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Ask me anything com Gabriel Bá
Recentemente promovemos um Ask me anything(pergunte-me qualquer coisa) com Gabriel Bá. O bate papo rolou no grupo Quadrinho BR, com perguntas da comunidade.
Para participar do grupo é só acessar esse link aqui.
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Quadrinho BR: Você trabalha desde a década de 90. De lá pra cá, muita coisa mudou. Consegue pontuar as principais mudanças na produção independente desde aquela época?
Gabriel Bá: Acho que a década de 90 foi realmente um divisor de águas nos Quadrinhos brasileiros. As gerações anteriores viram grandes produções de HQs de Terror e Eróticas, viram o Humor lutar contra a ditadura, viram a Grafipar, viram a Chiclete com Banana, Circo e Animal. Viram os jornais como grande imprensa e viram as bancas de jornal como grande O lugar onde todo mundo encontrava HQs. Acho que nos anos 90, isso praticamente acabou. Quem começava a fazer HQ nessa época, ainda tinha todas essas referências, todas essas esperanças. Queria fazer humor ou queria criar a nova Turma da Mônica e virar produto de licenciamento. Queria criar mais um super-herói brasileiro. Queria fazer tudo isso e ir pras bancas e vender mais de 100 mil cópias como a Chiclete com Banana. Não tinha novos formatos, novas frentes. E não tinha internet (tinha, mas ninguém tinha). Era muito mais "cada um por si", você fazia seu fanzine (em xerox mesmo), vendia pros seus amigos, deixava no bar perto da sua casa e pronto. O alcance era muito pequeno, mesmo vendendo alguns exemplares pelo correio. Todo mundo que fazia HQ era muito mais isolado que hoje em dia. Foi só no início dos anos 2000 que as editoras voltaram a publicar HQs. HQs longas, em PB, pra ir pras livrarias. O formato era outro, o pensamento era outro. Com isso, vieram as antologias. E com elas, foram formando grupos de Quadrinistas não mais tão isolados. Isso faz toda a diferença: saber que você não é o único que gosta de HQ, que faz HQ, que acredita naquilo e quer ver as coisas mudarem. Essa é maior diferença pra produção independente hoje. A comunidade é muito grande, cheia de exemplos pra servirem de inspiração, com a internet ajudando a conectar todo mundo. Cheia de eventos pra vender suas HQs, encontrar o público e sentir que o ciclo se fecha e anda pra frente. Naquela época, era só o FIQ de 2 em 2 anos mesmo. Eram 2 anos de deserto sem vida alguma. Por isso os autores eram sempre os mesmo e o mercado não crescia. Hoje, com CCXP todo ano, eventos em várias partes do país e autores com trabalhos de todos os tipos, o mercado cresceu muito.
Capa de “O Girassol e a Lua”, um dos primeiros quadrinhos lançados por Bá.
Quadrinho BR: O que você acha que mais mudou no teu trabalho com os anos, desde seu pensamento de quadrinho até a mudança de referências interferindo na sua obra?
Gabriel Bá: Todas mudança no meu trabalho são resultado da trajetória completa. Tudo que eu li antes, todas minhas referências. Uma obra que eu faço mostra do que eu sou capaz, mas também mostra o que eu não fiz e pra onde eu posso ir agora. É sempre esse desafio de pensar em algo novo, fazer algo diferente. Sempre estou descobrindo novos autores, novas técnicas. Vejo em livros e filmes maneiras diferentes de contar uma história, de organizar a narrativa, de usar as imagens. Aí eu penso se dá pra fazer aquilo em Quadrinhos. Hoje acho que a cobrança é maior, justamente porque eu já fiz mais coisas, já contei mais histórias. É o tal do "qual será o próximo Daytripper"? Não no sentido de continuação, nem de projeto autoral, mas o que pode ser feito agora que eu não fiz antes? É um tantinho de "ambição", de querer ir mais longe, que sempre me motiva.
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