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Era uma vez em Paris - Parte 2
Ouço ela grunhir baixinho e abrir os olhos de maneira confusa, provavelmente sem saber onde está.
- Ninha...o que eu tô fazendo aqui? Minha cabeça vai explodir... E POR QUE RAIOS EU TÔ SEM ROUPA? - Ela reclama esfregando os olhos e me encarando com a cara inchada.
- Vi, a gente precisa conversar antes de descer para tomar café...- digo, sentindo que aquela seria a hora de esclarecer tudo.
- O que a gente fez?
- Aparentemente nós fizemos sexo depois de uma senhora bebedeira... - nesse momento, não consigo olhar em seus olhos pois percebo seu torço nu.
- Me desculpa Ninha...- ela me diz para logo em seguida tampar seu rosto com as mãos.
- Tu não precisa se desculpar cachinhos...nenhuma de nós duas fez algo que não quisesse.
- Mas o que isso significa?
- Me diz você...- falo a encarando e tirando suas mãos do rosto.
- Ninha, eu não posso...a gente não pode! - Ela me fita com os olhos já marejados.
- Eu sei, mas por que não me disse sobre seus sentimentos antes?
- Eu pensei que estava confundindo as coisas meu girassol...nunca senti isso por outra mulher e quando tu chegou na minha vida foi tudo tão rápido...não soube o que fazer...- mais lágrimas caíram de seus olhos e num impulso a tomo em meus braços.
- Não chora, por favor...a gente vai resolver isso, tá bom?
- Como?
- A gente vai guardar esse momento aqui como um segredo bonito e só nosso... - digo selando nossos lábios de maneira suave e sentindo meu corpo eletrizar quando ela me beija de volta. No meu íntimo, sei que estamos fazendo isso pela última vez.
- Promete que nada vai mudar entre a gente?
- Prometo sim. - sorrio e lhe aperto um pouco mais em meus braços antes de vê-la se desvencilhar de mim e ir para o banho.
Quando descemos para o café apenas trocamos um olhar cúmplice antes de nos juntarmos a Felipe para acertarmos os detalhes do nosso retorno ao Brasil, que seria em algumas horas.
E assim minha primeira viagem internacional termina, na cidade do amor com a melhor amante que o destino foi capaz de me proporcionar.
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Era uma vez em Paris - Parte 1
Paris, 7 de novembro de 2017
POV Ana
Acordo com a claridade vindo da janela do quarto e lentamente abro os olhos sentindo uma pontada de dor na cabeça. Primeiros sinais de uma inconfundível e devastadora ressaca.
Conforme vou despertando percebo que estou sem nenhuma peça de roupa sob os lençóis e que uma figura de cabelos cacheados muito familiar se encontra ao meu lado na cama. Vitória Falcão está igualmente nua em um sono pesado com uma expressão tranquila no rosto.
- Mas que porra é essa... - sussurro assustada tomando consciência do que havia acontecido, sentindo mais uma fisgada na cabeça ao me sentar e notar meu violão e uma miniatura da Torre Eiffel jogados juntos as nossas roupas no chão. No mesmo momento as lembranças da noite anterior tomam conta da minha mente.
Flashback
Paris, 6 de novembro de 2017
Paris é de fato uma cidade feita para os amantes, ao caminhar mais por esse lugar concluo que o rótulo de "cidade do amor" não é dado por um acaso. Tudo aqui se volta ao romance, desde as mais simples cafeterias até as monumentais obras de arquitetura e os artistas de rua. Estou completamente encantada por esse pedaço do mundo.
As últimas semanas foram muito além de minhas expectativas, ter o seu trabalho sendo recebido com tanto carinho no outro lado do hemisfério te faz acreditar que fez algo de bom para a humanidade e que sua existência não é em vão. Eu e Vi, que tem enfeitado meus dias com sua arte e me acompanhado nessa incrível jornada, somos eternamente gratas ao Felipe e ao Tiago por terem acreditado em duas meninas do interior de Tocantins.
Nós não tivemos tempo de descanso em Portugal, tudo ali foi muito intenso, trabalhamos muito ao lado do Diogo na divulgação do nosso álbum no país, mas ainda assim tivemos a experiência incrível de conhecer e passear por essas duas cidades incríveis que são Porto e Lisboa.
Porém nosso tempo foi curto e quando nossos compromissos acabaram, eu, Vi e Felipe decidimos aproveitar o final de nossa estadia viajando para a França, pois segundo nosso querido empresário, trabalhamos com muito empenho e fizemos por merecer.
Com isso decidimos comemorar nossa última noite na Europa em um barzinho bem popular de Paris. O lugar parece bem despojado, está lotado e possui música ao vivo, me animo quando o grupo de mulheres que se apresenta começa a cantar covers dos maiores hits de Britney Spears. Olho pra Vi e sorrio ao ver uma expressão de deslumbramento em seus olhos.
Sinto um arrepio quase imperceptível na nuca quando Vi aproxima sua boca do meu ouvido.
- Vem dançar Ninha!! - Ela diz me arrastando para a pista de dança que fica próxima ao palco e deixando Felipe sentado no bar conversando com o barman enquanto tomava um drinque.
Dançamos por uns vinte minutos com os corpos colados um no outro enquanto praticamente berrávamos as músicas da princesa do pop e sei que esse momento ficará marcado na minha memória eternamente. Quando decidimos parar, vemos que Felipe ainda está no bar e o chamamos para procurar uma mesa.
Assim que a apresentação acaba, Vi cisma que quer falar com as moças que fizeram o show para parabeniza-las
- YOU ARE AMAZING!! - Ouço meu duo cacheado gritar de longe enquanto se aproximava das moças.
Acabamos por fazer amizade com elas e pedimos uma garrafa de champagne e mais três garrafas do mais genuíno vinho francês. Dessa forma passamos horas a fio conversando, bebendo e rindo.
Percebo Felipe um pouco quieto gravando alguns momentos da nossa noite em seu instagram, mas não ligo e encho mais uma vez meu copo de vinho fazendo graça para os vídeos, me sentindo um pouco mais alterada do que o normal. Percebo que Vitória está na mesma situação.
Mais alguns copos depois e eu já não tinha mais controle sobre a minha mente, lembro-me vagamente de tirar foto com as moças que fizemos amizade e mais um rapaz que também se apresentava por ali.
Depois observo que estamos dentro de um uber, eu com uma miniatura da Torre Eiffel que brilhava em minhas mãos e Vitória gritando com uma voz claramente bêbada.
- THIS IS THE BEST DAY OF MY LIFE!!!
- EU IMITO A VITÓRIA - Digo sem saber a razão de estar falando aquilo ao ver Felipe registrando esse momento de felicidade em seu celular.
E nessa hora eu me sinto infinita, um sentimento de completude inigualável que toma conta de cada célula do meu corpo e me faz acreditar que sou capaz de fazer qualquer coisa. Viro pra câmera do celular do Felipe e grito.
- A GENTE VAI DOMINAR O MUNDO, O BRASIL VAI DOMINAR O MUNDO, EU TOMEI UMA GARRAFA DE CHAMPAGNE MAS EU TÔ TOTALMENTE SÓBRIA, OLHA A VITÓRIA!!! - Quando vejo a menina dos cachos colocando metade do corpo para fora da janela do carro me deixo gargalhar loucamente.
Ao chegarmos no hotel em que estamos hospedadas, nos despedimos do nosso empresário que seguiu para o seu quarto, cansado, porém satisfeito.
Com isso, tenho uma ideia brilhante, puxo Vi pela mão e vamos diretamente para o meu quarto. Tranco a porta e jogo no chão a miniatura da Torre Eiffel que ainda segurava
- Vamos gravar algo pros fãs, precisamos contar pra eles como a gente tá feliz - digo já sacando o celular do bolso e iniciando a live no instagram
- A gente num precisa contar isso não - Vitória diz com a voz mole , dando uma mordida na minha mão e sentando no chão logo em seguida.
- A Vitória acabou de me morder - digo pra câmera do celular segurando o riso e virando pra ela.
- Com vocês...Vitória Falcão! - Ela logo se apressa em colocar uns óculos escuros na cara falando umas coisas ininteligíveis pra logo depois dizer.
- Vamu cantar uma música?
- VAMU! - Pego meu mais novo violão sentando na cama e sem saber como, consigo executar perfeitamente os acordes de "Fica".
Cantamos a música da forma mais embargada possível e quando percebo o resultado, interrompo a live, jogando meu celular e o violão pro lado, rindo tanto que sinto minha barriga doer.
- Tá besta é? - Vitória me pergunta de forma de divertida.
- Eu tô bem bêbada e você também...- Digo me jogando no chão me sentando ao lado de Vitória.
-Ninha, eu tô é vendo duas de tu - Ela me responde colocando a mão no meu rosto fazendo um leve carinho nas minhas bochechas. Imediatamente uma vontade de beijar aquele ser se apodera de mim e sem pensar muito me atiro em seu corpo grudando nossas bocas.
Vitória surpreendentemente corresponde a minha investida e sinto o cheiro do álcool quando nossas línguas se entrelaçam e ela me pega no colo nos derrubando em cima da cama.
No que pareceu uma fração de segundos, vejo que já não possuímos nenhuma vestimenta, e que as mãos e a língua de Vitória estão em todo lugar....
Fim do Flashback
Sentindo a cabeça um pouco pesada me levanto e vou direto ao banheiro para tomar um banho e organizar meus pensamentos. Ao me olhar no reflexo do box, vejo marcas do que provavelmente são de chupões em meu pescoço. Confirmando mais ainda as minhas suspeitas. Eu havia transado com a minha melhor amiga e parceira de música.
Não que eu nunca tivesse sentido atração por Vitória, aquele ser com olhos cor de marte e fala rouca despertou meu desejo desde a primeira vez em que pus meus olhos nela. Mas eu não podia ter feito isso, Mike não merecia ser traído e ter um relacionamento dessa natureza com Vi poderia destruir nossa carreira e tudo o que conquistamos até aqui.
E se iniciássemos um namoro e por um acaso terminássemos? Certamente seria o fim do duo, o fim de um sonho bom.
Eu amo Vitória demais para permitir algo assim, eu a quero por perto, quero ouvir sua risada todos os dias, suas opiniões e sentir seu abraço casa.
Decido que conversarei com Vi e que Mike jamais saberá disso. Consigo até imaginar sua expressão de decepção se descobrisse, pois, além de ser meu namorado, ele é amigo dela...
Sinto a água do chuveiro em meu corpo, querendo que leve todo esse sentimento de culpa embora, mas só o que consigo é ficar mais apreensiva com a perspectiva de encarar a cacheada quando saísse dali.
Ao terminar, desligo o chuveiro, me enrolo na toalha e perduro um pouco mais o tempo escovando os dentes. Saindo do banheiro, piso sem querer na miniatura da Torre Eiffel que até agora não sou capaz de lembrar como consegui. Dou um sorriso e pego meu celular filmando aquele objeto e marcando Vitória ao postar no meu instagram para lhe lembrar da bebedeira na noite anterior.
Visto uma roupa leve e quente e observo que Vitória ainda dorme profundamente no meio de todos aqueles lençóis, eu teria que acordá-la em algum momento.
Me sento ao seu lado na cama e passo a mão delicadamente em seus cabelos.
- Acorda Leãozinho... - digo dando um beijo em sua testa.
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