Diário de férias é um projeto que abre espaço para experiência artística de quatro jovens moradores do Rio das Pedras ao propor vivências no campo do cinema, da dança, das artes visuais e sonoras, durante o período de férias deles. O processo deste...
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Relato da artista Priscila Maia
Rio de Janeiro,
27 de janeiro de 2015.
Meu Querido Diário de Férias,
Passou voando, como raio tem passado o tempo, cada vez mais austero e violento. Os dias estão mais quentes, o humor mais intolerante, a fé mais burra, e a fonte cisma em secar. Em termos coletivos, às vezes parece que andamos para trás, mas na maior parte do tempo parece mesmo é tédio, principalmente quando o assunto é assumir mudanças radicais. Dá a impressão que não vai dar tempo de frear os efeitos do mau uso do espaço público, porque somos incapazes de enxergar o oposto do que sequer vemos como concreto: o degelo progressivo, o aquecimento global, a antecipação dos agudos dos pássaros. Por isso, do alto dos meus 32 anos, quando vivo uma experiência de grupo capaz de mostrar de modo acelerado uma mudança substancial, meu pulmão se enche de segurança, me surge subitamente uma confiança no desconhecido do sei-lá-o-quê, e “lembro do tempo que eu era criança”, quando o medo era motivo de aventura e me empurrava pelas esquinas do meu bairro, dizendo-me que era capaz de transformar uma rua numa cidade com esconderijos com folhas, policiais com areia no pé e ladrões que riem quando achados.
No primeiro dia da oficina que ganhou a alcunha de Autoficções, fiquei com a sensação que seria difícil concretizar o que havia planejado. Como adolescentes que são, oscilam entre o querer e o criticar, e ao chegar com uma abordagem diferente do que estavam acostumados, estranharam e se cansaram rápido. Fazia muito calor, o corpo ainda padece de ser súdito da mente, e o que era uma semana de aulas começava a parecer uma era jurássica.
Daí que no segundo dia a mágica do encontro aconteceu. Isso que tento descrever, não sei se vou conseguir verbalizar, é tão bonito e misterioso. Começou com a corrida. Sinto um prazer enorme em correr, e propus aos quatro jovens que corrêssemos juntos, em silêncio, por três minutos.
“Ai se eu corresse assim,
tantos céus assim,
muita história
eu tinha pra contar”.
https://www.youtube.com/watch?v=g8fTcdTyJXs
Quando nos propomos a fazer algo que não dominamos, nosso escudo antipático se desestrutura e desabrochamos num tropeço. Como se saíssemos de uma gruta escura, depois de dias sem água, e encontrássemos numa fortuita saída o desavisado sol. Experiência potente, resultado inocente.
A partir daí, consegui conduzir de forma mais fluída, porque as evidências começaram a ficar óbvias para eles também. O relato foi unânime: ao pedir que se movessem a partir da ideia de oposto do que são, todos acabaram se deparando com uma versão expandida de si mesmos. Caio, Karol, Ronaldo e Nathália criaram seus próprios personagens extraordinários, e houve momentos de pausa e expressividade que já marcaram a minha memória afetiva.
Quando chegou a hora da conversa para que déssemos o último passo rumo à experiência final, nossa interação fluiu que foi uma beleza, e chegamos a uma resposta, ainda que breve, a pergunta, ainda que inocente, “O que você quer ser quando crescer?” (se é que um dia paramos de crescer…).
Cada um criou para si um tipo/personagem/figura/sonho, e juntos, materializados no formato fotografia, deram rosto e estamparam a frase que me habitava desde que a Jo - cada dia mais querida, assim como para mim foram queridos os diários na adolescência - me chamou para participar do projeto: “Em breve, num futuro imaginário”. O que é o futuro se não algo que nos incita a sonhar?
Para fechar com a devida intensidade, paguei um revigorante esporro – desculpem-me os que acham chato levar um sacode, saibam que são eles que nos fazem aprender a dançar – depois que todos chegaram atrasados ao nosso último dia de processo.
Sorte que vida é movimento, e quando fomos para as ruas do bairro para colar os cartazes.
lá estava ele de novo,
no poste, no banco, vistoso,
lá estava ele,
o pavão misterioso.
Foi como se estivesse em outra cidade, de um país imaginário, e com outra idade que não a que tenho hoje. Posso agora dizer que além de dar aulas em Rio das Pedras, de fato conheci um pouco mais de Rio das Pedras. Passamos por ruelas, becos, um centro religioso, barbearia que serve cerveja, sorveteria que vende açaí. Teve tempo para conhecer a mãe do Ronaldo e a avó do Caio. Teve momento de tomar guaraná, de conhecer o Castelo das Pedras, de colar lambe-lambe na praça do rock, e de ficar impressionada com a quantidade de fios dependurados sobre as marquises. Teve perambular como um diletante dândi dos trópicos, dando gás à deriva como modo de ser, e mais que tudo, fazendo valer o sonho secreto de todo adolescente de metrópole. Da adolescente que fui - da adolescente que sou, mea maxima culpa - , do moleque da Baixada, do mano da quebrada, do árabe de Paris, do filipino de Manila. A todo e qualquer jovem moldado pela circunstância familiar, restou e sempre restará a vontade de conquistar o mundo com o próprio voo.
Minhas mãos querem mais.
Meus braços se coçam.
Meu bico fareja.
Já tenho saudades.
Um abraço em cada um, foi massa, muito obrigada!
Priscila
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Os meus quereres
Eu amei a oficina da jo que foi a última lá eu pude me fazer em trés personagem a MARIA MARIÁA o pastor e o preto velho eu amei pois foi uma experiência linda pois eu pude ser ali quem eu não sou normalmente sou minha criatividade e meu dote mental e flui falando como Zeca pagodinho deixa a vida me levar e assim ela me levou tanto que o meu video ficou lindo com a voz da minha digníssima Maria Bethania no final.
#Caio neves #jo linda #final #saudades
postado por caio neves
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Finalmente, meu vídeo da proposta da Jo está pronto, graças à ela. Foi muito legal fazer ele, adorei a proposta e ainda mais pq meus amigos estavam lá comigo (Vitoria, Ericles e o Junior, meu namorado.) Foi incrível e fácil de fazer, pois era algo natural do meu cotidiano. E ainda tivemos direito de sair no Jornal de Rio das Pedras, estou muito orgulhosa de mim e de todos que participaram de todo o projeto!! Sentindo saudades.
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"... FIQUEI MEIO ATORDOADA COM A NOTICIA..OLHO PRO TECLADO D MEU PC...E NÃO SEI MAIS O Q DIZER...SÓ SENTIR... " - Roberta Miranda.
Esse é o texto mais complicado de escrever durante toda a história do "Diário de Férias". Se ficar uma bosta... Desculpe... Não foi a intenção.
Foram 2 meses de trabalho duro, doamos todas as nossas férias à esse projeto... Oi? O que? Como assim? Algo aqui está muito errado.
Foram as melhores férias da minha vida, posso ter reclamado, mas tudo isso não foi em vão. Conheci novas pessoas, vivi experiências fantásticas e tive contato com um mundo que ao mesmo tempo que está super perto de mim, também está muito longe.
Foi muito bom sair pelas ruas de Rio das Pedras e logo arrumar 5, 6, 7 ou até 10 fãs. Todos queriam ajudar e alguns até participar.
Estou tentando lembrar de cada experiência que vivi dentro desses 2 meses... Mas posso te dizer uma coisa? Não dá. São muitas. Esse post ficaria o maior do mundo.
Que pena que chegou ao fim, eu sabia que essa hora iria chegar... Mas não sabia que seria tão rápido assim... Poxa...
Será que posso pegar um controle remoto e voltar 2 meses?
Mas enfim, é isso. Aqui está a invenção final de todo o projeto, conduzido pela minha maravilhosa(como diria o Caio), Jo Serfaty.
Quero agradecer à todos os artistas que passaram por aqui, vocês não têm ideia do quanto eu aprendi com cada laboratório. Foi fantástico!
Obrigado Jo Serfaty, pelo convite.
Obrigado Júlia Motta, que mesmo tentando continuar firme e brava acaba amostrando que esse coração é super molinho.
Obrigado Ricardo(não sei escrever seu sobrenome, sorry), por nos ajudar em TUDO do projeto(e também pelo lanche).
Valeu galera ;)
(Meu teclado está cheio de lágrimas... A culpa é de VOCÊS!)
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Em breve publicamos as últimas invenções do projeto Diário de férias. Aguardem!!
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Rio da Pedras | 23 de janeiro de 2015
fotos de Priscila Maia
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Rio de Janeiro,
27 de janeiro de 2015.
Meu Querido Diário de Férias,
Passou voando, como raio tem passado o tempo, cada vez mais austero e violento. Os dias estão mais quentes, o humor mais intolerante, a fé mais burra, e a fonte cisma em secar. Em termos coletivos, às vezes parece que andamos para trás, mas na maior parte do tempo parece mesmo é tédio, principalmente quando o assunto é assumir mudanças radicais. Dá a impressão que não vai dar tempo de frear os efeitos do mau uso do espaço público, porque somos incapazes de enxergar o oposto do que sequer vemos como concreto: o degelo progressivo, o aquecimento global, a antecipação dos agudos dos pássaros. Por isso, do alto dos meus 32 anos, quando vivo uma experiência de grupo capaz de mostrar de modo acelerado uma mudança substancial, meu pulmão se enche de segurança, me surge subitamente uma confiança no desconhecido do sei-lá-o-quê, e "lembro do tempo que eu era criança", quando o medo era motivo de aventura e me empurrava pelas esquinas do meu bairro, dizendo-me que era capaz de transformar uma rua numa cidade com esconderijos com folhas, policiais com areia no pé e ladrões que riem quando achados.
No primeiro dia da oficina que ganhou a alcunha de Autoficções, fiquei com a sensação que seria difícil concretizar o que havia planejado. Como adolescentes que são, oscilam entre o querer e o criticar, e ao chegar com uma abordagem diferente do que estavam acostumados, estranharam e se cansaram rápido. Fazia muito calor, o corpo ainda padece de ser súdito da mente, e o que era uma semana de aulas começava a parecer uma era jurássica.
Daí que no segundo dia a mágica do encontro aconteceu. Isso que tento descrever, não sei se vou conseguir verbalizar, é tão bonito e misterioso. Começou com a corrida. Sinto um prazer enorme em correr, e propus aos quatro jovens que corrêssemos juntos, em silêncio, por três minutos.
“Ai se eu corresse assim,
tantos céus assim,
muita história
eu tinha pra contar”.
https://www.youtube.com/watch?v=g8fTcdTyJXs
Quando nos propomos a fazer algo que não dominamos, nosso escudo antipático se desestrutura e desabrochamos num tropeço. Como se saíssemos de uma gruta escura, depois de dias sem água, e encontrássemos numa fortuita saída o desavisado sol. Experiência potente, resultado inocente.
A partir daí, consegui conduzir de forma mais fluída, porque as evidências começaram a ficar óbvias para eles também. O relato foi unânime: ao pedir que se movessem a partir da ideia de oposto do que são, todos acabaram se deparando com uma versão expandida de si mesmos. Caio, Karol, Ronaldo e Nathália criaram seus próprios personagens extraordinários, e houve momentos de pausa e expressividade que já marcaram a minha memória afetiva.
Quando chegou a hora da conversa para que déssemos o último passo rumo à experiência final, nossa interação fluiu que foi uma beleza, e chegamos a uma resposta, ainda que breve, a pergunta, ainda que inocente, “O que você quer ser quando crescer?” (se é que um dia paramos de crescer...).
Cada um criou para si um tipo/personagem/figura/sonho, e juntos, materializados no formato fotografia, deram rosto e estamparam a frase que me habitava desde que a Jo - cada dia mais querida, assim como para mim foram queridos os diários na adolescência - me chamou para participar do projeto: “Em breve, num futuro imaginário”. O que é o futuro se não algo que nos incita a sonhar?
Para fechar com a devida intensidade, paguei um revigorante esporro – desculpem-me os que acham chato levar um sacode, saibam que são eles que nos fazem aprender a dançar – depois que todos chegaram atrasados ao nosso último dia de processo.
Sorte que vida é movimento, e quando fomos para as ruas do bairro para colar os cartazes.
lá estava ele de novo,
no poste, no banco, vistoso,
lá estava ele,
o pavão misterioso.
Foi como se estivesse em outra cidade, de um país imaginário, e com outra idade que não a que tenho hoje. Posso agora dizer que além de dar aulas em Rio das Pedras, de fato conheci um pouco mais de Rio das Pedras. Passamos por ruelas, becos, um centro religioso, barbearia que serve cerveja, sorveteria que vende açaí. Teve tempo para conhecer a mãe do Ronaldo e a avó do Caio. Teve momento de tomar guaraná, de conhecer o Castelo das Pedras, de colar lambe-lambe na praça do rock, e de ficar impressionada com a quantidade de fios dependurados sobre as marquises. Teve perambular como um diletante dândi dos trópicos, dando gás à deriva como modo de ser, e mais que tudo, fazendo valer o sonho secreto de todo adolescente de metrópole. Da adolescente que fui - da adolescente que sou, mea maxima culpa - , do moleque da Baixada, do mano da quebrada, do árabe de Paris, do filipino de Manila. A todo e qualquer jovem moldado pela circunstância familiar, restou e sempre restará a vontade de conquistar o mundo com o próprio voo.
Minhas mãos querem mais.
Meus braços se coçam.
Meu bico fareja.
Já tenho saudades.
Um abraço em cada um, foi massa, muito obrigada!
Priscila
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Ufaaa, gente a proposta da Priscila eu posso dizer que foi uma das mais cansativas e divertidas. Nos dois primeiros dias tivemos atividades com o corpo e mente pra ser bem sincera não estava gostando nada no começo mas depois me soltei perdi a vergonha e me joguei. Agora no terceiro dia foi super divertido foi quando criamos nossos personagem escrevemos uma biografia fake do personagem e depois a gente montou tudo, cenário e look foi bem engraçado.. No quarto e ultimo dia colamos os cartazes dos personagem por todo bairro, muita gente ficou curiosa e imagino q vocês também e aqui esta o resultado dos cartazes Pelas ruas. Postado por : Nathalia costa
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A oficina da Priscila, foi muito legal e diferente das outras, foi cansativa, mas, tudo valeu á pena. Fizemos muitos exercícios mentais e físicos. Um dos exercícios mentais que fizemos foi ser por 3min algo que não somos, fazer totalmente o contrário do que somos, foi bem difícil e agradável, pois, creio que foi quando realmente mostramos quem somos, pelo menos para mim foi assim. A proposta dela no final era fazer a gente criar um personagem, algo que talvez gostaríamos de ser no futuro. Para os outros foi bem fácil, mas, para mim, nem tanto. Mas acabei criando o Pierrot, com a ajuda de todos, não é algo que eu queria ser ou pretendo ser no meu futuro, mas eu não sabia nada sobre Pierrot e quando pesquisei sobre ele, fiquei apaixonada! E na foto está o resultado final dele, gostei bastante. Por: karol
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A oficina da Priscila Maia foi muito louca! Não no sentido ruim da palavra "louca", mas no sentido ÓTIMO. Começamos fazendo vários exercícios mentais que logo passaram para exercícios corporais e creio que este personagem que criei(foto acima) só ficou realmente bom por causa desses exercícios. Outra coisa que ela ousou em propôr para nós foi fazermos um exercício que deveríamos fazer uma coisa totalmente diferente do nosso normal, tive que ser o oposto de mim mesmo por 3 minutos. Esta foto acima é do personagem que criei na invenção final do laboratório dela. Apresento a vocês: O Blogueiro Ostentação. No começo queria ele como apenas um blogueiro, mas acabou que ele foi ostentando cada vez mais e virou mais que um blogueiro, virou um blogueiro ostentação. Postado por: Ronaldo Lessa.
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eu amei participar da proposta da Pricila pois ela me fez refletir e ver um lado do meu eu que eu nunca tinha visto pois quando ela nos propôs de fazer um personagem em que se alegrávamos em ser ou ver e foi por esse motivo que eu quis fazer meu preto velho para transmitir sabedoria , harmonia , paz com sigo mesmo e pureza. Eu espero que todos gostem pois eu gostei .
postado por ; caio neves
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Durante quatro dias, os jovens estudantes escolhidos pelo projeto entraram de corpo, alma e imaginação nas propostas da artista Priscila Maia, dentro da Oficina Autoficções. Partimos de uma pergunta quase ingênua - O que você quer ser quando crescer? - para dar início a um mergulho rumo à reinvenção. Aonde isso vai nos levar? Em breve, num futuro imaginário.
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