revistatrem
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literatura desgovernada
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revistatrem · 4 years ago
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É Dia de Poesia
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Mariana é aluna do 2° ano, no curso de Informática Integrado ao Ensino Médio no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). Em uma de suas atividades remotas que estão acontecendo nesse período pandêmico, na aula de Português, a professora Walkiria pediu para que os alunos elaborassem um resumo com o que aprenderam sobre o conteúdo do 1° trimestre: Concordância, Regência e Preconceito Linguístico. Mariana surpreendeu pela sua criatividade que transformou essa simples atividade, em arte.
Capital semântica
O mineirinho de Pirapora Que o plural no verbo não conhecia Combinava com a singularidade da vida do substantivo E um choque cultural se aflorava Lhe deixando despido de concordância Sendo julgado pela falta de tolerância Passado, presente e futuro Semântico, nominal e verbal Todos esses nomes, Desconhecidos pra quem não vinha de capital O gaúcho do interior Rejeitado pelo doutor Cujo sotaque tinha muito esplendor Há, houve e houveram regência de pai e de mãe, Ontem, hoje e amanhã avisam das inscrições Estão ou está, aberta ou abertas Escola da vida Um erro simples, ser humano simples Gramática é matéria Não adjetivo comum, não ofensor de alguns.
- Mariana Borges Ferreira Tizzo
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revistatrem · 4 years ago
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Modern Love: os amores reais e seus desencontros
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“Ninguém fica amargurado com histórias de amor, perda e redenção”
Um amigo, hoje, contou para mim, e todas as outras pessoas que fazem parte dos seus “melhores amigos” do instagram, que começou, tardiamente, a ler Harry Potter. Eu não costumo lembrar muito bem da minha infância, boa parte são borrões descoloridos que vagam pela minha mente. Mas, tem esse dia, no Natal, que ganhei de presente os primeiros quatro livros de Harry Potter. Estávamos na casa de minha avó, onde o Natal  sempre é intenso e rápido, pois Dona Júlia dorme cedo. Eu  não me lembro de quem recebi o pacote, mas lembro que abri no quarto. Eu dormia na beliche de cima, mas por algum motivo me sentei na cama debaixo. Rasguei o papel, joguei debaixo da cama e admirei a capa de cada livro. Lembro-me do cheiro das páginas, da textura, das cores. E foi assim, que eu abri o primeiro volume e comecei a ler.
A leitura sempre me moveu. Trouxe sensações e catarses que pareceram me preparar para a vida. Ou quase isso, já que nunca gostei de livros sobre apocalipse mas cá estou eu, mapeando a distância da minha casa até o supermercado e entitulando a tática de “Plano de Sobrevivência 2020 -  Fase 1”. A leitura moldou os meus objetivos e acabou como o primeiro motivo para várias decisões que tomei. Isso tudo seria surpreendente se não fosse meramente casual. Afinal, a leitura estava lá, e na vida, várias coisas estão lá ou, quando deixam de estar, parecem ocupar ainda mais lugar dentro de nós. E a casualidade de tudo isso fica ainda mais bonita com a nostalgia da lembrança. Exatamente sobre essa quase dicotomia entre casualidade-memória que a série Modern Love me faz pensar.
Modern Love começou como uma coluna no The New York Times, em 2004, contando histórias de amor através de relatos reais enviados por e-mail. Em 2013 a coluna chegou a receber 80.000 relatos. Em 2017 foi lançado o podcast, no spotify[1]. Já em 2019, uma série, produzida pela Amazon Prime Vídeo, teve sua estréia, além  do lançamento de um compilado de relatos em livro, no mesmo ano. Em todas as plataformas e meios de representar a vida pelo amor, temos uma leveza. A escolha da trilha sonora, a ambientação, o tom de voz dos narradores, tudo traz à tona justamente a casualidade das emoções que fazem parte de toda uma vida.
Quando escrevemos um relato autobiográfico, em primeira pessoa, indicamos que tal memória que ali transita pelas palavras tem dono, o eu. Para quem lê – o outro – a escrita em primeira pessoa, como nos primeros parágrafos deste texto, dá uma sensação de distância. Aquela memória do natal é minha, de mais ninguém. Ao mesmo tempo são abertas brechas para que o leitor encontre lacunas subjetivas, interpretações que adentram o espaço do desconhecido deixado pelo narrador. James Wood chama isto de “narração não confiável”.
Na série, no episódio “Me aceita como eu sou, quem quer que eu seja” a transmissão da narração não confiável aparece tanto através do elóquio da personagem, enquanto ela preenche o “quem sou eu” de um site de namoros, como na construção das cenas. Suas sensações de felicidade ou tristeza são apresentadas não apenas seguindo o curso normal da vida real – além do sorriso no rosto e roupas coloridas, quando a felicidade toma conta da personagem as cenas e os coadjuvantes começam a agir em prol dela, como em um musical. Essa estratégia de direção somando a temática do episódio, que trata sobre ser bipolar em mundo não-bipolar, deixa claro que o poder da narrativa e da construção das cenas faz parte de uma tentativa de olhar o momento pela ótica da narradora-personagem.
Assim como eu destaquei a leitura ao relembrar sobre minha vida a partir de uma memória específica, cada episódio, tanto do livro, série ou do podcast, faz a mesma coisa, e a narração não confiável carrega tanto a intensidade dos acontecimentos quanto a casualidade que estes são contados. Por isso, quando ouvimos o podcast, principalmente, a catarse é recorrente. Nos identificamos, não com a história idêntica, afinal o eu está ali para tomar para si aquela experiência – mas é o desenrolar emotivo que faz com que cheguemos ao “eu também senti isso”. Uma vez que todos nós já amamos, perdemos alguém, passamos por dias tenebrosos ou que beiraram a perfeição. A identificação é certeira e compartilhada com o narrador.
A amizade entre um porteiro e a moradora do prédio, um amor não superado apesar da mágoa, uma amizade que ajuda a superar doenças, um casal em crise pós-filhos-crescidos, um encontro totalmente inesperado, a relação de pessoas sonhando em contruir uma família, uma momento freudiano, e o vazio deixado pela morte. No mínimo com um destes temas nós nos identificamos em nossas vidas. Com no mínimo um desses episódios, disponíveis no Amazon Prime Video, você vai lembrar de sua trajetória. E quando digo lembrar, digo quase que fisicamente – os cheiros, as texturas, as cores, a excitação, a dor.
Paula Goulart, diretora de redação da vir-a-ser Revista Trem
[1] E para aqueles que ficaram desejando essa experiência pelo podcast, mas estão desmotivados pelo fato de ser em inglês, deixo aqui uma opção: recentemente pude cair aos prantos ouvindo o episódio “O colecionador de vagalumes” do Gugacast, no spotify. A pegada deste podcast é um pouco mais aberta, a leitura dos relatos reais acontece com reações de outros participantes, o que nos deixa ainda mais confortáveis e sensíveis às sensações, que não precisam de definição.
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revistatrem · 4 years ago
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139 Anos de Lima Barreto
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Há 139 anos nascia o escritor Lima Barreto, decendente direto de escravos e apenas sete anos mais velho que a abolição da escravatura. Sua produção literária entre-fases, que se deu no período de transição do Realismo para o Modernismo, só foi reconhecida após sua morte, em 1922. Isso apesar de ter escrito ativamente romances, crônicas, sátiras contos e ter fundado e trabalhado em revistas culturais.
Lima denunciava, entre outras coisas, o racismo, através de suas obras e para além delas também. Viveu nos tempos em que os governadores implantavam políticas de embranquecimento e cientistas avaliavam que até o ano de 2015 a população negra já não existiria no Brasil. Um de seus dizeres na dentativa de enfrentar essa política e a descriminação racial foi: “Quanto à raça, os repetidores das estúpidas teorias alemãs são completamente destituídos das mais elementares noções de ciência, senão saberiam perfeitamente que a raça é uma abstração, uma criação lógica, cujo fim é fazer o inventário da natureza viva, dos homens, dos animais, das plantas e que, saindo do campo da história natual, não tem mais razão de ser”.
Seu arsenal literário era constituído principalmente por russos, franceses, poucos alemães e ingleses e alguns brasileiros. Os personagens do autor possuíam grande proximidade de si, assim como Lima deles, mas isso não impediu que houvesse uma independência identitária entre eles. Mesmo quando Lima assinou seu nome quando era para ser assinado o do personagem e vice-versa. Podemos usar como exemplo seu livro de estréia “Recordações do escrivão Isaías Caminha” em que o protagonista passa a entender sua posição e imagem na sociedade a medida que tenta a vida na cidade grande, assim como aconteceu como Barreto.
Sendo internado duas vezes em manicômios, devido ao alcoolismo desenvolvido através de multiplos fatores sendo sua exclusão social derivada do racismo um dos principais motivos, Lima morreu com apenas 43 anos, sem colher quase nenhum fruto de sua produção. Vale ressaltar que na época o alcoolismo era tratado como uma forma de loucura, por isso sua internação em manicômio.
Suas obras, em grande parte, estão sendo publicadas pela Companhia das Letras. Se quiser saber mais sobre o autor, recomendamos principalmente “Diário do Hospício e o Cemitério dos Vivos”  por Lima Barreto, “Lima Barreto – Triste Visionário”, da grande historiadora e especialista em Lima Barreto, Lilia Moritz Schwarcz.
  Equipe Trem
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revistatrem · 4 years ago
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Uma Apresentação Autobiográfica
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No começo de Além do Bem e do Mal, Nietzsche pensa que toda filosofia é autobiográfica. Talvez toda escrita na verdade seja autobiográfica, ao menos em um sentido de que ela parte de um ponto específico da nossa espécie. Uma certa bio-grafia. Uma bio-grafia sobre algo escolhido de uma subjetividade, descrevendo o que vê e como vê tal objeto de sua escrita. Portanto, uma auto-bio-grafia. Acho que isso é acima de tudo o que busco, minha auto-bio-grafia para contar a minha história, não como me foi acometida, mas como a vejo ao meu redor.
Se em Nietzsche essa auto-bio-grafia pode ser entendida como algo mais individual, em Marx, ela é coletiva. Em 18 de Brumário, Marx diz que nós não fazemos a nossa história como queremos, afinal, tudo que está posto à nossa volta não é de nossa escolha mas foi feito por outrem, pessoas mais velhas, mais distantes ou mais mortas, e as consequências dessas ações coxeiam nossos feitios. Talvez na nossa escrita não tenha nada de plenamente auto.
Para Camus, em seu personagem Meursault, a felicidade só existiria em ter dentro de si a mesma indiferença gentil refletida no resto do mundo. O entendimento de que não há barreiras entre um indivíduo e o mundo em volta dele é uma negação, parcial ou total, daquilo que o faz único - seu corpo, a sua identidade, o seu bio. Essa negação de uma separação entre aquilo que sou eu e aquilo que não sou é algo que só pode ser descrito como absurdo na nossa realidade hiper-individual. Afinal, todos os nossos aplicativos teimam em afirmar quem somos. O absurdo de nossas vidas, só teria sentido se não fosse um fim em si mesmo, mas um começo.
No meio desse absurdo hiper-individual em que nos encontramos, Harari, no seu livro Sapiens, especula que os homo sapiens erram pela terra por pelo menos 300 mil anos, em contrapartida a escrita é usada só há 6 mil anos. Como conciliar uma existência milenar, ágrafa e comunitária com nossa experiência egocêntrica, efêmera e solitária? O que dizer sobre uma espécie que usou a escrita por tão pouco tempo mas que não consegue se reconhecer em outras formas de viver? Somos, coletivamente, neófitos na escrita.
Nossa auto-bio-grafia se mostra bem menos auto, muito menos bio, nem talvez grafia. Termino esse texto nem me apresentando, para quê afinal, se o objeto da minha escrita não sou eu mesmo? Se apenas comecei a minha autobiografia, que ela não seja somente subjetiva, absurda ou egocêntrica.
 Bruno Biaso, colunista da vir-a-ser Revista Trem
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revistatrem · 5 years ago
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Quarentenados sonham com a volta pra casa?
“Toda ficção é metáfora. Ficção científica é metáfora. O que a separa de formas mais antigas de ficção parece ser o uso de novas metáforas, tiradas de alguns grandes dominantes de nossa vida contemporânea – ciência, todas as ciências, entre elas a tecnologias e as perspectivas relativista e histórica. A viagem espacial é uma dessas metáforas; assim como a sociedade alternativa, a biologia alternativa; o futuro também. O futuro, em ficção, é uma metáfora.” - Úrsula K. Le Guin, introdução do livro A mão esquerda da escuridão.
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Quando ficou decidido que a adaptação que recomendaríamos essa semana seria a do livro “Andróides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick, logo me coloquei a disposição para escrever um texto sobre ela. Antes de mais nada, deixo claro que essa adaptação não se encaixa de forma alguma no dizer “o livro é bem melhor do que o filme”.
O livro e a adaptação cinematográfica, que levou o nome de Blade Runner, carregam poucas similaridades. O enredo, alguns personagens, encontros e a discussão sobre o que é ser humano. Devido a essas poucas semelhanças as duas formas de arte enveredam por diferentes rizomas, brilhantes em sua própria maneira.
O enredo acontece em uma Terra que passou por uma guerra chamada Terminus, que matou a maioria da vida no planeta, tanto animal quanto vegetal. E a trama gira em volta de Rick Deckard, um blade runner, profissão que tem como objetivo aposentar andróides chamados de “replicantes”. Os replicantes são assim nomeados devido a sua aparência humanóide, e são “aposentados” pois, segundo Mercer, o profeta do mercerismo, religião presente no livro, “só matarás assassinos”. Mas não há diferença entre essa aposentadoria e a morte.
O Rick, do livro, tem como objetivo rastrear e aposentar seis replicantes do modelo Nexus-6 que fugiram da colonia de Marte para a Terra. E, seu interesse final com isso é conseguir comprar um animal de verdade para fazer companhia para sua ovelha elétrica. Vale dizer que a aquisição de um animal tem grande valor, pois a empatia com os seres vivos ganhou um novo peso após a criação dos andys, replicantes, que são detectados pela falta dessa virtude dita como exclusivamente humana. Já no filme, Deckard vai atrás de quatro replicantes e simplesmente por ser seu trabalho.
A identificação dos replicantes é feita através do teste Voight-Kampff, que leva o nome de seu criador e é baseado em várias perguntas que giram em volta de empatia. Durante o interrogatório uma câmera é apontadadiretamente para o olho do entrevistado enquanto o blade runner acompanha os reflexos ao decorrer das respostas. Definindo, assim, o interrogado como humano ou como replicante a ser aposentado.
A empresa que cria os replicantes e tem o nome, no livro, de Rosen e, nos filmes, Tyrell, é comandada por um velho extremamente malicioso chamado Eldon. Que, como um desafio, submete sua sobrinha, Rachel, ao teste Voight-Kampff, aplicado por Deckard, na primeira visita investigativa do blade runner.
O Voight-Kampff indica que Rachel é uma replicante. Com um jeito irônico, com argumentos de que a garota foi criada no espaço e que era psicologicamente definida como apática, Eldon diz que o teste errou e Rachel confirma. Quase perdendo a fé no teste, Deckard decide fazer mais uma pergunta, e através dela percebe que na verdade Rachel não sabia ser replicante, crendo ser tão humana quanto qualquer um dos dois. A partir desse ponto o blade runner entende que o tamanho do desafio que tem pela frente é maior do que imaginava.
Falando sobre a angústia do som do vazio existente em uma terra abandonada e abarrotada de poeira tóxica, a ausência de emoção quando sentimentos podem ser ajustados através de canais em um aparelho, tratando da necessidade do homem moderno em se sentir útil ou especial para se sentir feliz, escancarando a artificialidade das virtudes humanas provocada por uma repetição sem reflexão, questionando o que é ser humano quando a humanidade é um conceito tão duvidoso, trabalhando o destino e sua forma estranha de construir a literatura de cada um, “Andróides sonham com ovelhas elétricas?” foi, sem dúvidas, um dos livros mais importantes do século passado. Talvez, do milênio. E sua adaptação, que questiona se é tão importante a diferença entre o humano e o não-humano, e a empatia que quebra a barreira e coloca em cheque o que é estar vivo, seguiu os mesmos passos dando uma nova história a um enrendo fantástico.
O tempo de isolamento pode nos trazer angústias ao sermos colocados de frente com diferentes ausências e vazios que preenchíamos com a correria do dia-a-dia. Faça desse um momento de reflexão. De volta para si. Tente ficar no aqui e no agora e não se esqueça que, por mais que nos achemos sabidos, ainda estamos na aurora da humanidade.
Para finalizar, gostaria de colocar uma frase do autor, Philip K. Dick, para refletirmos sobre a tecnologia nas nossas vidas “humanas”.
“Coisas vivas e não-vivas estão trocando de lugares...” - Philip K. Dick, O homem duplo.
Gabriel Brenner, editor-chefe da vir-a-ser Revista Trem
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revistatrem · 5 years ago
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7 Perguntas
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Para estrearmos nossa coluna chamada 7 perguntas convidamos a artista Flor’s Flowers para responder sete perguntas. Mas antes de conferirmos quais as as perguntas e respostas, vamos a uma breve apresentação do quadro e da artista.
Nossa coluna de sete perguntas é quase tão aleatória quanto foi nossa escolha por sete. É um número que de cores no arco-íris, de virtudes listadas na filosofia, de pecados, notas musicais e também de vidas de um gato. Além de ser um número de sorte para alguns da equipe. São perguntas que podem não ir de encontro direto a literatura, mas vão de encontro à linguagem. Sem edição, 100% fluxo pessoal de pensamento.
Agora, Flor’s Flowers. A artista conterranea da revista, porém com um estilo mais psicodélico do que o nosso, megulha em suas emoções e nos sons para produzir sua própria linguagem. Seja em suas músicas ou no clipe que ela mesma produziu é possivel sentir a sinastria existente no conjunto de sua obra levando, como ela disse aqui em uma das perguntas, a “diversos cenários da sua mente”.
Recomendamos seus dois EPs, disponíveis para streaming no Spotify que levam o nome de “Raining Pink” e “Only Dreamers”, além do clipe da música “Lies”, disponível no YouTube e presente no segunto EP.
Por fim, aos leitores as respostas (e as perguntas):
1. Como você vê a influência da música na construção da sua identidade pessoal e musical?
Desde pequena eu sempre tive muito contato com a música pela minha família, sempre fui rodeada por música, minha mãe me colocou no conservatório de música aos 6 anos de idade, além disso sempre a vi cantando em grupos de louvores da igreja que frequentávamos, em grupos de música do conservatório e da universidade, a coisa que eu mais amava na minha infância era quando o grupo do conservatório tinha que fazer uma apresentação fora da cidade e eu ia junto no ônibus, eu assistia a todos os ensaios, era muito lindo, eu amava. A música sempre influenciou diretamente na minha personalidade, basicamente tudo que eu tentei e conquistei na minha vida tinha uma música de fundo, não somente em momentos importantes como também em cenas cotidianas, como escolher qual roupa usar por exemplo. Sempre consegui correlacionar a música em tudo na minha vida, acredito que isso tenha me tornado uma pessoa muito sonhadora e criativa em certos aspectos, pois a música sempre me trouxe uma áurea cósmica que tornava e torna o mundo que vivemos não tão difícil de lidar. Esse processo de construção do meu eu e do meu gosto musical é perceptível atravéz das músicas que me acompanham até então, na adolescência eu costumava a escutar músicas mais deprimidas e isso refletia diretamente na minha personalidade, posso dizer que hoje eu escuto músicas mais divertidas, acredito ser mais divertida hoje também.
2. Você tem algum ritual incomum associado ao seu processo de produção?
Todas as músicas, letra e melodia, que já compus, foram inventadas enquanto eu tomava banho, depois eu tentava tocá-las no teclado. Quando não foi assim, eu começava a brincar com o teclado sem nenhum planejamento, ou expectativa. Creio eu que não seja tão incomum, muitas pessoas que conheço criam música da mesma forma.
3. Como você lida com o bloqueio criativo?
Eu paro de tentar criar e vou tentar fazer algo que não tenha relação nenhuma com o processo de criação. Normalmente o bloqueio vem quando exigem algum prazo, mas até então não precisei ser cobrada, sempre criei tudo com muita liberdade.
4. Em que hora do dia você sente que produz melhor? Por que?
Não tenho hora específica, eu sinto que eu sou mais criativa quando não tenho nada pra fazer ou quando eu estou com preguiça, quando estou entediada. Admito que seja porque minha cabeça esvazia nesses momentos, quando estou sem preocupações ou sem compromissos minha mente funciona como uma folha de papel em branco, pronta para uns rabiscos. Mas quando eu não tenho o luxo de não ter nada pra fazer e deixar minha cabeça funcionar de forma livre acredito que seja a tarde, pois já acordei e ainda não estou cansada do dia.
5. Você aguarda um momento de inspiração para começar a escrever/produzir? Geralmente, como esse se inspirar acontece?
Eu me sinto inspirada escutando músicas que eu gosto, adoro admirar os lugares em que passo, capturando imagens e cenários com meus olhos, isso me inspira. O que mais me bloqueia é minha falta de recursos, é não ter um teclado, é não ter um notebook, é não consiguir administrar meu tempo quando tenho um emprego, é faltar grana pra fazer acontecer, ou então depender demais dos outros. Quando não me falta nenhum recurso externo, financeiro ou material, eu me sinto inspirada e criativa o tempo inteiro. Então eu estou sempre aguardando e correndo atrás do momento em que terei recursos para poder usufruir dos meus momentos de inspiração.
6. Em momentos de pandemia e isolamento social, várias lives de todos os estilos musicais esão sendo feitas. Como você enxerga essa estratégia?
Acredito que tenha ajudado muitos músicos que se viram sem saber o que fazer, além de trazer atenção e maior reconhecimento para muitos artistas também. Quando são realizadas dentro dos padrões recomendados de isolamento não vejo problemas nenhum, somente vantagens.
7. Se você só pudesse ouvir três artistas/bandas por um ano, qual seriam? Por que?
Posso dizer que a banda que mais ouvi ano passado foi Metronomy, e posso confirmar que não teria problemas de ouvir por um ano inteiro. Recentemente eu redescobri duas bandas, que já conhecia porém não tão bem, uma delas é Ghostpoet e a outra é Klaus Johann Grobe, não consigo parar de ouvir mais, então também não teria problemas de ouvir por um ano. São bandas que tem tudo que eu admiro: um tecladinho psicodélico, uma batera doida, um baixo misterioso sensacional (instrumentos que mais me cativam) e uma melodia cósmica que te leva pra diversos cenários da sua mente, e não, elas não tem o mesmo estilo musical, mas posso dizer que todas elas se enquadram nas características que citei.
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revistatrem · 5 years ago
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Respostas possíveis para possíveis questões pandêmicas
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Talvez uma das melhores coisas sobre a ficção científica é poder produzir realidades tangíveis que refletem diferenças entre o real e o literal e que carregam em si possibilidades que dizem mais sobre nós do que os personagens. Nessa sobreposição entre a realidade do leitor e a ficção criada pelo autor, somos levados a questionar posições, certezas e preconceitos contidos dentro da obra e de nós mesmos. A ficção científica sempre foi uma forma literária de testar os limites da civilização humana. E nesse momento, em que esses mesmos limites estão sendo testados em nossas casas, ruas e hospitais, nada melhor do que mergulharmos nos limites do possível, tanto possíveis futuros quanto possíveis presentes, que se abrem como um leque a frente da humanidade, revelando o tanto quanto a nossa imaginação permite.
Muitas dessas histórias encontram-se em realidades inconfundívelmente nossas. No livro de contos “Eu, Robô”[1], Isaac Asimov revela através de histórias do século XXI, como a humanidade aprende a viver com robôs e como esses influenciam as vidas de seus criadores de forma indelével e inseparável. Ainda nesse sentido, em um outro conto, “O Homem Bicentenário”[2], Asimov constrói uma visão do futuro, em um processo dialético de criatura e criação, em que um robô se torna humano, paulatinamente deixando de ser um robô no sentido clássico. Primeiro ganhando direitos de seu próprio trabalho, depois substituindo peças de seu corpo por peças robótico-orgânicas, criando não só um corpo orgânico para ele como também transplantando esses mesmos órgãos para aqueles que precisam. Em uma dramática cena de conclusão em um filme homônimo, o personagem, interpretado por Robin Williams, ganha os direitos de ser considerado um ser humano, resultado do conflito central da história em uma síntese que ainda deixa dúvidas: Onde um robô começa e um humano termina? Até onde ou até quando faz sentido essa separação?
 Em uma outra realidade parecida, a de “Carbono Alterado”[3], em uma versão da Terra apenas algumas centenas de anos na nossa frente, chegaríamos a um momento de nossa evolução, em que por um desenvolvimento tecnológico, toda a consciência de uma pessoa é armazenada na base de sua cabeça, existindo corpos permutáveis, referidos como “capas”, que podem ser vendidos e comprados, e departamentos de polícia que lidam apenas com “dano orgânico”, não mais com homicídios. Neste mundo, visivelmente desigual, cyberpunk e extremamente violento, só os ricos têm dinheiro para comprar capas de sua escolha, e os pobres ficam com as que restam. A trama nos suplica a pergunta: Em um mundo onde os humanos não são mais definidos pelos seus corpos, serão definidos pelo o que?
Se os nossos corpos não são o que somos então, talvez, nos resta aquilo que há atrás de nossos olhos - a nossa própria mente. No clássico, “Matadouro Cinco”[4], Vonnegut explica como um homem, após o trauma causado por viver o bombardeio aliado da cidade de Dresden em 1945, se desprende do tempo e vive não em uma linearidade, caminhando inexoravelmente até sua morte, mas pulando alternadamente e sem controle por episódios diversos da própria vida, embaralhando o próprio sentido coeso do viver de seu protagonista. Impossibilitado de formar as narrativas que uma mente sã constrói e que, consequentemente, dão sentido para nossas vidas, o protagonista vaga no espaço-tempo, eternamente atônito, seja nos melhores ou piores momentos de sua vida. Como entender uma mente tão refratada que nem se quer experimenta o tempo como nós o entendemos?
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Philip K. Dick, no conto “Minority Report”[5], tece uma trama sobre um detetive de um departamento que prende pessoas por crimes que elas ainda não cometeram baseado na clarividência de três mutantes. Quando o próprio detetive é acusado de um crime e precisa fugir para que possa provar a sua inocência, ele corre atrás dos relatórios dos mutantes e ao ler um relatório conflitante com os outros dois, justamente o relatório minoritário, decide cometer o homicídio que foi previsto, selando o seu destino previsto como assassino. Ao conhecer mais sobre seu destino o detetive percebe quão inexorável os seu atos são, e decide fazê-lo ao entender que suas ações seriam o “mal menor.” Ao enxergarmos um erro aparentemente inevitável no nosso próprio futuro, será que não temos escolhas para detê-lo?
O empenhado doutor (atualmente, doutora) de “Doctor Who”[6], tira essa dilação temporal de letra. Apesar de reencarnar várias vezes (atualmente em sua décima terceira), a personagem mantém um senso de si (apesar de sempre mudar de personalidade e até sotaque) vagando pelo espaço e tempo com a mesma missão desde sua primeira encarnação: ajudar aqueles que precisam de sua ajuda. Sua experiência de vida, longe de danificada ou embaralhada por cada encarnação, é enriquecida com novas perspectivas e novos ajudantes que encontra em suas aventuras. Transitando entre passado, presente e futuro, (por vezes encontrando si mesmo em outra encarnação) a doutora nos mostra que nossas diferenças, mesmo as nossas próprias, definem quem justamente somos.
No mundo cosmopolita e futurista de “Estação Perdido”[7], em meio a humanos e dezenas de outras raças, as diferenças gritantes entre espécies nos levam a uma outra diferença mais fundamental. Uma das personagens principais namora uma mulher khepri, um ser que tem a cabeça de um besouro mas o corpo de uma mulher humana. Os khepri são um povo em diáspora, muitas vezes vivendo no mundo de Bas-Lag em favelas com poucas lembranças de seu mundo natal ou mesmo de sua religião e cultura. A aparente animalização dos fictícios khepri nos leva a perguntar sobre os efeitos do epistemicídio e a bestialização de entes reais.
Usamos a ficção para continuarmos a debater sobre as perguntas essenciais da condição humana. Afinal, o que define o ser humano? Suas semelhanças? Suas diferenças? Seus corpos? Sua experiência sensorial? Seus atos? Mas a alegria da ficção científica, e da vida, é a jornada, e não o destino. Cada experiência contribui para a conversa como um todo, e a conversa como um todo reflete e é refletida nas questões do presente, em busca de soluções futuras. Não há nada mais humano do que refletir sobre essas possibilidades e entender através desses experimentos mentais nossos triunfos e nossas limitações a fim de buscar na imaginação futuros melhores entre nós.
Ora, por que falar de ficção científica em um momento como esse? Em um momento que chegamos a estimados duzentos e cinquenta e oito mil mortos por uma pandemia deflagrada a menos de seis meses, será esse texto um apelo ao primeiro estágio do luto - a negação, a fuga da realidade? Não, a reflexão do que nos torna humanos, é justamente o contrário, é a afirmação dos valores e práticas que nos tornam o que somos e possibilitará o que seremos.
Cada país, baseado na sua realidade concreta, luta (ou não) contra a pandemia. Esse caleidoscópio de realidades possíveis reflete e refrata nas relações desses países entre si produzindo ora antagonismos, ora colaborações. Essas aproximações e afastamentos resultam em episódios emblemáticos com pontos fulcrais, por exemplo, ventiladores pulmonares: de países que os doaram para contribuir à sobrevivência de cidadãos estrangeiros; países que proibiram a exportação deles para utilizá-los só para os seus; ou países que roubaram cargas deles, comprados e enviados por outros países, em um ato desesperado de egoísmo e negação do outro.
Em seu novo livro (mal compreendido pelo chanceler), Zizek[8] nos avisa que não haverá um retorno às nossas vidas de antes, e as nossas vidas futuras não estão ainda prontas para sabermos como será. Só nos resta pensar sobre o futuro, aliados à ficção científica e nos fazer a pergunta sugerida pelo autor: “o que há de errado em nosso sistema atual para sermos pegos despreparados por essa catástrofe, apesar de os cientistas estarem há anos nos alertando sobre ela?” A resposta para essa pergunta, longe de necessitar de uma negação do outro, será encontrada apenas na síntese conjunta dos problemas da humanidade.
Bruno Biaso, colunista da vir-a-ser Revista Trem
[1] Publicado no Brasil pela editora Aleph;
[2] Publicado no Brasil pela editora L±
[3] Uma série original Netflix disponível na plataforma de streaming;
[4] Publicado no Brasil pela editora Intrínseca;
[5] Publicado no Brasil em um compilado de contos chamado “Realidades adaptadas” pela Editora Aleph;
[6] Série original BBC One disponível para streaming na plataforma Globoplay;
[7] Publicado no Brasil pela editora Boitempo
[8]O livro que leva o título “Pandemia: covid-19 e a reinvenção do comunismo” foi publicado no Brasil pela editora Boitempo;
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revistatrem · 5 years ago
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Literatura vendaval
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Página preta, fonte preferida, Courier New, sempre quis saber o que significa, nunca procurei. Talvez a mágica esteja no toque de máquina de escrever, com um tom de algo que só segue em frente, vai entender… Tudo isso pra me sentir mais confortável, me visto do que parece estável. Se eu tenho que falar de mim, vai ser algo rimável e com certeza vou socar meu nariz no meio. É maior que eu, é o que chega primeiro.
Uma das primeiras coisas, que bebê percebe, é com quem ele parece. Daí pra frente, muita coisa a gente esquece, mas característica física fica, mesmo quando cê cresce e acendem as luzes. Nariz veio do meu pai, também é da vovó Lurdes. Ainda, tenho, mais ou menos, o nome dele. Ele é Walker, eu Walkiria, muita água passou debaixo da ponte, até hoje em dia, mas nunca vou deixar de ser sua filha, mesmo que eu e meu irmão não saibamos definir o que é família.
Já da dona Carminha, herdei coração e a teimosia, que também era da vovó Maria. E delas, de oração em oração, já com características físicas e personalidade, de Kira, eu comecei a observar a cidade e me apaixonei pelo mundo. E se você visse tudo o que eu já vi, ficaria mudo a ouvir. Mas também é o que me faz menina do sorriso fácil e eu não disfarço… a cada passo que eu dei no tempo, sorrir ficou mais bento.
Eu já me encasquetei em cantar, mas me encontrei ao rimar e quando foi hora de me formar, me percebi, apaixonada por educação e linguagem. E ao estudar, me senti cada vez mais parte da cidade. E uma vez que o conhecimento te invade, você sempre quer dormir tarde, vai e volta na mesma frase, pra mim não foi só uma fase. Eu sempre quis ser professora, talvez por ser controladora e ter um leve complexo de salvadora.
E poderiam ter escolhido Silva ou Rezende, mas, meus pais, decidiram me desejar feliz dias e se um dia lá na frente, eu me casar com um homem, não vou trocar meu sobrenome. De Goiás à Minas Gerais, eu sempre soube que precisava de mais e de livro em livro que li foi que cheguei até aqui. Precisando me despir em frente a ti. Em meio à versão mais sincera de mim, com uma pitada de preocupação social, te prometendo que com esse vendaval que é a literatura, em si, a vida não vai ficar sem sal.
Walkiria Felix, colunista da vir-a-ser Revista Trem
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revistatrem · 5 years ago
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O primeiro de maio
Dia 1º de Maio, uma data que marca festividades e memórias, assim como outros dias. Porém consideramos que é necessária atenção a esse dia por três motivos especiais que serão discorridos a seguir.
É o dia do trabalho e, nesse dia, não trabalhamos. O que é mais do que justo. Comemorar aquilo que sustenta esse sistema como se fosse um dia normal não seria uma boa maneira de deixar claro o quanto qualquer trabalho tem importância para mantermos a sociedade de pé. Quem sabe assim, os detentores do lucro comecem a temer, tanto pela falta de sua produção, o fazendo degustar, mesmo que minimamente, sua falência, quanto por perceber a força que o operário - ao qual paga pouco e explora muito - tem para fazer a roda capitalista girar. E que esse medo chegue aos seus funcionários e a todos os companheiros na  forma de força, para encham o peito de coragem para lutar e conquistar para si o que já estão a produzir.
O dia 1º de Maio também foi escolhido como o dia da Literatura Brasileira. Isso por ser a data do nascimento de José Alencar, escritor brasileiro que se dedicou totalmente a literatura, depois que sua carreira política falhou, e que, juntamente com um panteão de literatos, inaugurou a era nacional da literatura brasileira com o Romantismo. Entre seus livros temos Iracema, Senhora e O Guarani.  Alencar sempre tratou sobre o Brasil e aquilo que o formava, mesmo que sua visão esteja localizada em uma posição privilegiada do século XIX. Desde aquele século várias mudanças aconteceram em nossa literatura, dando a ela sua atual organicidade multifacetada.
Nesse mesmo dia nasceu Fernanda Young, escritora, atriz e apresentadora. Young publicou vários livros, de contos a poesias, dentre eles A Mão Esquerda de Vênus e Estragos. Foi responsável pelo roteiro de Os Normais, Minha Nada Mole Vida e apresentou programas como Irritando Fernanda Young. Em todas as suas obras, sejam os livros, os roteiros, seus programas, Fernanda deixou sua marca, expôs sua essência e, justamente por assim ser, foi tanto aclamada quanto criticada, como toda mulher que se despe dos padrões. Ela foi uma fonte de força e alívio para várias mulheres e artistas.
No dia  do trabalho e dia da literatura brasileira, uma união daquilo que trouxe Fernanda Young às vistas do público e que a mantem viva através dos livros e séries, que carregam seu nome em autoria, finalizamos com um de seus poemas, Sou Essa:
 Eu bordo o labirinto quente das minhas veias. Repito as palavras como mantras, nas voltas que a agulha faz. Por vezes me furo e não o pano, gosto de levar esse susto. É a digital de sangue que deixo ali: minhas lágrimas, cervejas, rompantes. Se me revelo expondo as fraquezas, confusão, raiva. Não me constranjo. Há muito cansei de Desculpar-me. Sou essa, e aceito não ser querida. Se me arrependo de algo, Digo aqui e bordarei: Foi ter saído de mim, Para deixar alguns entrarem.
- Fernanda Young , A mão Esquerda de Vênus (2016)
Equipe da vir-a-ser Revista Trem
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revistatrem · 5 years ago
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Carolina de Jesus: do esquecimento à luta.
No ano de 2020 Carolina de Jesus completaria 105 anos. Se Carolina estivesse viva qual seria o seu olhar sobre o Brasil de hoje?  Acho eu, que quando escrevemos, depois das opiniões daqueles primeiros leitores, ficamos com o peito aquecido pela ideia de que futuras gerações, tão melhores que nós, terão contato com nossas palavras. Não é fácil pensar que escreveremos a um futuro que permaneceu com as mesmas questões – e são nessas questões que nos agarramos à denominação de “clássico”. Se Carolina, viva, em carne e osso, olhasse ao seu redor, ainda veria muito do que viveu na pele e expôs em palavras pelos seus diários.
Carolina de Jesus é mineira, de Sacramento. Nasceu em 1914, um ano antes do que surgiu o Menelick, o primeiro jornal composto por negros no Brasil. Criado pelo poeta negro Deocleciano Nascimento e que hoje, em 2º ato, é representado em memória e luta pela Revista O Menelick[1], que indico muito a todos vocês.
Ontem, o Brasil comemorou a vitória de uma mulher negra em um reality show, muitos falaram sobre como a vitória em rede nacional foi uma representação da reparação social que todos os negros merecem nesse país. Me veio a mente a escritora brasileira Carolina de Jesus, aclamada mundialmente pelos seus escritos, duas biografias publicadas – uma em quadrinho[2] e outra em prosa[3], e que, enquanto viva, sofreu com o esquecimento.
O seu livro mais famoso “Quarto de Despejo” foi leitura obrigatória em vários vestibulares este ano. Carolina conquista um novo espaço. O livro é um diário que fala sobre a a vida na favela do Canindé e como Carolina sobrevive sendo uma catadora de lixo com desejos literários incontroláveis e que a levam para outros lugares. Em 1960 o livro ficou a frente de vários outros clássicos internacionais. Carolina de Jesus foi requisitada pelo seu testemunho sobre a vida de uma mulher negra na favela. Ela entorpece o leitor com as dores, tristezas e violências que passou.
Carolina ocupou e alcançou espaços, suas palavras, seus relatos, seu livro foi um dos maiores best-sellers do Brasil, e ainda assim foi sumindo da memória brasileira. E é justamente esse esquecimento que justifica a luta negra nesse país. O tempo todo tentam apagar as conquistas, ou diminuí-las a insiginificantes. Mas sempre teremos Carolinas, Thelmas, Marieles, Conceições por aí, levantando o braço com o punho fechado, fincando os pés em lugares proíbidos por preconceito mas seus por direito.
Carolina é um clássico. Carolina é luta.
 Paula Goulart Santos
[1] para conhecer a revista O Menelick 2º Ato acesse o site: http://www.omenelick2ato.com/
[2] A biografia em quadrinhos de Carolina de Jesus, sendo os autores João Pinheiro e Sirlene Barbosa foi publicada pela editora Veneta e pode ser adquirida no site https://veneta.com.br/produto/carolina/
[3] A biografia de Carolina de Jesus em prosa foi escrita pelo jornalista Tom Farias e publicada pela editora Malê. Adquira pelo site https://www.editoramale.com/product-page/carolina-uma-biografia
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revistatrem · 5 years ago
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O sentido é um astronauta solitário
Na intenção de dar incio a nossa série de nome “Expediente”, a qual em primeira instância servirá para apresentar a equipe da Trem, escrevi este pequeno para tentar dar um panorama de como funciona a parte escritora do meu confuso cérebro.
Considerando o corpo como primeira e última prisão, me vejo colocado em cárcere. Pagando dia após dia o preço por ser humano e sentir de maneiras diferentes a confluência do todo em parcelas do mundo.
Se minhas penitencias pudessem ser projetadas no plano real, elas viriam em forma de imagens surrealistas ou, talvez, em notas do plano econômico real. Economicamente ou artisticamente com um valor flutuante para cada outra penitencia, para cada outra imagem ou nota. Dependente de fatores externos, economias, produções e produtos empático-financeiros. Fatores tão multiplos que o único sentido a ser retirado seria a falta de sentido fixo a longo ou até curto prazo.
Da mesma forma que exotéricos ousam dizer que os diferentes  cristais, lapis-lazulis ou turmalinas negras, pedras no geral, é que escolhem seus donos, digo que a arte me escolheu um de seus. Ou eu, como pedra a ser lapidada, ou prisioneiro a quebrar pedras, escolhi a arte para labutar com minhas habilidades nada especiais, aos meus olhos que acompanharam boa parte dos meus eus.
Dentre todas as pessoas que já conheci, uma das minhas favoritas sou eu. Não por me considerar alguém melhor do que outros, mas por permitir a esses outros o entendimento de ser um eterno estar e não só ser.  Por dar-me a liberdade, mesmo que na corrente cósmica do equilíbrio natural, de ir por um caminho ausente de palavras e imagens. Sendo guiado por Lucia de Siracusa ou  por mim mesmo ao repousar toda noite.
Ao olhar em minha volta com os sentidos do mundo, degusto os símbolos que se decifram, os que esperam ser decifrados e os que nunca serão decifrados. Símbolos que se dividem, mas são uno. Sinto a descamação das palavras, consideradas como portos de lógica para quem acredita na precisão do verbal, enquanto sou levado por uma nuvem de pássaros brancos que aguçam o sentir. Sentir que se faz tão meu quanto de Kawabata, ou de Kikuji, durante uma cerimonia do chá.
Em tempos pragmáticos e utilitaristas onde palavras são disparos que trazem a imagem de perfuração e vento através de um buraco reverberando som antigo de vazio, vejo no quebrar das formas que se misturam em cores o sentir que me constrói. Prefiro produzir o que é afirmado como relativo a me aventurar no achar ser objetivo o que digo.
Em um mundo onde para uma conversa é necessário um motivo, um tema que encaixe no contexto ou um cigarro, prefiro falar na língua dos micro gestos que não caminham para uma intenção final de consumação. Vivendo o infinito que existe entre um e dois, antes de passar para o número inteiro. Suprimindo dizeres diários e fazendo deles um símbolo que representa o que os signos deveriam ter estado ou significado. Escolhendo a sombra dos significantes ao invés da miragem dos significados,
Não quero que fique a imagem de que sou contra as palavras. Gosto de usá-las para criar minha própria proteção. Tecendo-as de forma labirintítica com cuidado espinhoso para evitar interessados-no-fim, brotando, talvez, a sensação poética de um eterno (re)significar. Repousando no topo da torre, tal como Aurora, a espera do momento em que um gesto valerá mais do que o feitiço colocado. Sendo esse feitiço a necessidade de utilidade e a existência de sentido para além da total falta de sentido,
Espero que meu trabalho faça sentir, tal como procuro sentir cada tempo, espaço, gesto, som, forma e cor. Que ele faça entender que a ordem nada mais é do que o caos organizado e que o caos nada mais é do que a assincronia de múltiplas e singulares, ordens. Espero que o conteúdo que tratemos na trem lhe passe a sensação de que ainda existe muito a trilhar.
Gabriel Brenner L. C. Rodrigues, editor-chefe da vir-a-ser Revista Trem
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revistatrem · 5 years ago
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Manifesto
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Está nascendo uma revista que busca ter, assim como outras, uma face única. Não no sentido de homogênea, mas no sentido de singular. Seu nome será Trem e nós, vir-a-ser-trem, ainda somente vagões, começamos em meio a pandemia esta caminhada semiestática em blog.
Somos vagões pela quase falta de pretensão, em busca de um vago provocativo. Vagões por talvez carregar a literatura que vai movimentar pessoas, ou diretamente as pessoas, por espaços virtuais inexplorados. Todos elas crendo estarem prontas para uma viagem, longa ou curta.
Em um mundo onde vemos que é mais do que a antropofagia que nos une, precisamos falar sobre a necessidade do movimento. Das oscilações que fazem misturar as densidades, formas, cores, sons e sentimentos. Da multiplicidade helicoidal do caminho.
Mas por onde começar? Onde queremos chegar? O que falar quando há tanto querendo ser falado? Como pretender tanto quando a modernidade, ou pós-modernidade, como preferirem, nos coloca diante de inumeráveis portas de percepção? Pretendemos prentender continuar o movimento até sermos convencidos do contrário.
Por essas e outras razões, ainda ocultas, tememos que não só poderemos ser vagos, mas como grande parte das vezes seremos os vagões. Ainda assim, convidamos vocês a essa experiência. Sejam bem-vindos, ou não, como quiserem, a Trem.
Equipe Trem
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