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meu psiquiatra me pediu pra escrever. porque, aparentemente, a vulnerabilidade faz com que ele me entenda melhor. o que eu concordo, claro, afinal, são pelo menos cinco anos de psicoterapia. então eu sei o que ele precisa pra entender. e eu tenho pensado muito na nossa próxima consulta, que é daqui alguns dias, mas, em comparação com quanto tempo faz que nós nos vimos pela última vez, será a distância de dois meses. eu tenho pensado no que mudou de lá pra cá. o aumento na dose da minha medicação mudou, e eu tenho me sentido menos apática desde então. não sei dizer se o fato de eu também estar menos ansiosa tem relação com a medicação ou com o término da faculdade. talvez ambos. de qualquer forma, é uma coisa boa. a outra coisa que mudou é que minha mãe largou o tratamento dela, o que, a princípio, me deixou maluca. mas, depois, me deixou aliviada. e, sem precisar cuidar dela o tempo todo, eu acho que consegui cuidar um pouco mais de mim. e eu tenho feito exercícios físicos desde então, porque é importante que meu cérebro consiga produzir serotonina sozinho, e não só com a ajuda da medicação. palavras do psiquiatra. e, além disso, a medicação só aumenta a serotonina em 18%, o que, convenhamos, não é o bastante. eu preciso de bem mais do que isso. isso tem me passado pela cabeça também. eu não me sinto mais deprimida o tempo todo, e a ansiedade tem estado sob controle. mas eu sinto que, de alguma forma, essa coisa ainda vive em mim. é como se eu passasse algum tempo sem pensar nisso mas, assim que eu paro por um segundo, eu me lembro. e o meu corpo responde à lembrança de que, ei, você pode estar feliz agora, mas, no fim do dia, você ainda está deprimida. é parte de mim ser deprimida. quem eu sou sem essa parte doente de mim? eu acho que eu não sei.
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pelo menos uma dose de angústia diária, que é pra eu não me esquecer por onde já andei.
pra eu não deixar nunca o êxtase enganar minha visão de que um momento bom vai fazer com que todo o resto suma.
não posso me esquecer de quem eu sou. me bilisco um pouquinho, todos os dias, pra sensação me trazer de volta pro meu lugar.
e que lugar é esse que eu ocupo se, na realidade, me sinto tão vazia e tão deslocada?
a verdade é que eu flutuo. não posso me encaixar.
eu vivo sufocada até o último suspiro de uma angústia que nada pode alcançar ou apagar. é meu.
é verdade, eu cultuo a dor. e mais alguns sentimentos difíceis de engolir.
mas não por romantismo, e sim por não saber como eu sou além deles.
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Tentativas iniciais
Este é o começo de uma história que não é boa, bonita ou engraçada. Também não é ruim, miserável ou triste. Este é o começo – e apenas o começo – do que é uma história. Vocês sabem o que o dicionário diz sobre o significado da palavra “começo”? “Primeiros ensaios ou experiências; tentativas iniciais��. Eu, particularmente, gosto mais das tentativas iniciais. Porque é exatamente aí onde quero chegar: no meu começo. E, no meu começo, não penso sobre o início da vida através do nascimento. Ninguém começa a viver quando nasce. Nós só começamos a viver quando chegamos, finalmente, no significado da palavra começar: nas tentativas iniciais. Este é o começo do que foi o fim de uma vida que nunca me serviu.
Sejam bem-vindos ao melhor-pior momento das minhas tentativas iniciais.
Foi o meu primeiro beijo. Não, não literalmente o primeiro beijo. Mas foi o primeiro, sim, de muitas maneiras. Foi a primeira vez em que eu beijei alguém que eu amava. Foi a primeira vez que eu beijei alguém que tremia de excitação e nervosismo e ansiedade e todos os sentimentos do mundo, todos eles juntos, assim como eu. Foi a primeira vez em que eu beijei alguém que não fosse diferente de mim. Foi a primeira vez em que eu beijei uma igual.
Também foi a primeira vez em que arrisquei fazer algo por mim.
Aquele beijo tinha sido um divisor de águas, mesmo que eu não soubesse disso naquela época. E, olha só, mesmo que tudo tenha dado completamente errado depois, aquele beijo ainda tinha valido a pena. Ah, sim: tudo deu errado depois. Não depois do beijo. As coisas ainda funcionaram por algum tempo. Pouco tempo. Três meses, para ser mais exata. E depois disso… Bom, eu vou chegar lá.
É engraçado, mas eu preciso falar disso. Preciso contar sobre como antes de tudo dar errado, tudo deu certo, e que antes de tudo dar certo, tudo estava errado. Tenham em mente que o sofrimento é o intervalo entre duas felicidades, certo? Obrigada pelas palavras, Vinícius de Moraes, eu concordo com você. E concordo porque, honestamente, conhecê-la foi a minha alegria, enquanto perdê-la foi a minha tristeza. E descobrir que eu sobreviveria a tudo o que aconteceu depois dela seria a minha alegria outra vez.
Eu tinha quinze e ela dezesseis. Eu me lembro de pensar que, daquela vez, eu estava mesmo perdida. Eu sabia que ela não seria apenas mais uma garota pela qual eu senti atração e acabei por fugir, e Deus sabe quantas vezes eu fugi; quantas vezes dei razão ao meu medo de que as pessoas soubessem quem eu realmente sou. Mas, daquela vez, não tinha mais nada que eu pudesse fazer. Eu tinha sido fisgada. E vocês querem saber a melhor parte? Ela sentia o mesmo por mim.
Nós estudávamos na mesma escola. Ela era colega de um amigo, e foi só assim que, finalmente, nos conhecemos. Ela gostava de assistir às mesmas porcarias na televisão que eu, e foi isso. Nós não sabíamos quase nada uma da outra. E, olha só, nós não demos a mínima para isso, porque pensamos que teríamos tempo de sobra para nos conhecermos pelo resto de nossas vidas.
Eu ainda não sei como, um dia, nós acabamos estáticas, com os rostos colados, mas, ainda assim, sem se tocar. Eu não sei. Tudo o que eu sei, tudo o que eu me lembro, é de como o meu coração batia rápido e forte e descontrolado. Eu me lembro dela. Eu me lembro de sentir a sua ansiedade tanto quanto a minha. Nossas mãos tremiam. Nós nos encaramos por segundos – muitos segundos. Eu não sei qual de nós duas foi a primeira a encontrar o caminho para aquele beijo, mas alguém o fez.
Os lábios dela eram macios e gentis de uma maneira que eu nunca pensei que pudessem ser.
Três meses. Foi só isso que durou. E eu vou contar tudo, tudo o que eu puder e conseguir me lembrar, mas antes que eu os leve para aquele dia de dezembro onde tudo acabou, eu quero que vocês saibam de algumas coisas sobre ela, sobre mim, sobre as nossas famílias, sobre o mundo em que vivemos e sobre como tantos fatores externos puderam decidir o nosso fim.
Ah, vocês não pensaram que nós nos perdemos uma da outra por decisão nossa, pensaram? Espero que não, porque isso jamais aconteceria se tudo estivesse apenas em nossas mãos. Por algum tempo, nós acreditamos que estava, que nós ficaríamos bem, mas não foi bem assim que tudo aconteceu. Na verdade, a realidade bateu na nossa porta com um pouco de brutalidade, se querem mesmo saber.
Ela morava com os pais, o irmão, a avó e dois cachorros. Conheci todos eles. Eu gostava mais, particularmente, dos cachorros. Mas ela tinha um pouco mais de sorte do que a maioria de nós temos: ela tinha o apoio incondicional da mãe. Talvez vocês saibam o quão importante é isso para um filho porque talvez vocês sejam os filhos aos quais eu me refiro. O quão importante esse tipo de amor que não julga é para nós. Eu não sei como é ter algo assim. Eu nunca descobri como é essa sensação.
Eu morava com os meus pais, só nós três. Filha única e todo esse blá-blá-blá, recebendo toda a atenção do mundo o tempo todo. Mas o tempo todo é tempo demais para ser notado, principalmente quando você não quer que percebam algo sobre você. E eu não queria. Não queria que soubessem quem eram os meus amigos da escola; não queria que soubessem que eu bebia escondida na casa da minha melhor amiga e, é claro, não queria que soubessem que eu tinha uma namorada.
Eu pensei que nós duas disfarçávamos bem. Pensei que passávamos uma imagem convincente de melhores amigas. Mas não. Aquela coisa toda que eu disse sobre prestarem atenção demais em mim? É, eu acho que isso ajudou. O modo como nós duas estávamos sempre juntas, os minutos de atraso para voltar para casa depois da escola, a primeira vez em que pedi para dormir fora de casa, a festa surpresa que eu planejei para ela… Tudo isso encaixou-se como dois mais dois é igual a quatro.
Foi a minha mãe. E, quando ela finalmente conseguiu arrancar de mim tudo o que eu tentei esconder, ela chorou como se eu tivesse dito a ela que, sim, eu ajudei a derrubar as Torres Gêmeas. E eu não estou exagerando. Depois disso… Bom, as coisas ficaram um pouco fora de controle.
A lembrança mais nítida que eu tenho de tudo isso foi, provavelmente, a do dia em que meu pai soube de tudo. Enquanto a minha mãe era o desapontamento, o meu pai era a irritação. E, tudo bem, era assim que ele lidava com as coisas. Mas, honestamente, eu não pensei que eu seria uma dessas coisas.
E é com essa irritação que chegamos ao dia de dezembro que eu citei há pouco. Eu tinha tentado convencer a minha mãe a não contar nada para o meu pai e, por alguns dias, eu pensei que ela tinha concordado comigo. Seria pior se ele soubesse. Muito pior. E foi.
Eu me lembro de estar dormindo quando ele entrou no meu quarto como um furacão. Meu cérebro grogue pelo sono interrompido não foi capaz de processar tão rapidamente o que ele gritava bem na minha cara. Ele me puxou pelo pulso, me tirando da cama e me arrastando até o banheiro, nos trancando lá em seguida.
Ele apontou o dedo para mim, irritado, e continuou gritando: “Que história é essa? Que porcaria de história é essa com aquela menina?”. E eu respondi, tremendo, que eu gostava dela. Eu contei a ele a verdade naquele dia. Sobre mim, sobre ela, sobre o quanto eu gostava dela. Eu ainda não consigo contabilizar o quão estúpida eu fui por pensar que ele entenderia; que qualquer um dos dois entenderia. Mas, vamos lá, o que eu posso dizer? Eu fui completamente iludida por todas aquelas histórias de pais que aceitam os seus filhos gays e falam abertamente sobre como eles se amam independente de tudo. Então, sim, eu fui uma idiota. A maior idiota de todas. E, com o passar dos dias, isso tornou-se cada vez mais evidente. Mas, antes de continuar falando sobre “Como Foi Que Eu Caí De Cara Do Armário”, eu ainda preciso contar sobre como foi para a garota que eu amava saber que tudo tinha caído por terra.
Eu sei que houve lágrimas. Muitas delas. E frases de efeito, também. Nós dissemos coisas como “nós ainda vamos ser muito felizes” e “a gente vai ficar bem”. E tudo isso dentro de uma cabine do banheiro feminino enquanto eu matava a aula de educação física e ela a de matemática, porque, adivinhem só, meus pais tinham acionado a coordenação da escola para que nós não pudéssemos nos falar.
Eu pensei que ela tinha entendido a minha decisão de não levar o nosso relacionamento adiante. Mas, é claro, eu tinha sido idiota de novo. Ela me disse, algum tempo depois, que nunca me perdoaria por ter desistido de nós. E isso é engraçado, não é? Porque eu também nunca consegui perdoá-la por colocar a culpa em mim. Eu não sei o que ela esperava, afinal de contas. Eu tinha quinze anos e ainda acreditava na lenda do conceito de família e amor; é claro que eu escolheria terminar se houvesse uma chance de colocar toda a minha vida nos trilhos outra vez.
E, novamente, eu fui estúpida por pensar que tudo voltaria ao normal. Mas tudo bem, porque este foi apenas o meu sofrimento; o meu intervalo entre as minhas duas felicidades. E, é claro, o que eu pensava que era normal, na verdade nunca tinha sido, porque aquela pessoa que vivia aquela vida nunca tinha sido eu. A “eu” de verdade, pelo menos.
Já faz algum tempo desde que tudo isso aconteceu. E eu não vou nem me atrever a fingir que as coisas ficaram bem em um piscar de olhos. Para ser sincera, a tendência, a partir dali, foi a de piorar. Mas, para ser ainda mais sincera, não foi uma piora exatamente ruim, apesar de tudo.
É óbvio que todo esse tempo – sete anos, para ser mais exata – não foi nenhum passeio no parque. Não. Estava mais para uma visita ao campo minado. E é exatamente aí que fica o paradoxo: eu estava na pior, é óbvio; mas eu finalmente era eu, e tudo o que acontecesse a partir daquele momento, aconteceria porque eu estava sendo honesta não só comigo, mas também com as pessoas que mais importam para mim. Então tudo bem, porque essa era uma situação da qual eu não poderia fugir, de qualquer maneira. Ela viria em algum momento, certo? Certo.
Eu nunca pensei que um beijo resultaria em tudo isso, apesar de que, agora, parece meio óbvio. Foi com ele que eu dei início ao efeito bola de neve das minhas tentativas iniciais. Aquele beijo foi a minha tentativa inicial de... De mim. É só que, quando eu estava lá, conhecendo aquela garota e me apaixonando por ela, eu não pensei no resto. Eu não pensei, nem por um segundo, que o meu modo de amar machucaria tanta gente. Eu pensei em mim e em tudo o que eu guardei para que as coisas nunca saíssem do lugar, e em como eu não podia mais fazer isso comigo mesma.
É, de novo essa coisa de “não querer que as coisas saiam do lugar”. Desculpem, desculpem mesmo por reforçar tanto isso, mas é importante. É importante porque isso, somado às tentativas iniciais, fez de mim o que eu sou. É importante porque, se não fosse por todo esse medo de sair da inércia, aquele beijo não teria significado nem a metade do que significou, e aí o meu mundo não teria desandado da forma como desandou.
Desandou para o bem, como eu já disse, mas desandou. Apesar de parecer ridículo. Mas, para mim, foi como naquela frase do Caio Fernando Abreu, sabem? “E de repente a vida te vira do avesso e você descobre que o avesso é o seu lado certo”. Pois é. Foi isso. É isso.
Eu acho que, no fim, o que fez doer não foi, exatamente, o que parecia óbvio. Não foi o jeito como eu fui tratada pelos meus pais, nem todos os olhares na escola, nem a garota que eu amava me culpar por tudo de ruim que aconteceu ou a psicóloga que não me ajudou em nada; não foi nem mesmo a autoflagelação. O que causou a dor foi o que eu fiz comigo. O que todos nós fazemos quando sabemos que quem somos pode ser inaceitável para alguns; nós sofremos por não querer que eles sofram. E é isso o que dói. Aceitar o fato de que não há nada que eu possa fazer além de ser o que eu sou, mesmo que ninguém me aceite... Isso dói. Mas não dói para sempre.
Eu espero que não.
O que eu quero dizer, por fim, é que tudo bem. Eu não me sinto mais no olho do furacão, e consegui sair dele com alguns pequenos danos. Alguns deles, apesar de pequenos, permanentes. Eu não vou me esquecer. E, apesar de saber que tudo isso não tem a menor importância para a maioria de vocês, espero que também não se esqueçam, porque existem milhões de histórias como essa acontecendo agora. E tudo bem, deu tudo certo comigo. Eu vou sobreviver. Mas pode ser que outro alguém não. E nós precisamos falar sobre isso.
Espero que falem e espero que se lembrem.
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Check-in
Ela liga avisando que vai dormir fora. Vejo quando ela encerra a chamada o mais rápido possível, evitando que algo a mais seja dito e nós nos denunciemos de alguma forma. Eu não precisei pensar tanto em uma desculpa para estar ali, mas nossas vidas são diferentes. Limitações diferentes.
Check-in.
Ele olha para nós e diz que há um quarto com duas camas de solteiro disponíveis; dispenso. Eu quero a de casal, muito obrigada. Destranco a porta do quarto e nós entramos. Eufóricas. Extasiadas. A partir dali, desligamos os telefones. Estamos, oficialmente, sozinhas. Temos muitas coisas pra olhar, muitos cantos pra explorar e tanta, tanta curiosidade. Não sei se estou falando do quarto ou de nós duas.
Eu tiro a roupa, e ela também. Despretensioso. Entre nós, todos os carinhos começam despretensiosos. Nem sempre eles vão pra algum lugar; o despretensioso é muito gostoso também. Dessa vez, contudo, vamos parar no chuveiro. Um banheiro só é o suficiente pra nós duas. Talvez não seja prático, mas não é praticidade que queremos; é proximidade.
Depois, minhas pernas se enrolam embaixo da coberta enquanto ela fugia completamente do meu contato. Agora, pelo menos, mas só porque faz calor. E porque ela não gosta de ficar toda enrolada no cobertor, como eu gosto. Mas eu me enrolo nela mesmo assim. Porque é impossível que ela esteja aqui e eu não encoste nela, nem que seja só um pouquinho.
Eu respiro no pescoço dela, quente, e distribuo beijos onde minha boca consegue alcançar.
Felizmente, aqui, eu alcanço tudo.
A coberta sai de cena e nós começamos tudo de novo. Sequer sei se em algum momento realmente paramos. O quarto fica abafado e ela liga o ar condicionado, que eu detesto. Mas ela gosta, e ainda tá calor. Continuamos de onde paramos – recomeçamos.
Quanto tempo será que essa dança pode durar? Por mim, o dia inteiro. A vida toda. Ela me pede pra ir buscar a pizza e eu me levanto, tonta, impregnada. Dela. Ela ri de mim e eu rio junto, porque minhas pernas estão bambas. E eu nunca me senti assim. Eu visto o short dela e a camiseta, porque nem mesmo sei onde estão minhas roupas. No elevador, minhas pernas ainda estão bambas. E eu sinto falta dela imediatamente.
Nós passamos a noite. Eu durmo rápido, cansada, mas ela continua lá. Me acorda lá pelas quatro, pedindo colo. Como é que eu poderia negar? Eu seria louca se eu negasse qualquer coisa a ela. Não sei como dormimos. Mas as cobertas voltaram e eu gosto. Os nossos pés se encostam, enroscam.
Ela acorda, eu levanto. Peço pra que ela desligue o ar condicionado. Tranco a porta e nós fechamos a conta.
Ela liga o celular outra vez e eu faço o mesmo. Uma dose horrível de realidade nos enche a cara.
Não sei como posso dormir mais um dia sequer longe dela.
Check-out.
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Brigar com você me lembra o quão ansiosa eu posso ser.
Eu olho para as minhas memórias, todas as lembranças boas e também as ruins. Nesse momento – nesse horrível momento –, as ruins ganham força. Eu me pergunto: devia ser tão complicado assim ficar com alguém? O buraco que cresce no meu estômago e me faz nausear me diz que não; provavelmente não.
Você não devia foder com a minha cabeça assim.
Não é engraçado que essa briga nem seja uma das piores? O problema é que ela vem e se sustenta, justamente, em cima dessas outras. As coisas não passam, não se resolvem. Talvez agora nós só sejamos um amontoado de erros tentando seguir em frente. Mas seguir em frente de forma indiscriminada, sem desatar os nós que nos machucam a garganta, pode não ser a melhor forma de lidar com isso. Com a gente.
Não estou dizendo que eu quero que nós não continuemos juntas. Eu quero voltar a sentir que tudo vai ficar bem, que seja lá o que acontecer, nós podemos resolver. Mas eu não tenho conseguido manter esse tipo de esperança. Eu sinto você esperar de mim coisas – atitudes, sentimentos, vontades – que talvez eu não consiga ter. Eu entendo você. Mas eu me entendo também. Eu não quero errar com você, mas eu não sou o que você gostaria que eu fosse. Eu acho que você não é como eu gostaria também.
Nada tem sido muito fácil.
Eu gostaria que nós lidássemos com nossas falhas, nossas imperfeições. Eu posso aceitar que você é diferente de mim, mas você pode fazer o mesmo? Você pode aceitar que eu não quero seguir a direção que você apontar? Queria que a resposta para essas perguntas fosse mais promissora.
Sinto muito. De verdade.
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eu sinto muito por ser assim. eu me coloco no seu lugar e eu não consigo sentir nada além de culpa por te fazer passar por isso. você não merece.
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eu achei que eu tava indo bem, conseguindo contornar as armadilhas que eu mesma crio, mas não, né? eu não consigo melhorar.
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eu me conheço bem a ponto de saber quando eu quero me ferir. eu sinto. eu consigo ver o pensamento vindo, do nada, e estacionando bem no meio da minha mente. eu sinto meus braços formigarem, e sinto tanto que penso que preciso encostar neles de alguma maneira pra que isso passe. hoje eu consegui não me machucar. mas, sinceramente, eu não sei como vai ser amanhã.
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a minha primeira lembrança de você é de quando eu tinha 12 e eu era completamente viciada em computador. o negócio é que eu não queria comer, dormir, brincar na rua; eu só queria o computador. e é compreensível até, era uma novidade na época. mas aí, a parte da qual eu realmente me lembro, é a do meu pai vindo na porta do meu quarto e fazendo cara feia. ele não falava nada comigo, mas ele brigava com você. e aí, consequentemente, você brigava comigo. mas o ponto não é realmente esse. o que eu me lembro de verdade é que, com o passar do tempo, as brigas foram ficando tão intensas e tão recorrentes que a coisa toda foi ficando insustentável pra mim. e o meu primeiro registro emocional disso tudo é do dia que você veio no meu quarto de madrugada, lá pelas 2h, chorando, depois de brigar por horas com o meu pai, me dizer que você não estragaria o seu casamento por minha causa, que você escolheria meu pai ao invés de mim. eu demorei muito tempo pra entender o que isso queria dizer de verdade, mas hoje eu entendo. eu também me lembro de uma outra briga, na mesma época, em que você disse que não queria mais ser a minha mãe. pode parecer pouco pra você, mas pra mim nunca foi. eu era uma criança muito sensível, assim como hoje eu continuo sendo uma adulta muito sensível, e suas palavras impensadas sempre me feriram muito. eu nunca me esqueci desse dia. o negócio é que eu nunca consegui me desvencilhar da culpa que você me fez sentir quando eu tinha essa idade. eu realmente acreditei que se você tinha problemas com o meu pai, a culpa era minha. mas, falando sério, o quão ruim uma criança de 12 anos tem que ser pra gerar tantas brigas? pra mim, a resposta é: é impossível uma criança ser tão problemática assim. eu não era o que você me fez acreditar. eu não era a culpada das suas brigas. mas eu acreditava que era. e esse sentimento de culpa foi tão intenso que ele existe até hoje.
você pode achar que a nossa relação começou a desandar quando eu me assumi lésbica, mas não foi. e eu sei disso porque eu sempre sempre sempre me lembro do que você me falou quando eu tinha 12 anos: eu não vou estragar o meu casamento por sua causa, eu escolho ele ao invés de você. a minha mágoa vem daí. eu nunca consegui entender que tipo de mãe fala uma coisa assim pra um filho.
mas eu tenho outras lembranças suas também. uma bem dolorida, bem recente, de quando meu pai insinuou que eu poderia fazer mal pra Anna Clara de alguma maneira muito maldosa, tipo um abuso mesmo. você nunca me defendeu; pelo contrário, você apoiou a fala dele. você pode até estar pensando agora em vários momentos que você acha que você foi algum tipo de suporte pra mim, mas eis a minha resposta pra isso: você nunca, nunquinha, me apoiou quando eu precisei, quando importava de verdade, quando eu precisei que você brigasse por mim. você lembra da Márcia? aquela coordenadora pedagógica do Francisco Menezes que vocês colocaram pra andar atrás de mim na escola? ela me tirava da sala de aula e me falava, todos os dias, sobre como eu estava fazendo vocês sofrerem, sobre como Deus via tudo aquilo e sobre como eu estava errada. imagina o quão mal eu me senti tendo que passar por isso por meses, enquanto eu vivia um inferno tanto na escola quanto em casa. eu não tinha paz em lugar nenhum, não importava onde eu estivesse. eu queria morrer, de verdade. eu fiquei tão triste que eu queria nunca mais acordar pra ter que lidar com a minha própria vida.
no meio disso tudo, as brigas continuavam. você lembra como você me contava tudo sobre os seus problemas com o pai? você me contava da vida sexual de vocês. que adolescente quer saber da vida sexual dos pais? e depois, você lembra como você me forçava a escolher um lado? escolher entre você e meu pai. o quão injusto é você colocar um filho no meio de um problema conjugal? normalmente, os pais tendem a proteger os filhos do caos do casamento. você não. você sempre me colocou no meio do furacão. e pior: você nunca aceitou o fato de eu não querer me meter. você ficava dias, semanas, sem conversar comigo ou com o meu pai. ok, meu pai eu entendo. mas eu? eu não tinha feito nada. eu não tinha CULPA de nada. mas, novamente, eu me senti culpada. eu senti, mais uma vez, que eu era o problema. eu cresci achando que eu era um problema. às vezes, até hoje, eu ainda acho.
mas a grande pergunta que eu tenho pra te fazer é: quantas brigas ao longo desses anos nós já tivemos? a resposta é, sem dúvida: muitas. e sabe o que eu acho? eu não acho normal. eu acho normal haver discussão, famílias brigam. mas não brigam como nós brigamos. você sabe o quanto as nossas brigas passam dos limites?
eu me lembro de várias brigas. na maior parte delas você estava bêbada. na maior parte delas era de madrugada. na maior parte delas você gritou até falar chega, até você me irritar ou irritar o meu pai pra valer, até a gente falar alguma besteira e você poder chorar. em algumas das vezes você até saiu de casa. você lembra? eu lembro. eu lembro que eu fiquei tão atordoada que eu coloquei o meu dinheiro, que eu juntava num cofrinho, dentro da mala que você tava levando. eu fiquei muito preocupada naquele dia. mas também fiquei muito envergonhada, porque naquele dia você gritou coisas muito baixas no meio do hall, com vários palavrões. e sabe o que mais eu lembro? alívio. esse é um ponto importante, mãe. eu cresci com você brigando comigo, com meu pai, das maneiras mais agressivas e baixas possíveis, então, quando você finalmente dormia ou ia embora de casa ou passava uma semana sem conversar comigo, sabe o que eu sentia? alívio. porque você tinha, finalmente, parado de gritar. parado de me magoar. você nunca soube discutir. você nunca soube argumentar. você sempre soube magoar. você nunca ouviu uma palavra do que a outra pessoa disse numa discussão. você enlouquece a gente, mãe. você ME enlouquece. não tô falando isso pra te magoar, tô falando porque é a verdade. não tô dizendo "coisas horríveis que nenhuma mãe e filha devem dizer uma pra outra". eu tô dizendo a verdade. você faz eu ter vontade de desistir de tudo o que eu tenho na minha vida, porque eu sei que nada, nunca, vai te agradar. você continua me fazendo sentir que a culpa de tudo de ruim que você possa vir a sentir é minha. você disse, bem na minha cara, que eu sou a maior decepção da sua vida.
eu não duvido que eu seja. eu sei que eu não sou a pessoa que você esperava que eu fosse. mas você precisa superar isso e entender que os filhos não existem pra ser o que os pais querem que eles sejam. eu sou como eu sou. eu sou assim. e tá tudo bem pra mim. mas quando você disse que eu era uma cobra, uma naja, e que eu era uma decepção, sabe o que eu pensei? eu pensei: cara, eu não sou tão ruim assim pra causar tantos problemas. eu NUNCA fui tão ruim assim pra causar tantos problemas. então, por mais que eu me sinta muito culpada às vezes, e por mais que eu ache que até o aquecimento global é minha culpa, parte de mim sabe que eu tô errada. eu não sou esse problema que você faz parecer que eu sou. você precisa entender, mãe, que nós somos extremamente diferentes, e que o que você acha bom pode não ser bom pra mim, e vice versa. você pode não concordar com minhas atitudes e com a maneira com a qual eu levo a minha vida, mas você não pode me atacar por isso. você não tem o direito de me colocar numa posição em que eu tenho que ouvir suas palavras tão cruéis só porque você é minha mãe e você acha que isso te dá o aval de me falar o que você quiser. NÃO DÁ. você precisa me respeitar, assim como eu tento te respeitar, apesar de todas as diferenças. você já deve ter entendido, a esse ponto, que eu não tenho as melhores lembranças de você. muito pelo contrário. eu ainda tenho dificuldade de criar um repertório com lembranças positivas nossas. quando eu penso em você, eu penso em briga, cerveja, cigarro, gritaria, palavrão. penso em você decidindo que não queria mais ser minha mãe quando eu tinha 12 anos. penso em você dizendo que eu não fazia ideia do quanto eu te fazia sofrer quando eu tinha 15 anos. penso em você dizendo que eu não valho nada com 21 anos. essas são as lembranças mais fortes que eu tenho de você. então, mãe, me desculpa se eu não consigo demonstrar afeto, se eu não consigo aprofundar a nossa relação. é muito difícil pra mim me conectar com você. me desculpa se, quando eu li a sua mensagem se desculpando, tudo que eu senti foi vontade de gritar de tanta frustração porque eu sei que você vai fazer de novo. você vai brigar de novo. todas as vezes que eu não me parecer com o que você gostaria que eu fosse, você vai, outra vez, falar que eu sou a maior decepção da sua vida. por isso, eu não vou te pedir desculpas por querer que, naquele momento, você parasse de falar comigo. eu precisava de silêncio, eu precisava de calma, eu precisava de paz.
eu não vou te pedir desculpas porque, pensando em tudo o que eu tenho guardado dentro de mim, eu não me sinto errada. e eu não vou aceitar as suas desculpas porque, conhecendo você, você vai fazer de novo. e eu não quero me iludir pensando que vai ficar tudo bem agora. a esperança de ter uma boa relação com você me adoece, por isso, eu não quero mais ter esperanças. eu não quero esperar nada de você, da nossa relação. só quero que nós convivamos bem enquanto for possível. você pode achar que não, mas eu me esforço todos os dias pra que você não se sinta tão mal por me ter como filha. espero que você se esforce pra respeitar as minhas escolhas.
você é a decepção da minha vida, mãe, assim como eu sou da sua.
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não quero te machucar enquanto me machuco
queria ser melhor pra você
mas não sei ser melhor nem pra mim
mas eu tô me esforçando
eu juro
péssima péssima péssima
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eu queria que eu tivesse conserto mas eu sinto que eu não tenho e é isso que é desesperador
é pensar que eu sou louca e paranóica e insegura e que eu vou ser pra sempre assim
que não tem saída pra mim
que eu não sei porque eu sou desse jeito mas eu vou morrer com essa cabeça
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eu queria me sentir menos mal
por coisas que eu nem sei
se são reais
eu queria não acreditar tanto
nas minhas próprias
invenções
t.
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eu sinto que eu sou problemática demais pra que você goste de mim. tudo bem, você pode gostar, mas você não vai querer ficar, porque quem é que ficaria com alguém assim? eu sou uma bomba relógio. você não devia ter que passar por isso.
a.a.
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I'm gonna read sad stories and hear sad songs because I need to understand how sad I am
p.
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todo dia é um dia em que eu preciso parar e pensar
calma
todo dia eu preciso perceber as coisas ao meu redor e pensar
calma
as coisas que a sua cabeça te diz
não são reais
a.
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eu te amei, de verdade mesmo. eu me doei de corpo e alma até não sobrar nada de mim. eu adoeci por você. é estranho pensar que eu só voltei a respirar quando você decidiu que não me queria mais. te perder foi uma das melhores coisas que já aconteceram comigo.
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eu penso na minha carta de suicídio
se eu culparia as outras pessoas
ou só eu
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