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A dor daquele que não fala
Estava eu aqui pensando, o quanto queria poder te dizer algumas coisas. Queria poder lhe dizer o que sinto. Essa confusão de sensações, de desejos. Tudo que nunca consegui concretizar, nunca pude colocar para fora, nunca deixei para você lidar, responder, reagir a "isso" que está aqui, dentro de mim, pronto para ser vomitado, pronto para se livrar de mim, mas por uma força maior, uma repressão insaciável que se recusa a jogar no que não for cem por cento de retorno. Parece até que eu não quero perder uma parte minha, parece que não quero perder mais nada. Porém eu já perdi. Perdi o modo fácil, a oportunidade ideal, e agora estou aqui, escrevendo sobre. Tenho medo de descobrir que não só perdi a muito tempo, como não há sequer uma mísera porcentagem de reverter o placar do jogo. Olha, está muito difícil, queria muito morrer nesse momento, só porque dói e tenho tanta ansiedade, incerteza, desejo, tanta ânsia, tanta vontade de mudar, que saco, eu só quero gritar, eu só que chorar, eu quero poder dizer que te quero, dizer que eu gosto de estar com você, que demorei demais para assumir isso, que demorei muito porque estava andando por terras muito obscuras, quero te contar sobre a história que escrevi, quero te contar a minha história, queria poder sentir que sou importante, que você também quer estar comigo. É doloroso, mas é isso, é só isso que me importa. Amanhã talvez não chegará para nós, talvez seguimos caminhos distintos a muito tempo, mas queria apenas poder te dizer tudo isso.
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Sozinho em um domingo à tarde
Resolvi escrever sobre meu descontentamento com esse ser que se denomina "eu".
Ele está neste exato momento sentado, em frente a seu computador, ouvindo música ditas "tristes" ou "depressivas" enquanto escreve uma história, parece ser uma tentativa de conto, mas se bem que não gosto muito de sua escrita, então isso não deveria importar tanto para esta reclamação pública! Voltemos ao meu descontentamento a esta pessoa.
Hoje é domingo, já está escurecendo e chove constantemente uma garoa que incomoda a cabeça se não tiver nada protegendo-a. Ele encontra-se sozinho em sua casa, preso dentro do próprio quarto, digitando incessantemente algo, como se isso fosse levar a algum lugar.
Parece um tanto triste, ainda mais quando voltou da padaria para comprar os pães que comerá de janta enquanto assiste alguma coisa que mate o tempo até o sono chegar.
Esse rapaz me parece descontente ou frustrado e talvez por isso o semblante triste e os olhos fixados na tela de 15 polegadas que emite uma luz azul que incomoda mesmo de óculos.
Ele parece que não queria estar ali, ainda mais sozinho. Mas não sei o porquê deste desconforto, lembro-me muito bem dele negando sair com os amigos a alguns dias atrás, até recusou passar o domingo na casa de uma amiga.
Ora, se ele está descontente com sua solidão, ele que brigue consigo mesmo pelas escolhas que fez. Não era ele que queria ir morar sozinho? Que queria aproveitar o tempo só com ele mesmo? Pois bem, aí estão os seus frutos garoto.
Mas estranhamente me sinto fascinado por ele, por sua incessante inquietude de lamentação e solidão. Domingo a domingo vejo a história sempre se repetindo, e mesmo nessa monotonia, nesse clichê, este tal de "eu" tá lá me deixando intrigado.
A um bom tempo acompanho sua história, suas escolhas, seus momentos de alegria e principalmente os de agonia. As incontáveis vezes que ele estava a um passo de ter aquilo que ele mais desejava e mais queria, mas por puro e instintivo medo e insegurança ele... Ele desistiu, ele negou, ele fugiu ou apenas se omitiu.
Apesar disso, tá lá ele, domingo a domingo vivendo uma vida, de constantes altos e baixos, mas nunca chega na plenitude, na tal da satisfação que tanto almeja.
Se ele ao menos conseguisse mudar, tomasse um instante de coragem, de ousadia e de total sinceridade consigo próprio, seria reconfortante, não nego.
Mas o que virá quando isso acontecer? Me sinto até ansioso quando penso nisso, a tanto tempo que vejo esse garoto que hoje é adulto, por incrível que pareça, que no momento que seu mundo virar de cabeça para baixo será o tal do clímax nas histórias que consumimos nas diferentes artes.
Sério, que angustiante, só queria que ele saísse dessa mesmice, dessa solidão que é viver apenas consigo. Nem todo o consumismo possível conseguirá satisfazê-lo, pois não é nada disso que ele realmente quer. Eu posso sentir e sei que é isso que esse "eu" mais quer.
Ninguém foi feito para viver sozinho.
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