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sobre o tinder e etc
Sempre tem a historinha inicial, né? A de hoje é simples, eu estava trabalhando no computador e surge uma mensagem de um amigo meu com uma foto, perguntando se eu conhecia. Até aí tudo bem vago, mas, conhecendo esse meu amigo, imaginei que seria sobre algum boy, e era exatamente isso: um print do Tinder de um boy que de fato eu conheço.
Mas o que me colocou em um estado reflexivo não foi o boy ou o amigo, foi a sensação que essa pequena interação me trouxe: ansiedade, e tenho me sentido assim sempre que escuto falar sobre aplicativos de paquera e pegação. Desde que começou a pandemia, ou mesmo algum tempo antes, parei de usar esses aplicativos, e graças ao meu pouco contato com redes sociais como eu mesmo (já que trabalho com isso), tenho pouco conhecimento sobre como anda o “mercado” aqui na minha cidade. E, na verdade, isso tem sido muito bom pra mim por conta desse simples raciocínio: se não sei como são os outros caras gays onde moro, não tenho como me comparar, e se não me comparo, minha autoestima tende a subir.
Imagino que essa ansiedade venha do trauma. Não de alguma experiência específica, mas do conjunto de experiências que esse aplicativo me proporcionou enquanto rapaz fora do padrão estético (e, na verdade, padrão de vida) que se prega (posso até pensar mais sobre isso no futuro). Pausa pra fazer um pequeno flashback - eu sempre me dei muito bem na escola e relativamente bem na faculdade, com isso sempre recebi elogios pelo trabalho que fazia. Num primeiro momento, vieram a autoestima elevada, autoconfiança e às vezes até um pouco de arrogância, mas à medida que fui crescendo, isso foi sendo substituído pela insegurança e pela célebre visita do meu impostor.
Depois de muito refletir sozinho, passei a ficar em bons termos com meu eu profissional - faço o que me é proposto da melhor maneira que consigo naquele momento, se não é suficiente, que fiquem completamente à vontade para encontrar outra pessoa para fazê-lo. No aspecto estético, aprendi a ficar mais de boas por esse mesmo motivo - me apresento da melhor maneira, ou da maneira mais conveniente naquele momento - e, no final das contas, minha aparência é mais uma preocupação dos outros que minha, já que eu quase não me vejo durante o dia.
Mas qual é o ponto disso tudo: EU ME SINTO SUFICIENTE. Tenho coisas a melhorar? Um monte. Mas já tenho MUITO a oferecer da maneira que sou. E os aplicativos entram nessa história como o elemento que vem me dizer, munido de uma infinidade de provas, que eu não sou bom o suficiente, não apenas pela comparação, mas, talvez até principalmente, pela rejeição. Isso me incomodou tanto que já escrevi sobre em uma pouco utilizada conta no Medium, mas esse tópico nunca sai do fundo da minha cabeça. A nível de desabafo: poxa, como é terrível se mostrar da melhor maneira para o mundo e perceber que não é o bastante.
No final das contas, esse é uma questão interna que talvez já tenha sido resolvida, mas não completamente superada. A ansiedade que sinto ao lembrar desses aplicativos é de relembrar todas as comparações desnecessárias, pressões que coloquei em mim mesmo e rejeições que já sofri. É, ainda, de não sentir que vai haver mudanças nesses ambientes e, pior ainda, de imaginar que talvez terei que voltar a usar esses aplicativos novamente para conseguir algum tipo de relacionamento. Sinceramente, QUE PREGUIÇA.
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