à zona leste.
De lá para cá, com sua oficialização em 2014, o projeto Passeando pelas Ruas carrega no nome leve um objetivo potente: fazer com que a população se aproprie e vivencie o espaço em que mora. "Frequentando suas exposições, mostras, feiras, eventos e espaços, fazendo valer seu direito à cidade regulamentado pela Constituição de 1988", explicam seus idealizadores.
Roda de conversa na Vila Maria Zélia. Foto: facebook.com/pg/passeandopelasruas
Formado pela estudante de pedagogia Paloma dos Reis e pelos historiadores Renata G. C. de Almeida, doutoranda em História pela Unicamp, e Philippe Arthur dos Reis, mestre em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo pela FAU-USP, o grupo vem propondo nos últimos anos passeios gratuitos, "partindo de uma discussão ampla e contextualizada sobre cultura e cidade", contam.
No último dia 2 de dezembro, por exemplo, eles realizaram um percurso pela região do Pari situando patrimônios, materiais e culturais, não tão conhecidos da cidade, como a Vila Economizadora, a "rua das Noivas" (São Caetano), a Mesquita do Brás, o antigo edifício da Leiteria União e a feira boliviana da Kantuta. Em novembro, fizeram um roteiro pela Liberdade abordando a relação do nome do local com as memórias em disputa de um bairro notório pela presença oriental, mas que tem também origem negra.
Abaixo, eles contam mais sobre o projeto que, dentre outros frutos, rendeu um livro lançado em 2017.
Como vocês vêm trabalhando nos últimos anos fazendo o elo entre pesquisa e roteiros?
O Passeando pelas Ruas busca trazer aos moradores de São Paulo uma vivência em torno das construções materiais que compõem a cidade, de suas festas, suas comunidades religiosas e artísticas, suas exposições, sua diversidade gastronômica, em outras palavras, apropriar-se da cidade. Conhecer e compreender a história da cidade é algo relevante, pois permite o entendimento das permanências e mudanças ocorridas em seu espaço ao longo do tempo e, principalmente, a percepção do atual ambiente urbano, que possui múltiplos significados e experiências, diante da profusão cultural que se observa em São Paulo. Nosso projeto se coloca como um importante passo na preservação da memória do ambiente urbano paulistano, e das relações sociais desempenhadas nele.
Ao elaborarmos nossos roteiros buscamos trazer tanto espaços icônicos na cidade de São Paulo, como o MASP, quanto outros espaços que não são conhecidos pelo público, a exemplo a Capela de São Miguel ou a Vila Economizadora, assim mostramos que toda a cidade é permeada de inúmeras histórias que possibilitam com que tenhamos uma melhor compreensão sobre nossa formação atual. Distribuímos em nossos roteiros mapas, fotos, leis e textos que nos auxiliam a perceber as mudanças que aquele espaço passou ao longo do tempo, quais foram os que envolveram a ocupação daquele determinado local e sua relação com o restante da cidade.
Nos anos de 2014, 2016 e 2018 nosso projeto Passeando pelas Ruas: histórias do meu bairro e da minha cidade foi contemplado com o edital do Programa VAI I, proporcionando que tivéssemos maiores recursos para a realização das atividades. Algo que possibilitou elaborarmos um rico material didático que foi distribuído nas escolas de São Miguel Paulista, e auxilia os professores na questão de como abordar a temática patrimonial em sala de aula. Em 2014, publicamos o Catálogo Patrimonial que serviu de subsídio para o Prêmio Brasil Criativo, do Ministério da Cultura no mesmo ano. Em 2017, lançamos o livro "Passeando pelas Ruas: Reflexões sobre o patrimônio paulistano", composto por uma coletânea de artigos que abordam os roteiros realizados naquele ano. Em 2019, temos como meta a realização de um material educativo lúdico. Todos esses materiais são parte de nossa tentativa de atingir um público cada vez maior e de diversas faixas etárias.
Igreja de Nossa Senhora Rosário dos Homens Pretos, na Penha. Foto: facebook.com/passeandopelasruas
O que conheceram de mais surpreendente sobre a cidade por meio dessa pesquisa?
A cidade de São Paulo é como um caleidoscópio, que dependendo da luz e da direção em que você olha você se formam diferentes imagens sobre o espaço e você tem distintas visões de sua memória futura. Cada vez que o grupo propõe a visita a espaços fora dos roteiros tradicionais do patrimônio da cidade (como em torno do bairro do Pari ou da Vila Nitroquímica), percebemos que o público se mostra surpreendido ao se identificar com tais lugares, seja por existir conexão com seus bairros de morada, seja porque são outras formas de se encarar o patrimônio. Ou seja, se vislumbramos novos espaços e objetos materiais, trazendo-os para o cotidiano daqueles que seguem o Passeando pelas Ruas, a apropriação e discussão sobre o direito à cidade e em especial sobre o patrimônio cultural se dão de forma mais didática e proveitosa.
Como as questões do patrimônio e da mobilidade a pé se relacionam?
Todos os que passeiam pelas ruas da cidade de São Paulo cotidianamente, desempenham as mais variadas atividades tais como trabalho, estudo e lazer, e muitas das vezes não se dão conta das histórias contidas nos edifícios, nas ruas e na natureza, e acabam por naturalizar tais elementos como se eles não contribuíssem para a nossa vida. Portanto, nossos roteiros são pensados de forma a realizarmos uma simples modificação "do olhar" nos trajetos do nosso dia a dia para assim compreendermos os significados e histórias que estes representam. Assim, é imprescindível que a realização de nossos roteiros seja a pé, tanto pelo fato de possibilitar o acesso a um grande número de pessoas, que depois, tendo acesso aos nossos materiais podem realizar o roteiro de forma autônoma, quanto para modificar nossa relação com o "tempo" em uma cidade em que tudo é feito de forma acelerada.
Para vocês, qual a principal percepção sobre a cidade a partir do caminhar, o que andar a pé ensina de mais valioso?
Para além do significado do verbo que remete à ideia de andar com calma, entendemos que o caminhar é também um ato político, a partir do qual as pessoas devem se apropriar da cidade e perceber como nossas ações são resultado de decisões e escolhas feitas ao longo do tempo. Caminhar permite que se enxergue a cidade de uma forma crítica e proveitosa, de modo que se possa perceber que sua história se deu com diferentes sujeitos e com interesses diversos.
Para quem quiser saber das próximas ações, vale acompanhar a página do grupo.
[Originalmente publicado em 17/12/2018 aqui]
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Vila Buarque, Bexiga e Glicério: uma travessia
[Publicado originalmente em 10/12/2018 aqui]
Guias de bairros são legais, mas pensar as cidades com menos fronteiras entre eles pode ser ainda mais divertido — e faz a gente refletir melhor sobre como os lugares foram sendo planejados, modificados, e também se organizando organicamente. Pensando em uma travessia para se fazer a pé (e em regiões que são ótimas para se conhecer caminhando), selecionei três bairros cheios de personalidade para se descobrir no passo.
Vila Buarque – Fica encrustadinho entre República, Santa Cecília, Consolação e Higienópolis, mas tem seu charme particular de biblioteca infantil com campinho de futebol sediando jogos animados nos finais de tarde, confeitaria que serve um almoço delicioso (Little), barzinhos em volta da praça, além de uma série de novos estabelecimentos (lojas de plantas, cafés, banca de livros de artistas). O campeão deles, na minha opinião, é o Tabuleiro do Acarajé (foto abaixo, da página facebook.com/tabuleirodoacaraje), das irmãs baianas Fátima e Miri.
Bexiga – Da Vila Buarque, você pode seguir até a praça Roosevelt pela rua Cesário Mota e atravessar para o Bexiga, pela rua Martinho Prado, parando para uma voltinha pelo ótimo Mercado das Flores ou para um pastel no sacolão bem em frente à ele. Chegando no bairro pela rua Santo Antônio, dá para explorar bem a região: casas do norte que vendem manteiga de garrafa, camarão seco e farinha paraense, um restaurante com uma deliciosa paçoca de carne de sol (Rancho Nordestino), o Vai-Vai, os sambas que correm pela extensão da rua 13 de Maio nas noites de sexta e nas tardes de sábado, subindo o morrinho e chegando em uma floricultura forrada de ramos de eucalipto, em uma feira de antiguidades que rola aos domingos, em um boteco italiano com um bom gin tônica (Catzo Bar) ou em uma casa de cannolis, entre outras coisas que vale a pena descobrir por conta.
Glicério – As regiões do Bexiga e da Liberdade não eram assim tão separadas antigamente. São espaços muito próximos uns dos outros, com coisas em comum — não existissem as grandes avenidas que as cortam, perceberíamos mais facilmente. Da região da Bela Vista para o Glicério, a caminhada é reveladora. Atravessando a Rui Barbosa na altura da praça Dom Orione, pegue a Fortaleza, descubra a charmosa Travessa dos Arquitetos, quebre pelo larguinho Maria José — onde o futebol de rua vive mais forte do que nunca, em um campo assimétrico que sedia um torneio de várzea regularmente –, caminhe um trecho da avenida Brigadeiro Luís Antônio até a rua Condessa de São Joaquim, siga até a avenida Liberdade, corte pela Barão de Iguape até alcançar a rua da Glória, cuja extensão vai te levar ao Glicério. Bairro de casario antigo, com forte presença da nova imigração africana, ele também é território de origem negra na cidade (como o Bexiga) e é local de samba: é lá que aos sábados geralmente ocorrem os ensaios de bateria da Lavapés, mais antiga escola de São Paulo (conheça sua história neste documentário). Ali é ainda região tradicional da cena paulistana do grafite.
[Publicado originalmente em 10/12/2018 aqui]
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Cinco contas de Instagram para quem gosta de olhar e pensar as cidades
[Publicado originalmente em 03/12/2018 aqui]
Para quem gosta de acompanhar as discussões sobre como as cidades se configuram, sobre problemáticas e detalhes urbanos, práticas, características e modos de vida ao redor do mundo, algumas contas no Instagram são, também, um bom meio de informação. Separei cinco delas que gosto, por diferentes motivos, abaixo.
Guardian Cities – www.instagram.com/guardiancities
Trata-se do Instagram da editoria de jornalismo de cidades do jornal britânico The Guardian. Traz fotos de construções variadas ao redor do mundo, de ruas, pessoas, formas de transporte, de trabalho, de ocupar os espaços urbanos, em imagens tanto ligadas a reportagens que publicam em seu site quanto com vida própria. Destaca também outras contas interessantes de fotógrafos de cidades de diversos países.
Revista Piseagrama – www.instagram.com/revistapiseagrama
Conta da publicação semestral dedicada aos espaços públicos — "existentes, urgentes e imaginários", descrevem em seu site –, abordando temas como territórios quilombolas, a ideia de vizinhança, o descarte nas cidades. A página no Instagram, que costuma trazer ilustrações e imagens de projetos artísticos, é uma forma de estar por dentro do conteúdo veiculado na revista.
Cidade Ativa – www.instagram.com/cidade.ativa
A ONG que milita por cidades mais inclusivas — e sobre a qual já falei aqui — posta em seu Instagram as ações que promove, campanhas, dados sobre mobilidade nas cidades, entre outros temas de interesse urbano.
Popular de Lujo – www.instagram.com/popular_delujo
Gráfica vernacular, já ouviu esse termo? Trata-se do design gráfico de origem popular, autodidata, das placas e letras pintadas especialmente no pequeno comércio. Essa conta é parte de um projeto documental sobre esse design e sua relevância na América Latina.
Se Essa Rua Fosse Minha – www.instagram.com/seessarua_fosseminha
A iniciativa desse projeto é de mostrar Salvador além dos clichês, postando passeios, rotas e destacando personagens da cidade que muitas vezes correm às margens da grande história, pensando sempre a cidade vivida a partir da ideia de circular para conhecer mais.
[Publicado originalmente em 03/12/2018 aqui]
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Mário de Andrade, caminhadas, rádio e um mapa sonoro de SP
Foto: www.facebook.com/CCSPAcaoCultural
[Publicado originalmente em 26/11/2018 aqui]
Ambulantes no trem, a campainha do elevador, o sino da igreja, a voz de uma pessoa pregando emendada por um trio tocando Luiz Gonzaga a poucos metros dali, a versão de "Bella Ciao" no ato #EleNao, cânticos católicos, uma batalha de rimas, o carro dos ovos passando na rua — "é quareeenta, quareeenta ovos você só paga dez reais", grita o narrador, enquanto ouvimos trechos do poema "Quando eu Morrer", de Mário de Andrade, nos intervalos dessa paisagem sonora complexa, tão bonita quanto exaustiva, atual.
Dez minutos de uma cidade com muitas camadas compõem o programa resultado da oficina Caçando Sons de SP, parte de uma programação especial do CCSP a fim de lembrar os 80 anos da viagem pelo Norte e Nordeste brasileiros organizada pelo escritor Mário de Andrade.
"Propomos desenterrar o projeto de Mário de Andrade, a Missão de Pesquisas Folclóricas, que foi interrompida. Sua ideia era eternizar os sons do Brasil. Hoje, 80 anos depois, caçando sons de SP, devolvemos vida aos sentidos surdos do paulistano", diz uma voz ao fim do programa editado com sons captados na oficina.
Dois meses atrás, antes de a iniciativa acontecer, bati um papo com uma das organizadoras, a radialista e produtora cultural Biancamaria Binazzi. "O que a sonoridade da cidade diz sobre o nosso tempo, sobre a política, sobre o mundo? Talvez atualizar isso, gravar os sons da cidade. Os sons não só de manifestações humanas, mas o trânsito, o sabiá laranjeira que só pia às 2h da manhã", disse ela na ocasião.
Como resultado desse exercício de caminhar atento aos sons, tanto um programa de rádio foi produzido quanto um mapa pontuando os locais onde cada áudio foi registrado. Além de revelar ocupações e usos da cidade, eles cumprem o sentido mágico do rádio, dando margem a imaginação. Difícil ouvir sem visualizar cada universo, o rosto de quem está falando, o ambiente em que foi gravado, a situação.
A ideia, segundo Bianca, é que essa cartografia continue a partir do que já foi costurado nesse pequeno período.
[Publicado originalmente em 26/11/2018 aqui]
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