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My dearest Justine,
I have not received your letters for days. How are things at the convent? Have you been so busy helping the poor and the miserable that you forgot about me? I hope this is the cause of your disappearance.
Things around here have gone well. My marriage is getting stronger every day. I am also being welcomed by the ladies of high society. Nothing like a common subject to bring us closer. They love making sarcastic comments and speculating on the baby's sex, although Adrian is sure that a boy will be born. He's more excited than I am. Finally he will have his dream fulfilled: a son to call his own. To create him on his shadow and make him a man, just like the father. Nothing else would make him so happy. His friends have already promised: as soon as the boy grows, they will introduce him to the world of men and wild pleasures. I know this because Adrian tells me laughing, as if all this was no more than a joke. I laugh, even though I know the truth.
Every morning, during our walks, people of different social classes come to us to court us. They first greet Adrian, happy for him, who will finally have an heir to take care of his business when his old age arrives; and then they congratulate me, for the great opportunity that was given to me, to grant a son to the great man with whom I married. As we thank them, their children pull my dress and caress my belly. Even Marta, our housekeeper, despite the rude tone and half words, is also happy with the coming of our baby. Everyone seems so grateful and happy.
Everyone, except the mother.
I am terrified. It is strange to carry a child in the womb, because I am no longer the same. I have felt more contractions than normal. My breasts are swollen and my feet look like two large potatoes. I have not looked in the mirror for days. When I do, I see another person in my place. Unconfigured, lost and outraged. An aberration of nature.
A new maid named Sienna, hired by Marta, has insisted on helping me even in simpler tasks such as combing my hair after bath or opening the windows in the morning for the sunlight to enter. I do not like people doing things for me; I feel invalid. You know that, Justine, but Adrian feels more comfortable knowing that his wife and son are safe and well cared for; so I let Sienna take care of everything for me. We cannot be too careful, my lady, she always says.
Marta hired, also at the request of Adrian, a new gardener, Joshua. He is responsible for cultivating and selecting the best flowers in the garden and posting them as potted arrangements, spreading them around the rooms of the house. Adrian believes that by being surrounded by the most diverse colors and smells, I will feel better and more comfortable with the pregnancy. I let him think that the flowers help me, when they actually depress me.
Flowers also make me homesick. They remind me of the past; of our past, Justine. I hope you still remember the time when we ran to the old walls of Cerville, where the creek began on the other side and ended among the stones. We harvested gardenias and sunflowers and left them at the doors of our neighbors. Then we would go home and wear Aunt Odette's favorite clothes, pretending to be high society ladies. Until she caught us, infuriated by our lack of education. Oh, Justine, how I would like to go back to that time. We were together and we were inseparable. What has time done to us? Nothing would cheer me any more than to be with you.
Marta asks me every morning if I feel ready to be a mother and I say yes, even if the answer is always a no, not at all. I still do not take pleasure in motherhood, but I know it will come in time. Marta says that any bad feelings we have during pregnancy are gone the same second that we are reflected in the eyes of our children for the first time. Maybe she is right. Still, I feel guilty that I may not love my son as I should.
I do not know if you understand me, Justine. I do not think so. You are so pure, my sister. So pure that you gave up your life to help others. You do not think about the same barbarities I think about. I admire you for it. The world is like a great sea of mud in which women like me plunge and sink to the death.
I miss you, Justine. Living without your letters is like living in the dark. There is nothing that makes me happier than knowing that you are happy. As soon as you can, send me news. Anything that lets me know you're okay. And if you can, come visit me. I'm always waiting for you.
Your beloved sister,
Camille.
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Carta Três
Querida Justine,
Há dias que não recebo suas cartas. Como vão as coisas no convento? Tem andado tão ocupada ajudando os pobres e os miseráveis, que esqueceu de minha existência? Espero que essa seja a causa de seu sumiço.
As coisas por aqui têm ido bem. Meu casamento está cada dia mais forte. Também sou mais bem vista pelas damas da alta sociedade. Nada como um assunto em comum para nos aproximar. Adoram fazer comentários sarcásticos e especular o sexo do bebê, apesar de Adrian ter a certeza de que nascerá um menino. Ele está mais animado do que eu. Finalmente terá o seu sonho realizado: um filho para chamar de seu. Criá-lo sobre sua sombra e fazê-lo um homem. Como o pai. Nada mais o faria tão feliz do que isso. Seus amigos já lhe prometeram: assim que o menino crescer, eles o apresentarão ao mundo dos homens e aos prazeres selvagens. Sei disso porque Adrian me conta rindo, como se tudo isso não passasse de brincadeiras. Rio junto, mesmo sabendo da verdade.
Todas as manhãs, durante nossas caminhadas, pessoas de diferentes classes sociais vêm até nós para nos parabenizar; primeiro à Adrian, por finalmente ter um herdeiro para cuidar de seus negócios enquanto curte sua velhice; e então a mim, pela grande oportunidade que me foi dada de conceder um filho ao grande homem com quem me casei. Enquanto agradecemos, suas crianças puxam meu vestido e acariciam minha barriga. Até mesmo Marta, nossa governanta, apesar do tom rude e das meias palavras, também está contente com a vinda do nosso bebê. Todos parecem tão gratos e felizes.
Todos, exceto a mãe.
Estou aterrorizada. É estranho carregar uma criança no ventre, porque já não sou mais a mesma. Tenho sentido mais contrações do que o normal. Meus seios estão inchados e meus pés parecem duas grandes batatas. Não me olho mais no espelho há dias. Quando o faço, vejo outra pessoa em meu lugar. Desconfigurada, perdida e ultrajada. Uma aberração da natureza.
Uma nova criada chamada Sienna, contratada por Marta, tem insistido em me ajudar até mesmo em tarefas mais simples, como pentear meu cabelo após o banho ou abrir as janelas de manhã para que a luz do sol entre. Não gosto que façam coisas por mim; sinto-me inválida. Você sabe bem disso, Justine. Mas Adrian se sente mais confortável em saber que sua esposa e seu filho estão seguros e bem cuidados; por isso permito que Sienna cuide de tudo para mim. Todo cuidado é pouco, senhora, ela sempre diz.
Marta contratou, também a pedido de Adrian, um novo jardineiro, Joshua. Ele é responsável por cultivar e selecionar as melhores flores do jardim e postá-las como arranjos em vasos, espalhando-os pelos cômodos da casa. Adrian acredita que, ao estar cercada das mais diversas cores e cheiros, me sentirei melhor e mais confortável com a gravidez. Deixo ele pensar que as flores me ajudam, quando na verdade me deprimem.
Flores trazem à mim um aroma de nostalgia. Fazem-me lembrar do passado; do nosso passado, Justine. Espero que ainda se lembre da época em corríamos até *, onde o riacho começava do outro lado e terminava entre as pedras. Colhíamos gardênias e girassóis, e as deixávamos nas portas de nossas vizinhas. Depois voltávamos para casa e vestíamos as roupas preferidas de Tia Odette, fingindo sermos damas da alta sociedade. Até que ela nos flagrava, enfurecida pela nossa falta de educação. Ah, Justine, como gostaria de voltar para aquela época. Estávamos juntas e éramos inseparáveis. O que o tempo fez conosco? Nada mais me alegraria no momento do que estar contigo.
Marta me pergunta todas as manhãs se já me sinto preparada para ser mãe e digo que sim, mesmo que a resposta seja sempre um não, nenhum pouco. Ainda não sinto prazer pela maternidade, mas sei que virá com o tempo. Marta diz que qualquer sentimento ruim que mantemos durante a gravidez se esvai no mesmo segundo em que nos vemos refletidas nos olhos de nossas crianças pela primeira vez. Talvez esteja certa. Ainda assim, sinto-me culpada em pensar que posso não amar meu filho como deveria.
Não sei se me entende, Justine. Acredito que não. Você é pura, irmã. Tão pura que largou sua vida para ajudar a dos outros. Não pensa nas mesmas barbaridades em que penso. Admiro-te por isso. O mundo é como um grande mar de lodo em que mulheres como eu mergulham e afundam até a morte.
Sinto a tua falta, Justine. Viver sem as tuas cartas é como viver no escuro. Não há nada que me deixe mais feliz do que saber que está feliz. Assim que puder, me mande notícias. Qualquer coisa que me permita saber que está bem. E se puder, venha me visitar. Estou sempre à sua espera.
Com amor, de sua irmã mais velha,
Camile.
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Trecho de Carta N•1
Querida Justine,
Há tantas novidades para lhe contar, que mandar-lhe uma carta me parece errado, tal qual injusto. Gostaria que estivesse aqui comigo, para que compartilhássemos juntas este momento tão especial. Infelizmente, ambas sabemos que isso não é possível, por ora; portanto me contento com estas dúzias de palavras desordenadas que de meus pensamentos escapam e compõem esta carta.
Estou noiva, minha irmã. Como nunca estive antes. É estranho dizer isto, depois de passar tantos anos acreditando que este momento não chegaria tão cedo ou que sequer chegaria. Mas aqui estou eu, finalmente comprometida. Acredito que tia Odette estaria aos prantos com a notícia.
[...]
Ah, como sou boba! Não consigo escrever uma carta sem ao menos falar de como me sinto. Por que é que nós, mulheres, nos tornamos tão egocêntricas e seletivas quando amamos alguém e tão zelosas e solicitas quando nos amam de volta?
Existe algo de intrigante no amor; algo que, a não ser os poetas e os amantes, que vivem em função disto, pessoas como nós só conseguem desfrutar uma única vez na vida, quando os ventos da sorte sopram ao nosso favor. Hoje, eu finalmente o vejo e o sinto. Não saberia descrevê-lo, mesmo que as palavras se organizassem da melhor maneira em meus pensamentos. Talvez você o sinta, minha irmã, um dia, quem sabe; e então saberá do que estou falando.
[...]
Pois bem, o verdadeiro motivo desta carta não é somente lhe atualizar sobre meu noivado; é mais do que isso. Peço que, ou melhor, obrigo que compareça ao casamento não tão somente como minha querida irmã, que vi crescer entre os muros tombados de ** e se tornar a grande mulher que é hoje, mas também como madrinha da noiva, cargo que só você pode ocupar.
[...]
Com amor, de sua irmã mais velha,
Camile.
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