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Desde quando comecei a morar sozinho a menos de um mês é a primeira vez que cozinho na vida. Curti muito
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O NECROMANTE
Pra não deixar o meu Medium tanto tempo assim sem uma publicação, resolvi colocar aqui o background que escrevi para o meu personagem de rpg de mesa. Espero que apreciem.
O Calashita do sudoeste de Faerun era o filho de um dos conselheiros do reino e já se destacava por sua inteligência entre os nobres. Antes de completar os seus 15 anos ele já auxiliava os mestres e já havia publicado seu primeiro livro com suas anotações e impressões sobre a magia.
Aos 20 anos foi aceito como aluno no conselho dos magos onde ampliou seu conhecimento sobre o mundo e se descobriu como um talento da conjuração
Quando enfim foi aceito como um membro do conselho dos magos, Mithz já tinha 35 anos.
Ele se casou e teve uma filha e vivia de forma tranquila.
Quando os clérigos derrubaram o rei e desfizeram o conselho, os conjuradores arcanos sobreviventes foram presos, Mithz perdeu o contato com sua família.
Em uma rebelião, ele conseguiu fugir da prisão e se disfarçou para buscar sua família em seu reino.
Com a ajuda de arcanos disfarçados ele descobriu a vala em que os corpos de sua esposa e sua filha haviam sido jogados.
Ele se uniu aos Arcães, a facção arcana secreta que visava derrubar o regime clerical, libertar os arcanos e restabelecer o poder da família real.
Ele guardou os restos mortais de sua família em um local secreto e selado pelos Arcães e partiu para os outros reinos em busca de dinheiro, poder e conhecimento para que um dia enfim ele retorne e use seus poderes de mago para trazer de volta a sua família.
Junto com os Arcães, ele deseja levantar os corpos que o regime clerical derrubou para fazerem o maior exército que o mundo jamais viu.
Mithz Rjhael hoje é um cinquentenário que há 10 anos vive a dor da perda de seu reino e de sua família. Ele vive hoje entre as cidades partindo em aventuras em busca de conhecimento arcano. Ele não descarta se unir a outros, mas não pretende se desviar de seus objetivos. Ele prefere os livros as pessoas e não acha que a maioria das pessoas valham a pena o tempo para conversar. O mago se considera intelectualmente superior a maioria das pessoas, mas quando encontra alguém que considere inteligente ele demonstra um grande interesse.
Sempre carrega consigo seu grimório, seu cajado (foco arcano) que tem na ponta o formato de uma pequena caveira. Usa roupas comuns como calças, camisas, sapatos e não túnicas como os outros magos. Mithz carrega em sua face, a melancolia e o peso das perdas que os seus cinquenta anos lhe causaram. Frequentemente seu corvo Atala estará em um de seus ombros ou em cima da ponta de seu cajado.
Sempre porta consigo seu cajado onde na ponta um quartzo azul é o seu foco arcano e seu grimório. Além disso guarda uma adaga que usa para raspar seus cabelos remanescentes, e alguns outros pertences.
Seu único companheiro ainda é o mesmo de quando aprendera a magia de convocar familiar, uma corvo cinzenta chamada Atala que o reencontrou assim que saíra da prisão.
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O Necromante
Pra não deixar o meu Medium tanto tempo assim sem uma publicação, resolvi colocar aqui o background que escrevi para o meu personagem de rpg de mesa. Espero que apreciem.
O Calashita do sudoeste de Faerun era o filho de um dos conselheiros do reino e já se destacava por sua inteligência entre os nobres. Antes de completar os seus 15 anos ele já auxiliava os mestres e já havia publicado seu primeiro livro com suas anotações e impressões sobre a magia.
Aos 20 anos foi aceito como aluno no conselho dos magos onde ampliou seu conhecimento sobre o mundo e se descobriu como um talento da conjuração
Quando enfim foi aceito como um membro do conselho dos magos, Mithz já tinha 35 anos.
Ele se casou e teve uma filha e vivia de forma tranquila.
Quando os clérigos derrubaram o rei e desfizeram o conselho, os conjuradores arcanos sobreviventes foram presos, Mithz perdeu o contato com sua família.
Em uma rebelião, ele conseguiu fugir da prisão e se disfarçou para buscar sua família em seu reino.
Com a ajuda de arcanos disfarçados ele descobriu a vala em que os corpos de sua esposa e sua filha haviam sido jogados.
Ele se uniu aos Arcães, a facção arcana secreta que visava derrubar o regime clerical, libertar os arcanos e restabelecer o poder da família real.
Ele guardou os restos mortais de sua família em um local secreto e selado pelos Arcães e partiu para os outros reinos em busca de dinheiro, poder e conhecimento para que um dia enfim ele retorne e use seus poderes de mago para trazer de volta a sua família.
Junto com os Arcães, ele deseja levantar os corpos que o regime clerical derrubou para fazerem o maior exército que o mundo jamais viu.
Mithz Rjhael hoje é um cinquentenário que há 10 anos vive a dor da perda de seu reino e de sua família. Ele vive hoje entre as cidades partindo em aventuras em busca de conhecimento arcano. Ele não descarta se unir a outros, mas não pretende se desviar de seus objetivos. Ele prefere os livros as pessoas e não acha que a maioria das pessoas valham a pena o tempo para conversar. O mago se considera intelectualmente superior a maioria das pessoas, mas quando encontra alguém que considere inteligente ele demonstra um grande interesse.
Sempre carrega consigo seu grimório, seu cajado (foco arcano) que tem na ponta o formato de uma pequena caveira. Usa roupas comuns como calças, camisas, sapatos e não túnicas como os outros magos. Mithz carrega em sua face, a melancolia e o peso das perdas que os seus cinquenta anos lhe causaram. Frequentemente seu corvo Atala estará em um de seus ombros ou em cima da ponta de seu cajado.
Sempre porta consigo seu cajado onde na ponta um quartzo azul é o seu foco arcano e seu grimório. Além disso guarda uma adaga que usa para raspar seus cabelos remanescentes, e alguns outros pertences.
Seu único companheiro ainda é o mesmo de quando aprendera a magia de convocar familiar, uma corvo cinzenta chamada Atala que o reencontrou assim que saíra da prisão.
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Um Conto em Preto e Branco.
O silêncio é a entidade que permeia a cidade. É nessa hora que os corações gritam em sua solidão. Feliz ou não, esposas dão conforto ao seus maridos. As crianças dormem acreditando em cada sonho bom que lhe são trazidos. Eu me cansei das marcas da umidade e bolor impressas no teto. Viro de um lado para o outro na cama buscando um tanto de paz. Mas meu corpo e minha mente é acostumado ao conforto no odor do vinho barato em algum boteco no centro. Meus ouvidos vibram quando me lembro do som da música que o só o Bira e seu piano produzem. Me levanto e calço meus sapatos gastos das andanças em busca de um emprego. Alguns trocados na cômoda me dizem em voz suave que podem ser uteis ao menos para apreciar um bom cigarro na noite. Quando me dou conta, estou espremendo o que resta no frasco de Brynclem para ajeitar os cabelos. Enquanto tento lutar contra a ideia de desperdiçar mais uma noite nas ruas, lembro-me de Dalva. Se continuar sumido dessa forma ela vai pensar que eu dei o fora da cidade e… bem, ela não é uma dama da noite. Dalva é uma dama das noites. Escapa de sua mansão quando seus pais dormem e dança por aí. Uma moça constantemente cortejada e com muitos pretendentes nesses bares. Quem diria que logo eu com minhas meias furadas atrairia seu olhar? Quando volto ao mundo real, me vejo já descendo a ladeira que me levará para o lar. Augusta, nobre e bela, Quantos bebuns ainda vomitarão nessa sarjeta? Entro no primeiro bote que vejo. Estofado confortável nos bancos e cheiro de charuto vindo de algum lugar. Esse é o cheiro que se abriga nos bares onde um andar abaixo existe uma jogatina. Já fazem anos que não entro nessa. Eu era muito esperto nesse jogo. Agora sou mais esperto em não jogar. A fumaça do cigarro sobe e o velho dono do bar me ignora quando percebe que não tenho muita disposição a gastar qualquer dinheiro que eu tenha ou não. Mesmo assim me despeço quando saio e ele me responde com camaradagem. Bom homem, já me viu muito por aqui, mas nesses tempos ninguém pretende parecer meu amigo. Adianto meus passos e ignoro o roncar do meu estomago assim como o cheiro de peixe vindo do Bar do Tostão. Vou direto ao ponto. Tenho que vê-la. Já sei dos seus costumes. A essas horas Dalva só pode estar no Blue Moon Club. Lugar de musica boa e sorrisos sedutores. Perfumes baratos. Mas só quero o sorriso dela. Quando chego na entrada, os seguranças abrem alas para que eu passe. Sou um rato de sorte mesmo. Não se constrói uma reputação razoável sendo um bêbado. Ao menos é o que dizem. Mas estamos falando de tempos de luz. Um brilho de esperança em meio a uma cidade obscura mergulhada em sangue. Enquanto jovens são mortos nas esquinas por serem o que são, Caetano canta a paixão por esse lugar. Elis declara seu amor nos dominando com sua voz. Há uma beleza em meio a todo esse cinza. Enquanto subo as escadas, posso sentir o perfume adocicado. Ao fim da subida, já escuto a sua voz alegre. Com certeza um ou dois rapazes estão com ela. E antes que eu possa olhar ao redor no salão para encontrá la, sua voz me chama. Ela deixa sua mesa ao meu encontro. Dois jovens bonitos e bem vestidos ficam para trás enquanto seu sorriso e seus lábios se aproximam de mim. Ela me diz que cheguei bem a tempo para dançar. Me leva pelo braço a sua mesa agora vazia. Em alguns instantes tenho tudo que aprecio diante de mim. O whiskey sem gelo já estava na metade quando ouvimos os primeiros acordes da banda e a pista começava se encher. Damos gargalhadas enquanto ela praticamente me arrasta até lá. Eu bem que tento mas não consigo me dar tão bem como ela na dança. Tomo pelo menos o cuidado par não pisar em seus pés. Sinto meu sorriso se desfazer do meu rosto quando percebo que nem todos naquela pista estão dançando. Olhos serenos encaram os confins da minha alma. Dalva me pergunta se estou cansado e eu digo que não. Ela me deixa na mesa e se vira em direção ao banheiro. A puxo de volta lhe dando o melhor beijo que eu posso. Abro os olhos e a vejo se perder entre os casais em direção ao toilete. Antes que eu de me sentar, meu ombro é tocado. Eles me levam até a porta. A cada passo, mais um se soma ao bando. Desço as escadas com o coração acelerado. Eles apertam o passo quando os carros param em frente no momento em que chegamos na rua. A porta se abre e eu mal consigo pensar em alguma forma de sair dessa situação. Um velho enrugado está sentado ao meu lado e só se dá ao trabalho de tapar o nariz quando entro. No volante vejo um jovem perfumado e bem apessoado demais para um chofer. Ele da partida e acelera. Alguns minutos depois, não há nada além do ronco do motor. Conheço esse caminho. Nós usamos para chegar ao rio quando temos dias de sol. Fazia muito tempo que não vinha aqui. O cheiro desse lugar é muito forte e estranho. Quando estou em pé a beira da margem, olho para o céu e vejo o brilho da lua cercada de estrelas. Um professor bom de copo me disse em uma dessas noites que essa vista iria logo morrer. Disse que essa cidade mergulharia nas próprias cinzas que produz. Não estarei aqui para constatar esse fato. O que me vem a mente é Dalva. Irá se casar com o jovem engomado que agora me aponta uma arma e gastará dias, noites e lágrimas dando conforto ao esposo. A unica alegria que terá virá dos filhos. Posso a ver amamentando um bebê. Que adorável. O tiro ecoa pela margem. Não. Não é como nas novelas do rádio.
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Reflexo
Os corredores do observatório eram largos e extensos. Por eles corria com todas as forças a figura de um homem com um tablet em uma das mãos. Quando chegou na sala, onde mais de cem de seus colegas estudavam, mal conseguia falar. O hábito de fumar já havia tirado metade do seu fôlego ao longo dos anos e a outra metade ficou por conta dessa ultima corrida tirar. Percebendo a agitação de Milles com o tablet na mão, Dennyl pegou o aparelho dele e verificou as atualizações de pesquisa. Milles olhava Dennyl com os olhos esbugalhados enquanto tentava respirar. -Mas… De onde veio isso? — Perguntou Dannyl -Do… Ícaro… São… são eles, Dannyl… Eles… -Deve haver algo errado, vamos verifi — -Não! — Milles deixou seu suspiro ofegante ecoar pelo salão — Eu verifiquei… Mais de trinta…vezes… -Deixa eu ver, Milles, meu Deus, se acalme, cara.
Dannyl jogou as equações no computador novamente para ver a imagem que seria gerada. O carregamento da imagem levaria pelo menos trinta segundos. Todos observavam o monitor central onde se contava a porcentagem do carregamento. Aos poucos uma imagem era formada no telão. Primeiro ela se formava desfocada com um ponto específico próximo ao canto esquerdo na tela. Depois foi dado um zoom naquele ponto ainda ilegível. Quando chegou a cem porcento de carregamento, o silêncio foi o imperador em meio aquela centena de astrônomos pesquisadores. Na tela foi reproduzido os dados extraídos pelo telescópio Ícaro que captava imagem a muitos milhões de anos luz de distância da terra. Ela projetava a imagem de uma grande nave. As equações apontavam que o objeto tinha o tamanho da ilha de Manhattan. A segunda imagem mostrava a nave em outro ponto daquela galáxia. A nave viajou de um ponto ao outro da galáxia em apenas alguns instantes, muito mais rápida do que a velocidade da luz. A terceira imagem mostrava a nave já em outro lugar, distante do ponto anterior. Os cálculos apontavam também que a nave seguia seu sentido rumo a via láctea, mais especificamente rumo ao sistema solar, rumo ao planeta Terra.
- Senhores… — Milles finalmente disse com folego recuperado. -Essa é uma foto do passado. É a imagem que recebemos hoje de um acontecimento de bilhões de anos atrás. É um reflexo de algo que aconteceu antes mesmo do homem existir na terra. Senhoras e senhores, esses são os nossos ancestrais.
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Maná
Das terras abandonas ao norte para um submundo desconhecido ao sul. A fome, a sede e uma quantidade razoável de estupidez foram as responsáveis. As criaturas o encaram atônitas, espantadas. Ele também permanecia paralisado observando-as enquanto sentia seus ossos chacoalharem. — Ele sente fome — Um deles, o mais próximo disse. — E sede — um outro murmurou atrás. — E dor… muita dor. — De onde você vem, podre criatura? — A quarta perguntou — Do… alto. Eu só… Eu só entrei aqui para buscar água. — Ele fede — disse um deles, mais baixinho e de voz fina. Uma criança. O adulto mais próximo dela deu lhe um soco na cabeça e ela saiu correndo daquela pequena sala praguejando. Elas ainda o encaravam. — Eu não quero fazer mal a vocês. ..eu tenho que ir embora. Preciso procurar água. — Disse Ronas. — Água? Temos água. E comida. Temos ovos dos grandes deuses. Eles estão cada vez maiores e cada vez mais numer — — Cale-se pequeno verme imundo. — Um novo visitante entrou na sala com sua poderosa voz. — Saia da frente, deixe-me ver. Agora Ronas podia ver que ele era muito mais velho e somente um pouco mais humano. Os olhos ainda eram grandes, mas eram de outra cor, a boca exibia alguns tímidos dentes, tinha um pouco de cabelo branco ao contrário dos demais. Eles se encararam por alguns instantes até que a pequena sala explodiu com o seu riso. Os outros riram seguidamente em um tom mais baixo. — O que temos aqui? Um de nossos ancestrais, hã? Quando disse isso, os olhos dos outros se arregalaram ainda mais. — Eu? — Ronas perguntou. — Ele sente fome. E sente sede…e dor. Muita dor. Vamos sair daqui. Levante-se. Qual o seu nome? — Ronas. — Ótimo. Eu sou Arthur. Vamos. — Olhou para os outros — Deixem o ancestral passar. — Voltou a se dirigir a Ronas — Você chegou bem na hora. Ronas o acompanhou. Ainda dava pra reconhecer a antiga cidade que aquele lugar um dia foi. Alguns pontos as paredes ainda estavam limpas e o chão mostrava o porcelanato detalhadamente trabalhado. Mas no geral, o barro já havia invadido o local, alguns buracos nas paredes traziam a lama. Enquanto caminhava podia ver as mulheres esguias com partes de fora sem qualquer pudor. Ela não tinha pelos. Nem cabelos. O
barro em seu corpo formavam desenhos tribais. — Aqui não temos roupas. Tudo é usado para a alimentação. Nos cobrimos o pau pra ele não servir de comida para os ratos, mas as mulheres não precisam. — Aqui não faz frio também. Andaram mais por imensos corredores, atravessaram salas. A cada passo os olhares dos cada vez mais numerosos curiosos se arregalavam ao passarem. Alguns continuavam cuidando das suas vidas e a maioria, Ronas percebeu quando olhou pra trás, os seguiam. Chegaram ao imenso salão. Acima deles a entrada arrombada revelava a luz da superfície cem metros acima. — Vamos comer. — Disse Arthur — O que vocês comem? — Ovos dos deuses. — E o que é? — Venha ver — disse apontando na direção de uma das barracas. Os Ovos dos deuses eram maior do que uma mão. Eram claros e tinham uma camada fina e gelatinosa em seu exterior. Arthur pegou um deles e explicou. — Primeiro você da uma pequena mordida e começa a sugar o seu líquido. — assim ele o fez demonstrando- Agora você come a casca. Escolha uma, coma. Com tanta fome, aqueles ovos pareciam deliciosos. Ronas pegou um deles e repetiu o ritual de Arthur. A casca não era muito dura e logo o líquido agridoce começou a invadir a sua boca e no final veio a gema que tinha a textura de um pêssego, mas salgada. A casca não tinha gosto e era temperada pelo seu próprio interior quando era mastigada. — E então? — Perguntou Arthur. Os olhares em volta também questionavam. — É muito bom — Disse Ronas. — Pegue outra — Arthur disse enquanto pegava mais uma. — Nesse tambor tem água — disse apontando ao lado. — Você é diferente deles. — Sim.Minha família não foi tão afetada pelas mutações. — Aqui foi o centro de uma delas, não é? — Eu não sei dizer. Nada do que aconteceu lá em cima puderam saber os que aqui estavam. — Vocês nunca foram pra superfície? — Nunca vamos a superfície. O sol mataria qualquer um de nós, inclusive eu. — Como isso? — Vivemos durante trezentos anos nas sombras e sofrendo uma mutação a cada geração. Quando finalmente abrimos as portas da velha cidade, a luz do sol matou a todos que se enfiaram lá em cima. — Isso é terrível. Vocês não podem sair a noite?
- Podemos, mas o problema passa a ser outro. Na superfície reinam as Sinakes. Ronas já tinha ouvido falar delas. Seres grotescos que rastreiam qualquer tipo de vida no deserto para devorá-la. — E elas nunca entram na cidade? — Algumas vezes. É raro atacarem em bando. Nós damos conta. Ronas se serviu de água com um dos copos tricentenários dispostos ali. — Está quase na hora do nosso ritual da luz. Venha ver. Todos os homens e mulheres cinzas da cidade se aproximavam do centro do grande salão e ali se sentavam. -Nós fazemos todos os dias a essa hora onde o sol é mais brando lá fora, para que nos acostumemos aos poucos com a luz. Espere aqui, tenho que participar. Arthur subiu em uma espécie de altar onde a luz era mais forte e ali ficou olhando para o alto, para o céu. Os subterraqueos então começaram a entoar um cântico fervoroso com os braços estendidos ao céu ou o pedaço de céu que eles podiam ver. Ronas pegou mais um ovo e comia devagar enquanto observava. Esta era a primeira vez que era ignorado desde sua chegada. Aquelas pessoas tinham mais sorte do que ele. Enquanto via os seus morrer de fome, eles viviam em fartura. Ele havia saído das suas terras tão secas em busca de um lugar onde a vida pudesse se sustentar. “Será aqui o lugar onde devemos ficar? Eles nos aceitariam? Meus amigos aceitariam viver com eles?” Eram dúvidas que rondavam a sua cabeça. Algumas delas poderiam ser respondidas após o ritual. Uma sombra se fez repentinamente e o cântico parou de súbito. Ronas deu dois passos para trás e sentiu-se tremer quando viu o que estava lá em cima. O barulho dos motores de um motorfly nunca se esquece. Mesmo quinze anos depois de ter visto um pela última vez. E descia a toda velocidade até que se contrapulsionou no centro do grande salão. A essa altura a maioria já havia se escondido e então ele também resolveu se esgueirar para baixo da barraca e observar.
…
-Uuuuuuuhuuuuuul — Angi gritava enquanto a motorfly roncava na descida. Beanc gritava diferente enquanto beliscava a barriga do piloto. Quando a motorfly parou de súbito, ela pensou até que havia batido em algo, mas
ouviu a contrapulsão dos rotores inferiores. Pousaram enfim em meio ao silêncio da cidade morta. — Então esse é o centro da cidade. Onde estão os vendedores de combustível? -Disse Angi olhando em volta. — Se eu fosse você ficaria calado. Olhe em volta. Com certeza tem gente morando aqui. — Você está brincando. Ninguém sobreviveu aos ataques. E essa cidade foi um dos alvos. — Mas você mesmo viu. Erraram o alvo e feio. — Isso não reduz a letalidade da bomba. — Ainda estamos falando, Angi? Vamos sair daqui. — B, eu não quero voltar pra casa sem o tesouro dessas cidades. Podemos achar peças nunca usadas aqui. — E podemos achar o dono delas. — Ah, deixa disso. — disse Angi enquanto ascendia a lanterna — Vamos dar uma volta e ver o que podemos encon — — Fica aí! — disse a criatura que surgiu a sua frente. Tinha a pele cinzenta e olhos gigantes e totalmente negros. — Acalme-se, Airã. — Disse um homem que surgiu ali próximo. — Quem é você, jovem? — Eu? Eu sou Angi. Nós não sabíamos que tinha gente aqui. Nós — nós… — Está bem. Eu sou Arthur. E nasci aqui. Cada vez mais criaturas saiam das sombras e mais um homem saiu de uma barraca. — Mas isso é impossível. Como? — Fomo salvos pelos deuses da terra, ancestral. — Eu sou um ancestral? — Você tem o sangue dos homens da superfície de antes de nós. — Angi, melhor irmos embora — Disse Beanc. — Mas, Be, eles irão voltar aqui. Temos de avisá-los. — Avisar do que? — Arthur quis saber. — Somos sucateiros. Buscamos coisas úteis das cidades devastadas. Nós viemos na frente para averiguar. Eles devem chegar em breve. — Seus amigos? — Não. É meu chefe. Ele é um desgraçado. Vai roubar toda a cidade. Pra ele não importa se tem gente viva ou não. — Não podemos deixar que vocês vão. Devem ficar aqui. — Mas não podemos viver aqui. — Somente até investigarmos tudo. Vocês poderão voltar em breve. Mas a
nave fica. — Ótimo! — disse Be olhando Angi como se quisesse estapeá-lo. — Olha, Be, nós vamos sair de — — Angi cuidado! — Be gritou. Angi só viu um reflexo. Os olhos de fúria de um homem e um pedaço de pau a caminho de sua cabeça.
…
O homem estava prestes a dar a segunda paulada quando foi segurado pelos outros. — O que deu em você? — Perguntou o estranho mais velho. — Eles são assassinos! O símbolo na nave! Eles nos atacaram quando eu era criança. — Seu imbecil, Angi nunca atacou ninguém — disse Be. — Vocês mesmos disseram. São ladrões. — É melhor se acalmar, Ronas — Disse o mais velho. — Arthur, você tem que acreditar, eles são perigosos. — Ainda não me parece que sejam. Não usam armas, não nos atacaram e estão nos prevenindo de seu líder. Este homem que acabou de tentar matar já lhe fez algum mal? — Você é um idiota, Jonas. — disse Be. — É Ronas — respondeu. — Hunf. Que seja. Ela foi em direção a Angi que estava com um caroço de manga na cabeça. — Tudo bem, menina. Deixe-me ver o que posso fazer pelo nosso amigo. O homem mais velho passou as mãos em uma parede de onde tirou uma gosma escura e passou no calo pouco mais acima da têmpora de Angi.
- Ele deve acordar em breve. Vai ficar bem. Meu nome é Arthur, líder dessa cidade. — Eu sou Be. Beanc. As criaturas começaram arrastar Angi para um dos corredores agora visíveis pois Be se adaptara a falta de luz. — Pra onde estão levando ele? — Ele vai para a enfermaria. — Que enfermaria? Eu vou junto com ele. — Tudo bem. — disse Arthur — Já está mais calmo, Ronas? — Tudo bem, me desculpe. Quando eu era crianças os Contrutos
invadiram nosso alojamento e mataram várias pessoas. Eu não me acostumei com a ideia de conviver com um deles ainda. — Seja lá quem foi, não está aqui. Eles também eram crianças — Certo. — Vamos ver como ele está. — Tudo bem. Beanc acompanhou Angi de perto. Observava em volta toda aquela gente. Mulheres dos olhos arregalados que se cobriam com nada além de barro a observavam assim como as menores que pareciam ser crianças. Eles foram seguindo o corredor até que no final não havia mais barro nas paredes e no chão. Seguiram por ali até se depararem com uma porta metálica. A criatura que estava mais a frente apertou um botão e quando essa porta se abriu foi revelado um elevador. — Os elevadores da cidade ainda funcionam? — Algumas poucas coisas ainda estão intactas em nossa casa. — disse Arthur Na enfermaria havia mais gente. Funcionava perfeitamente como se o mundo ainda não tivesse acabado. — É como nos filmes. Tudo funciona. As reservas de energia de Underville foram feitas no modelo ac22. — Arthur, Ronas e os outros a olharam com curiosidade então ela explicou — Funcionavam a base de radiação solar. — Mas não havia luz nos primeiros cem anos segundo os registros — disse Arthur. — Mas havia radiação em abundância lá fora. A sub-inteligência artificial criada a partir do nano vírus fez com que os captores se adaptassem. Uau. Isso é incrível. Vocês têm energia ilimitada. Essa cidade é o paraíso. — Arthur, se os construtos vierem irão tomá-la. — disse Ronas. — Arthur, eles são muitos. Como vocês irão se proteger? — Eu… eu não sei. Temos algumas lanças elétricas, pinos sonoras e pistolas de energia mas não serão uteis. Os carregadores estão sem funcionar há tempos. — Me mostre onde fica — disse Angi — Nós podemos conser — — ANGI — gritou Be correndo para abraçar o amigo até então inconsciente pela pancada de Ronas. — Ai. Calma Be. Para — Esse musgo é milagroso mesmo, nossa! Do que ele é feito Arthur? — São… é… escrementos dos deuses. Das criaturas que vivem no entorno da cidade. São fezes. -… Tudo bem — disse Be — Tudo bem? — protestou Angi — Passaram cocô em mim e você ainda fala
“tudo bem”? — Vamos, Angi. Temos que consertar os carregadores das armas para proteger a cidade. O arsenal foi aberto a eles. Uma sala imensa onde estavam guardadas as armas e as armaduras oficiais de Underville. Peitorais refletores, tiplasers, tiplights e pinos sonoros estavam expostos em prateleiras enfileiradas. — Arthur, você tem gente suficiente para usar tudo isso? — Perguntou Be. — Temos 300 homens e mais de 400 mulheres além das crianças, você acha que dá conta, Beanc? Beanc e Angi se olharam e viram um no outro o brilho nos olhos e o sorriso surgir — Dá e sobra — disseram em uníssono.
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O Cemitério dos Povos
Não. Não foi como nos filmes. Eu vi milhares deles. Nada pode chegar ao menos perto disso. Nessa ultima viagem estive nas buscas mais ao sul. Lembro que no inicio diziam que lá poderia haver um pouco de água. Alguns dias de caminhada, quase morro de sede. Até encontrar um local que eu nunca soube que existiria nesse país. Diziam que água não tem cheiro. Eles não sabiam o que era a sede. De longe eu já sentia o cheiro, o umidificar do ar, um frescor no vento e nem um salpico. Era água doce. Chegando um pouco mais perto com algumas horas de caminhada, pude ouvir o som da enxurrada. O fato é que em meio a um deserto ainda a ser dimensionado havia um ponto especifico onde se encontrava uma fissura. E por motivos que eu ainda estou tentando descobrir nenhum homem estava por perto daquele maná. Água limpa e fresca… mil metros abaixo. Era descer ou morrer de sede ali mesmo. O que o homem faz em meio ao desespero? Claro que desci. Ao começar já pensei que ali seria meu cemitério. Os primeiros cem metros foram de uma descida íngreme pela área próxima a borda. Cai com todo o meu peso naquele primeiro nível de superfície mais rochosa. Por mal ou por bem, nesse caso a fome e a sede já haviam consumido minha carne e sofri somente alguns cortes na queda. Apesar do medo, me enchi de esperança ao conseguir ver que o caminho dali em diante se mostrava mais fácil. Pelo menos até onde estava iluminado. Respirei por alguns momentos antes de continuar. Eu podia sentir o gosto da água no ar naquele momento. Uma rocha aqui, outra fissura ali. Escalar é algo que eu aprendi com o tempo. Quando não havia mais luz e eu sentia que o chão estava próximo, senti calafrios quando o som de água parou de uma forma anormal. Senti tanto a estranheza desse fato que acabei me desconcentrando com a descida e errei o pisar. Uma pedra rolou antes que eu perdesse o equilíbrio. Eu cai em um chão macio demais para ser chão e duro demais para ser água. Olhos. Quantos olhos? Quantos olhos… Um se abrindo após o outro a minha frente. Eles refletiam a luz que vinha mil metros acima. E corri enquanto sentia o chão tremer vigorosamente sob meus pés. Chão? Não mesmo. Eu podia sentir o pulsar e o respirar de um corpo colossal. Corri o quanto podia. Corri mais do que podia em meio a escuridão até que avistei um brilho fraco vindo do que parecia ser uma fresta. Se eu me encolhesse só um pouco… Vou tentar. Fui naquela direção. Lá entrei como se estivesse acabado de entrar em minha própria casa fugindo de uma tempestade. Na verdade foi um pouco diferente. Nessa casa não havia uma porta para impedir que o que quer que estivesse me importunando lá fora entrasse. Só me restava correr ali dentro. Não. Dizer que estava rastejando é mais cabível. A fissura na parede era muito pequena para o meu tamanho. Eu sabia que ter emagrecido tanto me traria alguma vantagem. Estava com tanta fome. Seguir era a unica opção. Me perdi em meio aquele buraco tenebroso. Dessa vez voltei a ouvir o som de água bem ao fundo. Isso foi só um pouco antes de eu cair novamente. Cai no local de origem daquela luz bruxuleante que me salvou de uma fera provavelmente faminta do pouco que restava de mim. Alguns homens me encaravam enquanto eu tentava me recompor. Eles tinham olhos imensos comparados aos nossos. A pele era de um cinza obscuro. Mais uma vez eu me questionei; Aquela bomba só destruiu o nosso mundo ou criou outro a sua maneira?
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Underville
- Quando essa cidade foi fundada, todos sabiam que um dia daria merda. Um alvo muito fácil em qualquer guerra ou até mesmo qualquer desastre — Explicava o comandante para a aprendiz de piloto. O caminho até a fantasmagórica Underville era marcado pelo rastro de corpos de piratas que foram audaciosos o suficiente para tentar um saque no século anterior. O cheiro de ferrugem era extremamente forte e Bianconi se sentia nauseada e enjoada. Tentava mostrar que não estava afetada, que estava pronta para o trabalho, mas Anji já havia percebido. - Tenho andado aqui nessas últimas semanas, já vomitei muitas vezes aqui dentro. Tem um balde lá embaixo. Se vier mais vezes, vai se acostumar Enquanto ela descia, Anji via pela primeira vez a entrada de Underville. A visão era bela e ao mesmo tempo desoladora. Carros e motorflys se amontoavam em volta dela. A terra ao redor era alaranjada e refletia o sol escaldante. Ao lado da entrada existia uma imensa cratera. “Eles erraram por muito pouco” pensou. Posicionou a Tiptop exatamente acima da entrada e começou a olhar pra baixo. - Achei que não voltaria. Iria ficar sem ver isso, B. - É ela? - Uma beleza não é? - Está morta… - Há muito tempo. E nós somos os únicos herdeiros do que quer que haja lá dentro. - Mas as ordens de Cielo foram — - Foda-se o Cielo. Eu me servirei dessa cidade antes dele. Cansei de ser um rato. Anji olhava para baixo encarando a boca de um monstro abaixo que estava prestes a engoli-lo. - E então…vamos ficar aqui o dia inteiro ou vamos entrar? O incentivo de Bianconi foi mais do que suficiente. Tiptop desceu em um mergulho. No comando, Anji sentia o próprio sorriso enquanto ignorava os gritos desesperados da parceira. Abaixo, um novo mundo se revelava. Continua…?
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Ao acordar
“Tudo que vi foi um clarão vindo do horizonte. Veio como uma força devastadora em minha direção. Na nossa direção. E depois o fim.” Poderia estar agora em Em Burnier, na Lua. Ou até mesmo na Zuck III rumo à Marte. Mas não. O que é isso? Que lugar é esse? O que vejo são luzes por todos os lados. Não sinto nenhuma alteração de gravidade, ainda estou na Terra. Mas que lugar é esse? Estou preso? Estou preso! Droga! Que porra é essa? Meus pés e meus braços estão presos. Estou numa legitima prisão. Escuto passos. Bem de longe vão aumentando seu som. Alguém esta vindo. Uma porta revela sua existência quando é aberta. Ele usa óculos redondos e pequenos. A sua pele é lisa e polida, apesar da idade. Com certeza esse é um líder. Ninguém tão velho aparenta tanta jovialidade. Ele tem paciência, seu rosto sugere um sorriso frio. Estamos frente a frente, ele cheira a talco de menta. Eu já havia me esquecido o que era menta. Eu tento falar mas minha boca também está amarrada. Ele me encara olhando diretamente nos olhos. Tenho a impressão de que assim, só com o olhar, ele pode tirar tudo de mim. -My name is Dr. Favion Berg. At this moment — a sua voz passa de sotaque estrangeiro para algo similar a um dos primeiros androides falando. Ele estava usando um tradutor espontâneo, os nome desses aparelhos é Polingo — Você está preso nessa mesa para a sua própria segurança. Teve convulsões e vômitos. Sua boca está toda vedada para que não arranque a própria língua com os dentes. Se acha que está bem para que eu remova o bloqueio bucal, pisque os olhos duas vezes. Eu o fiz -Certo. — ele diz enquanto aperta algum botão na minha boca. — Qual o seu nome? - Lucas. O que é este lugar? — Eu digo após ele remover o bloqueio e muita saliva escorrer. - Você está no quinto nível. Minhas pernas tremem, sinto minha pupila dilatar. O quinto nível não pode existir. Eu vi os projetos, eram inviáveis. Eles eram… eles eram impossíveis. - Que espécie de mentira desgraçada é essa? Eu estive em Underville, não tem como — - Você acha que sabe das coisas. A verdade é que Underville não foi a única cidade subterrânea construída. Você está em Atlantisdown. Está a vinte mil metros abaixo da superfície. Nos somos os únicos sobreviventes. Seja bem vindo ao novo mundo, Lucas.
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Uma noite na Taberna de Mhoe Turvo
Não há nada como a gargalhada de um anão bêbado. Dwahanmar, o guerreiro das minas de Toureg estava com a minima fração de rosto expostas avermelhadas por causa da bebedeira. Os taberneiros se revezavam no trajeto de sua mesa e de seus companheiros até o balcão da Taberna do Turvo. Dwahanmar comemorava acompanhado de seus amigos a conquista da ultima viagem dos mercenários. Estava companhado da maga elfa Lili, Gandra — A selvagem e do cantor Jimmy. O Clerigo estava no templo do Deus Sol em suas orações. Dwahanmar notava os olhos de todos na taberna atentos ao seu relato. - Quando eu entrei na passagem daquela masmorra e vi os orcs, eles se assustaram. Larguei a tocha em cima do que estava mais próximo e segurei este machado com as duas mãos. “Agora vocês estão condenados” Eu disse. O orc mais forte, que estava atrás riu da minha cara. Vocês sabem como eu fico quando alguém riem dessa forma. Eles ainda não aprenderam a respeitar os anões de Toureg. “Kruky, deixe aquele maldito para mim” Eu falei “Kruky?! O Bolota está tendo alucinações” Foi aí que percebi que a porcaria daquela porta de pedra se fechou no momento em que entrei na sala. Os outros haviam ficado para trás. Eram quatro orcs e eu. Seria uma bela festa só para mim. Em poucos instantes eu já estava cercado. Um orc imprudente me ameaçava com a lança perto demais. Com um golpe quebrei a lança e com mais outro afundei a lâmina em seu cranio. Nesse momento senti o golpe na coxa. Um deles havia me acertado em cheio. Talvez eu tivesse caído não fosse pela cobertura de malha que se estendia até ali. Mas doeu um bocado. Esse mesmo que me atingiu foi o meu segundo alvo. Fui com tanta vontade que acabei errando a passada e o golpe foi direto ao chão. O outro se aproveitou para me pegar desprevenido, mas tive tempo de colocar o meu machado na frente de seu porrete. Meu broquel se quebrou quando o maior deles me atingiu com a maça e eu tive que aparar o golpe com o braço. Eu precisaria de um segundo longe deles para me recompor, mas a chuva de golpes continuava. Eu estava sendo massacrado. Foi então que algo que aprendi com Jimmy me veio a mente naquele momento. Dei um salto por cima do mais baixinho e fiquei atrás dele. A maça grande vinha novamente em minha direção quando o empurrei para eles. O Golpe da maça o acertou e ele caiu. O terceiro bicho, com a espada veio com toda a força na minha direção. Consegui bater a minha lamina contra a dele e acertá-lo antes que ele o grandão pudesse me alcançar, derrubei-o com um golpe em seu peito desnudo. A fúria do grã orc era gigantesca nessa hora. E ele veio girando a sua maça em minha direção. Acertou-me um golpe na cabeça que me foi contido pelo elmo de prata, mas que doerá por toda a minha vida. Meu machado já estava danificado e eu tinha que pegar alguma coisa. Rolei pelo chão para o lado e peguei a espada enferrujada de um dos orcs caídos. O grandalhão, quando vinha em minha direção, tropeçou em um dos corpos e me deu as costas quando caiu. Acertei em cheio o miserável que urrou. Achei que tinha terminado o serviço e já estava prestes a me virar quando vi o animal se levantar mostrando aqueles dentes podres. Dei um golpe no seu focinho e vi o sangue negro cair. Ele levantou a maça grande e me acertou no queixo. Meu rosto se virou para cima e puder ver todas as estrelas do universo. Acertei-lhe então na coxa com a espada e o vi cair de vez. Pra garantir, enfiei a ponta da espada em sua garganta e também dei a misericórdia aos outros caídos. Logo depois, Gandra conseguiu enfim arrebentar a porta e Kruky me curou dos ferimentos. O resto vocês já sabem, mas quero que vocês se lembrem de que Dwahanmar, o Anão, matou quatro orcs sozinho em uma mas — - Dwahanmar, o falastrão. Nem os pecadores contam fabulas tão risonhas. — Disse alguém na taberna. Um homem com trajes de seda e uma espada na cintura. - Como ousa me chamar de mentiroso, homenzinho. — Respondeu o anão empunhando o seu machado ainda sujo. - Não se duvida das histórias de um guerreiro em uma taberna. — Interveio Lili. - O unico homenzinho que estou vendo é você. Como um anão como um anão como você poderia derrotar um orc…Ou quatro deles? - Agora você irá descobrir Ainda mancando, Dwahanmar caminhou com o machado em punho até o homem. Todos na taberna o encorajavam, apostas estava sendo feitas, os músicos trocaram os cânticos por tambores. O homem não se moveu com a ameaça. - Não vai lutar, homenzinho? — Disse o anão. O silencio era geral agora. O homem encarou Dwahanmar e seu machado remendado e começou a rir. Levantou a sua caneca de cerveja e gritou - Viva Dwahanmar, o matador de orcs. — E assim todos repetiram e continuaram O anão gargalhou mais alto ainda, foi buscar sua caneca e também a levantou. A musica voltou e o velho Mhoe Turvo dormiu feliz por não ter de arcar com nenhuma quebradeira em sua taberna ao menos por uma noite.
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Sardas na Neve
A neve caía solene sobre as árvores. O cervo comia o pouco que restava da vegetação praticamente toda tomada pelo gelo. Com as orelhas em pé, parecia estar em alerta. Tudo estava tão calmo que mesmo distante era possível ouvir o mastigar da caça. Mithra encostou a ponta da flecha nos lábios como sempre fazia para ter sorte e lentamente a colocou no arco e na mira. Prendeu a respiração e soltou a flecha torcendo pelo melhor. Ela teria acertado em cheio se o cervo não tivesse saído do lugar pouco antes do impacto. A flecha cravou no tronco de uma das árvores adiante assustando o jantar que correu floresta adentro. Tyhra foi atrás correndo a toda velocidade, mas ela sabia que ele não o alcançaria. O tigre gigante era pesado demais para caçar em uma camada de neve tão profunda. - Hahahaha! — Uma gargalhada ecoou por entre as árvores. - Quem está aí? — perguntou Mithra. Do alto de um dos pinheiros, um homem descia com muita destreza. Ele usava vestes cinzas que aparentavam ser peles de lobo e portava uma besta nas costas e uma espada na bainha. Quando este se virou viu a flecha de Mithra apontada para si, o seu sorriso escárnio desapareceu de imediato… por um ou dois segundos. - Você estava na posição certa em relação ao vento. Nem você e nem o tigre fizeram barulho ao se aproximar. Mas esqueceu de uma coisa importante. - Quem é você? - Kray, do clã Icestone ao norte. - É melhor se afastar, Kray. Seu clã não é bem vindo aqui. — disse Mithra com sua arma apontada para aquele homem. - A audição desses animais é incrível. Quando voce atira uma flecha eles podem ouvir o assovio dela vindo em sua direção. Na grande maioria das vezes, não há tempo de reação. Mas quando está nevando, escutam o estilhaçar de pequenos flocos de neve atingidos pela flecha no caminho. Ainda sim, só alguns cervos tem a capacidade de reação. E para o seu azar, o cervo que está fazendo seu tigre gigante comer neve tem uma grande percepção e um grande poder de reação. Agora sua caçada ficou mais difícil. A noite está chegando e uma tempestade pode acontecer a qualquer momento. - O clã de Icestone não costuma ter esse tipo de falastrão. E nem o tipo de idiota que brinca tão facilmente com a morte. - Eu perdoarei a ameaça e a ofensa por hora. Deixe me ver… — olhou a de cima abaixo — cabelos ruivos, sardas no rosto… Já sei! Você é de Gloverwolf, provavelmente parente próxima de Willy Queijo. - É Willy Whitecraft, imbecil. Aquele mesmo que derrotou o seu clã quando tentaram invadir nossas terras. Matar Icestones está no meu sangue. - Willy Queijo-Podre contou a você a história de quando foi nosso prisioneiro? Nem os pés do próprio dem��nio em pessoa poderia feder tanto quanto os deles depois que cortamos os dedos. HA! - Você terá cheiro de comida de corvo se não se virar para as montanhas e seguir seu caminho agora mesmo. - Devo lhe dizer, senhorita — dizia ele enquanto dava um ou dois passos para trás — Que o clã Icestone é conhecido por assaltos e saques hediondos. O próprio rei Berry já colocou a nossa cabeça a prêmio, caso uma caipira como você não saiba. Ele reconhece que somos astutos e perigosos, mas não somos ruins como um todo. As histórias assombrosas que você ouviu são lendas de eras passadas. Fábulas esquecidas de quando o sangue era a unica moeda de troca que tinhamos no norte. Acontece, moça, que assim como você, eu saí em busca de alimento para a minha casa há três dias e a única coisa que encontrei além de neve, lagos congelados, árvores infrutíferas e lobos famintos foi um belo e gordo cervo. E quando eu estava prestes a pegá-lo e rasgar seu pescoço com meus próprios dentes, tamanha a fome que estou, você aparece com um tigre gigante e o afugenta. E mesmo assim… senhorita, eu serei cortês em aconselha-la a se virar para o lugar de onde veio, seguir em frente e ME deixar em paz. - A sua guerra já acabou, Kray. E nela você foi derrotado. Você não tem o direito de andar por estas terras e tão pouco de reivindicar alguma caça por aqui. Uma nova guerra pode começar se eu voltar para casa agora e relatar a sua invasão. - E o que o velho Willy iria poder fazer nesse caso? O golpe de sua espada me deixou mal por alguns dias, mas garanto que a minha adaga fez nele um serviço permanente. A essa altura ele ainda deve sentir a mesma dor de sempre todos os dias. - Pode apostar que você cairia novamente. - O que uma garotinha como você sabe sobre a guerra? Não consegue nem mesmo derrotar um cervo e quer intimidar alguém como eu? - Você parece estar muito seguro para quem tem uma flecha apontada para a sua testa. - Eu tenho? — Kray perguntou. Neste momento Mithra foi agarrada por trás. O seu arco caiu no chão e a flecha disparada caiu dois metros a frente. Kray se aproximou e tomou o seu arco e apontou para ela. Quem a agarrava a soltou e a deixou caída na neve e se juntou a Kray. Mithra estava na mira de Kray que agora estava acompanhado de uma velha mulher dos cabelos emaranhados e sujos. Ela sorria revelando os escassos dentes na boca. - Mais uma lição a ser aprendida, sardenta — disse ela com a voz que só uma velha bruxa poderia ter. — Nunca esqueça a retaguarda. - Sabe o que eu costumo fazer com garotinhas como você, ruiva? Até agora eu agi em respeito a Willy, mas agora você não vai escapar impune. Terá o que merece. Ela só o encarava no fundo dos olhos. - Segure o arco, Lirck. Se ela tentar alguma gracinha terei de terminar com ela morta mesmo. Lirck segurou o arco mirando Mithra sempre mantendo o seu sorriso vazio de dentes. Kray afrouxava suas roupas e se aproximava. Mithra se arrastou para trás sentindo o toque frio da neve. - Sabe. Antes de conhecê-lo eu acreditava que você fosse um grande guerreiro. Um inimigo no qual valeria perder algum tempo. As histórias de guerra são sempre assim. - Cale a boca, sua putinha. Enquanto ele se aproximava, Mithra começou a rir. - Ah, você está gostando não é? - Não acredito que você esqueceu… — ela disse. - O que? O TIGRE?! Quando olhou para trás já era tarde para qualquer coisa. Tyrha estava no ar, na direção do pescoço de Lirck. Em um instante, ele já havia deixado seu corpo estrebuchando na neve enquanto os guinchos de sangue saiam de sua garganta. Kray caiu de joelhos e se tremia todo. - Faça ele parar, ruiva. — ele pediu a Mithra - Eu realmente acreditei que você fosse mais inteligente, velho imundo. Tyrha dava mais um passo. - Eu só queria assustá-la. Eu só queria caçar. - E agora veja, você é a caça. Tyrha chegou ainda mais perto dele com os dentes a mostra. - Me perdoe, eu nunca iria… - Agora você não vai escapar impune. Terá o que merece. Tyrha parou exatamente a frente de Kray e rugiu vendo-o se retesar. - Por favor. Por Deus, pelas Santas dos mosteiros, pelos dragões que guardam a fúria das montanhas. - Pelas garotinhas que já te conheceram… - Pela Deusa Mãe, rainha da misericórdia. - TYRHA! — ela fez sua voz ecoar pela vastidão gélida — DESTROCE! Para os ouvidos aguçados de Mithra, os gritos de um homem ao se deparar com a própria morte nunca foram tão doces. Assim, os corpos foram deixados para trás… - Que os demônios os arrastem para o mais profundo dos infernos. Adiante, o cervo se encontrava morto. Na sua garganta a marca dos dentes de Tyrha. O jantar estava garantido. Os monstros estavam mortos. - Você lutou bem, garota. — Disse ela enquanto montava na tigresa. Ao subirem os montes, ela olhou para trás onde jaziam os corpos dos fora-da-lei e notou que as manchas de sangue faziam pensar que haviam sardas na neve.
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O Mestre Lobo
Era só mais uma ronda pela floresta. Além de acampar e caçar, eles também tinham que trazer um pouco de erva ao Mestre Lobo para que seguisse seus rituais. Passariam alguns dias fora e na segunda noite se instalaram perto de um monte de onde podiam ver a aldeia Guilar dos humanos. O coelho já cheirava bem na fogueira e eles começaram os agradecimentos à Mãe Natureza antes de se servirem. Hunter, o falcão de Eliezer se aproximava chegando de seu voo noturno e pousou nos ombros do elfo como de costume. Seja lá quais foram as palavras da ave, elas não agradaram Eliezer. - Randalf, o coelho terá de esperar. Há homens seguindo para o vilarejo. Hunter os viu chegar. - Será que eles irão atacar um local desses? Não valeria a pena. -Pode não ser nada, mas vamos chegar mais perto para entender o que está acontecendo. - Melhor apagar a fogueira então. Os dois desceram pelo monte e seguiram até a aldeia margeando a estrada a passos leves e sorrateiros. Os visitantes chegaram montados e armados pela estrada oposta com as tochas recém acesas. - Eles vieram pilhar — disse Eliezer — Não podemos permitir, Randalf. Fique aqui. Irei ter com eles. - Mas eles são muitos, Eli. Como vai conseguir impedir um grupo desses? - Prometo que voltarei, Randalf. Só não apareça para estragar as coisas. Eliezer sumiu nas sombras e surgiu muito adiante em cima de uma das casas de madeira quando uma tocha fora jogada sobre ela. O elfo pegou-a no ar impedindo que um incêndio começasse dali. - Parem, homens. Eu vos advirto. — gritou a todos. - Quem é esse puto desgraçado? — Indagou o humano que sacava de sua alabarda. - É um elfo — respondeu o homem que havia jogado a tocha. - Um elfo morto — disse o bandido com a espada após cuspir no chão. Randalf contou sete homens. Eliezer não tinha chances contra eles. Ele viu o elfo sumir por trás das casas e dali surgir um imenso urso. Hunter sobrevoava sobre a cena em círculos. Um dos sete lançou a primeira flecha na besta fera e foi esse o primeiro alvo do animal. Os seus gritos foram abafados quando ele se afogava com o sangue que saia de sua garganta em meio as presas do urso. O segundo homem tinha uma espada e falhou miseravelmente em seu intento caindo antes mesmo de chegar próximo ao seu alvo. A sua cabeça foi esmagada pelo peso do urso que saltou sobre ele. Os homens mais afastados lançaram flechas e três delas se encravaram no corpo do urso Eliezer. De cima de seu cavalo, o capitão investia a toda velocidade com sua espada e acertou a lamina na cara do monstro que urrou. O barulho naquele momento já era infernal. Os moradores começaram a aparecer aos poucos. O urso avançou sobre o homem e arrancou-lhe as tripas. Os gritos do homem que estava morrendo ali eram guturais. As flechas vinham em outra saraivada e acertaram em cheio o urso que escolheu o seu alvo e avançou para matar mais um. Um dos moradores derrubou outro arqueiro com uma paulada na cabeça. Só restava um homem em pé agora. O urso o encarava de longe e começou a avançar. Não chegou antes que pudesse recebe uma flecha na cabeça, mas mesmo assim o sangue daquele arqueiro foi derramado pela fúria da natureza. Os moradores se compadeciam aflitos do grande urso que os salvara e tentavam ajudar, mas ele sumiu na escuridão da floresta.
Chegando próximo a Randalf, o urso se desfez revelando Eliezer. - Eu disse que voltaria logo, Randalf. - Você está morrendo Eliezer. - Sim, mas não se preocupe. Já lhe ensinei tudo o que sabia. - Heei, vocês! — Randalf gritou — Ajudem-nos. Ele está morrendo. Quando os aldeões chegaram, o elfo já havia dado seu ultimo suspiro.
Eliezer era amigo de Randalf desde que o encontrou nas florestas densas há 5 anos. Randalf havia saído da casa do pai após uma briga e decidiu viver fora por um tempo. Quando caçava na mata, foi interrompido por Eliezer que o levou ao Mestre Lobo. Mestre Lobo o ensinou a caçar com respeito a natureza e se ofereceu para treiná-lo junto ao elfo. E na floresta viveu durante todos esses anos longe dos pais e de seu irmão.
Voltando para casa, nas florestas densas ao norte, Randalf entregou ao Mestre Lobo o corpo de seu companheiro. - Mestre Lobo, o senhor não sabe o que aconteceu. Eliezer me disse que — - Eu sei bem o que foi dito, Randalf — Respondeu o Mestre Lobo. A sua frente, o corpo de Eliezer se secou de súbito. Folhas surgiram por dentre os olhos, galhos apareceram nos lugares dos braços e pernas e o corpo todo se cobriu de casca de arvore. Eliezer se tornara uma planta desforme em meio a tantas na floresta. - O que aconteceu com ele, mestre? - Ele quem? — respondeu - Eliezer, o seu corpo se transformou. - Na verdade, Randalf, Eliezer voltou a ser o que era. Uma planta hedionda em meio as arvores. Mas ele ainda vive. Não mais com aquele nome, não com aquele corpo. Ele vive como um lobo que protege a floresta do que o homem faz. Eliezer ainda é seu mestre.
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A Queda de Gendth
Tentava respirar mas tudo que conseguiu foi sentir o gosto de sangue. Abriu os olhos e se viu em meio as trevas. Todas as forças que tinha em si, ele gastou para tentar mexer o braço direito. “Onde está o meu machado?”Uma voz no fundo de sua mente perguntou. Depois de tudo ele fez o que qualquer um faria. Aceitou o fim e a dor se foi. Uma luz forte vinha de algum lugar. A dor veio junto com o amanhecer mas a neve não cobria mais todo o seu corpo. Após um grande esforço conseguiu levantar a mão na altura dos olhos. Os dedos rangiam, mas ainda estavam lá. Demorou uma eternidade pra conseguir se erguer em meio a neve rasa. Dessa vez ele podia sentir o chão firme abaixo dela. Quando as lembranças do dia anterior lhe vieram a mente pela primeira vez, ele quase foi ao chão novamente. Não caiu porquê algo se acendeu dentro de si. Uma mescla de sensação de fúria e impotência. Homens. Milhares deles vindos do mar ao sul invadiram as terras de quem o havia abrigado. Um pequeno forte de um senhorio foi tomado pelos karnigans em poucas horas de ataque. Ele tentou fazer o melhor, mas não pode salvá-los. Queria ter morrido esta noite. Nem isso eles fizeram a ele. “Má sorte essa a minha. Má sorte essa a deles”. Em uma luta de um pra um contra um lanceiro ele caiu do alto dos muros do Forte Ghend. Seu corpo ficou na neve o restante daquele dia e a noite inteira. Agora ele se enfia na floresta de forma sorrateira. Parou adiante para ver o que havia de errado em seus pés. Ao tirar a bota, dois dedos já estavam mortos. Não foi difícil tirá-los, não foi fácil prender todos os gritos de dor dentro de si. Pior ainda foi seguir em frente depois disso. Agora, longe de onde estava, já podia sentir o cheiro de ervas fervidas mais forte agora. Uma cabana minúscula se desenhava a sua frente. - Você pode desistir, você pode acabar com tudo isso. Eu garanto que vai doer bem menos do que se você vir até mim — Uma voz vinda de dentro da cabana ecoou pelas árvores. Ele chegou a porta. - Se é isso que você deseja, terá. Não há quem diga que não mereça. Um homem se apresentou ao abri-la. Rolfs nunca o tinha visto, mas sempre soube de sua existência. O vento trazia os odores ao Forte daquele lugar. - Achei que nunca viria até mim, Rolfs. Eu já estava começando a duvidar da arte das runas. - Isso seria duvidar de si mesmo. Você sabia o que iria acontecer, por que não o avisou? - Não havia motivos para eu me intrometer. Você sentiu o cheiro deles, mas também não conseguiu evitar. - Não havia escapatória, não havia como impedir. Eles já estavam próximos demais. - O que sabemos agora, é que não podemos mudar isso. Sente-se. Precisamos costurar o que a lança fez no seu peito antes que seja tarde. E também devo tratar seus pés com fogo.Quando melhorar iremos partir. - Não tenho pra onde ir, bruxo. - Quanta bobagem. Não sou um bruxo. Sou só Pippo. As runas me mostraram essa manhã o caminho que devemos tomar. Um liquido fervia no fogo, uma caneca de madeira foi preenchida e Rolfs a bebeu. A dor foi embora rapidamente. Enquanto seus pés estavam sendo tratados a fogo ele olhava para a mesa inclinada que continha uma pedra lisa com um desenho confuso ao lado. Apesar da dificuldade em enxergar por conta das ervas, não pôde deixar de lembrar dos mapas que leu no Forte Gendh. Aquele desenho tinha o formato da Ilha de Beladonna.
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Um bardo clandestino
“Eu viajei todo o mundo e já vi muito do que há nele. Vi baleias voando nas geleiras do fim do mundo ao sul. Vi homens que viviam em um reino à uma légua de profundidade no mar, castelos tão altos que se perdiam nas nuvens, dragões de todas as cores, exércitos à perder de vista. Eu vi todo tipo de horror. Vi outras coisas que fariam com que me tomassem por um grande mentiroso agora mesmo se eu lhes contasse. Nunca fui capitão de um navio, nem general em uma guerra, nem tive um dos dragões que vi como amigo para me levar pelos céus. Hoje pela manhã fui descoberto nos porões do Jhoana. Um homem forte e truculento me arrastou até o convés e me revelou à todos. Ouvi todos os tipos de desonras à mim enquanto a chance de violência aumentava. Eu não conseguia encará-los e fitava o chão enquanto ouvia as injurias. Foi quando a tripulação se calou e eu ouvi passos firmes em minha direção. Quem quer que fosse, ao chegar perto de mim desembainhou uma espada. Eu tenho muito bons ouvidos e sabia que era uma cimitarra. Em meio a todo desespero fiquei feliz por saber que eu teria uma morte rápida. Minha cabeça rolaria e talvez eu pudesse ver o céu uma ultima vez. - O que isso é com você? - Eu estava surpreso, mas ainda sem coragem de olhar pra cima respondi. - É meu bandolim, senhor, digo... - E você sabe manejar o instrumento? - Sim e também sei cantar, senh-- - Pois bem então, me mostre. Me arrastei até meu velho bandolim com um nó gigantesco na garganta causado por toda a tensão do momento. Tentando desatar o nó, me levantei e olhei em volta... Os seus olhos estavam fixos nos meus, ela se alimentava do meu pavor...Os seus cabelos negros como o fundo do mar se continuavam após a cintura, um nó se desfez na minha garganta depois dessa visão. - Meu pai costumava tocar e cantar para mim, hoje celebro meu vigésimo terceiro ano. Se você tocar como ele, sua vida será poupada. - Senhora, Marianarys, sempre ouvi histórias sobre você, quando entrei aqui eu nunca pensei que fosse o seu navio. Agora ao vê-la com certeza tenho inspiração para tocar durante uma vida toda e ainda um pouco mais. A noite foi de vinho e alegria para o bardo, e nada no mundo foi tão encantador para os olhos de quem ali estava quanto vê-la dançar.”
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O Barba Ruiva
“Dia 37 do Verão, quinto ano do Rei Berry. Um dia sagrado no meu país. Estamos à três dias de viagem da Ilha de Beladonna.
Ontem à noite o mar estava calmo e todos foram para os porões. Cada um dos tripulantes, inclusive o capitão, colocaram suas pedras de sorteio para as lutas. Teríamos cinco combates ao todo. Saiu um resultado que por mal ou por bem, todos temiam que um dia acontecesse. Capitão Clareborn foi sorteado para lutar contra o filho, Makduk. Enquanto os tambores quebravam o silêncio, via-se no olhar do jovem Makduk o intento de mostrar ao pai o seu valor. Não há nada melhor do que um combate de mãos limpas onde os homens se tornam animais selvagens legitimos. Os dois homens do mesmo sangue estavam posicionados e o calar dos tambores era o sinal para que a luta começasse. Capitão bravejou e avançou a toda contra o filho que se desviou girando e deu mais impulso a corrida do pai com um chute de sola. Os deuses e suas piadas... Quantos homens eu vi se chocado contra aquele pedaço de madeira atravessada na parede do convés e voltavam com mais fúria para a luta? Esse não foi o caso de Clareborn que encontrou seu descanso ali mesmo. Agora ele mergulha nos mares junto com o filho que foi encontrado enforcado pela manhã. Hoje o vento sopra e o mar nos leva ao nosso destino, mas só se ouve o barulho das velas e do mar no bom e velho Intruso. Decidiram o novo capitão em uma votação há menos de uma hora. Antes dessa minha primeira viagem de guerra, eu vivia a vida como um pescador. Mas eles sabem que não há ninguém entre essas madeiras com mais sede de vingança do que eu. Agora, assim como antes, nós avançamos. Choramos mais essa perda, mas levantamos as velas. Sentimos toda a dor, mas remamos. Temos sede... Temos fome... E nosso banquete nos aguarda na próxima parada, onde iremos nos saciar com o sangue inimigo. Capitão Mottan, O Ruivo.”
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Forasteiro
“Certa vez, em uma aldeia qualquer e muito longe daqui, se via à distância a figura de um homem se aproximar. A cada passo pesado desse homem em nossa direção a visão ficava mais clara. O forasteiro estava bem armado e vestia armadura, mas não tinha um cavalo. Tinha na calça barro até os joelhos e se via os seus ossos por trás da sua pele negra e brilhante abaixo do sol. À ele foi servido sopa de rã com grãos. Ele se banhou e limpou suas vestes, mas não limpou sua espada suja de sangue seco. Dormiu no estábulo do leiteiro junto com a vaca. Três dias depois, em uma noite estrelada, labaredas de fogo se levantaram em busca do céu. Baldes de água e barris de cerveja foram desperdiçados na luta contra as chamas. Não foram só casas e pertences que se perderam naquela noite... Ao nascer do sol, o forasteiro estava preso em uma jaula feita para gatos selvagens. Disseram-lhe que em breve pagaria pelos seus crimes, assim que os mortos fossem enterrados. Deixaram-no aos cuidados dos cães de caça enquanto todos velavam os mortos. Ao fim da cerimônia, quando a última pedra estava colocada em cima do último cadáver, ouviu-se um grito na entrada do jardim dos ossos. O forasteiro estava com sangue por todo o corpo. Em uma das mãos estava a sua espada enrubescida e na outra as cabeças de três foragidos. Foi dado ao forasteiro o único cavalo da aldeia como recompensa por ter vingado os mortos matando os assassinos incendiários. À ele foi servido sopa de rã e grãos. Ele se banhou e limpou suas vestes, mas não limpou sua espada suja de sangue. Ele chegou e partiu sem dizer uma única palavra.”
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