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≈≈O Príncipe que virou sapo≈≈
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Antigamente as pessoas paqueravam nos corredores dos shoppings, nas quermesses, matinês, barzinhos, festas de amigos, parques... Hoje em dia isso tudo é passado, as pessoas se conhecem pelos sites de relacionamento. O tempo muda, as coisas mudam, só o que não muda é o desejo de encontrar a sua outra asa, a metade da sua laranja, alguém pra chamar de seu.
E foi assim que ela fez. Se cadastrou num desses sites onde o cardápio é variado, tem opções para todos os gostos. Você se cadastra, bate um papo virtual, aceita um convite para sair e se conhecerem melhor, baseado apenas em uma foto e em dados fornecidos pelo próprio conquistador.
Um dia seu celular sinalizou que havia uma mensagem de alguém interessado nela. Fez o seu login. Ele parecia bacana, porte atlético, com gostos parecidos com os dela. Legal! Marcaram um encontro.
Ela toma suas precauções, marca encontro de tarde, em lugar movimentado, vai em seu próprio carro e para no estacionamento do local, para evitar prováveis caronas.
Marcaram em um café.
Ela chegou mais cedo para garantir uma mesa mais perto da porta, lugar de maior movimento, nunca se sabe se terá que sair correndo.
Sentou-se, pediu uma água e colocou a sua bolsa... no colo.
Passado uns 5 min a porta se abre. Ela olha, mas não dá muita bola, com certeza não era o escolhido no site.
-Oi!
Ela olhou para trás, achou que não fosse com ela. Mas era.
O que aconteceu com aquele rapaz bonito de porte atlético? Aquele que estava ali na sua frente não parecia fazer exercícios há séculos, desde quando tirou a foto que postou no site, sua foto no perfil deve ter sido tirada há pelo menos 10 anos.
Ele também não aparentava ter ido preparado para um encontro, parecia voltar de um longo dia de trabalho, estava suado e o perfume já tinha vencido. Assim que se sentou ao seu lado, deu para perceber que o botão da blusa, um pouco justa, exibia uma certa protuberância próxima ao abdômen.
Ela não estava acreditando naquilo, mas preferiu não julgar e, já que iria pagar a hora do estacionamento de qualquer jeito, era melhor conhecer o cara antes, o seu papo talvez compensasse toda aquela primeira má impressão.
Mas não foi bem isso o que aconteceu.
Com a bolsa no colo e o olho no horário, ela tentava puxar papo:
-Então... há quanto tempo que você está sem namorada?
E ele, querendo bancar o super garanhão, olhou para o relógio e respondeu convicto:
-Hummm... umas 12 horas! rss...
Oi? Como assim???, ela pensou, esse cara está insinuando que passou a noite com uma mulher? O que ele está fazendo aqui comigo, me fazendo pagar estacionamento? Pin! Ponto negativo!
-Ué, então você tem namorada?
-Na realidade eu sou casado!
Pin! Outro ponto negativo! CASADO! Esse cara tá de brincadeira. E eu aqui, perdendo meu tempo e pagando essa fortuna de estacionamento, porque diante daquela situação qualquer unidade de $Real gasta parecia uma fortuna.
-Você é casado? Sério?
-rs... Mas não sou ciumento, podemos sair a três... rsss...
Que cara idiota, que brincadeira sem graça. Será que é brincadeira ou não? E o tempo do estacionamento correndo. Melhor mudar de assunto, já que ainda faltavam 40 min para vencer a hora e o seu sorriso sem graça já começava a denunciar que aquele encontro estava sendo um mico, mico não, gorila.
Papo vai, papo vem, ela conta:
-Pois é, estou fazendo um curso de fotografia, estou gostando bastante.
-Uau, então estou diante de uma fotógrafa? Se um dia você precisar de um modelo, posso posar pra você... de sunga branca! Pin, pin, pin! Mais um monte de pontos negativos!
Aquilo foi demais pra ela. Ele tinha conseguido ultrapassar todos os limites da sua paciência e educação. Era muita cara de pau, muita perda de tempo, e ainda faltavam 15 min para vencer o horário do estacionamento.
Então, com toda razão, ela se irritou:
-Olha aqui, meu filho, pra você posar de sunga branca você tem que se garantir, hein? Tem que ser capaz de colocar Cauã Reymond no chinelo... o que não é o caso.
A sua decepção era tanta, papo ruim, nenhuma chance de um novo encontro, estacionamento caro, café... ah, o café até que era bom...
Então ela olhou no relógio, pegou sua bolsinha que nunca saiu do colo, como se estivesse o tempo todo pronta para ir embora:
- Bem, acho que já vou indo, vai vencer o meu estacionamento.
- A gente se vê?
- Ah, sim, a gente se vê (quem sabe na próxima encarnação).
Agora ele está bloqueado, não consegue mais convidá-la para um encontro a três e nem marcar um ensaio fotográfico pousando para as lentes dela.
Que pena... poderia ter sido diferente, amigos talvez... O celular dela continua sinalizando mensagens, quem sabe um dia será de seu príncipe encantado... lindo... vestindo apenas uma sunga branca...
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≈≈ Frio... ≈≈
Não entendo porque algumas pessoas insistem em dizer que o frio é bom. Bom em quê???
O frio é muito caro... O chuveiro vive todos os meses do inverno no “super quente” (que de quente não tem nada) e, com isso, gasta muito mais energia ($$$$). Os banhos nos dias frios não relaxam, é um sofrimento só. Passar hidratante, então... Impossível! A não ser que ele seja colocado uns minutinhos no microondas antes de ser usado, caso contrário é melhor deixar a pele ressecar durante o inverno e tentar recuperá-la lá pela primavera. Secador é outro instrumento extremamente necessário nesses dias, seja para secar os cabelos ou para esquentar a cama e as roupas antes de vesti-las. Ou seja, mais energia desperdiçada.
Quem mora em apartamento sabe que as roupas do varal pequeno, não secam e passam dias ali penduradas, enquanto o cesto de roupas sujas teima em encher, encher, encher e transbordar (a não ser que as roupas sejam levadas para a lavanderia, aí, mais $$$$$)... Dizem que no frio as pessoas ficam mais elegantes. Elegantes onde? Como? A maioria das pessoas se parece com esquimós ou robôs de filmes de ficção dos anos 60, duros, quase imóveis e que nem sequer conseguem abaixar os braços, além das roupas usadas e amontoadas pelo corpo, não se combinarem nada. Cores descoordenadas, roupas cheirando a guardado, verde com rosa, xadrez com bolinhas... quem sente frio faz qualquer negócio para evitar que entre um milímetro de vento por algum lugar desprotegido.
Quem mora em São Paulo sabe que aqui o frio é úmido, bem molhado mesmo. Um frio que entra pela pele, passa pelos músculos e atinge rapidamente os ossos, impedindo que o corpo esquente, quase que uma cena de filme de terror barato, praticamente um massacre da serra elétrica.
No frio, além de tudo, comemos mais comidas gordurosas, dizem que elas ajudam a esquentar e, também – isso com mais certeza –, engordam muito. Ficamos maiores pelo excesso de roupas usadas ou pelo excesso de gordura consumida. Encarar a balança no inverno? Nem pensar... deixe isso lá pro meio do verão, quando as saladas e roupas leves voltarem a fazer parte da vida.
A falta de coragem de fazer qualquer coisa nos faz procurar por beliscos para passar o tempo e acabamos enfiando a cara no chocolate, afinal, ele tem calorias... e o simples fato de ler as 5 primeiras letras dessa palavra já dá uma boa esquentadinha no corpo... puramente psicológico.
No frio ninguém sai de casa, a não ser que seja obrigado, então, você fica mais sozinho, cada amigo fica em sua toca e o telefone ou o celular são os instrumentos mais usados e seguramente mais quentes para fazer algum contato (mais $$$$). E frio, combinado à pandemia, é solidão na certa.
A casa, no frio, fica muito mais desarrumada. A quantidade absurda de roupas, botas, luvas gorros, cachecóis e cobertores que saem do armário são espalhados por toda ela e só de olhar dá um desânimo danado de guardar tudo no lugar certo. Então, fica tudo onde está, afinal, dali algumas horas você vai ter que usar tudo de novo, melhor evitar tanto desgaste físico e guardar as energias para manter-se aquecido...
Namorar no frio é bom só se for pra ficar abraçadinho embaixo do cobertor, de pijama ou moletom, assistindo um bom filme acompanhado do seu amor e de um balde de pipocas, mais do que isso você corre o risco de congelar. O frio não é sexy.
Tudo isso sem falar nas idas ao pronto socorro para tratar gripes, rinites, doenças respiratórias próprias do inverno. Aí, lá vai mais dinheiro gasto em farmácia com remédios e mais remédios, que quase não resolvem nada...
Frio é bom apenas quando estamos em férias, passeando, bebendo um vinhozinho, conhecendo belos lugares, hospedados em um quarto de hotel com vista para as montanhas (que podem ser geladas, parecendo bolo de chocolate coberto com marshmallow), com aquecimento, lareira, hidro quentinha... Mas isso dura mais ou menos uns 10 a 15 dias para os pobres mortais, no restante do inverno - dezenas de outros dias - somos obrigados a nos levantar cedo, ainda de noite, para trabalhar com temperatura baixíssima, nariz, pés e mãos congelando, entupidos de roupas, morrendo de vontade de permanecer embaixo dos cobertores...
Não vejo mesmo muitas vantagens no frio... E, parodiando o velho poeta: os amantes do inverno que me perdoem, mas verão é fundamental!
Claro que isso tudo é um grande exagero. Embora eu realmente não goste nadinha do frio, é bom ter nesses dias gelados de pandemia, um bom filme no Netflix e um amor para te esquentar e rir do seu nariz vermelho.
Quem gosta, aproveite, e quem não gosta, relaxe... a primavera vem aí e o verão logo em seguida!!!
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≈≈ My name is Bond ≈≈
As luzes se apagam e, de repente, sem mais nem menos, começa o tiroteio.
Armas pesadas, bombas, prédios caindo... Ele nem se despenteia, não sua, sai sem nenhum arranhão, batendo a poeira do paletó imaculado.
No meio de tantos tiros, há tempo para um romance. Ele a conheceu há alguns minutos, mas já estão apaixonados, se beijam, fazem amor.
Pausa para um bocejo, meu.
Num escasso momento de tranquilidade o silêncio é quebrado pelo som das mãos incessantes nos sacos de pipoca, shok, shok, shok. Olho no relógio, ainda falta algum tempo pra acabar. Mas até que está divertido.
Mais tiros e bombas. Carros correm a mais de 100 km/h por ruas vazias em megalópoles (algo inacreditável), pegam fogo, explodem... mas ele sai voando, atirado para cima por uma espécie de foguete preso ao banco do motorista, antes que o carro, em alta velocidade, seja atirado no rio.
Será que isso não acaba nunca???
Uma emboscada planejada pelo vilão coloca o herói de frente para uma bomba prestes a explodir, ele tem apenas 3 min para se livrar dela, mas está no último andar de um prédio e ainda precisa achar a sua amada. Achou!
Então, salva a mocinha, que estava toda amarrada a explosivos prestes a detonar. Agora faltam 15 seg. Não têm como descer tão rápido. Ele tem uma grande ideia: eles pulam abraçados do 20° andar! Sou acometida por uma vertigem, fecho os olhos, mas eles caem em cima de uma rede (rede?) lá no térreo.
A bomba explode, todo o prédio vem abaixo. Eles saem sãos e salvos pelo rio, em um barco a motor que surpreendentemente os esperava.
Ainda há tempo de explodirem um helicóptero, prenderem o vilão, que alguns minutos atrás tinha se machucado todo em outra explosão, mas teve força suficiente pra continuar fazendo maldades, e saem de mãos dadas, enquanto a polícia faz o resto do trabalho.
As luzes se acendem, não entendi metade do roteiro. Totalmente no sence, filme de menino, minha estreia com 007. Valeu pelas risadas, pelas companhias e para conhecer Bond, o lendário, clássico e indestrutível James Bond.
Esse é o que chamamos de “o cara”...
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≈≈ As primas ≈≈
Essa história de primos sempre foi muito séria na minha vida. Sabem como é, em família de mineiros qualquer um que se aproxime um pouquinho mais acaba sendo considerado da família também. Imagine quem já é. Minha família é bem grande e consideramos todos como primos e tios, os de 1º, 2º e 3º graus e até aqueles que não carregam o mesmo sangue, mas que conviveram conosco desde pequenos. Mas éramos nós: Gau, Lú, Beta e eu que estávamos constantemente juntas, sempre! E, com muito orgulho, denominávamos-nos: As Primas!!! E é de uma de nossas viagens para Viçosa, MG, que guardo uma lembrança de grande inconformismo, talvez um dos maiores. Mas, também, de uma experiência gastronômica incrível. Talvez a primeira. Viajar juntas era uma verdadeira farra. Naquela época viajávamos de ônibus e a festa começava em plena rodoviária. Como adolescentes não tínhamos a menor noção de nada e o mundo girava em torno de nossos umbigos. Podíamos tudo, sabíamos tudo, o mundo era nosso. Não sei como nossas mães nos aguentavam. Quatro meninas, adolescentes, entre 12 e 15 anos mais ou menos, falando pelos cotovelos, questionando tudo, criticando tudo, descobrindo tudo. De ônibus a viagem levava por volta de 12 horas, mas valia a pena todo esse tempo, pois sabíamos que, chegando lá, encontraríamos nossa infinidade de primos que não víamos há um tempão, além da liberdade que uma cidade de interior nos dava de ir e vir sem ter que dar muita satisfação aos adultos. Era tão divertido, ainda mais porque estávamos juntas. Viçosa é uma cidade pequena, mas muito “antenada”, composta, na sua maioria, por jovens, devido a Universidade, a UFV. Conclusão: uma filial do paraíso. Lá, diferente de São Paulo, onde morávamos, podíamos sair sozinhas, afinal, a cada esquina tropeçávamos com um tio, tia, primos e primas que nos sequestravam para suas casas e nos serviam um lanchinho, um almoço, um biscoito de polvilho fritinho na hora… A cidade era nossa! Todos os dias tínhamos um programa agendado: caminhada pela universidade, viagem à alguma fazenda ou sítio de um familiar, passeio pela rua do balaústre, visita aos parentes que nem conhecíamos, mas que sempre nos serviam uma farta mesa de café, bolos e pães de queijo no lanche da tarde. Tudo tipicamente mineiro e, na maioria das vezes, preparado no fogão de lenha. E foi em uma dessas visitas que tivemos nossa primeira experiência com “comida fresca”. Todo lugar que visitávamos éramos recebidos com todo carinho, todo carinho mesmo: “Nossa! Como vocês cresceram! Como estão moças! Que meninas bonitas!!!!”, eram frases e elogios que ouvíamos em todos os lugares onde íamos e que enchiam de orgulho as nossas mães e querida avó. Certa vez, estávamos em uma fazenda (que em Minas chamamos de roça) entre as cidades de Viçosa e Silvestre. Um lugar simples, mas lindo, verde, calmo e feliz. Alegres e contentes brincávamos na água corrente e limpa de um riacho, visitávamos o curral, assistíamos os trabalhadores tirando leite das vacas, observávamos os passarinhos cantando, sentíamos o cheiro de lenha que vinha do fogão, recolhíamos ovos, quentes ainda, das galinhas sentadas no seu ninho no galinheiro… tudo perfeito ou… quase tudo. Aproximava-se do jantar e, como éramos visitas, em um número considerável, e a gentil família que nos recebia queria nos agradar ao máximo e, com toda delicadeza e acolhimento típico do povo simples da fazenda, eles decidiram preparar galinha para o jantar. Mas estávamos na roça, lá não se compra galinha congelada como no supermercado, lá se cria galinhas e matam-nas quando vão cozinhá-las e fizeram isso, especialmente para nós! O grande problema disso tudo é que nós quatro, As Primas, assistimos ao exato momento em que estavam sacrificando a coitadinha, ou, as coitadinhas. A cena não é nada agradável, ainda mais para 4 garotas da cidade grande que, praticamente, acreditavam, até aquele momento, que os frangos que habitavam as suas mesas, até então, eram criados no congelador do supermercado. Ficamos paralisadas por alguns segundos, aquela cena havia nos pegado de surpresa. Mas não pensem que assistimos a tudo aquilo passivamente, não, ficamos furiosas com tamanha atrocidade. Nunca tínhamos visto aquilo, e vocês podem imaginar quatro adolescentes, recheadas de hormônios (as galinhas, com certeza não tinham nenhum) inconformadas com a cena? Pois, falamos horrores aos coitados dos empregados, que nos olhavam sem entender nada: “Isso é um absurdo! Imaginem se fizessem isso com vocês! Elas têm filhos! Onde já se viu uma coisa dessas? Não vamos comer isso. Nunca!”. Chegamos a chorar com aquela crueldade e viramos vegetarianas na hora! As quatro! Primas unidas, jamais seriam vencidas!!! Até a hora do jantar o clima ficou tenso. Só falávamos naquilo, a cena não saía de nossas cabeças, o mundo tinha desabado sobre nós, que mundo cruel esse. Onde já se viu fazer aquilo com as bichinhas. Tão indefesas. Claro que contamos em detalhes às nossas mães sobre o horror que havíamos presenciado naquela tarde tão sangrenta. Juramos não jantar, faríamos greve de fome aquela noite e em todas as refeições que fossem servidas galinhas. Nossas mães riram e essa atitude insensível por parte delas nos deixou muito revoltadas e só fez alimentar ainda mais a nossa raiva por aquela situação. Perguntaram-nos se sabíamos onde realmente estávamos e nos disseram que nas fazendas aquilo era comum acontecer. Nossa avó, nascida e criada na roça, disse que aquilo era normal e que ela mesma já tinha feito isso várias vezes. Que decepção. Ora, ora… isso não era motivo suficiente para nos convencer de que aquela perversidade toda fazia parte do curso natural das coisas. Estávamos muito bravas e, quando isso acontecia, acabávamos metendo os pés pelas mãos e podíamos falar coisas que não deviam ser faladas aos nossos gentis anfitriões. Então, com muito esforço, prometemos às nossas mães que aguentaríamos tudo caladas, bocas (e caras) fechadas, para preservarmos o bom relacionamento familiar. Chegou a hora de mostrarmos ao mundo, pelo menos a aquele povo, simples e acolhedor, que nos recebia, o quanto estávamos indignadas com aquela situação e faríamos isso caladas, fuzilando-os apenas com nossos olhares e comendo somente as alfaces e tomates colhidos na horta. Com certeza eles entenderiam que aquilo não era coisa que se fizesse e ainda nos agradeceriam por, nunca mais, terem que comer nada que se movesse ou cacarejasse. Seria uma bela lição e achávamos isso muito digno de nossa parte. Chegou a hora. Seguimos pelo corredor onde seria servido o tal jantar. No caminho do quarto até a cozinha daquela casa simples e acolhedora, iluminada apenas pela luz da lamparina, com chão de cimento queimado e paredes que sustentavam quadros coloridos de paisagens campestres, um cheiro de lenha perfumava todo o ar, o aroma dos temperos frescos usados para fazer a tal galinha no fogão de pedra era bem mais forte do que aquela convicção de nos tornarmos vegetarianas para sempre. Tudo aquilo foi nos entorpecendo e, depois de um dia tão intenso, nossos estômagos foram dando sinais de existência. Chegamos à cozinha, mesa posta com cuidado, com carinho. Nossas caras fechadas foram se desmanchando como gelatinas. O mau humor, que parecia ter todos os motivos do mundo para existir, foi desaparecendo como mágica, nossos braços foram se descruzando e os sorrisos foram surgindo bem devagar no canto de nossas bocas. As primas se olharam, um olhar de cumplicidade. Caminhamos até o fogão para nos servirmos, de longe já dava para ver a fumaça saindo das panelas altas. E, chegando bem perto, vimos a galinha, defendida com tamanha veemência por nós quatro horas antes, agora em pedaços, dourada, fritinha, com muita salsinha fresca e com uma fragrância que nos fez esquecer imediatamente de nossa convicção vegetariana. Comemos muito, repetimos, estava delicioso, inesquecível. À noite rezamos para ela, que Deus a tenha, que nos perdoe, mas foi um jantar memorável.
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