pharthur
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Sorrisos mascarados
7h, o relógio desperta, pulo da cama atrasado, visto minha camisa com listras coloridas, pego uma sacola e saio em direç��o ao ponto do ônibus que me levará em direção ao Hospital do Servidor Público Estadual, na região do Ibirapuera. No caminho, vejo mil adesivos colados em postes e me lembro que não tinha nenhum do Boulos no canto esquerdo do peito. A vontade era de voltar pra casa, mas por obra do destino, no chão haviam quatro (4, cuatro, quatre, four, IV) adesivos roxinhos da campanha que eu não sabia como agradecer aos céus, mas ainda pensei “poxa, podia pelo menos um ser o amarelo, não?”. Caramba, com certeza que o amarelo ia ornar mais com a camisa do que o roxo...
Como bom filho de Deus que sou e meus desejos se realizam, mal colei um dos roxinhos e não encontro dois adesivos amarelos no chão também? Pra quem acordou atrasado, jogou uma água na cara e nem percebeu se no bolso tinha o mais importante (to falando do bilhete único, gente... imaginem chegar no busão e pagar o mico de ter de descer no próximo ponto?), encontrar aqueles adesivos foi um bom sinal do andamento do dia.
Com o devido adesivo colado no canto superior esquerdo do peito, desfilei como se estivesse numa passarela, com um público formado por garis, trabalhadores de coleta de material reciclável e entregadores de pães que com suas bicicletas tocam o trin-trin anunciando sua chegada no cruzamento de ruas ou caso alguém desavisado e perdido estivesse no mundo da lua (eu estava consciente disso rs).
De olho no Moovit para conferir o horário de chegada do ônibus, em três minutos eu estaria embarcando. Dito e feito, entrei, peguei o bilhete único e passei a catraca. Como nas outras quartas, parei para tomar café com pão de queijo na banquinha do seu João, só que nessa foi diferente: eu mal pisei o pé na calçada e o moço que vende máscaras ao lado dele falou bem alto “É isso aí, vai dar Boulos!”. Eu levei um susto, mas na hora comecei a rir e concordei... foi a deixa para começar a conversar e dizer o quão é importante que a chapa Boulos-Erundina ganhe.
Entre a conversa e serviço de atenção aos clientes, seu João opinava e dizia sua análise sobre a cidade de São Paulo, e não se conformava como o paulista(no) é burro em reclamar dos políticos e eleger há mais de 20 anos o PSDB, não achando justo falar que o Nordeste não sabe votar! Ele ainda argumentava que quando chegou há São Paulo há mais de 40 anos, só viu melhoria de vida quando a Erundina venceu, e sabe que hoje ela é e continua a ser quem sempre foi! Essa atenção à voz desses dois homens, combinada vez ou outra por algumas coisas minhas, me alegrava o coração, acrescentava um pontinho a mais de esperança que um projeto de inclusão pode vencer na maior cidade da América Latina.
Correndo pra consulta no hospital, VÁRIAS e VÁRIOS me olhavam, subindo as sobrancelhas, fazendo o V da vitória, apontando o adesivo, que eu retribuía com gosto, e dava para perceber que por trás daquelas máscaras haviam sorrisos daqueles funcionários públicos estaduais, que infelizmente não podiam ser vistos... mas aquilo, o ser humano cria estratégias de comunicação com o outro, independente das questões que o flagelam.
No atendimento, dois rapazes negros me olharam e um deles disse com as mãos um “espera aí”. Não passaram cinco segundos até que o atendente chegasse e pedisse minha carteirinha. Sentado diante do computador, ele tinha na direção dos seus olhos nada mais, nada menos que o bendito adesivo amarelo, que tirou do seu rosto um sorriso tão grande que fez a máscara baixar diante do seu nariz. Ele tava tão feliz que apontou o dedo pro apetrecho e sem perceber deixou que a máscara ficasse abaixada...
Entrando na sala da médica, fui com a maior sede ao pote esperando que ela também visse o adesivo e expressasse algo, mas como nem tudo na vida pode ser planejado, ela não falou nenhum A, não rolou um olhar, um dedo apontando pra camisa, um V de vitória, um Agora é Boulos... enfim, ao menos ela me tratou bem como das outras vezes e manteve o cuidado no procedimento terapêutico.
No caminho para Pinheiros vi que o Terminal Lapa estava parado no semáforo e não tava acreditando que ia apressar o passo pra pegar ele... a questão é que to com um probleminha nos pés (motivo das idas ao hospital) e fazer aquilo que mais gosto pela cidade, andar, correr e deambular, se tornou um martírio. O adesivo me garantiu uma sorte tão grande que consegui pegar o busão e ainda pedir para o motorista esperar uma senhora que apressava o passo para também tomá-lo.
Mal chego na catraca e o que que a cobradora fala? “Ahhh, eu vou votar nesse Boulos também!” Foi tão engraçado porque eu mal tinha falado bom dia pra ela e nem encostado o bilhete único no validador, e fui recepcionado com uma dessas. Ela engatou dizendo que o voto é principalmente porque o infeliz do atual prefeito pretende cortar os cobradores das linhas de ônibus e isso acarretará a demissão de 19 mil pessoas. Eu sabia da discussão de retirada dos cobradores, mas não tinha dimensão do impacto numérico de desempregados que a medida causaria na cidade. Pois bem, seria aproximadamente a soma de toda a população que reside na Barra Funda e em Marsilac sem ter onde atuar profissionalmente nesse contexto de crise, ao léu, somando-se à taxa histórica dos outros 13,8 milhões de desempregados brasileiros.
Eu não senti um sorriso sob a máscara da cobradora, mas percebia um sentimento de angústia e de possível esperança que com outra pessoa no comando da cidade as coisas ao menos podem melhorar ou não ficar pior do que já estão. Até porque ela mesma mencionou como não aguenta mais viver no Morro Doce, um bairro que não tem nada e quando você precisa resolver algo precisa ir até a Lapa. Nessa, eu emendei que já trabalhei em Pirituba e que ouvia alunos da escola falarem sobre o bairro. Na verdade eu me lembrei de um trabalho de mapeamento social no qual as alunas e alunos descreviam os equipamentos públicos dos seus bairros e construíam uma linha do tempo de quando eles foram instalados, e claro, o Morro Doce apareceu na lista!
Quando passei a catraca, me sentei num dos bancos seguidos, e cobradora continuou falando. Só que o papo foi pra outro rumo, que no sábado ela ia fazer uma escova, passar uma chapinha e ficar gata, no que eu emendei e concordei falando “tá certo, tem que se produzir mesmo”.
Quando eu sento no ônibus, eu juro que planejo ir lendo alguma coisa, mas é impossível, porque toda bendita vez fico olhando os prédios, as calçadas, o trânsito, com um olho na janela e outro olho parafraseando o dito. Aos poucos, a paisagem da Vila Nova Conceição e seus prédios classudos com varanda gourmet abundavam pela janela do Terminal Lapa... logo eu chegaria em Pinheiros.
Na esquina da Fradique Coutinho com a Cardeal Arcoverde, uma colagem do @buenocaos trazia duas mulheres, uma branca e outra negra, segurando placas com os seguintes dizeres: “sem justiça” “não haverá paz”. Eu já tinha visto em stories do Instagram, mas ainda não tinha me deparado com ela ao vivo e a cores. Tirada a foto, segui pro último destino antes de voltar pra casa... eis que não sei o que me fez voltar e conferir se era o que realmente tinha visto. Ambas as mulheres usavam máscaras, e seus olhos e sobrancelhas se destacavam, como as várias e vários que me olhavam dentro do Hospital e que acreditavam na vitória do Boulos!Feito o que tinha de fazer, rumo ao ponto pra voltar pra casa, já esperava que mais alguém me olhasse, fizesse o V da vitória, subisse as sobrancelhas... mas o ônibus chegou, eu subi, encostei o bilhete único no validador, me sentei, vi pessoas subirem e descerem do ônibus... mas não rolou. Para uma manhã que durou pouco menos de quatro horas, aconteceu muita coisa. E tudo graças à sorte do adesivo amarelo. Do adesivo não, dos adesivos! Adesivo amarelo colado no canto superior esquerdo da camisa listrada!
Domingo, aperta 50 e vem!
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A História será implacável com eles
O bom de você ser historiador é que, diante de um fato histórico ou presente, você busca todos os antecedentes que levaram ao seu acontecimento. Isso é o que chamamos de historicização. A gente consegue ter a proeza de examinar os envolvidos, suas intenções, relações, de modo a entender que todo ato possui uma relação com questões próprias do lugar em que está inserido e está conectado com o que vem acontecendo no mundo, isso desde os princípios da modernidade.
Quando você assiste um anúncio como o de hoje, do já ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, a única coisa que me vem à cabeça é a histórica prática do personalismo político brasileiro. O ex-juiz federal agiu de modo a proteger seu projeto de ascensão político e profissional, sempre com a narrativa de combate à corrupção que na mesma proporção pode acalmar e agitar a classe média, e que assim, resguarda a crítica às elites econômicas do país.
As elites brasileiras atuam para que não sejam tocadas, e na atual conjuntura, Moro foi o mediador disso tudo, se passando enquanto um agente imparcial que ganhava notoriedade para ocupar uma cadeira do STF ou quiçá a presidência da República. Seu perfil me faz lembrar o José Sarney, que quando viu que ocuparia a presidência (visto que o Tancredo Neves estava prestes a morrer), se pagou de bom moço, procurando deixar de lado que foi da antiga ala militar, e hoje, constrói uma imagem de homem republicano, visto que em seu governo foi promulgada a atual Constituição.
A história também é feita de surpresas. Moro ganhou a notoriedade política que tanto desejava, mas parece que percebeu que se aliar efetivamente ao projeto político que hoje ocupa o poder, pode fazer com que o tiro saia pela culatra. Talvez ele tenha ignorado o fato do Bolsonaro sempre se fazer de idiota ou de tonto, como alguém que não entende de economia e que trata uma pandemia apenas como uma gripezinha, e considerava isso como o menor dos problemas e que não afetaria seus projetos futuros. A questão é que o jogo virou, cada vez mais fica evidente o projeto fascista desse desgoverno, e ao mexerem em sua suposta independência de trabalho, viu que poderia sair perdendo. Sérgio Moro é um agente liberal que buscou na aliança com um projeto de extrema direita vantagens para sua carreira, mas percebeu que o barco está afundando dia após dia, e permanecer nele é morte na certa. Para Bolsonaro, melhor ainda que mais esse títere tenha saído da sua equipe, pois pode colocar alguém que seja como ele, dissimulado, não democrático e que compactue com a ideia de que a população mais pobre deva continuar como está, estagnada, sem avanço ou perspectiva de futuro. Ora, o que foi a troca de Ricardo Vélez Rodrígues pelo Abraham Weintraub no comando do Ministério da Educação, e mais recentemente na pasta da Saúde o Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich? Fica cada vez mais evidente outro projeto personalista, da formação de uma equipe ministerial que coloque em prática ações de cunho fascista no poder e que não prestem contas à sociedade.
Moro é um golpista por ter conduzido de forma imparcial as investigações da Lava-Jato, o que ajudou na queda de Dilma Rousseff da presidência do país, e na prisão sem provas e término do julgamento do líder nas pesquisas de opinião que possivelmente ganharia as eleições para a presidência em 2018, o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva. Porém, existem outras pessoas que podem ser melhores que ele para o atual governo, gente que entregue de mãos dadas as provas para alguém, que seja apenas um capacho serviçal sem mais notoriedade midiática (até porque capacho o Moro já era), e ajude a limpar qualquer investigação da família Bolsonaro, seja ligada às milícias, ao crime organizado, ou mesmo no envolvimento da morte de Marielle Franco. Ou seja, há também um jogo de interesses personalistas em questão.
A História não tem fim. Ela é cíclica e seu estudo revela não apenas o passado, mas entende nosso presente. Ela dá pistas para o futuro, o que não significa que ele se concretize, já que esse tempo depende da atuação de diversas forças. Cabe a nós, enquanto agentes históricos, nos mobilizarmos para que o futuro não seja pior do que o tempo que já estamos vivendo. A saída de Sérgio Moro da equipe ministerial de Jair Bolsonaro em meio à uma pandemia revela interesses e ao mesmo tempo o que está por vir na política brasileira, a efetivação de um projeto fascista no poder. Hoje, eu só espero lutar e estar ao lado do que resta de democracia nesse país, pois como lembrou nossa ex-presidenta Dilma, “a História será implacável com eles, como já o foi em décadas passadas”.
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Discurso de professor homenageado
Ontem foi a formatura das minhas alunas e alunos do 3º ano do curso de Eeletroeletrônica, uma das turmas mais incríveis que tive a oportunidade de atuar. Mesmo como homenageado, eu fiz um discurso, que por N motivos, ele não foi lido. Fica ele aqui registrado para a posteridade.
“Boa tarde a todas e a todos,
Eu me sinto honrado de ser o professor homenageado da turma de Eletroeletrônica 2019 do Doroti, uma sala que me ensinou muito, me fez repensar vários preceitos e questões que eu tinha como paradigmáticas no ensino de História. Apesar de alguns atritos, o que também é normal, pois é a partir do conflito de ideias e opiniões que nos formamos, foi um enorme prazer acompanhá-las e acompanhá-los ao longo do ano passado.
Um ano difícil, pois o Brasil viu retornar das profundezas da ditadura civil-militar de 1964, um fascismo revestido de caráter neoliberal, que vem destruindo os direitos que trabalhadoras e trabalhadores conquistaram ao longo do tempo. Com um discurso de enxugamento do Estado e a mídia dando ênfase ao “azul para meninos, rosa para meninas”, o povo brasileiro viu um homem ignorante, sem compromisso algum com a democracia e com o bem estar do povo, praticar as mais atrozes falas e gestos, o que é incompatível com o posto para o qual ocupa, a de presidente do Brasil.
Para termos uma ideia do tamanho dos estragos feitos em um só ano, a Amazônia e os povos originários que lá vivem estão sob um perigo como nunca antes visto, talvez comparável apenas ao que portugueses e outros invasores fizeram na colonização. Houve o aumento de 250% do número de lideranças indígenas mortas ali, quando comparado com 2018. Aliás, há dois dias, Jair Bolsonaro assinou um projeto que autoriza o garimpo e geração de energia elétrica em terras indígenas, dizendo “Vamos sofrer pressões dos ambientalistas? Ah, esse pessoal do meio ambiente, né? Se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente”, demonstrando total conhecimento e apego pela questão ambiental. Eu acrescentaria dizendo que qualquer governo tem que sofrer pressões, pois ainda estamos em uma democracia, e suas falas sem nexo não intimidam quem atua em prol dos povos originários. O que esperar de alguém que diz que “Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós”? Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente são asquerosos.
Queridas e queridos, ao longo de mais de 30 anos, o povo brasileiro construiu o maior serviço público e gratuito de saúde do mundo: o Sistema Único de Saúde, que desde 1988 busca considerar a saúde como um direito de todos e ser um dever do Estado, atendendo sobretudo a população mais pobre. Não nego que existam problemas no sistema, mas destruí-lo da forma como está sendo feita, não é a solução. No segundo dia desse 2020, foi vetado de forma integral a proposta que busca garantir a todos os pacientes do SUS a disponibilização de sangue e outros recursos necessários à prevenção e ao tratamento de suas doenças. Uma clara medida genocida que busca eliminar parte da população pobre desse Brasil. Podemos listar outras medidas, como a extinção do Seguro de Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres, o DPVAT, que vai retirar 2 bilhões de reais por ano do SUS, além da frase dita antes de ontem, de que “Pessoa com HIV é despesa para todos no Brasil”. Despesa são os cartões corporativos que a presidência gastou e procura esconder os reais valores: mais de 14,5 milhões de reais em gastos pessoais; despesa é a manutenção de cargos e privilégios do Judiciário brasileiro, o mais alto do mundo; despesa é o contribuinte ter que pagar seus impostos e os mesmos serem revertidos para advogados que tentam livrar seus filhos da cadeia e do envolvimento da morte da vereadora Marielle Franco.
Estamos vivendo em um país de que seus ministros de Estado são aqueles que não prezam e não possuem nenhum compromisso com o Brasil, como a ligada à pasta da Mulher, Família e dos Direitos Humanos que acha que a abstinência sexual é a solução para o sexo precoce e se dizer “terrivelmente cristã”, contrariando o princípio de Estado laico. A situação só piora, pois ela vê seu Jesus na goiabeira mas não se manifesta diante dos dados que evidenciam que o Brasil registra 1 caso de agressão a mulher a cada 4 minutos. Outro que faz coro e só comete desastres é aquele que administra (ou diz administrar) a pasta da educação, criando memes no Twitter e não se importando com o fato do ENEM ter tido problemas que nunca antes houveram. Aliás, esse mesmo homem, “vago, confuso e sem linearidade no discurso”, conforme sua banca apontou no concurso para professor da UNIFESP, é o responsável por travar o MEC e os projetos que demoraram anos para serem implementados, não existindo um projeto efetivo de melhoria da educação, apenas de destruição, sobretudo das universidades, espaços criadores da ciência! Bolsonaro e sua turma tem pavor do conhecimento, por isso atacam a educação, cortam as verbas para pesquisa, nomeiam pessoas que não foram votadas em seus colegiados. Veremos se o seu impeachment prossegue.
Pessoal, está nas nossas mãos lutarmos para que essa gangue não destrua nosso país. Paulo Guedes e seus Chicago boys venderão tudo que aqui existe se não nos mobilizarmos. Precisamos entender as minúcias, os detalhes, tudo que é enviado como pauta ao Congresso (aliás, o mais conservador desde o final da ditadura, em 1985). Esse mesmo ministro, ontem, chamou eu e meus colegas de “parasita”, fazendo alusão de que funcionários públicos não trabalham. Bom, o que esperar de um homem marrento e que é um lambe-botas dos Estados Unidos? Eu diria que “parasita” é o senhor, pois não sabe o que é ter de muitas vezes ter de tirar do próprio bolso o dinheiro para a impressão de provas e trabalhos, os quais são pensados e corrigidos fora do horário de trabalho, que responde e-mails e mensagens em sua casa. Ao chamar os funcionários públicos de “parasitas”, ministro, o senhor estende todo seu discurso neoliberal à policiais, enfermeiros, médicos, atendentes, garis e outros mais que prestam um serviço indispensável à população brasileira. Talvez o senhor não saiba, mas o funcionário público é a garantia que não haverá apadrinhamento político, pois, foi alguém que estudou, passou por uma prova de aptidões e foi aprovado imparcialmente. É o resultado da luta de pessoas que se importavam com o serviço público durante a chamada República do Café com Leite, tempo em que diferentes políticos nomeavam seus pares para cargos nas diversas esferas de poder. Não sei se o senhor assistiu ao filme Parasita, aconselho muito. Talvez a partir dele, o senhor perceba a verdadeira face do neoliberalismo que tanto defende e quer implementar no Brasil.
Pessoal, estamos em um tempo conturbado. Um tempo em que louvar o nazismo é interessante, que dizer que a ditadura matou pouco é bom, que o fechamento do STF pode realmente acontecer se adotar medidas contrárias ao governo. Não aprendemos nada com a história? Ora, Adolf Hitler foi eleito pelo povo alemão, com um discurso de renovação e unificação da Alemanha, buscando a criação de um povo único, exclusivo diante de outros espalhados pelo mundo. O extermínio era a base dessa doutrina política e econômica de extrema-direita, que foi chamada de “esquerda” pelo atual governo e levou uma bela de uma correção do governo de Angela Merkel. Mais uma vez, o que esperar de um grupo que acredita em terraplanismo?
Caro 3º Eletro, aprendemos que a História, assim como a Matemática, a Biologia e a Sociologia são Ciências em constante aprimoramento. No caso da nossa disciplina, a História nos ajuda a compreender o tempo e o espaço em que vivemos a partir de vestígios do passado, ou seja, a partir daquilo que mulheres e homens criaram e utilizaram no seu dia a dia. Quem aqui sairia com uma suástica nazista no braço? Houve um caso em Minas Gerais, que infelizmente não teve a repercussão de repúdio necessária. Quem aqui elogia a ditadura civil-militar brasileira que matou quase 500 pessoas e mais de 20 mil pessoas foram torturadas? Recentemente houve um projeto para transferir os corpos de enterrados na vala clandestina de Perus, de São Paulo para Brasília. Por que esse projeto? Qual a intenção além do chamado “alto custo”? Como ficarão as famílias dos desaparecidos? Terão de se mudar para o Distrito Federal? A história de 1.049 pessoas está em jogo, e temos que lutar para que essa memória não se apague e que nós não sejamos os próximos a serem exterminados, até porque, já morremos cotidianamente nas ruas pelas chamadas “balas perdidas”. Em 10 meses, o Rio de Janeiro teve 6 crianças mortas por bala perdida, todas moradoras de favelas. A situação também é drástica quando detemos nossos olhos para São Paulo, onde há um genocídio da população negra e periférica. Segundo a socióloga Samira Bueno, autora de um estudo sobre o tema, os homens compõem 99,6% do perfil de mortos por policiais e das vítimas de homicídio em São Paulo. Desse montante, 67% são pretos e pardos. Precisamos urgentemente reformar a instituição “polícia” no Brasil, desde suas ações cotidianas à valorização efetiva como profissionais.
As pessoas que ainda apoiam esse tipo de governo, são as mesmas que dão fôlego para que governos, como o de Rondônia, crie aquilo que o Jornal El País chamou de “laboratório do conservadorismo”. Há dois dias, nesse estado, autores clássicos da literatura brasileira como Rubem Alves, Mário de Andrade, Franz Kafka, Euclides da Cunha e até o negro fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis, formaram parte de uma lista de 43 obras consideradas inadequadas para crianças e adolescentes, um claro gesto de censura que fez o governo voltar atrás dada a repercussão do acontecido entre profissionais da educação e mundo afora.
Para finalizar, eu gostaria de trazer uma reflexão a partir de um trecho do livro Sobre o autoritarismo brasileiro, da historiadora Lilia Schwarcz: “O Estado não pode ser encarado como um prolongamento do ambiente doméstico”. Ou seja, se queremos que esse Brasil seja livre, democrático, diverso, plural, respeitando as diferentes orientações sexuais e de gênero, temos que ler, entender, se aprimorar, cada dia mais e mais conferir se as fontes ditas por alguém são reais. Não podemos nos deixar levar, sermos massa de manobra e esperar que o Brasil melhore por si só. Lembram-se daquele jargão: “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica”? Pois é, tudo ficou pior...
Eu tenho esperança que logo mais vamos para às ruas cantar que “amanhã vai ser outro dia”, e isso só será possível se a gente for a mosca pousando na sopa dessa galera inescrupulosa, e mesmo que tenham “dias que a gente se sinta como quem partiu ou morreu”, nós vamos adquirir força e pedir que nossos amigos “afastem de nós esse cálice”. Como disse nossa ex-presidenta Dilma, “Todos nós seremos julgados pela História”, e para que nosso julgamento seja verdadeiro, nós vamos caminhar e cantar e seguir a canção, pois somos todos iguais, braços dados ou não, nas escolas, nas ruas, campos, construções”.”
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Encontros e despedidas
A feira da Vila Mara é um daqueles lugares que quando você passa é impossível não perceber que ela vai além de uma simples feira que vende frutas, verduras, pastel e caldo de cana. Ela é um lugar que tem de tudo que precisamos para o nosso dia a dia e me faz pensar muito do que vivi passando por ela quando fui criança e adolescente. Do alto da estação de trem você já vê uma imensidão de barracas com lonas azuis e verdes que se estende pela rua São Gonçalo do Rio das Pedras e a ideia que se tem é que seu fim será na igreja roxa, já que é o edifício que, depois dos predinhos do mutirão da Erundina, se sobressai na paisagem de árvores e casinhas vistas da passarela da estação. Uma mistura de músicas inunda o primeiro trecho da feira, com ritmos que variam do forró ao rock, misturas de “Meu advogado é o meu Senhor” na versão sapato de fogo, ao “O que pensa que eu sou” do Djavú. Cds, pen drives e até discos tocam em vitrolas, carrinhos, notebooks e até em um simples celular que está ligado a um cabo p2 numa enorme caixa de som. As músicas se misturam ao cheiro de frango assado do Aoki e dos vários botecos que disputam a clientela dos assados mais famosos, concorridos e caros da região, oferecendo batatas e refrigerantes como brindes. A fumaça das churrasqueiras é grande, mas se reduz à medida que os vendedores jogam água no carvão que queima e parece contribuir para aumentar o calor de 34 graus que a televisão mostra numa partida de futebol assistida por um monte de homens sentados nas cadeiras de plástico de um daqueles bares que também vendem frango assado. Uma pessoa que era da igreja que eu frequentava me cumprimenta, eu retribuo, sigo andando e pensando o quanto aquele lugar era ambíguo e sem sentido para muita gente que ali estava, como nós dois, duas gays com histórias distintas mas que voltaram a se cruzar numa feira longe do espaço que frequentavam num passado não tão distante. As mulheres correm para comprar os melhores pés de alface e de couve antes que virem parte da xepa, e assim, disputam cada espaço dominado por carrinhos de ferro e plástico, sacolas de lona, fibra e de plástico, além das Monark com aquelas crianças que puxam as uvas e pequenas frutinhas das barracas sem que seus pais vejam. Os vendedores gritam, berram, clamam pelos clientes, quase que parecendo um slam de tantas rimas, sons e verdades que saem de suas bocas visando acabar com as mercadorias que vieram da Ceagesp e do Ceag. Dois meninos gritam “fessôrrr”, eu olho pro lado e lembro que eram do Francisco. Caramba, estão grandes. Devem estar no 2º ou 3º ano do ensino médio, pois quando dei aula pra turma deles, deviam ser o 7º ano há uns 4 anos atrás. Eram terríveis, tacavam o terror na escola, e quando viam que eu me aproximava da sala na troca de aulas ficavam pianinho mas continuavam cutucando a onça com a vara curta. Ainda assim gostava deles, liam com muita dificuldade o livro de história mas se esforçavam para cumprir as atividades que passava. Senti um pouco de saudade, pois eu gostava deles e da turma, mas nunca tive apego algum à escola, ao que era proposto na reunião dos professores, da burocracia criada pelo responsável pelos recursos humanos local... Paro pra tomar um caldo de cana na barraca da Silmara, o melhor de São Paulo. Originalmente a barraca era dos pais dela, seu Gino e dona Gabriela, dois velhinhos super simpáticos que sempre enchiam meu copo depois que tinha tomado tudo. Acho que eles morreram, não tenho certeza, ouvi alguma coisa há um tempo, mas acho que não me apeguei à informação e deixei que ela voasse. Saí com o caldo puro na mão. Não gosto dessas misturebas que fazem colocando maracujá, morango ou outras frutas, faz a bebida perder o gosto, quebra a doçura da cana e não deixa aquele saborzinho do final que fica preso na garganta até que você beba água. Dois homens se esbarram, um reclama que o outro não enxerga por onde anda e o segundo diz pra ele plantar batata, no que uma mulher emenda e diz que quando ele colher as batatas pra fazer bem baratinho”. Um dos brigões segue comprando na feira e o outro vai em direção à feira do rolo, mais especificamente na parte dos passarinhos. Ali tem de tudo, de canarinhos, a pássaros-pretos, sabiás, papagaios, maritacas e até araras e pasmem: tucanos. Quando eu era criança ia com meu avô até a parte dos eletrônicos onde ele ia comprar peças para os rádios que consertava, e obrigatoriamente tínhamos de passar pela ala dos pássaros. Eu adorava os tucanos que ostentavam aqueles bicões enormes, e acho que por isso durante muito tempo adorava o PSDB, até tomar consciência do que o partido representava a partir da vivência com meu próprio avô que contava sua história como operário e trabalhador da zona Leste. Hoje não aprecio mais o PSDB, mas o tucano continua a ser minha ave favorita. Aliás, foi nessa mesma feira e junto do meu vô que compramos minha segunda bicicleta quando eu tinha uns 10 anos. Foram 20 reais muito bem investidos, cada um arcando com a metade do valor. Eu particularmente tive de deixar de comprar por uma semana parte do lanche da escola, juntando cada centavo do troco e as gorjetas que minha vó me dava quando ia no mercadinho do Seu Joaquim ou na padaria da dona Neide, lugar onde se vendia um pão tão ruim que meu pai falava que era ali que era feito o pão que o Diabo amassou. Essa bicicleta durou bem uns 15 anos, rodou muito o Jardim Helena, Vila Mara e o Parque Paulistano. Inclusive foi com ela que fui fazer minha matrícula na Unifesp, onde fiquei todo pintado por conta do trote e quando tive de voltar pra casa todo mundo me olhava no meio da rua. Por falar em olhar, ao longo do trajeto da feira várias pessoas me julgam por conta do shortinho curtinho que to usando hoje. Sim, ele cobre apenas 1/3 da minha coxa, mas é ótimo para esse calor e combina com a camiseta que to vestindo, então problema de quem fica me olhando torto, como uma mulher que tava comendo pastel e quase derrubou o ketchup. Já no final da feira encontro outro ex-aluno, mas agora do Carlos Gomes, escola que guardei uma memória afetiva muito mais forte que outras escolas que passei. O menino hoje deve ter uns 19 anos, pois ele era do 2º ano do ensino médio, mesma série da minha irmã na escola. Diante de um público ávido pela fome, ele grita oferecendo pastel para todo mundo, inclusive para mim, que aceno com mão dando um tchau. Atravesso a avenida Oliveira Freire, o barulho dos feirantes se finda, mas agora o que passa a reinar é o de 30 ovos por 10 reais, que pode ser ouvido da igreja roxa que passa a ficar maior por conta das torres que vão ficando maiores conforme você se aproxima delas. Já na rua Sampaio Bueno, uma garagem está aberta para que saia a fumaça do churrasco de uma família de 6 ou 7 pessoas que ouve “Vou não, posso não, quero não, minha mulher não deixa não”. Virando a esquina vejo a Mania de Sorvete, sorveteria que eu e minha família chamamos de Sorveteria da Dona Helena, em referência à dona, uma japonesa que frequentava nossa casa e ficava conversando com minha avó sobre o seu Kussaba, seu esposo. Toda vez que eu ia brincar no quintal ela falava “Philippe, vai na sorveteria buscar um negócio pra gente”, e lá ia eu super feliz. Ela tinha um celular daqueles grandes, que abria em dois e parecia um Megazord. Com ele, ela ligava para a sorveteria avisando que eu tava chegando e os funcionários deixavam separado o que eu iria trazer pra casa. Hoje a sorveteria não tem o mesmo movimento do passado. Na avenida Kumaki Aoki, inclusive, a dinâmica é a mesma, com um comércio pequeno e sem graça, como o hortifruti inaugurado há menos de um ano e que comeu praticamente todos os clientes da Irani, uma mulher que tem uma quitanda meio bagunçada, mas que vendia doces e bolachas fiado pra que eu pudesse pagar quando pudesse. Na esquina da quitanda, o antigo bar do seu Osmar, hoje bar do Delegado, mais um dia está repleto de homens que bebem cerveja, dividem um frango assado e ficam olhando o movimento da avenida. Um fala “Salim, Salim, fica quieto”, em referência ao meu vô, no que eu levanto a mão fazendo um joinha. Já na esquina da casa da minha família, os cachorros percebem que to chegando, começam a latir e uivar cada vez mais alto, como se fosse uma recepção formada por uma banda. Entro, faço carinho neles e percebo que minha infância e adolescência foi feliz por demais da conta.
Texto escrito em 03.11.2019
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Vivências e contradições de se morar em Santa Cecília
Há quase seis meses eu e duas amigas somos o novo e as novas moradoras do icônico bairro de Santa Cecília, na região central de São Paulo. Falo icônico, pois, mesmo antes da Vejinha ter estampado em sua última capa um perfil dos habitantes e do comércio hipster, o bairro já era muito bem conhecido por quem ali passava, morava ou trabalhava, como qualquer outro paulistano que tem sua vida ligada à cidade. E conhecido por ter um público bem diverso e ter um histórico de contradições que se estampam nas ruas e no comércio local.
A capa da revista dividiu opiniões: uns contra, outros a favor. No final, acho que tem mais contras do que prós. Se destaca o fato de que traçou um perfil geral de quem são os santa ceciliers, e achei isso interessante, de mapear esse público jovem, e que aqui se sente confortável para ser quem deseja, como as gays se vestirem com suas saias, rebolarem e expressarem-se como desejam; dos pouquíssimos pretos também se afirmarem por meio dos blacks, roupas e dos cumprimentos particulares entre si; e das mulheres que se afirmam pelo trabalho e pelas pautas feministas. Infelizmente (ou nem sei se o adjetivo é necessário, pois não espero muito da Veja), a reportagem foi em direção ao estereótipo, só que de uma forma divertida, cativante, com foco num determinado público leitor, dando ênfase ao estilo de vida de uma parcela populacional e ao comércio “descolado” do bairro, enfocando seus bares, floriculturas e até “casas de carne” (para não falar “açougue”), que atendem esse variado público, e que ajuda na manutenção da desigualdade local e da cidade.
Fato é que o chamado público “santa cecilier” da revista existe, e a reportagem caiu como uma luva para alguns, sobretudo para aqueles que desejam ter sua identidade ligada à estética e domesticidade. Os moradores de apartamentos construídos após os anos 50 com seus tacos de madeira no piso e samambaias que os decoram, e que às vezes cuidam de gatos e cachorros, e amam pagar em um chopp 18 reais mais 15% de serviço, vai ao encontro daqueles que acham que ascenderam de vida (por considerarem que agora moram no centro ou possuem um estilo de vida “descolado”), além de partilharem a vida cultural da região, permite que se construa uma identidade própria e que supostamente não seria encontrada em nenhuma outra parte da cidade, que lhe é exclusiva e sem conexão com outros pontos de São Paulo.
Ora, quem efetivamente conhece a cidade - e aqui me refiro a conhecer seu(s) centro(s) e periferia(s) – sabe bem que a diversidade é um fator inerente à qualquer grande cidade contemporânea, sobretudo em São Paulo, onde você vê pessoas que querem se diferenciar umas das outras em suas modas, fazeres e atividades, e ao mesmo tempo procurar se integrar em grupos que também partilham dos seus gostos, e assim, não há uma particularidade da dita “exclusividade” em ser morador ou moradora de Santa Cecília. Não é de se orgulhar que um bairro tenha mais acessos, oportunidades ou mais opções de lazer que outros, pois isso a reportagem só reafirma a desigualdade existe em uma cidade como São Paulo. A imagem construída pela revista, além de estereotipar os moradores do bairro, reduziu todo seu potencial de ser um espaço da diversidade (de pensamentos, política, cultural) como um espaço do consumo feito pelo e para o público jovem que cada vez mais passa a residir ali.
Dizer que o modo de vida de uma área é próprio de um bairro, da forma como foi construído pela revista, serve apenas aos interesses do mercado imobiliário, sobretudo porque assim viabiliza novas vendas e atrai um público economicamente ativo, e que se sinta ao mesmo tempo exclusivo, com um modo de vida que não pode ser encontrado em outros bairros paulistanos. Comparo com a região que cresci e vivi por 25 anos: São Miguel Paulista, bairro do extremo leste da cidade, e com uma dinâmica histórica e cultural muito forte. Evidentemente que as opções de lazer e oportunidades não são as mesmas que as de Santa Cecília, o que não significa que o público não crie formas de atender questões do seu cotidiano, a exemplo de também ter a tradição de possuir uma imensidão de plantas espalhadas pelas casas, costume que remonta ao final do século XIX quando a cidade passa a ter cada vez menos vegetação, mas o apego à natureza e os costumes e tradições do modo de vida rural permanecem na contemporaneidade. Assim, ter plantas em casa é um fato que só a história explica, e deve ser entendida de maneira macro, não segmentada como algo próprio de um bairro. A decoração com plantas nos apartamentos de Santa Cecília faz parte de todo um processo de estar próximo da natureza, que a própria cidade desprezou em sua história recente, e hoje tenta retomar essa conexão mesmo que por meio de samambaias compradas a 50 reais o vaso (quando em São Miguel o mesmo sai por 15 – e claro que também há samambaias mais baratas no centro, a questão é que às vezes pagar mais caro faz parte da dita “identidade santa cecilier”).
Isso sem dizer da tradição de possuir animais em casa. Gatos e sobretudo cachorros estão na vida das pessoas desde a Pré-História, então aqueles que vem até eu dizer que isso é uma coisa própria de Santa Cecília é porque na real vive no mundo da lua, e não no bairro que homenageia a padroeira dos músicos. Engraçado, pois as contradições do bairro são evidentes nesse quesito, pois enquanto muitos pregam a adoção de animais, na outra ponta o que surgem de espaços com plaquinhas de vende-se tal raça aparece aos montões, e isso encontra ressonância nos milhares de whippets e pugs vestidos como gente e que estão nos supermercados, farmácias e bares da região com seus donos. Queria que o número de vira-latas caramelo fosse ao menos próximo!
Criou-se uma falsa identidade para um dos bairros mais incríveis da capital paulista, a partir de uma comunhão pré-fabricada que se costura a partir do consumo, e que bem poderia ser tida pelas relações que se dão nos botecos, ruas e nas feiras da região, que aliás, muitos romantizam a ponto de dizer que “não tem feira igual a de Santa Cecília”. Claro que não tem, os espaços são distintos, mas isso não constrói um diferencial para um espaço com barracas que vendem legumes e verduras e um pastel a 8 reais. Só porque você, hipster que acha que ir à feira é algo exótico, que estar junto de velinhas com seus carrinhos de ferro, ou segurando seus dogs para não fugirem entre as pernas de quem tá ali ouvindo os poucos gritos dos feirantes, não sabe 1% do que é uma feira de bairro, com aquela molecada indo e vindo entre você, uma gritaria sem tamanho para tentar vender o máximo possível, e aquele chorinho do caldo de cana que na verdade volta a encher seu copo mesmo que você não peça. Acho engraçado o fato de amigas e amigos que moram por aqui acharem a feira da Santa Cecília uma coisa sem igual, porque conhecem os apelidos dos vendedores e acham um charme comprar três pacotes de legumes por 10 reais, como se isso fosse o desconto do século. Mal sabem que nos domingos também há outra feira não tão distante, próxima da rua Santa Ifigênia, em que os preços são muito mais baratos e a gritaria se faz presente com muito chorinho nos copos de caldo de cana.
Morar em Santa Cecília é uma delícia, você está imerso em uma variedade de espaços culturais como museus, teatros, baladas e cinemas, muitos dos quais são grátis ou baratíssimos, além do vasto transporte público e da opção gastronômica de restaurantes, bares e cafés. A questão é: efetivamente o público morador do bairro conhece o bairro? Eu diria que não! Primeiro porque a própria noção de morar em Santa Cecília não se estende ao perímetro oficial do encravado da Vila Buarque, Higienópolis e República, mas se estende à toda uma área central paulistana que chega à Barra Funda, alcança a Consolação e Liberdade, e que agora também está no Bixiga (bairro que muitos preferem chamar de Bela Vista). Ou seja, os aspectos e modismos presentes na Santa Cecília não é de sua exclusividade, mas de um pessoal que deseja morar no centro e que dadas as questões do nosso tempo, possuem gostos, vontades e ideais próximos, presentes inclusive no público de mesma idade e que mora em outros bairros, sejam tão periféricos ou não. Isso reflete o não conhecimento do bairro, dos cafés escondidos, das lojinhas de R$1,99, dos restaurantes com PF gostosíssimos que não gourmetizam o arroz com feijão…
A matéria da Vejinha me faz refletir outro ponto, o quão apolítico é o público que mora na região de Santa Cecília. Sem ficar concentrado na dita política stricto sensu, (foi aqui que Jair Bolsonaro e João Dória tiveram uma das maiores proporções de voto da cidade), em geral se observa um público que gosta de pagar de descolado, ligado às pautas historicamente ligadas à esquerda, como os movimentos de raça e gênero, mas não necessariamente ligado às pautas trabalhistas (um mal que também pode ser dividido com outros bairros de São Paulo e cidades do mundo afora, dada as questões que vivemos na contemporaneidade de focar no que pode alcançado pelo consumo). Em geral, muitos dos que habitam o bairro amam a ideia de que a revolução será feita pela internet e acreditam que a mudança virá pela ação do indivíduo em suas redes sociais e pelas atividades “diferentes e inovadoras” em seus ambientes de trabalho. Teve um dia que ouvi de uma pessoa que atua na tv e mora pela Santa Cecília que ela “faz o que pode para alcançar todos os públicos, até os ricos para pensarem como podem não ser tão esnobes”. Deu vontade de falar “bicha, pare!”.
Só pra gente ter uma ideia (e é uma coisa bem generalista, de observação, porque não conheço dados que me embasem), a galera adora debater questões sociais, sabe de cor os mandamentos de gênero, sexo e orientação sexual, e percebem o quão racista é a sociedade brasileira, mas não percebe o quão privilegiada é! Essa (e outros descolados) amam colar nos eventos da Ocupação 9 de Julho, e isso é maravilhoso sobretudo para dar visibilidade a um dos movimentos mais engajados do Brasil e do mundo, porém, quando em conversas se trata de temas como direito à cidade, IPTU progressivo e moradores em situação de rua, a luta é algo que tem que ser feita pelo outro, pelos movimentos, sem a sua devida participação.
Aliás, tratar de um assunto tão delicado como a moradia nessa área da cidade e apenas citar a Ocupação 9 de Julho, é invisibilizar outras ocupações que aqui também existem e que muitos fazem questão de fingir que não as conhecem sobre a Avenida São João, na Duque de Caxias, na Ipiranga ou ruas limítrofes. Por vezes já ouvi frases como “falta uma organizaçãozinha, né?”, “pena que é feio por fora”, “mas querem morar no centro também”, e outras mais frequentes, e isso da boca daqueles que moram do Copan ao Racy (o Copanzinho), dos pós-graduandos aos que trabalham como professores, enfermeiros ou em espaços de coworking.
Aproveitando o gancho da palavra, acho bizarro o fato de a galera considerar “cool” falar várias coisas em inglês e isso não ser problematizado. Além de cafona é pedante, todos quererem gastar seu inglês ao máximo, e isso inclusive parece que coaduna com aqueles bares cheios de decoração “inspirados em NYC e London” porque amamos um viralatismo. Aí nesse ponto eu penso: tem coisas que não são próprias de um bairro, mas de uma classe, a classe média, que faz questão de se mostrar, de se auto-afirmar pelo consumo e pelo modo de vida, tentando se distanciar ao máximo do pobre. Mas daquele pobre que mora na periferia do extremo da cidade, numa casinha de três cômodos – maior que muita kitnet – com aquele cachorro amarelo, e que depende da linha 3 vermelha. Nossa, só de pensar que a linha vermelha também passa pela Santa Cecília, mas da estação República rumo à Itaquera é outro mundo, lhe dá até calafrio. Uii…
Com certeza Santa Cecília é um dos bairros mais gostosos de se morar em São Paulo, disso não tenho dúvidas. Mas se suas moradoras e moradores querem ter alguma primazia nessa história, que não seja se gabando por ter uma vida diferentona de outros bairros paulistanos. Espero muito que a galera continue morando nos apartamentos chão de taco e as samambaias transformem suas salas em pequenas florestas (como a minha que tem até uma laranjeira), mas que também reconheçam que contribuem com a especulação imobiliária do bairro e é necessário fazer algo; que conheçam os cafés e botecos que não estão na rota metrô-casa; que entendam que a desigualdade está tão próxima como imaginam estar distante; e que ter uma identidade construída nos valores da distinção do mercado apenas reforça argumentos e pensamentos apolíticos e acríticos. As moradoras e moradores de Santa Cecília vão além do que a Vejinha descreveu! Acho que já deu pra perceber que apesar de ter um público que pensa que entende das demandas sociais, e tem uma parcela de jovens gays e mulheres independentes, se trata de um bairro branco, onde os poucos negros ainda são seguidos pelos seguranças nos mercados ou são estigmatizados ao entrarem em lojas ou bancos; que é formado por uma classe média que em geral se aproxima muito de outras classes médias paulistanas, pois é individualista e não se considera como classe trabalhadora; e acaba por ser bem ignorante, pois ao falar “bom dia” pro porteiro acha que está fazendo uma revolução, ainda que não precise fazer o mesmo com outros moradores do condomínio ou ter a riqueza de perceber que ela é um ser humano. Ser humano igual ao da Penha, do Jabaquara, do Imirim, de São Miguel… até da Mooca. Mas pra falar da Mooca é um papo que vai render outra história.
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Um convite à uma falsa experiência ou Estamos fadados à ignorância?
Poucos dias antes do Natal do ano passado, junto de minhas três irmãs menores, conhecemos a exposição “Leonardo da Vinci – 500 anos de um gênio” no novo espaço expositivo do Museu da Imagem e do Som, o “MIS Experience”, na Água Branca, zona oeste de São Paulo e que me parece ser um novo tipo de espaço dedicado a abrigar exposições de grande público que o MIS vem conquistando há um tempo, como a que abordou a trajetória do músico britânico David Bowie e ao seriado da Tv Cultura, Castelo Rá Tim Bum, em 2014 e 2017, respectivamente.
Dedicada ao aniversário de 500 anos da morte do gênio florentino, a mostra é dividida em vários espaços que tentam sintetizar a vida e a obra de Leonardo da Vinci, buscando assim, como o próprio nome do espaço ilustra, que os visitantes “experienciem” a mostra, que ele tenha “uma vivência divertida” a partir de réplicas de máquinas, diários, estudos e sobretudo pinturas. Estas últimas, projetadas em grandes telões do espaço expositivo vem acompanhadas de músicas que, a depender do que está sendo projetado, se combinam, às vezes mais dinâmicas, às vezes mais calmas.
Em linhas gerais a mostra é ruim! Mal organizada, sem uma proposta efetiva que permita o público refletir, criticar, pensar o impacto social e temporal que Leonardo da Vince teve do século XVI em diante. Efetivamente o desejo da mostra se concretiza: que o público fique “imerso” em um monte de projeções de imagens, se sinta vislumbrado por ser engolido por reproduções conhecidas e que se coadunam com seu autor, e permita que registrem o momento com seus celulares por meio de selfies, vídeos ao vivo, gravações e entrevistas que mais lembram uma tentativa de suprimir o fato do Brasil não ter efetivamente “experienciado” o Renascimento, e agora podermos efetivamente desfrutar daquilo que foi primado como referência. A mostra deseja e cumpre a ideia de trazer um grande público sem que ele seja contemplado com uma proposta que vá além da simples observação e captação de imagens que se repetem efusivamente da primeira à última sala.
Ora, Leonardo da Vince merece muito mais do que apenas ser relembrado como um excêntrico que dissecava corpos, construía enigmas por meio de sorrisos e executava o que lhe pediam. A mostra, além de caminhar nesse sentido, não confere nenhuma crítica que efetivamente construa um raciocínio temático, biográfico, histórico ou artístico, pois, desvincula a produção do sujeito do seu tempo (e daí um desprendimento da história, visto que não se preocupa com os diálogos do seu tempo e espaço) e apenas reproduz suas criações como algo mágico, que simplesmente eram feitas quando o gênio tocava os materiais, criando assim um mito que já no século XVI criou sozinho as bases para a modernidade. O problema não reside no fato da mostra inibir outros agentes que atuaram conjuntamente com da Vinci (apesar dessa forma de se entender as pessoas seja muito comum nos estudos históricos, artísticos ou de áreas comprometidas em pensar as relações humanas como redes firmadas entre diferentes sujeitos), mas de não percebê-lo como um ser humano inserido em uma sociedade de um determinado contexto e que sua obra dialoga com o que ali ocorre.
Outro fatal erro da exposição são os textos. Enormes, com letras pequeníssimas, pobres de conteúdo, que apenas ilustram ao espectador a função do objeto, delimitando a criação do protagonista à uma caixa. Ou melhor, convidam o visitante a um retorno à caverna, pois não permite a ele imaginar, aguçar o pensamento em torno da fruição artística, da técnica adotada, do diálogo com questões próprias daquele tempo. Textos tão rasos que o público que o lê não se sente incomodado com as músicas tocando ao fundo, as projeções luminárias que vão e voltam no seu rosto e todos conversando à sua volta como se fosse um amigo secreto de final de ano, dada a empolgação (ou tentativa, pois não há nada mais falso que um amigo secreto).
Talvez minha análise conduza a leitora ou leitor o seguinte questionamento: ora, a proposta dessa exposição é justamente romper com a ideia estática e tradicional dos museus, em que a palavra “não” impera: não tocar, não tirar fotos, não tirar fotos com flash, não ultrapassar a linha, não correr, não falar, não comer, não beber, não falar no celular, dentre muitos outros nãos que acabaram associados aos tradicionais museus e espaços congêneres. Muitos desses espaços, inclusive, passaram a dialogar com maior efetividade sobre tais nãos, sem que contudo perdessem a qualidade e a objetividade de conferir ao público mostras que possibilitassem a chamada “imersão”. O que está exposto no MIS Experience nada mais é do que uma tentativa bem-sucedida de atrair um grande público que projete a instituição, e consequentemente o Governo do Estado de São Paulo, a partir do que ele vem entendendo como cultura, a partir de nomes icônicos e mostras que atraiam novas pessoas por meio da liberdade de adentrar, se sentir parte, serem integrados às grandes obras projetadas nas paredes e telões como imersos num estúdio. Em outras palavras, ter uma “experience”. Uma experiência frustrada, já que se trata da simples reprodução de obras de Leonardo da Vinci, e que apenas estão em grande escala, já reproduzidas pela mesma empresa criadora da mostra em outras cidades do mundo todo.
Um último ponto vale ser trazido à baila, sobre o preço do ingresso: de quartas à sextas-feiras a entrada inteira sai por 30 reais e a meia a 15, e nos finais de semana e feriados, 40 e 20 reais as entradas inteiras e meias, sendo que nas terças a entrada é gratuita. Absurdo pensar que toda família, grupos de amigos, casal de namorados ou mesmo indivíduos possam desembolar os valores cobrados. Ainda que muitas e muitos hoje paguem meia entrada ou que exista um dia gratuito, não existe uma função social de acesso à democratização dos espaços pelo MIS ou pelo Governo do Estado de São Paulo. Ainda que milhões de reais tenham sido investidos para trazer essa medíocre mostra a São Paulo, há um objetivo claro e bem definido de quem atrair para a mostra: a classe média paulistana. O modelo de investimento à cultura que o governo paulista faz é de retorno lucrativo ao próprio Estado e não de direito à cultura e ao lazer a todo e qualquer cidadão e cidadã.
Se juntarmos o preço, a localização do espaço em uma área que vem recebendo uma série de investimentos públicos e privados e estar em uma zona próxima da região central, e não em uma das periferias – ora, se o MIS gostaria de ampliar sua demanda, por que não se instalar em um bairro como a Capela do Socorro ou São Mateus, este último que agora conta com uma estação da montanha russa paulistana, digo, monotrilho -, e a proposta da mostra, além da evidência do público que hoje visitava (predominantemente branco, mas bem diversificado nas suas faixas etárias), percebemos o quanto afundamos na era da reprodutibilidade técnica que Walter Benjamin pontuou há mais de 80 anos. A exposição “Leonardo da Vinci – 500 anos de um gênio” é apenas um espaço de reprodução de imagens e textos fracos que não permitem aos seus visitantes uma leitura crítica do passado e muito menos do seu presente, descompromissada com a política, com a história, com a arte, com a ciência. Este último exemplo é o grande não devir da mostra: não potencializar o impacto que Leonardo da Vinci teve na produção científica da modernidade, de um sujeito que dialogou com outros agentes de seu tempo e que outras pessoas aprimoraram seus estudos e técnicas ao longo do tempo, imprescindíveis para o ensino e a pesquisa contemporânea que por vezes é colocada à prova com discussões do mesmo nível da exposição, variando do terraplanismo ao marxismo cultural.
Não vamos negar o papel que um gênio como Leonardo da Vince teve no mundo. Contudo, não podemos fechar nossos olhos ao que nos interessa e apenas visualizar sua obra como algo belo e pronto, grande, reproduzível, que estando dentro dela estaríamos imersos, no interior. Ou melhor, numa “experience”, sinônimo de acriticidade, anacronismo e antipolítica!
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Preservar: um ato político e necessário!
O ato de preservar não pode ser reduzido ao simples lugar comum de manter um espaço, paisagem, construção ou práticas como são ou estão nos dias de hoje, é necessário buscar em sua etimologia os significados intrínsecos a fim de se ampliar sua noção e impacto sobre qualquer bem que seja de interesse social. Não à toa, é do latim a origem do verbo “preservar”, de modo que da palavra praeservare (surgida da confluência das palavras prae - que significa “antes” -, junto de servare – que significa “manter a salvo”) possui uma relação direta com as ações que dirigem as diferentes formas de proteção aos bens que elegemos como significativos para a história, a memória e ao desenvolvimento de toda e qualquer sociedade.
A preservação das áreas verdes e do patrimônio cultural se tornou um dos grandes desafios da sociedade brasileira contemporânea, questão que ganha visibilidade sobretudo pela apropriação e atenção da sociedade civil por meio de iniciativas que buscam sua valorização e atenção do poder público. Em São Paulo, esse fato se tornou parte da agenda de diversos sujeitos, sobretudo daqueles que residem nas proximidades desses bens, advindo daí a preocupação com os poucos parques, praças e jardins públicos que ainda existem na cidade, que são pauta desses agentes que cobram do poder público para que sejam preservados e mantidos, a fim de que todo cidadão possa continuar a usufruir e desfrutar desses bens tão ameaçados na atualidade, principalmente pelo avanço do mercado imobiliário e da especulação imobiliária que vem acompanhado a ele.
A São Paulo que trilhou seu crescimento a partir do chamado “progresso”, destruindo muitas de suas áreas verdes e de bens muitas das vezes considerados “antigos” (como as edificações coloniais no início do século XX), continua a destruir tais bens em nome do mesmo “progresso”, não respeitando inclusive as diretrizes e prescrições firmadas no passado e que preservam esses e outros mais componentes patrimoniais. São Paulo é uma cidade que cresceu estrondosamente em sua área e população nos últimos cem anos, e ao longo desse tempo percebemos como uma série de agentes continuam a atuar em nome do chamado “progresso”, encarando essa questão como algo meramente natural e que supostamente estaria em prol com o bem-estar da população.
Das poucas praças e áreas verdes que a região central paulistana possui, a Vilaboim é emblemática, não apenas por estar próxima ao icônico Edifício Louveira, do arquiteto João Baptista Vilanova Artigas, mas por congregar em seu entorno a marca da integração com uma série de outros elementos importantes à cidade. Sua própria história mostra como foi um espaço da associação de diferentes sujeitos, como ser usada como campo de futebol há quase cem anos, e sua figueira ali resistir desde 1937.
Permitir que essa importante área da cidade de São Paulo seja flexibilizada para o capital imobiliário significará um retrocesso sem tamanho, um desrespeito a um bem público que possui uma importância singular à região, seja pela proximidade ao Parque Buenos Aires e mesmo ao Estádio do Pacaembu, ou ao impacto que geraria ao Edifício Louveira, do sobrado vizinho (um dos poucos remanescentes da arquitetura eclética da região), além do conjunto de sobrados da rua Tinhorão, que forma um dos poucos exemplares de construções em série voltadas para a classe média da primeira metade do século XX, com sua volumetria e uso misto congregados nos dias de hoje.
Preservar a Praça Vilaboim e seu entorno é garantir que este pequeno remanescente de área verde continue a existir e sirva de espaço para a própria preservação do patrimônio da cidade, e como diz a origem dessa importante palavra, manter a salvo antes que se perca.
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Parceiro o caramba
Terça participei de uma entrevista para ser tutor numa unidade de reforço em disciplinas escolares. Ali o sentido da "Reforma Trabalhista" se encarnou na minha frente. Depois daquela inicial apresentação, o responsável pela unidade contou a história da empresa, da franquia, como que ela funciona, quem são seus clientes, como se dá a forma de atendimento. Após me passar os valores de hora-aula, mencionou que não pagaria o transporte até a unidade, visto que a crise demandou eles repensarem alguns "custos". Com um discurso permeado pela individualidade, ali os professores são considerados "parceiros", prontos para ajudar no que precisar, essencialmente aos seus alunos. Engraçado, nesse caso chamam seus clientes de "alunos", mas o profissional não é "professor", "orientador", "trabalhador"... é "parceiro". Depois de colocar uma série de pontos, pergunta se teria mais alguma questão, e questionei como se daria a formalização, se haveria algum contrato por exemplo. Prontamente me disse que não, que eu podia ficar tranquilo, tudo seria bem livre, sem burocracia, que eu teria apenas que me preocupar em digitalizar RG, CPF, diploma e comprovante de residência, e isso se dava porque precisam saber com quem estão trabalhando, principalmente para dar segurança aos pais dos alunos. Sobre o pagamento eu podia me despreocupar, pois eles seriam quinzenais e em dinheiro vivo, sinalizando que não seria feito em depósito ou transferência bancária, e assim, não registrando nenhum pagamento oficial ou vínculo comigo. Fiz uma última pergunta: se o valor das horas aulas não podia ser revisto. Ele encostou-se na cadeira, pegou a caneta e começou a riscar uma sulfite sobre a mesa. Por quase meia hora argumentou dizendo que a unidade vem passando por uma reestruturação, que o valor pago ainda é o do ano passado, não houve corte, que a única opção para não dispensar seus profissionais foi a do fim do pagamento do auxílio transporte. Além de tudo, ele tinha que pagar a franquia, o aluguel, energia elétrica, internet, água e todo o material que estaria à minha disposição, sem que eu precisasse colocar um centavo do meu bolso (nessa hora eu imagino que fiz uma cara bem estranha). Sua fala de contornou numa análise dos dias atuais, com a permanência do Temer na presidência. Começou dizendo que antes ele continuar na presidência do que ter que sair e afundar mais ainda o Brasil na crise em que vivemos de um ano pra cá. Ao final, disse que essa era a proposta dele, que talvez em um ano de fidelidade eu poderia ter um aumento mas que isso não era garantia. Agradeci a proposta, nos despedimos. O que fica na minha cabeça é o seguinte pressuposto: como a ideia de não valorização profissional, atrelada ao nosso contexto político é perfeitamente cabível aos interesses do mercado. Você não possui vínculo com a empresa, que não paga sequer um valor honesto ao que você vai trabalhar e muito menos o vale transporte, sem contar que não há formalização do trabalho ali realizado, sem contar que você deve aceitar ou largar o que estão te oferencendo, já que ali "você não é obrigado a nada". O pior de tudo é que por trás de toda essa situação, o trabalhador é obrigado a ouvir um discurso fajuto de "crise" e que tem que se enquadrar ao sistema, sem que nenhuma garantia de lei o assegure contra qualquer acidente, desvinculação trabalhista ou reclamação das condições em que está vendendo sua força de trabalho. Tempos horríveis os nossos. Tempos em que o falseamento da realidade é tão fecundo que chegou ao ponto de confortar as pessoas, que as ações tomadas são todas como necessárias e cabíveis no contexto em que vivemos, de crise. Como nossa querida Rita Lee ja cantava: "O ser humano tá na maior fissura porque, tá cada vez mais down o high society".
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Eu estou cansado!
A lembrança mais remota do meu desejo de ser professor vem lá dos meus 10, 12 anos, quando eu me sentava junto da Paloma e do Pablo, vinham seus amigos e montávamos uma escola, que tinha lousa, cadeiras, carteiras feitas de caixotes de madeira envernizados pelo meu vô, e um monte de cartilhas e livros didáticos.
Acho que esse desejo se concretizou porque essa figura que é meu avô teve uma grande influência sobre minha vida, como o incentivo à leitura, me levar para conhecer o centro da cidade. Não descarto que programas de tv como Rá-tim-bum, Castelo Rá-Tim-Bum, Chiquititas, Tv Cruj, Bom Dia e Cia, e milhões de desenhos animados ajudaram a construir esse caminho. A própria escola também teve um papel decisivo: sempre gostei muito de minhas professoras do prézinho (a Eliana nem tanto, pois tinha medo, mas adorava a Cristina) e da 1ª à 4ª série (Vera e Alice, Eunice, Sandra e Valdenice). Da 5ª à 8ª não nego que figuras como a professora Eleunísia de Língua Portuguesa, Marizilda de Geografia e Tânia de História foram muito importantes no caminho que começava a aspirar. Creio que no Ensino Médio tudo descambou de vez, quando tive as primeiras aulas de Sociologia e Filosofia na disciplina de Literatura com o professor Anderson, e em História tudo veio a fazer mais sentido com a professora Márcia e ao final com a Samara, pois eu via que tudo aquilo fazia sentido não só à minha vida, mas ao lugar em que vivia. Inclusive, no 2º ano ficava viajando se seguiria para a Sociologia ou permanecia na História. O destino me levou para a segunda.
Acabou que entrei para a História e em muitas aulas eu me via na escola, inspirado em muitos dos professores que tive durante a graduação. Ainda no curso, em 2011, atribuí aulas na Escola Estadual Dom Pedro I, em São Miguel Paulista, e desde então nunca mais saí da Educação. Passei pelas escolas Professor Francisco Pereira de Souza Filho, Fernandes Soares, e Carlos Gomes, espaço este que passei a maior parte de minha carreira e não nego que aprendi muito o que é ser professor. Hoje, na Escola Estadual Oswaldo Catalano continuo a aprender e refletir mais do meu presente, da docência, da função da História, da relação professor-aluno.
Mas, parafraseando uma antiga música que meu pai canta, nem tudo são rosas, existem os espinhos também. Eu estou cansado! Cansado emocional, psicológica e fisicamente do ambiente escolar. A escola suga tanto de você, que aos poucos, você que antes se enxergava como alguém que aspirava a mudar o sistema, se vê em muitas vezes dentro do sistema, não encontrando saídas, alternativas e formas de se romper as barreiras do dia a dia. Ou ao menos aparar um pouco dos espinhos dessas roseiras que são as escolas.
É certo que todo este fato se dá porque não há um incentivo e investimento maciço do Estado, e isso não se explica apenas pela questão financeira, mas de entender a Educação como algo que deve ser prioritário, a base para uma sociedade mais justa, igualitária, democrática. Bem sei que hoje caminhamos para um desmonte de todo tipo de política social e os governos alinham-se às tendências Neoliberais, mas o que enxergo no Brasil é que fica evidente que a classe dominante faça todo tipo e ação para exercer seu poder de controle sobre a população mais carente.
Nas escolas estaduais não existe mais nada além do professor (chegamos a este ponto). Não há impressões para passarmos atividades ou avaliações às alunas e alunos, folha de sulfite ou almaço para que escrevam, livros didáticos para todos, tinta para canetas quando a lousa carece de tal, e até giz. Nas escolas estão faltando giz! Data shows quebrados, televisões que não funcionam ou são tão antigas que não podem ser adaptadas à computadores, pois faltam entradas e consequentemente cabos, caixas de som. E claro, existem colegas de profissão e coordenadores pedagógicos que ainda dizem que isso é culpa dos próprios professores que não cuidam dos espaços. Pois digo que não, a culpa é sim em primeiro lugar do governo e depois destas pessoas que não administram a escola segundo questões pedagógicas, e sim sob o viés do autoritarismo e chantagem.
Salas superlotadas (em 2014 eu tinha cinco 3ºs anos, cada sala com 65 matriculados, o que não diferencia-se muito dos dias de hoje, visto que chegamos ao número de 50, e a meta desde os anos 90 era que nesta década tivéssemos no máximo 25), banheiros que não dão conta de atender todos os alunos e professores, papel higiênico e sabão que não existem, bebedouros que mais parecem grandes lavabos de pincéis após uma pintura, além do tanto de sujeira e entupimentos que cotidianamente possuem.
Biblioteca? Sala de leitura? Sala de computadores? Na escola que estou nesse ano até que há, mas quem disse que há investimento para sua reestruturação? Quantos são os livros que chamam a atenção dos alunos? Muitos podem falar, “que leiam Machado, Cervantes ou Sheakspeare”, pois é o que há em muitas das estantes empoeiradas, aqueles mesmos comprados há mais de duas décadas e quase despedaçam em nossas mãos. Pois respondo que sim, que leiam os clássicos e aqueles que (ainda) não são clássicos, pois todos têm direito à leitura e de serem lidos.
E os laboratórios de Química e Biologia? Salas com mapas, globos? Quadra com as demarcações para diferentes esportes?
Isso tudo me cansa... Me cansa ver que cada vez mais e mais as escolas estão sendo abandonadas, colocadas na boca do lixo, ao esquecimento. A tática do Estado é apenas pagar o parco salário aos seus funcionários, e que o resto se foda! A desculpa: não há dinheiro, estamos em crise, precisamos enxugar a máquina pública, talvez a iniciativa privada tenha soluções, professores são malformados, os alunos são cada vez mais rebeldes e sem vontade para estudar...
Talvez essa galera dita rebelde esteja no caminho certo. A rebeldia é algo intrínseco ao jovem. O desejo de se manifestar, falar, ver o mundo sob outra perspectiva talvez seja um dos ponta-pés para que possamos refletir sobre os caminhos da Educação. Assim, rebelar-se contra as ordens de uma escola, de uma direção e até mesmo de um professor pode também significar uma vontade de se obter a mudança diante de todo o autoritarismo que foi costurado nessa colcha de retalhos que é estudar numa escola pública brasileira. Não digo que neles seja a única e total chave para abrir esta porta, até porque muitos estão consumidos pelo viés da falsa meritocracia, defendem abertamente o Fascismo, e encontram-se com os olhos vendados, e a escola neste momento, não poderá abri-los.
Hoje, as escolas tentam a todo e qualquer custo contribuir para que esse sistema se perdure, não oferecendo condições reais de alguém sair formado. Eu enxergo que contribuo para a formação de alguns? Vejo, isso é nítido! Mas fico muito mal ao ver que a grande maioria, apesar de aprender muitos dos conceitos e questões trabalhados, sua escrita é defasada, não há uma coerência no processo de escrita, não importam-se em copiar ou quiçá tirar uma foto da lousa para depois estudar... Mas isso é outro caso, e merece maior atenção posteriormente.
Nossas escolas afastam a sua comunidade do debate: quantas são as famílias, os responsáveis pelas alunas e alunos, os comerciantes, os conselhos tutelares que conversam sobre todo esse quebra que vem ocorrendo nas escolas nestes últimos anos? Não que anteriormente tínhamos escolas de qualidade, mas o que enxergo é que cada vez mais e mais a Educação pública está ficando defasada, fraca, contribuindo para a perpetuação da ignorância das vítimas desse processo.
Eu não aguento mais ouvir que sou “novo e me acostumarei”, “uma hora você vai mandar todo mundo pro inferno”, “aluno é tudo igual, só muda o endereço”, “eles não tem vontade de estudar”, “a clientela é boa/ruim”, dentre outros chavões ditos essencialmente por professores da rede. Até quando?
Ano passado escrevi um texto repensando a nota que a Escola Carlos Gomes recebeu por ser considerada a melhor escola da Diretoria de Ensino Leste 2, o que levou à quase formação de um inquérito, visto que muitos se sentiram ofendidos, sem que realmente tivessem lido e interpretado minimamente a publicação. Achei (e continuo achando) que os ignorantes que fizeram a fofoca aos demais profissionais são apenas raposas perto das uvas, que esperam um dos botes para comer no momento certo. Aproveito e reafirmo: 2,99 não é uma nota digna para uma escola, e isso não se dá pela falta de bons professores, mas por uma falta de política de Estado que coloque a Educação como prioridade, e não exista uma formação continuada, ou um bom salário para nos dedicarmos à apenas uma escola.
Hoje ouvi de uma aluna que ela quer ser professora de Matemática ou Filosofia. Perguntei o por que, e ela me respondeu que é porque ela gosta. Simples... Espero que o sonho dela se torne realidade, e quem sabe, a colega de profissão já esteja numa situação menos pior da que vivemos hoje, não só com mais investimentos, mas cada vez mais preparada para vencer os obstáculos de toda essa avalanche de questões que estão nos engolindo dia após dia. Também espero que ela não esteja tão cansada como eu estou nestes tempos.
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Na última sexta-feira, dia 26 de maio, as alunas e alunos do 3ºG da Escola Estadual Carlos Gomes realizaram seu Café com Poesia e Arte discutindo as relações de trabalho do mundo contemporâneo, procurando contar esta vivência a partir da cena de um vagão de um trem da CPTM, modal de transporte que junto do metrô carregam em seus trilhos mais de 8 milhões de pessoas diariamente, ou seja, quase 75% da população total da cidade de São Paulo.
Com o tema “A locomotiva do trabalhador”, belas apresentações trouxeram em pauta a “vida de gado” que a grande maioria da classe trabalhadora paulistana sofre todos os dias, trazendo em perspectiva músicas e poesias que tratam do tema. Sob orientação da professora Lorena Freitas, a sala deu um show de apresentações!
Fico feliz de assistir um trabalho desses e ver como cada vez mais as alunas e alunos se desenvolvem ao longo de um ano. São atividades como essas que dão fôlego para que muitos professores como eu, possamos continuar na rede.
Enquanto de um lado professores orientam trabalhos magníficos como este, outros profissionais coagem alunos (chamados muitas vezes de “clientela”), defendem movimentos de direita como o Escola sem Partido, “denunciam” aqueles que realizam trabalhos de compreensão da realidade, ficam inconformados com as postagens de outros profissionais nas redes sociais, sendo inclusive bons fofoqueiros para com a coordenação e direção pedagógica ao desvirtuar os conteúdos que lá foram escritos, falam que existe uma “doutrinação” nas escolas, vestem camisas da CBF para protestar conta a esquerda… enfim, um completo absurdo de pessoas sem nenhum senso crítico e que ainda querem debater com seus achismos como se fossem razões inalienáveis.
De uma coisa tenho certeza: as alunas e alunos conhecem os professores que têm! E doam-se para que seus trabalhos como o deste Café sejam memoráveis, entrem para suas histórias de vida, do seu cotidiano, da sua realidade. Tal como as milhões de trabalhadoras e trabalhadoras desse Brasil!
Tenho orgulho de ter sido professor dessa galera!
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Estão abertas as portas do fascismo do século XXI: como professores atuam neste contexto
Estes dias não estão sendo fáceis. São notícias do governo federal anunciando a dita “reforma” previdenciária, e no mesmo pacote colocando como pautas mudanças no ensino médio, no SUS, cortes nos setores culturais, indicando ou elegendo para determinados órgãos pessoas que não têm conhecimento algum (como no caso das diretorias estaduais do IPHAN, ou mesmo as indicações da Fio Cruz, e a não aceitação da vitória da reeleição da atual reitora da Unifesp). Além disso, vemos que cada vez mais políticos que antes eram motivo de chacota, por defenderem pautas esdrúxulas, vêm ganhando espaço nas discussões e no rol de conversas, grupos de redes sociais, sendo até mesmo sondados cada vez mais pelos grandes veículos de comunicação, expondo seus ditos ideais machistas, homofóbicos, racistas e de ojeriza ao pobre e morador das periferias brasileiras, sempre com um discurso um tanto quanto populista visando claramente as próximas eleições que estão por vir.
Além disso, as escolas parecem ser espaços desassociados disso tudo, abstendo-se dos debates e não compreendendo que sua comunidade (alunas e alunos, seus responsáveis, professoras e professores, coordenação, direção, secretaria e entorno) deve estar unida e pronta para enfrentar todo tipo de posicionamento que fira os princípios dos Direitos Humanos e Sociais e quaisquer que sejam as manifestações que impeçam a livre expressão das pessoas.
Em São Paulo, a última assembleia dos docentes da rede pública estadual decidiu-se que o grupo paralisaria suas atividades entre 28 e 31 de março, sendo que neste último dia uma nova assembleia seria realizada a fim de decidir os rumos da paralisação. Assim, o grupo da escola em que leciono se propôs a conversar com a comunidade, especialmente com a comunidade discente e com seus responsáveis a fim de que pudéssemos expor as reivindicações que estão em pauta e que não se circunscrevem ao estado de São Paulo, mas a todo o Brasil, visto todo o desmonte da previdência não afetará apenas os professores e professoras, mas toda a comunidade de trabalhadores e trabalhadoras do país, e em especial aqueles que logo entrarão (ou que agora entraram) no mercado de trabalho: os mais jovens, estudantes, os cidadãos que possuem a faixa de 15 a 18 anos de idade. A conversa, combinada que seria realizada no interior da escola, de última hora não foi autorizada. Ainda assim realizamos a conversa com aqueles que estavam presentes, mesmo que fosse na frente da entrada da escola.
Atrelado a isso, me impressionou o fato de alguns professores passarem eretos, firmes, cruzarem a conversa e nem sequer pedirem licença, sem falar um único “boa noite”, como se tudo que estivesse ocorrendo ali não tivesse nada a ver com eles. Refletindo mais tarde, percebi que este tipo profissional é encontrado em diversas outras unidades de ensino, fazendo-se de conta que as reuniões, conversas, greves, planejamentos, atividades extracurriculares feitas com os alunos e alunas não passam de besteiras que devem ser extirpadas. O caso me recordou outra escola em que lecionei, no qual o número de professores declaradamente ditos de “direita” é expressivo. Alguns deles chegam a questionar o trabalho dos professores considerados “progressivos”. Como título de exemplo, tivemos o caso de uma professora que realizava uma atividade sobre os movimentos sociais contemporâneos, e que fora acusada por um determinado professor de ocupar um espaço que era destinado a ele (a quadra), o que causou intensa revolta nos alunos e alunas. A professora, muito bem embasada teórica e pedagogicamente falando, deixou todos sem respostas diante das acusações que faziam a ela, como não seguir o Currículo; não mostrar a dita “diversidade” de movimentos sociais, como os de direita (MBL, Revoltados Online e Movimento Vem pra Rua); muitas vezes menosprezando ou tirando chacota do que ensinava. Mas nada como uma pessoa bem formada e que consegue explanar bem sua formação teórica e de vivência, deixando todos os acusadores sem resposta.
Na escola em que estou trabalhando, atualmente, temo a condição de que ela é também considerada, como a anterior, como uma das melhores escolas da região em que se encontra, sua estrutura está bem preservada, conta com certa organização interior, mas não foge à regra pelo fato da grande maioria das suas alunas e alunos não residirem nas proximidades, e sim em bairros distantes, como Guaianases, São Miguel Paulista e Cidade Tiradentes. Com a escola anterior o fato também se repete, pois a grande maioria da comunidade discente advém de bairros como Jardim Helena, Vila Verde e Itaim Paulista.
Aos meus olhos, o que vem ocorrendo nos dias atuais, especialmente no interior das escolas que trabalhei e de outras mais, é um resultado da não compreensão de mundo que muitos professores vivem, além de sentirem uma ligeira pressão diante do choque geracional com os alunos. Me entristeço ao ver que existem professores que defendem qualquer tipo de medida que vem sendo capitaneada desde 2016, como a não mais obrigatoriedade do ensino de determinadas disciplinas; que o Movimento “Escola sem Partido” é realmente uma medida eficaz no interior da escola, apoiando inclusive que determinadas religiões (claramente as de matriz cristã) cumpram o espaço das Ciências Humanas; defendem a criação de escolas “especializadas”, privando o conhecimento universal para todos aqueles que desejarem uma formação interdisciplinar para a vida, além de outras questões.
São professores como estes, que defendem o retorno dos militares no poder, que ao mesmo tempo não possuem respaldo da grande maioria das alunas e alunos, e ficam bravos por serem questionados diante dos achismos que dizem. Não percebem o quão fascistas são ao defenderem a violência, a censura e combaterem o pensamento crítico, algo muito parecido com o que ocorreu em tempos próximos, como a eclosão da Primeira e Segunda Guerra Mundial, a levada de Hitler e Mussolini ao poder, e a morte dos mais de 6 milhões de judeus nos campos de concentração.
Eu não espero nada mais dessas pessoas. A única coisa que hoje espero é que as pessoas de bom senso entendam o que vem se passando no Brasil e no mundo, e não encarem isso com naturalidade. Vivemos um dos piores períodos da história da humanidade, e digo com este adjetivo pelo fato das inúmeras atrocidades que vem ocorrendo, e que são garantidas em nome da Lei, possuindo respaldo da sociedade que não enxerga o que está por trás disto tudo. Nosso tempo está sendo marcado pelo exacerbado consumo que traz a falsa realidade de posse e oportunidade para as pessoas, sem que elas se deem conta do jogo político que está por trás disso.
Desejo também que este tempo se finde, pois não está sendo fácil!
We were born sick
You heard them say it
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Para quem ainda não assistiu "Estrelas além do tempo", façam o quanto antes ;)
"Estrelas além do tempo", um filme que tod@s devem assistir
Como muitos de vocês sabem eu amo cinema, e ir assistir aos filmes sozinho é uma das coisas que mais gosto de fazer. Não que não tenha companhia para estar comigo, mas estar sozinho no cinema é uma experiência que me faz pensar, raciocinar e permitir que minha mente esteja ligada ao filme, e no momento de saída da sala possa ficar viajando no mundo da Lua. Hoje fui assistir “Estrelas além do tempo” (Hidden Figures), e saí do cinema com uma sensação muito parecida de um ano atrás, quando assisti “Cinco graças” (Mustang), com uma mistura de raiva, esperança e vontade em reassistir o filme, talvez por ambos os filmes tocarem na questão de gênero e que me é tão preciosa. O filme narra a história de três mulheres negras durante a década de 1960, no auge da corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética no contexto da Guerra Fria, além da luta pelos direitos civis no país americano. Assim, entrelaça não apenas as biografias de Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson, amigas que trabalham na NASA, mas traz em perspectiva as barreiras que existiam para que seu grupo racial não ocupasse os postos mais altos da hierarquia da agência espacial. Além de trazer em perspectiva panoramas já conhecidos do processo de segregação estadunidense (com a separação de brancos e negros em assentos de ônibus e bebedouros de água), o filme resgata como este processo ia além, como a separação de espaços socialmente construídos para cada grupo, como bibliotecas, espaços de trabalho e banheiros. Este último torna-se o grande ponto de discussão do filme, pois Katherine, que passa a ocupar uma vaga no laboratório de inteligência matemática, gasta em média 40 minutos toda vez que precisa utilizá-lo, levando consigo parte do trabalho (essencialmente contas e mais contas), o que inclusive faz seu chefe pensar que seja uma espiã. O debate acerca da hierarquia existente na NASA rende uma boa análise, visto que a totalidade dos postos mais altos são ocupados por homens brancos, e as três personagens centrais roubam a cena por destacarem-se com sua grande capacidade de gerenciar os espaços, realizar contas rapidamente e possuírem uma personalidade vívida, ousando romper as barreiras que lhe são impostas. A cena de Dorothy com seus filhos sentados num dos assentos do ônibus após a saída da biblioteca; o enfrentamento de Mary diante do juiz e a firmeza de Katherine contra as mazelas do ambiente que está atuando, são pontos altos do filme. Ao ter como plano de fundo histórico o momento da Guerra Fria, interessante foi o filme abordar o fato da IBM já se colocar como uma empresa atuante junto ao governo estadunidense, mas que ainda sofria diversos percalços com suas máquinas. Não é à toa que uma das personagens quem abraçará o problema. De maneira geral é um bom filme, e não nego que fiquei emocionado em ver que três mulheres negras romperam a barreira do preconceito e da lei estadunidense com muita luta e resistência, aliadas a outras mulheres e movimentos contrários à segregação racial existente naquele país. Um fato me veio à memória: Quando visitei o National Air Space Museum não encontrei nenhuma referência a estas mulheres, o que pode indicar que logo mais poderão estar junto a Neil Armstrong e os Wright Brothers no panteão das “conquistas espaciais estadunidenses” (o que também pode ser que não aconteça, pois com Trump no poder acho que este ponto não será tão levado a sério). Um ponto me intrigou: o título brasileiro não ter muito a ver com o nome original. Acredito eu que o nome podia continuar com uma livre tradução como “Figuras escondidas”, “Histórias apagadas”, algo que gravitasse em torno do fato do apagamento do nome destas personagens ao longo da história, o qual teceria relação com o fato de serem mulheres e negras. Talvez isso se deva ao fato do recebimento do filme no Brasil… Questões de mercado, não sei… Bom, apesar de todo o patriotismo presente no filme (algo que já é de praxe aos filmes estadunidenses), vale muito a pena assistir “Estrelas além do tempo”.
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"Estrelas além do tempo", um filme que tod@s devem assistir
Como muitos de vocês sabem eu amo cinema, e ir assistir aos filmes sozinho é uma das coisas que mais gosto de fazer. Não que não tenha companhia para estar comigo, mas estar sozinho no cinema é uma experiência que me faz pensar, raciocinar e permitir que minha mente esteja ligada ao filme, e no momento de saída da sala possa ficar viajando no mundo da Lua. Hoje fui assistir “Estrelas além do tempo” (Hidden Figures), e saí do cinema com uma sensação muito parecida de um ano atrás, quando assisti “Cinco graças” (Mustang), com uma mistura de raiva, esperança e vontade em reassistir o filme, talvez por ambos os filmes tocarem na questão de gênero e que me é tão preciosa. O filme narra a história de três mulheres negras durante a década de 1960, no auge da corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética no contexto da Guerra Fria, além da luta pelos direitos civis no país americano. Assim, entrelaça não apenas as biografias de Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson, amigas que trabalham na NASA, mas traz em perspectiva as barreiras que existiam para que seu grupo racial não ocupasse os postos mais altos da hierarquia da agência espacial. Além de trazer em perspectiva panoramas já conhecidos do processo de segregação estadunidense (com a separação de brancos e negros em assentos de ônibus e bebedouros de água), o filme resgata como este processo ia além, como a separação de espaços socialmente construídos para cada grupo, como bibliotecas, espaços de trabalho e banheiros. Este último torna-se o grande ponto de discussão do filme, pois Katherine, que passa a ocupar uma vaga no laboratório de inteligência matemática, gasta em média 40 minutos toda vez que precisa utilizá-lo, levando consigo parte do trabalho (essencialmente contas e mais contas), o que inclusive faz seu chefe pensar que seja uma espiã. O debate acerca da hierarquia existente na NASA rende uma boa análise, visto que a totalidade dos postos mais altos são ocupados por homens brancos, e as três personagens centrais roubam a cena por destacarem-se com sua grande capacidade de gerenciar os espaços, realizar contas rapidamente e possuírem uma personalidade vívida, ousando romper as barreiras que lhe são impostas. A cena de Dorothy com seus filhos sentados num dos assentos do ônibus após a saída da biblioteca; o enfrentamento de Mary diante do juiz e a firmeza de Katherine contra as mazelas do ambiente que está atuando, são pontos altos do filme. Ao ter como plano de fundo histórico o momento da Guerra Fria, interessante foi o filme abordar o fato da IBM já se colocar como uma empresa atuante junto ao governo estadunidense, mas que ainda sofria diversos percalços com suas máquinas. Não é à toa que uma das personagens quem abraçará o problema. De maneira geral é um bom filme, e não nego que fiquei emocionado em ver que três mulheres negras romperam a barreira do preconceito e da lei estadunidense com muita luta e resistência, aliadas a outras mulheres e movimentos contrários à segregação racial existente naquele país. Um fato me veio à memória: Quando visitei o National Air Space Museum não encontrei nenhuma referência a estas mulheres, o que pode indicar que logo mais poderão estar junto a Neil Armstrong e os Wright Brothers no panteão das "conquistas espaciais estadunidenses" (o que também pode ser que não aconteça, pois com Trump no poder acho que este ponto não será tão levado a sério). Um ponto me intrigou: o título brasileiro não ter muito a ver com o nome original. Acredito eu que o nome podia continuar com uma livre tradução como “Figuras escondidas”, “Histórias apagadas”, algo que gravitasse em torno do fato do apagamento do nome destas personagens ao longo da história, o qual teceria relação com o fato de serem mulheres e negras. Talvez isso se deva ao fato do recebimento do filme no Brasil... Questões de mercado, não sei... Bom, apesar de todo o patriotismo presente no filme (algo que já é de praxe aos filmes estadunidenses), vale muito a pena assistir "Estrelas além do tempo".
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Carlos Gomes - melhor Ensino Médio da Diretoria de Ensino Leste 2
Todos nós ficamos muito felizes em receber boas notícias, ainda mais quando elas estão intimamente ligadas às sua pessoas e àquelas com quem você convive cotidianamente. Ontem saiu a relação das premiações da Diretoria de Ensino Leste 2, e a Escola Estadual Carlos Gomes foi a considerada a que possui o melhor Ensino Médio da região de São Miguel, Itaim Paulista e Lajeado. Com certeza eu, minhas amigas e amigos professores, alunas e alunos,outros agentes da comunidade escolar se felicitam com esta notícia, que traz em perspectiva um pouco do trabalho que ali é desenvolvido. Este resultado se deve não apenas pelo trabalho desenvolvido em sala de aula, mas também pelas atividades externas, como saídas pelo bairro, passeios, saraus, o Café com Poesia e a Gincana Cultural. Claro que nem tudo são flores. Trabalhar numa escola que é considerada “diferente” das outras 90 escolas da diretoria de ensino é assustador, pois revela um pouco do cenário educacional que vivemos no Estado de São Paulo. Se enquanto hoje o Carlos Gomes ostenta o fato de ser considerada a melhor escola da Leste 2, acredito eu que não se orgulha das salas que faltam vidros nas janelas, das quadras poliesportivas sem demarcações e objetos para a prática de esportes, para a sala de leitura mal equipada, da falta de cadeiras e carteiras, do fato de quando chove as paredes denunciam as infiltrações e buracos, causando uma inundação que corre os corredores, segue pelas escadas até os corredores do térreo até sair pela secretaria ou páteo. A Escola Carlos Gomes tem muito que se auto avaliar, essencialmente pelo corpo docente que ali atua. É obrigação que nós, docentes, nos atualizemos e constantemente façamos uma auto avaliação de como estamos caminhando juntamente com nossas alunas e alunos. Nesta escola é perceptível a arrogância e prepotência de determinados professores em não ouvir e compreender o outro, e ainda proferirem discursos de ódio, respaldados pelo pior dos conservadorismos, sem a mínima base intelectual para que exista um debate saudável. Para muitos o debate pode ser vencido com as seguintes frases: “Eu tenho / sou a experiência”; “Eu vi essa escola crescer”; “Lutei muito para chegar onde estou, e hoje sou bem de vida!”. Hoje eu não tenho motivos para comemorar a nota 2,99 (numa escala que vai de 0 a 10), tenho motivos para refletir o que faz esta escola continuar a exercer simbolicamente os títulos de “melhor escola da Leste 2”, “melhor escola de São Miguel”, ou ser a “escola da nata”. Esta escola, que faz parte de uma REDE ESTADUAL DE ENSINO, está tão precarizada como outras. Neste ano foram fechadas três salas de aula do período noturno, os materiais encaminhados foram drasticamente reduzidos, menos funcionários da limpeza, sem contar questões que perpassam a carreira docente, como o não aumento real do salário, a não formação continuada nas ATPC'sm e aquele que para mim é considerado o mais trágico: a não aposentadoria de professores que entraram com pedidos para serem desligados da rede, e os processos correndo lentamente, levando de um a quase três anos para que se concretize tal pedido. Nesta escola também há mais um motivo para se trazer à reflexão: a necessidade de uma maior participação da comunidade escolar nas decisões e projetos realizados na mesma. Mães, pais, avós, avôs, tios, tias, vizinhos, professoras, professores, alunas, alunos, coordenadoras, diretora devem tecer um diálogo contínuo, e a voz ser dada para todas e todos, ainda mais nestes tempos a qual estamos vivendo, de calada daqueles que desejam se expressar e participar ativamente das questões públicas. Nesta escola eu aprendi a ser professor! Foi nela que eu fiz lindas amizades e conheci alunas e alunos tão sábios que me ensinaram coisas que na faculdade não aprenderia. Mas foi nesta escola que também aprendi que a força do discurso é arrebatadora e conquista uma multidão, e que é necessário que as escolas se reinventem, rompam com o modelo tradicional de ensino, ousem, convidem novos personagens, atraiam a comunidade, estabeleça contatos com a biblioteca local, com a subprefeitura, com os coletivos, que permitam que haja o diálogo e seja dada voz para daqueles grupos que foram marginalizados historicamente. Eu gosto muito de atuar no Carlos Gomes, mas também me canso de certos discursos reiterados e de todo esse movimento conservador que se alastra pelas paredes da escola dita “pioneira” de São Miguel Paulista.
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Carlos Gomes - melhor Ensino Médio da Diretoria de Ensino Leste 2
Todos nós ficamos muito felizes em receber boas notícias, ainda mais quando elas estão intimamente ligadas às sua pessoas e àquelas com quem você convive cotidianamente. Ontem saiu a relação das premiações da Diretoria de Ensino Leste 2, e a Escola Estadual Carlos Gomes foi a considerada a que possui o melhor Ensino Médio da região de São Miguel, Itaim Paulista e Lajeado. Com certeza eu, minhas amigas e amigos professores, alunas e alunos,outros agentes da comunidade escolar se felicitam com esta notícia, que traz em perspectiva um pouco do trabalho que ali é desenvolvido. Este resultado se deve não apenas pelo trabalho desenvolvido em sala de aula, mas também pelas atividades externas, como saídas pelo bairro, passeios, saraus, o Café com Poesia e a Gincana Cultural. Claro que nem tudo são flores. Trabalhar numa escola que é considerada "diferente" das outras 90 escolas da diretoria de ensino é assustador, pois revela um pouco do cenário educacional que vivemos no Estado de São Paulo. Se enquanto hoje o Carlos Gomes ostenta o fato de ser considerada a melhor escola da Leste 2, acredito eu que não se orgulha das salas que faltam vidros nas janelas, das quadras poliesportivas sem demarcações e objetos para a prática de esportes, para a sala de leitura mal equipada, da falta de cadeiras e carteiras, do fato de quando chove as paredes denunciam as infiltrações e buracos, causando uma inundação que corre os corredores, segue pelas escadas até os corredores do térreo até sair pela secretaria ou páteo. A Escola Carlos Gomes tem muito que se auto avaliar, essencialmente pelo corpo docente que ali atua. É obrigação que nós, docentes, nos atualizemos e constantemente façamos uma auto avaliação de como estamos caminhando juntamente com nossas alunas e alunos. Nesta escola é perceptível a arrogância e prepotência de determinados professores em não ouvir e compreender o outro, e ainda proferirem discursos de ódio, respaldados pelo pior dos conservadorismos, sem a mínima base intelectual para que exista um debate saudável. Para muitos o debate pode ser vencido com as seguintes frases: "Eu tenho / sou a experiência"; "Eu vi essa escola crescer"; "Lutei muito para chegar onde estou, e hoje sou bem de vida!". Hoje eu não tenho motivos para comemorar a nota 2,99 (numa escala que vai de 0 a 10), tenho motivos para refletir o que faz esta escola continuar a exercer simbolicamente os títulos de "melhor escola da Leste 2", "melhor escola de São Miguel", ou ser a "escola da nata". Esta escola, que faz parte de uma REDE ESTADUAL DE ENSINO, está tão precarizada como outras. Neste ano foram fechadas três salas de aula do período noturno, os materiais encaminhados foram drasticamente reduzidos, menos funcionários da limpeza, sem contar questões que perpassam a carreira docente, como o não aumento real do salário, a não formação continuada nas ATPC'sm e aquele que para mim é considerado o mais trágico: a não aposentadoria de professores que entraram com pedidos para serem desligados da rede, e os processos correndo lentamente, levando de um a quase três anos para que se concretize tal pedido. Nesta escola também há mais um motivo para se trazer à reflexão: a necessidade de uma maior participação da comunidade escolar nas decisões e projetos realizados na mesma. Mães, pais, avós, avôs, tios, tias, vizinhos, professoras, professores, alunas, alunos, coordenadoras, diretora devem tecer um diálogo contínuo, e a voz ser dada para todas e todos, ainda mais nestes tempos a qual estamos vivendo, de calada daqueles que desejam se expressar e participar ativamente das questões públicas. Nesta escola eu aprendi a ser professor! Foi nela que eu fiz lindas amizades e conheci alunas e alunos tão sábios que me ensinaram coisas que na faculdade não aprenderia. Mas foi nesta escola que também aprendi que a força do discurso é arrebatadora e conquista uma multidão, e que é necessário que as escolas se reinventem, rompam com o modelo tradicional de ensino, ousem, convidem novos personagens, atraiam a comunidade, estabeleça contatos com a biblioteca local, com a subprefeitura, com os coletivos, que permitam que haja o diálogo e seja dada voz para daqueles grupos que foram marginalizados historicamente. Eu gosto muito de atuar no Carlos Gomes, mas também me canso de certos discursos reiterados e de todo esse movimento conservador que se alastra pelas paredes da escola dita "pioneira" de São Miguel Paulista.
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São Paulo, sua quebra de privilégios e o desejo de retorno ao passado
Um sentimento de tristeza e desânimo ronda aqueles e aquelas que desejavam a continuidade de um projeto de cidade mais humanitária para com seus cidadãos e cidadãs. A eleição de João Dória no primeiro turno das eleições de 2016 em São Paulo é significativa, pois traduz muito daquilo que o paulistano sente e apreende quando em contato com o diferente, o novo, a novidade, ainda mais quando este novo traz consigo a perspectiva de não quebrar privilégios enraizados na cidade.
A gestão Haddad veio na direção de quebrar tais privilégios. Privilégios que estavam encrustados e necessitavam serem postos à prova, mesmo que isso redundasse no atual resultado das eleições. Um prefeito que trouxe ao paulistano comum, ao pedestre, ao aluno, ao cidadão a oportunidade de viver livremente sobre o espaço em que mora, quebrando paradigmas que mesmo em outras gestões do PT não foram capazes de fazer.
Apenas como exemplo, vou me deter à quebra do privilégio do automóvel como detentor do uso das ruas e avenidas da cidade, pois trouxe em discussão a importância da bicicleta como modal de transporte, a segurança de muitos que não estavam nos automóveis, a relevância de que os ônibus necessitavam de um espaço exclusivo para tais (já que comportam pelo menos 15 vezes mais pessoas que um automóvel comum), a oportunidade de conceder transporte gratuito para quem não pode arcar com tais custos, especialmente os alunos e alunas das escolas públicas, a diminuição das velocidades em muitas das vias. Estas ações feriram drasticamente o privilégio do automóvel, e automaticamente dos seus usuários.
É difícil você trazer ao debate a importância de que a cidade têm que ser de todos, inclusive daqueles que não usam o automóvel como principal meio de locomoção. São Paulo, uma cidade em que para cada dois habitantes há um carro, mexer com o privilégio dele em determinados espaços é também mexer com o discurso da individualidade, da prepotência, da alienação, obrigando que as pessoas questionem, pensem, duvidem daquilo que foi naturalizado ao longo do tempo.
Eleger João Dória é um problema profundo neste momento, ainda mais por ter se concretizado em apenas um turno. Como pode uma cidade ter a oportunidade de levar ao debate o jogo concreto de ideias, e simplesmente se abster de tal, entregando tacitamente o poder à uma pessoa que até ontem se dizia não ser político, mas sim gestor, empresário, trabalhador, simbolizando toda a ideologia que reveste o paulista(no) na contemporaneidade e o seu passado faustoso e “empreendedor”.
Este discurso não é de agora. O discurso de Dória e de parte do PSDB (haja visto que nem no seu partido ele é aceito por 1/3 dos seus integrantes), combina com a tal da “paulistaneidade”, na qual o digno morador da cidade não deve ser contrariado, ele deve desafiar e ir adiante, não ser conduzido, mas conduzir os destinos sem que se quebre a tradição, aquilo que não deve ser mudado ou posto em cheque. Faz jus ao lema da cidade, “Non dvcor dvco”, no qual o paulistano ainda é tido como o bandeirante colonial, com áspera sede de conquista, vitória, apego às questões materiais, nem que isto resulte na morte de centenas de milhares de outras pessoas, na destruição da fauna e flora sem nenhum tipo de pudor ou sentimentalismo para com o próximo e seu ambiente.
Todo este momento que passamos agora é reflexo de um processo maior, de ascensão da direita, revestida do que há de pior em seu discurso conservador (machismo, homofobia, intolerância religiosa, racismo, ojeriza ao pobre, etc), estando guardado desde o final dos anos 90, e parece-me que ressurgindo das ditas “manifestações” de 2013, momento emq ue “o gigante acordaria”. O mesmo exemplo da onda conservadora podemos perceber em outras cidades do país, como em Salvador, na qual ACM Neto fora reeleito com mais de 70% dos votos, em Belo Horizonte, com um segundo turno marcado pela presença de dois candidatos da direita, e em Curitiba o candidato que disse ter nojo de pobre estar à frente das pesquisas.
Isso pode soar como uma síndrome do vira lata, e sirva para muitos como respaldo para aquelas frases como “Tinha que ser no Brasil”, “O Brasil não tem jeito”, “Melhor devolver o Brasil para os índios” (frase esta que eu particularmente odeio), dentre outras que menosprezam o potencial político do brasileiro, e que ganharam força nos últimos anos, como nunca antes visto na história republicana nacional.
São Paulo representa o que há de mais nefasto nas grandes cidades da atualidade: a individualização e crescente desprezo sobre qualquer política que contrarie o status quo daqueles que tem os privilégios como forma de controle social e / ou estilo de vida. Hoje, 01 de outubro de 2016 São Paulo perde a oportunidade de ter a continuidade de um debate sobre a cidade que desejaria ser. Ou melhor, que parte da sua população almejava, como a igualdade, quebra de paradigmas e destruição de antigos ranços que pairavam sobre práticas cotidianas existentes na cidade.
Nesta noite fui encontrar meus amigos e amigas como forma de ter um amparo e espaço para poder dialogar todo este momento. Foi bom! Mas ao mesmo tempo foi péssimo, ao sentir pessoas gritando palavrões, dizendo que a mamata acabou e que São Paulo se livrou da ditadura comunista, que João Dória é trabalhador. Isso tudo me encheu de tal maneira que minha vontade não é mais de sentar, conversar, dialogar, mas olhar tais pessoas de cima à baixo, e as largar falando sozinhas.
Ao mesmo tempo tenho esperanças em ver que um dia minha cidade será um espaço democrático, igualitário, humano, com reais oportunidades para todos e todas, as vozes terão espaço, as cabeças serão mais questionadoras. Mas para isso só vejo um caminho: a união entre todos os coletivos, associações, grupos, setores intereligiosos, sindicatos, grêmios, militantes e demais pessoas que se identifiquem em um dia vislumbrar esta cidade, este Estado e este país mais justo.
Não foi o Fernando Haddad que perdeu a eleição. Fomos nós, paulistanos e paulistanas, moradores e trabalhadoras, estudantes e professoras, moradores do centro e da periferia. Que possamos cumprir nosso papel de oposição, articulando meios e formas de atingir aqueles que foram enganados pelo discurso de retorno ao que era São Paulo no passado.
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