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O que acontece quando paramos de falar com pessoas
Cabelos param de crescer
Estrelas se apagam
Memes são salvos
Ondas se perdem no espaço
Soluços vão para o estômago
Sonhamos, por vezes pesadelos
Continuam a produzir gás carbônico, músicas e cotonetes no lixo
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Nesses dias insanos, andei lembrando de quando meu pai era agente de viagem e produtor rural, vendia hortaliças no Ceagesp e contava muitas histórias de estrada com o tio dele, que entregou o diploma de advogado pra ser caminhoneiro. "Família é foda" era a frase da filetagem de seu caminhão. Andei lembrando que, desde criança, nunca soube muito bem falar de onde eu vim, pois nasci no interior e logo fui à capital, e também pro sítio, que era mais perto de casa do que muitos bairros da selva de pedra. Cresci em casa, cheia de gente, com pés na terra, com a máquina de costura ou de macarrão da vovó que, nos almoços de domingo, todo mundo colocava a mão na massa. Cresci com minhas avós, de tempos em tempos, porque uma morava em Recife e a outra em Rio Preto, mas sei lá como me criaram tão presentes. Família é foda. A minha sempre me jogou na estrada, se vira, o que me ensinou a saber andar só. Tanta coisa que eu aprendi, outras que tive que desaprender. A gente mete aqui umas fotos bonitas e coloridas, mas a realidade é que nem toda partida é legal. Que viver sem casa, às vezes te coloca demais ao olhar e disposição alheia. Andar e não saber lidar com muitas mudanças, é a contradição mais difícil que convive dentro de mim. Ainda bem que tenho essa mania de insistir na fé, de acreditar em mim e nos outros. O meu melhor é como eu olho para as coisas, e como eu permito elas olharem de volta pra mim. De volta à cidade que me é tão familiar e estrangeira, tá tudo novo e tá tudo igual. E eu, perdi de vez qualquer sotaque. Maravilhosamente doida.
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Lembro de mim cada vez que volto pra casa. Aprendi a gostar de estar entre prédios, porque cedo entendi que prédios são feitos de gente, e gente é feita de histórias. Narrar somente os espaços, seria falar sobre dados, fatos, e coisas concretas não me interessam.
Eu gosto mesmo é de prestar atenção aos detalhes. Nas experiências humanas dos espaços. Como constroem o cotidiano, como ocupam, como desviam a regra, como pintam suas cores e se expressam.
Eu gosto de fazer morada neles e eles em mim. Não carregar coisas, mas vestir-se delas. Des constru ir.
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Uma vez sonhei que me mudava para uma grande casa com frente para o mar. Como uma casa-monumento, cheia de detalhes. Seu acesso se dava só por meio d’água, calma e verde turquesa. Como o mar da baía. Durante a travessia, eu escutava mulheres e suas crianças que me contavam sobre essa grande morada das artes. “Bem vinda!”. Peguei a onda. Eu só sei chegar à praia se molhar os cabelos de mar.
Foi no mês de fevereiro que me mudei pro Santo Antônio. O carnaval, mesmo que discreto, já anunciava que a rua seria quintal de casa, que a arte também é profana e de festa, e que se eu quisesse sossego, que procurasse outro lugar. Pra começo dessa conversa, minha casa era dentro de outra casa, que ao todo completavam sete. A gente se escutava muito. Mais pro bem e menos pro mal, porque convites e frases como “eu tenho!” e “eu faço!” vinham antes do pedido de ajuda. Tipo mágica. Também não teve uma semana em que um cortejo ou batuque não me tirasse de casa, mesmo que só pra “curiar”. Prática bem comum do bairro, dos olhares atentos às janelas dispostos a comunicar. Era ali mesmo, na rua onde tudo acontece. À Direita de Santo Antônio, bem no fim você encontra o mar. Ou se você subir dois andares de casa, ou se sentar pra almoçar ou descer o plano inclinado. O mar! Que dava o conforto e os contornos de casa, já que tão pra fora eu tava, ao mesmo tempo que me lembrava que meu horizonte é mesmo grande como ele. Olhar pro azul era dose de calma, meditação diária. Mas foi assistindo às casas, aos comércios, às pessoas da vizinhança, que me nutriu.
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Preciso confessar que
Eu fiz um trato com as chuvas
Você pode rir, eu sei
Por parecer prepotência ou idiota
Típico dos humanos
Que inconformes de suas insignificâncias
Procuram própria importância
Até em eventos climáticos
Talvez seja isso
Sentir-me importante
Mas acontece que notei que, desde que me conheço por gente
As chuvas se fazem presentes
Nos dias mais marcantes da minha vida
Nos vídeos gravados dos primeiros aniversários
Sempre se escuta ao fundo
"Corre tirar as coisas porque a chuva vem!"
E vinha
Nunca pouca
Forte como minha vontade de vida
Que continua
Quando entrei na universidade
As fotos mostram a tinta escorrida do rosto do trote
As roupas encharcadas
De muitos futuros possíveis
Livre
O reencontro depois de anos com o amor da juventude
Foi debaixo de um guarda-chuvas
Entre os passantes e o passado
Da nossa velha cidade cinza
Refúgio, afeto e afago
Logo depois
Que voltei do Distrito
Pela janela também caia
Lavando e levando as marcas
Livre
Mas tudo isso é uma questão de ponto de vista e de linguagem
Nem sempre as águas sinalizaram liberdade
Quando andei por terras mais distantes
As chuvas incessantes
Encerravam-me dentro de casa
Tempo em que descobri e cobri goteiras por todas as partes
Sabe
A depressão é uma doença esquisita que faz chover em cima da gente
Respiga em quem está perto, mas não tanto
Pois certa distância já não se faz notar
Sentir-se importante
Até demais
Auto centrados em nossa própria morada
Como se essa chuva que cai por igual em todo quintal
Só molhasse a nossa roupa que eu esqueci no varal
De novo...
Tudo é uma questão de linguagem ou de um ponto de vista novo
Falho sempre ao tentar explicar o que sinto
Quando você me pergunta
Ou porque desisti dos planos e da praia
Já que gosto tanto e é razão de mudar pra cá, o mar
Mas não hoje
Hoje chove
Mas muito mais aqui dentro
A ponto de alagar o piso de madeira e
Amolentar a terra entre ele e aquela mesma do quintal e do vizinho
Mas que só aqui se deu em pântano
Lamaceiro que há anos e há tempo é
Contratempo de mudanças
Climáticas, geográficas e anímicas a se atravessar
Sempre debaixo ou em cima de muita
Água
Que cai
Dá vida
Alimenta
Transborda
Mata
Os que conheço
Inclusive eu
Os que mais tem vontade de vida são os que mais olham de frente a morte
Só quem reluz sabe o peso da sombra que carrega
Tudo é uma questão de pontos de vistas
Do lugar onde você nasceu ou se encontra na Terra e olha para o céu
Eu gosto de procurar e encontrar sentidos
Meu signo
Tudo é também uma questão de linguagem
No arquétipo do escorpião há compreensão das emoções humanas e dos ciclos de morte e de vida
Diz que no fim há recomeço
Que depois do dilúvio há regeneração
É signo de água
Sabe fluir e nos conta sobre adaptação
O animal quando prestes a morrer parece injetar seu próprio veneno em si para que tudo se acabe logo
Mas na verdade é impressão e contração
Se você não está dentro do outro
Se você não sente como o outro sente
Se você não é o escorpião
Você só vê
E eu, eu
Preciso confessar que eu copio sentimentos felizes de alguém qualquer quando não encontro os meus
Que eu copio a sua escrita quando não sei como escrever a minha e
Que não se trata de trato nenhum
Mas de uma tentativa barata de se assemelhar às chuvas
Para desaguar
Por vezes em aguaceiros
Violentos
Por vezes em garoas
Refrescos
Para limpar
Para curar
Para que eu sinta
Enfim
Livre
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