Tumgik
lustndead · 4 years
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— saturday 25th, 5pm.
A mente estava um tanto aérea, não se focava no momento que estava tendo ali, pois não queria estar ali. Estava cansado, era sempre a mesma coisa, puxavam suas cordinhas e lá estava Calaway de novo, pronto para mais uma missão onde teria de cometer coisas horríveis em prol do poder de uma máfia suja. A fumaça de seu cigarro e do charuto caro de seu komichō, era a única coisa respirável na salinha VIP apertada da boate, e fazia sua mente vagar mais ainda por estar entorpecida em fumo. Os encontros sempre mudavam de lugar no intuito de dificultar o trabalho de algum policial enxerido que quisesse meter o nariz e iniciar uma investigação a qual ele sabia que nunca ia terminar. Foram poucas às vezes que autoridades conseguiram enfiar suas fuças a fundo em assuntos da Yamaguchi e saírem vitoriosos; e essa reunião era justamente porque um deles tinha conseguido isso. "Quero que mate Yoshiki Okita… Você sabe, o candidato a comissário", a voz arrastada por anos de fumo do velho ecoou em sua cabeça, junto da risada alta e desdenhosa. Ele achava engraçado o fato que, mais uma vez, ia tirar a vida de um nome importante para o Japão. O mais novo por sua vez, não esboçava nenhuma expressão. Não ligava se ia ter de meter uma bala em um mendigo ou no próprio presidente. Status não era nada importante para si, todos os nomes que um dia já recebeu eram só produtos de uma entrega. Exceto por um. Apertou a bituca do tabaco contra o cinzeiro com força, girando a pontinha de um lado para o outro até que a pequena brasa se apagasse e resumisse a cinzas: "Considere feito".
Anakin muitas das vezes era apenas o executor, recebia todas as informações prontas e só precisava se dirigir até o local e retirar a vida, sem ao menos perguntar o por quê de tal coisa. Uma marionete, controlada por terceiros. Dessa vez foi diferente, iria ter que coletar tudo sozinho descobrir qual ia ser o melhor momento e local para fazer seus serviços. Por conta disso, passou a semana inteira ocupado, apenas focado em seu trabalho de investigação. Era importante que soubesse de tudo antes de dar o primeiro passo, qualquer erro que cometesse seria um acerto para a polícia. Coletar informações pessoais de um capitão de polícia e candidato ao cargo de comissário não era pra ser nada fácil, mas pra sua sorte Okita estava um tanto ativo em suas redes sociais sempre tratando de ser transparente para com o público na intenção de aumentar ainda mais sua popularidade e diminuir as chances de perder para o concorrente. E todos aqueles números que fazia não eram brincadeira, realmente as pessoas estavam interessadas na vida do herói que impediu um sequestro a mando de um dos chefões da Yakuza. Soprou um riso pelo nariz enquanto descia pela agenda exposta de seu alvo. Realmente eles eram os caras maus, tinham medo do herói justamente por ele não ter medo deles. A relação máfia X autoridade começou paralela, cada um seguindo sua linha sem invadir o espaço do outro. Ao menos era assim que devia ser, até o crime organizado crescer exponencialmente e fazer coisas com o qual a polícia não poderia ignorar, porém, eles ignoravam da mesma forma. Yoshiki por sua vez era diferente, não era corrupto, não era subordinado; era justo e seguia as leis. Todo aquele passar de pano para os enormes crimes que Yakuza cometia não foram tolerados pelo homem que não pensava duas vezes antes de mexer onde não devia e desestabilizar anos de um equilíbrio que o crime organizado vinha desenvolvendo. Começou a ficar irritante, mas ainda assim a grande Yakuza se absteve de fazer algo até que a notícia de que a pulga atrás da orelha deles — Okita — estava a um passo de se tornar maior e incontível. Se sentindo ameaçados, a ideia de assassinato entrou em jogo.
No fim do domingo ele já tinha tudo que precisava saber sobre o alvo; onde estaria e qual seria o melhor momento para fazer a execução. Na sua coleta de informações ficou sabendo que o homem estaria voltando de viagem de Osaka e que iria passar um tempo na casa dos pais, num condomínio residencial de alta classe. Os pais do homem, no entanto, não estariam em casa por alguns outros motivos o que deixaria Okita sozinho por um dia inteiro na segunda da semana que vem, antes de retornar ao seu apartamento na manhã seguinte. Era o momento perfeito para Anakin fazer seu trabalho. Bastava lidar com a segurança do local, algumas câmeras — coisa que era até simples de resolver — e pronto, serviço entregue. Teoria parece simples, mas ele sabia que na prática ia ser diferente. De toda forma, ele estaria preparado para tudo. 
Menos para lidar com seu namorado. Daichi ainda era relutante em envolver Asahi naquela parte de sua vida, então toda vez que precisava resolver qualquer assunto que fosse criminoso, ele simplesmente cortava contato com o mais novo, se tornando recluso e ignorando as investidas preocupadas de seu companheiro. Era complicado. Tinha medo também que descobrissem de seu envolvimento romântico, podendo usar isso contra ele em certo ponto, pois se havia algo que Anakin sabia de verdade, é que não deve confiar em ninguém. Então, por medidas de segurança - e insegurança -, ele sumia. Ia fazer isso por um bom tempo se não fosse pela promessa de ao menos tentar avisar o que estava acontecendo e se estava bem (e também para acalmar as paranóias de Asahi), por isso resolveu mandar rápidas mensagens a ele dizendo o que estava acontecendo. Pelo menos daquela forma Uchida ao menos ia ter uma última notícia de Hamada, caso alguma coisa acontecesse.
— monday 1st, 01am.
Deslizava as mãos por cima do couro de sua maleta onde sua carabina .40 estava. Não sabia se ia ter de usá-la, mas por precaução sempre a mantinha em mãos. Além dela, contava com uma pistola M1911A1 presa a seu coldre de costela, uma granada apenas e, óbvio, uma faca para ataque. Talvez muita coisa pra um simples assassinato, mas um homem que faz o que ele faz tem de estar sempre preparado. A paisagem passava rápida pela janela do táxi, as luzes da cidade brilhando e refletindo em seu rosto o deixando calmo para enfrentar a tempestade que estava por vir. "Está um dia frio, huh?", o motorista do táxi quebrou o silêncio pacífico de sua mente o fazendo encarar — de forma nada amigável — o reflexo dos olhos do homem no retrovisor de teto. Não estava para conversa, não queria se distrair. Forçou um sorriso concordando com a cabeça torcendo para que o outro percebesse sua má vontade de trocar palavras. Pareceu funcionar já que o resto da corrida foi tomada apenas pelos barulhos do motor e da música brega que tocava na rádio. Se aproximando do condomínio, pediu para que o velho parasse alguns metros antes, não querendo que ele soubesse com exatidão onde iria. Deixou uma gorjeta gorda para que fosse a única coisa que ele pensasse pelo resto da semana, saindo então do veículo e aguardando que este se afastasse para começar a dar passos largos e pesados em direção a entrada. Havia uma guarita com sistema duplo de portas e um guarda fiscalizando quem entrava e quem saía. Realmente um lugar seguro para se viver, infelizmente não o suficiente.
Com um sorriso carismático em seu rosto, se aproximou da guarita já conseguindo que a primeira porta fosse aberta sem nem ao menos dizer ou fazer algo. Pff, pessoas estúpidas. Julgam apenas pela aparência, pensava enquanto fazia sua entrada ao local. Pelo menos agora ele tinha conseguido fácil acesso a janela da minúscula sala em que o porteiro ficava durante seu turno, encarando a pequena televisão onde as imagens das câmeras de segurança passavam. Parecia estar entre seus 30 anos e tinha uma aliança no dedo, um homem casado. Cheio de animação, apesar do horário, se debruçou no batente da janela encarando Daichi de cima abaixo. 
"Boa noite, senhor. Sou novo aqui, você é morador ou veio visitar alguém?" Tsc... Pobrezinho, na hora errada, no lugar errado… Em um rápido movimento Anakin largou sua maleta no chão, puxou sua pistola ao que simultaneamente enrolava sua outra mão na gravata engomada do funcionário forçando seu corpo a vir para frente, o deixando sem nenhuma chance de reação. Agora o bico do silenciador se apertava contra o encontro do queixo e da garganta, com força. Quando pode raciocinar tudo que havia acabado de acontecer, o pânico tomou conta do homem, mas de forma silenciosa. As pupilas tinham se arregalado e os olhos tremiam de um lado para o outro. O lado empático de Daichi lia todas as emoções do homem, enquanto o lado torturado de Anakin os ignorava completamente. Devagarinho, o pobre coitado subia as mãos em rendição, achando que ainda havia chances de salvar a própria vida. Nesse meio, uma dúvida surgiu na cabeça do rapaz que brincava com o dedo no gatilho; o medo que aquele sentia era por si só, ou era por nunca mais ver quem amava? Bem, no momento não fazia diferença, mas ia ser algo que ele iria refletir depois.
"Me perdoe", sussurrou antes de puxar o gatilho, estourando os miolos dele. Sangue jorrou pelo buraco onde a bala saiu sujando toda a sala em seus quatro cantos e pedaços de sua massa cefálica caíram sobre a mesa e os papéis que haviam nela; uma cena horrenda de se ver. Algumas gotas respingaram sobre o rosto do assassino, coisa que ele não se importou em limpar. Ao menos, a morte tinha sido indolor e rápida. Empurrou o corpo falecido para dentro, deixando que caísse ao chão, logo pulando sobre a entrada indo direto acessar os computadores que controlavam as câmeras. Era óbvio que havia gravado aquele momento e também o seu rosto, mas o sistema de segurança era sempre o mesmo: a gravação das imagens so acontecesse se tiver onde armazenar. Infelizmente, essa ia direto para a nuvem, coisa que ele já sabia, por isso veio preparado para a situação. Havia conversado com um dos hackers da gangue dias antes para que o ajudasse a resolver o assunto e então lhe foi oferecido uma chave de bypass, onde poderia acessar facilmente, sem precisar de senha, a conta da nuvem e depois a destruir com um vírus específico criado justamente por essa pessoa e para essa finalidade. Se tinha uma coisa que os membros da Yakuza eram bons, eram em ser ilegais. Sem mais delongas, encaixou o pendrive onde estava o bypass na CPU, fazendo todo o processo de destravamento da conta e deixando, em seguida, que o vírus fosse inserido, deletando todas as gravações daquele momento e obstruindo o sistema para que nenhuma outra imagem ficasse salva. As câmeras ainda ficariam ligadas, mas agora apenas filmavam as imagens em tempo real sem a possibilidade de serem analisadas depois, uma vez que se perdiam. Um sistema de segurança praticamente inútil.
Finalmente conseguiu seu acesso para as casas. Todas tão bonitas e pacíficas, ninguém nem imaginando que um dos seus guardas havia sido assassinado a sangue frio minutos antes. Caminhava entre carros de família e bicicletas infantis jogadas a calçada; o próprio caos em meio a tanta inocência. Sentia como se estivesse espalhando uma doença por onde pisasse, contaminando um lugar bom com sua presença suja. Pensava que nunca poderia ser aquelas pessoas dentro das casas, dormindo pacificamente com preocupações cotidianas. Anakin sempre ia ser o assassino misterioso caminhando na rua tarde da madrugada pronto para cumprir uma ordem que causaria muita dor.
Nem precisava se guiar pelos mapas espalhados pelo condomínio, já tinha decorado todo aquele lugar só em seus estudos. Sua memória fotográfica e senso de direção eram realmente de se invejar. Em pouco tempo já se encontrava frente a residência onde seu alvo o esperava. Respirou fundo, passos silenciosos até a porta transparente de correr que estava completamente destrancada. Ah, todos confiam tanto na segurança desse lugar… Agora estava na sala de jantar; tudo era bonito, de alta classe, parecia brilhar de tão bem arrumado e limpo. Por um segundo se imaginou vivendo ali com uma família. Com sua família. O momento fez seu peito encher de uma sensação estranha, parecida com adrenalina que o fazia esquentar. Balançou a cabeça, espantando os pensamentos. Estava se perdendo, não podia deixar isso acontecer, seu foco era apenas um: matar, matar, matar e não pensar em que tipo de panelas escolher pra sua cozinha. Esse era o momento para o Anakin e não para o Daichi, não mesmo. Não deixe seus poucos momentos de uma vida normal entorpecerem você Anakin, seu consciente protestou. Colocou sua valise sobre a mesa, destravando os botões e abrindo a tampa. Sua carabina estava lá, desmontada, provavelmente não ia precisar usar. Junto dela, uma máscara oni vermelha. A última coisa que ele queria, era que suas vítimas vissem seu rosto. Nunca se sabe de um dia iria errar e elas saíriam vivas fazendo retratos falados seu por aí ou então buscando vingança. Caminhou até a sala, escondendo a maleta debaixo do sofá. As fotos de família chamavam atenção de Daichi, mas ele ignorou a vontade de olhar, passando a retirar mais uma vez a pistola do coldre enquanto subia as escadas devagar. A sensação da arma em sua mão fazia ele lembrar do porquê estava ali. Sabia exatamente onde Okita estaria, nem precisava olhar os outros quartos. A suíte principal o aguardava, o corpo do alvo descansava nos lençóis macios. Ao menos está confortável, ele pensava. Não ia ver nada, não ia sentir nada. Rápido como uma lebre ele iria terminar aquele assunto.
Ou ao menos foi isso que ele achou.
Parado ao lado da cama, apontava a arma para a cabeça do homem que dormia ali tranquilamente, os olhos se movendo rapidamente embaixo das pálpebras. Estava sonhando. "É melhor que sejam bons sonhos, Comissário", click, engatilhou sua arma. O dedo coçava para puxar e acabar com aquilo de uma vez, só que estava hesitante, como se sentisse que algo fosse acontecer. Algo ruim. E foi quando um suspiro espantado atrás de si chamou sua atenção o tirando de seu pequeno momento de transe. Virou seu olhar limitado pelos buracos da máscara em direção ao som, vendo uma pequena mulher com a mão no peito, apertando em angústia os tecidos de sua roupa de dormir. Seu semblante carregava um olhar completamente assustado, parecia até paralisada mas de repente algo pareceu clicar dentro dela e saiu correndo para outro cômodo da casa. O barulho fez com que Okita acordasse, abrisse os olhos ainda embriagado de sono e encarasse a máscara do demônio que o jovem carregava. Não pode fazer nada, era seu fim bem ali e tudo que viu no final foi um demônio. Quanta ironia.
"Desculpe atrapalhar seu sono, comissário" Bang! Os travesseiros rapidamente se encharcam com o líquido carmesim que se espalhava gradativamente criando uma mancha enorme atrás de sua cabeça. Era uma cena que seu lado quebrado e distorcido fazia achar tão bela. Missão cumprida. Ou quase. O imprevisto de ter outra pessoa ali precisava ser resolvido. Provavelmente a moça já havia chamado a polícia ou coisa assim mas de toda forma ele tinha de saber de quem ela se tratava. Não matava nem mulheres, nem crianças só que precisava saber. Dentro de si corroía para saber. Começou a entrar em todos os cômodos daquele andar, quarto por quarto em desespero. Não era possível que havia fugido para outra casa, Anakin não escutou passos na escada. Por fim, no quarto de uma criança, ele pode ver uma mãe desesperada abraçando seu filho escondidos atrás da cama. Estava tão amedrontada que não conseguiu nem pensar em se enfiar dentro do armário para se proteger melhor. O telefone estava fora do gancho, caído no meio do carpete. Baixinho se dava para ouvir a voz da telefonista perguntando se estava tudo bem e avisando que os policiais já estavam a caminho. Se agachou calmamente, não querendo espantar ainda mais a moça, pegando o aparelho em mãos, finalizando a ligação. A mulher apertava a criança contra seu peito e encarava Anakin chorando em silêncio. Suas pupilas pareciam pedir por misericórdia. Sem entender nada, o pequeno resmungava "eu quero ver! me deixe ver!" mas ela o impedia, sussurrando para que ficasse quieto. 
Naquele momento, escutando a voz do pequeno, Anakin sentiu dor física em seu coração, como se fosse ter um infarto fulminante. Ele desejou que fosse mesmo, mas era só o peso de sua culpa o matando aos poucos. Não aguentava mais aquilo, não aguentava sair impune por todos pecados que cometia, tirando vidas boas, vidas de pessoas que iam fazer falta para outros, vidas que não estavam ali em vão. Trazia traumas, sujava o mundo, o pintava de vermelho. E então, de uma hora para outra ele sentiu que era o momento de sua redenção, Aquilo tinha de acabar, ele tinha de parar ou ser parado. Infelizmente ele sabia qual era o mais caminho mais fácil. 
"Deixe que ele veja", pediu com voz calma para a mãe. Relutante, ela afrouxou o aperto da criança. Talvez teve medo de ir contra suas ordens e acabasse morta também, queria cooperar com aquele que, para ela, tinha suas vidas em mãos para brincar. Aquilo doía, doía muito. Aos poucos o pequeno virou seu olhar para o assassino, sua reação passando de curiosidade para completamente horrorizada em segundos. É a máscara, seu subconsciente lembrou, tire ela! E assim ele o fez. As mãos calmas, nunca trêmulas, mesmo depois de ter matado a sangue frio segundos atrás, subiram para o rosto empurrando o disfarce para cima e expondo sua cara. A iluminação era pouca, sendo apenas um abajur infantil que dava visibilidade para o local mas mesmo assim, não se importou. A feição espantada do garotinho relaxou quando o rosto neutro de um jovem comum apareceu debaixo do demônio. Era quase como desacreditado que alguém que carregue uma face tão angelical seja esse tipo de pessoa. "Se um dia quiser vingança, procure por mim. Eu vou esperar você." 
O peso daquelas palavras era imenso. Ele não estava brincando e os dois ali sabiam daquilo. Seu coração batia com força, aquilo a resposta para tudo: deixar que tirem de si tudo que tirou dos outros. Decerto a criança nem tinha ideia do que aquilo significava agora, entretanto Anakin tinha plantado uma semente ali, semente esta que ia se tornar uma grande e frutífera árvore. Ele há de esperar pelo momento em que um jovem com uma máscara oni tire sua vida em nome de seu pai e ia ser magnífico. A justiça ia ser feita e os podres preso ao fundo de seu âmago há de serem limpos, deixando que morra uma morte pacífica e seja finalmente liberto da culpa que carregou a anos. Aquilo encheu tanto sua mente com cenários que acabou se perdendo nos segundos que rolavam rapidamente, só voltando ao mundo real assim que escutou as sirenes de uma viatura. Merda. Abaixou novamente a oni mask, dando as costas para os dois ali e correndo para o andar debaixo procurando pela sua outra arma.
Montou a carabina em tempo recorde, já se levantando para enfrentar os policiais que entravam pelo mesmo lugar que entrou, mas assim que se virou escutou o barulho da pólvora explodindo em um barulho estridente e uma dor maçante em seu ombro, sendo seguida por uma sensação de calor insuportável. A sua frente um policial assustado com o que havia acabado de fazer. Atirar em um suspeito sem nem ao menos avaliar a situação? Um ultraje! Mas como que ele ainda permanece de pé...? Presumiu que tinha se assustado com o armamento que segurava em mãos. A bala havia pego bem na alça do colete balístico que utilizava, entre o ombro e o peito, uma das partes mais fracas da veste. A dor que sentia indicava que a munição tinha conseguido atravessar a proteção e se alojado em seu peito. Rolou os olhos. Queria ter saído inteiro. Sem pensar duas vezes engatilhou a arma, apontando o bico para o oficial e puxando gatilho para o matar de uma vez com um tiro na cabeça. 
O companheiro de viatura estava do lado de fora, dava para ver pelas janelas. Os tiros o assustaram, fazendo com que voltasse para o carro pedindo por reforços. Tudo que ele menos queria era um confronto com a polícia. Estava claramente em desvantagem então teria de pensar em algo rápido para escapar dali antes que outros chegassem. Com medo, o oficial que sobrou se escondia atrás do veículo, só saindo algumas vezes para atirar contra Anakin. Ele era preciso, mas por sorte o assassino se escondia atrás de uma pilastra, aproveitando de seus momentos de segurança para levar os dedos até a ferida, sentindo o molhado de seu sangue na ponta dos dígitos. Não era bom, mas ia ter de ignorar naquele momento. Aproveitou do desespero do inimigo — que havia descarregado sua arma na tentativa de o acertar — para sair de seu esconderijo em passos rápidos apontando a carabina contra ele. Os olhos arregalados do homem que tentava, com as mãos tremendo, recarregar sua pistola mostrava o quanto ele não estava preparado para aquilo. Sem hesitar e irritado por ter sido ferido, alvejou o homem de cima abaixo numa brutalidade assustadora podendo ouvir gritos dos moradores ao longe. Provavelmente parecia uma cena de guerra para eles. Quando acabou, repirava pesado. Estava sangrando bastante e a adrenalina de seu corpo ia se cessando logo dando espaço para os sintomas que se tem quando gravemente ferido. A visão ficou turva e a máscara atrapalhava a respirar, precisava tirá-la porém sabia que havia curiosos bisbilhotando de suas casas. Uma ideia surgiu em sua cabeça então. Para evitar que outras pessoas, e até mesmo a mulher e filho do comissário que havia largado ali, saíssem de casa resolveu fazer um adicional no pequeno show de horrores. Caminhou até o lado do volante da viatura, soltando a trava do capô para expôr o motor. Quando aberto, retirou a granada do sobretudo puxando a argola de segurança e a soltando lá dentro, tornando a fechar a tampa. A mistura de gasolina e eletricidade junto de uma explosão realmente ia fazer um baita estrago e barulho alto o suficiente para assustar todos os ratos para suas tocas. Se afastou o suficiente, se escondendo em uma garagem, levando a palma para o furo fazendo pressão na tentativa de estancar o sangramento. Resolveu largar todo seu armamento para trás, pois sabia que a investigação ia tentar fazer a ligação de onde as armas vieram, todavia, tudo ali era feito de forma que ficasse completamente inconclusível, tendo os números forjados ou então traficados de lugares que não ligava a Yakuza a nada. Ia servir só para os atrasar. 
Quando o carro explodiu, inúmeros gritos desesperados soaram ao longe e logo depois o som de sirenes ia aumentando. Pela direção da onde o som vinha, deduziu que iriam usar a entrada principal então ele se arrastou até uma saída secreta de funcionários que havia a alguns metros dali, finalmente se vendo fora do condomínio. Os momentos finais de suas missões quando tinha que escapar eram quase sempre da mesma maneira; caminhando entre becos até poder tomar um metrô de volta para a casa. Sua aparência provavelmente estava horrível, a pele pálida e com constante perca de consciência. Sempre que alguém ia o questionar ele fingia que estava bêbado e havia se metido em uma briga. Ligou para Kazuhiro, um colega que era o médico da associação, pedindo que o buscasse na estação e o levasse para casa. Nem precisou citar que estava machucado, Kazuhiro sabia que toda vez que Anakin o chamava assim era porque precisava de ajuda médica.
Agora os dois homens estavam no banheiro da suíte do apartamento de Anakin; o assassino enfiado em água fria na sua banheira enquanto o colega retirava a bala de seu peito sem anestesia. Não tinha sido muito profundo, se fosse, ele iria sangrar até a morte pois iria pegar em uma veia importante. Deu 9 pontos, o tirando da água e levando até a cama. Apesar de ter melhorado depois de fechar o ferimento, Kazuhiro não deixou que se levantasse e ainda o deixou tomando soro e que "se sua cara continuar pálida desse jeito, vou trazer uma bolsa de sangue!", o que arrancou um pequeno riso de Calaway. Nesse meio-tempo, a notícia já corria pelos quatro cantos do Japão sobre o assassinato do comissário. A imprensa toda estava afobada com o acontecimentos já se fazendo presentes no local da morte para pegar com exclusividade os primeiros detalhes do que aconteceu ali. Anakin não queria ver o noticiário mas o médico estava animado para ver como foi o desempenho do colega em ação.
"Essa noite Yoshiki Okita, capitão do 54° batalhão da polícia de Tokyo e candidato ao cargo de comissário, foi assassinato a tiros em sua residência enquanto dormia. Além do capitão, outras 3 pessoas foram mortas sendo um segurança particular do local e dois policiais militares que atendiam ao chamado de emergência feito pela esposa de Okita. Ainda não se sabe ao certo os motivos do crime mas a polícia especula que tenha envolvimento das máfias, já que Okita era uma grande ameaça para elas. Aparentemente o suspeito fugiu da cena do crime depois de explodir uma viatura e está foragido."
Kazuhiro abriu um sorriso enorme vendo a notícia e seria até bizarro se não normal para a posição dos dois ali. "Woah, Ani! Você explodiu uma viatura?! Hahahah, a cada dia se surpreende, hein?" O moreno continuava focado na tela da TV, sabia que ia vir mais uma coisa que ia surpreender a todos ainda mais.
"... Todos que tiveram contato com o assassino foram mortos exceto pela esposa de Okita, Yoshiki Yua, que diz que o executor fez questão de mostrar o rosto para e ela e seu filho. As autoridades já a levaram a delegacia e um retrato-falado será feito e as buscas pelo criminoso começarão o mais rápido possível."
Da tela, as pupilas de Anakin foram direto para o rosto de Hiro assim que a notícia terminou. Estava perplexo, com o queixo caído. Era difícil de engolir talvez. Virou o rosto devagar, agora suas expressões perguntavam "isso é verdade?", Calaway não disse nada, apenas abaixou sua cabeça. Um silêncio ficou entre os dois por um bom tempo, até que o médico se levantou da ponta da cama onde estava sentado começando a juntar suas coisas. Antes de sair, parou na porta e sem ao menos virar para o encarar, disse: "Você tá fodido, sabe disso né?", soprou um riso em desdém, meneando a cabeça negativamente finalmente se retirando dali.
Ele sabia muito bem que aquilo não era bom só que simplesmente não se importava. Aos poucos ia cavando sua própria cova para botar sua vida dentro da máfia para descansar e, quem sabe, se permitido e se assim merecer, renascer novamente numa vida comum que ele tanto invejava de outras pessoas. Sabia que tinham muitos riscos e que poderia acabar até não sobrevivendo no final, entretanto ia finalmente ter feito algo certo ao menos uma vez desde que foi jogado naquele abismo. Ele estava pronto para enfrentar o que fosse pra quebrar aquelas correntes.
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