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Emicida retorna no seu melhor estilo com "Eminência Parda"
Por Paulo Silva (@prosdoc_)
Ontem (08/05), à convite da LAB, tivemos a oportunidade de participar da premiére de lançamento da nova faixa do Emicida, “Eminência Parda”. O evento aconteceu no Museu Afro Brasil, em São Paulo, e contou com a presença de fãs, jornalistas e amigos do MC.
A conversa teve a moderação de Eduardo Ribas, editor e co-criador do Per Raps e hoje, também, diretor de comunicação da Laboratório Fantasma. Ele conduziu a conversa com o Emicida por cerca de uma hora, para apresentar mais detalhes sobre a faixa que veio acompanhada de um clipe dirigido pelo cineasta Leandro HBL.
Por conta das recentes publicações que saíram nas redes sociais do Emicida com a hashtag #permitaqueeufale, existia grande expectativa sobre o anúncio de um novo álbum, grande parte disso surge pelo fato de que faz praticamente 4 anos que não há um lançamento de um trabalho contendo apenas inéditas, mesmo que ele não tenha deixado de trabalhar, já que teve a “Todos os Olhos em Nóiz” no DVD “10 anos de Triunfo”, e outros singles como “Inácio da Catingueira”, Vital e parcerias internacionais como “Hacia el Amor”. Parte da euforia foi também impulsionada por esse vídeo:
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Questionado sobre o tal álbum, Emicida foi franco em dizer que ainda não há uma resposta sobre isso, de que está sendo estudado qual é a melhor forma de trazer isso a público e que os artistas que ainda hoje fazem discos só fazem porque são românticos, já que praticamente não se encontra mais aparelhos para tocar CD e que a capa da obra tem se tornado muito mais um porta-autógrafo do que qualquer outra coisa.
“Eminência parda” ou éminence grise, é uma expressão em frânces utilizada para nomear quando determinado sujeito não é o governante supremo de tal reino ou país mas é o verdadeiro poderoso, agindo muitas vezes por trás do soberano legítimo.
Falando especificamente sobre a música, vemos o reencontro do Zica da Rima com o Zica da Base, já que foi o Nave que assinou a produção da faixa. Além disso, a faixa ainda conta com três participações: o artista do ABC Paulista Jé Santiago, o MC tuga Papillon e a cantora paraense Dona Onete.
Ao responder como chegou em cada um desses nomes, Emicida falou que o primeiro a ser convidado foi Jé Santiago, por conta de sua versatilidade ao fazer Trap, e também pela verdade que ele entrega com a qualidade melódica que apresenta. Já, Papillon foi convidado a partir de um encontro dos rappers em Portugal. Emicida queria apresentar a Portugal preta que poucas pessoas conhecem, mas que possui grande importância e ganha representatividade com a voz do artista português.
Falando da Dona Onete, em especial, Emicida conta que queria ter utilizado um trecho da faixa “Canto II” da obra Canto Dos Escravos, interpretada por Clementina de Jesus, no entanto, pelo fato que samples originais são menos adaptáveis para se trabalhar, optaram por regravar o trecho e só encontraram em Dona Onete uma voz à altura de Clementina. Falando sobre o encontro que teve com ela, relembrou o poeta Sérgio Vaz ao dizer que “pessoas que falam ‘nós vamos’, talvez não apareçam no compromisso, mas se a pessoa diz ‘nós vai’ é porque com certeza vai estar lá”, então por mais que Dona Onete tenha uma agenda internacional de muitos compromissos, ela se empolgou com “Eminência Parda” e disse “nós vai” e foi mesmo.
Sobre o clipe, vemos nele a história de uma família negra de classe média que simplesmente vai jantar em um restaurante para comemorar o sucesso da filha mais nova ao passar no vestibular de uma faculdade, porém, eles são mal vistos pelos frequentadores brancos do estabelecimento. A produção é bem didática, propositalmente, ao mostrar como essas pessoas viam aquela família. Por mais que eles apenas estivessem celebrando uma conquista, existia um olhar de ojeriza e desconfiança por quem estava em volta. Uma situação que, infelizmente, ainda é frequente na nossa sociedade e que, sentimos, tem se ampliado ultimamente.
Recomendamos que o clipe seja assistido algumas vezes, pois alguns detalhes se sobressaem numa segunda análise. Um exemplo é o fato de que o incômodo das pessoas brancas retratadas no clipe não é com o corpo negro presente no mesmo espaço em que eles estão, já que há funcionários negros no restaurante, mas sim o que incomoda é a posição de igualdade em que aquela família negra se pôs ao fazer algo extremamente cotidiano e simples, sem pensamentos militantes quaisquer que sejam.
No final do evento, Emicida ressaltou o simbolismo e a importância de frequentarmos espaços como o Museu Afro Brasil, já que esse espaço reúne materiais e documentos da história do negro do Brasil, isso de forma ampla, tratando, obviamente, da escravidão, mas não só. É um lugar que abarca a complexidade bem como a grandiosidade da nossa história e que merece ser mais divulgado.
Se você ainda não conhece ou não é de SP, O Museu Afro Brasil fica dentro do Parque Ibirapuera, próximo ao portão 10, e tem preços bastante acessíveis durante a semana e é gratuito aos sábados. Conheça a programação em: www.museuafrobrasil.org.br
Por mais que não tenhamos recebido a esperada notícia sobre a chegada do álbum, este som, que traz o melhor do Emicida, ou seja, metáforas bem aplicadas e rimas contundentes, teve ainda a mistura de um grande nome do trap nacional, a nova geração lusa, e o resgate a personagens gigantes da música, como Clementina de Jesus e Dona Onete. Esperamos que seja apenas o início de um grande projeto.
A faixa já está disponível nas principais plataformas de áudio e o clipe pode ser visto no Youtube.
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“É subalterno ou subversão? Tudo era inferno, eu fiz inversão A meta é o eterno, a imensidão Como abelhas se acumulam sob a telha Eu pastoreio a negra ovelha que vagou dispersa Polinização pauta a conversa Até que nos chamem de colonização reversa” - Emicida, “Eminência Parda”
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Primeiras impressões de Ladrão, novo disco do Djonga
Pelo terceiro ano seguido, Djonga entrega um álbum que será ouvido e discutido o ano todo. Se o MC continuar nesse ritmo de produções, se pá vire tendência a gente falar que o ano só começa de verdade quando ele lança um álbum.
Aberto os caminhos, “LADRÃO” chega em um dia conturbado com caso de alunos matando colegas em Suzano (interior de SP) e com Facebook e Instagram fora do ar, fato que de certa forma rendeu ao disco atenção plena em outra rede, o Twitter, com direito a hashgtag nos Trending Topics. Sem tempo pra respirar, o trabalho é direto, sem rodeios. Djonga, no seu melhor estilo, vem apresentando frases marcantes que certamente ficarão na nossa memória por muito tempo.
Cada vez com maior noção da sua responsa, o MC mineiro faz uma verdadeira carta aos seus irmãos em “HAT-TRICK”. Destaco o alerta contido em:
“É pra nós ter autonomia. Não compre corrente, abra um negócio Parece que eu tô tirando, mas na real tô te chamando pra ser sócio Pensa bem, tira seus irmão da lama, sua coroa larga o trampo Ou tu vai ser mais um preto que passou a vida em branco?”
Tem muita ideia pra ser trocada só com esse trecho. Cê é louco! Mas o que fica evidente é a preocupação que o MC possui em fazer um chamado a quem o ouve. Algo do tipo “vamos ser agora os donos e deixar de ser os expropriados”.
Como um bom ouvinte de Don L, Djonga sabe que, se você conseguir um lugar de destaque e não levar ninguém contigo, isso não é Hip-Hop. Por conta disso, ele quer trazer cada vez mais pessoas para os lugares que elas merecem. Através de sua música, isso é feito indiretamente, mas ele o faz de uma forma mais direta também levando cada vez mais pessoas para sua equipe e chamando artistas que ainda não tiveram a atenção devida para participar dos seus feats. Dessa vez, foram convocados Doug Now, Chris MC e MC Kaio, com seu Flow Cassiano.
Fechando as participações e respeitando quem soube chegar onde chegou, há ainda a presença de Felipe Ret na faixa “DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL”, nome diretamente retirado do icônico filme de Glauber Rocha. Destaque para “Voz” e "Tipo”, duas músicas com refrões que prometem grudar e bombar na pista. A orelhada vai para uns trechos bem contestáveis de “Tipo”, que parecem resumir uma mina a sua bunda fora de série e o fato dela não ligar pra grana.
Fora isso, respeito parece ser a palavra que permeia o trabalho. E respeito aos mais velhos primeiro. Como Djonga o faz a saldar seus ascendentes na linda homenagem feita em “BENÇA”. O respeito que ele prega para os irmãos e irmãs terem por si próprios. E respeito ao seu trabalho, que já pode ser considerado gigante e toma proporções maiores ao sabermos de onde ele veio e de sua história.
Escute o novo trabalho e descubra o quão talentoso Djonga é. Escute mais vezes e saiba o quão profunda suas ideias são. Em algumas poucas audições, a certeza que fica é de que não foi possível absorver nem metade de tudo que há pra ser entendido e, essa, sem dúvida, é a melhor parte de “LADRÃO”.
OUÇA DJONGA, LADRÃO
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O rap me fez ter certeza de que ser negro é lindo, mas e agora?
– por Eduardo Ribas (@duardo)
O ano é 2018 e passada a ressaca de mais um Dia da Consciência Negra difícil, vamos conversar. Momentos difíceis na política nacional e futuro em xeque por conta da eleição de um presidente que chamou quilombolas de preguiçosos, pretende lhes tirar as terras, que acha que esse papo de minorias é mimimi, que a meritocracia é o que deveria ditar as oportunidades nesse país e que a polícia deveria ser ainda mais truculenta, sendo que pro preto ela sempre foi e é a que mais nos mata.
A perspectiva não é nada boa, mas neste momento é importante olharmos para quem somos e nos fortalecermos como unidade. O país segue se vendo como uma nação negra, sendo que a cada novo senso percebemos que mais pessoas se identificam como tais, mas também temos o dever de nos unir como cultura, no caso, a cultura hip-hop. Pra mim, particularmente, esses dois pontos caminham juntos.
Respeitosamente deixando de lado os demais elementos da cultura hip-hop e focando no MC e DJ, que formam o rap, é notável como a auto-estima de jovens negros e brancos foram construídas a partir de versos de grupos que desde a década de 1980 dizem que o negro é lindo, que o sistema está contra você e que é possível batalhar e conseguir alcançar seus sonhos, assim como o samba já disse no passado, por exemplo. E podemos ir além, uma vez que a cultura oral africana é milenar e representada pelos griôs, termo que entre outros significados se remete a um lugar social e político na comunidade para transmissão oral dos seus saberes e fazeres.
Não sei você, mas eu me lembro lucidamente como fui impactado positivamente pelas letras de griôs contemporâneos como Tupac Shakur, quando comecei a aprender as primeiras palavras em inglês, depois com Xis, Racionais MCs, Consequência, Sabotage e mais tarde De La Soul, A Tribe Called Quest, entre tantos outros. Foi ali que pela primeira vez, ou ao menos uma das primeiras vezes, ouvi a palavra negro ser aplicada de forma positiva, foi nessas letras que entendi que podia ser inteligente sem ver isso como uma falta de humildade, que podia conseguir ir além do que a sociedade dizia esperar de mim e que eu podia contrariar a estatística.
Ali deixei o afro crescer, fiz tranças nagô, comecei a usar roupas largas com estampas da 4P, marca do Xis e do DJ KL Jay, com a imagem dos meus heróis MC’s e DJ’s estampadas e passando a frequentar ambientes em que tive a oportunidade de conviver com outros pretos que curtiam o mesmo som que eu. E ia além, pois a ideia de ser questionador, de querer se expressar frente à opressão do dia a dia e de se sentir parte de algo maior, coisa que só a música conseguiu fazer. Quando dizem que o hip-hop salvou uma vida, não ache que é exagero, ele realmente fez isso para um incontável número de pessoas.
Se você ainda não sabia dessa, entenda que o hip-hop é preto, sua origem é negra nos bairros periféricos de Nova Iorque e essa é uma cultura inclusiva, que no Brasil e no mundo trouxe brancos, primeiramente periféricos e hoje de qualquer classe social, para perto de uma realidade e cultura negras. Sendo assim, o branco que está junto do hip-hop, em teoria, tem mais acesso e, consequentemente, respeito pela cultura negra por ter sido acolhido e querer fazer parte daquilo, se identificando com todos os fundamentos ali propagados. Uma pena que esse comportamento não se reproduza por toda a sociedade.
Neste 20 de novembro de 2018, o décimo aniversário de Zumbi dos Palmares que o Per Raps comemora, a música rap nunca foi tão importante para a juventude, adultos e também aos mais velhos, assim como a responsa dos artistas de passar uma mensagem relevante também importa mais do que nunca. Que a troca de ideias e difusão de conhecimento prevaleça, abrindo espaço para que a negritude tenha seu valor enaltecido e que a música vença no final. Asè.
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Festival Sons da Rua celebra o melhor do rap em SP
Mano Brown, uma das atrações do festival Sons da Rua O rap tem crescido e se profissionalizado cada vez mais ao longo dos últimos anos. E, assim como os artistas têm elevado o nível da cena, os shows e festivais também acompanham esse movimento. O segundo semestre de 2018 vem trazendo uma quantidade de bons shows por todo o país, garantindo agenda cheia para os grandes nomes do rap e espaço para novos artistas que têm surgido.
Já estamos em novembro e ainda temos pela frente o Sons da Rua, em São Paulo, o Favela Sounds, no Distrito Federal, e o Festival Batuque, em Santo André (SP).
Pela proximidade, destacamos seis breves e importantes motivos para que você não perca o festival Sons da Rua, que acontece nesse sábado, 03 de novembro, na Arena Corinthians, zona leste da capital paulista. Vai vendo:
O rapper, compositor, produtor e apresentador Thaíde, embaixador do festival, será o mestre de cerimônias oficial;
No palco, nomes quentes como Alt Niss, Rincon Sapiência, Djonga, Emicida e Mano Brown mostram seus shows a preços populares para um público estimado de 20 mil pessoas;
Cada show terá sua peculiaridade, reunindo convidados. No caso do show do Emicida, estarão com ele Souto MC, Dory de Oliveira, Stefanie e Drik Barbosa;
No Sons da Rua, o público vai escolher o ganhador entre os finalistas selecionados de uma batalha de rima, fortalecendo a cena hip hop e influenciando o surgimento de novos MC’s. Os selecionados – Jota Igom, Big Mike, Pauli, Diana, Haaga J, Dopre, Apollo, Senju, Motta, Salvador, LC, Flor, Toddy, Guinho, J. Black e Cristian- ganham o apoio da plateia, que elege o vencedor.
Além dessa batalha, finalistas do concurso Novos Talentos 2018 vão se apresentar e definir o vencedor. Na disputa, Bia Doxum (representando a zona leste de SP), Equilíbrio Sonoro (Apucarana/PR) e Família ZL (Santa Catarina).
O festival promove um dia inteiro de rap, das 12h às 23h, trazendo estandes de tranças afro, alimentação e muito mais.
PROGRAMAÇÃO
Atrações Emicida, Mano Brown, Rincon Sapiência, Djonga, Alt Niss + atrações (programação completa no site do evento)
Quando? Dia 03 de novembro, das 12h às 23h
Onde? Estacionamento Leste - Arena Corinthians - Av. Miguel Ignácio Curi, 111 - Artur Alvim, São Paulo - SP, 08220-000
Quanto? Pista R$50 (inteira) e R$25 (meia-entrada/solidário) / Front Stage R$80 (inteira) e R$40 (meia-entrada/solidário)
Site para venda de ingressos: bit.ly/sonsdarua
Informações: (11) 94575-3802
Classificação etária: 16 anos
Acesso para pessoas portadores de necessidades especiais e cadeirantes.
#sons da rua#festival sons da rua#festival#agenda#emicida#mano brown#alt niss#rincon sapiencia#djonga
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Eleições 2018: Se você é do rap, jamais deveria votar 17
De origem preta e periférica, o rap veio sim dos Estados Unidos como parte da cultura hip-hop, no final da década de 1980, mas a identificação com a causa da luta dos negros norte-americanos e os problemas sociais muito semelhantes aos brasileiros, permitiu que o estilo fosse abraçado no país. Já em terras brasileiras, ganhou um novo significado ao ser fundido com nossa cultura, nossos ritmos e nossa narrativa.
Quando você ouve por aí que o rap salvou uma vida, não ache que isso é exagero. O rap salvou e ainda salva milhares de vidas dando auto-estima, perspectiva, apoio moral e gerando emprego. Os versos de MCs já davam forças para quem não se via representado na televisão muito antes de uma lei garantir isso nas novelas ou na propaganda. Os questionamentos contidos em um verso falavam muito mais com a realidade de uma maioria e faziam muitos ouvintes pensarem mais do que com um editorial de revista ou jornal.
Antes do MC, nos primórdios do rap, o DJ já se expressava dando a letra no microfone ou por meio de seu malabarismo nos toca-discos, contando uma história por meio da obra de artistas de diversos estilos musicais. O rap deu perspectiva, ensinou partes da nossa história como poucos professores tinham recurso para mostrar. Trouxe também o sorriso de quem acordava cedo, encontrava ônibus cheio, humilhação do patrão e ainda tinha alegria para dar o seu melhor para sua comunidade, sua família.
Recentemente, artistas do rap colocaram suas diferenças de lado para denunciar o candidato com ideias fascistas que disputa as eleições. Por meio da hastag #RapPelaDemocracia, nomes como Mano Brown, Emicida, Djonga, Drik Barbosa e Rúbia soltaram o verbo em defesa da democracia. Por sua vez, o Per Raps também se posicionou com textos que expõem o plano de governo que vai de encontro com tudo que o hip-hop defendeu em seus 40 anos de existência.
Nosso foco principal aqui é cultura e quando falamos sobre o tema, não restam dúvidas quando comparamos os planos do candidato do PSL e de Fernando Haddad. Sem perder tempo, veja os pontos do presidenciável do PT (caso se interesse, faça sua busca sobre o plano do adversário e decepcione-se):
-A cultura voltará a ser uma política de Estado, com observância das Conferências e do Plano Nacional de Cultura para consolidar o Sistema Nacional de Cultura; -Vai garantir políticas que respondam aos direitos culturais dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos; -O ambiente digital terá políticas inovadoras de direito autoral, assegurando que os recursos cheguem aos artistas e criadores brasileiros; -Intensificar o diálogo da cultura com outros campos, como a educação, a ciência e a tecnologia, a comunicação, o esporte, a saúde e o turismo; -Haddad vai retomar o programa Cultura Viva e a política dos pontos de cultura e investir em políticas inovadoras nos territórios; -Haddad irá fortalecer a economia da cultura para o desenvolvimento do Brasil; -Haddad irá combater toda forma de censura às artes e garantirá a cultura como um direito de todos e todas; -Haddad irá retomar e fortalecer as políticas públicas para os museus e para o patrimônio histórico e artístico material e imaterial.
A probabilidade de você leitor ser uma pessoa a favor da democracia é enorme e, por isso, saiba que você pode usar os argumentos deste texto para trocar ideia com seus parças que vão de 17. Mas sem violência, sem terminar a amizade. O intuito é argumentar, debater de forma saudável, o rap sempre foi debate de ideias e seguirá assim, tendo censura ou não. Essa pessoa tá mais precisando ser ouvida e convencida do que receber um ataque verbal. Aliás, quando a gente ataca, o “oponente” levanta a guarda, aí já era. O rap é compromisso e é pra frente, sempre será.
A atitude de defender a tortura, a perseguição de seus críticos (como no caso da jornalista da Folha que denunciou a ameaça de morte sofrida por uma ex-esposa do “mito”, e da que denunciou o esquema de Caixa 2 na campanha do PSL, foram ambas linchadas virtualmente pelos seguidores e bots do Messias) e a caça aos movimentos sociais e suas lutas, deixa explícito que o rap será o próximo provável alvo do candidato a presidente pelo PSL nessa escalada de terror.
Sabe como se combate tudo isso? Simples, com o voto e na base da conversa. Convencendo votantes do 17 a enxergar o dano que isso pode causar e principalmente eleitores indecisos a escolherem o PT, nem que seja para que tenham a chance de criticar o governo. Se o outro ganhar, capaz que nem isso seja possível.
“É tudo nosso, então nem vem querer ciscar É tudo nosso, então a gente tem que cuidar É tudo nosso, e nunca vai deixar de ser É tudo nosso irmão então se qué o que ?” - Kamau, “Tudo Nosso”
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Eleições 2018: Molhando os pés
– por Robson Assis (@wasnojive)
Hoje, numa tarde de garoa em SP, estava saindo da estação do metrô de cabeça baixa para enxergar o chão molhado e não tropeçar. Nestes dias de chuva é preciso muita paciência e olho aberto.
Levantei a cabeça e vi as duas pessoas que andavam mais à frente desviando de uma poça imensa. Inevitável enxergar aquele pequeno alagamento no caminho. Era necessário fazer uma volta muito maior para seguir em frente, mas pelo menos você não molharia o tênis inteiro.
Enquanto contornava a poça com elas, olhava as pessoas que vinham atrás de mim e não queriam aceitar fazer esse obstáculo. Duas pessoas nos seguiram, mas umas outras cinco atravessaram no meio da poça, molhando os tênis, encharcando as meias, aquele microdesastre.
Passei de lado, balançando a cabeça negativamente. O que essas pessoas estavam pensando, afinal? Andando no meio da poça, sujando seus pés. Todas elas estavam ali cientes do que estava acontecendo, com os pés já ensopados, mas escolheram seguir em frente.
“O Brasil é isso aí né”, pensei, do alto dessa mascarada superioridade que a gente finge não ter.
Dois passos à frente, piso eu mesmo numa poça.
Tava ali na minha frente todo um tratado sobre o que estamos começando a viver. Um fascismo criado pelo conservadorismo que o brasileiro escondeu por tanto tempo dentro do armário e que agora encontra um líder supremo naquela figura detestável que prefiro nem nomear.
Assim como a chuva que cai, o pensamento conservador vai contagiando tudo aos poucos, molhando os carros, as casas, as roupas no varal. De repente, se forma uma pequena poça aqui, outra ali. E quando você começa a perceber tem uma poça imensa na sua frente. Não tem como negar, ela vai estar ali. Vai depender da gente dizer às pessoas “olha, não vá por este caminho que vai ser pior pra você”. Ou você pode só passar olhando torto e as chamando de bestas por estarem escolhendo um caminho claramente errado como aquele.
Mas independente do que você escolher fazer, isso vai estar por toda parte. Em algum momento você vai acabar molhando seus pés também e vai notar que está bem no meio da poça. Por culpa do outro, da chuva, do fascismo, ou só porque você escolheu olhar os outros com desdém.
(originalmente publicado no resiliente staying alive was no jive)
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Eleições 2018: Você é bom demais pra votar no falso Messias
– por Carol Patrocinio (@carolpatrocinio)
A gente precisa de um salvador. Eu sei, essa é a única sensação possível no momento em que estamos vivendo no Brasil. É quase como se a gente sentisse que apenas forças sobrehumanas poderiam resolver o problema e tornar as coisas minimamente decentes.
Só que não existe salvador. Não existe profeta nenhum por aqui. Simplesmente porque somos humanos. E humanos são falhos.
Eu entendo o medo, o desespero, a impotência. Entendo trabalhar o mês todo, dois ou três meses talvez, pra comprar aquele celular – que nem é o que você queria mesmo, mas foi o que deu – e ele ser roubado no ônibus por um moleque que devia estar na escola.
Mas como a gente resolve isso? A gente condena toda a existência desse moleque ou a gente encontra caminhos pra que ele vá pra escola e acredite que pode ter uma vida melhor? Não é mais apenas sobre oportunidades, sabe, é sobre acreditar que realmente vai ser entregue o que é prometido: uma vida com possibilidades. Porque, vamos ser sinceros, escolher entre ocupações que não são seu sonho não é possibilidade, é necessidade.
O voto está diretamente ligado a isso. O que a gente espera pro país? Pra nós mesmos? Pras pessoas ao nosso redor? Nesse momento é fácil ser egoísta e pensar só na gente, mas será que isso não vai criar uma estrada direta pro caos daqui algum tempo?
A gente é imediatista, quer que tudo funcione como um controle remoto ou internet com conexão boa. A gente espera apertar um número na urna e ver a mudança acontecer ali na nossa frente, num piscar de olhos. Não é assim que acontece e qualquer pessoa que prometer isso está mentindo.
O Haddad é bom demais pro PT. Eu sei e você sabe. É um cara que se estivesse em outro partido teria voado no primeiro turno mesmo. Mas é um cara que acredita em algumas das coisas mais bonitas do PT: que as pessoas importam.
Cara, você importa. Sua família importa. Seus amigos importam. Tanto faz quanto você tem na sua conta bancária ou qual cargo você ocupa. Você importa e merece ter uma vida confortável. Grana no bolso. Tênis da hora no pé. Celular bacana. Comida gostosa na mesa. Dieta equilibrada. Café da manhã da Xuxa.
Mas só sabe o peso disso quem consegue olhar pra pessoas e ver nelas humanidade.
O outro não se importa comigo nem com você. Preto, mulher, viado, sapatão, nordestino... pra ele é tudo lixo. E, olha pra você, não tem lixo nenhum aí. Você sabe do seu corre, sabe da sua luta, sabe do tanto de coisa boa que tem dentro de você.
Assim como o Haddad é bom demais pro PT, você é bom demais pro Bolsonaro. A verdade é essa. Eu sei que parece que é o caminho que faz sentido porque soa como diferente de tudo que a gente já tentou, mas não é. Eu sei que dá aquela esperança de acabar com o crime, mas só vai aumentar a violência que a gente sofre e foder (desculpa a palavra, mas é a verdade) com nosso futuro.
Esperança só serve pra alguma coisa que a gente usar de maneira racional, se juntar informações, planos de governo, falas e posturas. Sem isso a gente só tá jogando nosso futuro na mão de quem parece mais fácil. Mano, é o seu futuro. Pensa bem onde você vai jogá-lo. LEIA TAMBÉM Eleições 2018: Bolsonaro é o candidato da morte Eleições 2018: O desespero do caçador
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Eleições 2018: Bolsonaro é o candidato da morte
– por Rafael Bessa
Não só porque só sabe falar de morte ou porque defende a morte como solução de todos os problemas. Mas principalmente por seu plano econômico ULTRA liberal, que nunca foi adotado por NENHUM país no mundo e por pretender privatizar TUDO, entregando todas as riquezas brasileiras para o capital internacional.
Ele é o candidato da morte não só porque diz que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”, mas porque uma saúde privatizada vai matar a parte do povo que não tem como pagar um plano de saúde.
Candidato da morte não só porque encoraja o espancamento de crianças homoafetivas, mas porque pretende retirar todos os direitos trabalhistas levando à precarização das condições de vida e trabalho dos trabalhadores mais pobres.
Candidato da morte não só porque disse que “pra mudar o Brasil seria necessário matar uns 30 mil”, mas porque sua política para os conflitos do campo é autorizar o extermínio dos povos indígenas e quilombolas e dos movimentos sociais.
Candidato da morte não só porque defende a pena de morte, mas porque vai permitir que policiais matem jovens nas periferias de maioria negra sem conduzi-los ao devido processo legal.
Candidato da morte porque defende o fim da proteção ambiental e a exploração do meio-ambiente causando a morte da fauna, flora, populações nativas, ribeirinhas, etc.
Candidato da morte pois mesmo nunca tendo atirado em ninguém, nunca tendo matado ninguém, nunca tendo tomado um tiro, nunca tendo ido pra guerra, ele esconde sua covardia falando apenas em armar, metralhar, exterminar, banir e matar eu, você, seus amigos, parentes e todos aqueles que ele apontar como inimigos.
Não se vota 13 pelo PT. Vota-se 13 contra a morte. O Brasil está em jogo. Vota-se 13 pela vida.
LEIA TAMBÉM Eleições 2018: O desespero do caçado
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Eleições 2018: O desespero do caçador
– por Nubiha Modesto (@nubiha) Nos últimos anos notamos uma diferença na forma como nossas histórias passaram a ser contadas pro mundo. Não me refiro a um movimento isolado ou focado em um número limitado de pessoas, me refiro a histórias com um alcance imenso, por meio de filmes, livros, músicas, seriados, fotografias, enfim, as mais variadas formas de expressão artística.
Esse levante de vozes impossíveis de serem ignoradas tem nos apresentado uma nova versão da história dos homens no mundo. Existe um provérbio que resume bem: “Enquanto o leão não contar a sua história, o caçador sempre vai ser vitorioso”. Esse caçador tem diversos nomes: racismo, homofobia, misoginia, elitismo – um rol de personagens protegidos até então pelas barreiras do acesso ao controle da narrativa. Embora existam reações positivas à essa reivindicação pelo controle da própria história, é impossível não notar o incômodo causado. Para muitos, conviver e aceitar a história narrada em primeira pessoa por pessoas negras, não binárias, que não fazem parte da elite ou que desafiam os padrões de “normalidade” impostos por um grupo de homens brancos ricos há séculos atrás, causa um desconforto tão grande que torna o bom senso um caminho inviável. Esse desconforto inclusive tem justificado uma onda de conservadorismo que, no momento, varre o mundo. O fato dos “cidadãos de segunda classe” , que deveriam se colocar no seu lugar e agradecer fervorosamente por terem sua existência permitida, terem conquistado canais para expressar sua voz, contar as próprias histórias e meios de circular por lugares antes impensados, causa desespero em quem vive no castelo de areia. As histórias sob o ponto de vista do leão, além de desafiar estereótipos, expõem mentiras que foram absorvidas como verdades incontestáveis. E a destruição de mitos sempre causa dor àqueles que só vivem bem pela existência do mito. As histórias do leão ousaram arrancar esqueletos do armário, e os amantes da narrativa original passaram a lutar de todas as formas para desqualificá-las. O monstro é muito feio para ser encarado de frente. Mas nada pareceu diminuir a quantidade de novas versões, que contêm uma força capaz de recuperar autoestima e impulsionar a organização e articulação política de certos grupos. Ficou sério. A partir daí, os senhores do castelo adicionaram outros recursos na tentativa de parar essa movimentação. Um dos lados mais sombrios da humanidade foi re-acessado. Um lado que justifica a violência e o cerceamento de direitos como mal necessário para resolver “tudo isso que está errado por aí”. E, geralmente, parte do que está errado é jogado na conta das conquistas dos “cidadãos de segunda classe” – o fascismo foi embalado num pacote bonito que promete remover os males do mundo, mesmo que isso signifique sacrificar vidas no caminho. Estamos todos envolvidos em um embate complexo, mas que também envolve a última tentativa radical de calar essa gente mal agradecida e defender o “cidadão de bem”. Esse é o motivo central do desespero: descobrimos o calcanhar de Aquiles. Sejamos flecha.
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Playlist de Novidades #12: Drik Barbosa e Slam das Minas, Anderson Paak e Kendrick Lamar são alguns dos lançamentos
– por Savana Azolini (@savana_azolini)
Os tempos são difíceis e a arte é dos caminhos mais importantes para nos fortalecermos. Só a música mesmo para nos tirar do caos (nem que seja por alguns momentos). E pra dar essa aliviada, o Per Raps solta a playlist #12 de Novidades.
Nesta primeira quinzena de outubro, tivemos parcerias bem impactantes. A primeira delas vai bem de encontro com o nosso cenário atual: Drik Barbosa e Slam das Minas (formado por Luz Ribeiro, Mel Duarte, Pam Araújo, Jade Quebra e Carol Ambulante, na ordem do vídeo) , numa parceria promovida pela LAB, lançam “Trincheira #Elassim”, um cypher com poesias e rimas sobre instrumental produzida por Grou e Fejuca, pra mostrar que, sim, estamos juntas e muito fortes!
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Entre os lançamentos nacionais, também temos Criolo com “Boca de Lobo”, Kamau com “Próximo”, Edi Rock com “Sonhos de Construção”, Karol de Souza com “Nem sou Eu” e Amiri com “Boom”.
Outro grande encontro foi de Anderson Paak e Kendrick Lamar com o single “Tints”, que teve produção de Om’Mas Keith e Matt Tavares (BadBadNotGood). Essa não é a primeira vez que os dois artistas trabalham juntos: em 2015, participaram de “Deep Water”, do Dr. Dre, e, no ano passado, gravaram “Bloody Waters”, trilha sonora do filme Pantera Negra. Este é seu terceiro single do ano – junto com “Bubblin” e “Til it’s Over”, devem ser lançados no álbum “Oxnard” até o fim deste ano.
Vale citar também o lançamento do álbum “Lovers Rock”, da cantora londrina Estelle, que é completamente influenciado pela música do caribe – ela é descendente de caribenhos e senegaleses. Esse disco mais autoral conta muito de sua história, principalmente sobre a relação de seus pais.
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E, agora, já sabe: a ideia é que a cada 15 dias a gente renove a seleção com os últimos lançamentos do universo da música negra, acrescentando as novidades que forem saindo.
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#playlist#rap#rnb#hip hop#slam das minas#drik barbosa#anderson paak#kendrick lamar#lançamentos#estelle
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#Playlist 2008-2018: O melhor do rap e do r&b lançado nos últimos dez anos
– Savana Azolini (@savana_azolini)
Escolher o Melhor do Rap e R&B nestes 10 anos (2008 até 2018) é uma missão e tanto! Aqui, a ideia foi reunir as principais músicas dos artistas que produziram trampos históricos nesse período, que marca também, não por acaso, uma década de vida do Per Raps.
Na cena brasileira, o destaque fica para Kamau com o clássico álbum “Non Ducor Duco”, lançado há exatos dez anos, em 2008. O celebrado disco traz temas políticos e sociais em faixas como “Não Acredite Se Quiser”, e também tem um lado forte de autorreflexão, como na “Equilíbrio”. Emicida, um dos responsáveis por levar o rap ao mainstream, também está em fase de comemoração, já que no próximo ano a sua primeira primeira mixtape, "Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida até que Eu Cheguei Longe”, completa uma década.
Já em 2011 foi a vez de Rodrigo Ogi fazer história com seu álbum de estreia, “Crônicas da Cidade Cinza”, que é um verdadeiro retrato da cidade de São Paulo. No mesmo ano, Criolo estourou com as celebradas “Não Existe Amor em SP” e “Subirusdoistiozin”, de seu disco “Nó na Orelha”.
Tássia Reis também aparece por aqui, já que desde que lançou “Meu Rapjazz”, em 2013, a artista não para de se reinventar e hoje é uma das principais mulheres do rap nacional – em 2014 ela lançou seu primeiro disco, que leva o nome dela, e em 2016, “Outra Esfera”.
Entre as tracks nacionais também aparecem Racionais com “Cores e Valores”, Pentágono (“É o Moio”), Lurdez da Luz (“Andei”), Rincon Sapiência (“Elegância”) e Flora Matos (“Viver”), entre outros.
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Da gringa, teve um artista que colocou o rap em novo patamar: Kendrick Lamar. O álbum “Good Kid, M.A.A.D City”, lançado em 2012, uma narrativa importante da vida de um jovem pelas ruas de Compton, cidade marcada pela violência policial – uma espécie de autobiografia do artista. Mas foi com “Damn”, de 2017, que Kendrick Lamar dominou a indústria musical, tornando-se o primeiro rapper a conquistar o prêmio Pulitzer, se juntando assim à lista de compositores americanos consagrados como Aaron Copland, Charles Ives e John Adams que também já conquistaram o prêmio.
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Parece que foi ontem que The Roots e John Legend vieram ao Brasil com o show do disco “Wake up!”, lançado em 2010, uma seleção de releituras do soul de protesto. Nessa última década, também fizeram a diferença Erykah Badu (“Window Seat”), MF Doom (“Doomsday”), Nas e Amy Winehouse (“Cherry Wine”), Frank Ocean (“Pink+ White”), Tyler The Creator (“Yonkers”) e Ibeyi - (“River”), só pra dar um gostinho dessa playlist especial de 10 anos.
Aqui cabe também destacar uma artista que continua fazendo história: Chaka Khan. Após exatos 10 anos de pausa, a musa mostra que é possível fazer música de qualidade sem deixar o passado de lado. Foi o que ela fez ao lançar, em 2018, o single “Like Sugar”, uma parceria com Major Lazer e seu primeiro lançamento pela Diary Records. Agora prepare-se para revisitar, enfim, esses e outros sons que fazem parte do nosso cotidiano desde 2008 – você vai perceber o quanto o universo incrível do rap e do r&b continua se reinventando e fazendo história.
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Per Raps 10 anos: Do freestyle aos cyphers e reacts
– Fabio Lafa (@fabioakalafa)
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Caminho longo em curto espaço de tempo. A comunicação do rap com seus adeptos sempre encontrou arestas no alcance trazendo pensadores novos sempre focados no novo. Em épocas em que esses espaços foram abertos em todas as partes do mundo onde se consumia rap, o freestyle se fez presente. Desenvolvimento das técnicas de rima feitas pelos jovens veio desde cedo, desde os anos 90 – e no Brasil não foi diferente. As batalhas de freestyle na porta do Class, nos points de pixo, bem que fortificaram as reuniões na porta do metro Santa Cruz e Rinha dos MCs; as noites da Batalha do Real na Lapa carioca, enfim, vocês sabem e lembram!
Muitos dos grandes liricistas saíram desse celeiro – Mos Def, Talib Kweli, Jay-Z até Pac e Biggie, inclusive. Max BO, Kamau, Aori, Emicida e Rashid em solos brasileiros. Muita gente se exercitou e desenvolveu sua arte nas batalhas de rima, transformando o freestyle em uma subcultura dentro do hip hop. Meninos que atravessavam toda a cidade para expor suas ideias e dar vazão a sentimentos e obra. Bonito lembrar todas as batalhas históricas que assistimos – tanto em vídeo e principalmente as que estivemos presentes. Quantas, não?
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O que mudou (e de fato, melhorou) até aqui? O acesso às tecnologias para lançamento de músicas, áudio e vídeo. Artistas finalizam trabalhos dentro de casa, divulgam, fecham shows, criam merchandising e falam com os fãs. A internet é uma via mais rápida que as casas noturnas e os pontos de encontro para descobrir novos talentos. E quando digo artistas, não só os da rima – fotógrafos, videomakers e pessoas que sabem contar as histórias da melhor forma acompanham os passos do rap nos últimos 20 anos. No Brasil em especial, um molde de obra veio aumentar de forma tardia, o tal do cypher. E olha só como de fato não é algo de hoje:
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Há de se fazer justiça quanto ao cypher. Além de ser uma modalidade digamos antiga, artistas que fazem parte do mesmo selo ou banca o vendem sendo na verdade tratar-se de um posse cut. Mas, calma, a gente explica legal aqui. O fluxo de lançamentos só cresceu no mundo todo e o acompanhamento nessa curadoria veio junto. Como ajuda ou norteamento de destaque (além da crescente participação ativa do público em resposta ao impacto que a música gera) surgiram os reacts, vídeos onde são levantados alguns destaques de tema, métrica e linguagem visual dos artistas. E hoje o impacto do veredito do vídeo de react ser direto no aumento ou não de alcance de público para o artista, maluco isso, né?
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De repente, dez!
– por Eduardo Ribas (@duardo)
Provavelmente você não saiba, mas em setembro deste ano, o Per Raps completa 10 anos. Isso mesmo, 10 anos! Passou rápido e olhando pra trás a gente sente que fez bastante coisa, mas temos certeza de que ainda tem muito mais pra fazer.
Se você não tem acompanhado essa nova etapa do blog, ainda não sabe que temos funcionado com especiais do mês. Nele, a equipe do Per Raps promove um mergulho em algum tema. Em agosto, decidimos falar do ano de 1998 e seus lançamentos que ditaram a sonoridade dos próximos anos e que marcaram época com discos como The Miseducation of Lauryn Hill. Se ficou curioso, procure a tag #especialPR1998 no blog.
Mas a página virou e o tema da vez será a década do nosso aniversário, ou seja, 2008 a 2018. Muita coisa aconteceu, como o nascimento e a consolidação da cena de beatmakers de Curitiba, que nos revelou nomes como Nave e Laudz, assim como o aniversário de um disco icônico, o Non Ducor Duco, do Kamau, que também nasceu em 2008.
Além disso tudo, vamos falar do fenômeno que é o rap do Distrito Federal, falando de grupos que nunca passaram pelo Per Raps, como o Hungria e o Tribo da Periferia, sem deixar de ressaltar o ícone Gog e de falar do The Roots brasileiro, o Ataque Beliz. Também vai ter espaço para olhar com carinho e respeito para a ascensão das minas no rap, assim como termos um olhar especial desde o hype do freestyle aos cyphers e reacts que até já estão saindo de moda.
Queremos olhar para o advento das playlists na nossa vida, que mudaram o jeito de ouvir música, principalmente pra quem veio de uma época em que o que era quente era baixar mp3 na web. Em plena época de eleições, vamos olhar também para o momento em que as rimas de protesto começaram a dividir espaço com rimas bem reaça. A gente ainda lamenta isso, mas precisamos falar desse assunto pra que nunca mais se repita. Fica ligado que eles querem te arrastar!
A gente queria muito saber se você está curtindo esse formato. Se sim, chama a gente no Twitter e dá uma ideia. Pode ser no Instagram ou Facebook também, o que importa é rolar ideia. Falando em Facebook, a gente em breve vai ter um grupo de troca de ideias dentro da rede do Zuckerberg. Mas esquenta não que a gente divide o link contigo em breve.
Então prepare-se, pois o aniversariante é o Per Raps, mas quem ganha presente é você leitor, que sempre esteve com a gente, nos bons momentos e naqueles de várzea, em que mal rolava postar textos no blog. E um salve aos novos leitores também, só colar que a casa é sua também. Nóis!
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#Especial1998: Mas sobre o que a gente estava cantando mesmo?
– por Nubiha Modesto (@nubiha)
Que 1998 foi um ano maravilhoso para qualquer fã de música, você já sabe. Mas quais os temas que pautaram as letras dos nossos artistas favoritos no rap, soul e r&b? A gente fez um compilado leve sobre o que estava na cabeça, na voz e, arrisco a dizer, no coração da galera no fim da premiada década de 90.
Aquemini, Never Say Never, Moment of Truth, Blackstar, The Boy is Mine, My Love is Your Love… dá para perder as contas de quantas músicas ainda embalam com excelência certos momentos da vida. Na época não dava para prever, mas o legado de 1998 é forte por conta da acuracidade em traduzir pensamentos, sentimentos, sensações e situações de maneira fenomenal.
A começar pela junção de duas figuras importantíssimas da adolescência negra americana, Brandy e Monica. Cantaram algo complicadíssimo em “The Boy Is Mine”, letra que narra um triângulo amoroso constrangedor, mas que nenhuma das partes demonstra querer abrir mão: “I’m sorry that you seem to be confused” / “Sinto por você estar tão confusa” – já apareceram algumas versões sobre o mesmo tema, mas nada chegou perto.
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Ainda no universo dos relacionamentos amorosos, ao contrário do duo anterior, Whitney arrebenta tudo em “It’s not Right But it’s Okay”, clássico cantado até hoje a plenos pulmões sob uma diversidade ampla de remixes – que triste que nada, eu vou é te por para fora e cuidar da minha vida (e nem pense em voltar). O álbum “My Love is Your Love” também trouxe um dueto histórico com Mariah Carey, talvez as duas melhores vozes do cenário mais pop da época se juntaram para cantar “When You Believe”, trilha sonora da animação “O Príncipe do Egito”, que fala sobre fé e resiliência.
“The Miseducation of Lauryn Hill”, um dos melhores álbuns da década, fala de amor de todas as formas possíveis: a dor de um relacionamento tóxico (“Ex-Factor”), a doçura de descobrir um amor novo e inesperado (“Sweetest Thing”) e amor pela música (“Superstar”). Essa última carrega o tough love que traz uma bronca carregada de preocupação “music is supposed to inspire” / “música é supostamente para inspirar” , “hip hop started out as an art, now everybody trying to chart” / “hip hop começou como uma arte, mas agora o foco mesmo é aparecer na lista de mais vendidos” – puxão de orelha que vale para agora mesmo, aliás.
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Falando em rap, hoje em dia se fala muito em diversidade temática nas letras, mas quem acompanha o rolê há um certo tempo sabe que não é de agora. Em 1998, Jay-Z lançou “Vol2...Hard Knock Life” com a faixa-título do álbum que teve o refrão emprestado do musical “Annie”: “It's the hard knock life for us. Instead of treated, we get tricked. Instead of kisses, we get kicked. It's the hard knock life!” / “A nossa vida é difícil. Ao invés de sermos adulados, somos mal tratados. Ao invés de beijos, recebemos chutes” – que faz um paralelo direto com o dia a dia de quem vive na periferia ou tem condições financeiras mais difíceis. O que impacta bastante quem ouve, até hoje, é este refrão ser cantado por crianças com uma leveza antagônica ao tema. Apesar do refrão impactante, Jay-Z escolhe concentrar essa composição em seus feitos, habilidades como MC e talento para os negócios. Sempre traçando um paralelo entre passado, presente e, em alguns momentos, futuro.
Em “Moment Of Truth”, do álbum homônimo do duo Gang Starr, Guru também analisa sua trajetória, mas focado em passar adiante aprendizados não muito agradáveis e desabafar sobre suas angústias. Em um dos refrões que mais me impactaram até hoje, ele recita: “They say it's lonely at the top in whatever you do, you always gotta watch motherfuckers around you” / “O ditado diz: o sucesso é solitário, não importa em qual área, você precisa ficar ligado nos filhos da puta que surgem à sua volta”. A letra toda segue com uma série de questionamentos como “Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?”; conselhos interessantes, “Não haja com a cabeça quente, não vale a pena perder o equilíbrio”; conclusões vindas de aprendizados difíceis, “Eu nem penso em beber ou me drogar porque aprendi que ao invés de aliviar as tensões, essas coisas acabam aumentando muito a minha ansiedade”.
Além dos citados acima, temos Blackstar (“Brown Skin Lady” com uma intro que lançou carapuças ao vento), Racionais (e a verdade é que eu colocaria o álbum inteiro aqui), Outkast (que ensina a se divertir fazendo rap)... é uma lista que não acaba nunca e quase impossível de compilar. A conclusão segue a mesma: 1998 foi especial demais.
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#Especial1998: Os anos 90 e a moda de rua
He Got Game traz Chuck D rimando como MVP, mas deixa título escapar
Uma linha do tempo de capas e clipes icônicos dos anos 90
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#Especial1998: Uma linha do tempo de capas e clipes icônicos dos anos 90
– por Diego Hernandez de Lima (@diego.mouro)
Fim da Guerra Fria, globalização, popularização dos computadores, TV a cabo e internet - além de ainda viver a sua Golden Age - foi nesse contexto dos anos 90 que o rap viveu sua golden age e escreveu com caneta dourada seu nome na história musical. As gravadoras tinham dinheiro, a MTV tinha nascido há pouco tempo, as pessoas piravam nas possibilidades da TV a cabo e compravam CDs. As capas e videoclipes ganharam status de obras de arte, não serviam mais apenas para fortalecer a linguagem do single ou do álbum. Agora, elas ditavam moda, exaltavam posicionamentos políticos e eram responsáveis por tornar conhecido, o que até então, era underground. Os registros visuais faziam parte do negócio agora, e isso contribuiu para o rap alcançar o mainstream de uma maneira poderosa. As capas viraram cartão de visita, e gravadoras e artistas se empenharam na contratação de diretores de arte, especificamente, para pensá-las mais artisticamente. Algumas ficaram tão famosas que foram além dos 12x12 cm do encarte e viraram ícones pop pelas décadas que viriam.
Dr. Dre puxou esse bonde com o seu disco "The Chronic” (1992) – a capa recria o rótulo de uma seda popular nos anos 90 chamada Zig Zag. Foi um estouro. Um adendo: the chronic também era uma gíria para maconha em LA.
Depois dele vieram Notorius B.I.G. com sua "Ready to Die" (1994), que viraria até estampa de camiseta da Supreme, décadas depois, por alguns dols, e NAS com a inovadora “Illmatic" (1994). Na capa, um jovem NAS sobrepõe um retrato do seu famigerado bairro, Queensbridge. Além da foto, NAS trouxe outra inovação estética mais sútil: Seu nome, foi escrito num estilo tipográfico que conhecemos como Olde English, um estilo que pretendia simular as fontes da nobreza. Será que ali NAS já reivindicava sua realeza?
Também houve espaço para os ilustradores, como Joe Cool, primo de Snoop Dogg. Diz a lenda que Snoopy precisava de uma capa para o seu “DoggyStyle” (1993) e chamou seu primo – aquela velha história do primo que faz mais barato. Joe cobrou 25 dólares pelo desenho. Pegou elementos do Funkadelic - muito usados pela galera do G-Funk na época - misturou com algumas de suas ilustrações, escreveu uns trechos de “Atomic Dog", do George Clinton, e voilà. “I didn’t think it would be iconic, man" (Eu não sabia que se tornaria um ícone, man), disse Joe uma vez. Mas foi, Joe.
O Outkast também se aventurou nas capas mais artísticas. Começou na pegada de ilustração no seu “ATLiens” e logo em seguida no que seria um dos seus mais marcantes álbuns, o “Aquemini” (1998). Pra essa capa eles deixaram de lado o estilo quadrinho futurista e apostaram num estilo mais Blaxploitation. A ilustração é toda inspirada nos antigos posters de neon da década de 80, cheio de psicodelias e simbolismos. A roda de signo ao fundo, por exemplo, é uma referência direta ao nome do álbum que nada mais é que uma junção dos signos dos integrantes, aquário (aquarius) e gêmeos (gemini). Um tanto quanto genial.
No mesmo ano de “Aquemini”, 1998, o grupo A Tribe Called Quest lançou o que seria seu quinto, e até então, último álbum. Ainda sem anunciar o fim da banda, o ATCQ lançou o "The Love Movement”, completamente branco, minimalista e enigmático, título em preto e símbolos - que remetiam a posições do kamasutra - em prateado. Uma capa que contrariava completamente os últimos álbuns ilustrados com obras extremamente coloridas e artísticas. O ATCQ anunciava o seu fim – porém, eles se reuniram novamente para lançar “We Got It from Here... Thank You 4 Your Service”, em 2016, poucos meses após a morte de Phife Dawg, um de seus integrantes – nas entrelinhas.
Em 1999, “Things Fall Apart” (1999) veio mais pé no peito no quesito manifestação político-social. Com cinco capas diferentes, o disco levava o título ao pé da letra e refletia, em fotos espetaculares, o lado mais sombrio da sociedade. Uma igreja queimada, uma perseguição a estudantes negras em Bedford-Stuyvesant; a mão de conhecido chefe da máfia morto; uma criança chorando de fome na Somália; e um bebê em desespero após os ataques do Japão na Segunda Guerra Mundial. Todas capas extremamente impactantes e que conversavam completamente com o conteúdo do álbum. Quase um trabalho jornalístico.
A FORÇA DOS VIDEOCLIPES Mas não só de grandes capas viveu o rap 90. A década foi definitivamente a era dos videoclipes e suas tomadas em fisheye - estilo de lente de câmera - e planos fechados. Um exemplo é “Sky’s the Limit” (1997), do Notorious B.I.G. Planos fechados, fisheye e as versões jovens de B.I.G., Puff Daddy, Busta Rhymes e Lil Kim. “The Rain” (1997), da Missy Elliott, “Put your Hands Where My Eyes Can See”, do Busta Rhymes, são outros clássicos desse estilo. Hype Williams - que dirigiu os clipes de Busta e Missy Elliott - virou o mestre dessas técnicas, transformando-as em sua marca pessoal. Mas, pra mim, o grande legado do Hype pra história foi “Gettin’ Jiggy With It” (1997), do Will Smith. Quem não lembra da dancinha do refrão? Puro charme e sensualidade, daqueles que só Will Smith consegue nos proporcionar.
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Também teve a galera que resolveu inovar e acertou em cheio na linguagem retrô-tech - que aliás, voltou à moda. “Scenario”, do A Tribe Called Quest, é praticamente um de “Volta para o Futuro” do design, com sua linguagem old school style de computador. Nessa época emergiram os grandes diretores de clipes. Além do Hype, veio o Spike Jonze. Spike puxou a barca dos diretores, gravou - e atuou em - diversos clipes foda, como “Praise You”, do Fatboy Slim. Mas foi com “Sabotage” (1994), do Beastie Boys, que ele criou sua masterpiece, aquele que, pra alguns, é considerado o maior videoclipe da história - tá, talvez dispute com “Thriller”, do Michael Jackson.
A cara, meio Hermes e Renato, deixa transparecer a genialidade de Spike. São 3 minutos de cortes rápidos, tomadas de câmera de mão em movimento e mudanças de plano que acompanhavam o beat. Ele sabia usar os planos como ninguém e abusava dos planos de fuga e das diagonais em cena pra dar mais dinâmica e aumentar a sensação de que o espectador estava dentro do clipe. “Sabotage” é uma obra-prima até hoje e apresentava pro mundo aquele que se tornaria um dos mais conhecidos, e premiados, diretores da atualidade.
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Pra finalizar nossa viagem no tempo, o fenômeno Lauryn Hill. Ms. Hill se apresentou ao mundo, em carreira solo, com seu single, pesadíssimo, “Doo-Wop (That Thing)”, em 1998. O single ficou quatro semanas seguidas no topo da Billboard e fez a rapa no Video Music Awards do ano seguinte (1999), faturando os prêmios de melhor videoclipe de R&B, melhor direção de arte e ainda o de melhor clipe do ano.
O clipe já apresentava, de forma quase literal, aquelas que seriam as características pela qual Ms.Hill ficaria conhecida. Filmado com uma tela divida, o clipe apresenta dois cenários distintos, mas completamente interligados, no lado esquerdo, o R&B e soul dos anos 60, e no direito, o hip hop dos anos 90. Mas não eram só as suas raízes e influências que Lauryn apresentava ali. No decorrer do vídeo, o que se vê é uma Lauryn melódica e dançante, atuando como um backing vocal suave no lado esquerdo, enquanto no direito temos a Lauryn maloqueira, com a ousadia do hip hop e flow potentíssimo. Essa síntese, a mescla dessas duas Lauryns - e a naturalidade como ela tocava isso - se tornaria, nos próximos anos, a sua marca pessoal.
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BONUS TRACK A bonus track da vez é talvez a história mais bizarra do maior documento fotográfico da histeria que foi o rap dos anos 90. A capa de “We Can't be Stopped, do Geto Boys”. Cara, a história dessa capa é a coisa mais bizarramente engraçada e questionável da vida. Tudo começa com Bill, bêbado e sob a influência de diversas drogas numa discussão com sua namorada e pedindo – sim, pedindo– pra que ela desse um tiro em seu olho (depois ele esclareceu que isso era um golpe pro seguro, mas, enfim). Ela relutou, a briga foi ficando feia, e no meio da luta, a arma dispara e acerta o olho de Bill. Aquele desespero, corre pro hospital, liga pros parceiros, aquela loucura. Jordan (Scarface) e Dennis (Willie D) chegam no hospital e descobrem que Bill vai perder o olho mas ficará vivo. Eles descem até o hall do hospital, onde encontram seu empresário Cliff. Alguns minutos se passam e eis que Cliff diz: “Ei, que bom que Bill está bem, vivo, o CD está pronto, e o que faremos com a capa?"
Sim, senhoras e senhores, esse gênio criativo teve a ideia de, ali no hospital mesmo, pegar uma maca, colocar Bill e fazer a capa do CD. Tudo aquilo que você vê é real, Bill estava internado, arrancaram o tampão pra mostrar o olho inchado e cego. Bom, a única coisa não real ali era o telefone na orelha de Bill, puramente cenográfico, ele não falava com ninguém naquele momento. Durmam com essa. Quanto mais o tempo passa, mais os anos 90 se tornam icônicos.
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He Got Game traz Chuck D rimando como MVP, mas deixando título escapar
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#Discosde1998: He Got Game traz Chuck D rimando como MVP, mas deixando título escapar
Se fosse um time, a trilha do filme faria um ótimo campeonato em 1998, mas comparado aos demais lançamentos do Public Enemy ao longo de 20 anos, acabaria ficando de fora do Hall da Fama
– por Eduardo Ribas (@duardo) No ano em que Michael Jordan se consagrava como um dos maiores jogadores de basquete do planeta, após vencer seu sexto título consecutivo pelo Chicago Bulls contra o time do Utah Jazz, estreava nos cinemas mais uma obra impactante de Spike Lee, “He Got Game”, que chegou por aqui como “Jogada Decisiva”.
Trazendo no elenco nomes como Denzel Washington, Mila Jokovic (da série “Resident Evil”) e o astro hoje aposentado da NBA, Ray Allen, o filme é menos sobre o jogo em si e mais sobre os meandros, contando a história de Jake Shuttlesworth, detido há 15 anos cumprindo pena na prisão. Ele recebe uma suspensão temporária para cumprir uma missão dada pelo governador do estado: aliciar seu filho, Jesus, astro de basquete da liga escolar com várias ofertas de faculdades top de linha, para se juntar à faculdade do estado. No entanto, essa ajuda forçada de Jake para convencer seu filho a mudar de opinião acaba promovendo uma segunda chance para uma conturbada relação familiar.
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Sempre lembrado nas listas de melhores do gênero, o filme mistura o melhor da narrativa de Spike Lee e a interpretação de Denzel, mas ainda se destaca pela trilha, que fica por conta de ninguém menos que Public Enemy. Assim como em “Do the Right Thing” (“Faça A Coisa Certa”, 1989), a música veio com potencial para se tornar tão popular quanto a película, lançada pela Def Jam Recording em abril de 1998. No entanto, o disco até foi bem recebido pela crítica da época, porém vendeu abaixo do esperado, o que garantiu a vigésima sexta posição na lista Billboard 200 Albums - o que, cá entre nós, não parece tão ruim assim. O grupo passava por transformações na época, perdia o DJ Terminator X, que já se preparava para sua aposentadoria, e assumia DJ Lord, que despontava por sua habilidade, o que garantiu inúmeros títulos de turntablism, incluindo destaque no DMC, maior campeonato de DJs do mundo. O rap também passava por suas mudanças e via discos como The Miseducation of Lauryn Hill (Lauryn Hill), Hello Nasty (Beastie Boys), Mos Def & Talib Kweli are Black Star”(Black Star) e Aquemini (Outkast) ganharem destaque e apontarem um novo caminho para o gênero, mais melódico e menos político – ou ao menos sendo bem menos explícito nesse sentido.
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Nesse momento, o rap já era visto como uma música pop, mainstream, e não mais como uma música combativa como ocorreu na primeira parceria de Public Enemy e Spike Lee, em “Faça A Coisa Certa”. O álbum trazia um novo desafio: o grupo foi observado de perto por advogados em relação aos samples usados, uma vez que nesse ponto da história nenhuma obra que não tivesse sido liberada por seu autor poderia ser utilizada. No entanto, nada disso tira o peso desse disco, que traz Chuck D rimando como um MVP (termo da liga norte-americana de basquete, a NBA, para o jogador mais valioso, do inglês Most Valuable Player) e atuando em 10 das 13 músicas da trilha.
Mesmo que você não acompanhe a NBA, talvez saiba que o diretor Spike Lee é fanático por basquete, particularmente por seu time, o New York Knicks, e encontra nessa trilha o parceiro perfeito para falar sobre o assunto. Aqui, Chuck D pega a licença poética para seguir trazendo seu conteúdo político sempre contundente. Em “Ressurection”, a crítica chega pesada ao próprio rap: fala das diss, punchlines sem sentido e até dá um salve pro Brasil ("Shot the pill while I drop skills up in Brazil"). Em “Is Your God a Dog”, Chuck D inunda o ouvinte com metáforas do jogo, que atingem seu ápice na trinca "Politics of the sneaker pimps", "Whats You Need I Jesus" e "Super Agent", trazendo questionamentos pesados ao jogo e a relação dos jovens talentos negros com brancos, donos de marcas esportivas ou não, que faturam, enquanto o negro segue tendo seus problemas de sempre, só que agora ganhando muito dinheiro. Destaque também para “Shake Yo Booty”, que traz Flavor Flav em uma rima solo.
Analisando 20 anos depois, pode-se dizer que o filme foi ganhando mais moral com o passar do tempo, o que parece não ter acontecido na mesma intensidade com a trilha, que em muitos debates acaba de fora da lista de melhores discos do grupo Public Enemy.
Assim como o personagem de Denzel Washington, Jake Shuttlesworth, o trio Chuck D, Flavor Flav e DJ Lord merece uma segunda chance para que seu real valor seja revisto por crítica e público, abrindo espaço para que a obra esteja então entre as mais relevantes de um dos grupos essenciais nesses 45 anos de história do hip-hop.
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#Especial1998: Os anos 90 e a moda de rua
– por Asindayle Apangesy (@asindayle)
O start da cultura de rua e a movimentação do mercado streetwear rolaram simultaneamente à popularização do Hip-Hop nos saudosos anos 80 e 90. Em meio ao caos nova-iorquino, com guerras entre gangues, o principal movimento urbano da época foi peça-chave para fazer o casamento do século: moda e música.
Se vestir bem era fundamental para os criativos bboys, djs, grafiteiros e MCs, que, do objetivo inicial de se sentirem bem, se posicionavam de maneira política através de suas roupas. Diante disso, temos um cenário duradouro e de qualidade quando se trata do momento mais icônico da cultura urbana.
Cena do documentário “Fresh Dressed”| Foto: Reprodução
A música e a moda geradas pelos jovens daqueles dias refletiam o que estava acontecendo. E para retratar essa história e legitimar a revolução que o Hip-Hop causou, criaram o documentário “Fresh Dressed”, que inclusive indico muito. Com depoimentos de grandes nomes da música e fashionistas, e com uso de materiais de arquivo, o filme tenta mostrar a nova energia trazida pelo movimento desde os seus primórdios. E o mais legal: está disponível no Netflix.
Um outro momento dos anos 90 impossível de não mencionar é a série “Fresh Prince of Bel Air” ou “Um Maluco no Pedaço” aqui no Brasil. Assistir às histórias e confusões de Will Smith é um passaporte certeiro para a época mais colorida da moda urbana.
Will Smith e Joseph Marcell no seriado televisivo “Um Maluco no Pedaço” | Foto: Divulgação
E no Brasil? Bom, aqui a chegada do movimento não foi instantânea, mas de uma maneira bem gradativa e adaptada para o país. Especificamente em 1984, tivemos a chegada da dança de rua e o surgimento dos b.boyings, poppings e lockings. Não demorou muito para ver pessoas com roupas coloridas, óculos escuros, tênis de cano alto, luvas, bonés e um enorme rádio gravador, o icônico boombox, mostrando os primeiros passos do que se tornaria mais tarde uma cultura bem mais complexa. Mesmo sob forte influência norte-americana, temos nomes brasileiros de peso que fizeram história quando o assunto era moda urbana como Negra Li, Sandra de Sá, Racionais MCs e Thaíde.
Somos seres em constante evolução, mas adoramos revisitar o passado para reescrever o futuro. E assim funciona o nosso momento atual do streetwear. Brechós cada vez mais em alta, anos 90 ditando moda novamente, tudo isso sempre com uma pitada de tecnologia e futurismo.
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