relatosdeumsobrevivente
Relatos de um sobrevivente
107 posts
O poeta nunca está inteiramente absorto nos seus pensamentos. O técnico está sempre. (Joseph Addison) 1994. Virgem. Cientista do Esporte. Instagram: @lcslordello .Snapchat: lucaslordello
Don't wanna be here? Send us removal request.
relatosdeumsobrevivente · 6 years ago
Text
O homem duplicado
Apenas um corpo físico e materializado, separado por dois campos energéticos opostos; Negativo e positivo, passado e presente ou futuro e presente, dois eu’s num conflito de interesse: otimista e lamentável, esperançoso e autodestrutivo trocando ataques entre si. Assim como um copo quase cheio ou um pouco vazio nunca se viu transbordar ou se secar, esteve sempre mudando de proporções para ver em qual perspectiva ou em qual nova expectativa intrínseca(extrínseca) incomodaria menos, ou seja, de que maneira se tornaria mais suportável esconder essa dualidade e conviver sobriamente.
Os últimos tempos de sobrevivência a essa guerra tem sido menos sofríveis, a gratidão tem aumentado e ajudando nessa tolerância, encontrando trégua e paz na solidão. Dois falando ao mesmo tempo, querendo um se sobressair sob o outro, brigando, se batendo e se insultando. A sintonia entre os meus eu’s surge do equilíbrio e dosagem, um dia ouço um, outro dia ouço outro, dando espaço e chances para que ambos falem e sejam ouvidos.
Somos um só e vamos iniciar a partir do diálogo, compreensão, sensatez, sinceridade e libertação. Autoaceitação e se permitir sentir as dores e as delícias de ser quem realmente és, se desgarrar do ser que foi por muitos anos acorrentado no escuro daquela caverna. As cicatrizes das algemas ainda doem, mas os estreitos olhos já se adaptaram a imensidão das luzes do sol, por mais que estejam avermelhados pela sobrecarga física e psicossomática de relutar contra seus limites, mas que agora alcança a visão suficiente dos horizontes da sua atual realidade.
Dou-me as mãos, me abraço, me consolo, me levo para uma distração qualquer e em passos de formiga vou aprendendo a me amar naquilo que sou por essência, pois não há conforto maior que o aconchego e conveniência do nosso próprio lar.
Até me convenço da ilusão de que cada ponto cardeal em que estive foram feitos para o descanso do tocar dos meus passos, como se o tempo e espaço sempre foram propícios para o cenário para que meus eu’s entrassem em um acordo final. Cada tom de cada cor diferente em cada nascer e pôr do sol, a cada variedade nebulosa da interferência das nuvens e suas sombras, da composição dos formatos das construções e árvores, totalizando num quadro natural e orgânico feito apenas para meus olhos perceberem a dinamicidade de uma vida e fazer minha mente esquecer do pesar das assombrações das crenças conspiratórias. Buscando distância da mecanizada rotina, como alguém com sede que se sacia numa fonte continuo fugindo dos barulhos a minha volta.
Encontro belezas anônimas em cada rua, janela, banco de ônibus e repentinamente cruzando minha direção. Então paro pra pensar o quão tolo sou em deixar que veículos de informação façam distorção da minha interpretação do meu mundo. Quais as vantagens de colecionar as piores qualidades dos seres enquanto há tantas outras boas qualidades para eu apreciar? Desde quando remoer imperfeições virou algo tão comum?  Não, obrigado. Fique com suas razões que eu prefiro ter a mansidão de viver mais com menos.
Trágico o sentimento de impotência ao não encontrar meios que possa estabelecer união e coletividade no espaço que me encontro e conseguir alinhar a ressonância entre os meus eu’s. Como mostrar algo para uma multidão cega de manipulação e como ser ouvido por surdos que imploram por sua própria opressão? Quando se trata dos outros não se trata dos meus eu’s, então nada pode ser feito e aí o conflito está. Por isso, para que o real livre arbítrio seja usado em benefício contra a natureza do caos, desejo que a vontade voluntária se faça presente o quanto antes! Estarei por ai, as vezes ocupado, porém sempre aberto para visitas e viagens. Sou um pequeno universo que vive dentro de um universo maior, com essa constatação acho que acabo de quantificar infinitos, portando o impossível não é tão inalcançável e espero que notes o quão profundo posso ser se dares ao menos uma chance honesta.
O único limite que me permito obter é um filtro onde constantemente passo minhas intenções, onde só resulta coisas e pessoas que me farão ir além tanto quanto eu pretendo me aprofundar. Por fim, essa obsessão poderá me abreviar com adoecimentos, ou me elevar mais próximo da perfeição sonhada. Esquivando-se da ansiedade e da provocação de ter o gosto de vitória antes do final do jogo e ainda sob a confusão cruel de não ter a clareza do quanto de certeza eu tenho de querer chegar até o final.
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 7 years ago
Text
Atualização de sistema
Informamos que os seus servidores ficaram hibernando por muito tempo e por isso foi necessário resetá-lo. Ligado a uma fonte de energia durante todo esse período fez com que sua bateria agora encontre-se com baixo poder de armazenamento de energia e memórias, portando nosso sistema ativou o modo piloto automático desde então para evitar possíveis falhas ocasionadas pelo pelos desligamentos instantâneos agora mais decorrentes. Aconselhamos a troca de bateria ou retomada do hábito de recarregar a energia por conta própria assim como de costume desde o princípio. Em função dos resultados levantados do acompanhamento analítico do seus novos ritmos de funcionalidade, nesta nossa nova versão executamos uma renovação de sistema operacional, assim excluindo periodicamente tudo o que é retrógrado e constantemente reinventando seus aplicativos.
Gerando relatório histórico...
Escaneando memórias...
Arquivos...
Documentos...
Imagens...
Áudios...
Vídeos...
ATENÇÃO! UMA AMEAÇA GRAVE FOI DETECTADA! Entrando em processo de quarentena...
Aplicação de bloqueadores de sentidos sensociais e sentimentais...
Deseja continuar essa atividade mesmo podendo estar propenso a risco de danos? NÃO[��  ]  SIM[X]
ERROR 404.
Restabelecendo conexão...
Atualização de dados...
Baixando novas informações...
Instalando nova versão...
Carregando...
AVISO: Para podermos dar continuidade aos trabalhos precisamos reiniciar nosso sistema.
Reiniciando...
Aguarde...
Digite seu novo Login e Senha:
Login: Realidade
Senha: Autoconhecimento
Bem vindo a um novo ciclo! Parece que aceitar os riscos de percorrer por desconfortos fez seus servidores passarem por bons desenvolvimentos. Seus novos medos e dificuldades foram atualizados com sucesso, dando acesso a novas fases e plataformas mais avançadas. Com os desafios de agora tens as memórias melhor organizada para consultas, mais velocidade nas respostas e otimismo nas tomadas de decisão, porém as chances de acertar as tomadas de decisão continuam as mesmas de sempre. Em casos de dúvidas, impedimentos e desorientação, procure um de seus suportes online ou mantenha-se offline até retomar a suas normalidades. 
[Autoconsciência, versão 2.3.5.18]
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 7 years ago
Text
Guerreiro do deus Yngvi-Freyir
"Eu vou pra muitos quilômetros daqui" dizia ele ao sentir os sons das músicas que tocava na rádio do carro, canções de quando éramos adolescentes, de quando nossos pais eram jovens, até do tempo da juventude de nossos avós. Eu também havia dias que estava há muitos quilômetros dali, mas não tão longe quanto ele se colocava com facilidade naquele exato momento. Não sei se pelo motivo de ter um momento de prazer depois um dia cheio de trabalho, eu estava mais longe que ele, em outro planeta vulgo declarado morto por dentro e aguardando o deportamento do meu corpo. Queria muito estar equalizado na mesma direção e distância que a dele, fechar os olhos e sentir a vida vibrar através das memórias que as ondas sonoras causavam ao atravessar nossas cabeças, conseguir reviver encarnações, regressar as origens, estabelecer uma conexão com vários de nossos ancestrais e por alguns instantes obter todo o sentido lógico de paz e controle de todo meu viver. Eu só conseguia sorrir com a sensação, como espasmo muscular eu não deixava de esconder meus dentes, encarando o para-brisa do carro a embaçar por estarmos certo tempo dentro do carro e me dando conta do frio incomum que fazia la fora. De forma sábia, para que eu aprenda com minhas próprias experiências ele não me fez revelações, nem todos meus assuntos tinham continuação, meus questionamentos soavam como muito terrenas, muito humanas para quão excelência de um guerreiro de um deus nórdico. Percebo que minha maturidade não permitia entendê-lo, era só preciso estar ali naquele momento para sentir uma faísca de luz que faltava brilhar nos meus dias que viraram noites por completo. Então me vi o quão frustrado estava sendo ao reproduzir coisas que tenho tido como exemplos, ridículo eu não prezar pela autonomia e originalidade de mim mesmo, afinal, tem coisa mais admirável e preciosa do que uma coisa única em que só se vive, se vê, se escuta, se toca e se beija apenas uma vez por toda a infinitude e eternidade do universo? Os olhos e os sorrisos desse semi-deus pareciam artificiais, envidraçado, porém não fajutos, mas muito profundo e intenso para ser da terra em que vivo, uma sabedoria de querer se enriquecer através de uma série de conversas intermináveis durante longas caminhas, em diversas ocasiões, mas não sou digno de tal privilégio celestial. Autoconsciência pura sem nenhuma carência, ser e estar, convicção e desprendimento sem sequelas. Surreal se tornou meu hábito de sabotar meus potenciais, de me jogar do alto dos penhascos das minhas dificuldades, de me afogar na piscina dos meus medos, de me enforcar nos cabides do armário do meu quarto escutando os barulhos e falatórios vindos lá de fora, de cortar meus pulsos no banheiro da autocobrança, de engatilhar uma arma na mão de alguém apontada em direção a minha cabeça pedindo desesperadamente para que atirassem em mim, de me por afrente do alvo de tiros e flechas de ofensas, injúrias, julgamento e pressão. Mártir de nascença mas sem nenhum mérito de salvação, por que mesmo gosto que façam doer? Quem me convenceu das certezas obscuras que me fizeram eu enterrar meus pés junto as grandes raízes de uma árvore que nos dão flores tóxicas e frutos venenosos? Foi por meio das rápidas e vívidas falas que compreendi: tudo se torna possível, pois se somos todos iguais e um dia alguém consegue, porque não eu adotar minha própria estrela guia? Respire, medite, mova-se guerreiro! Repita essa dose diariamente. Temo por minha fraca memória. Quantas vezes devo repetir a dose até automatizar o mecanismo do meu corpo até soar artificialmente perfeito como este seu corpo e mente de guerreiro do deus Yngvi-Freyr? Preciso tentar meu caro combatente, preciso de mais tempo, vou perder e cair algumas vezes mais, obrigado por sua intercessão voluntária e que seu espírito continue me defendendo dos meus inimigos e fraquezas.
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Sala de espera
Quando uma vida anda várias vezes em círculos, como um filhote de cachorro que segue seu próprio rabo tentando mordê-lo, é preciso aceitar entrar na sala de espera para receber o diagnóstico do que está havendo de errado, para saber o porquê de estar perdido. Essa pequena sala fria de azulejos brancos e cheia de cadeiras solitárias é o lugar em que se chega quando a vida atinge tais níveis de descontrole. Bem a minha frente de onde estou sentado há um imenso corredor escuro cheio de portas cerradas, espero até que em alguma delas alguém saia e venha ao meu encontro. 
Se passaram várias horas, que se tornaram dias, transformando-se em meses, perdi as contas do quanto vale um ciclo de uma vida ou ainda o tempo que me resta nessa sala de espera. Estou esperando para perguntar o que devo fazer, aguardando para ter respostas, ter auxílio na construção de mais certezas que façam eu me achar no caminho e retomar o viver da minha vida. Não importa quem irá tentar me ajudar, estou convicto de que ninguém e nem as melhores intenções poderão converter minha vida pra melhor, toda e pura pressão está sobre o peso dos meus pés  nessa sala de espera que é cada vez mais tortuosa. Só se aumenta a aflição do tratamento e reabilitação, mas o procedimento fundamental do processo terapêutico eu já domino, se trata de lidar com a solidão. Solidão não significa estar sozinho necessariamente, pode ser a escolha de quem prefere ter paz do que ter a razão.
Enquanto não sou atendido recebo mensagens da minha consciência e do meu coração. Minha consciência fala demasiado, me dá diversos conselhos e possibilidades, porém entra em contradições muito fácil, ela é boa pra me fazer ter coragem e ousadia nas apostas do jogo da vida e cabe a mim assumir os riscos das minhas próprias escolhas e atitudes. Por isso eu contato meu coração as vezes, ele é sempre muito sincero, não é capaz de me enganar como as vezes minha consciência faz, muito contrário disso meu coração me dá certezas do que é o melhor pra mim, de como respirar minha liberdade e minha forma de interpretar e conjugar o verbo “amar”.
Os sintomas são de cansaço, procrastinação, ansiedade e desânimo em viver, já me perdi algumas vezes anteriormente e acho que o diagnóstico que irei receber será familiar das outras vezes que estive nessa sala de espera. A vida é uma brincadeira que conspira pra injustiça, violência e opressão, parece até ser dirigida por um ser imaturo, arrogante e que não sabe perder, constantemente reformulando as regras de funcionamento para surgir curvas e acidentes em nosso caminho, afinal, que graça teria se a vida fosse assim tão fácil e simples? De tanto sofrer agressões as resistências crescem através da raiva, indignação e ódio, na qual compete internamente equivalente com as coisas boas ainda que nos falta perder que é tão almejada ser retirada pela forte má conspiração que arbitra as funções dos humanos no mundo.
Cada vez que volto a ser um paciente (impaciente) é por sintomas semelhantes mas que doem em intensidades e lugares diferentes da minha vida. Quantas vidas precisarei desperdiçar dentro dessa sala de espera para finalmente me encontrar, ser feliz, saudável e livre das feridas inflamadas do corpo e dos traumas que alma carrega? Infinitas vidas foram mortas por fome, se perderam em guerras, foram enjauladas, ridiculamente escravizadas, brutalmente estupradas e profundamente humilhadas, pois humanos foram programados para errar e para disseminar imperfeição. Então quando saio da sala de espera com o diagnóstico em mãos já tenho em mente “Até logo, Sala de Espera... Se a morte não retornar meus emails nos vemos em breve”. 
1 note · View note
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Labirinto
Tenho uma lista de coisas para refletir e conseguir definir o que sinto sobre. Escrever, por pra fora e expressar pra exorcizar esse excesso de pensamentos. Várias tarefas a serem cumpridas, algumas responsabilidades em atraso e uma imensa indisposição em viver. Este sou eu, o infeliz por não conseguir atingir a perfeição dos meus dias. Dói muito para um virginiano ser um mero ser humano e ter que lidar com as contradições da vida e das pessoas.
Há meses, que quase totalizam um ano, que venho tentando achar o fim de um labirinto no qual eu mesmo me coloquei nele. Estou me arrastando entre caminhos que no fim são sem saída, estou tentando decifrar os enigmas que carrego de um labirinto que eu mesmo construí durante muitos anos da minha vida. Tanto tempo desperdicei construindo todas essas muralhas em minha própria mente, dando ouvidos a ensinamentos que no final me ofereciam um amor de mentira, uma liberdade limitada e uma vida encabrestada. Gastei tanto tempo focado na construção dos muros desse labirinto que no fim não me dei conta de qual caminho fazer para sair e me libertar desse sufoco. Me encontro perdido entre as curvas que meus traumas arquitetaram, numa imensidão de insegurança, indecisões, injúria, raiva, frustrações e medos. Um estado de nervos nunca antes atingido começou a me forçar a dar o ultimato para decidir viver ou morrer. Mas não deixaria assim tão fácil que a morte me vencesse, sei bem que um suicida não se mata porque perdeu o amor por sua própria vida, ele acaba com sua vida por não encontrar a saída do seu próprio labirinto.
Esse meu pesadelo é constante e toda vez que acordo o passado é consultado para tentar justificar o desconforto sentido. Bom filho, ótimo secundarista, estudante da melhor universidade do país, sonhos que antes pareciam impossíveis foram alcançados e superados. De repente, vejo a prova concreta em minhas mãos de que realmente nada poderia me impedir de atingir meus maiores anseios. Em meio a essa vida limpa e privilegiada o descontentamento e a ingratidão persistia, pois grandes dificuldades foram superadas e nada mais era suficiente pra mim, eu merecia muito mais, como se meus méritos estivessem em déficit em relação aos meus esforços. As expectativa internas se extinguiram e as expectativas externas são atualizadas e aumentadas diariamente, isso me fez chegar longe porém não me mostrou o fim do meu labirinto.
A conformação foi o primeiro passo para a aceitação e a aceitação da própria realidade foi o começo para se achar a saída. Estou perdido! Estou sozinho! Este são os fatos. Todos os meus pensamentos negativos e os dizeres de ódio que cercam minha mente me deixam cada vez mais cego e nisso minha autodestruição tem sempre sucesso. Eu me aborto diariamente, me privo de todo possível sofrimento causado por erros cometidos, nem vou ousar tentar se existir a chance de não conseguir, deixo tudo pra ser feito no último prazo para não ficar andando em círculos no meu perfeccionismo e assim finalizar com qualquer coisa aceitável ao mundo. Deve ser por isso que eu gosto tanto de dias nublados, não há luz que ofusca meus olhos e a imensidão cinza conforta a neutralidade que busco sentir dentro de mim. Quando chove aproveito alguns instantes de paz, momentos que não me sinto obrigado em buscar a saída, até porque tenho o resto da vida para sair, tenho que aprender a encarar minhas muralhas para conseguir conviver com elas.
Talvez a solução pro meu desconforto constante não esteja no fim do meu labirinto, nenhuma vida é totalmente livre de problemas, todos temos nossas muralhas nos cercando, nos afastando do fim do sofrimento e nos pondo em caminhos sem saída. Talvez o intuito de eu viver nesse labirinto seja que eu aprenda a perdoar meu passado e para que eu torne minha alma merecedora de uma vida melhor que essa. Saiba que tenho dificuldade de saber se estou bem, há dias que o labirinto me deixa exausto, mas luto para não esquecer do que já fui capaz nesse mundo e não temo em ter o orgulho de me permitir ir mais longe do que já fui.
1 note · View note
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Propaganda enganosa
“A vida é boa” disseram uma vez. Mas não especificaram de quem é essa “vida” e qual é o contexto de “boa” pela perspectiva do locutor. Assim como frases populares são passados a frente sem nenhum questionamento, essa falácia foi sendo reproduzida de forma contínua e eficaz com ar de esperança. 
“A vida é boa” para um pai desempregado, com 3 filhos para alimentar e educar, que de repente consegue um bico numa empreiteira. “A vida é boa” quando um estudante de escola pública que gastava horas em transporte público para conseguir assistir suas aulas e privava-se de sono e lazer para estudar pro vestibular acaba por conseguir entrar em uma universidade pública. “A vida é boa” quando uma aposentada por invalidez, com doenças e dependências medicamentosas consegue se curar de um câncer. “A vida é boa” para um chefe que atrasa o pagamento do salário de seus empregados, que sonega impostos e vê seu lucro aumentar todo mês. “A vida é boa” para políticos que governam em defesa de interesses próprios e não da coletividade para garantia dos privilégios apenas de sua família. “A vida é boa” para um líder religioso que aplica uma doutrina manipuladora sob mentes vulneráveis para garantir a fidelidade do dízimo de seus fiéis.
De um lado há aqueles que acham que estão numa boa vida, gratos por benevolências do destino, e do outro lado há aqueles que vivem em função de manter os outros acreditando que estão numa vida boa. Ambos são amaldiçoados pelo sistema que faz esse mundo rodar: o dinheiro. Estou exausto de escutar todos dizendo que é normal a vida te apresentar dificuldades, impedimentos, humilhações e limitações. Eu não mereço isso, não quero abaixar a cabeça e simplesmente “aceitar a vida como ela é”, pois isso pra mim está muito longe de ser uma vida e esse mundo está muito distante de ser algo bom. Uma “vida” baseada em se massacrar por dinheiro, de sobreviver se mutilando para que no final tu corra o risco de ter sofrido em vão, sendo que todas as oportunidades existentes na maioria das vezes não são ao teu favor. Todas vidas estão em função da morte e isso nos torna inúteis, só estamos existindo, não estamos vivendo, estamos apenas seguindo imposições, estamos sendo meras engrenagens e operários de uma máquina, que é o sistema em que esse mundo funciona.  
Parece que a vida se resumiu em ter vantagens sob si mesmo e/ou sob os outros, em tornar o nosso lado mais fácil custe o que custar, se demonstrar otimista e superior sendo isso verdade ou só aparência. Para isso aplicam-se forças: investir tempo, investir esforço braçal e/ou intelectual, investir dinheiro – que é preciso “pagar” com tempo e mão de obra para se ter –, te privar de sono, te privar se amar e se permitir ser amado e te privar de hábitos saudáveis pois pra isso te custa mais tempo e dinheiro. Tudo isso pra resultar num ser miserável, desumano e limitado. Das várias tentativas de se libertar dessa máquina o fracasso é o mais certeiro. Não vai importar o volume de chances que se tenta modificar tua própria realidade. O contexto que tua alma nasce é pleno, ele determina pra sempre o sentido da sua vida, que é se tua alma veio para gerar lucro ou lucrar.  
A cada dia enlouqueço um pouco mais ao gastar energia para sobreviver aos sofrimentos da vida, em transfigurar minha indignação em uma falsa máscara de contentamento e gratidão para poder continuar seguindo o sistema como todo o resto do mundo. Respiro fundo, faço força por dentro, respiro fundo mais uma vez, vejo as horas, olho pela janela, respiro fundo mais uma vez, saio da sala, tomo uma água para ver se a ânsia passa e assim por diante. O desespero as vezes bate ao sentir a convicta certeza de que não há como escapar, de não ter pra onde fugir, de que a única solução é simplesmente morrer, como se algo pedisse para poupar a minha alma de estar nesse tempo, espaço e contexto. Eu acho um absurdo tudo ter que ter um valor material ou subjetivo, de tudo ter que se equivaler a notas e moedas, de eu ter que ser representado, classificado e comparado por números e valores qualitativos. Se submeter a julgamentos diariamente se prestas ou não prestas, se conseguirá “ser alguém na vida” pra poder se pertencer a esse mundo. Pra eu poder me sentir bem comigo mesmo só é possível se eu passar por tudo isso, e finalmente poderei me tranquilizar porque atendi as demandas que me foram aplicadas. Então, se um dia me puseram nesse mundo o intuito desde o início foi gerar lucro pra alguém.
Falta muito pouco, espero um dia alcançar a coragem de largar tudo o que suportei até hoje e assumir pra mim e pro mundo que sou falho perante o sistema, que não sou ninguém e que não sirvo pra nada logo que não sirvo pra gerar lucro. Pra mim não pesa tanto ser um perdedor, um fracassado, já estou bem acostumado com esse sentimento. A vida é uma grande propaganda enganosa, se ela se encontra muito boa, cuidado, há muitas almas se fodendo pra tu se sentir assim. Daria muito bem pra existir paz e harmonia, mas ninguém colabora, todos estão muito ocupados seguindo suas “vidas”.
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Meanings
When I read some oppressive opinions I have to shut up my mouth and go wash my dishes Just accept the world how It is And convence myself that is no solution You gonna die and never see love and peace anymore Ain’t my fault to be like this Parties, travels, junk foods Cars, Iphones, clothes Colored hair, piercings and tattos Passports to a world that is not exist to me Living a acting with other kind of happiness Without meanings to own feelings Opposite worlds have been touched But I can’t enter into this world How many times I will suffer To learn how to live in my reality? I need to be happy just because I’m alive With enough to live With my people, with my life Because nobody is perfect All the souls need a surgery Breathe more, close your eyes for a while Thinking in be greatful to universe Thanks for I’m alive and taking this chance For this body, my soul’s home Fighting for not listen what They’re saying About what You have to gain to be someone I just can’t wait to die for this society Cut all conexion with human being That people who kills love and peace Everyday shooting bullshit from the mouth They just speak the money language I need make my soul happy I was made to nature, to universe To see the sun and moon changing the colors of the sky To feel and ear my essence Giving real motion to my life A reason to not waste my breathe and my footsteps
1 note · View note
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
O peso de uma mente que pensa demais
O branco de um sorriso que posso ver no escuro Se equilibra com o tom claro de um par de olhos Raro momento em que minha alma se sente completa Sempre triste e contente ao mesmo tempo Com as incertezas impedindo-me de viver em paz Muitas chances de dar errado entre as mãos Com o medo de errar doer, sofrer e morrer Em vão, novamente, desperdiçando sentimentos   Queria mais intervalos no sol do que aulas de janelas cerradas Mais rodas do que fileiras Ouvir mais risos das pessoas divididas entre uma rede Não precisar de álcool aos finais de semana sozinho Deixar de viver com sede de procrastinação Buscar por tudo e por fim não ter nada Envelhecer e não ter se tornado ninguém   A cada vez que anoitece O medo do desperdício de vida cresce Deixar de achar problema em não ser como todo mundo Difícil aceitar ser e agir diferente pra poder ser livre Da loucura ao imaginar algo que não tem fim Acho que sou um animal não domesticável Com um coração selvagem, indomável e carnívoro Impossível viver sobre regras, rotina, horários e prazos
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Eu também existo quando você não está solitário ou com tesão
– Sumido. – Opa! – Tá em casa? – Onde vc tá?
Quando o celular apita e uma dessas mensagens chega, eu já sei de quem é e o que a pessoa quer. E a culpa é minha por elas insistirem em chegar. Eu deixei que elas chegassem, eu respondi muitas delas, eu achava que queria a mesma coisa.
Mas, nas últimas vezes, minha certeza foi diminuindo. “Quero mesmo?”, pensava quando via a mensagem. “O que eu estou fazendo?”, indagava enquanto estava dentro do táxi ou arrumando minha casa. E minha reação quando tudo acabava confirmava que eu não queria e que eu não sabia o que estava fazendo: eu simplesmente ia ouvir música ou ver televisão, ficava inquieto querendo ir embora ou expulsar a pessoa daqui. Por poucos minutos de prazer, esquecia quem eu era. E no fim, quando eu lembrava, já era tarde demais.
Sexo eu tenho daqui até a China e com pessoas até muito gostosas e boas de cama. Alguém pra me dar a mão num filme de terror, não. Alguém que comprou um chocolate por ter lembrado que era meu favorito quando viu ele na fila do mercado, não. Alguém que queira saber de verdade como foi o meu dia, não. Alguém que saiba qual meu gosto em música, não. Alguém que queira conversar sobre reencarnação de madrugada bebendo vinho, não. Alguém que compartilhe e me faça compartilhar, não. Alguém que se arrisque ao me ver me arriscar, não. Alguém que me ouça e me dê palpites, não. Alguém que me ame por tudo que sou e não só por algumas partes de mim, não.
Talvez você não saiba, imagine, ou nem pense nisso, mas eu também existo quando você não está solitário ou com tesão.
(Via: https://tradicionalmente.wordpress.com/autor/ - Blog Tradicionalmente,  Gabriel Cadete, @gabrielkdt )
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Sobre escutar rádios aleatórias do interior enquanto tu voltas pra casa:
<sertanejo> “Eu tava salivando com água na boca Fiquei imaginando ela ali sem roupa Na tela do Iphone era foto da outra Eu tive que excluir e ela pegou no flagra Minha mulher chegou na sala ‘que cê tá fazendo ai?’ (…) Calma benzinho, calma benzinho Enquanto ela aproximava sua foto eu exclui”
<voz de um homem> “Já pequeno namorava cinco minas na escola” <voz de uma mulher> “Acordo de manhã e te faço café É tão bom ficar contigo e me sentir mulher”
<locutor> “Olha só, o cara foi muito MACHO em se casar aos 21 anos e assumir uma filha!”
Não pode ser coisa da minha mente, vivemos SIM sob forte influência do machismo e da cultura de estupro. Muitos homens reproduzem falas, opiniões, atitudes, “brincadeirinhas” e piadinhas machistas, contribuindo para a disseminação e manutenção dessa cultura e defendendo uma lógica subconsciente/indireta de uma ordem natural de superioridade “… mas eu não sou machista”. Já ouvi homem desmoralizando o movimento feminista e alegando ter sido ofendido pelo extremismo “… mas eu não sou machista, eu super admiro elas”, bom, se realmente respeitasse não teria atacado primeiramente! Há homens que não tem convencimento em seu próprio discurso, precisam fazer apostas, envolver bebidas ou se intrometer de forma imbecil entre lésbicas para conseguir defender seu ego macho “…mas eu não sou machista”. Homens que parecem animais irracionais que não têm controle sobre os próprios olhos, o linguajar e que desprezam todo o resto de respeito e educação que têm quando passa uma mulher a sua frente. Machistas, a hipocrisia de vocês me envergonha muito! Melhorem.
P.S. Também sou homem e me incluo nessa necessidade de desconstrução cultural.
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Vida sem bula
Nenhuma novidade, doutor É apenas o que é Mais uma vez, mais essa vez E não é o que pensas saber Ou o que pensa que os outros vêm Só é aquilo fruto da minha cabeça Um corpo que te prende dentro de si Numa confusão que isso causa Que divide a mente em várias partes Sucesso e frustração, ócio e ansiedade Sonho e realidade, vontade e ânsia Sentimentos opostos muito bem dosados Para se engolir e fazer reagir por dentro Então pra tentar facilitar o tratamento E se acostumar com os efeitos colaterais Economiza a vida por onde anda Evita que se quebre antes da hora E por não ter tantas chaves na mão Faz força para parar de doer Mas já faz um ou três dias Talvez semanas, até meses com isso Enfermidade sem cura existente Com isso não se morre Mas também não se vive Apenas sobrevive
(12 de maio de 2016)
1 note · View note
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Uma prece ao senhor universo
Buscar pelo equilíbrio interior faz com que pareça que tu não se importa com os outros. A energia gasta pra driblar os efeitos dos outros na sua vida tira todo o vigor para o crescer. As pequenas felicidades e até mesmo o prazer são suplementos para alcançar o que queremos. Mas se caso o medo da realidade te cegar de quem tu és, desligue, formate e reinicie tua vida. As vozes que impõem dogmas escurecem tua mente que busca brilhar. Por isso a família e amigos são anjos na terra, pois livra-nos de humanos movidos a ódio, que infectam e matam tão rápido e fácil quanto um veneno letal correndo pelas veias. Perdoe-me, Senhor Universo, por não me doar tanto e pelo meu coração economista. Quero ter controle do meu legado e que minha imperfeição seja garantia de que eu também fui um humano, mas um humano que enxergou diferente, que viu além. Com bondade me pague, com gratidão recebo e no fim haverá paz.
(02 de abril de 2016)
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Ensaio sobre a depressão
Quero penhorar este segundo Medir quanto pesa essa vida Para entender o quanto valho E me doar a quem necessita Livrar-me do ódio nas falas   Evitar o desperdício de vida Que escorre feito água ralo abaixo
Os milagres que tive são virtuais Quem me ama está em outra dimensão Doença que cega, ensurdece e cala No silêncio escuro surge falsa paz Se despe da falsa pele de humano Sobrevive a que e por quê? Perdido nas curvas do meu cérebro
Satisfazer vontades não resolverá A dor do regresso é bem funda É o primeiro dia de outono Um tipo cinzento alaranjado Faz calor mas me cubro com edredom Garanto o mínimo de prazer a pele Há dias não sei se dormi
A enxaqueca me paira feito maldição Um luto que prevalece como sombra Peso que te tira o ar e esperanças Cegueira parassimpática Dura paranoia irreversível Um pesadelo em vida real E a única certeza é a solidão
(02 de abril de 2016)
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Quote
Os momentos que mais nos desafiam nos definem.
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Quote
A perfeição não é alcançada quando não há nada a ser incluído, mas sim quando não há nada a ser retirado
Antoine de Saint-Exupéry
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Estava regressando de mais uma noite de bebedeira conimbricense, quando termino a Rua Corpo de Deus percebo que não estava sozinho na madrugada. Não me senti ameaçado, apenas olhei para trás e vi um homem com um boné, voltado para a parede e meio cabisbaixo. Algo o pertubava em imenso, mas apressei meus passos em direção a minha casa. Num outro dia ali passei, e então percebi: “Quando morrem pedintes, não aparecem cometas Quando é da morte de príncipes, inflamam-se os céus!” (J.C. - 2.2)
(10 de janeiro de 2016)
0 notes
relatosdeumsobrevivente · 8 years ago
Text
Previsão do tempo
Estava a me ver ali Em baixo do teto inclinado Dias a vestir-se no escuro Inspirando o ar seco A escrever pensamentos Tomo um café a cozinha Vejo a madrugada A cidade ocultada Tanta nebulosidade Numa vista, numa vida Por onde já andei E ainda ei de andar Não valeu muito se Aqui encontra-se desorientado E a querer regressar Peito Não perturbes meu estômago Deixe em paz o meu cérebro Aquela cidade com um rio Um dia volto a vê-la
(08 de dezembro de 2015)
0 notes