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Meus mil e um gatos imaginários: O conto de um coração azul.
Ele era a luz de uma esperança que acho que nunca cheguei a ter. Nunca contei quantas palavras pulei para que conquistasse o silêncio até que estivesse pronta para mergulhar na magia que era viver em mim.
Uma vez, prometi que, se pudesse, adotaria mil e um gatos e daria a todos o seu nome, apenas para ter o prazer de repeti-lo mil e uma vezes por dia, e eu acho que nunca falei tão sério em toda a minha vida. Eu juro de mindinho que sempre acreditei nele, assim como sempre acreditei na Terra do Nunca e no País das Maravilhas. Ele falava sobre o quanto gostava das minhas saias de botões, do meu par de all star velho e rabiscado, dos meus antigos e largos ''suéteres de dias chuvosos'', dos meus pares de meias azuis e, principalmente, gostava da minha ''imaginação aquarelável''. Eu poderia passar muitas tardes listando tudo o que eu mais gostava nele, mas, quando me dei conta, já havia preenchido todas as páginas do meu diário com várias palavras confusas sobre a beleza fantástica de ser encantada por alguém como ele.
Durante meus anos de ensino médio, eu costumava escrever cartas destinadas à rainha da Inglaterra. Nunca soube se ela leu alguma delas, mas sabia que todas haviam sido enviadas. As que eu o escrevi, no entanto, não tive a certeza de que chegaram. Passei a sentir sua falta até mesmo quando nem me lembrava o que era sentir saudade. As coisas mudavam de cor, forma e tamanho, e eu era sempre a mesma garota do coração azul, exatamente como sempre fui desde que o conheci.
Nós nos conhecemos quando eu tinha apenas 17 anos. Eu trabalhava em uma aconchegante livraria do centro e ele costumava passar muitas horas ali. Eu sempre olhava para os lados procurando por algo novo, como se o mundo fosse um lugar diferente a cada dia. Juro de mindinho que nunca tinha o visto por ali, tenho a mais completa certeza de que pausaria a vida apenas para observá-lo todo atrapalhado enquanto carregava vários livros. Ele tinha pernas compridas, usava sempre camisas com colarinho e uma jaqueta azul por cima. Andava com seus óculos preso à jaqueta, mas poucas vezes tive o prazer de vê-lo usando.
Ele adorava me contar segredos pela metade, porque se lembrava apenas na metade dos fatos que não deveria me contar algo que eu descobriria sozinha. Às vezes, tinha a sensação de que ele havia saído de um livro, mas era ele quem sempre dizia isso sobre mim. Era como se eu sentisse que podia voar enquanto o ouvia contar sobre suas histórias, mesmo nunca sabendo se ele realmente viveu alguma delas. Ele me contava sobre a comoção súbita causada pela emoção de valsar com as estrelas, sobre a oportunidade de ouvir uma árvore de mais de 100 anos narrar as aventuras que ocorreram ao seu redor, e sobre deitar em um rio congelado em um pequeno vilarejo na Suécia e apreciar os sons emitidos por ele.
Em diversos momentos, ele me afirmou que o perfeito existia, e eu poderia negar até o fim dos tempos. O prometi que tentaria sentir a perfeição, a lista de coisas era inacabável e todas as maneiras que eu poderia sentir se tornaram ainda mais incríveis por saber que ele era como um presente enviado pelas forças mais poderosas do meu mundo. Era como se ele fosse um ‘’Parabéns’’ da perfeição para mim.
No topo do prédio mais alto da cidade, ele me contava suas histórias sobre fantasmas. ‘’Às vezes, me pego pensando na quantidade de fantasmas que estão tristes por menosprezarem seu trabalho. Se um fantasma assombra algum lugar, já o chamam de mal-assombrado, fico imaginando como ele se sente por sempre existir alguém dizendo que é mal feito. Por isso, prefiro escrever contos sobre lugares bem-assombrados, me parece mais agradável’’, dizia ele. Eu ria e assegurava que nunca mais iria ignorar os feitos de um fantasma. Aquela noite, contei que queria ser escritora, assim como ele. Nunca havia dito para absolutamente ninguém. Ele respondeu que, se um dia eu leiloasse minhas histórias, ele daria tudo o que tinha para comprá-las uma a uma. Ele escrevia sobre as boas almas que o cercavam e eu escrevia sobre a graça de ser uma criadora de mundos.
Compartilhávamos nossas angústias, confissões e lanches. Lhe contei sobre o que sentia por ter ouvido de alguém importante que não era certo passar o tempo todo no País das Maravilhas e se esquecer de viver. Ele sentiu minha dor apenas pelo meu olhar, e me confortou dizendo que mal sabia ele que minha vida era o próprio País das Maravilhas. Eu vivia perdida em meu mundo, acordava de manhã e logo já não sabia mais quem eu era, mudava muitas vezes desde os primeiros minutos do dia. Vivia dizendo a ele que não era como se eu gostasse de complicar as coisas, elas quem adoravam complicar comigo. Após rir, ele me disse que uma garota triste, muitas vezes, só precisa de seu sanduíche favorito para se sentir melhor. Eu acreditei, mas sabia que não podia ser real. Quando ele se foi, comi vários sanduíches e nenhum deles me fez melhor. Talvez sua teoria fosse falha. Ou talvez eu nunca tivesse descoberto meu sanduíche favorito.
Juntos, passamos a colecionar pares de meias coloridas e histórias sem fim. Ele me dizia que, quando escrevíamos juntos, ele tinha certeza de que, de fato, a vida servia para se morrer dela. Parecia estar sempre tão certo de tudo, mesmo que fosse tão confuso e incerto. Minhas palavras aliviavam sua solidão e o que ele chamava de indiferença de sua existência pois, quando eu estava junto dele, sabia que nunca havia me sentido tão viva perto de alguém como me sentia ao seu lado.
Ele havia se tornado o personagem principal em meu diário. Se não fosse por todas as páginas que eu havia escrito, muito provavelmente eu teria confundido capítulos de livros com dias da minha vida. Por alguns momentos, eu esquecia meu nome, aquele de linhagem nobre, originado das versões francesas, através das deturpações das maravilhas. Eu era muito mais do que aqueles antigos desejos quebrados e contos inacabados. Eu era uma contadora de histórias e ele era a mais importante de todas. Ele me mostrou quem eu era e quem poderia ser. E, após perdê-lo de vista, comecei de novo desde o início, até alcançar o dom da esperança para lidar com milhares de impressões digitais até que encontrasse a dele.
Sabia que, mesmo que não fosse vê-lo novamente, ele sempre estaria ali. Deixei as palavras escondidas nos buracos causados pelo mais profundo vazio e, quando estivesse sozinha por um momento, bem debaixo da mais bela lua, saberia que ele poderia ouvir meu nome sendo gritado. Tinha consciência de que, um dia, meu corpo também viraria pó de osso, e o que sobraria seria apenas meus pensamentos vagando junto aos dele. Já senti mais do que cabia em mim e, hoje, tento me conter com as memórias que me restam dele. Ele era, de fato, a luz de uma esperança que eu nunca cheguei a ter.
Eu escrevia até mesmo sobre aquilo que dizia não conhecer e acreditava que nada do que eu fizesse ou dissesse mudaria isso. Porém, depois dele, passei a escrever sobre aquilo que eu mais conhecia: a saudade. Ela me fez descobrir que eu era exatamente quem deveria ser e, mesmo que não fosse, ainda sim, seria. Se, de alguma forma, soubesse que ele havia se coberto com um lençol branco, eu amaldiçoaria os ventos até tê-lo como minha boa assombração particular.
Ele dizia que eu tinha o nome de algo para se amar e eu lhe respondia que tinha a mais completa certeza de que seu nome era o essencial para que a afantasia continuasse a anos luz de meu mundo. E, ao fim, eu não lhe deixei nada além das minhas várias memórias e os falsos registros de meus mil e um gatos imaginários.
- Lis. MyHeartOfBlue
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A história mais velha do mundo.
Acho que estou presa nessa história. Não é como se eu não tentasse sair, mas parece meio inevitável me sentir triste por saber que passei por isso, e que ainda posso passar mais várias vezes até o fim dos tempos. Afinal, todo mundo, em algum momento, sempre vai desejar gostar de alguém e ser gostado de volta. É a história mais velha do mundo. E, gostar e não ser gostado, a torna a mais velha tristeza do mundo.
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Uma breve história do tempo: Tartarugas até lá embaixo
Um cientista, certa vez, dava uma palestra sobre astronomia. Ele falava do modo como a Terra orbita o Sol e como o Sol, por sua vez, orbita o centro de uma vasta coleção de estrelas que chamamos de galáxia. Quando a palestra terminou, uma senhorinha se levantou e disse: “O que o senhor acabou de falar é bobagem. Na verdade, o mundo é um prato achatado apoiado no dorso de uma tartaruga gigante.” O cientista então perguntou em que a tal tartaruga gigante estaria apoiada e a senhorinha respondeu: “Em outra tartaruga. Uma tartaruga abaixo da outra. Há tartarugas até lá embaixo.”
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But Luna knew that whatever obstacle stood in her way, her quest could not fail. She had been greatly inspired by the words of the wonderful traveler. He would stand by her.
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This Beautiful Fantastic (2016) dir. Simon Aboud
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O quadro que mais me fascina. Obrigada, Renoir.
outubro de 2018
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A comoção súbita das histórias
Eu encontrei diversas cartas dentro das paredes. Eu dizia não conhecer quem as escreveu, mas gostaria. Ela dizia que suas palavras pareciam escondidas nos buracos causados pelo mais profundo vazio e, que quando estivesse sozinha por um momento, bem debaixo da mais bela lua, saberia que ele poderia ouvir o verdadeiro nome sendo gritado. Às vezes, me frustava por não conseguir encontrar quem havia deixado aquilo tudo dentro das paredes do meu antigo quarto. As folhas preenchidas de memórias, histórias que eu nem sabia que existiam, e a dor de não viver dentro dos livros.
Aquelas histórias existiam para provar que o perfeito era real, e eu poderia negar atéo fim dos tempos. Disse que tentaria sentir a perfeição, a lista de coisas era inacabável e todas as maneiras que eu poderia sentir se tornaram ainda mais incríveis por saber que aquilo era como um presente enviado pelas forças mais poderosas do meu mundo. Era como se ele fosse um ‘’parabéns’’ da perfeição para mim.
Por um momento, eu esqueci o seu nome. Aquele de linhagem nobre, originado das versões francesas, através das deturpações das maravilhas. Tinha o nome de algo para se amar. Era como nuvens, diversas formas em uma imensidão azul, sem nunca perder as mesmas características que faziam parte da existência.
Todos os escritos tinham a minha caligrafia, mas não me lembro de um dia te-los escrito. Pareciam histórias mágicas demais para terem sido vividas de verdade. Contavam sobre a emoção de valsar com as estrelas, causavam uma comoção súbita, e eu mal saberia nomear uma estrela.
E, no fim das contas, essa a graça de ser uma contadora de histórias, uma criadora de mundos. Eu escrevia até mesmo sobre aquilo que dizia não conhecer e nada do que eu fizesse ou dissesse mudaria isso, porque eu era exatamente quem deveria ser e, mesmo que não fosse, ainda sim, seria.
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Querido Oliver,
Espero que, quando crescer, leia este livro e encontre o que há de mais azul em seu coração. Quero acompanhar de perto todas as suas aventuras e torná-las ainda mais mágicas.
No verão, na tarde de ouro,
Deslizávamos vagarosamente.
Nossos remos são manejados
Sem perícia, no sol ardente:
Mãos gentis, que fingindo vão
Guiar nosso passeio errante.
Ah, cruel trio, que em tal hora
Sob o céu de esplendor e sonho,
Implora um conto sem vigor
E de pobre alento, enfadonho.
Mas que pode tão fraca voz
Contra o coro infantil, risonho?
Prima decreta, imperiosa:
''Agora, por que não começa?...
Em tom brando, Secunda roga:
''Que seja sem e nem cabeça!''
E Tertia, uma vez por minuto
Fala somente, não apressa.
Logo mais se calam, de súbito,
E vão seguindo em fantasia
A viagem-sonho da heroína
No país de assombro e magia
Em alegre charla com os bichos.
E crêem um pouco na utopia.
Quando a estória já se esgota
- Seco o poço da imaginação -
Tenta habilmente o contador
Desviar-se do assunto, em vão:
''Conto depois...'' ''Já é depois!''
Elas protestam em confusão.
E assim cresceu este País
Das Maravilhas. Uma a uma
Surgiram as suas aventuras.
Está pronta, sem falha alguma
A estória. Voltamos lépidos
Antes que o sol da tarde suma.
Alice! Recebe essa estória
E com mãos gentis deposita
Lá longe, onde os sonhos da infância
Se confundem com lembranças idas,
Tal guirlanda de flores murchas
Em distante terra colhidas.
Capítulo Zero
Para: Léo
Você era a luz de uma esperança que acho que nunca cheguei a ter. Nunca contei quantas palavras pulei para que conquistasse o silêncio até que estivesse pronta para mergulhar na magia que era viver em mim.
Uma vez, prometi que, se pudesse, adotaria mil e um gatos e daria a todos o seu nome, apenas para ter o prazer de repeti-lo mil e uma vezes por dia. E, Léo, eu falava muito sério.
Eu juro de mindinho que sempre acreditei em você, assim como sempre acreditei na Terra do Nunca e no País das Maravilhas. Nunca achei que iria me perder tanto em mim mesma, mas tão pouco me sobrou além das tantas quase memórias.
Você sempre falava sobre o quanto gostava das minhas saias de botões, do meu par de all star velho, sujo e rabiscado, dos meus antigos e largos ''suéteres de dias chuvosos'', das minhas meias azuis, mas, principalmente, gostava da minha ''imaginação aquarelável''. Eu poderia passar muitas tardes listando tudo o que eu mais gostava em você, mas você já sabe da maioria delas. De qualquer maneira, eu te disse que iria descrever meus vários motivos de gostar tanto de você, porém, quando me dei conta, já havia escrito um livro tentando explicar algo que nem eu mesma entendia.
Durante meus anos de ensino médio, eu costumava escrever cartas destinadas à rainha da Inglaterra. Nunca soube se ela leu alguma delas, mas sabia que todas haviam sido enviadas. As que eu escrevi para você, no entanto, não tive a ter certeza de que chegaram. Pedi diversas vezes que lesse minhas cartas apenas depois que eu tivesse ido embora, se eu ficasse é porque algo estava errado.
Passei a sentir sua falta até mesmo quando nem me lembrava o que era sentir saudade. As coisas mudavam de cor, forma e tamanho, e eu era sempre a mesma garota do coração azul. Exatamente como sempre fui desde que te conheci.
Ao fim, eu não lhe deixei nada além das memórias e os falsos registros de meus mil e um gatos imaginários.
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Nada seria de uma Lis, se não fossem suas flores azuis. ✨
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A perfect idyllic life in paintings by William Affleck (British, 1869-1943)
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Happy Birthday Charles Baudelaire! (April 9, 1821 – August 31, 1867) “Poe and Baudelaire” by Falk Nordmann
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A perfect idyllic life in paintings by William Affleck (British, 1869-1943)
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