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Museu Júlio de Castilhos
A última postagem do blog “Proletariado” dentro da disciplina de “História dos Museus e dos Processos Museológicos” será sobre o primeiro museu de Porto Alegre: o Museu Júlio de Castilhos. Localizado próximo à Praça da Matriz, numa das ruas mais importante da cidade, a Rua Duque de Caxias, a antiga casa da família de Júlio de Castilhos – importante político na história do Rio Grande do Sul e do Brasil - se tornou um museu no ano de 1903, servindo de referência cultural à cidade e ao estado. O acervo já composto por mais de onze mil peças tem a disposição diferentes espaços que contam a história da Revolução Farroupilha, as questões missioneiras, indígenas e escravagistas, e a vida de Júlio de Castilhos por meio de pinturas, gravuras, fotografias, roupas, acessórios, armas, objetos, documentos, máquinas, utensílios domésticos, dentre outras. O acervo é tombado como patrimônio nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Foto: Fachada do Museu Júlio de Castilhos
Foto: Quarto de Júlio de Castilhos
Destaque para a Sala Revolução Farroupilha que narra, sob diferentes perspectivas, o maior conflito ocorrido na história do Rio Grande do Sul, retratando a revolta contra o governo imperial nos anos de 1835 a 1845. A proposta é instigar aos visitantes refletirem, diante dos ideais insurgentes, sobre o histórico e o caráter separatista ou nacionalista da revolução. Como bem descreve Flávio Aguiar – professor de literatura brasileira da USP e autor do livro Anita, prêmio Jabuti 2000 -, o início desse conflito deu-se “[...] quando tropas rebeldes, comandadas por Bento Gonçalves, tomaram Porto Alegre e depuseram o presidente da província”. Após dez anos de batalhas, a força dos revoltosos esgotou-se e, seguindo a tradição tão brasileira da conciliação pelo alto, os imperialistas propuseram o Tratado de Poncho Verde para selar a paz que foi considerada honrosa pela maioria.
Foto: Sala “Revolução Farroupilha”
O museu como espaço de rememorar os fatos históricos do estado Rio-Grandense desenvolve programas de Educação Patrimonial, voltados aos alunos das escolas da cidade e do interior, como meio de auxiliar no processo pedagógico e elucidar as raízes bairristas, uma característica da população, que traz consigo as marcas de racismo e xenofobia com outras pessoas. O churrasco, o chimarrão, a música, a dança, a poesia, a bombacha, o hino e outros diversos elementos que compõem a cultura gaúcha precisam ser compreendidos com suas contradições e suas grandezas.
Referências
Site do Museu Júlio de Castilhos: http://www.museujuliodecastilhos.rs.gov.br/
Conhecendo museus – Museu Júlio de Castilhos: http://www.conhecendomuseus.com.br/museus/museu-julio-de-castilhos/
Conhecendo Museus - Episódio 37: Museu Julio de Castilhos: https://www.youtube.com/watch?v=ZFYknHvxQKw
“Uma guerra contra o esquecimento” por Flávio Aguiar: https://teoriaedebate.org.br/2006/08/20/uma-guerra-contra-o-esquecimento/
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Museu Paranaense
Quando os portugueses aqui chegaram, sua lógica de empreendimento colonial branco tomou conta da força das tribos indígenas. Uma dessas tribos, representada como Xitás, é considerada como um povo extinto atualmente. No passado, eles eram chamados de “botocudos”, por conta do adorno labial utilizado pelos homens após o ritual de iniciação, mas mal se sabe que essa denominação foi imposta de forma hostil e pejorativa pelos brancos durante o período colonial, visto que “botoque” significa tampa de vaso, de barril. O retrato criado dos povos indígenas como um aparato colonial feito para legitimar os processos genocidas é um projeto fadado a exclui-los de tudo, inclusive da sua própria humanidade, reduzindo-os a uma mera peça da grande máquina a serviço do sistema capitalista.
Dos poucos registros visuais e audiovisuais que existem das tribos indígenas, Vladimir Kozák, um artista Tcheco que morou em Curitiba, teve a oportunidade de fotografar, filmar e pintar algumas tribos do estado do Paraná: os Guarani, os Kaingang, os Xetá e os Xokleng. Hoje, parte dos seus materiais estão disponíveis na internet para pesquisa e em exposição pelo projeto “Povos indígenas” no museu, que foi apresentado em aula pelos colegas de turma, o Museu Paranaense.
Foto: Homens Guarani Kaiowá confeccionando arcos e flechas. Cromo colorido. Acampamento as margens do rio Ivinhema, Mato Grosso do Sul. Fevereiro, 1948.
Foto: Mulher Kaingang carregando o filho nas costas enquanto trança uma faixa de taquara para confecção de chapéu. Terra Indígena Ivaí, municípios de Manoel Ribas e Pitanga, Paraná.
Foto: Expedição de pesquisa coordenada pelo antropólogo José Loureiro Fernandes. A foto retrata o antropólogo, funcionários do Serviço de Proteção ao Índio e os indígenas Xetá do grupo local de Nhengo.Floresta da Serra dos Dourados, região noroeste do Paraná, fevereiro de 1956.
Iconografia: Título: Wedding of Kula a Chokleng indian girl [Casamento de Kula, jovem indígena Xokleng] | óleo sobre tela, 1967.Segundo a tradição, o pretendente de outra aldeia oferece ao pai da noiva caça, arcos, flechas e cobertores.
A longa história do museu é marcada por ser o terceiro museu criado no Brasil (1876) e, apesar da sua forte envergadura enquanto referência sobre os estudos do estado do Paraná, era pouco citado entre os intelectuais da época (século XIX), em razão de não seguir os modelos padrões e situar-se fora do eixo econômico, político e cultural. A trajetória iniciou-se como um gabinete de curiosidades e um centro de pesquisa da área de ciências naturais. Atualmente, é reconhecido por deter um grande conhecimento do território paranaense e apresentar tanto nas suas estruturas prediais, quanto nas exposições uma rica memória em nos conectar com o passado dessa região.
Foto: Fachada do Museu Paranaense
Dentre todos os conteúdos possíveis de serem explorados na página virtual do museu, a temática indígena foi a que mais me chamou a atenção. Em tempos que vivemos onde os militares estão de volta ao poder é importante lembrar o que Ailton Krenak disse, numa entrevista ao site Jacobin Brasil, que “[A] História pode se repetir como tragédia”, referindo-se à atuação genocida durante a ditadura civil-militar brasileira (1864 – 1985).
Dizem que a sabedoria do diabo é fingir que não existe, deixando o circo pegar fogo. Mas até quando isso será possível, caso exterminemos com a nossa própria existência?
Referências
Museu Paranaense: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/
Tour virtual “Povos indígenas”: https://www.tourvirtual360.com.br/kozak/
Entrevista com Ailton Krenak: https://jacobin.com.br/2020/03/a-historia-tambem-pode-se-repetir-como-tragedia/
Conhecendo Museus - Ep. 05: MUSEU PARANAENSE: https://www.youtube.com/watch?v=727FB9al7u4
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Museus da América Latina
Se não fosse o surto pandêmico ocasionado pelo Corona Vírus que precisou fechar as fronteiras entre os países, postergar as viagens marcadas e encerrar temporariamente as atividades turísticas nos museus, nesse momento, eu e a minha companheira (Janaína Brandolt dos Santos) estaríamos conhecendo melhor as terras latino-americanas. O planejamento do roteiro, típico de mochileiros (baseado em economizar onde se pode), contava com a visita à cinco países, dentre eles Peru, Bolívia, Chile, Argentina e Uruguai, e havia a intenção de visitar os museus das principais cidades, como o Museu Larco em Lima, o Museu de la Coca em La Paz, o Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago, apenas para citar alguns deles. Uma infelicidade que acabou postergando os nossos planos, mas que hoje posso aqui relatar a minha – pouca – experiência em museus dos nossos países vizinhos.
Como bem lembra a nossa colega de turma, Cintia Souto, na sua postagem do Blog (História de Museus) sobre os museus da América Latina: “Já é clichê dizer que o Brasil está de costas para a América Latina”. Apesar do fato de ter nascido no Brasil e cultivar o sentimento de pertencer as terras latino-americanas, essa frase faz bastante sentido quando analiso os destinos das minhas viagens em não ter dado a devida atenção para voltar os olhos aos nossos hermanos. Companheiros na luta pela liberdade do povo Latino-Americano, um povo explorado de forma descabida pela lógica colonizadora dos europeus e americanos, os museus apresentados na aula do dia 22 de outubro contaram uma parte dessa história: o Museu Nacional de História do México (localizado na capital Cidade do México) e o Museu Nacional de la Imigrácion (localizado, também, na capital de Buenos Aires).
Destaco que durante o período que estive estudando na Europa, visitei mais museus do que em toda a América Latina, com exceção daqueles localizados em território brasileiro. Tal constatação reflete a falta de interesse em conhecer melhor as memórias cultivadas neste continente, mas isso vem mudando, pois o acúmulo de leituras sobre a história da luta de classes, o amadurecimento e a perspectiva de enxergar os problemas sociais que aqui enfrentamos não é nada distante, pelo contrário, é muito próximo da realidade brasileira. Na canção “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” (“O povo unido jamais será vencido”), do grupo Inti-Illimani, já dizia o que vale para todo o povo trabalhador latino-americano:
[...]
De pie, luchar (De pé, lutar)
O Pueblo va a triunfar (O povo vai triunfar)
Será mejor (Será melhor)
La vida que venderá (A vida que virá)
A conquistar (A conquistar)
Nuestra felicidad (Nossa felicidade)
[...]
Enquanto a pandemia não passar, sigo com os pés firmes onde estou, mas com os planos vivos de ainda conhecer de perto a história dos nossos países vizinhos.
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A fabricação do Imortal
No dia 08 de setembro, a apresentação dos seminários ficou dividida em entre duas leituras: uma sobre o Museu Paulista e outra sobre o Museu Histórico Nacional (MHN). Ambas representam a temática de museus históricos e escritas do passado brasileiro. Como o grupo que participei se apresentou nesse dia (minha primeira apresentação à distância), pretendo comentar aqui apenas sobre a apresentação do meu grupo. Nesse caso, o livro “A fabricação do Imortal”, escrito por Regina de Abreu, retrata os processos culturais e simbólicos envolvidos na composição das elites brasileira durante o período da Primeira República.
A partir dos objetos doados ao MHN pela viúva de Miguel Calmon, a Alice Porciúncula, a pesquisadora desenvolveu suas pesquisas em desvendar que a doação deixou de ser um gesto singelo à medida que enuncia um complexo jogo de composição e afirmação das elites. Miguel Calmon, um homem com atuações públicas, e Alice da Porciúncula, a esposa do homem público, saíram da vida para entrar na história quando conquistam um espaço dentro do museu que legitima de forma grandiosa seus feitos em vida terrena.
Na época, Gustavo Barroso, então diretor do MHN, teve papel decisivo na difusão de um modelo de história baseado em crenças dos méritos de grandes personagens (como D. Pedro I, D. Pedro II, Teresa Cristina, Duque de Caxias) e foi o responsável por aceitar as doações com as cláusulas impostas por Alice. Outra figura importante na trama foi a mediação de Pedro Calmon, sobrinho de Miguel Calmon, que trabalhava no museu e era considerada uma pessoa de confiança por Alice. Entre os objetos de valor intrínseco e histórico doados, a reciprocidade constituía a regra básica de perpetuar o modus operandi característico da República Oligárquica. Ou seja, o propósito da conservação dos objetos era evocar um passado capaz de conferir legitimidade e status às ações no presente.
A composição da exposição é apresentada com joias, livros, fotografias, bustos, pratos, quadros, móveis, títulos, troféus, medalhas, etc. Em outras palavras, há a intenção em demonstrar a capacidade individual, responsável por seu sucesso pessoal, na qual o inverso seria a determinação social, a ocupação de cargos políticos por atributos familiares, por características hereditárias. Na construção da memória do homem público não se encontram fotos dos quartos, banheiros, cozinha, enfim, o cotidiano da casa.
Após a morte de Gustavo Barroso, o MHN perdeu um dos seus mais importantes guardiões da memória nacional. Após sucessivas mudanças na diretoria, quem marcou um esclarecedor rompimento com a antiga administração foi o comandante Léo Fonseca e Silva. Ao privilegiar as bases de um museu-narrativa, a memória coletiva foi sendo eclipsada. Nesse novo formato de museu, pouca atenção foi dada aos objetos e, consequentemente, aos doadores. Assim, os ambientes tornaram-se um espaço de discurso neutro e científico, mediante uma operação intelectual e laicizante.
A Sala Miguel Calmon foi desmontada durante a gestão do comandante e os objetos seguiram ao destino dos depósitos, em seguida, das reservas técnicas. O imortal foi desfabricado. Contudo, parte da coleção do “Museu do Barroso” se encontra disponível nas telas dos computadores como meio de acesso ao público. Dentre tantos personagens atuantes nessa trama, sem dúvida, Alice da Porciúncula foi a de maior destaque por empenhar seus esforços na conservação da memória e nos proporcionar um pouco da vida daqueles que nos antecederam. Uma personagem anônima imortal.
*Por final, gostaria de agradecer ao companheirismo das colegas do grupo pela dedicação ao trabalho: Ana Gabriela da Conceição Laggazio, Caroline Brum Machado, Gabriela Schneider, Janeska Widholzer e Paola Laux.
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O Museu Paraense entre o Império e a República
No nosso último encontro, a apresentação das(os) colegas Ambra Veronica, Maria Cecília e Ronaldo Milanez foi da obra escrita por Nelson Sanjad: “A coruja de minerva – O museu Paraense entre o Império e República (1866 – 1907)”. Atualmente, o museu é conhecido como Museu Emílio Goeldi, localizado em Belém, com mais de 150 anos de história. A pesquisa realizada pelo o autor da obra consistiu em refletir sobre a construção institucional do museu no contexto da transição entre os governos do Império Português e da República.
O Museu Emílio Goeldi, por estar próximo das ricas terras não desbravadas da floresta Amazônica, tornou-se foco das aplicações de recursos financeiros, uma aposta ao potencial econômico dos recursos naturais da região (principalmente, a borracha), e importante símbolo de identidade das elites brasileiras. O espaço representava um local referencial de estudo técnico para capacitar e formar novos pesquisadores e trabalhadores tanto diretamente ligados ao museu, quando indiretamente no desenvolvimento da cidade.
Dentre os principais diretores do museu, destacam-se dois para cada período: Domingos Soares Ferreira Penna (período Imperial) e Emílio Goeldi (período Republicano). Domingos era Secretário de Governo e ficou considerado como o iniciador do projeto de instituir o Museu Paraense, que, entretanto, não chegou a ser efetivado por razões políticas. Sua visão acerca do museu era conceder um papel político e pedagógico bem definido no conjunto das instituições determinadas a “reformar o povo”.
Já Emílio Goeldi era de origem suíça e um pesquisador dedicado ao campo da zoologia aplicada. Após alguns anos de experiência destacada no Museu Nacional do Rio de Janeiro com publicações de estudos, o governador do estado do Pará, Lauro Sodré, contratou-o para reformular o projeto do Museu Paraense.
O trabalho desenvolvido por Goeldi alcançou conquistas em diversos campos da ciência, em quantidade e qualidade inéditas no norte do país. A enorme produção científica e a grande diversidade de temas estudados pela equipe do museu agregaram conhecimentos únicos a agenda científica da instituição. No contexto de transição entre governos, os republicanos estavam convictos de que estavam instaurando um bem-estar social, distinto daquele proposto pelos imperialistas. Símbolo das elites locais, o museu tornou-se a extensão da educação e refinamento das massas dentro do projeto modernizante implementado pelos ideais iluministas da burguesia.
Um fato interessante ocorrido durante a atuação de Goeldi pelo museu foi a disputa intelectual contra Hermann Von Ihering, diretor do Museu Paulista na época, outro grande centro de pesquisa. Dessa forma, Goeldi precisou reafirmar sua posição como cientistas tanto para a Europa, quanto dentro do próprio país onde trabalhava. Os assuntos polêmicos da biologia foram as pautas que levaram os dois diretores a empenhar seus esforços no desenvolvimento por mais pesquisas a fim de afirmar-se como referência. Goeldi, também, atuou em conjunto aos interesses estatais que trouxeram respostas no campo da etimologia médica e da etiologia da febre amarela, ultrapassando o nível regional por abordar assuntos de interesses nacionais e internacionais. Nota-se a intensão de formar uma agenda científica a par das questões do Estado nacional, como a definição de fronteiras e saúde pública.
Portanto, a pesquisa desenvolvida acerca do atual Museu Emílio Goeldi é possível apreender a adaptação política frente aos interesses das classes para alcançar o voo da coruja de minerava em prol do avanço das ciências naturais e da qualidade de vida dos cidadãos na região norte do país.
“Um museu acabado é um museu morto”.
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Os Museus Brasileiros do século XIX
No último encontro da nossa disciplina, abordamos o conteúdo desenvolvido no livro “O Brasil descobre a pesquisa científica”, escrito por Maria Margaret Lopes, e apresentado pelas colegas de turma: Carolina Moura, Cíntia Vieira e Indira Schaden. O objetivo da obra, segundo a autora, era escrever uma narrativa que evidenciasse os museus do século XIX como principais espaços de institucionalização das ciências naturais e rever sua historiografia.
Para fins didáticos, a autora classificou a pesquisa científica no Brasil em dois momentos. O primeiro é marcado do final do século XVIII até o ano de 1860, na qual os museus eram organizados por regiões metropolitanas, seguindo uma tradição europeia das províncias. Nesse sistema, as instituições responsáveis pelas coleções recebidas de outras cidades brasileiras ou até mesmo do exterior (por exemplo, Portugal) não desenvolviam um trabalho de seleção e resolviam expor tudo aquilo que tinham disponíveis. O trabalho técnico esforçado dos cientistas e diretores em montar as exposições refletiam uma imagem similar as encontradas nas civilizações consideras pelo senso comum como “avançadas”: os europeus. Apesar do desinteresse das classes dominantes em contribuir na construção da ciência, em 1850, as condições econômicas do país favoreceram as melhoras na vida dos trabalhadores com o aumento de salários, contratação de novos funcionários e reformas prediais. Não por acaso, as decisões assumidas por determinadas diretorias comprometidas em melhorar a estrutura dos projetos, visando o aproveitamento comercial e industrial, e explorando novos conhecimentos em outros municípios, consolidou o Museu Nacional como órgão consultivo do Estado para assuntos de Mineração e Agricultura. Principalmente, o desenvolvimento das pesquisas científicas abriu campo para o aprofundamento dos estudos nas áreas da Paleontologia, Anatomia Comparada, Antropologia e Etnologia, além da oficialização de uma biblioteca e a inserção num mundo científico reconhecido internacionalmente. Ao final desse período, nota-se que a alternação na posse do cargo de diretor nos museus influenciava na continuação dos projetos progressistas ou regressava aos valores conservadores das elites.
Já no segundo momento, datado de 1860 até o início do século XX, a modernização conservadora se instala nas administrações e no desenvolvimento científico sob a luz das ideias evolucionistas, positivistas e naturalistas. Um dos principais diretores do Museu Nacional foi Ladislau Neto que marcou a inserção no âmbito internacional das especificidades brasileiras. As exposições adquiriram um caráter pedagógico voltados ao público escolar e a atuação da antropologia assume uma crescente importância. Entretanto, os espaços reservados a continuidade das pesquisas científicas, antes localizadas nos museus, agora são redistribuídos aos cursos de formação de ensino superior dentro das universidades. Importante destacar outros dois museus que tiveram forte atuação nesse mesmo período que foram o Museu Emílio Goeldi e o Museu Paulista com suas exposições zoológicas e botânicas provenientes do Brasil e da América Latina.
Como conclusão, é possível demonstrar a atuação científica no Brasil no campo das ciências naturais por meio dos registros encontrados nos museus da época anteriormente citados. A quantidade e a qualidade das exposições apontam para um caráter enciclopédico e universal até o final dos anos de 1850, e o restante do século XIX apresentava uma ruptura com o modelo metropolitano em busca da modernização conservadora através do aprofundamento nas especialidades.
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Museus Pedagógicos Nacionais e Museus Escolares no Século XIX
A educação nas escolas brasileiras do século XIX foi construída com o suporte pedagógico dos seus próprios museus como meio de aproximar a relação entre alunos e professores/as à realidade material, que antes eram apenas estudas em livros.
O contexto histórico daquela época foi marcado por esforços políticos concentrados em consolidar a imagem dos Estados nacionais. Uma construção de identidade baseada em compartilhar conhecimentos comuns aos novos cidadãos republicanos e uniformizar a imaginação da nação. As estratégias eram aplicadas nos ensinamentos das escolas públicas nas disciplinas através da linguagem, símbolos, imagens, museus com seus patrimônios, etc.
Com a imposição do ensino científico na grade curricular escolar, novas formulações pedagógicas, materiais e métodos de ensino são utilizadas pelos professores/as. Essa nova forma de ensinar se baseou na concepção filosófica do empirismo, na qual a educação era feita através dos sentidos, expondo imagens e coisas (método intuitivo). Assim, os museus escolares eram coleções confeccionadas pela própria instituição ou fabricadas para mediarem as aulas com a realidade concreta. Um espaço tempo capaz de levar a imaginação a fonte do saber além do mundo dos livros, como a apresentação dos processos de manufatura na produção de vinhos. No caso dos produtos fabricados, os governos nacionais importavam da Europa grandes quantidades de materiais expositivos para serem repassados as escolas.
A acumulação de tantos materiais de origem animal, vegetal, mineral e industrial compunha um espaço reservado ao acervo da escola que eram expostos em armários de madeira com portas de vidro e, normalmente, localizados dentro das salas de aula ou nos corredores, possibilitando o fácil acesso e visualização dos interessados.
Como referência desses museus, a pesquisadora Pollyane Santana nos apresentou um pouco de sua pesquisa, que diz respeito ao conteúdo estudado, sobre a coleção rica e diversificada em significados do Museu de História Natural Louis Jacques Brunet (Ginásio Pernambuco). Um fato curioso é a arquitetura que homenageia D. Pedro II (prédio construído em formato do número II romano) e a implementação do turno integral composto por diversas disciplinas que iam além do básico. Outra pesquisadora dos museus do século XIX é a Alana Cioato que vêm estudando as coleções inicialmente organizadas por Pio Buck e Pe. Balduíno Rambo do Museu Anchieta de Ciências Naturais em Porto Alegre. O museu já tem mais de 100 anos e é composta por exposições etnográficas com artefatos jesuítas, materiais didáticos das áreas da física, biologia, artes, geografia, etc.
Um movimento anterior que influenciou a formação dos museus escolares no Brasil foram as exposições universais consolidadas em grandes festas didáticas, um encontro marcado entre países e empresas (ex: Deyrolle) para difundirem sobre os mais novos conhecimentos e metodologias. Em 1851, ocorreu a primeira exposição internacional que desencadeou na construção dos museus pedagógicos nacionais em diversos países. O objetivo desses museus eram ser um espaço para reunir informações e materiais à serviço da ciência. Além disso, os encontros internacionais propiciavam o debate sobre bibliotecas pedagógicas, desenvolvimento de lojas de material escolar, aperfeiçoamento das coleções, construções de arquivos de documentos históricos, formação de centro de estudos estatísticos, fornecimento de serviços para realização de conferências e auxílio aos professores.
Portanto, para a história da educação, o exercício da conservação tornou-se patrimônio e memória desse processo, onde um museu ativo deve estar à serviço do público e do desenvolvimento cultural.
Deyrolle
Museu Louis Jacques
Museu Anchieta
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Alexandria
Um filme que merece ser assistido é Alexandria. Nele é apresentado a importância da tolerância e respeito às crenças de cada um na busca incansável da verdade orientada pelo exercício do pensamento filosófico como meio de progredir na melhora das relações entre os sujeitos.
Sinopse (original): Sob o domínio romano, a cidade de Alexandria, em 391 d.C., é palco de uma das mais violentas rebeliões religiosas de toda história antiga. Judeus e Cristãos disputam a soberania política, econômica e religiosa da cidade. Entre o conflito, a bela e brilhante astrônoma Hypatia (Rachel Weisz) lidera um grupo de discípulos que luta para preservar a biblioteca de Alexandria. Dois deles disputam o seu amor: o prefeito Orestes (Oscar Isaac) e o jovem escravo Davus (Max Minghella). Entretanto, Hypatia terá que arriscar sua vida em uma batalha histórica que mudará o destino da humanidade.
Link do filme: https://www.youtube.com/watch?v=ZIWRFY3X_RU&t=1s
OBS: Não consegui encontrar a opção legendada, mas sempre é bom valorizar o trabalho dos nossos dubladores brasileiros.
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Os museus brasileiros do século XIX e o pensamento científico
A aula sobre “Os museus brasileiros do século XIX e o pensamento científico” aconteceu de forma diferente, em razão do sistema de informática da UFRGS ter caído no final da manhã do dia 10 de setembro e retornado apenas no dia seguinte. Sem perder tempo, a professora Zita resolveu gravar uma conversa pela plataforma do Mconf com o seu (eterno) aluno Felipe Contri Paz, graduado em História, com doutorado em andamento em Educação e professor de história da rede escolar estadual.
Felipe relatou sua trajetória acadêmica envolvida no assunto que lhe chamou a atenção desde a graduação e tornou-se tema principal dos seus trabalhos de conclusão, o interesse pelas representações raciais. Ele ressaltou a importância da pesquisa ao longo da trajetória acadêmica que exige exercitar a mente para alcançar novas perspectivas de reflexão acerca de qualquer assunto. Entretanto, apesar de termos o conhecimento ao nosso alcance, nem sempre podemos nos dar ao luxo de abordar todos os pontos dentro de um mesmo trabalho, pois o tempo das entregas urgem. Porém, nada impede que as reflexões deixadas de lado sejam desenvolvidas numa próxima oportunidade ou aproveitadas como fatores transformadores da consciência – uma mensagem de motivação aos bixos da museologia para seguir no campo das pesquisas.
Já sobre o seu domínio no assunto, ele comenta que o desenvolvimento das teorias raciais na Europa começou no período da Modernidade, na qual iniciam, por exemplo, as grandes navegações e as reformas religiosas. A partir desse encontro entre povos distintos de continentes tão distantes, o homem branco resolveu estudar o desconhecido estabelecendo raças inferiores à sua no grau de evolução humana ou, até mesmo, espécies diferentes do ser humano, algo inconcebível nos dias atuais. O conceito de fisiognomonia surge como um parâmetro delimitador das características humanas para debater sobre questões das raças. No momento em que os pesquisadores se dão conta das similaridades encontradas entre os indivíduos, é elaborado um “formulário” para considerar o que era e o que não era um ser humano.
A linha de pensamento dos pesquisadores era dividida entre monogenistas e poligenistas. Os monogenistas acreditavam numa única origem com suas diferentes espécies, conceito que denota o cunho religioso passível de ser refutado facilmente nos dias de hoje. Por outro lado, os poligenistas afirmavam existirem diversas origens do ser humano, como os mongóis, caucasianos, negroide. Ou seja, a discussão entre os pesquisadores abordava a classificação do humano dentro de uma hierarquia entre os considerados superiores ou inferiores. Os zoológicos humanos eram os centros de encontro dos antropólogos para realizar estudos e dos burgueses curiosos para entretenimento, um cenário orquestrado pelo roubo de uma vida baseado na discriminação. As revistas científicas e encontros dos antropólogos desenvolviam teorias sem critérios rigorosos de avaliação, dando margem para cada pesquisador conquistar seu espaço em cima de um preconceito, que se limitava aos critérios da beleza ou tamanho do crânio, por exemplo. Outros pesquisadores pensaram na questão de territorialidade, outros, atrelados as teorias de Darwin, construíram a ideia da eugenia (a busca pela perfeição do ser humano), outros pelo critério da criminalidade (seres que nasceram predestinados a serem ladrões) etc.
Os europeus nas suas expedições aos outros continentes, quando se deparavam com os indivíduos das terras americanas, africanas ou asiáticas, na intenção de descobrirem novos povos e conhecerem o desconhecido, terminavam por classificá-las abaixo da sua “categoria”. Hoje, os museus trabalham na releitura das peças guardadas para refletir sobre o passado e trazer novas ações ao presente no combate ao preconceito, discriminação e intolerância étnico-racial. Renegar esse patrimônio material é apagar uma história que molda a construção dos museus e do pensamento humano, enquanto o ser inserido na civilização e em contato com diferentes culturas.
Os museus eram alimentados pelas expedições e apresentavam um catálogo do humano com suas diferentes representações, através de materiais ou dos próprios indivíduos espoliados. Ressalta-se a corrida pelo destaque do melhor museu que vinha ocorrendo na época e a expansão da atuação museológica em outros espaços, como nas escolas. Portanto, as exposições raciais dos museus eram levadas para o sistema de educação das crianças e jovens, que desde o final do século XIX vinham debatendo sobre essas teorias acerca da classificação do humano pelos livros, mas dessa vez contavam com outros meios (como os bustos raciais) para levar aos debates de sala de aula. Os objetos raciais estão circulando e sustentando uma lógica alimentada pelo preconceito nos espaços museais, escolares, políticos e entre outros, que hoje são reinterpretados sob uma visão investigativa das origens e seus reflexos subjetivos.
Como apoio didático para compreender a revoltante e triste história do racismo nos museus do século XIX, o filme “A vênus negra” apresenta uma parte do que Sarah Baartman enfrentou ao sair da sua terra de origem, Cidade do Cabo, à cidade industrializada da Europa, Londres, com a promessa dos ingleses de apresentar-se em espetáculos por uma remuneração. Realmente, um filme perturbador do início ao fim, mas importante para refletir sobre a atuação política e científica presente nas ideias dos indivíduos europeus. Seus restos mortais estavam sob posse do governo Francês até o ano de 2002 e retornaram a sua cidade natal após 192 anos desde sua partida, graças ao pedido de repatriação por Nelson Mandela. Um sentimento de nojo com uma ideologia que tem nome e forma. Você consegue identificar isso a sua volta mesmo em pleno século XXI? Esteja atento, não tolere e repudie atos preconceituosos e apoie os movimentos que lutam por maior autonomia racial.
Sarah Baartman: a chocante história da africana que virou atração de circo: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160110_mulher_circo_africa_lab
Foto: Enterro de Sara após a repatriação
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Participação da professora e antropóloga Lilia Schwarcz no Roda Viva, comentando sobre o golpe entranhado às instituições pelo governo atual.
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Os museus na Revolução Francesa
Os museus contemporâneos são criações oriundas do estágio específico da prática colecionista, característica importante dos valores Iluministas. Entretanto, tais fundamentos são enraizados em tradições antigas dos povos do Egito, Grécia e Itália, como, por exemplo, em Roma, a prática do colecionismo era apoiada pelo aparato estatal que utilizava como meio de propaganda e informação. Além das questões relacionadas aos objetos roubados ou tomados dos inimigos ao serem expostos para o público, a intenção era obter prestígio militar relacionado diretamente as coleções. Ainda em Roma, as igrejas produziram o toque da “utilidade pública” às obras de arte, durante a Idade Média, formando grandes tesouros preservados no mesmo local.
Durante o século XVI, o resgate dos ideais humanistas deu surgimento aos inúmeros gabinetes de curiosidade, que geralmente eram dedicados aos estudos da História Natural. A organização científica das coleções nesse período inova a concepção da “cultura da curiosidade” por uma atitude mais especializada. Da mesma forma, tal movimento ocorre com as coleções artísticas ao serem classificadas por períodos históricos.
A trajetória do colecionismo ganha destaque no contexto “século das luzes”. Após o período do Renascimento, a ideia de museu como conhecemos hoje é impulsionada a partir da Revolução Francesa, quando a instituição passa a representar o conceito de patrimônio nacional dentro das estratégias ideológicas dos novos estados nacionais da Europa, na qual o próprio Estado exerce o papel do “colecionador”. Obras religiosas foram guardadas nos depósitos e substituídas por telas mais heroicas e históricas, uma transformação, que provém da guerra, do antigo palácio real para um sonho de colecionador. A construção dos museus franceses se baseou no confisco de bens do clero e da nobreza para operacionalizar uma relação estrita com o Estado, na qual o direito de acesso às obras de arte se tratasse de algo legítimo a todos.
O quadro “A liberdade guiando o povo”, pintado por Eugène Delacroix, em 1830, para comemorar a Revolução de Julho do mesmo ano, marcada pela queda de Carlos X, está exposta no Museu do Louvre, em Paris, onde tive a oportunidade de visitar e contemplar tal obra histórica em 2016. A sequência cronológica dos quadros oferece um estudo no campo visual da história da arte, uma caminhada que acompanha o desenvolvimento da inteligência humana. O significado por trás desse movimento marca uma nova concepção da sociedade francesa, liderada pelos ideais liberais da burguesia, e dos museus. Nesse processo, não só os países europeus seguiram esses princípios consagrados pela Revolução Francesa, como também os museus da América Latina, no caso do Museu Real no Brasil que se tornou referência por ser análogo aos da Europa com a construção centralizada pela classificação e pelo conhecimento enciclopédico.
Portanto, o museu criado no período revolucionário foi um espaço construído para conciliar a continuidade histórica através das exposições dos patrimônios à população, com o sentido de revelar os períodos áureos da civilização pós-revolução, e impactando uma nova forma de construir museus em todo mundo. Os projetos desenvolvidos educavam o povo e arbitravam os gostos e os conhecimentos da época de maneira intencional a legitimar a construção do Estado burguês.
Prise de la Bastille por Jean-Pierre Houël
La Liberté guidant le peuple de Eugène Delacroix
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“Em outras palavras, o signo das lutas de classe modernas atravessa a teoria e a prática do teatro épico de ponta a ponta, entre outras razões, devido à compreensão de que os valores e significados burgueses eram sistemática e metodicamente recolocados através da produção cultural daquela classe dominante, o que equivale a dizer que o drama burguês transformado no jeito correto de se fazer todas as artes do espetáculo era, e de certos modos continua sendo, uma ferramenta inestimável no processo mais amplo de reprodução e acumulação do capital. Isso pode ser dito porque se trata de um procedimento de formatação da subjetividade necessária ao processo de sujeição social ao regime de reprodução e acumulação do capital em larga escala; afinal, o cultivo da miopia que envolve a separação entre produção cultural e economia política serve de anteparo à inconsciência em relação às categorias mais abrangentes do nosso modo de vida e pavimenta o caminho para as falsas alternativas programáticas e giros em falso organizativos manufaturados pela administração social capitalista.”
Por Lindberg Campos
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O sociólogo do trabalho Ruy Braga apresenta as origens e os sentidos do conceito fundamental de "proletariado" no interior da obra de Marx.
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“A cultura dos museus no Brasil é muito branca. Nossa proposta era trabalhar tudo em dupla, o desenho das exposições, a negociação com os artistas, o acompanhamento dos projetos... “, detalha Lafuente, que mora no Brasil desde que chegou para dirigir ―com mais quatro profissionais��� a Bienal de São Paulo de 2014.
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Panteão de Roma, Itália.
Site: https://www.pantheonroma.com/home/?gclid=CjwKCAjwqML6BRAHEiwAdquMnbdast-L88-_ZCriCgXg_acduRF08V-18Ed0jY2xWMmYCBaA-0LmEBoC58gQAvD_BwE
Foto: Desconhecido.
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Jardim e Palácio de Versalhes, França.
Site: http://www.chateauversailles.fr/
Foto: Desconhecido.
As outras fotos são minhas quando estive no Palácio em julho de 2016. Justifico tal expressão facial por não compreender tamanha extravagância nas instalações prediais, obras de arte, tapeçarias, lustres etc. É “muito” tudo em qualquer espaço desse lugar.
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Jardim e Museu de Luxemburgo em Paris, França.
Site: https://en.museeduluxembourg.fr/
Foto: Desconhecido.
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