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“Existe uma versão sua no futuro que está orgulhosa por você estar enfrentando tanta coisa difícil sem desistir.”

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Resiliência

A capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Meu grande sonho desde meus 12 anos sempre foi morar fora. Fui uma vez. Decidi acreditar que era o momento de voltar e conquistar coisas através do autoconhecimento que tinha recém adquirido, que um ano tinha sido o suficiente.

 E quem me conhece sabe que não foi.

 Minha alma nunca voltou. 

Nunca quis ter aqui uma casa bem mobiliada porque em mim algo me falava que não era permanente, a vontade de voltar pra lá era muito intensa, sei que fui chata de tanto que isso me queimava por dentro.

Durante os anos decidi ir e decidi não ir tantas vezes. 

Mas o sonho nunca morreu. 

As coisas foram acontecendo de uma forma que nos levou a decidir de uma vez: nós vamos! 

Corremos atrás de documentos, noites sem dormir planejando e estudando cada etapa dos processos. O Alan vai para a Itália e enquanto ele reconhece a cidadania, eu faço intercâmbio na Irlanda. Casas alugadas, passagens aéreas compradas. Reuniões de despedidas com pessoas queridas. 

Tudo já tinha gosto de última vez, a data não foi escolhida mas foi especial, dia do nosso aniversario de casamento. Tudo pronto, só faltava fazer as malas e esperar menos de 20 dias em contagem regressiva na tela do celular. Mal podia conter as batidas do meu coração.

De uma forma que ninguém podia sequer imaginar, de repente o mundo parou, assustadoramente. Corona Vírus. Começou com 100 casos, no outro dia 300, um pouco depois a Itália estava fechada. Nosso voo foi cancelado. Primeiros casos acontecendo em outros países, inclusive na Irlanda e no Brasil, até que a pandemia foi anunciada. 

Sim, estou com o coração partido. Tivemos prejuízo financeiro, dói demais ter que cancelar tudo assim, depois que eu quase podia ouvir os sons das ruas de Dublin. 

Chorei bastante por ontem. 

Ninguém precisa ser forte todos os dias. 

Mas hoje levantei diferente. A vida continua, o sonho não morreu.

E tenho infinitas possibilidades pela frente. Vamos começar de novo, idéias novas vão surgir, e vamos chegar lá outra vez.  

Mas não é só isso que dói.

As características do vírus são de menos. O que me assusta é o comportamento humano. A falta de empatia de quem não acompanhou de perto o que aconteceu com a China, e o que está acontecendo com a Itália e acontecerá com muitos outros países. 

São milhares de pessoas morrendo sem nem sequer o direito de uma despedida da família, porque esses estão cumprindo isolamento para não transmitirem a outras pessoas. São pessoas que não estão no grupo de risco então não tem o porque ficar em casa, acreditam que não vai dar nada. Outras que se dentro da sua própria casa estiver com estoque de álcool e comida está tudo bem, ninguém mais importa. 

Mas importa sim, e como importa. Cada um de nós somos responsáveis por nossas próprias atitudes, e um dia chega a conta. O triste é saber que muitos vão pagar sem nem mesmo entender o que está sendo cobrado (e claro, irão reclamar).

Ai eu penso em como as águas de Veneza estão cristalinas, é lindo ver os peixinhos e cisnes nadando livremente! Nunca houve um nível de poluição tão baixo! Pais, que antes não tinham tempo, estão brincando com seus filhos. Mães estão assando pães e bolos com as crianças. Maridos estão conversando com as esposas. Os vizinhos estão cantando juntos e se oferecendo para ajudar os mais idosos. 

Por que precisamos de um vírus que parou o mundo e levou tantas pessoas para apreciar pequenas coisas? 

Esse é um momento de reflexão. 

De olhar pra dentro de si e trazer o melhor para fora, de ser e transmitir luz. Seja positivo. 

Repasse as notícias boas também. 

Faça uma oração ao invés de compartilhar uma matéria sensacionalista ou fake news.

Estamos todos no mesmo barco, depois que tudo passar vamos reconstruir tudo juntos. 

E com a graça de Deus, com olhos diferentes, de amor, de empatia e gratidão. 

Texto escrito em 19 de março de 2020.