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Aviso de despejo
Estaremos migrando para um outro site de modo a ter mais liberdade criativa. Assim que esse site estiver pronto, estaremos disponibilizando aqui no blog o novo lugar Contudo, talvez usemos esse blog para divulgação, no entanto não atualizaremos mais a lista de tradução (talvez) Até breve
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Nisemonogatari, Livro 1
016
Eu fiquei olhando a Hanekawa até ela sumir de vista. Então eu refiz o caminho e fui direto ao quarto das minhas irmãs. A Tsukihi já caiu no sono, exausta. Ela só tinha catorze anos, uma idade em que era difícil ficar acordada a noite toda. Ela provavelmente estava se forçando a não dormir. Eu já tinha perguntado tudo o que ela podia contar. Ela pode descansar por enquanto.
A Karen, por outro lado, estava dormindo, de forma irregular, desde que eu fui libertado até a hora em que eu cheguei em casa. Parece que ela não estava conseguindo dormir agora. Entre a febre alta e essa falta de sono, ela deve estar sofrendo.
Para não incomodar a Tsukihi, eu levei a Karen para o meu quarto. Eu carreguei ela nos meus braços como uma princesa, e coloquei ela na minha cama.
“Argh, Onii-chan, você tá fazendo tempestade em copo d’água. É por isso que eu não queria te contar. Elas deviam ter ficado de boca fechada. É só uma febrezinha, e daí?”
“Silêncio. Só seja uma boa paciente e faça o que eu mandar. Você tá com fome? Que tal comer uns pêssegos em calda?”
“Eu estou sem apetite.”
“Entendi… Você quer que eu solte o seu cabelo?”
“Eu quero um banho. Eu tô toda suada.”
“E o seu cabelo…”
“Faz o que quiser.”
A Karen ergueu a cabeça e virou o rabo de cavalo na minha direção. Parece que ela só estava sendo preguiçosa, mas na verdade, mesmo um movimento pequeno desses provavelmente doía.
Mais cedo, quando eu peguei ela, seu corpo parecia estar queimando.
Um calor infernal. Por causa da Abelha das Chamas.
A Karen parou de tentar parecer durona, provavelmente porque a condição dela era perceptível. Não que ela tivesse largado o resto de teimosia que sobrou.
“Um banho está fora de questão,” eu disse, deixando o elástico de cabelo perto da cama, “mas eu posso te esfregar se você quiser.”
“Sim… Por favor. Não que eu esteja animada.”
Mesmo que a sua voz seja clara, falar parecia ser cansativo para ela. Talvez o seu corpo não estivesse respondendo direito aos seus comandos.
Ou à sua teimosia.
“A Tsukihi já tinha me esfregado algum tempo atrás, mas eu já estou encharcada de novo… Se bem que algum tempo atrás já é ontem.”
“Eu acho que sim. Tudo bem, pode tirar a roupa,” eu disse, deixando a Karen no meu quarto enquanto eu desci até o banheiro. Eu molhei uma toalha e fui até a cozinha para aquecê-la no micro-ondas. Eu achei que seria melhor se a toalha estivesse meio quente.
Quando eu voltei para o quarto, a Karen ainda estava de agasalho.
“Ei, eu falei pra você tirar a roupa.”
“Foi mal…”
“Huh?”
“Eu tô cansada demais. Você pode tirar pra mim? E então me lavar e me vestir.”
“Filha da…”
Ela só não foi fofa.
Falando nisso, de onde veio aquela imagem de “irmãzinha” que aparece em mangás e animes? Eu acho que tem algo a ver com o observador. Qualquer coisa pode ser fofa se você estiver disposto a ver algo assim. Talvez também haja uma demanda pela teimosia da Karen.
Eu não sou muito fã disso. Mas eu posso ser bonzinho já que ela está doente.
Eu fiz como a Karen pediu, tirando o agasalho e a camisa que ela estava usando por baixo. Mesmo que o corpo dela não chegasse ao nível ascético do da Kanbaru (eu nunca pensei que fosse usar a palavra “ascético” junto com o nome dela), ele ainda era bem tonificado. Eu comecei a limpar ela com cuidado.
“Nggh,” a Karen gemeu. “Meu irmão me viu completamente pelada, que vergonhoso.”
“Por que você fez um haiku¹?”
“Pra esconder a minha vergonha.”
“Disse a garota que fica dançando seminua pela casa depois do banho.”
“Aquilo não é uma dança… São exercícios aeróbicos.”
“Bem, você vai poder dançar durante o encerramento do anime.”
“Se eu for dançar, não vai ser só no encerramento… Eu vou dançar pelos 30 minutos do episódio.”
“Eu acho que isso é vanguardista demais…”
A parte engraçada, é que eu não senti nada vendo a Karen pelada. Ela me afetou ainda menos do que a Shinobu.
Eu acho que quando os genes são parecidos, o cérebro só se desliga subconscientemente… Caso contrário, irmãos não conseguiriam viver sob o mesmo teto.
“Aghh,” ela gemeu de novo. Que chorona.
“Eu vou esfregar as suas costas. Se vira.”
“Não dá, é muito difícil. Me vira aí.”
“Tsk…” Depois de limpar as costas, eu tirei a calça dela e esfreguei as pernas. É óbvio que eu evitei a virilha. A Tsukihi ou a nossa mãe cuidaria disso.
“Droga,” ela resmungou. “Eu não acredito que eu estraguei tudo.”
“Hein?”
“Até eu sei que ser forte é mais importante do que estar certa, você não precisava ter me dito…” A Karen desabafou. “Mas não é como se eu pudesse estalar os dedos e ficar forte do nada.”
Eu não sei se foi por causa da toalha quente, mas eu estava começando a me sentir como um massagista terapêutico.
“O que é que eu vou fazer? Ignorar todas as injustiças até eu ver que fiquei mais forte? A justiça corre em minhas veias, e eu não posso ficar parada enquanto o mal está a solta.”
“Do meu ponto de vista, parece que você quer causar confusão.”
“É, tá bom, do seu ponto de vista, isso é só faz de conta… Mas,” ela disse, mordendo os lábios, “aquele cara não segue as regras.”
“…”
“Aquele cara” provavelmente era o Kaiki Deishuu. O homem sinistro de terno, que parecia estar de luto. “Isso não faz sentido. Como é que ele fez eu ficar doente? É estranho, né. Tipo algo de um melodrama.”
“Um melodrama?” Eu não entendi bem o que ela quis dizer. Eu continuei limpando o pé dela enquanto eu falava. “De qualquer modo, eu vou resolver isso. Pode esquecer desse assunto e relaxar. Eu cuido do resto.”
“Eu não consigo relaxar. Na verdade eu estou com muita dor.”
“Mesmo assim, você não precisa se preocupar. Você vai ficar novinha em folha em pouco tempo.”
“Como? O remédio não funcionou.”
“…”
Eu ainda contei sobre as monstruosidades para ela. Aparentemente a Hanekawa também desviou desse assunto.
Foi como eu discuti com a Hachikuji, a Sengoku e a Kanbaru. É melhor não falar sobre essas coisas se não for necessário. Sobre as monstruosidades ou sobre a Shinobu.
Ou sobre o Kaiki.
Se essa situação pode ser resolvida sem envolver a Karen e a Tsukihi, então é melhor elas não se envolverem mesmo. Elas eram responsáveis pelo que aconteceu, é claro. Mas elas não precisam arcar com as consequências. Pelo menos na minha opinião.
Elas ainda eram crianças.
Elas eram farsantes.
“Do seu ponto de vista, isso é só faz de conta,” a Karen retomou a conversa. Talvez ela não estivesse falando comigo e isso fosse coisa da febre. “Mesmo assim… o Kaiki.”
“Hm?”
“Kaiki Deishuu. A Tsukihi falou esse nome, né? Por que ele tá vendendo essas baboseiras mágicas pras crianças?”
“…”
“Por dinheiro.” Kaiki Deishuu, vigarista, especialista falso. A Karen falou com desprezo. “Ele instila malícia e ansiedade e tira vantagem dessa situação para pegar o dinheiro das pessoas em troca de nada. Dez mil, vinte mil. Foi isso que ele disse. Ele está tirando essas quantias de crianças. Eu pensei que ele ficaria com vergonha quando eu falei isso pra ele, mas sabe o que ele disse? Ele nem teve vergonha. Crianças são fáceis de enganar.”
“Fáceis de enganar…”
“Sabe aquela amiga da Tsukihi, a Sengoku? Ela ficou bem quieta sobre o assunto, mas eu tive a impressão de que você ajudou bastante. Mas ela teve sorte. Tiveram outras crianças que foram pedir ajuda pro Kaiki, sem saber que ele era a fonte dos rumores, e acabaram presas tentando roubar o dinheiro que ele pediu. Você conseguiria perdoar alguém assim? Você conseguiria olhar nos olhos de uma dessas crianças e dizer, ‘Foi mal, eu não posso te ajudar, eu não sou forte o suficiente.’?”
A Karen disse isso como se uma dessas crianças estivesse na frente dela. Como se ela tivesse que se levantar e passar num teste.
“O Kaiki disse que o dinheiro é tudo. Isso parece algo que um vilão de mangá diria. Eu nunca pensei que fosse ouvir uma coisa dessas na vida real. Sabe, dinheiro é importante, mas tem muitas coisas que também são. Tipo o amor!”
Uau! Nós concordamos nisso!
A minha irmã e eu realmente concordamos.
Eu disse. “Dinheiro não é tudo, ele só é quase tudo!”
“…”
Esquece, eu acho que nossas opiniões são diferentes.
“Onii-chan,” a Karen disse. “A Tsukihi e eu estamos fazendo aquilo que acreditamos. Nós não vamos aprender nada do jeito difícil, ou algo assim. Se a mesma coisa acontecer de novo, nós vamos fazer o que já fizemos, sem nem pensar duas vezes.”
“…”
“Eu posso até ter perdido se tratando do resultado, mas eu não perdi em espírito. Na próxima eu vou vencer. Eu não vou desistir até eu vencer. E mesmo se eu não conseguir vencer, eu não vou desistir. O resultado não importa, né?”
“Então, você perdeu a partida mas venceu nos nossos corações? Isso não parece um código de guerreiro.”
“Não é bem isso. Eu diria que passou longe.”
“Então não é mesmo.”
“Você pode perder a partida e perder nos corações dos outros, mas seu você não perder para si mesmo, você não perdeu de verdade. Pronto, esse é o meu código de guerreira.”
“Tá bom… Mas se você seguir esse lema, as pessoas ao seu redor vão sofrer. É por isso que…” Se é assim que ela se sente, eu vou usar as suas palavras contra ela. “É por isso que você nunca vai crescer.”
“Eu já cresci… Olha pra esses peitos.”
“O que eu deveria estar vendo. Eles não tem nem metade do tamanho dos da Hanekawa.”
“Hein? Os dela são tão grandes…”
Sim, eles são.
Ela parecia muito mais magra naquelas roupas.
“A Hanekawa é excelente,” eu disse. “Mas eu acho que nem precisava ter te contado isso.”
“…”
“Sinceramente, eu não gosto do fato de que vocês duas estão fazendo amizade com a Hanekawa… Mas essa é uma boa oportunidade, Vocês podem aprender muito com ela.” Eu sei que eu aprendi. Desde que eu conheci ela, eu mudei. “Se você não quiser crescer sozinha, é melhor começar a crescer também.”
“Eu nunca disse isso… Foi a Tsukihi?”
“A opinião dela também é sua. Ela é a estrategista.”
“Ugh. É verdade.”
A Karen começou a se mexer e gemer.
“Para de se mexer,” eu mandei, “é difícil de te limpar assim.”
“Já tá bom, eu me sinto muito melhor.”
“Eu já cheguei a esse ponto, você não precisa ter vergonha.”
“Tudo bem, mas a culpa não é minha se você também ficar doente.”
“Huh…”
Huh? Se eu também ficar doente? Minha mão congelou. Eu tive uma ideia.
“Espera um pouco,” eu disse, deixando a toalha quase fria de lado e indo para o corredor.
A Tsukihi estava dormindo e os meus pais ainda vão demorar um pouco para acordar. Mas só por segurança, eu fui até o banheiro do andar de baixo e tranquei a porta.
“Shinobu,” eu falei para a minha sombra.
“O que foi?”
Ela não saiu de lá. Era só a voz dela, mas tudo bem. Eu só precisava disso.
“Já é quase a hora de meu sono. Eu posso ter perdido meus poderes mas eu ainda sou uma criatura da noite. E eu ainda odeio ser incomodada.”
“Tudo bem, eu só quero fazer uma pergunta.” Era a ideia que foi colocada na minha cabeça pelas palavras da Karen. “A doença da minha irmã. Tem algum jeito de ela ser passada para mim?”
“Hrm?”
“Eu disse doença, mas aquilo é basicamente o veneno de uma monstruosidade. Ele foi depositado nela em primeiro lugar. Então será que é possível transferir essa toxina de novo, do corpo dela para o meu?”
“Tu desejas receber a doença dela? Hmm…”
A Shinobu parecia estar pensando no assunto.
Talvez ela estivesse tentando se lembrar do que o Oshino disse para ela.
“Bem, teu corpo ainda retém algumas características de vampiro. É improvável que a picada de uma criatura como a Abelha das Chamas aumente a sua temperatura…”
“Certo?”
Os vampiros estavam em outro patamar se comparado com outras monstruosidades e tinham pouca oposição, a não ser que enfrentassem algo como o gato da Hanekawa. Na verdade, até mesmo o gato só foi formidável porque sua hospedeira era excepcional.
Independentemente de qual tipo de monstruosidade a Abelha das Chamas era, ela basicamente nem se comparava ao poder de um vampiro. Uma picada de abelha não era nada para um demônio.
“Nesse sentido,” a Shinobu disse, “absorver o veneno da Abelha das Chamas é uma ideia excelente. Se eu não posso comer o veneno, por que não absorvê-lo? Tua ideia tem mérito. Mas como não sabemos de que forma o Kaiki envenenou a tua irmã, nós devemos depender de um método de nossa escolha para transferi-lo.”
“Quê? Então você sabe um jeito de fazer isso?”
“Eu creio que sim. Mas francamente… eu não o recomendo. Bem, não é porque eu não faria isso… Eu simplesmente prefiro não pensar sobre isso.”
“Então é um método arriscado. Entendi.”
“Não, não é arriscado… Ele é mais como uma mera lenda urbana. Eu acredito que aquele moleque estivesse falando de algo completamente diferente quando ele mencionou isso.”
“Você não parece estar muito animada. Você não é assim. Eu vou fazer isso, seja lá o que for, desde que não seja algo estranho tipo sugar o sangue dela.”
“Sugar o sangue… Hmm, bem, quem sabe? Eu não sei se isso é algo que tu verias como aceitável.”
“Eu não faço ideia do que é esse método, mas eu tenho certeza de que ele é aceitável. Se nós não fizermos nada, a Abelha das Chamas pode matar ela, né? E mesmo se ela não morrer, se tiver algum jeito de aliviar o sofrimento dela, nós deveríamos tentar, não importa o que seja.”
“Certo,” a Shinobu concordou. Mas ela parecia hesitante. Eu tive que ficar importunando ela até que ela disse, “Tudo bem, faça como quiseres,” e finalmente explicou aquele método.
Eu voltei para o meu quarto.
“Onii-chan… se você quisesse ir ao banheiro ou sei lá, você ao menos podia ter me vestido primeiro,” a Karen disse assim que eu entrei no quarto.
“Karen-chan,” eu chamei ela, ignorando aquela reclamação (muito justificada).
Ainda meio agitado por causa das circunstâncias, eu acabei falando o nome dela. Mas depois eu segui com…
“Nós vamos nos beijar.”
Notas de tradução
¹ Haiku é um gênero de poesia tradicional japonesa. Os poemas apresentam 17 sílabas, e são divididos em três frases de 5, 7 e 5 sílabas.
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Nisemonogatari, Livro 1
015
Por enquanto, eu decidi levar a Hanekawa de volta para casa antes dos meus pais acordarem. Nós dependemos dela até demais e já estava bem tarde. Eu deixaria ela na sua casa de bicicleta.
É claro que andar de bicicleta juntos estava fora de questão. A Hanekawa defendia rigorosamente as leis de trânsito. Ela nunca deixaria isso acontecer a menos que houvesse uma emergência.
Não que eu tivesse motivos ocultos! Por que eu iria querer que ela me abraçasse por trás?
“Eu sinto muito pelo incômodo,” eu agradeci. “Eu vou cuidar das coisas a partir daqui.”
“Sim, é claro.”
A Hanekawa e eu estávamos conversando enquanto andávamos.
Parando para pensar, nós não falávamos assim há algum tempo. Mesmo que eu me encontre com ela frequentemente já que ela é minha professora particular.
Não podíamos conversar no meio dos meus estudos.
“Talvez seja melhor eu parar de ajudar vocês,” a Hanekawa disse. “Parece que nada de bom viria disso. Eu fiz o que pude.”
“É… provavelmente.” Doeu muito não conseguir refutar ela.
A Hanekawa era justa e forte.
Mas talvez ela fosse justa demais e forte demais.
Se ela não tomasse cuidado, e mesmo com precauções, ela acabaria tendo o risco de desenraizar o jardim inteiro.
“Araragi-kun, você está bravo?”
Nosso jeito de andar era quase o mesmo, então nós conseguíamos ficar lado a lado mesmo sem eu tentar acompanhar o ritmo dela.
“Bravo com o quê?” Eu perguntei enquanto empurrava a bicicleta.
“Qualé. Eu estou falando daquilo que aconteceu com a Karen e a Tsukihi. Afinal, fui eu que descobri quem era o culpado. E então aquilo aconteceu com a Karen. Você está bravo.”
“Se eu estivesse, então seria com aquelas duas. Eu não tenho motivo para me irritar com você… Sabe, eu não estou com raiva, mas eu tenho uma reclamação. Na próxima vez em que você decidir ajudar as Fire Sisters, por favor venha me avisar primeiro.”
“Mas se eu fizer isso, você vai ficar com raiva mesmo assim. Além disso, e daí se eu quiser ser amiga da Karen e da Tsukihi? Eu é que decido isso.”
“De fato.” Tudo bem, não adianta ficar falando disso agora. Já é tarde demais para chorar pelo leite derramado.
“Certo,” ela disse. Com um pouco de vergonha, ela pegou sua agenda do bolso da frente do uniforme. “Mesmo assim, como uma forma de me desculpar por ter mantido tudo isso em segredo, deixe-me lhe entregar este cupom.”
Com essa introdução pomposa, ela tirou perfeitamente uma página da agenda sem usar uma régua e nem dobrar o papel (como ela conseguiu?) e me entregou ele.
Eu virei a página (cupom?) mas não tinha nada escrito atrás. O que é isso? Algum tipo de metáfora? Ele representa o fato de que o futuro também é em branco?
Isso faz ela ser a Rem Saverem¹? Que final comovente! Paz e amor!
Essa provavelmente não era a explicação, então eu perguntei, “O que é isso?”
Ela parecia estar ainda mais envergonhada. “Esse cupom permite que o seu portador possa tocar os meus peitos a em qualquer hora e lugar. Aceite ele.”
“Ack! É sério?!” Minha mão tremeu depois que eu peguei esse pedaço de papel - correção, cupom luxuoso.
“Sim, é sério. Mas se você usá-lo, eu vou te odiar para sempre.”
“Então qual é o ponto disso?!”
Eu rasguei o papel e joguei ele fora.
A Hanekawa riu alegremente.
Uhh… Ela estava me zoando.
Eu tenho certeza que ela nunca teria feito uma piada dessas naquela época.
Eu retiro o que disse antes.
Ela mudou.
E talvez seja melhor assim.
“Então o que você acha de um cupom para receber a minha calcinha em qualquer hora e lugar?” ela perguntou.
“Você vai me odiar pra sempre se eu usar esse aí?”
“É claro que sim.”
“Então você pode ficar com ele também… Que tal um que me deixa ficar com a sua saia quando eu quiser?”
“Esse cupom não existe,” a Hanekawa derrubou a minha proposta.
Que pena. Eu achei que essa fosse uma boa ideia. Mesmo que uma saia não fosse tão excitante quanto uma calcinha, talvez eu não passasse a ser odiado, e eu ainda conseguiria uma peça de roupa dela. E se eu pegasse a saia, eu também conseguiria ver ela de calcinha (enquanto que se eu recebesse a roupa de baixo, eu não teria a chance de ver ela assim!).
“De qualquer forma, me deixando de lado, Araragi-kun… Talvez você não devesse ficar implicando tanto com a Karen e a Tsukihi.”
“Não se preocupe. Não é como se elas estivessem sendo egoístas. Eu entendi essa parte.”
“Você está certo. Eu não queria mencionar aquilo sobre ‘odiar as pessoas que são que nem você’, mas você e elas se parecem.”
“Eu acho que você não está falando das nossas aparências né?”
Bem, nós realmente tínhamos rostos bem parecidos. Isso era bem perceptível em fotos. E assim, o jeito mais rápido de nos diferenciar era olhando para os olhos.”
“Não, eu estou falando de dentro,” ela respondeu. “Não que eu possa falar sobre isso.”
“É verdade… Mas eu sou irmão delas. O seu caso é meio diferente.”
“Oshino-san…” ela mencionou o velho de camisa florida. “O que você acha que ele está fazendo agora?”
“Quem sabe? Mas eu tenho certeza que ele está olhando para nós, seja lá de onde ele estiver,” eu disse tratando ele como se tivesse morrido. Na verdade, o Oshino, considerando que tipo de pessoa ele era, ele preferiria morrer em vez de ficar nos vigiando. “Eu aposto que ele conseguiria resolver esse problema da Karen em pouco tempo… Pelo que a Shinobu me disse, essa Abelha das Chamas é uma monstruosidade bem fraca.”
“Shinobu? Abelha das Chamas?”
“Ah.” Eu ainda não tinha tocado no assunto. Eu expliquei para a Hanekawa sobre o progresso feito com a Shinobu, e o que ela me contou sobre a monstruosidade responsável pela febre da Karen.
“Entendi.” A Hanekawa aparentemente conseguiu entender tudo a partir da minha explicação simples. Ela continuava sendo inteligente. “A Abelha das Chamas, não parece muito complicada. Mas então você se redimiu com a Shinobu? Que bom.”
“Bem, isso não é tão ruim,” olhando para a minha sombra. Eu não vi nenhum sinal da Shinobu, mas isso não me surpreendeu. A menos que eu obrigasse ela, a Shinobu nunca apareceria na frente da Hanekawa.
“Mas e a parte do banho…”
“Por que te contei sobre isso?!”
Por que eu sempre atirava no meu pé? Eu tinha que aprender a ser mais cuidadoso perto da Hanekawa.
“Então, Araragi-kun, você vai começar a chamar a Shinobu pelo nome de verdade dela? Aquele de quando ela era uma vampira?”
“O nome de verdade…”
“Sabe. Kiss-shot Acerola-Orion Sata Andagi².”
“Não é isso!”
Mas era um pouco parecido!
Foi impressionante ver que alguém conseguiria confundir o nome da Shinobu com uma comida de Okinawa!
A Hanekawa é engraçada.
Churaragi e Sata Andagi, que bela equipe!
De qualquer forma…
“Eu acho que não,” eu respondi. “Ela perdeu aquele nome para sempre. Agora Shinobu Oshino é o nome verdadeiro dela. E eu decidi nunca mais usar aquele nome antigo. Independentemente de se nós consertarmos a nossa relação ou se nos separarmos, nada vai fazer eu mudar de ideia.”
“Hmph. Bem, o Oshino-san só foi embora porque ele decidiu que você poderia cuidar da Shinobu. Eu pensei que vocês fossem se dar bem logo depois do festival cultural.”
“Então eu acho que deixei todo mundo esperando. Eu acho que dá pra dizer que eu fui negligente.”
“Você não é negligente. Eu saberia.” A Hanekawa disse.
De fato.
Ela parecia pensar em mim mais do que qualquer outra pessoa.
Mesmo depois de perder a memória, ela me manteve em mente.
“Você sabe de tudo,” eu disse para ela, do fundo do coração.
“Eu não sei de tudo. Eu só sei o que eu sei,” ela respondeu.
Era a nossa conversa de sempre.
“Ei, Araragi-kun, você quer ouvir uma história de terror?”
“História de terror? Tipo o quê?”
“Tipo, digamos que você olha para o seu celular e percebe uma chamada perdida da Senjougahara. Ela mandou uma mensagem, ‘ligue de volta assim que receber isso.’”
“Cadê a parte assustadora? É só eu ligar de volta.”
“A mensagem é de ontem.”
“Que medo!”
Independentemente do conteúdo da mensagem, eu ficaria com medo demais para ligar de volta!
“É brincadeira,” ela disse. “Foi só conversa fiada.”
“C-conversa fiada. Você me assustou. Aquilo pareceu verdade.”
“Como é que eu saberia disso se nem você sabia? Viu só, eu não sei de tudo. De qualquer forma, a história que eu queria contar era sobre a Shinobu.”
“…”
“A parte mais difícil de uma briga vem depois de vocês se perdoarem. É bom você não se esquecer disso.”
Pode acreditar que eu não esqueci. Depois eu acenei com a cabeça para mostrar que concordei.
“Certo,” a Hanekawa disse, satisfeita com a minha resposta. Sem tocar naquele assunto, ela voltou ao que estávamos discutindo antes. “Sobre aquele assunto de antes. Mesmo se o Oshino-san ainda estivesse aqui, ele poderia ter ignorado o caso da Karen. Ele podia ser bem frio se tratando de pessoas que criaram os próprios problemas.”
“Esse é um bom ponto…”
Se o Oshino decidisse “salvar” alguém, é porque aquela pessoa era uma vítima em todos os sentidos da palavra. A única entre nós que foi tratada assim, foi a Sengoku. Na verdade, é possível que ele fosse só um pedófilo.
Mesmo assim, ele não ajudaria a Karen.
A aparência dela não é nem um pouco infantil. Ela é mais alta do que eu, mesmo que seja menor que o Oshino.
“Você tá certa,” eu disse. “No caso da Karen ele se recusaria, ou ele diria: ‘Eu não vou te salvar. Você vai ter que se salvar por conta própria, mocinha.’”
“Essa foi boa…” a Hanekawa mudou de assunto com entusiasmo.
Eu não faço ideia de quantas vezes eu ouvi isso.
“Araragi-kun, você nunca me disse que era bom de imitações.”
“Eu não diria que sou bom nisso…”
“Faz mais uma. Dessa vez da Senjougahara.”
“Não. Por que eu teria que fazer isso?”
“Vai lá.”
“Não.”
“Vai lá.”
“…”
Eu não conseguiria recusar esse terceiro pedido. Ao menos porque foi a Hanekawa que pediu. Mas eu não sei porque ela estava insistindo.
“Meu Deus, Araragi, te ensinar é uma perda de tempo. Se eu fosse colocar um preço nas minhas perdas, eu diria que ele já chegou a duzentos milhões de ienes. Você me ouviu? Alguém como você levaria duzentos milhões de anos para ganhar essa quantia.”
“Eu não sei se essa foi uma boa imitação, mas parece que a Senjougahara falou algo horrível para você…”
A Hanekawa estava horrorizada. Boa ou não, parece que a minha imitação foi realista demais.”
“Tudo bem, faz a Mayoi agora.”
“Vejamos…” Eu era o bobo da corte da Hanekawa, completamente a sua disposição. “P-Para Araragi-san! Tira a mão! Se apelar pra emoção não adianta, eu vou ter que apelar pra lei!”
“O que você andou fazendo com ela? Tirar a mão?”
“Eu e a minha boca grande!”
Quando é que eu vou parar de fazer isso? Eu realmente tenho o intelecto de um invertebrado!
A Hanekawa me encarou.
Meus olhos ficaram virando para todos os lados.
“Foi mal, eu mordi a língua,” eu disse.
“Então o que foi que você quis dizer?”
“Tira o pão…”
Agora eu parecia um esquisitão que estava forçando uma menininha a comer. Eu me imaginei correndo atrás dela, e contra os desejos da Hachikuji, enfiando comida na boca dela. Que imagem surreal.
Esse é o meu fim.
“Tudo bem… Agora imita a Kanbaru.”
“Minha Hanekawa-senpai, você é realmente espetacular. Os deuses devem ter descido do céu para te abençoar. Eu não passo de um verme nos seus pés… heh. Tendo nascido na mesma época que alguém tão grandiosa quanto você, eu juro que nunca vou me esquecer desse fato. Você será para sempre um exemplo a ser seguido.”
“…”
“Calma aí, eu me orgulhei bastante dessa.”
“A Kanbaru nunca me disse nada disso…”
“Huh?”
“Eu admito que ela é bem educada, mas uma frase bombástica como ‘os deuses devem ter descido’ não parece algo que ela diria.”
“Opa.”
A Kanbaru não agia assim com todo mundo. Eu nunca soube.
Eu pensei que ela falasse assim com pessoas mais velhas, mas então era só comigo?
Isso era muita pressão…
Por que ela achava que eu tinha tanto valor assim?
“Okay, só mais uma. Tenta me imitar.”
“Esses peitos são seus, Araragi-kun. Sinta-se livre para tocar neles quando quiser.”
“Eu nunca disse isso!” A Hanekawa gritou.
Eu levei uma bronca da Hanekawa.
Eu fiquei com vontade de pular da ponte.
“Mas você disse algo parecido…”
“Não foi parecido. E além disso, você foi um cavalheiro e rasgou o cupom. Quando você fez isso, eu até fiquei feliz.”
“Quê?!”
Então os pontos que eu marquei foram anulados?
Que coisa infeliz.
Que tragédia.
“Então se eu não tivesse exagerado,” eu disse, “você teria deixado eu tocar nos seus peitos como recompensa pelas imitações… Meu Deus.”
“Não tem nenhuma recompensa dessas.”
“Sabe, você não deveria me provocar assim. E se eu acabar cometendo algum crime porque eu tive que me reprimir? Avalie a situação, Hanekawa. Só você pode prevenir aquilo.”
“Você percebeu que pensar em me apalpar já chega bem perto de ser um crime, né?”
“Isso é loucura… Desde quando amar é crime?”
“Para de usar essa palavra.”
A Hanekawa ficou mais brava.
Eu acho que estava sendo inapropriado.
“Tá bom,” eu disse. “Em troca eu posso apertar a parte de cima do seu braço?”
“Hein? Por quê?”
“Eu ouvi dizer que essa parte do braço parece um peito.”
“Isso é bobagem…” A Hanekawa parecia estar exasperada. “Eu acho que não é tão parecido assim.”
“Ah, é mesmo?”
Então era só uma lenda urbana.
Uma mera superstição, uma esperança.
“Sim,” a Hanekawa confirmou. “Eles não são nem um pouco parecidos, pelo menos quando eu comparo os meus.”
“Você toca nos seus peitos!?”
“Não, espera! Você entendeu errado, eu estou falando de fazer isso no banho!”
“Banho… Então é quando você está pelada?!”
“Eu tenho que me lavar. O que há de tão estranho nisso?!”
“Hanekawa! No que você está pensando?! Você devia ter me avisado. Você pode depender de mim. Eu lavaria o seu corpo se você pedisse!”
“Eu realmente não consigo te entender!”
A Hanekawa parecia estar envergonhada. Que fofo.
Hm, ela pensou. “Okay, que tal isso,” ela disse.
“Que tal o quê?”
“Se você entrar na faculdade de primeira, eu deixo você tocar nos meus peitos o quanto você quiser.”
“Uh.”
Eu congelei. Ela ainda estava envergonhada.
“V-você não vai me enganar dessa vez,” eu avisei. “Você vai deixar eu tocar neles o quanto eu quiser, mas se eu fizer isso, você vai me odiar para sempre, não é mesmo?”
“Não. Na verdade, eu vou ficar feliz e fazer uma pose sexy de reação, tipo a Machiko-sensei. Eu até vou falar, ‘Maicchingu!’ que nem ela.”³
“Você, dentre todas as pessoas?!”
Ela chegaria a esse ponto?! E faria a pose também?!
Eu pagaria duzentos milhões de ienes para ver isso!
“Você tem se esforçado bastante nos estudos até agora,” ela explicou, “mas, eu temo que você vai acabar parando logo. Quando essa hora chegar, você não acha que é bom ter uma recompensa - ou melhor, um retorno aos seus esforços - para te motivar?”
“B-bem, sim…”
“Eu quero fazer o que for preciso para te ajudar a passar na sua primeira opção. Meus peitos, a parte de cima dos braços, eu vou deixar você fazer o que quiser com as partes macias do meu corpo.”
“Caramba…” Eu fiquei pasmo. Todas as partes macias? “Então eu posso fazer algo como lamber os seus olhos?”
“Eu estou começando a suspeitar que você tem uns fetiches bem estranhos…”
“E-eu tenho? Então lamber os olhos de uma menina não é uma fantasia que todo cara normal tem?”
“Isso parece mais com a fantasia de algum serial killer… Mas eu não me importo.”
“Não?!”
“Mas você tem que escolher. Você pode lamber os meus olhos ou todas as outras partes macias do meu corpo. É uma coisa ou a outra.”
“U-uma ou a outra…”
Que decisão difícil.
Espera um pouco! A resposta era óbvia!
“Eu vou lamber os seus olhos!”
“Entendido…” Ela também estava pasma. “Mas só se você passar na faculdade.”
“…”
Mas honestamente…
Ela realmente achou que as minhas chances de passar eram tão baixas que ela teve que prometer o corpo?
Vocês já ouviram algo tão triste assim?
Mesmo sendo uma piada, isso ainda era chocante.
“Você está motivado agora?” ela me perguntou.
“Eu quero me enterrar num buraco…”
“Ahahaha.”
Ela riu de mim.
Mas desde que a Hanekawa esteja se divertindo, eu não me importo.
Heh. Além disso, mesmo se eu passar na faculdade, eu nunca teria coragem o suficiente de aceitar essa recompensa.
“Então,” eu disse, “nós estávamos falando sobre peitos.”
“Nós estávamos falando do Oshino-san.”
“Foi mal, esse foi um tropeço linguístico.”
“Talvez isso vire moda. Eu vou ter que tentar alguma hora…”
A Hachikuji estava dominando o mundo.
“O Oshino-san provavelmente não ajudaria a Karen… mas e você Araragi-kun? Você vai ajudar ela? Ou não?”
“Eu vou. Mas não vai ser por ela,” eu respondi. “E também não vai ser em nome da justiça.”
“Então por que você vai fazer isso?”
“Por nada. O mundo funciona assim. Quando uma irmãzinha está com problemas, um irmão mais velho ajuda ela. É só perguntar pra qualquer pessoa, a resposta vai ser a mesma.”
Isso não era realmente verdade. As pessoas não responderiam desse jeito.
“É um alivio ouvir isso,” ela disse.
“Como assim? Você pensou que eu fosse abandonar a minha irmã?”
“Eu pensei nisso mesmo.” a Hanekawa não negou aquela possibilidade. “Você é bem estrito com elas. Além disso,” ela adicionou, “o que aconteceu dessa vez foi culpa delas.”
“…”
“Talvez seja por isso que você decidiu não fazer nada.”
É claro. A Hanekawa era excepcional, ela era boa em quase tudo, mais do que as outras pessoas. E ela tinha uma boa personalidade. Justa e honesta. Ela tomava a decisão certa em qualquer situação. E ela sempre pensava nos outros.
Porém.
Por exemplo, na vez em que eu virei um vampiro…
Ela foi bem atenciosa e me ajudou muito. Em alguns momentos ela até fez sacrifícios inacreditáveis para o meu bem.
Mas ela nunca mostrou que estava com pena de mim.
Como se aquelas férias de primavera infernais tivessem sido minha culpa.
Ela me confortou, me protegeu e me salvou. Mas ela com certeza não simpatizou comigo.
Ela atendeu a todos os meus pedidos. Mas ela nunca foi indulgente.
“Eu não sou tão firme quanto você… ou o Oshino,” eu admiti. “Eu vou fazer o que eu posso. E aquilo que eu não posso não será feito.”
“Entendi.” A Hanekawa concordou. “Bem, eu acho que essa é uma boa distância.”
A casa dela ainda não era visível. Mas eu só acompanharia ela até aqui.
Nós tínhamos nossos próprios domínios.
O sol ainda não nasceu. Os perigos de andar sozinha a noite tinham pouca relação com a distância.
“Você deveria pedalar até a sua casa,” eu sugeri. “Você pode usar a minha bicicleta.”
“Tem certeza? Porque eu vou te cobrar depois.”
Em vez de responder, eu virei o guidão na direção dela.
“Nesse caso, obrigada.” A Hanekawa segurou a saia e subiu na bicicleta. O comprimento da saia superada o da Senjougahara, então não havia nada para ser visto.
Não que eu estivesse esperando por algo desse tipo.
Só de saber que ela estava sentada no selim da minha bicicleta era satisfatório o suficiente… Espera, isso é pior!
Hrm… Talvez eu realmente tenha uns fetiches estranhos.
Mas parece que a Senjougahara não liga muito pra isso.
“Eu vou devolver ela amanhã,” a Hanekawa prometeu.
“Tudo bem.”
“E tenta decidir isso hoje. Amanhã você vai ter que começar a estudar para os vestibulares de novo. É muito bom ver você pensando nas suas responsabilidades de irmão, mas não se esqueça das suas responsabilidades de estudante.”
Com esse último conselho, ela começou a pedalar.
Ela estava de pé na bicicleta.
Notas de tradução
¹ Personagem do anime/mangá Trigun.
² Sata andagi é o nome de um tipo de bolinho frito típico de Okinawa.
³ Machiko-sensei é a protagonista do mangá Maicching Machiko-sensei, ela é uma jovem professora que normalmente é assediada pelos alunos. Em vez de ficar com raiva, Machiko responde rindo e proferindo sua frase característica, "Maicchingu!�� (algo como “Que vergonha!”).
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Nisemonogatari, Livro 1
014
Agora eu vou contar a história da Karen Araragi.
Mas primeiro, um aviso. A história a seguir é uma recriação, baseada nos depoimentos combinados da Hanekawa e da Tsukihi, e ela pode diferir dos eventos reais.
De qualquer modo, não é como se a perspectiva narrativa tivesse mudado, então por favor relaxe.
Enquanto eu ainda estava de cativeiro, a Karen Araragi, vestindo seu agasalho esportivo de sempre, visitou um certo local de karaoke perto da escola dela, a Escola Secundária Tsuganoki.
Nesse momento, ela já sabia quem era o ‘culpado’ por trás da circulação daqueles amuletos.
Na verdade, foi a Hanekawa que descobriu isso. Mesmo que grata pela ajuda, o sangue já subiu para a cabeça da Karen, e ela não estava pensando direito.
E ela também não estava pensando no conselho da Hanekawa, que foi, “Não faça nada até eu chegar lá.” Isso entrou por uma orelha e saiu pela outra.
A Hanekawa admitiu seu erro. Não prever que a Karen iria agir sozinha foi um descuido da parte dela. Já eu culpei a Karen por ter feito a Hanekawa cometer um erro desses. Trair a confiança dela assim, era simplesmente errado.
Será que a Tsukihi poderia ter parado a Karen antes de isso acontecer? Não, eu duvido.
Tudo que a Tsukihi fazia era agitar a Karen. O cérebro não tinha interesse em controlar os excessos dos músculos.
“Bem vinda, mocinha. Meu nome é Kaiki. Como em kaizuka, sambaqui, e kareki, árvore morta. Qual é o seu nome?”
“Eu sou a Karen Araragi,” minha irmã se apresentou, em um tom alto e claro, para um homem de terno preto, como se estivesse de luto, que estava sentado em uma sala particular de karaokê. “É só usar o radical de ‘colina’ junto com o kanji de ‘possível para formar o primeiro caractere de Araragi. ‘Bom’ duas vezes para formar ‘rara’ e finalmente ‘árvore’ como em wakaki, muda jovem. Já Karen, vem de ‘fogo’ e ‘compaixão’.”
“Esse é um nome excelente. Agradeça aos seus pais.” A fala pesada do homem não transmitia emoção.
A Karen estava começando a ficar nervosa.
Mas ela juntou coragem e fechou a porta. Agora os dois estavam sozinhos em uma sala apertada.
Normalmente essa seria uma situação arriscada, mas a Karen não pensou assim. Ela até achou que tinha vantagem em um lugar desses.
Ela era idiota? Essa foi uma pergunta retórica.
“Então, o que você veio fazer aqui?” O homem perguntou. “Você quer que eu te ensine uma maldição, ou que eu remova uma? A primeira opção custa dez mil ienes, e a segunda, o dobro.”
“Nenhuma das opções, eu vim aqui pra te dar uma surra,” a Karen disse.
Julgando pelas suas palavras, ela estava bem confiante. Mas na verdade ela não estava.
Ela sentiu. Ela não tinha treinado por nada, ela não era uma artista marcial por nada.
Era impossível não perceber a aura sinistra do Kaiki.
Não dá pra saber o que ele vai fazer com ela.
O corpo dela percebeu. Mas nesse ponto ela não percebeu que errou, e não se arrependeu de ter ido sozinha.
Porque ela é burra. Ou se você me perguntar, uma farsante.
Ela não conseguia reconhecer o perigo de verdade.
“Uma surra. A-ha. Em outras palavras, isso é uma emboscada. Você me mandou um email para me atrair. Entendi, muito esperta, mas eu suspeito que essa manobra não seja algo que você mesma fez. Alguém tão imprudente não conseguiria me enganar assim.”
“É…”
“Então, quem planejou isso… Não, eu suponho que você não vai me contar. Mas poucas pessoas seriam capazes de fazer isso. Só alguém inconvencional conseguiria forçar esse encontro. Me alcançar em vez de o contrário acontecer? Nenhuma aluna do fundamental conseguiria fazer isso.”
Ele tinha um ponto. A Hanekawa, que conseguiu alcançá-lo era uma aluna do ensino médio. Mas se tratando de habilidades, ela estava além de uma aluna do colegial.
Se ela estivesse lá a situação teria sido diferente.
Nem mesmo o Oshino gostaria de enfrentar ela cara a cara.
Gulp, a Karen engoliu algumas palavras junto com sua saliva.
E então…
“Você tem causado muitos problemas. Eu nem preciso explicar como, não é mesmo?” Ela acusou.
“Que tipo de problemas? Eu simplesmente estou vendendo aquilo que as crianças estão procurando. Vocês são responsáveis pelo que vão fazer.”
“Responsáveis?” Ela não era tão ingênua ao ponto de aceitar essa escolha de palavras. “Olha quem fala. Cai na real. Você está causando caos, destruindo amizades. O que você está planejando?”
“Planejando, eh? Uma pergunta profunda.” Ele acenou com a cabeça em silêncio.
A Karen não estava esperando por essa resposta. Um vigarista egoísta que ficava espalhando rumores de maldições para pegar o dinheiro de crianças entraria em pânico e ficaria de joelhos implorando por perdão ao ser confrontado. Era isso que ela estava esperando.
Esse era o conceito de maldade para ela, afinal.
O mal que poderia ser forte e resiliente era impensável.
“Infelizmente,” o Kaiki lamentou, “eu só tenho uma resposta rasa para a sua pergunta profunda. Eu estou fazendo isso por dinheiro, é claro.”
“D-dinheiro?”
“Sim. O meu objetivo é obter notas impressas pelo Banco do Japão, nada mais do que isso. O dinheiro é tudo nesse mundo. Você parece ter vindo até aqui por causa de algum senso de justiça confuso, que pena, é sério. Você facilmente poderia ter cobrado cem mil ienes do seu cliente,” o Kaiki avaliou a situação como se essa fosse a coisa natural a se fazer. “A lição a ser aprendida aqui é que trabalhar de graça nunca compensa.”
“Qu-quem foi que disse que eu tenho um cliente?” Ela tentou manter a coragem. “Eu não estou fazendo isso porque alguém me pediu.”
“Entendi. Então você deveria ter esperado até alguém pedir.”
“Mesmo assim, eu não aceitaria o dinheiro.”
“Ah, a juventude. No entanto, eu não estou com inveja,” ele disse.
Ele parecia mais sinistro a cada minuto que passava. É como se aquele espaço apertado estivesse acelerando o processo. O ar ficava mais e mais espesso.
“O que aconteceu? Você está tremendo, Araragi.”
“Eu não estou tremendo! Se parece que eu estou, então na verdade eu estou causando tremores.”
“Como é bom conhecer uma menina com capacidades cataclísmicas.” Ah, a juventude, ele adicionou. Ele olhou para a Karen. “Mesmo assim, eu sugiro que na próxima vez você pense antes de agir. A lição a ser aprendida nesse caso, Araragi, é que você precisa pensar antes de sentir. Não fazer isso corta seu charme pela metade. Pronto, eu respondi a sua pergunta. Eu me expliquei, agora é a sua vez. Qual é o seu objetivo?”
"Eu já falei. Eu vim aqui pra te dar uma surra.”
"Só isso?”
"Eu vou descer a lenha em você.”
"Então você quer ser violenta?”
"Eu vou usar minha força. E eu vou acabar com os seus planos. Você é corajoso, vendendo essas coisas duvidosas para alunos do fundamental. Você realmente se chama de adulto?”
“De fato. E eu não ligo se os meus produtos são duvidosos, afinal…” Ele disse em um tom de orgulho. "Eu sou um vigarista.”
“……”
Mesmo chocada, a Karen denunciou ele de novo.
"Aplicando golpe em crianças? Você não tem vergonha?”
"Acho que não. É mais fácil enganar crianças. Mas Araragi, chutes e socos não serão o suficiente para me parar. Seria melhor voltar com dinheiro. A minha meta para esse esquema é de três milhões. Eu levei dois meses para planejar esse projeto. Então eu quero no mínimo essa quantia para compensar pelo meu tempo. Mas se você insistir, eu não serei injusto. Me pague metade do total e eu vou embora.”
"Seu bandido…”
"Eu acho que essa é uma palavra de mau gosto.”
O Kaiki sorriu.
Qual era a graça?
Ele estava zombando dela?
A Karen disse em voz alta, “Você ainda se chama de humano?”
"Me desculpe, mas é exatamente isso que eu sou. Um humano querendo dedicar a vida a uma causa preciosa. Você enche seu coração com boas ações e eu encho a minha carteira com maldades. Nós somos tão diferentes assim?”
"O-o quê?”
“É isso mesmo, não tem diferença. Talvez o que você faz melhore a vida de algumas pessoas, mas eu estimulo a economia capitalista ao gastar o dinheiro que eu ganho, o que tem o mesmo efeito. A lição a ser aprendida aqui é a seguinte: assim como não há nenhum problema que não pode ser resolvido com justiça, não há nenhum problema que não possa ser resolvido com dinheiro.”
"Nrk.”
“As minhas ‘vítimas’ concordariam. Todas elas me pagaram. Ou seja, elas reconheceram o valor monetário do nosso acordo. E o mesmo vale para você, Araragi. Ou você não pagou por esse agasalho?”
"Deixa o meu agasalho fora dessa.”
A Karen ficou irritada.
Era meio bobo ficar ofendida por causa de uma roupa.
Mas foi aí que ela decidiu que a conversa acabou. Quando se tratava de confrontos verbais, ela estava em desvantagem. Ela conseguia contar nos dedos o número de vezes em que ela venceu alguém mais velho usando lógica.
"Pode decidir,” ela disse. “Você quer levar um soco ou um…”
"Eu não quero ser socado nem chutado. Portanto…”
Ele se moveu de forma inesperada.
Por algum motivo, mesmo com seu treinamento de artes marciais, a Karen não conseguiu reagir. Foi como se ela tivesse abaixado a guarda ou não estivesse preparada para atacar…
"Eu te apresento essa abelha,” o homem anunciou.
Ele não avançou correndo. Foi mais como se ele tivesse tentado passar pela Karen, que ainda estava bloqueando a saída.
Ele não queria lutar, mas sim fugir.
Ele foi chamado e emboscado. Pronto para negociar, mas repreendido e cercado, ele estava fugindo.
Era só isso. Em outras palavras, ele não tinha isso em mente. Mesmo assim…
Tup.
Depois de passar pela Karen, ele esticou o dedo indicador da mão esquerda e…
Picou com a ponta dele.
Um cutucão na testa.
“…? …nnk? …nnk?”
A Karen arfou três vezes.
A primeira vez foi quando o dedo bateu na testa dela.
Ele poderia ter dado um soco na cara dela. Se o Kaiki tivesse fechado a mão e batido com toda a força em vez de dar um toque leve, até mesmo a Karen, com todo seu treinamento, não teria aguentado.
A segunda vez foi em confusão. Por que ele não socou ela?
E então veio a terceira.
“……….nnk?”
Foi uma onda repentina de náusea que fez ela ficar de joelhos.
Cansaço, mal estar e acima de tudo…
O corpo dela estava queimando.
O calor. Estava queimando ela. Como se tivessem jogado seu corpo em uma fornalha.
"Gah…ah? Ah?”
A garganta dela estava ardendo tanto que ela nem conseguia falar.
Olhando para ela, o Kaiki disse, “Então o efeito foi imediato. Você deve ser bem suscetível a superstições. A lição a ser aprendida aqui, é que você deve assumir que todo mundo é um vigarista. Não confie nos outros tão facilmente. Você realmente achou que eu fosse pedir por perdão? Se esse for o caso, você é uma tola. Se você quiser que eu endireite a minha vida, é só me dar dinheiro. Agora eu quero dez mil ienes.”
A Karen conseguia ouvir ele. Ela estava consciente. Mas seu corpo não respondia. Seus braços, pernas e a cabeça, os olhos ouvidos e boca não estavam funcionando.
"O-o que você fez?”
O que foi feito com ela?
O que foi feito?
O que… foi feito?
O que foi… o que foi?
O que picou ela?
"O-o que você fez comigo?”
"Algo bem ruim. E não foi de graça. Eu quero ser pago.”
O Kaiki colocou a mão no bolso do agasalho da Karen e pegou a carteira dela enquanto ela não conseguia se mexer. Ela não podia fazer nada enquanto ele fuçava na carteira sem permissão.
Nem mesmo ver. A visão estava embaçada.
"Quatro mil ienes… isso vai servir. Considere os meus conselhos como uma cortesia. Eu vou deixar uns trocados para você poder voltar para casa… Oh? Você tem um passe de ônibus. Então você não vai precisar desse dinheiro.”
A Karen ouviu um som. Ele estava procurando moedas.
"Tem mais 672 ienes aqui… Hmph, não é muita coisa. Essa cartela de pontos não tem o seu nome, então eu vou levar isso aqui também.”
Ele deixou a carteira da Karen, quase vazia, na mesa.
“O veneno vai terminar de se espalhar logo, e você vai conseguir se mexer de novo. Eu sugiro que você use seu celular para pedir ajuda. Já eu, nesse meio tempo, vou me retirar. É claro que eu planejo continuar meus empreendimentos, mas talvez eu não deva me encontrar diretamente com os clientes. Isso foi edificante. Adeus.”
E assim, ele abriu a porta e saiu sem nem olhar para a Karen, que agora estava caída no chão.
Karen, Karen Araragi.
Por ser teimosa, ela demorou para pedir ajuda.
Notas de tradução
¹ Explicando o parágrafo inteiro em uma nota só,
阝+ 可 = 阿
若木 (Wakaki) = Muda pois 若(wakai) é jovem e 木 (gi ) é árvore.
O nome Karen é escrito como 火憐. 火(ka) significa fogo e 憐(ren) significa simpatia/pena/compaixão.
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Nisemonogatari, Livro 1
013
Ao comparar as duas irmãs Araragi - as Fire Sisters - Karen, a executora, gosta de se destacar, mas antes que você se engane, eu irei derrubar a noção de que a Tsukihi é menos problemática do que ela.
Como demonstrado pelo incidente da faca, a Tsukihi é tão perigosa quanto ela. Não pense que ela é fofa só por ter pedido a minha ajuda. A verdade é que ela usa a personalidade da Karen como escudo para as suas próprias ações. Se a Tsukihi parecer menos condenável, então você caiu na armadilha dela.
Nesse sentido, uma menina metida que nem a Karen era mais fácil de se lidar, enquanto lidar com a Tsukihi, que não é menos burra, porém é uma burra esperta, é quase impossível.
É só se lembrar do episódio do canteiro de girassóis. De certa forma, ela é ainda mais agressiva do que a Karen.
Eu tenho outro exemplo do passado.
Os Arquivos Tsukihi: Parte II.
Na época em que a Karen e a Tsukihi estavam no fundamental I, e eu também estava.
Parando para pensar, eu acho que a Tsukihi e a Sengoku eram da mesma turma na época. Se esse for o caso, eu acho que ela também se lembra dessa história.
A Karen acabou se encrencando. Isso foi quando elas ainda trabalhavam separadas, antes de começarem a chamar elas de Fire Sisters.
Seja lá qual tenha sido a encrenca, a Karen não conseguia se safar, então para salvá-la, a Tsukihi pulou do telhado da escola sem nem pensar.
Por que será que ela fez isso?
Na época eu também me perguntei o motivo, mas só a Karen e a Tsukihi sabem a verdade. E considerando como elas são, as duas provavelmente nem se lembram.
Talvez por sorte ou por ter planejado, a Tsukihi caiu em cima de um caminhão estacionado ali perto (como em um filme de kung-fu), e sobreviveu (claro que ela quebrou vários ossos, e seu corpo ficou cheio de cicatrizes que ela diz que foram de uma batalha). De qualquer forma, graças àquele pulo, a sua reputação anterior de menina quieta que gosta de ficar em casa desapareceu.
A parte mais surpreendente é que nenhum dos amigos dela parou de vir aqui para brincar.
Dessa forma.
A Tsukihi é extrema, e esconder isso é natural para ela. O resultado é que ela consegue, intencionalmente e quando ela quiser, demonstrar uma raiva que vai além de histeria.
Enlouquecer intencionalmente. O que seria mais perigoso?
Os momentos de histeria dela não são o problema. O perigo vem da fúria genuína, a verdadeira Tsukihi, que ela esconde.
Mas voltando ao assunto de antes.
Assim que a Shinobu voltou para a minha sombra, eu saí da banheira, me sequei e fui para a sala de estar com uma toalha amarrada na cintura. Eu não vejo motivo para me vestir se eu só vou ouvir ela. Eu sinto como se tivesse esquecido de algo, mas eu tinha algo mais importante para fazer.
Na sala de estar, a Tsukihi estava deitada no sofá. A faca… Ela provavelmente deixou na gaveta da cozinha.
“Cadê a irmã mais alta?” eu perguntei sentando perto dela.
“Mm. A Hanekawa-san está cuidando ela.”
Hanekawa…
É isso o que eu tinha esquecido. O que eu estava fazendo vestido assim enquanto ela está em casa? Eu estava abrindo mão de poder provocar a Kanbaru.
“Mesmo assim, se eu quiser me trocar, as roupas ficaram no meu quarto… Eu acho que não tem problema, já que ela tá no andar de cima.”
Eu vou pedir pra Tsukihi me trazer roupas depois. Pronto, problema resolvido.
Nós estamos no Século XXI, isso de ficar pelado na frente de uma colega de turma não aparece nem em comédias.
“Tudo bem,” eu disse, “hora de me contar tudo.”
“Okay. Mas primeiro eu quero que você me prometa uma coisa.”
“Você não está em posição de fazer pedidos.”
“Eu sou sua irmãzinha, essa é a minha posição.”
“E como seu irmão mais velho, eu me recuso a aceitar.”
Nós trocamos olhares. Nós sempre acabávamos discutindo assim se não tomássemos cuidado.
“Tudo bem, eu retiro o pedido,” a Tsukihi desistiu primeiro depois de três minutos de silêncio. Isso chegava a ser meio raro, normalmente eu acabava perdendo. Ela provavelmente estava passando por uma situação complicada. Nesse caso…
“Bem, o que você ia pedir?”
“Pra você não ficar bravo com a Karen.”
“Até parece.”
“E se você puder ficar bravo comigo mas não com ela?”
“Eu vou dar bronca nas duas.”
“Que tal isso… Você vai poder ficar bravo com a Karen mas não comigo?”
“Eu já estou bravo! Só conta aquilo logo e se livra desse peso.”
“Isso deveria parecer legal? Eu pensei que você tinha prometido que não ficaria com raiva pra Hanekawa-san,” a Tsukihi reclamou.
Sua boba. Aquilo foi só pela Hanekawa.
Mesmo com essa atitude rabugenta, a Tsukihi olhou para mim com aqueles olhos caídos dela. Talvez isso seja só algum tipo de preconceito, mas para mim, as pessoas de olhos caídos, não só a Tsukihi, sempre parecem estar planejando algo.
Ela disse, “Só porque você é um gênio bom em tudo, não significa que você pode ficar zoando a Karen, okay?”
“Que tal eu concordar com ouvir essas coisas irritantes que você fica falando? Aí estão as suas condições, agora fala logo. Como foi que tudo começou? Nem eu consegui entender.”
“Hein, mesmo você sendo um homem da Renascença dos dias modernos?”
“…”
Caramba. Eu já estava começando a perder a paciência.
“O quanto a Hanekawa-san te contou?” Ela foi direto ao ponto na hora certa. Se esse era o jeito dela de negociar, então ela era boa.
“Eu ouvi quase tudo, mas a Hanekawa não teve muito envolvimento. Eu ainda não ouvi nada sobre o esquema. E além do mais, eu não posso agir até ter ouvido o que vocês duas tem a dizer.”
Além disso, conhecendo a Hanekawa, ela provavelmente estava escondendo alguma coisa porque isso faria aquelas duas parecerem ruins.
Se a Hanekawa quisesse, ela poderia ter me impedido de perceber que ela estava escondendo algo. Ela deve ter deixado algumas dicas para eu falar com as minhas irmãs.
Esse posicionamento era interessante. Neutra, mas é só dar um passo em falso e ela cortaria os laços com ambos os lados.
Ela era como uma agente dupla.
Ela admirava o Meme Oshino, e eu suponho que esse era o modus operandi dele.
“Não vai poder agir, huh? Normalmente, a Karen e eu começamos a agir antes de pensar. Eu acho que nessa situação a Karen é um bom exemplo.”
“É mesmo?”
“Nii-chan, você tem algum arrependimento?”
“Arrependimento… É claro. Por acaso existe alguém que não se arrepende de nada?” Provavelmente sim, afinal isso também é parte da natureza humana.
“Sabe, eu não me arrependo muito das coisas.”
“Quem diria. Vocês duas não parecem ser o tipo de pessoa que faz isso mesmo.”
“Mas é exatamente por isso que…” Ela fez uma pausa. “As vezes eu me arrependo de não ter me arrependido.”
“…”
“Você não tem nada a dizer?” ela disse antes de ficar em silêncio.
Ela se atreveu a ficar quieta.
………
“Você tá querendo que eu aperte o seu pescoço?” eu perguntei.
“Não, não é isso…”
“Então anda logo e vai direto ao ponto.”
“Ah, lembrei. Eu tenho uma coisa interessante para te contar.”
“Interessante?”
“Sabe como a minha frase de efeito é 'eu estou caranvoltada’? Originalmente ela era 'eu estou meio revoltada’, então, diferente do que parece, ela não quer dizer que eu estou com tanta raiva assim.”
“Eu nem sabia que você tinha uma frase de efeito!”
"Como não? Eu estou caranvoltada!”
"Claramente a sua raiva é maior do que isso!” Eu estou caransurpreso. Nada disso fez sentido. "Olha, chega de truques. Para de tentar mudar de assunto.”
“Ah… Eu só estava te testando.”
“Então eu estava te testando por ter me testado. Agora anda logo e vai direto ao ponto.”
“A-antes disso, será que você pode me contar sobre alguma vez em que você se arrependeu? Eu quero ouvir a sua história também.”
“Hein?”
“Seria um desperdício se eu simplesmente te contasse. Assim seria como se nós estivéssemos trocando segredos. Tipo em uma excursão da escola.”
“Sua idiota.” Mas mesmo se eu pensasse… Na verdade, chamasse a Tsukihi de idiota, talvez parte do meu dever como irmão mais velho fosse atender a esses desejos infantis dela. Além disso, eu senti como se fosse perder a paciência se eu não cooperasse. “Bem, vejamos, algum arrependimento… É difícil de pensar em um do nada.”
Eu tinha bastante material. Na verdade, até demais.
Por exemplo, a Shinobu Oshino.
Tudo relacionado a ela. As coisas de vampiro.
Mas… Mesmo que eu quisesse contar isso para as minhas irmãs, essa não era uma boa hora. O assunto era meio pesado para a situação atual.
A Tsukihi parece ter achado que eu estava demorando de propósito. “Deve ter alguma coisa,” ela disse.
“Uhh, isso é muito repentino… Será que você pode ser mais específica quanto ao tipo de história?”
“É só você falar de alguma coisa meio vergonhosa. Tipo… Por que você não tem amigos?”
“Agora eu tenho!”
“Sério? Quantos?”
“Você quer saber mesmo? Prepare-se para ficar surpresa!”
A Hanekawa é minha amiga. A Kanbaru… é minha kouhai, mas também amiga. A Hachikuji definitivamente é minha amiga.
A Sengoku… também. Bem, nós nos damos muito bem, mas talvez ela não me veja assim… Talvez ela achasse que só tinha que falar comigo porque eu sou o irmão da amiga (Tsukihi) dela. Mesmo que seja gratificante ser chamado de onii-chan por ela, eu precisava sair dessa zona. Mesmo assim, ainda não é errado ver ela como uma amiga.
A Senjougahara era minha namorada. Em termos dessa discussão, eu não vejo nenhnum motivo para não contar ela.
“Cinco!”
“Você me pegou, isso é surpreendente mesmo.” A Tsukihi parecia chocada, ao ponto que os olhos caídos dela se abriram. “Pobre Nii-chan… você vai morrer sozinho.”
“Que maldade!” Tsk, irmã babaca. “De qualquer forma, se você quiser saber porque eu não tinha amigos antes… Naquela época, eu achava que amizades diminuiriam a minha intensidade…”
“Não, eu já ouvi coisas vergonhosas demais por um dia… Eu sinto muito por ter perguntado.”
“Não se desculpe ainda! Eu nem cheguei na parte vergonhosa.”
“Por favor, não, não faz mais isso! É sério, já acabou!”
“Eu ainda não acabei!” Por que ela estava tentando me parar? Ela estava lacrimejando!
“Não ter amigos é uma coisa, mas você leva isso a outro nível. Você nem consegue perceber que tem um problema. Que triste.”
E-eu não percebi? Será que eu não sou autoconsciente?
“Se você morrer num acidente de carro, eu vou garantir que o funeral vai ser só para os nossos parentes,” ela prometeu. “Senão todo mundo vai descobrir o quão solitário você era.”
“Calma aí, isso não foi muito reconfortante!”
“Já sobre o seu casamento… Bem, alguém sem amigos não precisa se preocupar com isso.”
“Aaaah!”
As palavras dela foram tão esmagadoras que eu não consegui pensar em uma resposta. Eu só consegui gritar.
“Mas Nii-chan, tentar não fazer amigos não é mais difícil?”
“Valeu pela dica!” É sério, essa doeu! “Sabe, eu não sou que nem vocês, eu não quero fazer parte de algum grupinho. Eu quero ser um daqueles personagens misteriosos que fazem as pessoas pensarem, ‘Ei, o que será que aquele cara faz quando ele está sozinho?’”
“Mas a verdade é que ninguém, ninguém mesmo, fala isso sobre você. E ‘quando ele está sozinho’? Você sempre está sozinho.”
“Olha quem fala? Quantos amigos você tem?”
“Hein?” A Tsukihi piscou. “Eu não sei se dá pra chamar eles de ‘amigos’ quando você tem uma quantidade que dá pra contar.”
“…”
Então me dá alguns dos seus, eu pensei.
“‘Amigos’ não é um plural incontável?” ela comentou.
“Você… tem um ponto.”
“Então não é meio estranho poder contar os seus amigos nos dedos?”
“Foi você que perguntou!”
Enquanto nós continuamos assim…
“Araragi-kun, nós ouvimos a conversa lá do andar de cima. Parece que vocês só estão batendo papo, então dá para falar mais baixo?”
A porta abriu e a Hanekawa entrou na sala.
Em algum momento eu devo ter gritado.
“Ah, foi mal. Eu vou tentar.”
Merda.
Eu acabei de lembrar.
Eu estava sentado no sofá, falando com a minha irmã e usando só uma toalha amarrada na cintura. E pra piorar, eu estava tão envolvido na discussão que eu me inclinei para frente, e a toalha caiu.
Nesse momento eu descobri três coisas.
Um: Até mesmo a Hanekawa grita as vezes.
Dois: O grito dela é alto o suficiente para ser ouvido na casa toda.
Três: Meus pais dormem como pedras.
0 notes
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Nisemonogatari, Livro 1
012
Mesmo que só por meio dia, eu fiquei preso naquelas ruínas e estava coberto de terra e sujeira. Logo depois de ouvir a história da Hanekawa e deixar ela cuidando das minhas irmãs, eu decidi tomar um banho. Isso pode parecer relaxado, mas pelo que eu ouvi, entrar em pânico não adiantaria de nada.
Sendo sincero, eu me preocupei que se eu não descansasse um pouco, eu acabaria gritando com elas de novo.
Kaiki Deishuu.
Ugh, de todas as pessoas! Por que se envolver com um cara daqueles?
Quando eu encontrei ele depois de sair da casa da Kanbaru, ele tinha mencionado que ouviu o nome “Araragi” recentemente. Ele estava falando da Karen. Afinal esse não era um nome muito comum.
Droga, mas que coincidência.
Bem, pelo menos tem um lado positivo nisso… Eu poderia conseguir mais informações sobre o Kaiki falando com a Senjougahara.
Mas ele já fez com que nós brigássemos. Ela provavelmente não vai querer me responder.
Aliás, depois que a Hanekawa terminou de contar o que aconteceu, eu perguntei não só se foi graças a ela que eu consegui escapar de meu confinamento, mas também o que foi que ela disse para a Senjougahara.
“Ah, aquilo? Depois de a Tsukihi ter mandado uma mensagem, ela achou estranho que você não respondeu na hora, então nós decidimos que eu deveria ligar. Eu estava relutante, considerando o horário, mas elas insistiram. Elas podem até não dizer, mas confiam em você.”
“É, eu pensei que tivesse sido algo assim. Mas como foi que você convenceu a Senjougahara?”
Ninguém menos que a Senjougahara.
“Não foi difícil,” a Hanekawa disse. “Assim que eu ouvi a voz dela, eu consegui entender o que aconteceu, então eu fui direto ao ponto.”
“Como assim?”
“Eu disse pra ela, ‘Se você não me ouvir, eu vou falar pro Araragi-kun que eu estou apaixonada por ele.’”
“…”
Brutal. Essa era, de certa forma, a maior carta na manga dela.
Eu dificilmente conseguiria fazer o mesmo em uma negociação com a Senjougahara para obter informações sobre o Kaiki, então eu teria que pedir com educação, mesmo que isso não fosse dar em nada.
Mas primeiro, era hora do banho.
Eu me lavei com cuidado e entrei na banheira.
Clink, clink…
As algemas, que eu não consegui remover, ficaram nos meus pulsos como braceletes estranhos e estavam batendo de leve no lado da banheira.
Como se sincronizada com o som das algemas batendo…
Da minha sombra, esticada pela luz amarela do banheiro, surgiu a Shinobu Oshino.
Isso me lembrou de um certo RPG famoso.
Vampira A se aproxima!
A Vampira A estava olhando para mim.
“Um…”
A Vampira A, Shinobu Oshino, passava a maior parte do tempo dentro da minha sombra. Era impossível prever quando ela apareceria, e como resultado, nesse ponto, não importando quando ela decidia aparecer, eu não me surpreendia muito. Mesmo assim, aparecer no banho era novidade.
Eu acho que é por causa do lugar em que estamos, mas ela estava pelada.
Uma linda menina loira estava completamente pelada.
A situação atual era completamente terrível e beirava algum crime… Mas a forma atual da Shinobu era a de uma menina de oito anos, então diferente da Kanbaru, eu não fui afetado pela sua pele e só fiquei feliz pela sua boa aparência.
“Agora que já nos despimos, eu devo me tornar tua noiva meu mestre?”
Ela falou com uma voz infantil porém pomposa.
Dizer que eu fiquei surpreso seria pouco. Eu quase afundei na banheira.
Ela falou… A Shinobu falou!
“Sh-Shinobu.”
“Khaha, o que te incomodas? Tu pareces como um cervo diante dos faróis de um carro. Ou melhor, um vampiro atingido por uma bala de prata? É tão maravilhoso assim me ouvir falar? Tu presumiste que eu tinha esquecido como?”
“…nkk.”
Bem, não. Eu sabia que ela conseguia falar. Eu nunca pensei que ela tivesse esquecido. Mesmo que ela se pareça com uma menina de oito anos, e tenha perdido a maioria dos seus poderes, ela continuava sendo uma vampira de quinhentos anos.
A parte surpreendente é que ela estava falando comigo. Tendo a bondade de falar comigo.
Do nada. Sem nenhum motivo em particular.
“Shinobu, você…”
Shinobu Oshino.
A Vampira… Antiga vampira.
Agora só a sombra de uma, o que restou de uma vampira.
Com beleza incomparável, fria como o ferro e quente como o sangue. Um monstro entre os monstros, a rainha das monstruosidades.
Matadora de monstruosidades, é como a chamavam.
Ela me matou, e eu a matei.
E é por isso, que desde o fim das férias de primavera, vivendo nas ruínas do cursinho com o Oshino, e depois selada na minha sombra, ela não tinha falado comigo.
Nem mesmo uma sílaba. Nem para dizer que ela estava com raiva, infeliz ou sofrendo. Nada.
E então isso acontece, de repente?
“Hmph. Eu fiquei entediada.” A Shinobu abriu o chuveiro e deixou a água quente cair em sua cabeça. Como vampira, ela não precisava tomar banho, mas ela fechou os olhos como se estivesse gostando da sensação. “Eu sou loquaz¹ por natureza, como tu sabes. Por quanto tempo eu continuaria mordendo a língua? Tu sabes o quanto, meu mestre.”
“…” Ack… Eu fiquei sem palavras.
Não, não é porque eu estava feliz. Felicidade não parecia ser o suficiente. Mas como eu poderia dizer isso?
Como eu não me sentiria feliz?
Sem conseguir pensar em nada apropriado para dizer, eu fui com um: “Obrigado.”
“Eh? Pelo quê?”
Ela fechou o chuveiro e olhou para mim, a água escorria de seu corpo. Mesmo que sua aparência seja infantil, ela ainda era uma vampira, e seu olhar estava tão afiado quanto antes. Ele parecia ainda mais amargo e penetrante agora se comparado com quando ela ficava em silêncio.
“Oh… Uh, eu estou falando disso…” Eu levantei as algemas e a corrente quebrada. “Você me ajudou a quebrar isso, não é mesmo?”
Logo depois de a Tsukihi mandar aquela mensagem.
Obviamente eu não fiz aquilo com a minha própria força. Não importa o quão urgente a situação era, eu não conseguiria criar adrenalina o suficiente para quebrar o aço. Isso tinha que ter sido obra da Shinobu, de dentro da minha sombra.
“Eu ajudei? Kahah. Eu me esqueci. De qualquer forma, teu gosto para acessórios é horrível. Venha.”
A Shinobu aproximou a sua mãozinha de meus pulsos. Dessa vez ela destruiu não só as correntes, mas as algemas inteiras, rasgando-as como rosquinhas.
O amor dela pelo Mister Donuts não era segredo.
Antes que eu pudesse expressar choque, ela pegou os pedaços de metal, colocou eles na boca e começou a mastigar.
Ela pode ter perdido a maior parte do seu poder, mas ela ainda era uma vampira, completamente livre de lógica.
A mesma Shinobu que eu me lembrava.
Isso era estranhamente reconfortante.
“Economize teus agradecimentos. Eu faço como eu quero, antes, agora e sempre. Foi por pura sorte que minhas ações foram de acordo com teus desejos, meu mestre.”
“Uh, Shinobu…”
“Meu cabelo!” Ela me interrompeu. Ela apontou para seus cachos dourados. “Meu cabelo.”
“O-o que que tem o seu cabelo?”
“Tu podes lavar o meu cabelo. Eu gostaria de experimentar aquele tal ‘xampu’. Eu fiquei observando da tua sombra por algum tempo, e isso sempre me pareceu ser divertido.”
“Então eu posso tocar em você?”
“Como mais tu lavarias o meu cabelo?”
“Tudo bem… Então eu também vou passar o condicionador.”
Eu saí da banheira. Eu também estava pelado, mas no caso da Shinobu, eu não sinto muita vergonha. Eu tinha pouco a esconder dos olhos dela.
Eu coloquei um pouco de xampu na minha mão e passei os dedos pelo cabelo dela.
Era como eu me lembrava, muito suave.
“Já faz um tempo desde a última vez que eu te vi de capacete e óculos,” eu disse.
“Ha! Eu me cansei daquilo.”
“É mesmo?”
“Aquilo era sem graça e fora de moda.”
“…”
Eu pensei que aquilo combinasse com ela. Talvez fosse um gosto do Oshino e ela nunca tivesse gostado muito.
Eu fiz espuma na cabeça dela (como vampira, ela cuidava da sua imagem, ou seja, não se sujava, então eu consegui criar muita espuma) e disse, novamente, “Um…”
“Shush,” a Shinobu me interrompeu de novo,
“…”
“Economize teu fôlego. Eu não te perdoarei e eu não suponho que tu tenhas me perdoado.” Ela disse olhando para frente, em direção ao espelho na parede, para o seu reflexo inexistente. “Então que seja. Nós não devemos nos perdoar e que assim seja. Nós não devemos apagar o passado. Mesmo assim nós ainda podemos nos respeitar.”
“…”
“Eu ponderei sobre o assunto com cuidado durante esses últimos três ou quatro meses e essa é a minha conclusão, o que tu achas meu mestre?”
A Shinobu fechou os olhos, irritada com as bolhas de xampu em seu rosto.
“Eu não sabia que você se incomodou de pensar sobre isso,” eu disse.
“Tu pareces ter pensado nisso também. Eu saberia, pois eu converso com tua sombra.”
“Haha.”
Eu passei o braço por cima da cabeça da Shinobu para abrir o chuveiro e comecei a enxaguar seu cabelo. Depois disso eu comecei a passar o condicionador. Ela tinha uma quantidade impressionante de cabelo então eu tive que usar bastante condicionador.
“Não é como se eu pudesse guardar rancor para sempre,” ela disse. “Eu não sou tão mesquinha… Além do mais, eu tenho algo importante a comunicar, algo que precisa ser dito.”
“É mesmo?”
“Embora eu goste de rosquinhas Pon de Ring, eu prefiro as de golden chocolate. Para que tu saibas quando for comprar mais.”
“É claro…”
Bem, ela era uma vampira loira afinal. Eu acho que “golden” combinava com ela.
“Pode cuidar do resto sozinha,” eu disse voltando para a banheira.
“A Abelha das Chamas,” a Shinobu disse bem ali. “Uma monstruosidade em forma de vespa gigante.”
“Hein?” Vespa. Classe Insecta, Ordem Hymenoptera, Família Vespidae?
“Essa variedade em particular não era encontrada em minha terra natal, então eu não sei os detalhes, mas dizem que entre as abelhas - não, entre os insetos - não, entre todos os organismos, não há um regimento de combate maior. Em combate coletivo, ao menos, nada se compara. Elas são sociais, porém ferozes e agressivas.”
Porém menos do que os vampiros, ela adicionou.
“Espera aí, não me diga que…”
Esse jeito de falar me lembrou muito daquele cara.
“Essa é a monstruosidade,” ela confirmou, “que está afetando tua querida irmã gigante.”
“Gigante já é demais…”
Afinal a Shinobu era maior ainda em sua forma verdadeira. Se eu me lembro bem, a Shinobu adulta tinha quase dois metros de altura.
“Eu já lhe aviso que todo esse conhecimento não é meu. Eu posso até ser a matadora de monstruosidades, mas nem eu sou familiar com todas as criaturas. Além do mais eu me especializo em devorar
“Então…”
“Sim. Essa informação foi cortesia daquele moleque.”
Como vampira, a Shinobu geralmente não diferenciava os humanos. A pessoa que ela chamou de “moleque” era o Meme Oshino.
“Tu fazes ideia de como aquilo foi para mim?” a Shinobu reclamou. “Forçada a ouvir aquele homem fútil falando cada vez mais, dia após dia, sempre contando histórias triviais sobre monstruosidades.”
“…”
Aquilo parecia ser bem ruim. Eu sempre me perguntei como o Oshino e a Shinobu passavam o tempo. Agora eu sei.
“A Abelha das Chamas era só mais uma das incontáveis criaturas que ele tagarelou sobre. Se eu não me engano… Ela era uma monstruosidade do período Muromachi². E, para resumir, ela é uma doença de origem desconhecida.”
Uma doença infecciosa. Essa era a verdade. Mas a doença era interpretada como obra de uma monstruosidade. Embora essa crença esteja errada, o ponto importante é que pensaram nela assim.
E a partir daí, surgiram as monstruosidades.
Assim como o fenômeno dos vampiros veio de uma doença hematológica…
“A doença causa uma febre severa o suficiente para imobilizar a vítima e eventualmente causa a morte. De fato, centenas morreram, antes de um xamã renomado conseguir conter o contágio, ou foi isso que eu ouvi, em trechos de uma crônica antiga. Foi como se depois de picado por uma abelha invisível, o corpo fosse envolto em chamas. Algo assim.”
“…”
A Karen só estava sento corajosa, como sempre, e mesmo que eu não tenha percebido, ela estava exausta.
Afetada por uma febre tão alta que ela parecia estar queimando. Envolta em chamas.
Ela estava com calor.
Resumindo, ela estava doente.
É por isso que ela estava sentada na cama. É por isso que as bochechas dela estavam meio vermelhas. E o único motivo pelo qual ela não me atacou naquela hora, foi porque ela não conseguia se mexer.
Até eu chegar, ela estava dormindo. Ou melhor, desmaiada.
Caso contrário, a Tsukihi não teria conseguido pedir ajuda em primeiro lugar. Agora eu entendi o que a Hanekawa quis dizer quando disse, “eu duvido que você fosse bater nele mesmo.”
Ela sabia que a Karen estava doente. Que ela estava exausta.
“Tsk. É por isso que a Hanekawa protegeu ela. Mas sabe, a Karen meio que mereceu.”
“Mereceu?”
“O feitiço se virou contra o feiticeiro.”
“Tu és duro com tuas irmãs… Não que isso me assuste, já que eu andei observando pela sua sombra há algum tempo. Mesmo assim, não que eu queira copiar uma frase da ex representante de turma, mas eu nunca soube.”
“Ex?”
A Hanekawa ainda era representante de turma. A Shinobu achava que o título se referia à aparência?
“Eu não acho que sou tão duro,” eu respondi. “Mas de qualquer forma, é difícil de saber só pelo que a Hanekawa disse, mas parece que o Kaiki infectou a minha irmã com o veneno de uma monstruosidade.” Como uma doença, a Karen pegou uma monstruosidade. “Não que eu saiba se a toxina é dessa tal Abelha das Chamas ou se isso ao menos é possível.”
“Talvez. Tais coisas normalmente são,” a Shinobu disse. “Mas se tua parceira tsundere estiver certa, esse Kaiki é um vigarista farsante, não é?”
“É mesmo,” eu concordei.
Por estar na minha sombra, a Shinobu via as mesmas coisas que eu… Ela pensa assim sobre a Senjougahara. Mas acha que ela é só uma tsundere genérica seria como não entender a cultura humana direito.
“É claro,’’ a Shinobu advertiu, “que ser um farsante não impede ele de saber a verdade. As vezes as coisas falsas são mais verdadeiras do que as legítimas.”
“Gostei da sabedoria.” Eu concordei. “Você pode ser suspeito como especialista, mas ser um vigarista autêntico.”
O culpado era suspeito? Não me diga…
“Suspeito…” A Shinobu parecia pensativa. “Se esse for o caso, ele pode acabar sendo mais perigoso do que um especialista real. Soltar uma monstruosidade sem saber controlá-la parece diabólico, até para os meus padrões. Falando em suspeito, eu duvido que ele seja humano.”
“…”
“Se nossas ações nos definem, ele parece ser uma monstruosidade.”
Uma monstruosidade. O que isso significa? Quais eram os nossos padrões?
“Bem, eu vou tentar perguntar para a Senjougahara,” eu disse. “Afinal, o que mais eu poderia fazer? O problema agora é maior. Eu não tenho tempo para ficar de brincadeira, o problema é a Karen. Nós temos que dar um jeito de aliviar os sintomas dela.”
Aparentemente a Hanekawa tentou levar ela pro hospital.
Eles tentaram o possível para uma pessoa com uma febre alta, mas nada adiantou. Mesmo que a Hanekawa tivesse esquecido, ela teve alguma experiencia com monstruosidades e provavelmente percebeu que algo não estava certo.
“E é por isso,” eu observei, “que a Karen decidiu ligar para a Hanekawa primeiro. Foi melhor do que me ligar, assim como a Tsukihi disse.”
“Hmph. Mas se não fosse pela ex representante de turma, tua irmã não teria se encontrado com o Kaiki, não é mesmo?”
“Bem, não…”
Falando assim, faz parecer que a Hanekawa andou começando incêndios para poder apagá-los… Ela sempre tinha a resposta para qualquer problema, mas sem ela, talvez o problema nem existisse.
Durante o incidente com a Shinobu, a Hanekawa me salvou. Eu estava grato, do fundo do meu coração, mas parando para pensar, ela também foi parcialmente responsável pelo meu encontro com a Shinobu.
Ela era legítima.
Forte. Justa e forte.
“O remédio de febre não adiantou,” eu disse, “e por estranho que pareça, mesmo que a febre seja dolorosa, ela ainda está lúcida. Meus pais ainda acham que ela só pegou algum resfriado de verão.”
Talvez seja por causa do comportamento normal dela? Que era tudo menos exemplar.
“Ei, Shinobu, você consegue comer a doença da Karen?”
Como vampira, ela comia monstruosidade.
Foi isso que ela fez gentilmente com o gato da Hanekawa.
Bem, “gentilmente” não estava certo. No fim ela só jantou mesmo.
“Infelizmente,” ela disse, balançando a cabeça, “uma doença é meramente um efeito. Eu poderia consumir a abelha em si, com prazer, mas eu não posso devorar os efeitos de sua picada. Assim como eu posso comer uma maçã, mas não a sensação de que ela é deliciosa. Essa monstruosidade é coisa do passado. Os sintomas não irão sumir se eu consumir a abelha.”
“Entendi. Isso faz sentido. O Oshino disse como lidar com essa abelha?”
“Quem sabe? Eu acredito que sim, mas ele ficava tagarelando demais.”
A Shinobu terminou de enxaguar o cabelo e entrou na banheira. Era uma banheira de tamanho normal, que não era grande o suficiente para duas pessoas, mas por ter tamanho de criança, ela conseguiu caber por pouco.
E com certeza não é porque eu sou baixo.
“Parando para pensar, eu já não tomo banho há bastante tempo… Khaha.”
“É mesmo?”
“Mm-hm. Já fazem uns quatrocentos anos.”
“Quanto tempo.”
Isso era incrível. Bem, durante as férias de primavera, quando eu fui um vampiro, eu também não precisei me lavar, não adiantava seguir os padrões humanos.
Então que seja…
Essa foi a primeira vez que eu tomei um banho com a Shinobu. Eu nunca imaginei que esse dia chegaria.
Será que “comovente” é a palavra certa para descrever isso?
Sentar cara a cara com ela também era novidade. Durante as férias de primavera eu não tinha força mental o suficiente para isso.
Eu olhei para a Shinobu, comovido.
“O que tu estás olhando? Eu não fazia ideia de que tu ficarias excitado ao olhar uma garotinha nua.”
“Não, não é isso.”
“Ha. O jeito que tu me olhas me deu algumas ideias engraçadas.”
“Hein?”
“Não, não foi nada. Mas e se, por exemplo, eu começasse a gritar tão alto que todo mundo na casa pudesse me ouvir? Esse tipo de ideia.”
“Ack!”
A Shinobu deu um sorriso de orelha a orelha. Que imaginação distorcida!
Mas ela sabia que esse tipo de coisa era tabu? Merda, o Oshino ensinou isso pra ela? Que educação da elite desnecessária!
“Porém, se tu preparares uma oferenda de rosquinhas em troca de meu silêncio, talvez eu esteja disposta a negociar.”
“Vai lá, grita…” Eu agi sem medo e até me levantei. Ameaças como essa não vão funcionar comigo. “Você e eu somos farinha do mesmo saco. E se você ainda viver na minha sombra, você vai sofrer que nem eu. No mínimo você nunca mais vai pro Mister Donuts.”
“Khaha! Boa jogada, Tu cresceste, meu mestre…”
“Ei, Nii-chan, por quanto tempo você vai ficar aí? Eu pensei que você fosse querer ouvir a minha história…”
A porta de vidro abriu e a Tsukihi colocou a cabeça ali.
Em algum momento ela desceu as escadas, entrou na sala de troca de roupa e abriu a porta de vidro.
“Umm…”
Vamos rever a situação!
Local: Banheiro!
Elenco: Koyomi, Shinobu, Tsukihi!
Sinopse: Koyomi (um aluno no 3º ano do ensino médio) e Shinobu (loira, parece ter oito anos) foram vistos tomando banho juntos pela Tsukihi (irmãzinha)!
Foi direto ao ponto!
Não precisamos rever nada!
“…”
A Tsukihi fechou a porta de vidro lentamente e saiu sem falar nada
“…?”
O que ela estava planejando? Na verdade, não interessa o que ela estava planejando, foi bom ela ter saído. Rápido, antes de ela voltar…
Mas…
Nem dez segundos passaram antes de ela voltar. Ela abriu a porta com um bang.
“Hein?” Ela piscou em confusão. “Nii-chan, cadê aquela menina?”
Eu era o único na banheira. A Shinobu voltou para a sombra a tempo.
“Que menina? Como assim?” eu disse. “Nós estamos no meio de uma situação séria, vê se não fica falando abobrinha, sua idiota.”
O que fez a minha voz não falhar quando eu falei, foi o fato de que tinha uma faca na mão direita da Tsukihi.
Era uma faca para carne. Aparentemente ela passou na cozinha.
É por isso que eu estava com frio. Mesmo na água quente, meu sangue esfriou.
“Huh… Eu acho que estava vendo coisas,” ela murmurou.
“Sim, você estava. Não tem nenhuma menina de oito anos, sem peitos, com um lindo cabelo loiro, pele branca como porcelana e um jeito pomposo e arcaico de falar por aqui, pode sair.”
“Hmm. Tudo bem…” a Tsukihi cruzou os braços perplexa.
Cuidado com a ponta da faca!
Aliás, ela estava segurando uma tampa de panela na outra mão. Bom saber que ela não se esqueceu da defesa.
“Tá bom, eu acho… Mas Nii-chan, esse banho foi bem longo. Quando é que você vai terminar?”
“Ah…” Lavar o cabelo da Shinobu deve ter levado mais tempo do que o normal. “Eu vou sair logo. Vai lá esperar na sala.”
“Okay!”
“E você se importa de bater na porta na próxima vez?”
“Por quê? Eu não me lembro de você já ter pedido isso. Você acha que é tão maduro agora? Só porque você ficou todo musculoso. Para de ser metido!”
Com essa reclamação estranha, a Tsukihi saiu do banheiro. Ela deixou a porta aberta, então eu saí da banheira para fechá-la.
“Khaha!”
Quando eu me virei, a Shinobu já estava de volta para a banheira. Como ela estava sozinha, ela estava descansando as pernas na borda.
“Isso foi alarmante. Tua irmã é bem temperamental.”
“Dá um tempo…”
Ei, eu também fiquei assustado. Que tipo de pessoa vai buscar uma faca assim?
Como a Shinobu voltou para a minha sombra a tempo, nós conseguimos escapar dessa. Se ela tivesse demorado mais um segundo, esse teria sido um banho de sangue.
Pelo menos a limpeza seria fácil.
Eu empurrei as pernas dela e voltei para a banheira apertada, sentando de frente para ela de novo.
“Falando nisso, eu não acho que aquele moleque já tenha tocado no assunto, na verdade, eu acredito que ele tenha evitado isso intencionalmente…” Uma expressão diabólica se formou no rosto da Shinobu, um sorriso grotesco. “Quando é que tu morrerás, eu me pergunto?”
“Como assim?” Eu não entendi essa pergunta, ou o motivo. Quando eu vou morrer? Quem sabe?
“Bem, é que… Tu podes ser quase humano agora, mas ainda és meio vampiro, não é mesmo? O que isso implicará no teu tempo de vida?”
“Huh…”
Entendi. Eu não pensei muito sobre isso. Ou melhor, eu tentei não pensar?
Eu costumava falar “pelo resto da minha vida” com frequência, mas quanto anos seriam “o resto”?
“Tua intensidade pode ter se revertido para a de um humano, mas teu tempo de vida pode ser como o de um vampiro, considerando-se que tu pareces ter retido um fator de cura decente. Já que tu não poderás adoecer ou se ferir gravemente, uma morte definitiva parece improvável. Como um mago eremita, ou como eu, talvez tu possa persistir por quatro séculos, ou talvez cinco.”
“…”
“Tua amante, os amigos, calouros e irmãs, todos irão morrer, enquanto nós permaneceremos. Não importa como tu construa a tua casa, eventualmente ela vai ruir.”
Essa não era uma reflexão hipotética. E também não era uma conversa leve.
Ela falou como se estivesse profetizando.
Como se estivesse recontando a própria experiência.
Ela esticou as pernas na banheira, como se tentasse chutar a minha barriga.
Não satisfeita com os chutes…
Ela começou a esfregar o calcanhar, com força.
Ela pode até me chamar de “mestre”, mas ela estava sendo tão dominadora quanto antes.
“O que tu achas? Até tu deves ser contrário a essa ideia.” Num tom de voz convidativo e estonteante, como se tentasse me seduzir, ela disse. “Porém, eu tenho uma proposta para ti. Por que não me matar e voltar a ser humano?”
“Fala sério.” Eu recusei aquela oferta falsamente casual. Eu fiz a recusa ser clara. “A sua conclusão ainda vale. Eu não vou te perdoar e você também não vai, fim. Aquela conversa já acabou, nós não temos mais o que discutir. Nós vamos viver até morrermos.”
Aceite isso como minha sinceridade.
Aceite isso como minha decisão.
Aceite isso como minha reparação.
Eu não ligo se você nunca me perdoar.
Porque eu não quero ser perdoado.
“Hm, como desejar.”
A Shinobu riu. Como ela fazia naquela época, foi uma risada macabra.
“Então reze para que eu não corte tua garganta enquanto tu dormes. Eu meramente vivo, sem me importar muito. Eu irei passar meu tempo em tua sombra por enquanto, mas eu não desejo amizade. Se descuide e eu deverei matar a ti.”
E então, depois dessa conversa…
A Shinobu e eu nos reconciliamos.
Notas de tradução
¹ Tsubasa significa asa. Hanekawa tem um kanji que significa pena → 羽(hane)
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Nisemonogatari, Livro 1
011
A Tsukihi tinha enviado uma mensagem pedindo ajuda. Em outras palavras, ela estava encrencada.
Eu decidi ir pra casa imediatamente. Aliás, quando eu perguntei para a Senjougahara sobre o que aconteceu com a minha bicicleta, ela disse que tinha um local de coleta de lixo ali perto, então ela deixou a bicicleta lá.
Que maldade da parte dela. Por acaso a Dupla Valhalla trabalhava no ramo de descarte de bicicletas?
Eu perguntei onde ficava esse ponto de coleta e acabei passando lá no caminho de casa. Ele ficava meio longe, mas ir de bicicleta era mais rápido do que correr.
É claro que eu não me esqueci de levar a Senjougahara para a casa dela primeiro. Mesmo que nós tivéssemos brigado, nós ainda namoramos.
Era meia-noite. O amanhecer ainda estava distante.
De tarde eu teria que levar a minha bicicleta para o quintal sem chamar muita atenção para que a Tsukihi não me percebesse, mas nesse horário, eu teria que entrar escondido para que os meus pais não me vissem… Se bem que eles normalmente pegavam leve comigo, então talvez eu não precise me preocupar.
Mas eu tinha que agir como o esperado. O mínimo a fazer seria demonstrar um pouco de culpa para manter as aparências…Caramba, isso parece muito insignificante.
De qualquer forma, eu passei pela porta da frente, atravessei o corredor e subi as escadas para o quarto das minhas irmãs.
A Karen e a Tsukihi dividiam o quarto.
"Eu não fiz nada de errado,” foi a primeira coisa que a Karen Araragi disse.
Ela estava sentada na cama de baixo da beliche e parecia estar rabujenta, com as bochechas inchadas e fazendo beicinho, como se ela estivesse sendo punida por um crime que não cometeu.
Seu rosto estava meio vermelho. Ela parecia estar ofendida mais do que qualquer coisa.
“O que foi que eu fiz para você ficar bravo comigo?” Ela perguntou. “A Tsukihi não devia ter dito nada. Isso não te interessa, então me deixa em paz.”
“…”
Ahh, irmão e irmã.
Até mesmo a Senjougahara teria ao menos me agradecido.
Você faz ideia do que eu tive que passar para chegar aqui, altona?
Ela trocou o agasalho de sair e vestiu um agasalho de ficar em casa. Eu já tenho reclamado desse costume há anos, mas essa não era uma boa hora, então eu deixei passar.
“Karen…” A Tsukihi disse, parecendo preocupada.
A Tsukihi estava agindo com um pouco de medo. A Karen deve ter brigado com ela por ter pedido a minha ajuda. Elas quase nunca discordavam, mas nos momentos raros em que elas conflitavam, como o esperado, a Tsukihi, por ser mais nova, acabava recuando. Eu acho que a idade representa autoridade, e quando as coisas se complicam, quem é a estrategista e a executora não importa.
Deixando isso de lado…
“Primeiramente, me diz o que tá acontecendo,” eu pedi. “O que foi que aconteceu depois que eu saí? Eu pensei que você fosse me contar sobre os seus feitos heróicos?"
Eu li o resto da mensagem da Tsukihi mas ainda não tinha entendido tudo. Eu só sabia que a Karen estava com problemas.
Ela não estava machucada, pelo menos foi o que eu percebi. Mas se tratando dessas duas, eu não poderia relaxar.
Eu implorei e a Karen ignorou. Caramba, eu quero estrangular ela.
“Eu vou te perguntar de novo, irmã alta. O que aconteceu?”
“Vai… Se… Ferrar!” Nyah, ela mostrou a língua. Ela também não se esqueceu de puxar a pele de baixo do olho com o dedo. Ela fez isso mesmo já estando no nono ano!
Eu fiquei tão bravo que levantei a mão sem pensar…
“Araragi-kun.”
A pessoa que me parou estava perto da janela, encostando na parede. Era a Hanekawa.
Tsubasa Hanekawa. Ela me parou com uma única frase.
“Araragi-kun,” ela disse, “você ficou bravo por mim quando o meu pai me bateu. Por que você está tentando bater na sua irmã?”
“…”
Eu não sabia como responder. Eu fiquei parado como uma estátua.
“Eu acredito que existem situações para usar punição corporal,” ela admitiu. “Se você tiver uma explicação que vai satisfazer a Karen, então por favor, vá em frente.”
“Eu sinto muito.”
"Para que se desculpar para mim?”
Guiado pelas palavras dela, eu me virei para a Karen. “Foi mal, eu perdi a calma.” Eu curvei a cabeça.
Primeiro foi a Senjougahara, e agora a Hanekawa também fez eu me desculpar… Isso não envolvia a idade, mas o poder dela estava claro.
Mesmo assim, ver a Senjougahara sucumbindo à Hanekawa me surpreendeu. Eu sabia que a minha namorada não ficava muito confortável diante da nossa representante de turma, mas eu pensei que fosse por causa da diferença nas personalidades delas.
Mas fazer a Senjougahara se desculpar daquele jeito contra a sua vontade quando ela não achava que tinha culpa por nada, ia além de desconfortável.
Tsubasa Hanekawa, nossa colega de turma ridiculamente brilhante, não só tinha as melhores notas do nosso ano, mas também ficou em primeiro nos simulados nacionais.
A Senjougahara já chamou a Hanekawa de gênio legítimo, e de monstro. Eu discordo da segunda parte, mas concordo completamente que ela é genial.
Ela não parecia ser uma farsa.
A Hanekawa realmente me salvou durante as férias de primavera. Não seria exagero dizer que eu teria morrido se não fosse por ela. Eu poderia estar fisicamente vivo, mas eu teria morrido espiritualmente.
Chamá-la de salvadora não era o suficiente.
Ela era como minha segunda mãe. Porque, do meu ponto de vista, eu não enganei a morte. Graças a ela, eu renasci.
Obviamente a Hanekawa era nossa representante de turma (Eu sou o vice, ela me obrigou). ela era a representante de turma entre os representantes de turma. Com seus óculos, tranças, e a franja, ela parecia ser uma aluna exemplar, até o festival cultural.
Depois disso, ela cortou o cabelo.
Ele chega até o ombro, e a franja é meio desarrumada.
Ela também trocou o óculos por lentes de contato, e enquanto ela não mexeu no uniforme, a bolsa dela estava cheia de acessórios. E daí? Talvez você diga, mas isso foi um evento importante, quase como se o sol tivesse nascido no oeste.
Graças a essa transformação por parte da estrela mais brilhante do Colégio Naoetsu, o professor da nossa turma desmaiou, o professor responsável pelo ano foi hospitalizado e o diretor escreveu uma carta de demissão, boatos estavam correndo por toda parte.
Mesmo que aquilo fosse verdade ou não, é como se tivessem cutucado um vespeiro na nossa turma. Ela não pintou o cabelo de verde, nem se tatuou, mas estavam agindo como se a Hanekawa tivesse virado uma delinquente.
“Eu pensei em mudar o visual.”
Foi tudo o que ela disse em resposta a todo aquele caos. Ela disse isso e tudo parou. Não fizeram mais nenhuma pergunta.
Na verdade eu sabia o motivo por trás daquela “mudança de visual”, ou melhor, eu tinha uma ideia vaga, nada além disso, e é por isso que eu não podia perguntar o que aconteceu.
Outro dia, a Tsubasa Hanekawa teve o coração partido.
Cortar o cabelo por causa de algum problema no amor já não era mais uma tradição, mas a Hanekawa era uma mulher anacrônica nesse quesito. Eu duvido que cortar o cabelo conserte o coração, mas ela parecia precisar fazer algo assim.
Abandonando as tranças, se livrando dos óculos.
Ela não queria mais se parecer como o estereótipo de representante de turma, ela queria ser uma menina normal.
Não tem nada de errado nisso.
Isso foi tudo o que ela esperada. Ela era de fato uma “menina normal”, afinal foi quase como se ela tivesse sido exorcizada.
Não, não foi um exorcismo…
Talvez ela tivesse domado aquilo que a possuiu.
Essa foi a minha impressão. Mas de qualquer modo, a verdadeira pergunta era o que a nova Hanekawa (eu disse nova, mas essa mudança de visual aconteceu cerca de um mês atrás, então eu já me acostumei) estava fazendo no quarto das minhas irmãs?
Mas novamente, se ela não estivesse aqui, ela não teria me ligado naquela hora. Não era como se a personalidade dela tivesse mudado. Ela estava tão séria quanto antes, e não era o tipo de pessoa que ligaria para um garoto no meio da noite.
Eu estava prestes a perguntar o motivo, até que...
“Tsubasa.” Foi a Karen, que interrompeu. “Não briga com o meu irmão… Aquilo foi culpa minha, e se ele tivesse me batido, eu teria batido de volta”
“É mesmo?” A Hanekawa deu de ombros, em tom de piada. “Então eu me intrometi.”
“Sim, você se intrometeu.”
“Eu duvido que você fosse bater nele mesmo.”
“Então eu morderia ele. Só pra você saber, Tsubasa, eu tenho dentes duros como aço.”
Caramba… Falar desse jeito era típico da Karen, mas quando foi que ela começou a chamar a Hanekawa pelo primeiro nome.
Eu me virei para a Tsukihi.
“Não olha pra mim, eu chamo ela pelo sobrenome,” ela tentou se explicar.
Esse não era o ponto.
Não se tratava do nome usado, eu pensei, é melhor vocês começarem a chamar ela de “senhora”! Mas esse também não era o ponto.
Como ela era minha professora particular, ela e as minhas irmãs já se conheciam, mas quando foi que elas ficaram tão próximas.
“Onii-chan, só escuta e não fica bravo. Eu sei que o meu irmão não se irritaria com uma coisa dessas,” a Tsukihi disse. “Sabe, dessa vez as Fire Sisters pediram para a Hanekawa-san…”
“Vocês fizeram o quê?!” Eu gritei na hora.
No que elas estavam pensando?! Elas envolveram a Hanekawa nisso!
“Araragi-kun, para de fazer tanto barulho, você vai acordar os seus pais… E eu não pensei que você fosse o tipo de pessoa que intimida as suas irmãs gritando com elas.”
“…nkk.”
Eu estava de mãos atadas! Eu queria que a Hanekawa achasse que eu era um bom menino!
“Hanekawa-san, por favor não briga com o Onii-chan,” a Tsukihi implorou, se colocando entre mim e a Hanekawa. “Ele só se preocupou se nós te causamos problemas.”
O que que há com essa cena delas me defendendo? Isso parecia tão injusto.
“Caramba…”
Depois de me acalmar, eu percebi algo.
Nessa manhã, na verdade na manhã de ontem, a Tsukihi parecia saber que a minha aula particular foi cancelada. Eu achei que tinha contado para ela quando acordei, e parei de pensar no assunto, mas esse não foi o motivo. Ela já sabia que a Hanekawa teria planos naquele dia e que a sessão de estudos seria cancelada.
É por isso que a Tsukihi sabia. Ela e a Karen planejaram tudo.
“Araragi-kun, eu decidi ajudar a Tsukihi e a Karen, então não se irrite com elas. O Araragi que eu conheço nunca bateria nas irmãs dele.”
“Nrggh…” Eu estava começando a me sentir como se estivesse sendo manipulado. Não que eu fosse resistir à manipulação da Hanekawa, nunca.
A Karen falou depois. “Sabe aquela expressão, sobre colocar asas num tigre? Isso seria como as Penas das Fire Sisters.”¹
Que jeito mais desajeitado de tentar fazer um trocadilho com “Tsubasa Hanekawa”.
As vezes eu me perguntava se a Karen era realmente minha irmã.
“Tudo bem,” eu disse. “Eu prometo que não vou ficar bravo.”
“Você também não vai contar pra mãe e pro pai né?” A Tsukihi perguntou, forçando a barra já que a Hanekawa estava ali…
Elas estavam erradas por esperar que eu fosse cumprir qualquer promessa que eu fizer com elas. Eu as quebraria como se fossem vidro.
“Esse vai ser o nosso segredo,” eu menti. “Agora anda logo e me explica. O que aconteceu? O que tá rolando agora?”
“De fato. O que está acontecendo?”
Eu estava bem perto de quebrar o pescoço da Karen. Ela com certeza não ia me contar.
Eu teria que perguntar para a Tsukihi ou para a Hanekawa, nesse caso… Mas a Hanekawa era no máximo uma cúmplice. Se eu quisesse detalhes, eu teria que ver com a Tsukihi.
É…
Eu sabia que ia perder a calma de novo se falasse com uma das minhas irmãs. Por enquanto vai ser melhor se eu começar pela…
“Hanekawa,” eu disse. Eu precisava falar com as três, mas primeiro, ela. Eu apontei na direção do meu quarto. “Você pode ir ali no meu quarto um pouco?”
“Oooh, ele quer levar a Tsubasa pro quarto.”
A Karen estava se divertindo… Um dia eu vou matar ela.
“É claro.” A Hanekawa saiu da parede. “Karen, Tuskihi, vai ficar tudo bem. Vocês fizeram a coisa certa. Quando o Araragi-kun ouvir o que eu tenho a dizer, eu tenho certeza que ele vai entender. Não se preocupem, eu vou explicar tudo.”
“Hanekawa-san…” “Tsubasa…”
As minhas irmãs olharam para a Hanekawa com um brilho nos olhos delas.
Elas confiavam muito nela.
Talvez essa fosse só uma resposta natural à Hanekawa.
“Mas, Tsubasa, você vai ficar sozinha com o Onii-chan…”
Karen, cala a boca.
Esquece o que tá acontecendo agora, eu estou preocupado com o seu futuro.
“Não se preocupe com isso. Eu sei que posso confiar no seu irmão.” disse a Hanekawa, acariciando a cabeça da Karen antes de sair do quarto.
É sério, não dá pra viver seguindo o exemplo dela.
Eu suspirei e chamei a Karen, “Ei, grandona.”
“O que você quer, baixinho?” ela respondeu meio cansada.
Que estranho, a Karen respondeu o meu insulto, mas parece que não foi de coração. Faltou um pouco de força. Quando eu a chamava disso, ela costumava vir pra cima, cheia de raiva independente da situação. Mas agora ela não fez nada e só ficou ali sentada.”
“O que foi? Vai encarar outra pessoa,” ela disse.
“…”
Eu suspirei de novo e disse ,“Eu tenho certeza que você fez a coisa certa. Você sempre está certa. Eu não vou negar. Mas é só isso. Você nem sempre é forte.”
“…”
“…”
“Se você não for forte, você perde,” eu continuei. “Você pratica artes marciais, então deveria entender.” Eu também olhei para a Tsukihi. “O primeiro requisito da justiça não é estar certo, mas é ser forte. É por isso que a justiça sempre prevalece. Já era a hora de vocês perceberem isso. Senão, vocês nunca vão deixar de ser defensoras da justiça de faz de conta.”
Farsantes.
Eu saí sem esperar pela resposta delas, indo para o corredor e fechando a porta.
A Hanekawa estava lá, esperando. Como se ela não tivesse mais nada para fazer. Mas ela também parecia estar se divertindo.
“Eu sei que não deveria dizer isso,” ela disse com um sorriso fraco, “mas te ver com as suas irmãs é divertido.”
“Dá um tempo…”
“Eu acho que elas são boas meninas.”
“Eu acho que elas são irritantes.”
Eu levei a Hanekawa ao meu quarto. Diferente da Kanbaru, ele era bem arrumado, então eu estava preparado para visitas inesperadas.
“Você pode se sentar na cama,” eu ofereci.
“Eu não sei se esse é o melhor lugar para pedir para uma garota se sentar.”
“Hein? Por que não?”
A Sengoku tinha me pedido pra sentar na cama. Na verdade, ela disse que eu só podia sentar lá. Relembrando esse momento, eu sentei numa cadeira.
“Falando nisso, Hanekawa, por que você está de uniforme no meio da noite?” Sim ela estava de uniforme. Eu queria tocar no assunto mas não tive a chance. “Eu sei que você usa o uniforme até nas férias, mas… Você ao menos tem roupas normais? Eu acho que nunca te vi com roupas casuais?”
“Você já me viu de pijama.”
“Isso não conta.”
Se quiséssemos ser rigorosos, eu já vi ela de roupa de baixo, mas isso também não conta. O que eu queria ver era a Hanekawa usando uma roupa casual que ela mesma escolheu! Será que algum dia ela vai realizar esse desejo?!
“Hoje foi só coincidência mesmo, na verdade… Foi assim que eu estava vestida quando eu me encontrei com elas ao anoitecer. Talvez eu devesse começar por lá?”
“Por favor.”
“Isso é meio refrescante de se ver…”
“Hm?”
“Sabe, o jeito que você se preocupa com as suas irmãs, comparado com o jeito que você se preocupa comigo, ou com a Senjougahara, a Mayoi, a Kanbaru ou a Sengoku, parece ser diferente. Eu não sei explicar bem, mas ele parece mais desesperado.”
“Desesperado.”
“Você é como se fosse uma pessoa diferente quando se trata da Karen-chan e da Tsukihi-chan,” a Hanekawa se referiu às minhas irmãs com esse honorífico, rindo. “Você foi bem duro com elas agora há pouco. Elas estão certas, mas não são fortes? Será que você não estava falando de si mesmo?”
“Eu odeio pessoas iguais a mim?”
“Não que eu ache que você queria ouvir isso. Mas eu acho que é assim que eu descreveria. Só ‘autodesprezo’ talvez?”
Eu suspirei em resposta. Porque esse era o jeito que as pessoas me viam, e também porque era verdade. Esse foi um suspiro complicado.
Justiceiro. A Senjougahara me chamou disso.
“Hanekawa, você só conhece as minhas irmãs há um mês mais ou menos, então eu não te culpo, mas eu vivi com a Karen-chan por quinze anos, e com a Tsukihi-chan por catorze. Depois de todo esse tempo, eu posso te dizer que…”
“Pfft… Ha ha.”
Eu só estava terminando o começo da minha explicação, mas então a Hanekawa achou que algo era tão engraçado que ela rachou o bico, então eu parei antes de chegar ao meu ponto.
“H-Hanekawa?”
“Ah, eu sinto muito. Mas você acabou de chamar elas de Karen-chan e Tsukihi-chan.”
“…!”
Que erro péssimo! O que foi que eu fiz?!
Usar o “chan” no nome delas era um hábito de quando éramos crianças. É por isso que eu tento não usar o nome delas! “Altona” e “Baixinha” era o meu jeito de fazer isso!
E eu deixei escapar bem na frente da Hanekawa!
“Gah…”
“Tudo bem, Araragi-kun, isso não é grande coisa. Eu faço o mesmo de vez em quando.”
“N-não,” eu disse, “eu só estava te imitando. Eu estava tratando elas como crianças retoricamente, mas eu normalmente só chamo elas de Karen e Tsukihi…”
A Hanekawa olhou para mim com dó. Isso é tão vergonhoso…
"D-deixando isso de lado, vamos voltar ao assunto, Hanekawa, parece que temos pouco tempo.”
“Sem problemas,” ela concordou.
Para! A sua bondade dói!
“Continuando, eu já sei um pouco dos detalhes. Elas estavam procurando pela origem daqueles amuletos circulando entre alunos do fundamental, né?”
“Oh. Como você sabe?”
“A Sengoku me contou. Infelizmente as minhas irmãzinhas…”
“Karen-chan e Tsukihi-chan.”
“…Minhas irmãzi…”
“Você está falando da Karen-chan e da Tsukihi-chan né?”
Hanekawa, sua malvada. Talvez eu estivesse errado, e a personalidade dela realmente mudou junto com o penteado.
“A Karen-chan e a Tsukihi-chan,” eu disse depois de ceder, “são como celebridades entre as outras crianças. A Sengoku normalmente ouve histórias sobre as coisas que elas fazem.”
“Hmph, entendi.” A Hanekawa parece ter acreditado. “Falando nisso, a Sengoku foi vítima de um desses amuletos, não é mesmo?”
“Na verdade, ela foi a única.”
“Não, ela só foi a que mais sofreu… Na verdade aqueles amuletos tem todos os tipos de efeitos negativos.”
“Todos os tipos?”
“Principalmente se tratando de relacionamentos interpessoais”
………
É mesmo. No caso da Sengoku, ela também não foi a única vítima. Alguns relacionamentos envolvendo ela também sofreram.
“Pelo que eu descobri,” a Hanekawa disse, “esses tais amuletos só são populares porque o uso malicioso é claro. A ideia de que eles foram espalhados intencionalmente parece ter sido um chute, mas não estava tão longe da realidade.”
Ela também disse que se não fosse pelas férias de verão, ela não teria conseguido investigar. É verdade, essas férias estendidas seriam o único momento para fazer isso.
“Falando nisso, quando foi que você começou a trabalhar com elas?” eu perguntei.
“Eu não chegaria ao ponto de dizer que estava trabalhando com elas. Eu só dei uma mãozinha de vez em quando. Mas em se tratando de tempo, eu diria que desde o começo das férias.”
“Huh, então…” Eu ainda não perguntei aquilo que eu queria saber. “Você ajudou elas. Então você deve ter localizado o culpado.”
Em outras palavras… Quando o celular da Karen tocou naquela hora, quem ligou foi a própria Tsubasa Hanekawa. É por isso que a minha irmãzinha priorizou a ligação.
“Me machuca quando você faz isso parecer minha culpa,” a Hanekawa disse.
Ela realmente parecia estar dolorida.
Eu não queria causar mais dor, mas eu tinha que dizer isso. “Sabe, o Oshino desconfiava um pouco desse seu lado. Você é competente demais e sempre chega em uma resposta…”
Isso tinha me salvado. Mas o oposto também era verdade. Por exemplo, ela não conseguiu se salvar. A competência dela tinha a atrapalhado.
“É verdade,” a Hanekawa não negou. Ela concordou com um leve sorriso. “Mas eu não podia fazer um trabalho mal feito.”
“Certo. Assim como a Karen-chan, a Tsukihi-chan, e eu…”
Bem, já era tarde demais.
“Assim como a Karen-chan, a Tsukihi-chan, e eu tivemos que aceitar nossas fraquezas, você teve que aceitar sua força.”
Assim como os farsantes tem que admitir que são falsos, as pessoas legítimas tem que admitir que são de verdade. É sério, não é como se pudéssemos nos abandonar a nós mesmos.
“Então,” eu perguntei, “a Karen localizou o ‘culpado’, foi negociar e aí algo aconteceu com ela?”
“Exatamente. Eu estava agindo por conta própria naquela hora e demorei para chegar até lá, então eu nunca vi o ‘culpado’ em pessoa… Se eu tivesse me juntado a elas, talvez eu pudesse ter ajudado.”
“A Karen falou algo sobre a aparência do ‘culpado’?”
“Vejamos…” a Hanekawa se mexeu e a cama rangeu um pouco. “O nome dele era Kaiki Deishuu e ele era meio sinistro, aparentemente.”
Notas de tradução
¹ Tsubasa significa asa. Hanekawa tem um kanji que significa pena → 羽(hane)
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Nisemonogatari, Livro 1
010
Depois que eu acordei, eu estava preso.
Nas ruínas do cursinho, no quarto andar. Algemado pelas costas.
Depois de conversar com a Senjougahara, eu descobri que não fiquei inconsciente por muito tempo, no máximo algumas horas. Isso significa que eu acordei no fim da noite de 29 de julho, ou no começo do dia 30.
Hmm.
Minhas memórias podem ter sido interrompidas, mas eu consegui entender o que aconteceu depois. Essa deve ter sido a parte em que a Senjougahara me derrubou.
Vinte pancadas. Vinte, pelo amor de Deus.
Eu aposto que a primeira já tinha me derrubado.
Já que a Senjougahara não tinha habilidades de combate desarmado, é provável que ela usou um objeto contundente. Tudo o que eu sei é que ela atacou sem nem pensar duas vezes. A palavra “hesitação” provavelmente nem existia no vocabulário dela.
Bem, essa era a mulher que teve que passar pelo inferno para se proteger, e ela deve ter tido mais dificuldades para me arrastar até aqui do que para me derrubar, ou foi assim que eu pensei.
“Pelo menos eu lembrei como fui sequestrado.” A Senjougahara estava parada na minha frente como se nada tivesse acontecido, então eu perguntei, “Mas eu ainda não entendi: Por quê você me sequestrou?”
“Hein? Do que você tá falando?”
“Quem você está tentando enganar?!”
Ninguém! Que loucura era essa?
Mas, os meus gritos não foram ouvidos. A Senjougahara simplesmente começou a abrir o pacote de fraldas. Eu senti o meu sangue esfriando.
Considerando o que eu me lembro, eu consegui entender a situação.
“Aquele cara, o Kaiki…” eu disse, prestando atenção para qualquer sinal de mudança na expressão perpetuamente vazia dela. “Você conhece ele não é mesmo?”
“Aliás, Araragi, você quer chá? Você não gostava daquele chá preto com nome que parecia com um festival de Kansai?”
“Se você está tentando me distrair, é melhor se esforçar mais. Você não trouxe xícaras, ou uma chaleira, ou água quente e nem chá!"
E o nome dele é Darjeeling! O festival é Danjiri!
E tente preparar só uma piada de cada vez, e não três!
“Eu pensei que você fosse cair nessa,” ela disse, “considerando que é você.”
“O quão burro você acha que eu sou.”
“Burro o suficiente para achar que ‘amenidade’ é uma marca de chá.”
“Sabe, até os absurdos tem limite!”
“Isso não foi sobre burrice, mas sim sobre ser um bocó,” ela disse. Sua expressão não mudou. “Eu gostaria que você não perguntasse o motivo.”
“Se fosse melhor assim, eu não perguntaria. Mas eu acho que esse não é o caso. Afinal você teve que chegar a esse ponto.” Para me proteger. Ela me sequestrou para me proteger. “Se você fez isso, deve ter sido algo sério.”
“Você tem certeza? Mesmo sem ter um motivo, desde que eu tivesse uma desculpa, sequestrar o meu namorado parece o tipo de coisa que eu faria…”
“…”
Certo, eu percebi isso durante a nossa conversa. Mas se eu concordasse agora nós não chegaríamos a lugar nenhum.
“ Kaiki Deishuu,” a Senjougahara disse, desviando o olhar. “Esse é o nome daquele homem. Deishuu como em ‘barco de lama’¹. Kaiki não é um nome comum, e como você disse que ele parecia sinistro, eu sabia que era ele. Eu não acredito que haja outro homem que se encaixa melhor nessa descrição.”
“…”
“Sim, assim como você não sabe de nada.”
Ei. Ela realmente tinha que mudar de assunto só para me ofender? Ela realmente não sabia ler o clima da sala. Que mulher assustadora.
“Eu não acredito que ele voltou para essa cidade,” ela continuou. “Que coisa estranha. Eu não acredito que nem considerei essa possibilidade.”
“Mas quem é ele? É estranho ver você desconfiando tanto de alguém.”
"Sério? Mas eu desconfio de quase todo mundo.”
"Se você continuar transformando fato em novela, essa conversa não vai pra lugar nenhum.”
"Transforme o dinheiro do César em meu fato.”
"Isso seria roubo!”
“De fato. E o Kaiki é um vigarista.”
A língua afiada da Senjougahara continuava a mesma. Não, na verdade ela parecia estar mais afiada ainda. O que está acontecendo? Ah, é mesmo… Ela estava tendo dificuldades para encarar essa situação. Ela deve estar tentando discutir algo que ela não conseguia tolerar.
“Araragi, você se lembra de como você e o Oshino-san tinham resolvido o meu problema?”
“Sim.”
Na verdade, “resolver” não foi bem o que fizemos, mas se ela usou essa palavra, então tudo bem. Eu só corrigiria ela em outro ponto: Nem o Oshino e nem eu fomos os responsáveis por resolver o problema, quem fez isso foi a própria Senjougahara.
“Eu te disse, não é mesmo? Antes de me apresentar para o Oshino-san, eu tinha conhecido cinco farsantes.”
─Até agora, cinco pessoas já falaram coisas parecidas para mim.
─Todos eram farsantes.
─Você também é um, Oshino-san?
Quando ela viu o Oshino pela primeira vez, ela tinha dito isso para ele.
Cinco farsantes.
“O Kaiki era um deles, o primeiro.
“…”
Agora eu entendi. É por isso que o Kaiki me lembrava do Oshino e do Guillotine Cutter.
O problema da Senjougahara envolvia um caranguejo.
O problema dela era uma monstruosidade.
Meme Oshino e Guillotine Cutter tinham posições e pontos de vista diferentes, e também, o Oshino lidava com monstruosidades de todos os tipos, enquanto o Gullotine Cutter era uma autoridade em se tratando de vampiros, mas ambos eram especialistas.
Aparentemente, o Kaiki também era um. Não importando se ele fosse legítimo ou uma fraude.
“Ele é uma fraude,” declarou a Senjougahara. “Mas ele é uma fraude de primeira. Aquele homem trouxe tragédia para a minha família toda. Ele se aproximou de nós, roubou todo o nosso dinheiro e desapareceu sem ter feito nada.”
Eu me lembrei do homem de aparência sinistra, e de seu terno, que dava a impressão de que ele estava de luto. Kaiki, Kaiki Deishuu.
"Como ele foi o primeiro, eu tinha elevado minhas esperanças,” a Senjougahara disse. "Então, vê-las sendo destruídas, quebrou a minha alma, mas isso é trivial.”
“E qual seria a parte que não é trivial?”
“Eu,” ela respondeu sem hesitar. “Não quero que você se envolva com aquele homem, é só isso.”
“…”
"Eu me recuso a ser roubada, a ter que abandonar algo que eu valorizo. É por isso que…” Ela pausou solenemente. “É por isso que eu vou te proteger, Araragi.”
Ela falou como se estivesse fazendo uma promessa para si mesma. Eu fiquei sem conseguir falar. Não porque ela me convenceu, e nem porque eu não entendi o que ela disse. Eu senti como se o argumento dela tivesse algumas partes faltando, ou como se ela tivesse omitido informações.
Mas de qualquer forma, a Senjougahara teve que abandonar algo precioso muito tempo atrás, e aquela experiência marcou ela. De forma intensa.
Marcou ela, e a feriu.
Ela, que não sabia nada sobre hesitação, e portanto arrependimento, provavelmente viu aquilo como uma mancha em sua história. E é por isso que ela estava agindo assim, pelo meu bem.
"Aquele cara… o Kaiki, é tão problemático assim?” Eu perguntei. "Por que você não quer que eu me envolva com ele?”
“Ele… Ele é perigoso demais para você, Justiceiro.”
"Justiceiro…”
O que isso significa? É como se eu estivesse trabalhando com as Fire Sisters.
"No mínimo,” a Senjougahara disse, “até que eu saiba o que o Kaiki está planejando, por que ele voltou para essa cidade, você tem que ser um bom menino e ficar aqui. Na verdade, mesmo se ele estiver aqui sem motivo, ate que ele vá embora, você vai ficar aqui.”
“E se o Kaiki se mudar para cá?”
"Nesse caso…” Aparentemente ela não tinha considerado essa possibilidade, então ela parou antes de dizer: "Você vai ter que morar aqui para sempre.”
Caramba, que exagero.
"Gahara-san…”
“Ou,” ela continuou, com uma voz extremamente calma, "eu vou matar ele.”
“Não…” ficar falando qualquer coisa não adianta.
"Tudo bem… Então que tal eu 'furar o bilhete dele?’”
"Furar o bilhete?!²” Uma frase mais leve também não melhora nada! Isso não adiantou! "Mas de qualquer forma, que tipo de homem o Kaiki é…”
Essa conversa estava ficando violenta demais, então eu tentei conseguir mais informações, até que…
Foi aí que o meu celular tocou no bolso da minha calça. Foi o som de mensagem de texo.
"Eu posso ver quem é?”
A Senjougahara pausou por um momento, e então, sem falar nada ela colocou a mão no meu bolso e começou a mexer lá dentro.
"Espera aí! Você tá mexendo demais! O que você tá querendo encontrar?!”
“O celular está lá no fundo, então ele é difícil de pegar.”
"Meus bolsos não são tão fundos.”
"Certo, ele são rasos que nem a sua vida.”
"Será que você não consegue parar de me insultar?!”
Depois desse insulto, ela conseguiu pegar o celular.
Ela segurou ele na frente do meu rosto.
É claro que eu não conseguiria ler a mensagem sem apertar alguns botões, mas eu consegui ver quem mandou a mensagem, e o assunto, e isso foi o suficiente.
"De: Irmãzinha / Assunto: Ajuda!”
Clink.
Nesse momento as correntes da algema se quebraram.
E então eu me levantei.
"Araragi…”
Até a Senjougahara parecia estar surpresa, mas mesmo assim, sua compostura mental era impecável e ela não entrou em pânico. Ela só ficou olhando para mim.
"Onde você pensa que vai?” Ela perguntou.
"Alguma coisa aconteceu. Chega de ficar brincando. Eu tenho que ir pra casa.”
"Você acha mesmo que eu vou deixar?”
"Eu vou ir. É a minha casa.”
E a minha família.
"Eu espero que você saiba…” A Senjougahara disse, "que eu não sou covarde ao ponto de desistir só porque eu estou enfrentando um vampiro, e eu também não sou bondosa ao ponto de desistir só porque eu estou enfrentando meu namorado.”
"Eu sei, e é por isso que eu te amo.”
“Heh,” a Senjougahara riu. Quase como se estivesse se divertindo. Quase como se ela não conseguisse ser feliz sem ter alguém para conversar. "Se quiser passar, você terá que me derrotar primeiro. Você acha que é capaz?”
"Eu sou e eu vou. Essa frase só funciona quando a pessoa está fazendo a pose de caranguejo de cabeça para baixo. Você disse que queria me proteger, e eu agradeço, mas também tenho coisas para proteger.”
Você não é a única que já perdeu algo precioso.
"Você acha mesmo que um discursinho desses vai me convencer?” ela disse.
"Por que eu tentaria fazer isso?”
“Você está me confundindo com uma mulher razoável?”
"Então por que você se apaixonou por mim?” Eu disse devolvendo o olhar dela. "Você se orgulharia de um cara amoroso que ficaria aqui sem fazer nada?”
“Opa… Super legal…” A Senjougahara murmurou de forma quase inaudível.
Ei, não volte ao normal do nada! Eu vou ficar com vergonha.
Ela acrescentou, "Se eu fosse um homem, eu diria que você é irresistível.”
“E como mulher?!”
“A resposta é a mesma."
“Ah, tudo bem…”
Um silêncio desconfortável se formou em meio a essa tensão, mas dessa vez o meu celular, que a Senjougahara ainda estava segurando tocou de novo, dessa vez para anunciar uma ligação.
"Alô, nós estamos ocupados,” a Senjougahara disse, provavelmente irritada pelo toque, e sem a minha permissão. Sua voz era impassível e ela nunca deixou de me olhar.
Eu pensei que ela fosse desligar imediatamente, mas em vez disso ela congelou. Não que a expressão dela fosse mudar por causa disso. Mas mesmo assim, ela parecia chocada.
"N-não…” a voz dela parecia fraca.
Eu não estava perto o suficiente para ouvir, mas parece que a pessoa do outro lado disse algo para ela. Eu pensei que fosse a Tsukihi…
"Essa não foi a intenção. Foi um mal entendido. Eu nunca disse isso. Sim, uh huh, verdade. Você está certa. Espera, você não precisa fazer isso. Esse não foi o nosso acordo. Não, por favor, me dê mais tempo. Entendido. Eu vou fazer exatamente o que você disser, tudo bem?”
Ela desligou.
Fechando os olhos como se tivesse desistido, ela jogou o celular para mim. Confuso, eu olhei para o rosto dela, mas como se meu olhar fosse irritante, ela disse "você pode voltar para casa.”
Eu não faço ideia do que aconteceu. Nem um pouco, mas uma coisa era clara. Ela saiu do caminho, liberando o acesso a porta.
"Eu posso? Tem certeza?”
"Pode. E Araragi… Eu… Uh…”
Com amargura e relutância, como se o que ela estava prestes a dizer fosse completamente contra a sua vontade, a Senjougahara, que normalmente falava em um tom monótono e sem flexão, teve dificuldade com as palavras.
"Eu… S-sinto… M-muito…!”
A pessoa que ligou deve ter pedido para ela se desculpar. Um pedido tão desagradável que a Senjougahara teve que morder o beiço e ela estava tremendo.
…………
Ei, se isso for tão difícil assim, a culpa não é minha…
"Gahara-san? Se você não se importar, quem foi que ligou?”
A resposta dela foi breve.
"Hanekawa.”
Notas de tradução
¹ Deishuu = 泥舟. Barco (feito) de lama também pode ser lido como 泥舟.
泥(dei) = lama
舟(shu) = barco
² Em inglês, “punch a hole in his ticket” é uma expressão que significa "matar”ou “ferir gravemente” mas também pode se referir a furar o bilhete de trem, o que é necessário para embarcar. Então a piada vem do duplo sentido da expressão porque ela quer expulsar o Kaiki da cidade.
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Nisemonogatari, Livro 1
009
Não se preocupem, eu estou quase chegando na parte mais importante da história.
Depois de nós termos terminado de jogar Hanafuda e a limpeza também, eu decidi ir embora. Já estava quase anoitecendo. A vó da Kanbaru me convidou para jantar lá (como sempre. Eu já aceitei essa oferta algumas vezes. A comida dela era excelente), mas naquele dia eu recusei com educação.
Aliás.
Durante a limpeza, eu perguntei para a Kanbaru sobre algo que estava me incomodando. Sobre como ela explicou sobre o braço esquerdo para a família dela.
“Eu disse que isso era um machucado,” ela disse. “Sabe, esse não é o tipo de coisa que eu conseguiria explicar.”
“Hmph… e eles aceitaram isso? Não é que nem o meu vampirismo. Eles só teriam que olhar pro seu braço pra perceber a verdade.”
O braço esquerdo da Kanbaru, possuído por uma monstruosidade, tinha uma forma grotesca.
“No caso da Senjougahara,” eu expliquei, “o pai dela sabia a verdade porque ela não tinha como esconder aquilo.”
“Meus avós estão preocupados, é claro. Mas aquele assunto envolvendo a minha mãe sempre fica entre nós. Eles nunca se intrometem no que eu não quero que eles saibam.”
Então foi assim.
A mãe dela… É mesmo.
O braço de macaco da Kanbaru era uma lembrança da mãe dela. Mesmo se os avós dela não soubessem disso, se eles achassem que havia algum tipo de relação, eles provavelmente não tentariam interferir.”
A não ser que eles soubessem de tudo e só estivessem fingindo o contrário. Isso era possível.
De qualquer forma.
Eu acho que isso era difícil para ela.
Deixando a sua mãe de lado, a Kanbaru admirava os seus avós. Para alguém tão honesta quanto ela, eu duvido que seria fácil ter que guardar um segredo desses.”
Mas essa responsabilidade também estava nas mãos dela.
“De qualquer forma,” ela disse, “eu só vou ter que lidar com isso por mais alguns anos.”
É mesmo.
O braço da Kanbaru vai voltar ao normal até la´.
Diferente do meu vampirismo, ela não teria que lidar com aquilo pelo resto da sua vida. Eu tenho certeza que ela conseguiria aguentar até lá. Foi isso que eu pensei enquanto eu olhava para a minha sombra, esticada pelo por do sol.
Seguindo em frente.
Quando eu subi na bicicleta e passei pelo portão de madeira da casa dela, eu vi um homem parado ali fora.
A primeira vista, eu pensei ter reconhecido ele. Mas eu nunca tinha visto aquele homem. Eu nem precisei consultar as minhas memórias.
Ele parecia ter mais de 40 anos e usava um terno preto e uma gravata igualmente preta, como se ele tivesse saído de um funeral, mas ainda estava de luto. Ele era tão obviamente suspeito, e mesmo que dizer isso seja meio vago, ele parecia ser algum tipo de personagem.
Um personagem suspeito. Verdadeiramente suspeito? Ou uma fraude?
É difícil de decidir isso só de olhar para ele.
Ele parecia não se encaixar nessa cidade, ou talvez não. Considerando tudo o que eu vi ultimamente, ele parece exatamente o tipo de pessoa que apareceria por aqui. Sim, resumindo…
Um homem duvidoso com uma aura sinistra.
E ele estava olhando para a casa da Kanbaru.
“Hm? Você mora aqui, garoto?”
Dada a distância, eu não tinha conseguido ver ele antes, é claro, e o homem de luto falou comigo assim que eu saí da casa.
Aquilo que ele disse fez com que eu me perguntasse se ele era um comerciante, mas a sua aparência dizia o contrário. Se esse fosse o caso, por que ele tinha escolhido roupas tão sinistras?
Eu não compraria nada de um personagem tão sombrio.
“Não…” eu balancei a cabeça, sem ter certeza de como reagir. Comerciante ou não, talvez ele esteja aqui para visitar os Kanbarus, e eu não queria ser rude. “Eu não… moro aqui.”
“Ah, me perdoe. Eu esqueci de me apresentar. Você é esperto por ser cauteloso com um estranho como eu. Valorize essa desconfiança. Meu nome é Kaiki.”
“Kaiki?” Essa parecia ser uma palavra para algo bizarro e misterioso, mas isso não pode estar certo.
“Isso mesmo. Kai como em kaizuka, sambaqui¹. Ki como em kareki, árvore morta.”²
Sua expressão era imutável, ele tinha uma atitude que demonstrava conhecimento e era estranhamente sombria. O homem de luto, Kaiki, me deu um olhar de lado.
Seu cabelo preto estava rígido com pomada.
Ele exalava um cheiro artificial.
Eu não conseguia ignorar a sensação de que conhecia ele.
Quem é que ele lembrava? Se isso fosse verdade, então quem?
“Eu sou o Araragi…” Já que o homem se apresentou , eu me senti obrigado a dar pelo menos o meu último nome. “Escrito com os caracteres de…”
Hmm. A-ra-ra-gi³. Os três últimos eram bem simples, mas o primeiro era difícil de explicar, mas não de escrever.
“Não se incomode,” o homem interrompeu meu raciocínio. “Esse é um nome que eu acabei ouvindo há pouco tempo,” ele disse de forma desconcertante. “O último caractere também significa árvore, não é mesmo? Enquanto eu estou murcho e seco, eu suponho que você seja uma muda.”
“…”
Ele estava falando da diferença entre as nossas idades?
A fala dele era estranhamente confusa.
Bem, não exatamente confusa, mas parecia que ele estava propositalmente falando de um jeito que só ele entenderia.
“Um,” eu disse, “se você tiver algo para fazer na casa da família Kanbaru…”
“Hmph. Você é bem educado para um jovem de hoje em dia. E você é atencioso. Interessante. De qualquer forma, essa sua gentileza está sendo desperdiçada comigo. Eu não tenho nada a fazer nessa casa.”
De qualquer forma, ele disse. Sua voz era monótona e pesada.
“Eu ouvi dizer que o legado da Gaen reside aqui. Não que eu tenha planos em mente. Eu simplesmente queria ver o lugar.”
“Gaen?”
Esse não era o nome de solteira da mãe da Kanbaru? Se esse for o caso, então o legado da Gaen é a Suruga Kanbaru?
É por isso que ele perguntou se eu morava aqui? Mas então isso significa que ele teria vindo para cá sem nem saber se a Kanbaru era menino ou menina.
“Mas parece que eu acabei perdendo meu tempo,” o Kaiki disse isso como se tivesse terminado algum tipo de avaliação. “A aura é quase indetectável. Talvez ela tenha se reduzido para apenas um terço. Considerando essas circunstâncias, eu não vejo problema em ignorar isso, na verdade eu preciso. Não tem dinheiro envolvido, infelizmente. A lição a ser aprendida com esse caso, é que as vezes, a verdade é trivial mesmo quando ela é esperada.”
E assim…
Sem ter resolvido nada, não que ele tivesse algo para resolver, ele se virou e saiu andando rapidamente, em uma velocidade alarmante mesmo estando a pé.
“Umm…”
Já eu, por outro lado, só conseguia ficar parado. Não que eu não quisesse me mexer. Foi mais como se eu estivesse relutante.
Só depois que o Kaiki sumiu, eu consegui me lembrar. Ou melhor, em vez de me lembrar…
Eu fiz uma associação.
Com aquele homem desagradável de camisa florida.
O Meme Oshino me veio à mente.
Especialista em monstruosidades Meme Oshino.
Um homem que morou nessa cidade por alguns meses e depois sumiu.
“Mas ele não era que nem aquele preguiçoso do Oshino.”
Se eu tivesse que dizer, eu consegui me lembrar de outra pessoa.
Sua figura amaldiçoada ressurgiu no fundo da minha mente.
O homem a quem o Kaiki lembrava era aquele fanático…
“Guillotine Cutter…”
Esse era um nome que eu não queria lembrar, e que eu não podia esquecer.
“Bem, o Oshino e o Guillotine Cutter eram tão diferentes quanto a noite e o dia…”
Eles não tinham quase nada em comum, o Kaiki também estava incluso nessa comparação. De fato, é até estranho que ele me lembrou do Oshino e do Guillotine Cutter.
“Eu deveria segui-lo?
Seguir ele para falar mais um pouco?
Eu comecei a pedalar, mas o guidão foi na direção oposta. Era como se minha boca dissesse uma coisa e meu coração outra.
Foi como ver alguém diferente no meu corpo, mas eu estava pedalando por conta própria, e eu estava fugindo.
Esse era só um palpite… Mas aquele cara parece ruim.
Aquelas roupas de luto, tão sombrias. Mas tinha algo além disso.
Ele parecia ser… Sinistro.
Como um mau presságio.
“De qualquer forma, eu estou indo pro lado errado…”
Eu tinha terminado a limpeza do quarto da Kanbaru, e estava pensando em ir direto pra casa, mas o lado para onde eu estava indo me levaria à um grande desvio. Não tinha nenhuma parada no caminho, até mesmo a livraria ficava pro outro lado. Mas ei, por que não dar um passeio de bicicleta?
Hmm…
Talvez eu devesse avisar a Kanbaru sobre aquele cara? Considerando o que ele disse no final, ele provavelmente não vai voltar para cá. E uma denúncia mal feita de pessoa suspeita só deixaria ela mais ansiosa.
Mesmo assim, era melhor não me arriscar.
Afinal a Kanbaru era uma menina. Ela parecia ainda mais feminina agora.
Pronto, eu decidi que ligaria para a polícia ao chegar em casa.
Eu estava empurrando a minha bicicleta para subir um morro, quando eu vi alguém descendo por ali.
A saia dela era longa o suficiente para alcançar os tornozelos, ela estava usando um suéter de verão com mangas longas e seu cabelo estava amarrado na nuca. Seu rosto não demonstrava emoção, mas ela também parecia irritada. É claro que eu não preciso descrevê-la em tantos detalhes.
Hitagi Senjougahara.
Minha namorada.
“Eu estou encontrando todo mundo que eu conheço hoje…”
Esse era o último episódio ou algo do tipo?
Os encontros com a Hachikuji eram coincidência, e o fato de que eu pensei em visitar a Sengoku e a Kanbaru também foi por acaso. E agora, aqui estava a Senjougahara. O que está acontecendo hoje?
Será que a Hanekawa cancelando aquele compromisso foi um evento tão importante que todos esses encontros eram necessários para compensar por aquilo?
Se esse for o caso, ela tinha uma presença bem marcante.
Mas eu parecia ser um cara que foi pulando de mulher em mulher… o que não era muito louvável.
“Ei, Senjougahara.” Já que ela parecia não ter me percebido, eu chamei o nome dela e acenei.
O olhar dela era ruim, mas ela enxergava muito bem.
Ela deve ter me ouvido, porque ela ergueu a cabeça e olhou na minha direção, antes de simplesmente fazer uma curva e sumir.
“Quê… Ei, ei, ei!” Eu comecei a pedalar em velocidade máxima para seguir ela. “Você tá ferindo meus sentimentos!”
Eu pedalei até ultrapassá-la, parei e bloqueei o caminho.
Ela me deu um olhar tão gelado que eu senti nos o frio nos meus ossos. Qualquer pessoa que consegue produzir frio sem nem falar nada tinha que ser um feiticeiro de alto nível.
“S-Senjougahara…”
“Eu não conheço nenhum homem que ficaria aqui fora em vez de estudar.”
“Ah, uh…” Ela estava brava, com certeza. “V-você não entende.”
“Silêncio. Eu entendi tudo. Na verdade, eu entendi até demais. Pular uma das minhas aula é uma coisa, mas uma da Hanekawa? Isso é triste. Estou decepcionada. Não, eu retiro isso. Eu nunca tive tanta fé em você.”
“Não, não, a Hanekawa estava ocupada, então ela me deu um dia de folga.”
“Patético, eu me cansei de ouvir essas desculpinhas.” Ela me interrompeu.
Na verdade eu acho que nunca fiz tantas desculpas em se tratando de estudar.
“No fim,” ela me acusou “você não é um homem de palavra. Minha maior vergonha nessa vida foi ter deixado um lixo como você roubar meu coração.”
“Caramba, calma aí. Se eu fosse qualquer outra pessoa, eu teria ficado com vontade de pular da ponte…”
“Hmph, seu verme,” ela disse, erguendo o queixo como se quisesse olhar de cima. Ela se virou e voltou ao caminho da descida. Ela só entrou nesse beco para me evitar.
Não é como se eu pudesse deixá-la para trás, então eu segui ela de novo.
“Gahara-san! Gahara-san!”
“O que foi, Churaragi?”
“Será que você pode parar de fazer o meu nome parecer uma gíria de Okinawa? Meu nome é Araragi e essa é a piada da Hachikuji.”
“Foi mal, eu cometi uma gafe.”
“Não, você fez de propósito...”
“Uma gafe e você vai quebrar o pescoço.”
“Foi de propósito mesmo!”
Ela nem se virou. Ela estava realmente irritada.
Honestamente, eu não acho que ela duvidava do fato de que a Hanekawa cancelou a aula. É só que depois de ficar brava, ela tinha dificuldade para se acalmar.
Ela era difícil assim.
Quando a Tsukihi ficava histérica, ela se acalmava bem rápido. Mas com a Senjougahara, as coisas eram mais complicadas.
“Sabe, Senjougahara…”
“Ugh, tem um cara esquisito me seguindo?”
“Quem você tá chamando de esquisito?”
“Ugh, tem um anão esquisito me seguindo.
“Você me chamou de anão?!”
Droga, eles vão descobrir a minha altura! Depois de tudo o que eu tentei pra esconder ela!
“Quem liga?” Ela disse. “Quando eles fizerem a adaptação em anime todo mundo vai ver que você é mais baixo do que eu.”
“Eu sou contra o anime! E se eles estragarem o material original!”
Bem, era só por alguns centímetros, mas a Senjougahara estava falando a verdade. Nesse caso, ela era alta para uma menina. Porém nem tanto quanto a Karen…
“Será que tudo precisa ser adaptado?” Eu reclamei. “Eles acham que qualquer livro vai vender mais se tiver ‘Agora tem um anime’ escrito na capa, e eu odeio essa tendência. Numa era dessas, eu quero ver um anime original que não é baseado em nada!”
Já fazia um tempo desde que eu fiquei tão irritado.
Os caras altos nesse mundo nunca vão entender!
Como é pedir pelos de sola grossa toda vez que você compra sapatos!
“Talvez você esteja se preocupando por nada,” a Senjougahara disse. “No anime eles vão cortar o seu personagem.”
“O protagonista?!”
“Sim, se isso aqui fosse Galaxy Angel, você seria o Tact Meyers.”⁴
“Não, eu quero um tratamento melhor”
“Tudo bem , eu acho que você combinaria com o papel da Chitose Torimaru.⁵”
“Se for assim, eu prefiro nem aparecer. Será que eu posso ser pelo menos o Normand⁶?”
“Oh? Eu não sabia que você gostava tanto de carne enlatada.”
“Não foi isso que eu quis dizer!”
Ela tinha algum tipo de autoridade? Ela era algum tipo de diva que controlava as escolhas do elenco? Que medo.
“Se acalma Araragi, para de ficar gritando. Quando Deus fecha uma porta, ele também quebra uma janela.”
“Isso era pra ser positivo?!”
“Não se preocupe. Você pode ter sido cortado, mas eles criaram um mascote legal para te substituir.”
“Isso é claramente um esquema pra vender mercadoria!”
“Além do mais, você não é o protagonista. Quem você pensa que é?”
“Urk…” É mesmo, eu tinha esquecido. Eu sou só o personagem central.
“Você não é o protagonista, você só tem um papel importante.”
“Que atributo!”
A Senjougahara estava andando rápido, mas eu estava em uma bicicleta então eu conseguia acompanhar ela sem problemas. Eu pensei em parar na frente dela de novo, mas em vez de fazer isso, eu só continuei seguindo.
“Tudo bem,” eu disse, “não tem problema se eu não precisar aparecer… Afinal, você vai estar dançando com uma expressão vazia enquanto eu fico olhando de fora da tela.”
“Hein? Você não vai me ver dançando.”
“…”
“Por que eu teria que me fazer de boba assim?”
“……”
Legal!
Super legal, Hitagi-san!
“Eu é que vou ver todo mundo dançar,” ela afirmou. “E depois que todo mundo acabar, durante a última imagem do episódio, eu vou dizer ‘Não dancem na estação!’”
“Caramba, eu sei que isso veio de uma propaganda do café ‘Georgia’, mas quantas pessoas vão entender essa referência hoje em dia?!”
“Seria decepcionante se eles simplesmente dançassem depois de tanta preparação.”
“Não dá pra te agradar!” Que gananciosa. “Caramba, às vezes eu não consigo te entender… Esquece, eu te entendo muito bem.”
“Você está insinuando que tem algum problema com a conduta de Hitagi Senjougahara, também conhecida como ‘uma fonte naturalmente amigável de gás tóxico’?”
“Que slogan terrível!”
“Então talvez ‘anormalmente amigável’ seja melhor.”
“Melhor pra quem?!” E desde quando ela era amigável, naturalmente ou não?
“Só não me entenda errado. Na verdade eu odeio a escória da humanidade como você, Araragi.”
“Você tem certeza que não está só abusando do seu rótulo de tsundere e mostrando sua alma?”
“Dizem que uma mulher encontra a felicidade ao ficar não com o homem que ela ama, mas com um homem que ninguém ama.”
“Esse ditado não é assim.”
E, um homem que ninguém ama? Como ela saberia?!
“Eu estava brincando,” ela disse.
“Tudo bem, desde que seja uma piada mesmo…”
“Você é tão popular e amado pelas mulheres.”
“…”
Sarcasmo? Uma referência ao inexistente Harém Araragi?
“Hum hum hum…” a Senjougahara cantarolou de forma falsa e sem emoção. Ela esticou um braço para perto da minha cabeça e a segurou com força. Aproximando seu rosto sem expressão, ela olhou nos meus olhos.
Encaaara, ela até fez um efeito sonoro com a boa. Então ela disse…
“Foram três… não, cinco?”
“O quê?”
“O número de mulheres que você viu hoje.”
“……nkk!”
Desde quando ela tinha Percepção extrassensorial?
Hachikuji, Sengoku, Kanbaru… Três, ela acertou. Ah e ela incluiu a Tsukihi e a Karen.
Incrível!
“Se eu quiser ser rigorosa, então são… seis?” a Senjougahara perguntou, inclinando a cabeça. Aparentemente a vó da Kanbaru também contava. Isso não é ser rigorosa, mas sim draconiana. “Com base nessa estimativa, eu posso repetir: Você é tão popular e amado pelas mulheres.”
“…”
A sua expressão vazia me assusta, entendeu?
As pupilas dela estavam dilatadas?
“Heheh.” A Senjougahara finalmente soltou a minha cabeça, e antes que eu pudesse piscar, ela enfiou a mesma mão na minha boca.
Todos os quatro dedos, menos o polegar estavam lá dentro.
“Relaxa, Araragi. Acredite ou não, eu sou muito mente aberta quando se trata de pular cerca.”
“M-mão estou pulando mecca?” Eu tinha esquecido como falar direito. “O mais maior que eu fato é salto trigo.” Eu tentei fazer uma piadinha, mas isso acabou dando errado.
“Sim, você vai ficar praticando salto triplo eternamente para pular por cima de uma montanha de amor…”
“Não roube a minha piada!” Eu nem precisei de ajuda, mas o choque da situação foi o suficiente para concertar a minha fala.
“Então será que era uma pilha em vez de uma montanha? Porque você está empilhando as suas mulheres.”
“Isso aí já é exagero,” eu disse. Eu nunca usaria aquela palavra nesse contexto. Que sessão de estudos cansativa…
“Mas a verdade é que você é cercado por mulheres,” a Senjougahara afirmou.
“É mesmo? Eu não acho.”
“Você diz isso, mas todos os contatos no seu celular tem nome de mulher.”
“Não fica mexendo no celular dos outros sem permissão!”
Parando para pensar… A Kanbaru tinha dito algo parecido.
Esse era algum tipo de consenso? Que triste.
“Mas eu acho que é inevitável,” ela lamentou. “A sua caracterização envolve ser gentil com as meninas e frio com os meninos.”
“Para com isso! Para de falar besteiras que vão destruir a minha reputação!”
Isso era difamação! Calúnia!
“Eu aposto que se um homem estivesse em perigo, Araragi, você diria, ‘Caramba, isso parece difícil, eu espero que você dê um jeito de resolver tudo,’ e continuaria indo para casa.”
“Boatos e mentiras!”
“E se ele começasse a implorar pela sua ajuda, você diria, ‘Uhhm, eu acho que vou ignorar isso’.”
“Eu não ignoraria um pedido de ajuda!”
“Acredite ou não, eu sou muito mente aberta quando se trata de pular cerca.”
Assustadoramente, antes que eu conseguisse me livrar daquela difamação, ela simplesmente se repetiu para que a conversa voltasse ao rumo anterior. O que ela estava tentando fazer com a minha imagem? E se as pessoas acreditassem naquilo?
“Então,” ela continuou, “você está livre para sair com quem quiser e como quiser, mas se as coisas ficarem minimamente sérias, você vai morrer.”
“…”
Caramba, ela não parecia estar brincando, nem um pouco.
Eu entendi a seriedade dela.
Mas não o motivo.
“Não se preocupe,” ela disse. “Eu vou te dar um tempo para escrever o seu testamento.”
“Não era isso que estava me incomodando!”
“Bem vindo ao Cantinho da Contagem Regressiva da Hitagi… Faltam quatro segundos.”
“Como é que eu vou escrever um testamento em quatro segundos?”
“Isso é um tempo normal.”
“Os seus padrões são rígidos demais!”
“Se acalme, Araragi, você não vai morrer sozinho, a sua amante também será morta logo depois.”
“Será que dá pra parar de querer matar os outros?!”
“Eu também vou mandar a Kanbaru junto para você não se sentir solitário no pós vida.”
“O que você acha que ela é?”
“Uma kouhai flexível?”
“Isso aí é maldade!”
“Então ela é uma oferenda para Koyomi Araragi.”
“Ela vai ser sacrificada?!”
“Por que não? O termo usado para isso é hitomigoku, que rima com Son Goku, o rei macaco. Então é perfeito para a Kanbaru, que é uma macaca.”
“Você sabe que só o braço esquerdo dela é uma pata de macaco né?”
“Eu estou brincando. Ela é uma pessoa querida para mim. Além do mais…” A Senjougahara finalmente tirou os dedos da minha boca. “Eu não acredito na vida após a morte.”
“Entendi…” Ela nem precisava ter dito isso, eu não achava que ela acreditasse mesmo.
“Araragi, eu só quero que você saiba os riscos de me namorar.”
“Eu já sei…” Eu concordei, mas eu nem precisava desse lembrete. Os riscos estavam bem ali. A Senjougahara era um grande espinho de uma rosa. “De qualquer forma, eu não vou te trair.”
“É mesmo,” ela disse rapidamente. Ela não demonstrou emoção, mas adicionou, “Então tudo bem. Desde que você se lembre de quem é a sua namorada, eu vou ficar bem.” Algo nessas palavras parecia demonstrar fraqueza. Isso era raro para ela. Mas também era típico. “Do meu próprio jeito, eu me esforço para ser sua namorada, e se possível, eu quero que você faça o mesmo.”
“Esforço…”
Quando foi mesmo? A Hachikuji não tinha tocado no assunto? Manter uma relação é uma questão de esforço. E sobre como isso não era insincero, mas era baseado em confiança.
“Eu vou tentar também,” eu respondi com firmeza, como se estivesse fazendo uma promessa. “Eu nunca me esqueci de quem é a minha namorada.”
“Tudo bem.”
Minhas palavras fizeram ela dar mais uma resposta rápida. Isso é tudo. Talvez ela tivesse ficado satisfeita.
“Aliás, Araragi, tem mais uma coisa que eu quero dizer.”
“Vá em frente.” “Como uma garota, é gratificante ter um namorado que é popular com as outras mulheres.”
“ Seria melhor se você guardasse isso para si mesma!.”
Mesmo agora, a expressão dela não demonstrava nada. Ela tinha um controle inacreditável sobre os seus músculos faciais.
Parece que a conversa tinha acabado, então eu resolvi perguntar, “Você estava indo para algum lugar?”
“Eu estava voltando para casa depois de fazer compras. Você não conseguiu perceber isso só de me olhar? É por isso que eu odeio seres invertebrados.”
“Eu tenho um sistema nervoso desenvolvido!”
Além do mais, como eu saberia só de olhar? Ela não estava carregando nenhuma sacola.
“Pode subir na garupa,” eu disse. “Eu te levo pra casa.”
“Garupa?”
“Da bicicleta.”
“Ahh… Você está falando dessa besta mecânica.”
“Onde é que você foi criada mesmo?”
“Muito obrigada, mas não. A minha saia ficaria presa nas rodas.” É verdade, além de ser bem longa, a saia dela era folgada e esvoaçante. “Ou esse é um pedido sútil para que eu tire ela em público?”
“Não!”
Falando nisso, ela basicamente só usava saias longas, seja no uniforme da escola, ou nas roupas do dia-a-dia. Quando ela colocava algo mais curto como um culotte, ela sempre vestia meias-calças.
Ela se recusava a mostrar as pernas. Eu acho que dá para dizer que ela estava sendo casta? Sim, considerando o que ela passou, isso fazia sentido. Mas…
“Araragi.” Tendo liberado raiva o suficiente, e se sentido satisfeita, eu acho, a Senjogahara estava preparada para mudar de assunto. Seu tom de voz ainda era frio e sem emoção, como sempre. “Deixando os estudos para o vestibular de lado, o festival cultural acabou e nós estamos de férias. Você não acha que o ensino médio vai acabar logo?”
“Hm? Eu acho que você está certa.” A verdade é que eu andei tão focado nos estudos que eu nem parei pra pensar nisso, mas agora que ela falou nisso, a formatura estava se aproximando mesmo. “Pelo menos, até lá eu vou ter alcançado os requisitos de presença. Eu provavelmente não vou ter que repetir de ano.”
“Que pena, isso seria engraçado.”
“Eu não vejo a graça!”
“Abandonar uma piada tão boa depois de tantos anos no ar.”
“Nós estamos no colegial e não num programa de variedades!”
“Quando eu penso nas minhas memórias do ensino médio…” Ela ergueu o queixo como se fosse se lembrar de algo por alguns momentos antes de chegar a uma conclusão, “O ponto alto foi o hockey de borracha.”
“Você só começou a jogar isso no ensino médio?”
“Você está me insultando, Araragi. Caso você não saiba, eu costumava ser a Rainha do Hockey de Borracha.”
“Esse título não é meio insultante para uma menina do colegial?!”
“Eu praticava sozinha depois da escola por horas, e minha técnica era invencível.”
“Por favor para, isso é deprimente demais!”
“É claro que, como eu não tinha ninguém para jogar comigo, eu nunca tive uma partida de verdade.”
“Se você continuar assim, eu vou acabar chorando!”
“Cuidado com o jeito que você fala comigo. Senão eu vou cometer vários crimes violentos e confessar que fui influenciada pelo seu mangá preferido.”
“Agora você está fazendo autores de reféns?!”
“Deixando o hockey de borracha de lado, eu acho que vou ficar meio triste depois da formatura. A frase ‘mudança de lugares’ nunca mais vai ser tão animadora.”
“É só isso que o ensino médio era pra você?”
Não que eu não entendesse. Mais de dois terços da experiencia dela eram caracterizados por nada, literalmente. Ela não tinha nada para se lembrar.
“Na verdade,” eu disse, “eu não consigo te imaginar ficando animada com a mudança de lugares.”
“Sim. Mesmo se o meu lugar mudar, eu continuo sendo a mesma.”
“…”
Mesmo que essa frase fosse profunda, ela simplesmente disse o óbvio.
Foi exatamente assim que você mudou, Senjougahara.
Mas isso nem é preciso dizer.
“Primeiro, nós nos formamos,” ela continuou, “e então vamos para a faculdade, isso é, se você for aprovado.”
"Guarde esse comentário.”
“Então nós nos formamos e viramos adultos?”
"Adultos…”
"Qual você acha que é a diferença entre adultos e crianças?” Ela perguntou. Eu não sei se ela queria ouvir uma resposta. Ela só parecia estar pensando em voz alta.
“Vai saber. Eu não posso dizer que nunca pensei nisso… Mas esse é o tipo de pergunta que te faz pensar por horas, e mesmo assim não saber a resposta.”
“Aqui o que eu acho,” ela parecia estar séria. “As crianças assistem a versão em filme de Nausicaä do Vale do Vento, enquanto os adultos leem o mangá.”
“Mas você parecia estar falando tão sério!”
“O que significa que eu já sou adulta.”
“E eu ainda sou criança!” Hmph. É mesmo, ela lia bastante. “Romances, mangás, livros de negócios… Você lia quase de tudo né?”
“Sim. A única coisa que eu não leio é o clima de uma sala.”
“Esse é um tipo importante de leitura!”
“Eu sou completamente disléxica nesse quesito. Eu leio os espaços entre as linhas sem ler elas.” Ou eu só dou uma olhada nas notas de rodapé, ela adicionou.
Que piada complicada.
“Eu posso até não saber ler o clima de uma sala, mas eu consigo ser bem fria com as pessoas lá dentro,” ela se gabou.
“A humanidade não precisa desse talento!”
“No mangá de Nausicaä, a Kushana acaba sendo uma pessoa boa. Eu pensei que nós fossemos farinha do mesmo saco… Mas parece que nós seríamos inimigas.”
“Eu duvido que qualquer versão da Kushana fosse querer se aliar a você.”
“Araragi, você tem que parar de depender da Sessão da Tarde e virar um adulto.”
“Você vai recomendar mangás para um cara que está estudando pro vestibular?!”
“Não seja burro. Têm coisas muito mais importantes do que o vestibular.”
“Sim, mas!”
Sim, mas ela perderia a cabeça se eu dissesse isso.
A Senjougahara ainda não parou de Nausicaä ainda. “Descobrir que a famosa fala, ‘Apodreceu. Estava cedo demais’ estava certa, e de fato estava cedo demais, é bem comovente e te faz crescer como pessoa… Mas e se você tivesse lido o mangá primeiro, eu me pergunto como você reagiria à cena no filme?”
“Eu acho que eu não ligaria!”
“Tente ligar um pouco. As vezes eu me preocupo se você nunca vai crescer.”
“As pessoas ficam me falando isso…”
Você nunca vai crescer.
Mas a Tsukihi tinha dito o oposto hoje não é mesmo?
“Mas, sim,” eu disse.
“E você, Araragi, por que você está aqui? Esse não é o seu território habitual,” a Senjougahara mudou de assunto num piscar de olhos.
Eu usei uma fala dela de antes: “Você não conseguiu perceber isso só de me olhar?”
“Infelizmente,” ela retrucou, “Eu não entendo o comportamento de micróbios.”
Eu sabia que uma competição de deboche com ela não seria uma boa ideia. Mas micróbio?
“Mas, se eu fosse dar um palpite…” ela pensou, “considerando com quem eu estou falando. Você está voltando para casa depois de cometer algum crime leve?”
“Eu saí pra caminhar e cometer alguns delitos!”
Um crime “leve”?! Aí já é demais!
“Na verdade eu estou voltando da casa da Kanbaru,” eu respondi.
Dizer que eu passei na casa da Sengoku primeiro, só esticaria a conversa, e eu acho que ela e a Senjougahara nem se conhecem. Hm… talvez elas nem soubessem da existência umas das outras.
Agora não era a hora de mudar essas situação. Apresentar uma irmãzona assustadora pra Princesa Tímida seria uma ideia ruim.
“Ah, entendi. Então você cometeu algum crime pequeno na casa da Kanbaru.”
“Não!”
“É mesmo? Eu senti como se você tivesse visto ela pelada.
“E-eu não vi,” eu gaguejei.
Era mentira. Mas eu não vi ela de frente!
Eu só omiti detalhes para simplificar as coisas!
“Tudo bem,” ela disse. “Tudo bem, você não foi pra casa da Kanbaru para cometer um crime leve.”
“Que bom que você entendeu…”
“Porque um crime sexual é maior do que um delito desses.”
“Você não consegue entender que eu não gosto de pensar na minha querida kouhai assim, mesmo que só numa conversa!”
“Mas, é sério, você deveria ver ela nua pelo menos uma vez. O corpo dela é uma obra de arte. Não tem nada de sexual nisso, é só bonito. Os homens podem ter suas preferências, mas do ponto de vista de uma mulher, aquele é o corpo perfeito.”
“…”
Eu queria concordar e ficar falando sobre os detalhes, mas eu sabia o que estava acontecendo. A Senjougahara poderia estar plantando uma armadilha, então eu fiquei quieto.
Então ela também já viu? Isso não era tão estranho, já que as duas eram meninas, mas eu fiquei curioso… A Hachikuji estava brincando, e isso era segredo, mas a Kanbaru gostava da Senjougahara.
Tarada. Lésbica.
Masoquista. Exibicionista.
Suruga Kanbaru. Ela era tinha qualidade. Mesmo que eu tenha zoado ela por causa das capas dos livros de BL, não dá para ignorar o fato de que ela é uma pervertida de elite.
“Agora que ela deixou o cabelo crescer,” a Senjougahara comentou, “ela parece mais feminina… Agora ela só precisa falar de um jeito mais feminino, e ela vai ser o pacote completo.”
“Eu não quero interromper essa sua fantasia, mas eu gosto do jeito que ela fala.”
“Eu me orgulho de ser a dona de algo tão perfeito.”
“Mas você não é dona dela!” Eu estava com medo de algo ruim acontecer se a conversa continuasse assim, então eu decidi mudar de assunto. “Ah, é mesmo, tinha um cara estranho na frente da casa da Kanbaru.”
“Hein, quando foi que eles instalaram um espelho lá?”
Ela inclinou a cabeça como se estivesse falando sério.
“Ele não era tão estranho, eu diria que ele era mais… sinistro,” eu me corrigi.
“Sinistro?” A Senjougahara se virou lentamente para mim.
Sem entender o significado disso, eu continuei, “Ele disse que se chamava… Kaiki.”
E eu não me lembro de mais nada depois disso.
Notas de tradução
¹ Sambaquis, também conhecidos como concheiros, são depósitos de materiais orgânicos e calcários como conchas e ossos.
² Kaiki = 貝木. Kaizuka = 貝塚. Kareki = 枯木
³ Araragi = 阿良々木.
阿(a) é um kanji usado em nomes e pode ser usado como um prefixo de familiaridade.
良(ra) significa “bom”.
々 é usado para indicar que um kanji se repete.
木(gi) pode significar árvore ou madeira.
⁴ Galaxy Angel é uma série de jogos japoneses que depois virou anime. No anime, o Tact, que era protagonista dos jogos, foi cortado.
⁵ Outra personagem de Galaxy Angel. Durante a maior parte do anime ela foi tratada como piada, se machucando de formas cômicas e planejando vinganças que davam errado. E na segunda temporada ela consegue um emprego chato e fica reclamando com o narrador.
⁶ Mais um personagem de Galaxy Angel. Um tipo de inteligência artificial no corpo de uma pelúcia que parece ser um pinguim/gato estranho. Ele também é constantemente visto como piada e torturado.
0 notes
Text
Nisemonogatari, Livro 1
008
Ativar habilidade: Novo capítulo, recomeçado.
Não tem nem nada para se ver aqui, continue andando.
“Quase lá,” eu disse.
O quarto de doze tatames da Kanbaru estava limpo o suficiente para parecer grande. Tudo o que faltava era colocar as coisas espalhadas de volta para os seus lugares. Ainda era cedo demais para relaxar, mas o fim estava próximo.
O futon perpetuamente desarrumado estava no quintal para tomar um pouco de ar.
Além disso, as roupas (inclusive as íntimas) que estavam espalhadas pelo quarto estavam sendo lavadas.
“Quer dar uma pausa?”
“Boa ideia.”
A Kanbaru se esticou no chão. Aliás, ela já tirou aquele uniforme.
“Você quer que pegue um chá?” ela ofereceu.
“Não obrigado, eu nem estou tão cansado. Eu só achei que seria bom parar um pouco.”
“As suas habilidades de limpeza são de tirar o fôlego. Talvez eu sempre bagunçasse esse quarto para poder te ver em ação.”
“Isso é irritante. Tente melhorar.”
“Você vai ser uma ótima esposa algum dia.”
“Não, obrigado!”
A verdade é que eu não era tão bom assim. Mas num quarto tão bagunçado quanto o dela, as habilidades de limpeza de qualquer um seriam impressionantes. O importante era o estado inicial.
“Eu não me importaria de ter você como esposa,” ela disse.
“Já eu, não quero pensar em você como meu marido…”
“Eu pensei que você fosse se casar comigo.”
“Talvez se os papéis fossem trocados. Mas, mesmo assim, a Senjougahara te mataria.”
Na verdade eu acho que ela me mataria também.
“Sabe,” a Kanbaru comentou, “você e ela formam um belo casal, mas eu ainda acho que no fim você vai acabar se casando com a Hanekawa.”
“Não fala isso!”
“E então eu vou ser a sua amante. Talvez a Sengoku seja a terceira?”
“Ugh…”
Que previsão desagradável para o meu futuro.
Mesmo que isso fosse impossível, eu ainda sentia arrepios.
Além do mais, a Hachikuji provavelmente teria mais chances.
O aterrorizante Harém Araragi.
“C-calma aí,” eu protestei. “Eventualmente eu vou me casar com a Senjougahara.”
“Essa proposta já seria bem viajada, mas você disse isso para mim? Como é que eu vou responder? Mas a verdade é que…” Conforme ela falava, sua expressão deu a entender que ela virou a Kanbaru Sombria, que eu acredito que ressurgiu depois que ela voltou a andar com a Senjougahara. “Eu aposto que você não me recusaria se eu levasse isso a sério.”
“V-você tá falando do casamento?”
“Não, eu estou falando de um caso extraconjugal.”
“Eu me recusaria!”
Provavelmente!
Mas não absolutamente!
“O que eu estou dizendo,” ela esclareceu, “é que você é tão bondoso que é fácil para as meninas se aproveitarem de você, então tome cuidado. Por enquanto eu não tenho nada a dizer. Eu gosto da nossa amizade e eu não quero que ela acabe, mas se você fizer algo para machucar Senjougahara, então talvez eu deva repensar.”
“…”
Ninguém mais tentou destruir a minha relação com a Senjougahra além da Kanbaru.
Ela era tipo um daqueles vilões dos primeiros episódios? Daqueles que imediatamente viram amigos do protagonista?
“Na verdade, parando para pensar,” eu disse, “se eu me casasse com a Hanekawa, ela também acabaria sendo morta pela Senjougahara. Eu não gostaria disso. Será que eu já te contei? Não há ninguém nesse mundo a quem eu deva mais do que a Hanekawa.”
“Hmm? Ela, não…” Parece que a Kanbaru hesitou um pouco. “Considerando a relação delas, eu acho que você não precisa se preocupar.”
“Ah é, por quê?”
“Parece que tem algo rolando entre elas. Não que eu esteja feliz, mas elas parecem satisfeitas, então eu não posso me meter.”
“…?”
O que isso significa?
Bem, tanto faz.
“Aliás, Kanbaru. Enquanto nós ainda estamos descansando, que tal tentarmos isso?”
Eu peguei um baralho de hanafuda¹ que eu tinha tirado do lixo e guardado, achando que nós poderíamos jogar com ele depois. Essa provavelmente era a única coisa valiosa da caça ao tesouro de hoje. Eu tinha ignorado o conjunto de mahjong “Washizu” que estava na mesma pilha que o baralho.
“Hm?”
Mesmo assim.
A Kanbaru inclinou a cabeça depois de tirar o baralho das minhas mãos.
“O que é isso?” Ela perguntou. “Algum tipo de jogo de cartas?”
“Bem, sim, mais ou menos… Mas se isso estava no seu quarto, como é que você não sabia?”
“Ah, hanafuda… Eu tinha me esquecido disso.”
Ela abriu a caixa, tirou as cartas e deu uma olhada nelas.
“Eu não sei jogar,” ela me disse. “Eu vi isso numa loja e comprei por impulso. Eu só olhei para as imagens das cartas e nunca mais abri a caixa depois disso.”
“Ah, é mesmo? Eu acho que estou sem sorte. Já faz um tempo, então eu fiquei com vontade de jogar de novo.”
Eu sei lá.
Em algum momento, o hanafuda se tornou irrelevante.
Talvez ele tenha se tornado o jogo de cartas mais irrelevante do mundo.
Até o Uno superou ele…
Se bem que o fato de que ele era mais velho que o Jogo da Vida tenha sido um fator.
“Você não está sem sorte,” a Kanbaru disse. “É só me ensinar. Acredite ou não, eu sou boa para aprender as regras de jogos competitivos.”
“É mesmo? As regras do hanafuda são bem complicadas.”
“Sem problema. Não me junte com os bocós que acham que um drible duplo é um drible com duas bolas.”
“…”
Foi mal, eu era um desses bocós.
De qualquer modo, a Kanbaru tinha boas notas.
Eu acho que vale a pena tentar.
Éramos só nós dois, então eu acho que o koi-koi² era uma boa escolha.
“Tem doze naipes de quatro cartas cada - pinheiro, ameixa, cerejeira, glicínia, lírio, peônia, lespedeza, capim-pisca-pisca, crisântemo, bordo, salgueiro e kiri-japonês - mas é mais fácil lembrar deles pelas figuras.”
Eu ofereci uma explicação rápida e nós começamos a jogar.
Com jogos assim, você pode explicar o quanto quiser, mas é mais fácil aprender jogando. Assim que você entende as combinações básicas, o melhor era começar.
“Araragi-senpai, onde foi que você dominou esse passatempo?”
“Hmm. Eu acho que foi na casa da minha vó. Eu gosto da sensação de segurar essas cartas, e o tamanho delas é fofo. Mas hoje em dia eu não tenho ninguém para jogar comigo.”
“Ahh.” a Kanbaru balançou a cabeça e olhou para baixo. “É mesmo, você tem poucos amigos… Foi mal por te fazer contar isso.”
“Não! Não foi isso que eu quis dizer! É só que ninguém sabe jogar!”
Bem.
Isso de eu não ter muitos amigos era verdade.
“Fora as meninas,” a Kanbaru disse, “o seu número de amigos na verdade é zero né?”
“Essa doeu!”
“E agora que o Oshino-san se foi… Com que é que que eu vou te juntar nas minhas fantasias? O futuro não é muito promissor.”
“Se você vai ficar imaginando algo assim, eu não me importo de não ter amigos.”
Nós começamos uma partida com dez rodadas.
Era um jogo para praticar, com comentários.
No momento em que eu, que sabia as regras, ganhei as dez rodadas com facilidade, a Kanbaru parecia ter começado a entender o jogo também.
Você precisa olhar para as oito cartas nas suas mãos e pensar em quais combinações podem ser feitas. Quando o jogo começar, você não pode só se concentrar nas suas cartas e tem que impedir o seu oponente de montar combinações. Não importa se você tiver uma combinação boa se for tarde demais. Quando você souber tudo isso, você será um bom jogador.
“Ah ha,” a Kanbaru disse. “Então que tal nós jogarmos uma partida de verdade? Isso está começando a ficar divertido.” Dando outra olhada no panfleto que veio na caixa, ela endireitou a postura. “Decidam quem vai primeiro pegando uma carta… Ele até especifica, ‘evitem jogar pedra, papel e tesoura ou o uso de dados.’ Isso é bem à moda antiga.”
“Não é mesmo?”
Nesse quesito, ele chegava a rivalizar com o Hyakunin Isshu³, o jogo dos cem poemas.
É claro que ele também era bem irrelevante; muita gente acabaria desistindo se tivesse que jogar seguindo as regras oficiais. Principalmente quem gostou de ler Musume fusahose⁴.
“Eu sou péssima no pedra, papel e tesoura,” ela confessou, “então eu estou feliz por isso.”
“Dá pra ser ruim nisso?”
“Você ficaria surpreso.”
“Hmph…”
Talvez ela estivesse certa.
Nós pegamos as cartas. A Kanbaru tirou Dezembro (kiri-japonês) e eu, Setembro (crisântemo) o que significa que eu jogaria primeiro. No koi-koi, a primeira pessoa a jogar geralmente tinha vantagem, então eu decidi deixar a novata começar.
Eu me perguntei se a Kanbaru gostaria ou não de ter essa vantagem, mas talvez ela tenha visto isso como uma demonstração de espírito esportivo, ela aceitou minha oferta, dizendo “Tudo bem.”
“As suas irmãs.”
“Hein?”
“As suas irmãs,” ela repetiu. “Mesmo se você não tiver amigos, se eu me lembro bem, você tem duas irmãzinhas. Por que você não joga hanafuda com elas? Pelo que você tinha dito, parece que todo mundo na sua família sabe jogar.”
“Eu já joguei algumas vezes com a mais nova, mas quando nós íamos visitar nossa vó, a mais velha preferia ficar correndo pelo campo. E, de qualquer forma, nós meio que paramos de brincar assim.”
“Eu acho que a vida é assim mesmo.”
“Eu tenho certeza que existem irmãos e irmãs que continuam assim, mas nós não somos muito próximos.”
Além do mais, elas estavam ocupadas.
Ocupadas brincando de defensoras da justiça.
“Eu sou filha única,” a Kanbaru me lembrou. “Eu não sei muito bem como é ter uma irmã.”
“Isso é uma pena.”
“Eu queria mesmo é ter um irmão mais velho. Minha vida poderia ter sido diferente se eu tivesse um, e, é claro que eu vejo você como tal.”
“Que honra.”
“Eu posso me referir a você como se fosse meu irmão de verdade?”
“Desde que seja de um jeito normal.”
“Koyomi-oniichan…”
“…”
Merda.
Ai merda….
Talvez ela só estivesse imitando a Sengoku, mas isso causou um impacto maior do que o esperado. Falar isso diretamente, sem piadinhas, fez ela ganhar uns pontos extras.
“Koyomi-oniichan, tá de manhã! É hora de acordar!”
“A-ack…”
“Onii-chan, você vai se atrasar, anda logo!”
“U-uau…”
“Onii-chan, você é tão malvado.”
“Meu corpo todo tá formigando.”
“Onii-chan, você quer fazer sexo…?”
“E isso acaba aqui.”
Fora dos limites.
Essa passou perto, ela quase me pegou.
Eu acho que o mesmo também valia para a Sengoku, mas aquilo parecia legal porque ela não era minha irmã de verdade. Esse parecia ser um fator importante.
Além do mais, ser o senpai dela era uma coisa, mas será que eu seria um bom irmão? Na verdade, será que eu sou um bom senpai?
“Tudo bem , vamos lá,” eu disse.
O jogo começou, e dessa vez nós estávamos contando pontos.
Para fazer as coisas ficarem mais interessantes, nós fizemos uma aposta. Não seria apropriado ver alunos do colegial apostando com dinheiro, então nós decidimos que o perdedor teria que cumprir algum desafio.
Um desafio.
Se bem que dependendo do que for pedido, talvez as coisas acabem não sendo tão apropriadas. No pior dos casos, apostar dinheiro teria sido melhor…
Eu estou confiando em você, Kanbaru!
E eu não estou falando isso como se quisesse me antecipar para uma piada!
“…”
“…”
E então.
Mais dez rodadas.
Dessa vez não estávamos praticando…
Mas eu ainda venci todas as dez.
“Umm…”
Suruga Kanbaru.
Ela pode até ter aprendido as regras bem rápido, mas caramba, ela era bem fraca.
Como isso é possível. Como é que alguém consegue ter tanto azar?
Agora eu entendi como ela é tão ruim no pedra, papel e tesoura.
Isso não era muito educado, mas quando eu fiquei curioso e contei as cartas, quase todas as que ela tinha eram as “simples”. Além disso, ela combinou algumas do mesmo naipe. Três Dezembros na sua mão? Pode dar adeus pra sua estratégia.
É mesmo, e quando nós estávamos decidindo quem jogaria primeiro, ela tinha tirado um Dezembro.
Eu tinha um pouco de experiência, mas tanto tempo se passou, que eu pensei que jogar com uma iniciante como ela seria justo… Eu fiquei impressionado com os resultados.
Não teve nem um único empate.
Eu não tenho muita certeza, mas eu acho que a estrutura de regras significava que haveria uma chance grande de empates.
Hmm…
Tudo bem.
Já que no fim das contas esse era um jogo de sorte, é claro que teriam dias assim. Se nós jogássemos amanhã, talvez eu estivesse na situação da Kanbaru. Será que ela nasceu sobre uma estrela do azar? Será que mais infelicidades e complicações a esperam no futuro? Não, eu não posso pensar nisso.
E mesmo assim.
“.............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................…”
A Kanbaru ficou estranhamente quieta.
Pra que tantas reticências?
O olhar dela não era o da Kanbaru que eu conhecia. Normalmente ela tinha uma aparência elegante, mas agora que o cabelo cresceu, ela parecia mais feminina, fazendo a distância nos olhos dela parecer assustadora.
As bochechas dela estava meio infladas, o que era fofo, mas ela também parecia estar brava
A região da boca dela também parecia meio tensa.
Algumas pessoas acabavam ficando bravas quando perdiam, não importa no que fosse. Então a Kanbaru era o Espécime A…
Uau, ela estava frustrada? As vezes ela era surpreendentemente infantil.
“Q-que tal nós voltarmos a limpar o quarto?” Eu sugeri. “Eu acho que nós ficamos jogando por tempo demais.”
“Oh ho, olha só quem tá tentando fugir,” ela resmungou. Eu não tinha certeza se ela estava falando comigo com com o tatame. “Eu não deveria ter que te contar isso, mas eu te valorizo muito.”
“T-tudo bem…”
“Na verdade, a minha devoção por você é quase religiosa. Quando eu falo seu nome, meus lábios podem até dizer ‘Araragi-senpai’, mas meu coração diz ‘Araragi, meu salvador.’”
“Eu espero que não…”
“Isso é covardia da sua parte não é? Você me decepcionou. Tentar fugir é grosseria. Você está com medo de perder?”
“Na verdade… eu só quero parar de ganhar.”
A Kanbaru não quis que eu me levantasse e mandou eu distribuir as cartas de novo.
Eu me pergunto se é assim que um viciado em apostas agiria durante uma sequência de derrotas, mas eu nunca pensei que a Kanbaru gostava tanto de vencer.
Se bem que, se esse não fosse o caso, ela não teria chego nas finais nacionais.
Se você não liga nem um pouco para perder, você é, de certa forma, estranho.
Mas odiar as perdas, quando você nem consegue ganhar é algo horrível.
“O que é isso,” ela me repreendeu. “O jogo não acabou ainda. Você tá tentando me fazer de boba e desistir antes de acabarmos. Nas regras é dito que uma partida tem doze rodadas. Isso significa que nós precisamos de mais duas mãos cada. Por que você não espera até ter vencido para poder comemorar?”
“Do jeito que as coisas estão, essas próximas rodadas vão acabar… Uh, esquece.”
A Kanbaru me encarou tão intensamente que eu fiquei quieto.
O que mais eu faria? Nós dois ficamos em silêncio até eu terminar de distribuir as oito cartas para cada um.
Eu comecei rearranjando minha mão para que as coisas ficassem mais fáceis.
Eu tinha que manter a minha amizade com a Kanbaru depois disso. Mesmo que ainda seja tarde demais para perder o jogo, eu poderia deixá-la vencer as duas últimas rodadas, para que ela se sentisse melhor… Mas no fim esse ainda era um jogo que dependia de sorte, então perder de propósito era difícil.
Eu poderia jogar de forma horrível, mas se a minha oponente não formasse combinações, então eu não podia fazer nada.
O que eu faço… Opa. “O que você tá esperando? Você joga primeiro.”
“Eu tenho um naipe completo. Foi mal.”
Eu tinha todas as quatro cartas de salgueiro.
Eu formei um teshi, ou um naipe completo. Essa era uma combinação especial baseada nas cartas que estavam na sua mão após a distribuição.
“Ele vale, uh, seis pontos…”
A Kanbaru escreveu eles na tabela que criamos no celular dela. Não tinha nenhum tipo de regra sádica dizendo que o perdedor tinha que fazer isso. Ela só se voluntariou desde o começo e acabou perdendo todas as rodadas.
Vejamos, eu estava com cerca de… cinquenta pontos de vantagem?
“Essa foi uma mão bem rara,” eu disse. “Que tal nós pararmos por aqui?”
“Espera aí, seu filho da… Nkk. Ainda falta mais uma rodada.”
Ela quase me xingou. Ela tinha um bom autocontrole, mas ela estava demonstrando isso por um motivo bem tosco.
Ei, isso é só um jogo.
“Relaxa,” eu disse. “Se acalma. Nós só estamos jogando.”
“Como você consegue ganhar com uma atitude dessas?!”
“Sei lá, mas eu estou ganhando"
“Urk”
“É só um jogo, então será que dá pra você tentar se divertir? Olha a Sengoku, por exemplo. Ela me ensinou a jogar Twister e parecia estar se divertindo mesmo depois de perder para um iniciante como eu.”
“Então você não percebeu. Você ainda não encontrou o verdadeiro chefão final…”
“Hein? O que foi?”
“Nada. Eu não posso dizer isso.”
A Kanbaru se curvou. Eu continuei distribuindo as cartas.
Caramba, ela é o tipo de pessoa que cria uma fortuna com os esportes e depois perde tudo na mesa de apostas… Opa.
Eu olhei para as minhas cartas e meus olhos alargaram.
“Kanbaru…”
“O que foi?”
“Que tal nós já decidirmos os desafios?”
“Você parece estar animado. O meu vai ser algum tipo de ordem sexual… Quer dizer, um comando sexual.”
“Sério? Você poderia pedir para que eu morresse se você quisesse.”
Eu respondi o desafio completamente inapropriado da Kanbaru, com algo que também não era tão apropriado.
“Eu espero que você nunca comece a jogar jogos de azar.”
Eu recebi outra mão especial.
Dessa vez foram dois naipes completos.
Notas de tradução
¹ O hanafuda é um baralho japonês de 48 cartas, menores do que as de um baralho ocidental. O baralho é dividido em doze naipes de quatro cartas, cada uma representando um mês do ano. As cartas trazem ilustrações detalhadas de paisagens japonesas, com uma flor nativa para cada naipe.
² Koi-koi é um dos jogos que podem ser jogados com um baralho de hanafuda.
³ Também conhecido como Uta-garuta. Esse é um jogo que usa duzentas cartas. Cem delas são decoradas com retratos de poetas e as duas primeiras linhas de versos clássicos famosos. Elas devem ser combinadas com as cem correspondentes nas quais os versos restantes dos poemas estão escritos. O jogo, normalmente, possui um leitor e três ou mais participantes que vão competir entre si. O jogo é tão famoso no Japão que existe até uma competição de uta-garuta, chamada karuta, que é reconhecida até mesmo como um tipo de esporte no Japão.
⁴ Musume fusahose é um mangá sobre o jogo mencionado acima.
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Nisemonogatari, Livro 1
007
Vinte minutos depois.
Eu cheguei naquela mansão samurai enorme em que a Kanbaru morava, uma viagem que normalmente levava pelo menos 30 minutos. Se eu não tivesse perdido tempo conversando com a Karen, eu teria chegado aqui três minutos mais cedo.
Perto da plaquinha com o nome da casa, tinha um interfone, que parecia não combinar com uma casa tradicional. Quando eu apertei o botão, a pessoa que atendeu foi a avó da Kanbaru, a mulher que testemunhou a falta de graça (ou a perversão) dela. Eu já passei aqui várias vezes antes para fazer a limpeza, e já vi os avós dela, mas se eles soubessem que sua neta estava falando comigo pelo telefone naquela hora em que ela estava pelada, eu duvido que a Vovó Kanbaru teria me deixado passar pela porta.
─S-Senhora…
─Obrigada por ser um menino tão bondoso com a Suruga.
Ela se curvou para mim e disse isso quase como se estivesse se desculpando. A Kanbaru, famosa na escola ou não, era só uma doce netinha para ela… e ignorando a nudez, o estado desastroso daquele quarto não era segredo.
Ela tinha que estar preocupada com a Kanbaru.
Confiar nela, mas também se preocupar.
…
Mesmo assim, agora que eu estou no terceiro ano do ensino médio, eu tenho um pouco de vergonha de ser chamado de menino pela vó de outra pessoa.
Eu deixei ela para trás e fui até o quarto da Kanbaru.
A porta de correr estava fechada.
Eu conseguia imaginar ela abraçando os joelhos num canto. Essa era a minha chance de pegá-la de surpresa, e meu coração acelerou conforme eu abri a porta sem nem bater.
A Kanbaru estava esticada em seu futon sem nenhuma peça de roupa.
“Bfft!”
Suruga Kanbaru, uma menina tarada, do ponto de vista de outros e dela mesma.
Talvez o fato de ela estar quebrando seus recordes todos os dias seja porque ela não pratica mais esportes. O assédio sexual praticado por ela era tão desenfreado e excessivo que a Shinobu, a Sengoku e eu, junto com várias outras pessoas, poderíamos processá-la.
E mesmo assim!
Acredite ou não, essa foi a primeira vez que eu vi ela completamente nua!
Eu não sabia que, desde junho, e também por ter saído do time de basquete, a Kanbaru estava deixando o cabelo crescer, o que fazia ela parecer muito mais feminina, então ver ela mostrando as suas partes assim…
Espera, ela estava deitada de bruços!
Mas a linha das costas dela era incrivelmente erótica!
E aquelas omoplatas!
A Kanbaru pode até ter se aposentado, mas, como uma atleta de coração, ela claramente não parou de treinar. Seu corpo tonificado e compacto era tão bonito! Existe aquela expressão sobre ter “pernas de gazela,” mas a Kanbaru tinha um corpo de gazela!
Uma estátua grega!
Contemplem a beleza da forma humana.
Eu percebi as pernas incrivelmente esculpidas dela, mas não eram só as pernas, o corpo todo dela era uma arma letal!
Não dá pra me culpar por querer ver ela pelada!
Seria uma pena se outras pessoas não vissem isso!
“…”
Só tem um problema…
Eu tinha dito que ela estava “sem nenhuma peça de roupa”, o que é verdade, mas aquelas faixas no braço esquerdo dela ainda estavam lá.
“K-Kanbaru…”
Parece que ela usou o restante das suas forças para fechar a porta e então desmaiou no futon depois de a sua vó ter visto ela pelada. Eu a chamei sem saber o que dizer.
“Ah… É você?” Ela tirou a cabeça do travesseiro e então…
“E-espera, Kanbaru! Não se vire para cá! Isso vai causar vários problemas!”
Principalmente para mim!
“Uh…” Certo, a Kanbaru concordou. “Você vai ter que me perdoar por esse estado em que eu estou. Eu tenho vergonha de ser vista assim.”
“Uau…”
Ela estava sentindo vergonha como uma pessoa normal.
Mas ela não tentou se cobrir e só ficou ali, com os membros esticados e caídos.
A única coisa que ela ergueu foi o rosto.
“Mas isso é estranho,” ela disse. “O Koyomi Araragi que eu conheço é um homem de caráter que nunca invadiria o quarto de uma dama sem bater na porta.”
“Eu… só queria ver você devastada.”
“Tá bom, se essa visão miserável te satisfaz, sinta-se livre para olhar o quanto você quiser…”
“…”
“Não seja tímido. Testemunhe a minha verdadeira forma… Suruga Kanbaru, totalmente exposta.”
“Não…” É verdade, ela estava completamente exposta. “Sabe? Eu sinto muito…”
Eu não esperava que ela fosse estar tão devastada.
Uma vingança divina executada rapidamente. Eu não esperava que meu pedido fosse ser atendido dessa forma.
“Eu peço desculpas, Kanbaru… Eu quero me responsabilizar por isso.”
“Se responsabilizar?” ela repetiu mecanicamente, se virando para mim com um par de olhos cansados e vagos, que pareciam com os de um peixe morto. “Pelo quê?”
“Eu estava falando com você no telefone, então metade da culpa nessa situação acaba sendo minha.” Eu não ia contar que pedi por uma punição divina.
“Eu acho que não,” ela negou.
Mesmo nesse estado, seu senso de responsabilidade pessoal não diminuiu. Ela merece elogios. A pessoa mais impecável que eu conheço é a Tsubasa Hanekawa, de longe, mas talvez a Kanbaru venha em segundo?
“Além do mais,” ela disse, “se você insiste em se responsabilizar, eu não vou te impedir… Mas como você planeja fazer isso?”
“Eu posso me casar com você.”
“Bfft!” Foi a vez dela de ficar chocada. “P-por quê?”
“Olha, foram só as costas, mas eu te vi pelada.”
“Eu acho que você pulou alguns passos… Seguindo essa lógica, com quantas meninas você teria que se casar?”
“O que você quer dizer com isso?!”
Que escândalo.
Não que seja mentira.
“Ahaha…”
Ei, ela riu.
Mesmo que meio fraca, ela deu uma risada.
Então ela disse, “Mesmo que essa seja uma oferta interessante, você não precisa se responsabilizar. Minha outra querida senpai ficaria furiosa se fizessemos isso. Em troca, eu posso te pedir um favor?”
“Tudo bem, peça o que quiser. Eu serei seu escravo leal por hoje.”
“Você se importa de esperar ali fora enquanto eu me visto?”
“Ha…”
Eu não consegui segurar a risada. Um pedido de privacidade, vindo da boca da Kanbaru?
Esse era um momento sublime, assim como quando a humanidade andou em duas pernas pela primeira vez.
Eu fiz como a Kanbaru pediu e fui para o corredor para esperar até ela se vestir (Atlética como sempre, ela só precisou de alguns minutos. Então ela colocou as roupas na mesma velocidade que ela usou para tirá-las). Então eu finalmente comecei a limpar o quarto dela.
Iniciar missão!
Primeiro eu separei o lixo em pilhas gerais, coloquei elas em sacos grandes e os deixei no quintal. Só os itens claramente inúteis foram pro lixo. Objetos menos óbvios foram separados para depois. Como esse não era o meu quarto, a Kanbaru tinha que decidir o que era necessário e o que não era. Eles só estavam sendo deixados em espera.
Suruga Kanbaru.
Ela era meio rica, e gastadora. Ela fez várias compras desnecessárias e transformou tudo em lixo por meio de alguma magia maravilhosa.
No fim, quase tudo foi jogado fora.
É claro que esse era só o começo.
A verdadeira limpeza ainda estava por vir.
A Kanbaru vestiu uma regata e um short curto, só se expondo um pouco menos do que antes (por isso ela foi tão rápida), mas pelo menos ela estava mais apresentável. Considerando o estado do quarto dela, talvez fosse melhor ter escolhido algo que a protegesse melhor, tipo um agasalho (a roupa padrão da minha irmã).
A parte engraçada disso, é que agasalhos não combinam muito com a Kanbaru. Será que é porque ela não era tão alta?
Mas ela parecia super legal quando corria usando o uniforme da escola.
Talvez isso só tenha chamado a minha atenção porque eu estava pensando em roupas, mas eu descobri algo que parecia um uniforme de basquete em uma das pilhas de lixo.
O número nas costas era 4.
Esse era o número dos capitães? Meu conhecimento de basquete se limitava a Slam Dunk, então eu não tinha certeza.
“Kanbaru, e isso aqui?”
“Hm? Ah.”
Aliás, ela estava no corredor.
Mesmo sendo atlética, a Kanbaru tinha um lado bem desleixado (Ela era péssima com o dever de casa. Mas considerando o estado do quarto dela, essa explicação provavelmente era desnecessária) e só estava atrapalhando durante a fase atual da limpeza. Era meio emocionante ter uma estrela do nível da Kanbaru por perto, mas isso é algo que eu prefiro manter para mim mesmo.
“É o meu uniforme do clube,” ela disse. “Então é aí que ele foi parar. Eu estava me perguntando.”
“Hein, esse é o seu uniforme de treino?”
“Não, é uma lembrança de quando nós chegamos às finais nacionais no meu primeiro ano. Vira ele do avesso. Dá pra ver as mensagens de outras pessoas do time.”
“Se prender a essas memórias é algo estranho para você?”
“Eu tenho todas as memórias que eu preciso bem aqui no meu coração.”
“Gostei da frase, mas!”
Elas estavam aqui também! Fisicamente!
Essa foi uma história tão triste que eu acabei me lembrando da amnésia da Hachikuji (mesmo que eu tivesse inventado aquilo tudo).
“Naquela época você ainda não era capitã, né?” Eu perguntei. “Afinal você tinha acabado de entrar para a escola. Mas então porque ali tem um ‘4’ nas costas.”
“Não tem nenhuma lei falando que só os capitães podem usar esse número. É o convencional… mas no meu caso, a capitã me deixou usar ele por eu ser a melhor do time.”
“Gostei. Você tinha uma capitã generosa. Mas eu não me lembro de ter visto isso aqui na última limpeza.”
“Ele estava pendurado na parede da sala do clube, para motivar os novos membros, mas eu peguei de volta antes das férias.”
“Huh.”
“Eu decidi que era a hora de deixar os meus dias de glória para trás, afinal eu saí do time. Parecia que eu estava sendo arrogante. Além do mais, aquele clube não tem um futuro muito promissor.”
“Hmph…”
Mesmo depois de sair, a Kanbaru ainda tem pensado bastante no time, mas eu acho que esse é o jeito dela de se desvincular.
Talvez esse também fosse algum tipo de penitência para ela.
O clube tinha ficado em sua mente.
“Eu tirei ele da parede sem avisar ninguém, então isso acabou virando um caso da polícia.”
“Então é por isso que tinha um carro de patrulha na frente da escola no último dia.”
“É o crime perfeito. Ninguém sabe que eu sou a culpada…”
“Mas a prova está bem aqui.”
Dito isso.
Ela só trouxe uma roupa dela para casa, então não era grande coisa.
Mesmo assim, dada a origem do uniforme, nós não podíamos jogá-lo fora. Não por medo da polícia, mas porque ele era uma lembrança.
“Sabe, eu acho que eu nunca te vi jogando basquete, exceto por uma vez. Ei, por que você não experimenta o uniforme para eu ver?”
“Se você insiste.” Meu pedido pode ter sido meio insensível já que ela já saiu do time, mas ela concordou. Ela sempre era generosa assim. “Meu cabelo está mais longo, então você provavelmente não vai ter a impressão completa.”
“Aliás, ele cresceu super rápido….”
Quando nós nos conhecemos, o cabelo dela era um pouco mais curto do que o meu, mas agora nem dava para comparar. Eu tinha cicatrizes profundas na nuca, onde a Shinobu me mordeu, então eu deixei o cabelo crescer um pouco para cobri-las… Mas o da Kanbaru era tão longo que até dava para amarrar. “É mesmo?” ela perguntou.
“É. Eu ouvi dizer que o cabelo cresce cerca de um centímetro por mês, mas o seu deve ter crescido três.”
“Deve ser porque eu sou tarada.”
“Você simplesmente soltou esse fato?”
Eu estava pensando na mesma coisa!
Mas eu não quis deixar isso escapar.
“Por exemplo,” ela disse, “eu sou tão tarada, que por anos eu achei que ‘pepperoncino¹’ tinha conotação sexual.”
“Mesmo depois de experimentar uma dessas pimentas?”
"Eu também achei que o plano familiar da Anatel era um plano familiar de anal.”
“…”
Isso foi o suficiente para me calar.
"Não, na verdade, eu achava que os planos familiares da Anatel eram planos familiares de anel.”
"Esse tipo de relação entre parentes ainda é meio estranho.”
"Eu também achava que uma partida de exibição era um jogo em que todo mundo fica pelado.”
"Isso não é um mal entendido, mas sim um desejo! Quem é que pensa assim hoje em dia?!”
"Pois é. Eu cheguei aqui em uma máquina do tempo de um mundo que está cinco segundos a frente.”
"Que desperdício de uma invenção dessas!”
“E até pouco tempo atrás, eu achava que 'nadar’ era ficar sem fazer nada.”
"Isso nem é sexual!”
“Eu gritei isso durante um jogo, e me fiz de boba. Eu nunca vou esquecer do olhar no rosto das minhas colegas de time.”
“Para! Isso é pior ainda com um exemplo!”
“Pior do que pensar que um pedreiro é um mineiro?”
“Socorro!”
Caramba.
Eu aposto que nós vamos nos dar bem na próxima vida!
“Gostei da imitação da Senjougahara,” eu disse.
“Hm? Ah, você tá falando da franja?” Ela me respondeu meio desatenta enquanto colocava o uniforme. “Eu não estava tentando copiar ela, mas quem sabe. Afinal eu não dá pra confiar em mim direito.”
“Não foi isso que eu quis dizer.”
“Heh. De qualquer forma, o passado já passou, não tem necessidade de ser sentimental. Então, o que você achou?”
“…”
Colocar o uniforme foi bondade da parte dela, mas como ela só estava usando shorts e uma regata, parecia que ela estava pelada por baixo dele. Foi bem sexy.
Isso não era nem um pouco esportivo.
Essa não era a Kanbaru que eu queria ver…
Mas o uniforme combinava com ela, o que será que isso significa?
“Heh.” Aparentemente sem perceber a impressão que ela estava passando, a Kanbaru sorriu com felicidade. “Isso me lembra daquela época.”
“Aquela época? Quando você jogava basquete?”
“Não. Quando eu fui pro acampamento de nudismo.”
“Então você percebeu!”
Então aquilo não foi uma piada?!
Pra que trazer ela de volta?!
Sei lá do que ela se lembrou depois de vestir o uniforme, mas eu acho que não era algo tão ruim já que ela não o tirou.
Não que eu estivesse reclamando.
Isso não interferiria na limpeza.
“Sabe, Kanbaru, mesmo se o basquete estiver fora de questão, você não consegue jogar outras coisas mesmo com esse braço esquerdo? Que tal futebol?”
“Eu acho que não tem nenhum esporte que não precisa dos braços. Por exemplo, no futebol, mesmo se você não for goleiro, você ainda precisa usar eles para o lançamento lateral.”
“Ahh.”
“Além disso, eu não sei como funcionam os impedimentos.”
Enquanto nós falávamos, eu achei outra coisa inesperada na mesma pilha, bem debaixo de onde o uniforme estava. Não que essa seja uma coisa rara hoje em dia, mas eu não esperava ver uma coisa dessas no quarto da Kanbaru.
“Eu não sabia que você tinha uma câmera digital.” Parece que era o modelo mais novo (pelo que eu vi): ultra fina e ultra leve.
“Ah, eu comprei isso aí outro dia.”
Huh, essa era uma compra bem tecnológica para alguém tão desajeitada com eletrônicos, ao ponto que ela nem sabia usar o celular direito.
“Eu sei que não parece algo que eu compraria,” ela explicou, “mas tem algumas fotos que você não quer mandar para serem reveladas.”
“Que tipo de foto…”
“Nudes?”
Eu acabei caindo num monte de lixo próximo.
Depois disso eu voltei a limpar.
Eu gritei, “Você comprou ela só pra isso?! Esse aparelho moderno é avançado demais para você!”
“Esse não foi o único motivo. Eu uso ela pra outras coisas.”
“Tipo o quê?”
“Eu uso para tirar nudes daquelas gatas de calouras.”
“…”
Ela estava falando de fotos das gatas de estimação das calouras né? Porque esses bichos ficam andando pelados né?
“É claro que eu pedi permissão primeiro, então isso não é ilegal.”
“Kanbaru, isso não faz sentido. Como você pede permissão para uma gata? Você está falando das donas delas né?”
“Hm? Não gostei desse linguajar, você tá violando a dignidade delas. Mas quanto a dona, essa seria eu…”
“Eu amo gatos!” Eu interrompi com toda a minha força.
Na verdade eu não gosto deles.
Eles me dão medo.
“Hm, entendi,” a Kanbaru disse. “Eu temo que mostrar essas fotos para qualquer pessoa seria uma violação de privacidade, mas se você quer mesmo, então por favor, leve o cartão de memória para casa. Eu vou me responsabilizar por isso.”
“Eu nunca disse que queria ver as fotos!”
“Heheh. Não seja tímido.”
A Kanbaru pegou a câmera.
Eu estava me perguntando onde ela tinha ido parar, ela murmurou.
Normalmente, uma câmera digital seria mais difícil de se perder… A habilidade dela para perder coisas era realmente épica.
USEMONOGATARI: Conto das Perdas.
“Já que nem a Sengoku consegue te superar no quesito de timidez,” a Kanbaru afirmou, “eu preparei uma surpresinha para você. Espera até a volta às aulas para descobrir o que é.”
“Hein, uma surpresa?”
“Eu vou te dar duas dicas: ‘caloura’ e ‘peitos.’”
“…”
Parece que tinha algo grande a minha espera no próximo semestre.
Eu já estou animado.
A próxima coisa que eu vi na pilha de lixo foi um mangá.
Essa sessão de limpeza estava começando a virar uma caça ao tesouro. Se ela tinha dinheiro o suficiente para gastar com uma câmera, por que não comprar uma estante? Hm, o que eu achei que fosse um mangá era na verdade um livro.
O Secretário de Óculos e o Príncipe de Óculos.
Só pelo título já dava pra ver que era um romance BL².
“Se formos jogar isso fora,” eu disse. “Que tal ele ir pro lixo queimável?³.”
“Isso aí pode até ser sobre paixão ardente, mas não é para queimar.”
A Kanbaru agarrou o meu braço conforme eu pegava um saco de lixo.”
Quando foi que ela chegou tão perto?
Talvez aquele uniforme fosse um item de +velocidade.
“Podre ou não,” ela adicionou, “ele é necessário.”
“É mesmo? Se o livro é tão importante para você, então você tem que cuidar melhor dele. Você não acha que isso foi um desrespeito com o autor?”
Disse o cara que estava prestes a jogar aquilo fora.
Mas, é verdade, quando os livros começam a se acumular, é difícil de saber o que fazer com eles.
“Mas, pra mim todos os livros desse tipo são iguais,” eu comentei. “Você consegue diferenciar eles quando vai pegar algum pra ler?”
“É claro que sim,” a Kanbaru respondeu. “Isso é tão ignorante quanto dizer que ficção científica é tudo igual. Se você não conhece algo, não dá para saber a diferença. É preciso ter conhecimento e erudição para formar um julgamento correto.”
“Ah.” Ainda tinham vários outros livros de BL na pilha, então eu comparei a capa de um deles com o que estava na minha mão. “No fim, todos eles são bonitos né?”
“Hein?”
“Olha, é como se você gostasse de homens bonitos, afinal. Talvez você não seja tão tarada assim.”
“Nrk?!”
A Kanbaru recuou em choque.
Se isso fosse um anime, teriam mais linhas verticais na cara dela, e o fundo teria ficado preto e branco.
Acho que era verdade: Essa é a pior coisa que poderiam dizer para ela.
“Parando para pensar,” eu disse, “várias meninas são fãs de BL hoje em dia. Isso prova que você é bem ajustada. Normal. Perfeitamente normal.”
“Normal?! Eu, a autoproclamada sucessora de Freud, sou normal?!”
Ela realmente disse isso…
Mas, o fato de que ela costuma relacionar tudo com sexo qualificaria ela para isso.
“Sabe,” eu continuei, “gostar de caras bonitos é normal para as meninas. Querer ver vários deles juntos é natural. Não é muito diferente de gostar de boy bands.”
“Para de fazer comparações tão apropriadas!”
“Não é como se você gostasse do cheiro de gente velha, ou perdesse o ânimo quando um cara pesa menos que 150 quilos.
“N-não, mas…”
A Kanbaru estava ficando sem palavras. Ela estava agindo meio suspeita.
“Ei, espera um pouco!” ela implorou. “Não fala isso! Seria o meu fim se o meu querido senpai me visse assim! Eu vou tirar a roupa! Eu vou ficar pelada aqui mesmo!”
“Calma aí, foi como você disse antes, o que há de errado em se sentir confortável na própria casa? E fora daqui, você só fica pelada em banhos públicos? E os nudes? Que atleta não gostaria de ver os resultados do seu treinamento? Eu estava errado por querer me meter.”
“Eu não quero que você se desculpe! Por favor, para e me escuta!”
“Olha, também teve aquilo que aconteceu hoje. Você não é tão exibicionista assim se ser vista por algum parente já é o suficiente para te deixar deprimida. Eu achava que, pelo que eu ouvi, você nunca vestia nada, nem em casa! E parece até que você estava me superestimando.” Eu estava implicando com ela. Eu era praticamente um valentão. “Foi como você disse antes, talvez eu tenha a mente mais poluída.”
“A-Aghhhh!”
Os olhos da Kanbaru estavam girando. Ela entrou em pânico.
Araragi lançou kafuddle⁴!
“V-você entendeu errado,” ela implorou. “É só que esses livros mais leves estavam no topo da pilha, você só precisa procurar mais um pouco para encontrar BL hardcore. Até parece que eu não sei que BL não é só sobre caras bonitos! Por favor, continua procurando!”
“Calma aí Kanbaru, se eu tiver que procurar, então esse não é o seu ‘verdadeiro eu’…”
Enquanto eu estava falando algo que parecia o completo oposto daquela ideia de autodescoberta…
A Kanbaru me empurrou.
E para piorar, nós caímos no futon.
“N-nesse caso,” ela ameaçou, “eu vou ter que limpar o meu nome pelas minhas ações!”
Mesmo sem usar o braço esquerdo, a Kanbaru ainda era forte demais. Ela estava mais em forma do que eu. Ela estava me pressionando da cintura ao ombro, e eu não conseguia me mexer.
“Prepare-se!” ela avisou.
“Me preparar para quê?!”
“Não é como se você ainda não tivesse sido deflorado!”
“É porque eu sou menino!”
“Não se preocupe, só vai doer no começo! Logo você vai se sentir bem!”
“Aaaah!”
“Mmm, você tem um bom corpo, eu gosto desses músculos! É tão gostoso de tocar!”
“Aah! Aah! Aah!”
“Ei, para de se mexer tanto! Eu não vou conseguir tirar a sua cueca!”
“Aiieeeeeeeeee!!”
Eu jurei.
A partir de agora, não importa como eu esteja me sentindo quando eu vir a Hachikuji, eu nunca mais vou assediar ela em vez de cumprimentá-la.
Notas de tradução
¹ Pepperoncino é um tipo de pimenta. A piada aqui talvez seja o fato de que “pepero” talvez soe similar a "pero pero”som de lambida em japonês. A mesma piada que provavelmente originou o nome do Peroroncino de Overlord.
² BL = Boys love. Também chamado de yaoi
³ No Japão eles costumam queimar certos tipos de lixo
⁴ Kafuffle é um feitiço da série Dragon Quest, cujo efeito é confundir os inimigos.
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Nisemonogatari, Livro 1
006
Originalmente, eu estava pensando em ficar na casa da Sengoku até o anoitecer, mas a mãe dela chegou em casa inesperadamente um pouco depois do meio-dia. Aparentemente aconteceu alguma coisa no trabalho. Isso não me interessava. Mas a Sengoku acabou entrando em pânico.
“A-a sua visita era segredo,” ela ficou preocupada. “E-eu vou ficar de castigo. Ela vai achar que eu sou uma pervertida quando me vir vestida assim.”
Eu não faço ideia do que ela quis dizer com “pervertida”, mas a parte importante é que a minha visita era um segredo. Tinha uma grande diferença entre “não contar” e “guardar segredo”, o que significa que para a mãe da Sengoku, eu era “um homem que entrou na casa dela quando ela estava fora.” Eu não consegui pensar em nenhuma forma de explicar isso, então eu saí da casa sem que a Sra. Sengoku me percebesse, quase como adúltero.
Por sorte, a Sengoku escondeu os meus sapatos depois de eu ter os deixado na entrada… Mas eu tinha que me perguntar se ela realmente estava planejando algo desse tipo.
Hmph.
Eu não pensei que teria que sair assim. Eu vou ligar para a Sengoku mais tarde para saber como ela está. Mas ao mesmo tempo, eu não conseguia ignorar a sensação de que a minha pureza masculina foi salva pelos problemas da Sra. Sengoku no trabalho…
Provavelmente era só uma sensação qualquer mesmo.
Mas de qualquer forma, eu acabei ficando com tempo livre.
Eu não planejava voltar para casa tão cedo, e eu não queria que a Tsukihi fique me fazendo perguntas se eu voltasse agora (eu não estava com vontade de ouvir ela rindo de mim). Além do mais, a Karen provavelmente ficaria fora até tarde, e se eu quisesse verificar o que a Sengoku disse, seria melhor esperar até que as duas irmãs estivessem em casa…
Nesse caso.
“Eu estava pensando em ligar amanhã… Mas…”
Eu parei na beira da rua, debaixo de um poste que não servia pra nada no meio do dia, e peguei meu celular.
Eu estava ligando para uma caloura da minha escola, o Colégio Naoetsu.
Aluna do segundo ano, Suruga Kanbaru.
Entrada à direita do palco!
“Eu espero que ela não esteja ocupada… Eu nunca sei se ela está.”
Alguém atendeu no quarto toque.
“Suruga Kanbaru falando,” uma voz veio do outro lado. Ela tinha um jeito meio masculino de se apresentar. “Os armamentos principais incluem um dispositivo de aceleração.”
“Eu não sabia que você era um ciborgue!?”
Isso fazia muito sentido!
Parando para pensar, ela até falava que nem um robô!
“Hmph. Você deve ser o Araragi-senpai, considerando a voz e o jeito de falar.”
“Claro…”
Por que ela teve que depender da minha voz e do meu jeito debochado? Aprende logo a usar a lista de contatos do seu celular.
“Kanbaru, o que você faz quando alguém além de mim te liga?”
“Heh, não se preocupe. Poucas pessoas têm esse número, e eu consigo diferenciar todas pela voz e estilo de fala.”
"Você nunca para de agir como palhaço?”
"Não, afinal eu gosto de sapatão.”
"Justo.”
Bem.
Apesar de sua personalidade, a Suruga Kanbaru era a maior estrela da história do Colégio Naoetsu… Uma esportista milagrosa que levou o nosso time meio ruim de basquete até as finais nacionais. Ela era incrivelmente rápida (dizem que ela termina uma corrida de 50 metros em menos de 5 segundos) e usava essa velocidade para dominar a quadra e cativar o público. Mesmo agora, depois de deixar o posto de capitã do time meio cedo devido a circunstâncias delicadas, ela era tão popular quanto antes, e provavelmente não conseguia ficar passando seu número para qualquer um.
O dilema do estrelato.
Talvez eu deva entender?
Mas estrelato à parte, como deu para perceber pelo fato de que ela não sabia usar a lista de contatos do celular, a Kanbaru não era muito boa com tecnologia. Eu duvido que ela fizesse muitas ligações.
“Kanbaru, você está ocupada agora?”
“Essa é uma pergunta sem sentido. A dívida de gratidão que eu tenho com você é tão grande que qualquer pedido seu tem prioridade. Por exemplo, mesmo se eu estivesse ocupada tentando salvar o mundo, eu iria te acompanhar se você me chamasse, dane-se o mundo.”
“…”
Galante como sempre… Mas será que dá pra priorizar o mundo? Sabe, sem o mundo, eu morreria também.
“Na verdade, eu não estou ‘te chamando’. Eu posso ir aí?”
“Como assim?”
“Uh… Você está em casa agora, né?”
“Sim, ah… Espera um pouco, eu tenho que ficar pelada.”
“Por quê!?”
Desde quando isso é necessário para uma conversa?!
Que tipo de pessoa começa a tirar a roupa no meio de uma ligação?!
“Do que você tá falando? Afinal eu estou conversando ninguém menos que você. Mesmo que seja por telefone, me despir é questão de educação.”
“Para de fazer eu parecer o desinformado! E você sempre fica procurando motivos para tirar a roupa!” No entanto, isso era novidade.
E fazia ainda menos sentido.
Depois que a Kanbaru ficou excitada quando ouviu a palavra “repelir” outro dia, eu comecei a me preocupar com ela, mas parece que ela já perdeu a cabeça. “Mas,” ela protestou, “se eu não usar todas as oportunidades que eu tenho para ficar pelada, como é que eu vou reforçar o fato de que sou tarada?”
“Você quer fazer isso?!”
“Algumas pessoas sem coração estão me acusando de falar demais e não ser tão tarada, e isso tem me irritado bastante. Eu acho que essa é a pior coisa que poderiam falar sobre mim.”
“Ninguém tá falando isso!”
E, sabe, não deixa uma coisa dessas te irritar!
Guarde sua raiva para coisas maiores!
“Eu ajo feito uma tarada mesmo sem nunca ter ficado com um homem,” ela admitiu, “então eu não culpo as pessoas por suspeitarem de mim. Mas não é minha culpa que eu não tenho um parceiro.”
“Você realmente quer que eu responda?!”
“É claro que eles não sabem que esse é só um detalhe trivial. Isso é só uma questão de tempo agora que eu tenho um colega tão ilustre quanto você.”
“Não me coloque nesse seu time de pervertidos!”
Muito menos na linha de frente!
Não tem nenhum aspecto da perversão em que eu tenho vantagem!
“Só fica vestida,” eu aconselhei ela.
“Tudo bem, mas você não está subestimando a minha velocidade? Eu já estou pelada, senhor.”
“Senhor?!”
Que rápido!!
Ah, é mesmo, no verão ela só usava roupa íntima e uma regata em casa… Tudo que ela precisava fazer era tirar duas peças de roupa, então eu acho que isso não é tão inacreditável… Espera aí, ela já estava praticamente pelada antes de começar!
“Kanbaru, seu nível de perversão está começando a passar do aceitável.”
“Ora, mas como meu querido senpai? Eu estou no meu quarto, na minha casa. Eu não deveria estar livre para me vestir como eu quisesse?”
“Hmph.”
Ela tinha um ponto… As regras da casa dela são seu domínio.
Na casa dos Araragi também, não tinha problema em ficar de roupas íntimas depois do banho, e mesmo se nós não andássemos completamente nus, a Karen e a Tsukihi (e eu) não nos importavamos de ficar seminus.
“É mesmo, foi mal… Eu devia ter ficado quieto. Não é como se você também ficasse pelada fora de casa.” “Desde que você entenda,” ela me perdoou. “Eu gosto de me desinibir, mas fora de casa? Muito raramente.”
“Então você faz isso mesmo?!”
“Sim, por exemplo em banhos públicos.”
“Ngh…”
Ela estava zombando de mim!
Mas é verdade, um banho público é fora de casa!
“E também com o time de basquete…”
“Você não vai me enganar de novo. Foi no banho, durante o acampamento de basquete né?”
“Ah, passou perto. Você acertou a parte do acampamento. Mas, no meu primeiro ano, eu organizei um jogo em que todo mundo estava pelado.”
“Eu espero que eles encerrem o clube todo.”
“Haha, qualé. É claro que isso é piada. Se você acredita numa besteira dessas, talvez você tenha a mente mais poluída do que a minha.”
“Q-que?!”
Oh céus, que ela seja punida por seus pecados!
Surpreendentemente, os céus atenderam meu pedido ali mesmo.
“U-urk…”
Eu escutei a Kanbaru gemendo, e também o som dela caindo no chão.
Alguma coisa aconteceu.
“Kanbaru, o que foi?”
“Eu esqueci de fechar a porta do meu quarto… A minha vó acabou de passar pelo corredor.”
“…”
Ah, tudo bem.
Aliás, a Kanbaru morava com seus avós, e os três viviam naquela casa.
Eles a criaram desde criança como se fosse a filha preciosa deles. Ela era a menininha especial do vovô e da vovó.
“Ela olhou para mim com decepção e continuou andando sem nem falar nada…”
“Olha, ver a sua neta pelada falando no telefone depois de todo o amor e carinho que ela te deu…”
Aparentemente, ficar pelada no seu quarto não era a regra da casa, só uma regra pessoal da Kanbaru.
“Aaaa… Aaaah… Já era,” ela lamentou. “Como é que eu vou conseguir ficar na frente dela depois disso?”
Isso foi demais. Eu raramente tinha a chance de ver ela assim. Não, eu não consigo ver ela pelo celular, mas eu tinha que visitá-la imediatamente. Talvez eu nunca tenha outra oportunidade dessas.
“Uh, Kanbaru, eu odeio te incomodar enquanto você está em choque, mas será que podemos voltar ao assunto de antes?”
“Tá bom. Mas eu não sei se eu vou ter algo interessante para dizer, mas você vai me aceitar? Araragi-senpai.”
Ela realmente estava bem deprimida.
Calma aí. Não se preocupe, você ainda tem seu charme.
“Minha aula particular de hoje foi cancelada,” eu disse. “Eu prometi que ajudaria a limpar o seu quarto amanhã, mas tudo bem se eu passar aí hoje?”
Como ex-capitã do time de basquete, a Kanbaru costumava ser atenciosa, mas ela era surpreendentemente relaxada quando se tratava de assuntos pessoais (tipo o fato de que ela tinha esquecido de fechar a porta). Mesmo com seu interesse em autodisciplina, ela também era muito desleixada. Ou seja, o quarto dela era um chiqueiro.
Aquilo ia além de uma bagunça. Era tão ruim que se os fãs dela vissem aquilo, eles acabariam desmaiando. De fato, o mesmo quase aconteceu comigo na primeira vez em que eu entrei naquele quarto (estilo japonês, tamanho de 12 tatames). O futon dela não foi recolhido, roupas estavam espalhadas pelo chão todo, tinham livros em pilhas enormes, caixas de papelão misteriosas em todos os cantos, e o pior de tudo, não tinha uma lixeira no quarto: só sacos cheios de lixo rolando por todo lado.
Não era só uma bagunça, só imundice.
Será que não dava pra levar o lixo pra fora, no mínimo?
Mesmo que o quarto fosse espaçoso, a única área aberta era em cima do futon. Mesmo assim, canetas, cadernos e outras coisas foram parar debaixo dele. Como é que ela consegue dormir?
E por aí vai.
Sem conseguir relaxar, eu decidi que iria limpar aquele quarto assim que eu chegasse, e desde então, eu tenho que arrumar aquela bagunça duas vezes por mês.
Nos dias 15 e 30.
A cada duas semanas, de algum jeito, a Kanbaru conseguia fazer o quarto voltar ao seu estado desastroso original. Qualquer um consegue fazer uma bagunça, mas é preciso ter talento para que as coisas fiquem assim. Ela poderia acabar se machucando se ficar pelada naquele quarto.
“Ah… É claro, eu não me importo,” ela respondeu. “Eu estou tão grata pela sua ajuda que eu nunca tentaria reclamar. Eu posso ajustar a minha rotina a qualquer hora.”
Ela ainda parecia estar fraca.
Mas resumindo, ela aceitou.
Eu disse que chegaria logo e desliguei. Mesmo que ela estivesse deprimida, não demoraria para que ela, que sempre é otimista, se levantasse. Se eu não corresse eu perderia a chance de ver ela daquele jeito. Diferente da casa da Sengoku, a da Kanbaru era meio longe, A Kanbaru, ligeira, com sua corrida de cinco segundos (ou o tal dispositivo de aceleração) provavelmente percorreria essa distância em um piscar de olhos, mas, infelizmente, as minhas pernas eram normais já que eu não era mais um vampiro. Eu passaria em casa para pegar a bicicleta no quintal, mas para evitar as perguntas da Tsukihi, eu não entraria.
Eu costumava ter duas bicicletas, uma para ir à escola e outra para uso pessoal. A mountain bike de uso pessoal acabou sendo destruída em um certo acidente. Tudo o que sobrou foi a bicicleta velha que eu usava para ir à escola.
Eu não sei quando eu vou conseguir comprar uma nova.
Não é que eu queira um modelo em especial, mas eu sinto que se eu comprasse uma, ela quebraria em pouco tempo…
De qualquer forma, eu comecei a ir para a casa da Kanbaru.
Eu não posso perder tempo.
Eu estava morrendo de vontade de ver a Kanbaru deprimida.
Porém, eu vi algo estranho de rabo de olho e tive que parar.
“…”
Uma menina de agasalho estava plantando bananeira no muro de uma casa.
Seu rabo de cavalo balançava conforme ela andava.
Era a Karen Araragi.
“…”
Plantar bananeira… Ela realmente continua fazendo isso.
Será que era para treinar os braços.
Caramba. A Hachikuji estava certa.
Ver alguém que é maior que uma altura específica plantando bananeira fora de uma academia parecia tão errado…
Ela se esticou.
Sem me perceber, e usando apenas a força dos braços, ela pulou de um muro para o outro.
“Hiya!” Me aproximando em silêncio na minha bicicleta, eu bati nos cotovelos dela.
“A-Aaah!”
Talvez eu conseguisse me equilibrar melhor do que ela. A Karen perdeu o dela, mesmo que isso nem se comparasse a um chute na cara, e caiu do muro.
Seria engraçado se ela tivesse batido a cabeça, mas devido as suas capacidades atléticas superiores de artista marcial, ela se virou durante a queda de 1 metro e caiu de pé.
Ela caiu virada para mim, então fizemos contato visual.
“Ah, Koyomi. Eu pensei que você fosse algum inimigo.”
“Você tem inimigos?”
“Não dizem que no momento em que um homem sai de casa, ele tem sete inimigos?”
“Você não é um homem, você é uma menina.”
“Se um homem tem sete inimigos, então uma menina tem sete vezes mais.”
“Hah.” No caso dela, isso provavelmente é verdade. Chocado, eu disse, “Mas o que você estava fazendo? Por quanto tempo você ficaria tentando testar meu senso de vergonha? Nesse ponto você já é puro músculo. Você teria que ser o Ranma Saotome¹ para querer ficar fazendo acrobacias nessa idade. Não me diga que você vai virar homem se eu jogar água quente em você.”
“Hyaha! Que conveniente, eu só teria que enfrentar um sétimo dos inimigos. Na verdade não, isso seria bem chato…”
“Por que você tá fazendo isso quando as pessoas podem te ver… Que coisa de mau gosto. Será que dá para agir como uma menina normal? E se os vizinhos começarem a falar sobre isso?”
“Hein? Eu estou imaginando coisas, ou você tentou se deixar de lado na conversa…”
“Não, nem um pouco,” eu retruquei. Minha consciência estava limpa. “Além do mais, plantar bananeira é uma coisa, mas tentar andar desse jeito é loucura… Talvez você fosse leve o suficiente no fundamental I, mas quanto você pesa agora?”
“Perguntar isso para uma dama é falta de educação.” Heheh, ela estava sendo arrogante. “Bem, eu tento ficar em forma. E se eu não tiver muitos músculos, eu fico com peso de mulher. Se algum dia você vir uma menina no fliperama jogando Dance Dance Revolution de cabeça para baixo, saiba que é a sua irmã.”
“Essa menina não seria minha irmã”
“Disse o cara que jogava hockey de mesa sozinho.”
“Isso foi há muito tempo atrás…”
Voltando ao assunto…
Voltando ao assunto.
Voltando ao assunto!
“O que você tá fazendo aqui?” eu perguntei.
“Servindo a sociedade. Volunteering”
A Karen ficou de pé e encheu o peito.
Seu olhar arrogante era irritante. Só olhar para a cara dela me dava vontade de bater nela.
“idiota,” eu disse, “não fica falando em inglês só pra parecer mais inteligente. Outro dia você tinha achado que o Descartes tinha algo a ver com à la carte.”
“E daí, os dois são franceses.”
“Verdade.”
“Mas então, por que você está me incomodando quando nós dois estamos fora? Nos somos tão parecidos que as pessoas vão saber que somos parentes. Isso me deixa com vergonha.”
“Não é como se eu quisesse falar com você. Se você não quiser que eu faça isso, é só parar de agir de jeitos que me obrigam a fazer isso.”
Para ser mais preciso, eu não fui falar com ela, eu fui bater nela.
“Mesmo assim,” eu disse, “você apareceu na hora certa. Tem algo que eu preciso perguntar.”
“Não tem nada que eu preciso que você me pergunte,” a Karen continuou como uma criança irritante.
Ela começou a plantar bananeira de novo, e eu empurrei as pernas dela para o outro lado. Ela caiu e ficou como um caranguejo.
Fazer a pose do caranguejo em público também era estranho.
O ângulo em que ela estava também era estranho, chegava a ser grotesco.
Aquelas pernas eram longas demais.
“Ei, isso foi perigoso,” ela reclamou de cabeça para baixo. Ela provavelmente conseguia se manter nessa posição por meio dia.
“Perigoso é o que vocês duas estão planejando. Fala logo o que vocês estão fazendo.”
“Eu andei servindo a sociedade, como eu disse.” A Karen sorriu, ainda de cabeça para baixo. Chegava a ser uma imagem engraçada. “Isso não te interessa, então que tal você cair fora?”
“Se isso for verdade, então eu…”
Os amuletos.
Eu duvido que a Sengoku tivesse se envolvido de novo, e o problema de verdade no caso dela veio por acaso.
Talvez eu só devesse ignorar isso.
Me meter nas confusões das minhas irmãs só para acabar me responsabilizando era o que normalmente acontecia.”
Talvez por ainda não ter percebido isso até agora, a Karen teve a coragem de dizer, “Nós não vamos te causar problemas. Você sabe que nós não somos burras.”
Ela tirou as palmas do chão, usando a cabeça para manter a posição e fez um gesto da paz duplo com as mãos livres. E ela disse que não é burra.
“Koyomi, como você me vê?”
“Eu sei lá. O que exatamente você é?”
“A matadora de demônios marchantes,” a Karen respondeu em um tom de voz baixo, “o cão de guarda infernal… Dekamaster²!”
“Que coisa foda…”
Essa provavelmente foi a primeira vez que uma menina fazendo a pose do caranguejo com a cabeça disse aquelas palavras.
“Super cool, perfect,” ela seguiu falando a frase de efeito do Dekablue Ranger³ e parecia estar se divertindo.
A pose dela não era nada legal.
“Eu sou uma garota em chamas!”
“Então eu espero que você seja incinerada.”
Mas eu tenho que admitir, que combinar essas frases legais com uma pose tosca era uma piada muito boa…
Eu sei que nunca conseguiria fazer algo do tipo.
Ela não era tão forte por nada.
“Tudo bem,” ela disse. “Então talvez eu deva colocar isso na minha rotina.”
“Enquanto você está aí embaixo, que tal tentar mais algumas frases? Pode ser qualquer coisa desde que elas sejam legais.”
“Se você quiser passar, você terá que me derrotar primeiro!”
“Mais engraçado do que o esperado!”
“Que tal o oposto? Você vai, eu cuido das coisas por aqui!”
“Ahahahahaha!”
Eu comecei a rachar o bico.
Isso era raro.
Mas, uh, opa.
Eu estava brincando com a minha irmã e me divertindo, o que não era a minha intenção.
Mesmo depois dessa conversa, de algum jeito, eu não consegui nenhum pingo da informação que eu estava procurando. Mas quanto ao motivo pelo qual ela estava aqui, já dava pra saber sem a ajuda dela.
A Escola Pública Kiyokaze, que foi frequentada pela Senjougahara, Kanbaru e pela Hanekawa, ficava aqui perto. Se a Karen estava investigando a circulação dos amuletos entre alunos do fundamental, essa era uma área importante na busca.
Hm.
“Hup!” A Karen desfez a pose de caranguejo de forma espetacular, plantando bananeira mais uma vez (se equilibrando com a cabeça) antes de voltar a ficar de pé normalmente.
Praticamente uma artista de nascença.
Ou melhor, alguém que adora chamar atenção.
“Então, Koyomi, eu estou meio ocupada agora. Eu tenho muito a fazer. Se você quiser conversar, que tal falar comigo e com a Tsukihi em casa de noite. Será que você pode esperar até lá?”
“…”
Hm.
Eu também estava com pressa. Eu queria chegar na casa da Kanbaru assim que possível.
Sem perder tempo com a minha irmã.
Eu não estava planejando falar com elas até aquela noite mesmo. E não é como se pudéssemos ter uma discussão séria ali.
“Eu realmente devia deixar vocês sozinhas?” Eu perguntei para a Karen só pra garantir.
“É claro. Essa coisa toda vai acabar logo mesmo.”
“Hein…”
“Ninguém vai ficar no nosso caminho, sabe?” “Eu espero que alguém enfie uma faca no seu rim.”
“Aliás, e a Tsukihi? Ela ainda tá em casa né? Você viu ela?”
“Ela estava vendo TV.”
Mas vai saber o que ela tá fazendo agora.
Ela tinha prometido que ia cuidar da casa, mas vai que ela saiu depois por causa de um dos seus esquemas…
Aí então um celular tocou no bolso do agasalho da Karen. A música tema de Operação Dragão⁴.
Sutileza: Não era o forte dela.
Mesmo que eu não goste de ficar elogiando a minha irmã, ela se recusava a decorar o celular com fitinhas e coisas do tipo, e eu acho que isso é bem másculo e legal (mesmo que ela seja menina).
O celular da Tsukihi, por outro lado, é cheio dessas coisas.
Elas não tinham celulares quando começaram o fundamental II, mas meus pais, por não conseguirem resistir à tendência (ou, provavelmente, chegando a conclusão de que deixar aquelas duas sem meios de contato era um risco alto demais), decidiram suspender a proibição durante essas férias. As minhas irmãs já dominavam seus dispositivos.
Elas realmente eram boas em tudo mesmo.
Enquanto isso, eu ainda não sei nem metade das funções do meu.
“Alô… Ah. É…”
Ignorando o fato de que seu irmão mais velho estava falando com ela, a Karen atendeu, virando as costas para mim.
Ela começou a falar em um tom de voz baixo.
Eu não consegui ouvir o que ela estava sussurrando. Então eu não sei se o assunto era sobre alguma informação nova relacionada com os planos dela ou uma conversa particular, não que eu fosse bisbilhotar para descobrir.
Eu não sou a Tsukihi.
A Karen falou por cerca de um minuto antes de desligar.
Então ela se virou para mim.
Tinha um pouco de seriedade na expressão dela.
Era um olhar bonito e masculino.
“Tudo bem, Koyomi.”
“Huh?”
“Tá tudo bem. Essa coisa toda vai acabar logo.”
“Ah. Uh huh…”
Eu só consegui dar uma resposta vaga.
“Quando nós conversarmos hoje a noite,” a Karen disse, “vai ser para relatarmos os nossos feitos heroicos. Hyahaha!”
“Tanto faz. Você está quase acabando o ensino fundamental e ainda anda de cabeça para baixo, e infelizmente eu descobri isso hoje.”
“Isso vai servir. Hasta la vista.”
Provavelmente para que eu não a interrogasse mais, ela finalizou a conversa e sumiu da minha vista.
A propósito, ela fez isso dando uma cambalhota.
Ela desapareceu rolando em um ritmo furioso.
Que coisa louca e arriscada, principalmente sem colchonetes… Isso parece completamente diferente do atletismo da Kanbaru.
Enquanto a Kanbaru era rápida e tinha bons reflexos, eu duvido que ela conseguiria fazer as acrobacias da Karen com uma cara séria. Na verdade, a Kanbaru nem tentaria algo tão arriscado.
Eu suponho que essa seja a diferença entre artes marciais e esportes competitivos?
Ah, é mesmo, a Kanbaru.
Eu tinha que chegar na casa dela, e rápido.
Sem me esquecer da conversa que eu tive com a minha irmã, mas deixando esse assunto de lado, eu comecei a pedalar de novo.
Notas de tradução
¹ Protagonista do mangá/anime Ranma 1/2. Vira mulher quando jogam água nele
² Dekamaster é um personagem do super sentai Tokusou Sentai Dekaranger e é algum tipo de alien cachorro e basicamente o Ranger preto dessa série.
³ O ranger azul daquela série costuma falar coisas aleatórias em inglês.
⁴ Filme do Bruce Lee.
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Nisemonogatari, Livro 1
005
Nadeko Sengoku, aluna da oitava série. Embora muitos mencionem o fato de que ela é estranhamente quieta, se eu fosse apontar sua característica mais marcante, eu diria que são as suas franjas. Em vez de pentear as franjas para os lados, ela deixava o cabelo cobrir parcialmente seus olhos, tipo o Kaede Rukawa¹. Parece que a Sengoku consegue enxergar pelas frestas, mas para as pessoas olhando para ela, era quase impossível ver os seus olhos. Esse penteado distinto pode ter feito ela parecer meio estranha, mas considerando que ela fazia isso por timidez, eu acho que era inevitável.
Falando nisso, a Sengoku normalmente usava um chapéu quando saía de casa. Aparentemente o chapéu é uma metáfora para as defesas que você constrói ao seu redor. O Oshino também achava que ela era tímida, mas ela evitava as pessoas em um nível que ia além de ser tímida ou reservada. Parece que ela desconfiava das pessoas.
Como seu onii-chan honorário, eu me preocupava com o futuro dela.
Como é que ela vai viver se continuar assim?
Pelo menos era isso que eu estava me perguntando quando eu toquei a campainha da casa dela. (ela mora em um sobrado normal, não em um apartamento acabado como a Senjougahara, ou em uma mansão de samurais como a Kanbaru. Só normal.)
Quando a porta abriu, eu fui pego de surpresa.
Não, surpresa não é o suficiente para descrever o que eu senti.
Eu estava boquiaberto.
Ela afastou as franjas.
Elas estavam sendo presas, junto com o cabelo do lado da cabeça, por uma faixa rosa e fofa (o tom de rosa era meio discreto e não muito vibrante). E os olhos dela estavam visíveis. Na verdade, o rosto todo podia ser visto.
Então ela é assim.
Eu sabia que ela era fofa, mas isso vai além do que eu tinha imaginado. Mesmo que ela fosse mais nova, e também como uma irmãzinha para mim, meu pulso acelerou.
A Sengoku tinha o hábito de olhar para o chão, mas hoje ela veio até a porta com a cabeça erguida. Ela até parecia estar meio vermelha.
Ela estava tão ansiosa para essa visita?
“Sengoku… Você normalmente se veste assim em casa?”
“Uh…um…”
Ela ficou envergonhada.
Essa é a Sengoku que eu conheço.
Eu estava começando a achar que estava na casa errada. Mas ninguém além da Sengoku ficaria tão agitada com uma simples pergunta.
“C-como assim?”
“É o seu cabelo, a franja.”
“Minha franja? O que há de errado com ela?” Surpreendentemente, ela se fez de inocente. Mas é impossível que ela não saiba o que eu quis dizer. “N-n-não é como se eu tivesse juntado coragem porque essa é a primeira vez que você vem aqui.”
“Hmm…”
Tá bom.
Ela mesma confirmou.
Ela provavelmente usava essa faixa de cabelo em casa, assim como a saia, que era curta o suficiente para expor as suas coxas, aquela camisola, e o cardigan fininho por cima de tudo. Afinal estávamos em agosto, no meio do verão.
Ufa, eu quase achei que ela fez de tudo para se arrumar pra mim. Dá pra imaginar? Aí seria como se ela estivesse pensando em mim como um garoto.
De jeito nenhum, sem chance. Isso não é possível.
“Por favor, Koyomi-oniichan, pode entrar.”
“Tudo bem… hm?” Ao entrar eu percebi algo estranho. Não tinham sapatos na entrada. Tinha um par de sapatos da escola, que provavelmente eram da Sengoku. Mas cadê os dos pais dela?
“Sengoku, os seus pais…”
“Os dois trabalham de sábado.”
“Ah, os meus também… Então é por isso que você atendeu o telefone quando eu liguei.”
Espera…
Eu deveria estar entrando na casa de uma menina enquanto os pais estão fora e ela está sozinha? Eu pensei que eles estariam aqui… Droga, eu devia ter obrigado a Tsukihi a vir comigo. Na verdade, ainda dá tempo, então dá pra remarcar isso para outro dia.
Enquanto eu estava pensando no que fazer…
Clique.
Cloque.
A Sengoku trancou a porta.
Era uma tranca dupla. Ela até usou a correntinha.
Hmph, ela levou a segurança bem a sério… Acho que não tem problema. Isso significa que ela confia em mim.
E eu tenho que mostrar que ela pode confiar em mim mesmo. É o meu dever como alguém mais velho.
“O meu quarto fica no segundo andar, lá em cima.”
“Quartos de crianças normalmente ficam lá mesmo.”
“Eu já arrumei tudo.”
“Ah.”
Eu subi as escadas como ela pediu.
O quarto da Sengoku, que tinha cerca de 10 metros quadrados, era típico de uma menina do fundamental. Cada centímetro (incluindo o papel de parede, as cortinas e as capas de maçaneta) exalava uma aura feminina. Era bem diferente da toca das minhas irmãs.
Huh.
A porta do armário, no entanto, não tinha aquela aura feminina. De fato…
“Sengoku, aquele armário…”
“Não abre ele,” ela ordenou, de forma meio severa. Ela me interrompeu quando eu ainda estava no “á” e terminou de falar antes de o “o” sair da minha boca. “Senão eu não vou te perdoar.”
“…”
Quem diria que “eu não vou te perdoar” era parte do vocabulário dela? Visitar as pessoas realmente vale a pena.
Claque.
Assim que ela viu que eu entrei no quarto, ela trancou a porta. Acho que é normal que uma menina da idade dela, o começo da adolescência, tenha uma fechadura na porta do quarto… Pera aí.
Trancar a porta da casa faz sentido, mas a do quarto também?
Eu estava preso?
Não, isso é besteira. A Sengoku nunca faria algo assim. Pra que ela precisaria?
Deve ser só um hábito dela… Ela era tímida e reservada. Não tem nada de errado em ter um costume desses.
Tinha uma bandeja no tapete com refrigerante e petiscos em cima. Acho que era isso que ela quis dizer quando falou em arrumar tudo.
Fofo.
“Okay, por favor sente ali,” ela disse.
“Na cama? Tem certeza?”
“Sim. Você não pode sentar em nenhum outro lugar.”
“…”
Eu acho que a Sengoku não gostava de opções. Eu não tinha escolha.
Ela era “eliminacionista”, como alguém que gosta do processo de eliminação? Não que eu já tenha ouvido falar desse tipo de“-ista”.
Eu me sentei na cama, e ela se sentou na cadeira giratória (de altura ajustável da marca Kuru-Kuru Meka²) na frente da sua mesa de estudos.
“Ufa. Tá quente aqui, né?”
Depois de ouvir isso, a Sengoku tirou o cardigan.
Aqui dentro? Mas esse não é o quarto dela?
“Se você tá com calor,” eu disse, “que tal ligar aquele ar-condicionado…”
“N-não! Você não se importa com o meio ambiente?!”
Parece que temos uma situação de reféns aqui.
O planeta é um grande refém.
“O aquecimento global está fora de controle, por causa do dióxido de carbono… Já é bem ruim quando um carbono oxida, mas esse é um dióxido!”
“É claro…”
A explicação dela demonstrava falta de conhecimento de química. Não que eu saiba por que o aquecimento global está acontecendo. Se houveram eras do gelo, então o oposto também pode acontecer, e aparentemente ainda não sabem se o dióxido de carbono é culpado.
“E, e,” ela continuou. “Nós nem sempre tivemos um ar-condicionado… ‘limpa tua mente de pensamentos mundanos e até o fogo será como um fofo e fresco pinguim do ártico.’”
"Criar matéria orgânica a partir do fogo, isso é alquimia avançada…”
Na verdade isso chegaria a ser divino.
“P-por que você não tira a blusa já que está com calor?” Ela sugeriu.
"Hein, eu?”
"Mesmo se você não estiver, você não tem escolha.”
"Então essa é a minha única opção…?”
Que planeta assustador.
A Kanbaru adoraria ver isso.
Mas eu acho que não é tão estranho uma aluna do fundamental se preocupar com o meio ambiente. Como o "onii-chan” dela, eu tenho que agradá-la. E estava quente aqui… Na verdade, parece que o aquecedor estava ligado até algum tempo atrás em vez do ar-condicionado.
Eu estava usando uma regata por baixo da blusa. E como a Sengoku estava de camisola, nós dois estavamos com os braços de fora.
Para mim, não tem problema, mas ela é mesmo uma criança por não hesitar mesmo estando assim na frente de um menino.
"Agora, Koyomi-oniichan, vamos beber um pouco de refri… Só que só tem um copo.”
"Por que só um!?” Se ela preparou tudo, como foi que isso aconteceu?
"V-você não se importa de dividir né? Afinal nós somos como irmão e irmã.”
“É… Eu acho que não.”
Será que ir na cozinha para pegar outro copo não era uma opção? Ah, é mesmo, ela não gosta de opções.
Eu aposto que não tenho escolha além de dividir.
Por algum motivo eu estava começando a me sentir como um animalzinho capturado. Normalmente é ela que se sente assim.
Eu dei um gole no refri.
Parece que eu senti um cheiro fraco de álcool.
"Sengoku, isso aqui é cerveja?”
“Uh-uh.” Ela balançou a cabeça. "Isso é refrigerante de cola.”
“É, pelo menos se tratando do gosto...”
"Mas ele é extra gaseificado.”
"Eles ainda fabricam esse tipo de coisa?”
Refrigerante extra gaseificado, uma bebida aterrorizante com um nível intoxicante de gás.
Agora que eu olhei com mais atenção, todos os petiscos são bombons de chocolate. Como se ela quisesse me deixar bêbado e inconsciente.
Que combinação diabólica.
Mas eu tenho certeza que isso é coincidência, não dá para esperar que uma aluna do fundamental saiba receber convidados. Reclamar disso seria falta de educação. É bom ver isso como uma chance de tentar algo diferente
"Não tem TV aqui, hein?”
"Não, eu não assisto muita TV. Faz mal pra vista.”
“…”
Disse a menina conhecida por suas franjas longas. A lógica dela era tão furada que eu nem sabia por onde começar.
Talvez ela se preocupasse com a sua visão mais do que outras pessoas precisamente por gostar de deixar a franja longa.
“Então você também não joga muito video game né?” Eu perguntei. "Se bem que hoje em dia você nem precisa ter uma TV, já que existem consoles portáteis.”
"Não muito… Só alguns jogos populares.”
“Ah, tipo o quê?”
"Metal Gear.”
"Ah.”
"Do MSX 2³”
"H-hein?”
O MSX 2?! Que tipo de criança tem um desses hoje em dia?!
Como sempre, a Sengoku é cheia de surpresas.
“Tá lá em baixo, na sala,” ela disse. “Eu não estava planejando usar ele, mas se você insiste.”
“Não, eu não iria até a casa de alguém para jogar um jogo singleplayer…”
“Eu também tenho um Popira 2⁴.”
“Sério?!”
Por que não um PlayStation 2?
“Mas continuando, Sengoku, você tinha falado em arrumar as coisas. Então você preparou algo?”
“Sim.” Ela pegou dois palitos descartáveis, e a ponta de um era vermelha. "Vamos jogar o Jogo do Rei.”
“…”
Uhh, isso é complicado. Como eu posso explicar?
“Eu sei. É tipo o Mestre Mandou.”
“Olha…” Ela não estava completamente errada, mas esse era um jogo de bebedeira.
“A palavra do rei é dissoluta⁵.”
“Quanta tirania!” Eu falei por brincadeira, mesmo sem saber se ela estava sendo séria. Eu olhei para os palitos. “Eu nunca joguei isso, então eu não conheço os detalhes. Mas eu acho que esse jogo não é para só duas pessoas.”
“Por que não?” A Sengoku inclinou a cabeça. “De qualquer forma, eu não me incomodaria. Eu não me importo de mandar ou obedecer.”
“Tá bom, mas que tal nós tentarmos outra coisa?”
Ela provavelmente era nova demais para entender. Enquanto a sua inocência era refrescante, eu tinha dificuldades para lidar com ela. Eu acho que as mães também se sentem assim quando precisam responder de onde vem os bebês.
A Sengoku parecia meio perdida, talvez porque seu plano tinha sido frustrado. Mas em vez de desistir, ela deixou os palitos de lado e disse, “Que tal jogar o Jogo da Vida?”
“Jogo da Vida? Ah, tudo bem.”
“A palavra da vida é absoluta.”
“Que profundo!”
A Sengoku saiu dizendo que o tabuleiro estava em outro quarto. E também: “Você não pode abrir o armário, mas, sinta-se em casa. Que tal olhar aquele álbum de fotos?”
O que ela queria que eu fizesse?
Que mistério.
Depois de um tempo, a Sengoku finalmente voltou. Ela parecia meio decepcionada quando percebeu que o álbum ainda estava na estante, mas eu acho que só estava imaginando coisas.
Falando nisso, os livros alinhados naquelas prateleiras eram meio únicos. Não tinha nenhum mangá ali, só clássicos da Iwanami⁶, o que não é comum para uma aluna do fundamental. Ela queria que eu pensasse que ela era madura e sempre lia esses livros? Talvez algumas pessoas achem que ela pegou eles do escritório do pai e os colocou ali para impressionar as visitas.
Além do mais, eu me lembro que ela era fã de mangá… Eu até me lembro de ouvir ela falando sobre o último episódio de Dodge Danpei⁷.
De qualquer forma, já faz muito tempo desde a última vez que eu joguei o Jogo da Vida. Eu me lembro de ter dificuldade entendendo como usar as notas promissórias quando eu era mais novo.
“Ah é mesmo,” eu disse. “Nós já jogamos isso na minha casa, né?”
“Sim, eu lembro.”
“É mesmo?”
“Na verdade, eu nunca esqueci.”
“…”
Eu acho que a Sengoku tinha uma memória muito boa. As minhas lembranças daquela época são meio vagas… Eu via ela como uma menina que gostava de olhar bastante para baixo.
Eu girei a roleta.
O Jogo da Vida também era melhor para mais jogadores, mas no fim ele era um jogo de chance. Gire a roleta, mova o seu carrinho pelo tabuleiro e veja se você teve sorte ou azar. Nós acabamos nos divertindo.
Eu quase me senti como uma criança de novo.
Mas…
O tabuleiro estava no tapete, e o jeito que a Sengoku estava inclinada, fez com que eu acabasse olhando para dentro da camisola dela. E para piorar as coisas, já que ela estava sentada na minha frente, eu estava em perigo constante de ver por baixo da saia dela.
Honestamente.
Ela era uma criança, mas se fosse qualquer outra pessoa em vez da Sengoku, eu teria pensado que isso era uma tentativa de sedução. Não é a primeira vez que eu pensei nisso, mas parece que ela manteve sua guarda nos lugares errados… Espera aí, na ultima vez que eu pensei nesse assunto, eu acho que era sobre as franjas dela, não é? Mas hoje o rosto dela estava totalmente visível.
…?
Que estranho
Ela não estava de sutiã.
Na verdade, a camisola não é um tipo de roupa de baixo? Eu não tenho certeza. Nenhuma das minhas irmãs usavam coisas desse tipo.
Só agasalhos e kimonos.
Não que o onii-chan honorário da Sengoku fosse ter esses pensamentos desagradáveis ao olhar para o corpo dela.
Você tem sorte por eu ser um cavalheiro, Sengoku.
“Ah…” Ela disse. “Você caiu na casa do casamento. Pega um pino.”
“Tá bom.”
“Se eu for me casar, eu espero que seja com você, Koyomi-oniichan…”
“Hm? Esse jogo ainda permite o casamento de jogadores?”
Eu não me lembro de uma regra dessas.
“B-bem… não, eu só estava falando, idealmente.”
“Huh.”
Ah.
Parando para pensar, quando a Karen e a Tsukihi eram pequenas, elas costumavam dizer que queriam se casar comigo quando crescessem.
Que memória nostálgica.
A Sengoku não era tão nova quanto elas, então ela provavelmente só estava falando da boca pra fora.
“Falou da boca pra fora?” eu perguntei.
Ela parecia confusa. “Boca pra fora, como assim? É tipo dar um beijo de língua?”
“Não foi isso que eu quis dizer!”
“Eu tenho um pouco de vergonha, mas se é isso que você quer…”
“Calma aí!”
Que tipo de irmão eu era? Isso faz parecer que eu sou só um tarado!
“Aliás,” ela disse. “Eu andei pensando.”
“O que foi?”
“Talvez eu devesse parar de te chamar de onii-chan. Isso parece meio infantil. Afinal você não é meu irmão de verdade.”
Eu já não tive uma conversa parecida com a Kanbaru? Pelo que eu lembro, aquilo não tinha acabado bem para mim.
Eu estava começando a ter um mau pressentimento, mas mudar de assunto também seria desagradável.
Eu teria que dançar conforme a música e seguir o fluxo.
Eu, pelo menos, gostava de quando ela me chamava de ”Koyomi-oniichan”.
“Olha, eu aceito qualquer coisa,” eu disse para ela. “Do que você quer me chamar?”
Ela respondeu como se já tivesse escolhido há muito tempo.
“Querido.”
“…”
…
Ah…
Ah, é claro, um termo formal.
Não tem nada de errado nisso.
Eu não tenho nenhum motivo para me perguntar como uma conversa sobre casamento chegou nesse ponto. Meus maus pressentimentos não andam sendo muito confiáveis ultimamente né? Por algum tempo essa probabilidade acabou sendo um desagradável cem porcento!
“Claro, eu não me importo,” eu disse.
“E-então…”
Por algum motivo as bochechas dela ficaram vermelhas e ela parecia estar envergonhada (com as franjas para trás, o rosto dela era surpreendentemente expressivo) quando ela falou a palavra.
“Q-querido…”
Que menina engraçada.
“Escuta, Sengoku, querida…”
“Q-querida!” Ela ficou vermelha como um tomate. Ela claramente estava agitada. “Querido e querida… Ai…ai..ai meu…”
“Hein?”
Esse era só outro termo comum não é?
Eu e a Sengoku estávamos falando em dialetos diferentes ou algo do tipo? Talvez eu devesse procurar a mestra linguística Hachikuji.
“De qualquer forma, Sengoku, escuta. Algo estranho aconteceu ultimamente?"
“C-como assim?”
“Nada, mas é que teve aquela outra vez.”
Na verdade foi o jeito como eu estou vestido hoje que me fez pensar nisso. A Sengoku que eu vi pela primeira vez em anos nunca teria mostrado tanto do seu corpo…
Por causa de uma monstruosidade.
E por causa de um humano.
Bem, de acordo com o Oshino, o caso dela era diferente do que a Hanekawa, a Senjougahara, a Hachikuji e eu passamos e não deveria ser analisado da mesma forma, mas isso não muda o fato de que ela também tinha uma chance maior de atrair monstruosidades.
Ser vigilante demais era outro jeito de fazer as pessoas te afastarem, mas eu precisava ficar de olho nela.
“Não… nada em particular,” ela disse.
“Mas… Aqueles amuletos de antes ainda são populares.”
“Na sua escola?”
“Sim, mas não só na minha. Entre outros alunos do fundamental.”
Parece que a Sengoku hesitou um pouco antes de falar.
“Eu acho que a Hara… Que elas podem estar planejando algo.”
“…”
Hara era o apelido da Tsukihi no fundamental I, tendo vindo de Araragi. “Elas” significa que a Karen, e portanto, ambas as Fire Sister...
Estavam planejando algo.
Planejando algo.
Planejando algo!
Uma frase tão ambígua e preocupante que dá para interpretar de praticamente qualquer jeito… Planejando algo!
Eu espero que, para variar, elas não estejam planejando nada!
“Outro dia,” ela continuou, “A Hara me perguntou sobre aquela coisa da cobra… É óbvio que eu não podia contar a verdade, e então a minha história acabou meio malfeita… Mas aparentemente elas estavam fazendo perguntas e investigando coisas por aí.”
“Coisas…”
Eu precisava saber mais!
Será que eu precisava mesmo?
Parando para pensar, a Karen saiu hoje… Será que isso tem alguma relação com esse caso? Quando se tratava de assuntos envolvendo outras crianças, é impossível as Fire Sisters não se meterem…
“Em outras palavras, elas foram investigar aqueles amuletos?” Eu perguntei para a Sengoku. “Mas as maldições eram falsas né? Foi só o jeito como você tentou lidar com uma delas que estava errado.”
Errado
O método usado para quebrar a maldição era apropriado demais, e portanto estava errado.
Esse não era o ponto?
Mas sendo mais preciso, também havia a influência nefasta da Shinobu Oshino, uma vampira de sangue quente, de sangue frio, de sangue de ferro, uma lenda dentre as lendas, visitando nossa cidade.
O que também significa…
Que depois de esse problema ter sido resolvido, umas crianças mexendo com essas coisas sem sentido não deveria causar nada.
“Sim.” Ela concordou. “Eu tenho certeza que o meu caso foi o único que realmente manifestou uma monstruosidade. Pelo menos eu acho.”
“Mas então qual é o problema?”
“Bem, eu duvido que a Hara esteja pensando nos efeitos dos amuletos. Elas provavelmente nem acreditam em monstruosidades… Eu acho.”
“É, você provavelmente está certa.”
As minhas irmãs eram bem realistas. Elas podem até ter medo de fantasmas, mas não acreditam neles. Esse era o ponto de vista delas.
A Sengoku continuou.
“Eu acho que elas não gostaram do fato de que essas magias falsas viraram moda… Elas querem descobrir quem está por trás disso, ou algo do tipo.”
“…”
Elas querem descobrir a fonte dos amuletos?
Isso parece loucura até mesmo para as minhas irmãs.
Seria difícil demais.
“Os amuletos não viraram moda porque alguém tentou popularizar eles. Mesmo se elas encontrarem alguém, essa pessoa já vai ter deixado de ser responsável.”
Mesmo que as fofocas só se espalhem para 75 pessoas, quando você chegar na septuagésima quinta pessoa, você estaria falando com um indivíduo completamente diferente de quem começou. É quase como brincar de telefone sem fio.
“Então a Hara… ou as Fire Sisters,” a Sengoku disse. “Elas estão achando que ‘alguém’ com um ‘motivo’ fez os ‘amuletos’ virarem moda…”
“Isso parece típico delas…”
Caramba.
Talvez eu devesse falar com a Karen. Talvez não tenha problema ignorar essa situação, mas eu sabia que as coisas se complicariam porque o caso tem um precedente, cujo nome é Nadeko Sengoku.
Um passo em falso e você acabaria com o pé na cova.
Ou pior, com os dois pés.
E, se você fosse como eu, talvez o corpo inteiro.
“K-Koyomi-oniichan?”
Talvez fosse porque eu estava pensativo, mas a Sengoku me chamou, voltando a usar meu apelido antigo. Eu saí de meu devaneio e olhei para cima.
Ela parecia meio irritada, quase ao ponto de chorar. Ela provavelmente estava se sentindo mal depois de me preocupar tanto.
Ela era uma boa menina.
Que pena que ela não era minha irmã de verdade. Se ela fosse, nós nunca iríamos brigar.
“Não foi nada, Sengoku, eu estou bem,” eu a assegurei. “Aliás, sabe, eu acho que ela combina com você.”
“…?”
“A sua franja. Por que você não usa o cabelo assim fora de casa?”
“Eu não consigo, eu tenho vergonha…” Como se ela tentasse substituir a franja, ela cobriu o rosto com as mãos. “Mas se você diz, então eu vou tentar.”
“Tentar é bom.”
Eu concordei. Era bom ver o crescimento de uma pessoa.
Eu espero que ela continue assim.
“Aliás, Sengoku, nós quase terminamos o Jogo da Vida. O que você quer jogar depois disso?”
“Twister.”
“Eu nunca ouvi falar nesse aí. Você vai ter que me ensinar.”
“É claro que eu vou ensinar… Ensinar você e o seu corpo.
“Ha ha ha, isso parece divertido.”
Mesmo assim, será que era só minha imaginação?
Nos seus olhos, que foram expostos quando ela prendeu a franja, eu acabei percebendo, de vez em quando, um brilho que lembrava os olhos de uma cobra.
Notas de tradução
¹ Personagem do mangá de basquete Slam Dunk.
² Marca de móveis japonesa
³ MSX 2 é a segunda versão da arquitetura de microcomputadores lançada pela Microsoft primariamente no Japão em 1986 com o objetivo de permitir que outras empresas criassem seus próprios computadores compatíveis entre si.
⁴ Popira é o nome de uma série de “consoles” plug and play (daqueles que é um controle que vai direto na TV) de ritmo fabricado pela empresa japonesa de brinquedos Takara.
⁵ Contrária aos bons costumes, devassa, desregrada.
⁶ Editora de livros fundada em 1913, conhecida por publicar clássicos da literatura japonesa.
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Nisemonogatari, Livro 1
004
Não é como se eu pudesse contar a verdade para ela. “A verdade é que, sem vocês saberem, eu acabei virando um vampiro. Felizmente eu consegui voltar a ser um humano, só que os efeitos colaterais da transformação não passaram, então eu tenho que tomar cuidado para não brigar com vocês senão eu posso acabar escorregando e matando as duas.” Não dá pra falar isso para alguém enquanto eu faço uma cara séria.
Mas eu provavelmente estava me preocupando sem motivo.
Minha relação atual com a Shinobu Oshino - a vampira que ficava na minha sombra - era surpreendentemente simples. Tão simples que chegava a confundir. Eu ainda era o servo da Shinobu, mas ela perdeu força como vampira e como monstruosidade, incapaz de viver ou morrer sem mim.
Resumidamente, eu ainda posso voltar a ser um vampiro se eu entregar o meu sangue à Shinobu, e ela ao beber esse sangue, pode recuperar uma boa parte de sua antiga força. Ou seja, a não ser que eu tivesse acabado de dar sangue para ela, o único efeito que persiste é a cura acelerada. Então eu provavelmente não precisava me preocupar se eu começasse a brigar com a Karen, ou eu posso simplesmente acabar sendo derrotado por ela, assim como eu tinha dito para a Tsukihi.
Agora eu já sabia.
Eu sabia qual era o significado de lutar, de batalhar.
Não apenas se tratando de brigas, mas sim de conflitos maiores.
Não só bater nos outros, mas sim matá-los.
Eu sabia o significado de guerrear e matar.
E como resultado, eu não podia mais brigar com as minhas irmãs como antigamente. Até o momento em que a Tsukihi tocou no assunto, eu estava tentando não pensar sobre isso, mas no fundo eu pensei.
-Olha.
-Será que dá para você não crescer sozinho?
-Isso seria meio chato.
A Karen tinha me dito o oposto disso.
Sabe, Onii-chan, é por isso que você nunca cresce.
No fim, ela provavelmente estava certa. Não é porque eu mudei por dentro.
É só que agora eu já sabia.
É claro que a Tsukihi não iria querer que eu apertasse o pescoço dela. Mas usando aquela frase de antes, definitivamente há um jeito certo e errado de se brigar.
Pensando dessa forma, eu me vesti de forma apropriada para visitar alguém (e como a Tsukihi tinha dito, o meu senso de moda se resume a jeans e uma blusa com capuz), e saí de casa.
A Sengoku morava relativamente perto de casa. Quando eu fui visitá-la pela primeira vez, eu fiquei surpreso com a proximidade. Como nós frequentamos a mesma escola, isso fazia sentido. Nem era preciso ir de bicicleta, dava para chegar lá a pé em 10 minutos.
Só porque ela morava perto, isso não significa que eu não podia usar a bicicleta. Mas talvez Sengoku precise de tempo para se arrumar, então eu decidi ir a pé.
Mas no caminho…
Eu vi alguém que eu conheço. Eu não reconheci as costas dessa pessoa, mas sim a sua mochila.
“É a Hachikuji-chan.”
Uma mochila enorme carregada por um corpo pequeno. Penteado maria-chiquinha e uma expressão travessa. Tinha que ser a Mayoi Hachikuji.
Uma aluna da quinta série.
Nós nos conhecemos quando ela estava perdida e eu me aproximei dela. Ela parecia ter se mudado para outra cidade, mas continuava assombrando essa. Mesmo assim, como ela estava no fundamental, eu não conseguia entrar em contato com ela, e a minha única esperança era acabar encontrando ela por acidente. A Hanekawa e eu considerávamos a Hachikuji como um amuleto que te daria boa sorte se você encontrasse ela. Essa foi a primeira vez que eu a vi desde o começo das férias de verão, na verdade eu acho que não via ela há um bom tempo.
Hmm… Hmm… Hmm…
A Sengoku estava me esperando.
Para começo de conversa, eu nem gostava da Hachikuji, aquela piralha. Na verdade, eu odiava ela. Nós não éramos amigos, então pra que cumprimentá-la se eu a visse na rua? Nós poderíamos estar cara a cara e eu provavelmente ignoraria ela!
Mas, como um aluno do ensino médio e como alguém mais velho, ter essa atitude seria falta de educação. Um homem sabe como interagir com as pessoas que ele não gosta. Por que não cumprimentar uma criança? É bom ter boas maneiras. E não é como se eu estivesse feliz por vê-la nem nada do tipo, eu só quero ser educado.
Há, eu sou muito gentil.
Eu comecei a correr na direção dela em velocidade recorde, e a abracei com muita força.
“Hachikujiii! Eu senti a sua falta!”
“Aaah?!” A pequena Hachikuji gritou ao ser agarrada pelas costas. Ignorando-a eu comecei a beijar suas bochechas macias.
“Ahh, eu fiquei tanto tempo sem te ver, que eu pensei que você tinha sumido, eu fiquei tão preocupado! Aaah, deixa eu te abraçar mais e lamber você toda.”
“Aah! Aah! Aah!”
“Ei, para de se mexer tanto! Eu não vou conseguir tirar a sua calcinha!”
“Aiieeeeeeeeee!!”
Ela continuou gritando do fundo de seus pulmões, e então…
“Grrah!”
Ela me mordeu.
“Grrah! Grrah! Grrah!”
“Isso doeu!”
Mas eu acho que mereci.
Vocês me pegaram. A verdade é que eu sou louco pela Hachikuji.
Deixando uma marca de mordida que provavelmente nunca vai sumir, ela se libertou de meu agarrão demoníaco (?) e pulou para trás.
“Fssssk!” ela rosnou.
Ela ativou o modo selvagem.
“E-espera! Hachikuji, olha! Sou eu!”
Considerando o meu comportamento, saber que eu estava lá não ajudaria em nada, mas eu resolvi tentar porque os olhos dela, que ficaram vermelhos e em alerta (inhumanos), retornaram lentamente à sua cor natural (que não era verde).
“…Ah…” Reconhecendo meu rosto e retraindo suas garras, ela disse, “É o Araragi-san. Yomiko Araragi.”
“Essa passou perto, mas será que dá para não me confundir com uma ‘mestra do papel’ que trabalha para a Divisão de Operações Especiais da Biblioteca Britânica?¹ Meu nome é Koyomi Araragi.”
Eu tenho quase certeza que depois de ter acertado o meu sobrenome, ela se esforçou para errar o primeiro.
Essa era a nossa relação. Eu assediava ela sexualmente quando e como eu quisesse, e em troca ela podia ficar errando a pronuncia do meu nome quando e como ela quisesse. Isso era como um acordo formal.
“Espera um pouco, Araragi-san! Eu nunca vi um acordo tão unilateral desde o Tratado de Kanagawa.”
“Sério mesmo? Porque ele parece bem justo para mim...”
“Além disso, o que você considera como assédio sexual já esta beirando a ilegalidade! Eu estou ficando com medo.”
Ela parecia estar sendo honesta.
Não é como se eu não fizesse ideia do que ela estava falando. Pelo contrário.
Por que eu não consigo me controlar perto da Hachikuji?
"Do que você tá falando?” eu menti, “Eu só te abracei. As pessoas fazem isso o tempo todo nos Estados Unidos.”
"Desde quando as pessoas se abraçam por trás?!”
“Esse é o problema desse país, ninguém quer tentar coisas novas.”
“De onde você pensa que veio?! E também, Araragi-san, talvez você só estivesse tentando me beijar na bochecha, mas parece que você escorregou e encostou nos meus lábios algumas vezes.”
“É mesmo? Foi mal.”
Eu obviamente não queria ir até esse ponto.
Mas que acidente infeliz!
“Poderia ser pior,” ela suspirou. “E do tanto que você ficou apertando e esfregando, parece que os meus peitos ficaram maiores. Talvez aquelas histórias sobre como eles crescem quando são tocados por um homem sejam verdade.”
“Sério? Os seus conseguem crescer?”
“Hein!?”
As trancinhas dela ficaram retas apontando para cima. Ela comandou o cabelo? Que tipo de sistema era esse?
“Mas,” eu disse, “Eu pensei que o fato de que você não cresce fizesse você ser especial.”
“Que observação boba. E na próxima vez em que você fizer algo assim, eu vou te dedurar pra Hanekawa-san.”
“Ugh… Isso seria ruim.”
É sério. Ultimamente a Hanekawa e a Hachikuji estavam se dando bem demais para o meu gosto.
Essa aliança parece problemática.
Se bem que ela parece mais com um grupo de sobreviventes.
“Aliás, você estava indo para algum lugar?” ela perguntou, rapidamente mudando de assunto.
Ela conseguia ser bem tranquila.
Tão tranquila que eu chegava a me preocupar.
“Não, não exatamente.” eu respondi.
“Procurando alguém para entrar pro Harém Araragi?”
“Eu não estou fazendo nada de tanto mau gosto.”
“É que um membro da primeira turma, o Oshino-san, se formou. Você vai demorar para preencher esse espaço vazio.”
“Mesmo se o Harém Araragi fosse real, por que ele é considerado como um ex-membro?! Ele é só um velho que usa camisas floridas!”
“Toma cuidado, se você juntar gente demais, vai ficar difícil de continuar a história.”
Ela fez esse comentário meta com indiferença.
Mas esse era um ponto realista.
A parte do harém era besteira, mas agradar todos ao mesmo tempo é impossível. Se juntar com alguém envolve deixar outra pessoa para trás. Significa que você se opôs a ela.
Os defensores da justiça só se aliaram à justiça.
Eles eram inimigos de tudo que não era a justiça.
Não dava para falsificar isso.
Resumindo, a justiça está pronta para trair a todos.
“Esse é um bom ponto,” eu admiti, “eu vou manter isso em mente.”
“Por favor. Mas novamente, desde que ninguém tente roubar o meu lugar, eu não ligo para quantos membros novos você vai trazer.”
“Desde quando você começou a participar do harém?!”
Deixe-me esclarecer uma coisa! Os únicos membros oficiais são a Shinobu e a Hanekawa!
“Você é só a convidada especial de hoje, Hachikuji.”
“É mesmo? Então é melhor você continuar esse programa.”
“Eu fiz algo de errado?!”
O apresentador levou uma bronca da convidada! Que humilhante!
“Tudo bem,” eu segui com a conversa “Eu já falei sobre a Sengoku antes? Ela é uma velha amiga. Eu estava indo visitar ela.”
“Aham,” ela concordou, sempre rápida para responder. “Mas por que você parece tão triste?”
“Eu pareço?”
“Sim, você parece meio aborretido.”
“Isso quase pareceu uma palavra!”
Ela quis dizer aborrecido.
É verdade, eu andei tendo uns pensamentos sombrios. Guardar segredos da sua família, com a qual você dividia a casa, sempre é desagradável.
“Mesmo assim,” eu disse, “eu não acho que estou aborrecido o suficiente para que você percebesse só de olhar.”
“Você estava sim. Era uma expressão de desconforto, como se uma série que fica fazendo piadas autodepreciativas sobre nunca ser animada acabasse virando um anime mesmo assim.”
“Tem uma expressão tão específica assim?”
“Relaxa, não é como se uma adaptação em anime fosse te obrigar a continuar uma história que já tem um final definido.”
“Do que você tá falando agora?”
Às vezes as coisas que ela falava transcendiam essa dimensão.
“Ficar nervoso com a sorte inesperada faz sentido,” ela me consolou. “Mas, sempre há algo a ganhar quando você entra em novos territórios.”
“Eu apreciaria suas palavras, se eu me preocupasse com isso…”
Parando para pensar, o Oshino costumava ficar falando sobre uma adaptação em anime o tempo todo. Eu não sei porque, mas eu acho que ele e a Hachikuji teriam uma boa conversa.
Hmm. Eu acho que eles nunca se conheceram antes nem conversaram, direta ou indiretamente, não é mesmo?
Então eu decidi que iria continuar a conversa, não só porque ela me lembrou do Oshino. “Como assim, algo a ganhar?”
“Resumindo em uma palavra. Dinheiro.” Ela respondeu.
Foi só uma palavra, uma palavra bem forte.
“Deve ter mais alguma coisa,” eu protestei.
“Hein?” A Hachikuji enrugou o nariz com nojo, e juntou as sobrancelhas com desprezo. “Que outras coisas existem nesse mundo além de dinheiro?”
“Muitas coisas! Tipo… amor?”
“Mm? Amor? Ah, é mesmo. Outro dia eu vi isso à venda na loja de conveniência.”
“Eles estavam vendendo amor?! Numa lojinha qualquer?!”
“Sim. Custava 298 ienes.”
“Que barato!”
“Parando para pensar, os humanos não são nada além de um sistema para transportar dinheiro.”
“O que aconteceu quando você estava viva que fez você ficar assim? Se você quiser me contar, eu estou todo a ouvidos.”
“Pensa um pouco. Entre o bilionário A, que diz ‘dinheiro faz o mundo girar’ e o bilionário B que diz ‘dinheiro não é tudo’, você não prefere o A?”
“Isso é relativo!”
Eu não prefiro nenhum deles!
“Deixando o dinheiro de lado, Araragi-san, eu estou muito curiosa para saber que dança nós faremos no encerramento.”
“Por que você mudou de assunto do nada?!”
“Eu espero que seja sexy como em Cat’s Eye².”
“Desde que você não ligue para aparecer como uma silhueta.”
Sinceramente, que referência datada para uma aluna do fundamental. Mesmo que o anime seja clássico, hoje em dia, nem os adolescentes sabiam sobre a animação do encerramento disso.
“Não é isso, Hachikuji. Na verdade, eu acho que posso contar para você né? Lembra da minha natureza vampírica?”
“Como assim?!”
“Não se esqueça de uma parte tão importante da história!”
Ela parecia tão surpresa que ela provavelmente não estava fingindo.
“Eu pensei que você fosse só um cara qualquer que gostava de lámen,” ela disse.
“Desde quando gostar de lámen faz parte da minha história de fundo?!”
“Você não conhecia todos os sabores de miojo do país?”
“Não!” Que tipo de especialização infeliz é essa? Que eu experimentasse lámen de verdade em vez disso.
“Koyomi Araragi, o homem que saboreou todos os lámens da região… Se eu não me engano, o seu preferido é o miojo de Melão Yubari né.”
“Não é possível que isso exista!”
Mesmo assim, eu não descarto a possibilidade de ele ser real. Tem umas coisas bem estranhas à venda por aí.
“Hmph.” A Hachikuji cruzou os braços e franziu a testa. “Eu estava errada, Asuragi-san.”
“Agora eu quase fiquei com vontade de mudar meu nome, isso soa muito legal. Mas eu te disse várias vezes, meu nome é Araragi.”
“Eu mordi a língua.”
“Você errou de propósito.”
“Eu perdi a língua?”
“Eu acho que não?!”
“Eu vendi a língua?”
“Eu não estou em uma loja!”
Será que nós estávamos indo comprar amor?
298 ienes!
“Agora eu entendi Araragi-san,” ela falou o meu nome direito. “Um vampiro. Eu acho que você tá certo, mas e daí?”
“Ei, eu não posso ficar contando isso para todo mundo, nem mesmo para alguém da minha família. Eu estou começando a me perguntar por quanto tempo eu vou conseguir guardar esse segredo. Eu tenho certeza que voltei a ser humano, mas alguns efeitos persistiram.”
“Dá para ser honesto demais né? É normal guardar segredos, mesmo dos seus parentes.”
“Hachikuji…”
Certo. Considerando tudo pelo que ela passou, a Hachikuji tinha sua própria perspectiva em relação à problemas com a família. Os meus acabam sendo tão triviais que eu pareço ser insensível.
“Afinal, quando você conta um segredo para alguém, você acaba envolvendo essa pessoa, mesmo que contra a vontade dela. Talvez falar faça você se sentir melhor, mas será que você não estaria incomodando alguém?”
“Hm… É verdade.”
“E além do mais, se eu tivesse um filho, e algum dia ele me contasse uma história bizarra sobre ter virado um vampiro ou monstruosidade ou sei lá o que, eu mandaria ele para ser internado.”
“Isso também é verdade.”
Essa realmente era uma possibilidade.
Talvez ela não tenha sido internada, mas no caso da Senjougahara, foi isso que a família dela achou. Eles trataram a monstruosidade como uma doença. E então tem a Kanbaru. O braço esquerdo dela ainda não voltou ao normal… Como ela lidava com isso? Ela não conseguiria esconder isso da família dela apenas cobrindo o braço com curativos, não é mesmo?
“Araragi-san, eu acho que agora você precisa de coragem! Coragem para guardar segredos!”
“Ah! Isso é inspirador!”
“Tudo o que eu fiz foi falar ‘coragem’ para fazer isso parecer positivo. Esse é um segredinho meu.”
“Você acabou de contar tudo!”
“Praticamente qualquer coisa parece positiva se você adicionar ‘coragem’ na frase.”
“Qual é… A linguagem não é tão simples assim. Ela é uma ferramenta sofisticada de comunicação que se formou ao longo de milênios, você devia ter mais respeito.”
“Você quer que eu prove isso?”
“Tudo bem. Mas se você não me convencer, então você vai ter que plantar bananeira, de saia e tudo. Você vai ter que expor a sua calcinha de criança para o mundo até eu me cansar.”
Aqui um exemplo!
Eu fiquei parecendo um esquisitão, mesmo tendo falado aquilo de um jeito bem alegre.
É assim que a língua funciona.
A Hachikuji respondeu, “Tá, eu aceito o seu desafio.”
“Hmph. Pelo menos você tem coragem.”
“Você é como uma fênix indo para o fogo, Araragi-san.”
“Isso até que foi legal?!”
“Ahem,” ela limpou a garganta. Ela estava se exibindo. “Vamos começar por algo pequeno… A coragem de mentir para alguém que você ama.”
“Gulp.”
Nada mau.
Você só estava mentindo para seu namorado ou namorada, mas adicionar ‘a coragem de’ faz isso parecer como uma mentira por um bom motivo - sem que a frase tenha essa intenção.
“A coragem de trair os seus amigos.”
“Caramba.”
Isso foi incrível. No fim você só traiu seus amigos, mas - mesmo que esse não fosse o objetivo - pareceu que você fez isso para protegê-los.
“A coragem de fazer o mal.”
“Ungh…”
Um gemido escapou de meus lábios. Você só estava sendo um incômodo, mas então por que eu vi um homem disposto a se tornar um pária para fazer a coisa certa. Novamente, sem que esse fosse o objetivo da frase.
“A coragem de apalpar alguém.”
“M-merda.”
Isso estava virando um massacre.
Mesmo um ato tão baixo quanto esse parecia estar sendo motivado por um propósito maior, pelo qual o culpado não teria outra escolha além de ser falsamente acusado de um crime. Mais uma vez sem esse ser o objetivo.
“A coragem de ser indolente.”
“I-incrível.”
Eu estava encurralado.
Você só estava perdendo tempo sem fazer nada, mas parecia que você estava se rebaixando e vivendo na pobreza por um motivo maior - sem que essa fosse a intenção!
M-mas!
Ainda era cedo demais para admitir a derrota!
“A coragem de admitir a derrota.”
“… eu fui derrotado!”
Ahh!
Encantado pelo som da frase, eu fui em frente e admiti a derrota.
É assim que a língua funciona.
Na verdade ela é bem simples.
“Tudo bem, Araragi-san, vamos ver como você se sai.”
“Certo… A coragem de ficar em pé na cabeça de alguém.”
Eu plantei bananeira.
No meio do meu bairro.
Eu fiquei feliz que a Karen e a Tsukihi não estavam aqui para ver isso. E pelo que eu me lembro, a Karen costumava ir à escola plantando bananeira o tempo todo antes do fundamental II. Ela foi motivo de piada. Ela se gabava por estar treinando os braços, mas na verdade ela só desenvolveu a minha capacidade para sentir vergonha.
“Caramba,” ela disse com nervosismo. “Ver alguém da sua idade plantando bananeira parece errado. Você pode parar.”
“…”
“É sério Araragi-san, você já pode parar.”
“…”
“Eu tô implorando. Ficar vendo de perto é ainda mais vergonhoso. Por que você está insistindo em ficar de cabeça para baixo como se você tivesse feito uma promessa para um amigo que morreu?”
“Na verdade,” eu disse olhando para ela da minha posição. “Embora eu esteja muito decepcionado por você não ter plantado bananeira, desse ângulo eu consigo ver a sua calcinha.”
A nossa aposta.
Independente do resultado, eu sairia ganhando.
“Hnnrk?!”
A Hachikuji começou a ficar vermelha de tão envergonhada, mas sua primeira reação não foi segurar a saia, mas sim me dar um chute na cara. Graças ao ângulo, o chute baixo me acertou bem no meio do rosto. Não existem muitas situações em que um chute baixo consegue fazer isso.
“Araragi-san, seu tarado!”
“Eu tenho a coragem de ser tarado.”
“Uau, que legal! Quando você fala assim, eu fico tentada a deixar você olhar o quanto quiser! Principalmente porque você conseguiu continuar de cabeça para baixo mesmo depois de levar um chutão na cara.” Eu diria que esse realmente foi um feito impressionante. “A técnica que eu criei foi usada contra mim… Que irônico!”
“Ahaha! A sua arrogância levou à sua queda, Hachikuji! Eu roubei a sua técnica secreta e aperfeiçoei ela.”
“O-o que foi que eu fiz… Eu criei um monstro!”
“Eu sinto muito por ter dito que você estava usando uma calcinha de criança. Mas eu não esperava que você fosse usar uma calcinha preta semitransparente.”
“Como assim? Do que você tá falando? Olha mais de perto! Você vai manchar a minha imagem! Eu sei o que as pessoas querem e por isso eu estou usando uma calcinha infantil! Você não tá vendo a estampa de coelhinho?!”
“Eu não vi coelho nenhum. Eu acho que você vai precisar chegar mais perto.”
“A-assim?!”
Eu não queria virar motivo de fofoca, então eu movi o meu corpo e botei os pés no chão.
Droga… as minhas mãos estavam sujas.
Eu as bati para limpá-las.
A minha alma provavelmente estava suja, mas não dá para limpar ela como eu fiz com as mãos.
“Tudo bem, Hachikuji, sobre o que nós estávamos falando?”
“Sobre o quanto você ama calcinhas.”
“Honestamente, eu até levaria algumas para casa. É só perguntar para a Hanekawa.”
“……”
A Hachikuji não retrucou, o que era raro.
Será que a Hanekawa falou algo para ela?
Se esse fosse o caso, eu estava encrencado. Caramba, esse grupo de sobreviventes era uma ameaça. Eu acho que vou ter que cortar esse mal pela raiz.
“Ah, é mesmo,” eu tentei voltar ao assunto original, “nós estávamos falando sobre se manter aquelas coisas sobre monstruosidades em segredo seria uma boa ideia.”
“Sim.”
“Eu acho que não gostaria de ser internado. Como eu ainda sou um pouco morto-vivo, eles podem acabar me usando como cobaia.”
“É verdade. Eu espero que eles só achem que você é meio louco.” Com essa introdução insensível, a Hachikuji relembrou, “Saber sobre as monstruosidades é como se envolver com elas. Se isso for verdade, esqueça sobre as outras pessoas, senão você vai acabar se encrencando ainda mais.”
Saber sobre as monstruosidades é como se envolver com elas.
O Oshino não tinha dito algo parecido com isso?
Entrar em contato com uma monstruosidade, mesmo que uma única vez, parecia te levar para outro mundo, do qual você não podia escapar.
A Hanekawa foi encantada por um gato.
A Senjougahara encontrou um caranguejo.
A Hachikuji foi enganada por um caracol.
A Kanbaru foi ouvida por um macaco.
A Sengoku foi entrelaçada por uma cobra.
E eu, é claro…
Fui mordido por uma vampira.
Todos nós éramos como habitantes daquele outro mundo. Era como ter um pé na cova, não só metaforicamente. E nesse caso…
Se eu me importasse com os outros. Se eu me importasse com a Karen e a Tsukihi… Seria mais seguro se elas não soubessem.
A Hachikuji continuou, “Você pode revelar tudo, inclusive os riscos, para que a sua família possa se preparar. Mas essa opção parece bem arriscada.”
“Com certeza, os riscos seriam altos demais, sem que haja muito retorno. Então eu prefiro seguir uma rota de risco menor, mesmo que o retorno também seja menor.”
“Ah, então você prefere coisas pequenas? Que interessante.”
“Do que você tá falando!?”
A Hachikuji gostava de fingir que eu era um lolicon. Isso era mentira. Eu não sou pedófilo.
Só olha para a minha namorada, a Senjougahara. Ela não é nem um pouco parecida com uma criança. Eu diria que ela é bem madura.
“Mas vocês são só um casal de fachada né?” a Hachikuji perguntou.
“De onde você tirou essa ideia?! Eu já ouvi falar em casamentos de fachada, mas não de namoros.”
“Você é um lolicon e está apaixonado por mim, enquanto a Senjougahara é lésbica e gosta da Kanbaru.”
“Ack, isso não pareceu uma piada! Eu não quero que você pense assim!”
Eu até gosto de você, Hachikuji, mas a segunda parte já é demais! A dupla valhalla tem se aproximado demais ultimamente! É como se elas estivessem tentando preencher um vazio!
“Tudo bem, meu jovialíssimo Araragi-san.”
“Eu não preciso de um apelido engraçadinho. Além disso, jovial não tem relação com pedofilia.”
"Você diz isso, mas eu aposto que quando morar sozinho, você vai ter um carpete enroladíssimo.”
"Considerando que a maioria dos apartamentos hoje em dia não tem nem tatamis, eu acho que não precisaria de um carpete, mas e daí?”
“Se você for pescar, é interessante usar uma isca com um sabor docíssimo.”
“Eu não devia ter perguntado.”
Mas que coleção de rimas! Ainda por cima vindo de uma criança!
"Ufa,” ela suspirou.
Ela usou uma pausa como pontuação.
“Mas então, Claragi-san…”
"Esse é um belo jogo de palavras, Hachikuji, mas isso aqui não é ‘A Menina dos Alpes³’ e eu não sou uma mocinha rica tentando sair da cadeira de rodas. A senhorita Claragi vai ficar em outro lugar. Meu nome é Araragi.”
"Foi mal, isso foi um tropeço de língua.”
“Não, você errou de propósito…”
“Eu tropecei na língua.”
“Eu acho que não?!”
“Eu tropecei na pinga.”
“Hoje em dia caem na bebida tão cedo?”
Do jeito que ela estava falando… não pareciam tropeços, é mais como se ela tivesse se acidentado.
“De qualquer forma, Araragi-san,” ela disse, mais uma vez, “As monstruosidades são como parte dos bastidores.”
“Bastidores?”
“Normalmente, tudo o que nós vemos é o palco, essa é a nossa realidade. Mas de vez em quando algum bocó fica com vontade de olhar atrás das cortinas.”
“…”
“É o tipo de situação em que se você não precisa saber, é melhor que você não saiba mesmo. Talvez você se convença de que ao saber o que acontece nos bastidores, você vai conseguir desvendar os segredos e mistérios do mundo, mas na verdade, ao aprender sobre as monstruosidades, você só acaba criando mais perguntas sem resposta.”
“Entendi…” Eu fiquei surpreso. Desde quando a Hachikuji é tão esperta?
Antes ela não parecia entender nada sobre monstruosidades, ou talvez ela só não se entendesse direito.
E quando se trata de não saber sobre as coisas, nós realmente não sabemos de nada.
Mas isso nos dá a chance de dizer certas coisas.
E nesse caso… talvez eu devesse seguir os conselhos dela.
“Você se preocupa demais,” ela disse. “Pra que complicar as coisas? A situação atual pode até ser ruim, mas daqui a 100 anos nós vamos acabar nos lembrando disso e rir.”
“Isso é tempo demais!”
Até lá eu já estaria morto! Mortinho da Silva!
“Pois é,” ela concordou. “Em outras palavras, depois de passar um tempão se preocupando, nós vamos rir de você depois da sua morte.”
“Isso é horrível!”
“Dizem que as fofocas só se espalham para 75 pessoas.”
"Esse tanto de gente!?”
"Nós vivemos na era da internet, então se 75 pessoas sabem sobre algo, o resto do mundo também sabe.”
"Por que você me contou isso?”
“Se as preocupações não levam à uma solução, nem vale a pena se preocupar. Você é como um dublador reclamando que alguém tem voz de personagem de anime.”
“Isso realmente parece inútil…”
“Agora mudando de assunto, por que quando um autor de mangá diz, ‘muito obrigado pelas cartas, eu vou tentar ler todas!’, e outro diz, ‘muito obrigado pelos seus comentários no blog, eu vou tentar (procurar e) ler todos!’ mesmo que eles estejam fazendo praticamente a mesma coisa, por algum motivo eles passam uma impressão diferente?”
“Esse é um ponto de vista interessante sobre a geração millennial."
É, eu acabei exagerando um pouco.
“Mas continuando,” a Hachikuji disse, “se alguém da sua família acabar olhando por trás das cortinas, você até pode guiar essa pessoa. Mas até lá, é melhor ficar sem fazer nada.”
“Oh…”
Não fazer nada - era uma opção.
Ela tinha um ponto.
“Sendo franca, para de ficar pensando tanto sobre isso.”
“É, você provavelmente tá certa.” Por que não continuar brigando com as minhas irmãs de vez em quando? Afinal, eu não era tão crescido quanto a Tsukihi achava.
Eu só dei uma olhada por trás das cortinas. E parando para pensar, nós não passávamos de crianças.
“Sim Araragi-san. E sendo mais franca ainda, para de ficar pensando tanto nas suas irmãzinhas.”
“Não precisava enfatizar! Você tá fazendo isso parecer outra coisa!”
Foi exatamente por isso que eu disse “família”. Mas parece que eu não estava enganando ninguém.
“Nós realmente nos aprofundamos na conversa,” eu murmurei.
Eu estava indo para a casa da Sengoku. E já era a hora de continuar.
“Foi mal Hachikuji. Eu não queria gastar tanto do seu tempo. Você provavelmente tinha algum compromisso, né?"
“Ah, não, é sério. Eu fico andando sem fazer nada por aí o tempo todo.”
“Vamos lá, fala a verdade…”
“Tudo bem, sendo muito mais franca do que antes, eu estava passando por aqui e acabei pensando ‘o Araragi-san mora aqui perto né? Já faz um tempo desde a última vez que eu vi ele.’”
“Ei.”
É sério. Que gentileza da parte dela.
“Boa menina. Hachikuji, daqui em diante, quando você me ver, você pode ir correndo pra me abraçar.”
“Eu não quero. Não me leva a mal, mas você não é o meu tipo.”
“Eu fui rejeitado por uma menina do fundamental!”
Que chocante! O impacto de ouvir isso vindo de uma menina que não é tsundere!
“Mas então qual é o seu tipo?” eu perguntei.
“Eu gosto bastante de eremitas, principalmente dos que moram nas montanhas.”
“Eu já ouvi falar de gente que gosta de homens mais velhos, mas esses aí são coisa de museu.”
Eu teria que viver por mais alguns séculos para me qualificar. Esse seria um obstáculo grande demais.
“Eu não entendo,” eu persisti. “Nós já vivemos várias aventuras e até chegamos a encarar a morte juntos?”
“Tá bom, e daí?”
“Você já ouviu falar no efeito da ponte suspensa?”
“Ah, aquele efeito psicológico em que você está com alguém numa ponte suspensa, e então do nada você quer empurrar a outra pessoa mesmo que você não odeie ela?”
“Não, não é nada tão violento!”
Se bem que eu acho que até existe algo assim na psicologia.
Tipo o impulso de empurrar a pessoa na sua frente direto nos trilhos, sem motivo algum, enquanto vocês estão esperando pelo metrô na plataforma.
O completo oposto do efeito da ponte suspensa.
“Na verdade,” ela protestou. “Eu nunca me aventurei com você, e nós nunca encaramos a morte.”
“Como assim? Você não se lembra das várias vezes em que eu te salvei com as minhas técnicas de espada, tipo o Avan?”
“Você é aprendiz do Avan, do anime de Dragon Quest?”
“É isso aí. Um herói, que mata.”
“Eu não me lembro de nada disso.”
“É mesmo. No clímax de uma das nossas aventuras você tentou me proteger e levou um golpe na cabeça. Esse ferimento deve ter causado amnésia.”
“Que final comovente!”
“Pois é. Eu ainda me lembro da primeira coisa que você me disse depois de acordar no hospital.”
“Quem sou eu e como eu vim parar aqui?”
“Não, ‘quem é você, e você frequenta uma escola boa?’”
“Sofrendo de amnésia e mesmo assim ainda sendo refém do nosso sistema de educação!”
“Mas mesmo que você tenha me esquecido, Hachikuji, eu nunca vou me esquecer de você.”
“Então você ficou cuidando de mim até os créditos começarem a rolar!”
“Não, no fim eu acabei me casando com a sua irmãzinha.”
“Então você se esqueceu de mim!”
“Não, você estava lá, no meu coração!”
“Mas você disse que eu estava no hospital!”
É verdade.
Além do mais, a Hachikuji não tem irmã, ela é filha única.
“Escuta aí, logo eu serei o tipo de homem que você gosta. Mas nem pense em voltar rastejando porque já vai ser tarde demais.”
“Tem certeza?”
“Uh, foi mal, eu estava sendo difícil. Por favor se declare para mim, mesmo se eu estiver no leito de morte.”
Que patético, quem se apaixonaria por um cara desses?
“Até mais,” eu disse.
“Até.”
“Ei, Hachikuji,” eu acabei falando isso enquanto nós estávamos nos despedindo. Eu não consegui fazer nada além de perguntar. Talvez eu não devesse, mas eu não tive escolha. “Você não vai desaparecer, né?”
“Hein?” A Hachikuji virou a cabeça na minha direção. Ela parecia genuinamente confusa.
“É só que, eu estava falando sério quando disse que fiquei preocupado por não ter te visto por tanto tempo. O Oshino foi pra algum lugar, e um dia, você pode acabar sumindo também…”
Não.
A Hachikuji tinha suas próprias preocupações.
E considerando o que aconteceu com a família dela, talvez ela prefira isso.
Mas, mesmo assim…
“Hi hi.”
Uma risadinha escapou dela.
Ela estava fazendo uma expressão infantil.
“Araragi-san, você que tenta acomodar todo mundo, só consegue ser tão atencioso assim comigo, e provavelmente com a Shinobu.”
“Hmph.”
“Eu estava certa, você é Jovialíssimo mesmo.”
“H-Hmph.”
Eu queria que ela não tivesse dito isso.
Primeiramente, a Shinobu tinha 500 anos, ela não era uma loli, mas sim uma vovozinha.
“Eu me sinto honrada, é sério.”
“Hachikuji…”
“Eu também quero te perguntar uma coisa Araragi-san. Se eu me metesse em uma encrenca séria e precisasse de ajuda, você viria me salvar?”
Salvar.
O Oshino odiava essa palavra.
Mas do meu ponto de vista, foi isso que ele fez por mim.
E eu quero fazer o mesmo.
“É claro que sim,” eu respondi imediatamente. “Eu vou chegar lá tão rápido que mais ninguém vai conseguir te salvar.”
“Então eu posso te procurar se eu precisar falar com alguém?”
“Pode. E se você não viesse, eu ficaria bravo.”
“Eu pensei que você fosse responder assim,” ela comentou como se estivesse tentando se desviar das minhas palavras. Seu sorriso parecia infeliz. “Deve ter algum motivo para eu conseguir ficar nessa cidade mesmo que eu não esteja perdida. Até que esse motivo seja claro, eu não vou a lugar algum.”
Ela estava falando sobre si mesma como se ela estivesse discutindo uma estranha. Mas de certa forma eu acho que ela era mesmo. Afinal, quando você não se entende, quem poderia ser mais desconhecido.
“Um motivo, hein?”
“Sim,” ela disse. “Então mesmo que não fizessem um anime, ainda haveria uma continuação.”
“…”
Ela estava falando abobrinha de novo.
Eu acabei me perdendo na conversa, mas ela continuou. “Além disso, o final da parte anterior acabou me negligenciando. Depois de procurar pela Shinobu, pra onde eu fui?”
“Nem me pergunta. Só você sabe. Você provavelmente se perdeu de novo.”
Hmm. Parando para pensar, ela não apareceu no epílogo.
Eu acho que nós temos que marcar uma reunião para revisar isso.
“Mas Hachikuji,” eu disse, “se isso significa que você vai sumir, eu não quero nenhuma continuação. E daí se nós nunca soubermos o que te mantém aqui?”
“Eu fico feliz de ouvir isso. E mesmo se algum dia eu desaparecer,” ela parecia estar falando mais consigo mesma do que comigo, “eu vou me despedir de você primeiro.”
“Tudo bem…” Eu não conseguia parar de pensar no Oshino, que fez uma promessa parecida e foi embora sem falar nada, mas eu concordei. “Por favor, faça isso.”
“Sim, eu vou. Eu tenho medo de quando as pessoas ficam bravas comigo.”
Tendo dito isso como se ela estivesse desviando das minhas palavras de novo, a Hachikuji extinguiu seu sorriso.
Notas de tradução
¹ Referência à personagem Yomiko Readman do anime Read or Die.
²Cat’s eye é um anime sobre ladras de arte.
³ A Menina dos Alpes, também conhecido como Heidi, é um livro que conta a história de Heidi uma menina órfã que vai morar com seu avô nas montanhas.
0 notes
Text
Nisemonogatari, Livro 1
003
Eu vou tentar relembrar a sequência de eventos que levou à minha prisão lamentável. E para alcançar uma resposta mais direta, eu acho melhor começar pela manhã de 29 julho.
Mesmo que as férias de verão já tivessem começado, eu estava determinado a abandonar a alcunha de perdedor e fazer os vestibulares de algumas faculdades, então eu não podia ficar procrastinando. A Senjougahara, que tirava notas excelentes no nosso ano, e a Hanekawa, que tinha as melhores notas, revezavam diariamente para me ajudar a estudar. Era difícil estudar todos os dias, mas parando para pensar, não daria para pedir por um acordo melhor do que esse.
Com essas duas como professoras, qualquer pessoa melhoraria. Elas acabaram sendo uma boa combinação de cenoura e vara.
Ou talvez mel e chicote.
Nos dias pares eu estudava com a Senjougahara, e nos dias ímpares, com a Hanekawa, (os domingos eram livres), mas é claro que elas também tinham seus próprios planos, que tinham prioridade sobre os estudos. E isso incluía 29 de julho, um dos dias da Hanekawa, que foi quando ela me disse, “Araragi, eu sinto muito! Tem algo que eu preciso fazer! Eu prometo que vamos estudar na próxima vez! Depois de amanhã para ser mais exata!”
E então eu acabei ficando livre.
Já que eu pedi pelas sessões de estudo, ela não precisava se desculpar… Como sempre, a Hanekawa era gentil demais para o seu próprio bem.
Eu assumi que a coisa que ela precisava fazer envolvia os pais dela. Eu não quis me meter então não fiz muitas perguntas. Eu faria qualquer coisa pelo bem da Hanekawa, mas em algumas situações “qualquer coisa” se resumia a não fazer nada.
Para resumir, eu não tinha nada para fazer naquele dia.
Obviamente eu podia ter estudado sozinho, mas de acordo com a Hanekawa, era importante descansar de vez em quando. A Senjougahara nunca me deu conselhos como esse, então eu costumava seguir o que a Hanekawa dizia.
E quem me culparia?
Dois dias livres seguidos!
Eu digo isso, mesmo já tendo planos para o domingo. Achando que eu fosse fazer uma visita muito atrasada à livraria, eu revisei algumas coisas antes de ir para a sala de estar. Meus pais já tinham saído de casa (os dois trabalham, mesmo aos domingos), e a Tsukihi, vestindo uma yukata, estava esparramada no sofá, vendo TV com a cabeça inclinada. Considerando a roupa e a postura, ela poderia estar pelada e mesmo assim ela não se importaria. Não que eu possa falar de aparências, e desde que ela esteja vestida direito lá fora, isso não faz diferença.
“Ah, você já terminou de estudar?” A Tsukihi desligou a TV (ela não parecia estar interessada) e se virou para mim. As curvas caídas dos seus olhos fizeram ela parecer sonolenta, mas considerando o horário, isso parecia improvável. “A sua professora particular também está descansando hoje?”
“Sim.”
Na verdade, nos dias da Senjougahara eu ia na casa dela, e nos da Hanekawa nós estudávamos na biblioteca, então, eu acho que não dá pra chamar nenhuma delas de "professora particular.”¹
Fazer um cursinho ou resolver simulados seria uma opção, mas infelizmente, meus pais não se convenceram. Vamos dizer que meu comportamento até aquele ponto teve seu preço. Eu tinha que me recuperar logo.
“Eu também vou ter que estudar pros vestibulares?” A minha irmã perguntou em voz alta. “Ugh.”
“É mesmo, vocês duas não vão precisar fazer provas para entrar no ensino médio.”
A beleza de uma escola com ensino fundamental e médio. Elas passaram na prova de aprovação do Fundamental II sem nem estudarem… Quanta esperteza por parte delas.
“Vocês não vão fazer nenhuma prova do tipo por algum tempo.” eu disse para a Tsukihi. “E também não é meio cedo para se preocupar com isso?”
“É, eu acho que sim, mas você ficou sério do nada e isso acabou me preocupando.”
“Me desculpe… Pera aí, cadê a outra?”
“A outra?”
“A irmã alta.”
“A Karen está lá fora.”
“Que estranho.”
A parte estranha não é o fato de que a Karen saiu de casa, mas sim que a Tsukihi está aqui, deitada no sofá, enquanto a Karen está lá fora - as Fire Sisters normalmente agem em dupla. E sempre que elas se separavam, normalmente era porque elas estavam planejando algo.
“Eu espero que vocês não estejam causando problemas.”
“Nós não estamos causando nada,” ela disse. “Você sempre é assim, fica tratando a Karen e eu como se nós fossemos crianças. Você se preocupa demais.”
“Eu não estou preocupado. Eu não confio em vocês, é só isso.”
“Isso não é a mesma coisa?”
“Não, uma é preocupação e a outra é confiança. Tem uma diferença bem clara entre essas coisas.”
“Isso aí continua sendo pareci… Ufa…”
“Pelo menos tenta terminar a frase!”
Que conversa idiota. Mesmo assim, se foi tão idiota assim, pra que terminar as frases? Agora, voltando ao assunto.
“Então,” eu perguntei, “onde a irmã alta foi?”
“Como eu disse antes, ela não está causando problemas. Pelo contrário, ela foi resolver alguns problemas.”
“Foi isso que eu quis dizer antes.”
“É mesmo?”
“Só me fala o que aconteceu, antes que ela acabe se machucando. Conte tudo e use a medalha de traidora com honra. Sei lá o que aconteceu, mas talvez ainda dê tempo de impedir ela.”
“Que nojo. Não fica se metendo em brigas do fundamental, isso é tosco. As brigas são uma forma de comunicação muito importante. Hoje em dia não tem muita gente que sabe brigar de forma construtiva, não é mesmo?”
“Quando você fala assim, até parece verdade...”
“O problema não está nas brigas, mas sim em não saber o jeito certo de brigar.”
A Tsukihi se deixou levar e começou a parecer cheia de si mesma. Ela parecia bem convencida.
“Olha, quando você e a Karen começam a brigar, vocês duas quase sempre são violentas. Eu não sei o que você acha que é o jeito certo…”
“Olho por olho, dente por dente.”
“Isso é mentalidade de antes de Cristo. Nós estamos no Século XX.”
Eu errei, o certo é XXI.
“Nesse caso,” a Tsukihi retrucou, “que tal dente por olho, contusão por dente?”
"Você triplicou a violência?!”
“Ah, cala a boca!” Ela explodiu num momento de raiva.
O olhar convencido que ela fez há alguns momentos desapareceu completamente.
“Só me deixa em paz! Eu não sei de nada! Eu não ligo se ela é a maior, a menor ou a do meio!”
“Desde quando são três irmãs…”
Era disso que eu estava falando quando eu disse que não vale a pena se preocupar com elas.
De qualquer forma, mesmo que as Fire Sisters fossem motivadas pelos problemas dos outros, elas não gostam de revelar detalhes sobre o que elas estavam fazendo. E eu não ia invadir a privacidade de alguém que eu não conheço.
Eu acho que isso não importa. Ela provavelmente só viriam falar comigo quando a situação ficasse complicada demais. Eu só espero que isso não envolva sequestros.
Eu murmurei, “Eu não vou pedir para vocês crescerem logo, mas será que vocês poderiam crescer em silêncio?”
“Olha quem tá falando!”
A Tsukihi pegou o controle remoto que estava ao seu lado e jogou em mim. Caramba. Ela enlouqueceu? Eu não consegui desviar, mas eu dei um jeito de pegar o controle, e coloquei ele na mesa.
Considerando tudo, eu acho que crescer em silêncio é difícil. O crescimento é só mais uma parte do amadurecimento.
E ser silenciosa como a Sengoku, por exemplo, também é um problema.
Se a Karen e a Tsukihi tivessem ao menos um décimo da quietude da Sengoku, e ela tivesse um décimo da energia delas, então tudo seria perfeito.
Infelizmente, a vida não é tão fácil, e não dá para dividir e multiplicar as pessoas assim.
“Ah, é mesmo… a Sengoku,” eu descobri o que vou fazer hoje. Ou melhor, eu lembrei.
Parando para pensar, eu tinha prometido que ia sair com ela. A livraria pode esperar.
Nadeko Sengoku.
Ela era amiga da Tsukihi no fundamental I. Uma das amigas que a minha irmã chamou para brincar em casa. Na época eu dividia o quarto com a Tsukihi (e com a Karen), então a Sengoku também fez amizade comigo, mesmo que fossemos de anos diferentes. Eu parei de vê-la depois que a Tsukihi entrou para uma escola particular, mas outro dia eu me encontrei com a Sengoku de novo devido a circunstâncias inesperadas.
Muito inesperadas.
Circunstâncias envolvendo monstruosidades.
De qualquer forma, depois de termos resolvido o problema dela, a Sengoku passou em casa. Isso foi porque eu achei que seria legal se elas se reaproximassem. Como irmão mais velho da Karen e da Tsukihi, eu acho que o caráter delas é duvidoso, mas as crianças daquela idade parecem gostar da forma como elas agem decidem segui-las. Eu não sei se “agradável” seria a palavra certa, mas elas tem um carisma misterioso que eu não consigo entender. Mesmo assim, isso teve efeito em uma velha amiga que a Tsukihi não via há muito tempo, e logo, ela e a Sengoku voltaram a conversar como antes.
Na hora de ir embora, nossa convidada tinha dito, “Você pode passar na casa da Nadeko na próxima vez.” e eu acenei com a cabeça.
Isso foi há algum tempo. Não que eu tivesse esquecido, mas muitas coisas aconteceram nesse meio tempo, e eu também comecei a levar os meus estudos mais a sério.
Talvez eu tenha sido frio.
Agora parecia ser um bom momento. Eu decidi ligar para a Sengoku.
Assim como muitos alunos do fundamental nesse país, ela não tinha celular, então eu tive que discar no fixo. Eu tirei o meu dispositivo, que tinha o número dela salvo, do bolso.
Eu atendi, mas não liguei para ela já faz algum tempo. Ainda era antes do meio-dia, mas conhecendo a Sengoku, ela provavelmente já acordou.
“A-alô?! Residência… dos Sengoku…”
Eu estava esperando que os pais dela fossem atender, mas foi a Sengoku que pegou o telefone.
Hmm? Eu acabei fazendo ela acordar? Isso é inesperado.
Ela não parece o tipo de pessoa que fica dormindo a manhã toda nas férias.
“Koyomi Onii-chan, há quanto tempo… O que foi?”
Ela falou normalmente dessa vez. Mas eu ainda não tinha dito nada. Como é que ela - ah é mesmo, hoje em dia telefones fixos também tem identificador de chamada.
“Foi mal por te incomodar do nada,” eu disse, “mas você se lembra da vez em que me convidou para passar na sua casa? Eu andei pensando, e que tal eu ir aí hoje?”
“O-o queeê?!”
Ela parecia surpresa. Surpresa até demais.
Estranho, eu jurava que tínhamos prometido isso.
Talvez ela tenha se esquecido.
“Isso é repentino demais? Se hoje não der…”
“S-sim! Hoje, hoje, hoje! Eu estou ocupada todos os dias, exceto por hoje.”
Eu não me lembro de já ter visto ela tão animada assim. Eu também não sabia que ela conseguia gritar tanto. “Tudo bem. Se os seus dias são tão cheios, eu acho que tem que ser hoje mesmo… Eu posso te visitar agora?”
“Sim! Qualquer outro horário não seria bom.”
Caramba, que rotina cansativa.
O ensino fundamental é difícil hoje em dia… Eu queria que as minhas irmãs percebessem isso em vez de ficarem desperdiçando suas juventudes preciosas fingindo que são defensoras da justiça.
“Eu vou chegar logo.” Eu disse ao encerrar a ligação.
Então eu olhei para a Tsukihi.
Ela ligou a TV de novo e começou a assistir um talk show matinal (edição de domingo) para se atualizar nas fofocas de celebridades, e dessa vez ela parecia estar interessada. Ela gosta de fingir que não liga para essas coisas, mas na verdade ela é uma super fã. Eu queria que ela usasse aquela habilidade de carisma em mim.
“Tudo bem, você me ouviu,” eu disse.
“Hein? O que você disse?”
“Você não estava me ouvindo?”
“Eu estou levando uma bronca por não ficar bisbilhotando?”
“Ahh…” Ela tinha um ponto. “Eu estava ligando para a Sengoku.”
“Ah, então você vai passar na casa dela?” “Então você ouviu a conversa.”
“Divirta-se.” A Tsukihi acenou sem entusiasmo, sem nem olhar para mim. “Eu cuido da casa.”
“Não tão rápido. Você vem comigo.”
“Como assim?” Ela se virou como se estivesse surpresa.
“Se eu for para a casa da Sengoku, é óbvio que você vem comigo.”
“Pelo que eu ouvi, eu pensei que você fosse visitar ela sozinho. Além do mais, eu tenho certeza que ela também está esperando por isso.”
“Sério? Eu duvido.”
Durante a ligação, eu assumi que a Tsukihi viria comigo. Eu esqueci de mencionar isso?
“Tanto faz, eu não ligo,” minha irmã disse. “Mas eu tenho certeza que só vou atrapalhar vocês, por que você não quer ir sozinho? Afinal, eu tenho quase certeza que a Sen também preferiria isso.”
“Como assim? Como você nos atrapalharia se nós fossemos visitar ela? Além disso, o quão ocupada você está?²”
“Ah, eu quase esqueci. Eu tenho atividades do clube para hoje.”
“Eu me lembro que o clube de cerimônia do chá tinha sido suspenso durante o verão.”
Isso aconteceu devido a um desfile de vestimentas japonesas que o clube organizou para o festival cultural. A pessoa por trás desse plano fofo era uma certa aluna que por acaso estava bem na minha frente. É verdade que ela deveria levar a culpa por tudo, mas pessoalmente, eu acho que os membros do clube (e o conselheiro deles) que foram convencidos por ela precisam de um exame psicológico.
“Eu vou estudar. Vai ser um estudo independente.”
“Fica quieta sua viciada em kimonos. A moda vai além de ficar bonita em alguma roupa.”
“Eu não preciso levar sermão de alguém que só gosta de calça jeans e blusa de capuz.”
“Você pode estar certa… Mas eu ainda não entendi por que você está insistindo que não quer ir.”
“Como eu ia dizendo…” tensa e como se fosse explodir, ela disse, "Eu não sou babaca ao ponto de incomodar a minha amiga quando ela quer passar o tempo com a quedinha dela.”
"Quedinha? Tipo cair de algum lugar? Eu acho que não vamos fazer nada assim. A Sengoku é uma menina comportada. Diferente das minhas irmãs.”
“Eu já tinha percebido quando estudávamos juntas, mas olha, vocês só se viram algumas vezes, então ela é muito devota… Já fazem quantos anos mesmo? Eu não conseguiria agir que nem ela. Não que eu quisesse.”
“Hein?”
“Deixa eu te perguntar uma coisa. Você acha que meninos e meninas podem ser só amigos?”
“É claro que sim.” Há pouco tempo eu teria retrucado dizendo que eu não acreditava nem em amizade entre pessoas do mesmo sexo, mas minha resposta foi imediata. “Olha para mim e para a Sengoku, nós somos bons amigos.”
“Tudo bem, divirta-se.”
“……”
Ela não estava mudando de ideia. Acho que não adianta continuar discutindo.
“Tá bom,” eu recuei, “acho que eu vou ir sozinho. Cuida das coisas por aqui. E quando a irmã maior chegar, avisa ela que eu quero conversar.”
Parece ser uma perda de tempo, mas eu também vou tentar falar com a Karen.
“Até logo,” eu disse.
“Espera um pouco…”
“Hein?”
“Ultimamente você não tem brigado muito com a Karen. E eu queria saber o por quê?”
Isso…
Eu não estava esperando que ela fosse fazer essa pergunta.
Será que ela andou pensando sobre isso?
Eu fiquei perplexo quando ela tocou no assunto, mas talvez ela quisesse fazer essa pergunta há algum tempo.
“Nenhuma razão em particular…” parecia que eu estava tentando esconder algo. “É só que a Karen tem ficado tão forte nesses últimos tempos, que eu estou quase esperando por um efeito sonoro de ‘level up’. Se nós lutássemos a sério, eu perderia. Mesmo que ela seja mais alta, ainda dá para achar que eu sou mais forte, mas mesmo assim, eu não sou páreo para uma artista marcial de verdade.”
“Talvez isso seja verdade quando falamos sobre a Karen, mas quando eu fiquei histérica agora há pouco, você recuou na hora. É como se você estivesse mostrando maturidade ou algo do tipo.”
“Hm… Talvez…”
“Antigamente, eu tenho quase certeza que você apertaria o meu pescoço.”
“Eu nunca cheguei a esse ponto.”
Na verdade… Eu estaria mentindo se eu dissesse que nunca fiz isso.
Uma ou duas vezes… ou talvez três ou quatro vezes.
“Agora você não pega tão pesado, e isso é bom para nós,” ela disse em um tom atrevido que me lembrou da Karen, “mas eu sei lá. Olha, será que dá para você não crescer sozinho? Isso é meio chato.”
O crescimento é só mais uma parte do amadurecimento.
Não parece ser uma boa hora para dizer isso.
Notas de tradução
¹ Esse trecho pode ter ficado meio estranho, mas é só considerar que professor particular nesse contexto se refere a alguém que dá aulas particulares na casa do aluno.
² Na versão em inglês há uma piada que não faria sentido ao ser traduzida (“How busy could you bee?”) pois ela envolve a pronúncia de “be” (ser) e “bee” (abelha). Eu não consegui pensar em algo que funcionaria em português.
0 notes
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Nisemonogatari, Livro 1
002
Eu sinto muito por essa situação repentina, mas parece que eu fui sequestrado.
O dia era 29 de julho, cerca de 10 dias após o começo das férias de verão. Eu acho que fiquei inconsciente por um tempo, então talvez seja dia 30. Aliás, agosto pode até já ter começado. Se eu olhasse para o relógio no meu pulso direito, eu poderia saber que dia é hoje e que horas são, mas as minhas mãos estão presas atrás de uma barra de ferro, que também me impede de tirar o celular do bolso. Mesmo assim, eu ainda consigo estimar o horário. Olhando pela janela, eu vejo que está escuro lá fora, o que significa que anoiteceu. Eu disse janela, mas na verdade o vidro está quebrado e o vento invade a sala. Verão ou não, esse lugar era exposto demais. Eu até conseguiria me levantar se meus pés não estivessem amarrados, mas eu não vejo motivo para fazer isso, então resolvi esticar as pernas.
Eu não acredito que a Shinobu e o Oshino viviam em um lugar assim, eu pensei desatento.
É isso. Eu estou sendo mantido em um lugar que eu conheço muito bem, as ruínas do cursinho. Era um prédio de quatro andares cheio de lixo e entulho que parecia estar prestes a desmoronar. Para alguém que não era familiarizado com o lugar, todos os andares e salas eram iguais. Mas para alguém que conhece o prédio tão bem quanto eu, certas diferenças eram aparentes. Eu sabia que a sala em que eu estava ficava no quarto andar, ela era a sala mais a esquerda a partir das escadas.
O problema é que isso não me ajudou muito.
O Oshino já tinha saído da cidade e abandonado essas ruínas, e a Shinobu saiu daqui para morar na minha sombra. Talvez ela esteja se sentindo nostálgica. Ou talvez ela não esteja sentindo nada. Eu não sei o que se passa na cabeça de uma vampira de 500 anos.
Então, o que eu faço?
Mesmo sentindo uma dor latejante na parte de trás da cabeça (devem ter me acertado ali), eu analisei a situação com um nível de calma que contrastava com o meu estado. As pessoas podem ser surpreendentemente racionais em momentos como esse. Afinal, não é como se perder a cabeça fosse ajudar. No momento, a tarefa mais urgente é avaliar o status quo.
Eu tinha assumido que as minhas mãos estavam amarradas com um pedaço de corda, mas na verdade o que estava me prendendo era um par de algemas. Se elas fossem de brinquedo eu poderia recorrer à força bruta, mas eu tentei e elas nem se mexeram. Eu acabaria dilacerando os meus pulsos antes de conseguir danificar o metal. Se há algum tipo de distinção entre real e falso no mundo das algemas, essas claramente são legítimas.
“Mesmo assim, minha força de vampiro me deixaria fugir sem muito esforço.”
Esqueça as algemas, eu também conseguiria destruir a barra de ferro. E mesmo se eu dilacerasse os meus pulsos, a famosa habilidade de cura dos vampiros restauraria eles rapidinho.
“Vampiro…” eu murmurei, dando uma olhada na sala em ruínas. Mesmo sem poder usar as mãos, deve ter algo que eu consigo alcançar com os pés.
Meus olhos foram em direção à minha sombra. Não importa o quão escuro esteja, ela sempre era mais escura.
“……”
Nas férias de primavera eu fui atacado por uma vampira.
Uma linda vampira loira sugou o meu sangue.
Todo o meu sangue. Até a última gota. E como se não bastasse…
Completamente drenado, eu me tornei um vampiro.
Durante aquela semana que eu passei como vampiro, essas ruínas serviram como meu lar.
Normalmente pessoas que se transformaram em vampiros são salvas por caçadores de vampiros, ou soldados cristãos, ou até mesmo por vampiros que caçam seu tipo, mas no meu caso, quem me ajudou foi um cara mais velho que estava de passagem - Meme Oshino.
Salvo por ele. O Oshino nunca gostou dessa forma presunçosa de descrever o evento.
Mas foi assim que eu voltei a ser humano, quando a bela vampira foi reduzida a uma mera memória de sua antiga forma, tendo perdido sua força e seu nome (Em troca ela passou a ser chamada de Shinobu Oshino), e por fim ela foi selada dentro da minha sombra.
Acho que dá para se dizer que isso foi merecido.
Nós dois merecemos esse fim.
Só que eu não podia deixar isso assim, então eu e ela seguimos existindo normalmente. Não tem como eu saber o que a Shinobu sentiu quanto a essa situação, mas mesmo que aquilo tenha sido um erro, eu não sei o que nós poderíamos ter feito.
De qualquer forma.
Para mim, as ruínas eram cheias de memórias. Talvez seja melhor dizer que elas são memórias ruins, mas esse não é o ponto.
No momento o problema é que embora eu já tenha possuído a força de um vampiro, isso foi há bastante tempo e agora só restam vestígios desse atributo. Poder quebrar aquelas algemas não passava de um desejo esperançoso. Se eu fosse o Lupin III¹, eu deslocaria os ossos dos pulsos e tiraria as algemas como se elas fossem luvas, mas como eu sou só um aluno do ensino médio e não um ladrão famoso, tais truques com a mão estão além de minhas capacidades.
Parando para pensar, a Tsukihi também tinha sido sequestrada recentemente, talvez dizer que ela foi “sequestrada” tenha sido exagero, mas isso não deixa de ser sério. Algum tipo de organização inimiga (?), que não era páreo para a força da Karen, resolveu fazer a Tsukihi de refém. Antes que eu pudesse me preocupar, eu tinha ficado decepcionado com o fato de que elas encenaram, na vida real, algo que parece ter saído de um mangá shounen genérico, mas felizmente quando as coisas se complicam, a Tsukihi consegue resolver tudo. O sequestro foi uma farsa e ela se juntou à “organização inimiga” e depois conseguiu destruí-la de dentro.
Essas são as formidáveis Fire Sisters.
Ironicamente as duas se ajoelharam na minha frente e imploraram para que eu não contasse o que aconteceu para os nossos pais.
Elas nem precisavam ter se incomodado com isso. Eu nunca mencionaria algo tão estranho assim para eles. Ter se ajoelhado junto da sua irmã é algo positivo e negativo para a Karen.
Meninas da idade dela não deveriam ficar de joelhos para se desculpar por nada. Isso é muito imaturo.
“Mas no meu caso, ficar de joelhos não ajudaria em nada… E aquelas duas são rápidas quando se trata de vir chorando depois de aprontar. Então, o que eu faço?”
Honestamente, eu acho que já sei como eu fiquei nessa situação.
A verdade estava na minha cara.
Mesmo que eu não queira admitir.
É como se a resposta estivesse escrita na parede.
“Hmph…”
Então, como se sincronizado com o meu despertar, o som de passos subindo as escadas ecoou pelas ruínas. Luz preencheu a sala de aula vindo da porta - o prédio todo estava sem energia, então a fonte disso provavelmente era uma lanterna. Ela estava se movendo em direção à sala em que eu estou.
A porta foi aberta. A luz era intensa e me cegou temporariamente, mas logo meus olhos se ajustaram.
Na porta havia uma mulher cujo rosto eu conhecia bem.
“Ah. Araragi, você acordou.”
Hitagi Senjougahara.
O tom de voz dela era indiferente, como sempre, e ela estava apontando a lanterna em minha direção.
“Ufa, eu achei que você fosse morrer sem nem acordar,” ela disse.
“…”
Eu estava sem palavras.
Tinham muitas coisas que eu queria dizer, mas eu não conseguia. A Senjougahara fechou a porta e se aproximou de mim, sem nem perceber a expressão se formando em meu rosto.
Não havia nem um pingo de hesitação nos passos dela. Essa era a atitude de alguém que não duvidava de suas ações.
“Você está bem? A sua cabeça está doendo?” ela perguntou deixando a lanterna de lado. A preocupação dela era comovente.
Mas…
“Senjougahara,” eu disse. “Tire essas algemas de mim.”
“Não,” ela respondeu.
Ela não gastou nem um segundo para pensar.
Caramba…
Eu respirei fundo, para garantir que eu tinha bastante ar nos pulmões antes de gritar. E então eu gritei.
“Então você é a culpada!”
"Ah, esse é um argumento válido. Mas você nunca vai provar que fui eu.” A Senjougahara falou uma frase que parece ter saído de um romance de mistério. Quem diz isso sempre é o culpado.
“No momento em que eu percebi que estava nessas ruínas, eu já achei que tinha sido você! Além disso, eu não conheço mais ninguém que teria algemas pesadas como essas.”
“Você tem uma bela imaginação Araragi. Você se importa de eu anotar isso? Eu poderia usar essas ideias no meu próximo livro.”
“Eu não ligo para essas reviravoltas em que o culpado é um romancista de mistérios! Só tira essas algemas logo!”
“Não,” ela repetiu. Iluminada por baixo pela lanterna, sua expressão impassível era mais intimidante do que o normal.
“Não,” ela repetiu novamente, seu rosto era como uma máscara. “E eu não conseguiria. Eu já joguei a chave fora.”
“Você fez o quê?!”
“E eu tampei a fechadura com massa para evitar que ela fosse arrombada.”
“Por quê você faria isso!?”
“E eu também descartei o antídoto."
“Você me envenenou!?”
A Senjougahara deu um sorrisinho. “Eu menti sobre o antidoto,” ela disse.
Embora ouvir isso tenha me deixado aliviado, aparentemente ela falou a verdade quanto a ter se livrado da chave e tampado a fechadura. Meus ombros caíram em derrota. Como eu vou tirar essas algemas agora?
“Eu deveria estar feliz já que a coisa sobre o antídoto era mentira…”
“Sim. Não se preocupe, o antídoto está são e salvo…”
“Então você realmente me envenenou!?”
Eu tentei me impulsionar para frente, mas as algemas se prenderam na barra e eu não fui muito longe. Talvez isso não fosse grande coisa, mas para alguém como eu, essa situação era extremamente estressante.
“O veneno também era mentira,” ela me disse. “Mas se você não se comportar, quem sabe?”
“…”
Que medo!
Ela é assustadora!
“Voe como uma borboleta, ferroe como uma borboleta.”
“Borboletas não têm ferrões!”
“Eu errei. Você deve estar tão orgulhoso de si mesmo por ter percebido isso. Você vai ficar se gabando disso pelo resto da vida?”
“Que jeito criativo de admitir seus erros!”
“Correto, era para ser abelha.”
“O veneno de abelha é potente…”
Eu engoli em seco e olhei novamente para a mulher na minha frente, para a Hitagi Senjougahara.
Uma das minhas colegas de classe.
Ela tinha um rosto bonito e parecia ser inteligente - e ela realmente era. Com notas que regularmente alcançavam o top 10 do ano, ela tinha a reputação de ser atraente. Aquilo que poucas pessoas sabiam, é que aqueles que se aproximam delas, acabam pagando por isso.
Toda rosa tem espinhos. Mas no caso da Senjougahara, isso não era tão poético, afinal ela era os espinhos.
Quando se trata da diferença entre interior e exterior, a Tsukihi rivaliza com ela, mas no caso da Senjougahara isso não envolve histeria, apenas antagonismo controlado. A Tsukihi é irritável, mas a Senjougahara estava preparada para entrar em combate a qualquer momento. É como se ela fosse um sistema de segurança programado para atacar qualquer pessoa que entrasse em certo perímetro.
Por exemplo, o interior da minha boca tinha sido grampeado. Um passo em falso poderia ter sido desastroso - o que realmente aconteceu, então é um milagre que tudo deu certo.
Bem, a Senjougahara tinha um bom motivo para agir daquele jeito. Em maio nós conseguimos resolver esse problema, mesmo que através de um acordo - mas infelizmente aquela programação é parte dela, e desativá-la é desafiador. E isso nos trás ao dia de hoje.
“Mesmo assim, você tem andado bem quieta ultimamente. Pra que sequestrar o seu namorado do nada? Isso é alguma tendência nova no mundo da violência doméstica?”
Aliás, a Senjougahara e eu estamos namorando.
Nós somos um casal apaixonado.
Eu não quero ser piegas, mas acho que dá para se dizer que ela grampeou os nossos corações. tá bom, eu acho que isso é meio piegas.
“Relaxa,” ela disse. Eu senti que estava falando com uma parede. “Relaxa, Araragi, eu vou te proteger.”
“…”
Que medo!
“Você não vai morrer. Porque eu vou te proteger.²”
“Embora eu aprecie essa referência à Evangelion, Gahara…”
Gahara. Eu tinha inventado esse apelido há pouco tempo.
Ele não estava sendo muito usado. Às vezes parece que só eu estava querendo chamá-la assim.
“Eu estou começando a ficar com fome,” eu continuei, “e talvez… com um pouco de sede também? Será que você pode trazer algo para comer?”
Eu não tinha outra escolha além de pedir com educação, pois no momento a minha vida estava nas mãos inflexíveis da Senjougahara. Se eu não tomasse cuidado, eu poderia acabar sendo ferroado de verdade. Mesmo que ela tenha mudado, a Senjoigahara nunca estaria desarmada em uma situação dessas, embora eu não saiba que tipo de artigo de escritório ela estaria carregando…
“Hah,” ela bufou. Isso soou desagradável, como se ela estivesse zombando de mim. “Com fome, com sede… Você é como um animal, você só come e dorme. Isso é nojento. Por que você não tenta viver de forma produtiva para variar. Ah, eu sinto muito. Eu acho que ‘viver’ é algo complicado demais para o Koyomi Araragi. ”
“…”
O que foi que eu disse para merecer isso? Nada né?
“Mas quando se trata de morrer de forma produtiva,” ela elaborou, “eu tenho certeza que você é inigualável. Um tigre deixa sua pele para trás ao morrer, de acordo com o provérbio, e nesse sentido, eu suponho que você seja um tigre.”
“Isso não parece ser um elogio.”
Afinal ela estava me chamando de animal.
Ela achou que eu não fosse perceber?
De qualquer forma…
Julgando pelo tom de voz, a Senjougahara não estava brava e nem de mau humor. Ela tinha a língua afiada e sempre atacava os outros, então poucas pessoas no mundo eram capazes de saber o humor dela. Eu, e talvez a Kanbaru e o pai da Senjougahara, e só. Normalmente ela é vista como uma pessoa perpetuamente irritada.
“Tudo bem Araragi. Eu vou ser gentil e demonstrar piedade. Eu sabia que um inseto patético como você iria querer comida, então eu trouxe um pouco.”
Então a Senjougahara estendeu seu outro braço - o que não estava segurando a lanterna - orgulhosamente para me mostrar algo que parecia ser a sacola de uma lojinha de conveniência.
Ela era semitransparente então eu pude ver o que tinha dentro dela.
Bebidas, onigiris, coisas do tipo.
Rações para o meu confinamento.
Inesperadamente atencioso da parte dela… tão atencioso que chega a ser desagradável.
“Ah, tudo bem. Água, eu preciso de água.”
Originalmente eu pensei em pedir para comer na esperança de que ela me soltasse, mas eu realmente estava ficando com fome e sede. Graças aos efeitos colaterais do meu vampirismo, eu consigo ficar sem comer , mas até eu tenho limites. Vai saber por quanto tempo eu fiquei inconsciente e por consequência desidratado.
A Senjougahara colocou a mão na sacola, pegou uma garrafa de água mineral e abriu ela. Como eu estava amarrado, eu esperava que ela fosse me ajudar a beber, mas ela só segurou a garrafa perto de meus lábios antes de tirá-la da minha frente.
Eu deveria saber… A maldade da Senjougahara ia além das palavras.
“Aww, você quer aguinha?” Ela me provocou.
“Bem, sim…”
“Que pena. Eu quero beber também.”
Ela começou a beber a água.
Eu acho que algumas pessoas tem um jeito próprio de fazer as coisas. Beber direto da garrafa não fez ela parecer vulgar. Pelo contrário, ela até parecia elegante.
“Ahh, eu estava precisando disso.”
“…”
“Que expressão gananciosa. Quem disse que eu deixaria você beber?”
É sério mesmo? Parece até que ela comprou água só para beber tudo na minha frente quando eu ficasse com sede.
Não que ela não fosse fazer algo do tipo.
“Heheh. Araragi, você pensou que eu fosse passar a água de boca em boca? Que nojento. Seu taradinho.”
“Só a Kanbaru esperaria algo assim”
“É mesmo? Mas e aquele beijo molhado que nós demos outro dia?”
“Não é hora de falar sobre isso!”
Eu gritei. Não que houvesse mais alguém para ouvir isso, mas eu não gosto de ouvi-la falando tão abertamente sobre o nosso relacionamento.
Meninos como eu são muito delicados.
“Tudo bem,” ela disse. “Se você quer água tanto assim, eu vou deixar você beber um pouco.”
“Eu realmente quero água…”
“Há! Esse homem não tem orgulho? Implorando de forma tão vergonhosa por um gole de água… Que tal simplesmente morrer em vez disso. Se eu fosse você, eu mordia a língua.”
Ela parecia estar se divertindo.
Eu não a vejo tão animada há algum tempo. Ela deve ter se segurado ultimamente…
“Eu não consigo ignorar um pedido tão deplorável. Eu vou demonstrar simpatia e permitir que você mate sua sede. Eu espero que você esteja grato, seu passarinho sedento³.”
“Eu acho que ’passarinho sedento’ não é um insulto...”
“Heheh.”
Com uma risada mais sinistra do que nunca, a Senjougahara abriu a garrafa e começou a derramar água na sua outra mão. O que ela está tramando? Na verdade, considerando o quão rancorosa ela é, eu já tenho certeza do que vai acontecer.
Ela colocou os dedos, encharcados com água mineral, perto de meus lábios.
“Pode lamber,” ela ordenou. “Você disse que estava com sede, não é mesmo? Então estique a sua língua imunda e beba que nem uma girafa.”
“……”
Isso também não era um insulto… Mas se tratando da Senjougahara, de alguma forma quase tudo que ela dizia parecia ser agressivo.
“Uh, Senjougahara…”
“O quê? Você não disse que estava com sede? Ou você mentiu? Mentirosos merecem ser punidos-”
“Eu vou lamber! Eu vou lamber! Me deixa lamber!”
Eu já estava em uma condição horrível mesmo sem ser punido.
Eu fiz o que ela mandou. Eu estiquei o pescoço em direção aos dedos dela como uma girafa (seja lá qual for o significado disso) e estendi a língua.
“Absolutamente vergonhoso,” a Senjougahara continuou me insultando. “Eu nunca vi nada tão patético. Quem chegaria a esse ponto só por um gole de água? Eu aposto que é isso que você queria, não é mesmo? Você provavelmente é só um tarado que gosta de chupar dedos de meninas.”
Ela com certeza estava se divertindo.
Mesmo assim, lamber os dedos dela ajudou a matar um pouco da minha sede.
E agora…
“Araragi, essa foi uma imagem excelente. Eu quase quero usá-la como o papel de parede do meu celular.”
“Ah, é mesmo? Que chique. Que tal você pegar os onigiris agora.”
“Por que não? Eu estou me sentindo estranhamente generosa hoje.”
Depois de tudo o que ela fez, isso não me surpreende.
“Você vai querer qual recheio?” ela perguntou.
“Qualquer um.”
“Você não parece muito animado. Será que você prefere pão?”
“Não… Além do mais, parece que você nem ao menos comprou pão.”
“Não mesmo. Eu só trouxe onigiris.”
“Então não adianta pedir por algo que eu não posso receber.”
“Se não há pão, que comam bolo.”
“Que regime opressivo!”
Uma revolução aconteceria em um instante.
“Eu tive uma educação protegida,” ela disse. “Eu não sei como o mundo funciona direito.”
“Eu acho que o problema aqui é a sua personalidade.”
“Eu não posso evitar, eu fui mimada. Eu sou a abelhinha do meu pai.”
“O certo é ’garotinha!’ Se chamar de abelha é estranho.”
Enquanto nós continuávamos conversando, A Senjougahara pegou um dos onigiris, removeu o plástico, e enfiou a coisa toda na minha boca.
“Nmph! Ngh.” Eu não conseguia respirar direito. Eu decidi reclamar. “Que droga foi essa?!”
“Bem, pedir para você abrir a boca e falar ‘ahh’ era meio vergonhoso.”
“Então você simplesmente enfiou aquilo na minha boca? Tem arroz no fundo da minha garganta. Á-água! Água! Rápido, pega a garrafa.”
“O quê? Não. Isso seria um beijo indireto.”
“Você está com vergonha disso? Mesmo depois de fazer eu lamber a sua mão?!”
A Senjougahara me deu água, colocando a garrafa toda na minha boca. Embora os grãos de arroz no fundo da garganta tenham sido lavados, eu também senti como se fosse me afogar - uma experiência única em terra firme.
“Ih. Olha a bagunça que você fez. Você é um menininho malvado.”
Eu não sei se “língua afiada” ainda era o termo certo para descrevê-la. Se o Japão proibisse a liberdade de expressão, a Senjougahara seria a primeira pessoa a ser presa.
“Se você não se importar,” ela anunciou. “Eu vou comer também… Hoje eu só tive tempo de comprar coisas da loja de conveniência, mas não se preocupe. Amanhã eu vou trazer um belo almoço caseiro.”
“……”
“O quê? Você tem algum problema com a minha comida? Eu melhorei bastante nos últimos tempos.”
O problema aqui é o fato de que meu confinamento parece ter sido planejado para durar. Eu fui obedecendo ela achando que ela estivesse brincando, mas eu não faço ideia de qual é o objetivo dela.
Hmm? Ah, é mesmo…
Ela tinha me contado.
-Relaxa.
-Eu vou te proteger.
Me proteger… Eu já achava que ela estava falando sério. Se ela realmente está tentando me proteger, eu não posso ignorá-la.
Talvez por eu ter sido atingido na cabeça, minha memória estava confusa. Mas agora tudo estava voltando.
Proteger - o que ela quis dizer com isso?
Como foi que essa situação aconteceu?
“Eu tenho que admitir, Senjougahara, você é bem habilidosa para ter conseguido me derrubar com um único golpe na cabeça. De acordo com a minha irmã, nocautear alguém é bem mais difícil do que parece.”
“Que golpe?”
“Hein?”
“Você se recusou a desmaiar. Eu tive que tentar umas vinte vezes.”
“Você podia ter me matado.”
Inacreditável.
Falando em inacreditável, tinha mais uma coisa que eu queria perguntar.
Sinceramente, eu não quero saber a resposta, mas eu não tenho escolha.
“Senjougahara… Você disse que vai trazer um almoço na próxima vez, e eu estou grato. Mas enquanto eu estiver preso, como eu vou fazer para… me aliviar?”
Eu fiz uma pergunta humilhante.
Mas, completamente calma, como se ela tivesse pensado em tudo, a Senjougahara tirou um pacote de fraldas geriátricas de dentro da sacola.
"Gahara, você tá brincando comigo né? Isso é algum adereço para uma pegadinha? Como sempre você tem um senso de humor bem ousado.”
"Relaxa, eu estou preparada para fazer qualquer coisa por você, até mesmo trocar fraldas.” Ela falou enquanto seu rosto não demonstrava emoção. "Você não sabia? Eu te amo Araragi. Ao ponto que mesmo se você estivesse completamente imundo, eu te abraçaria sem hesitar. Desde a respiração até a excreção, eu vou controlar cada parte do seu corpo, inclusive o seu cérebro.”
……
Ah, o peso do amor!
Notas de tradução
¹ Lupin III é o protagonista do mangá e anime de mesmo nome. O personagem é neto do famoso personagem literário Arsène Lupin
² Referência direta a uma frase marcante de Rei Ayanami em Evangelion
³ Passarinho sedento é o nome dado ao brinquedo de vidro em forma de pássaro que oscila ao ter o bico molhado, dando a impressão de que ele está bebendo.
Fim do capítulo
se quiser ler o livro completo, sem acompanhar capítulo a capítulo, encontre no nosso drive no post fixado do nosso blog
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Nisemonogatari, Livro 2
Tradução iniciada
Começamos a cerca de duas semanas a tradução do segundo livro de nisemonogatari. lembrando, a tradução do primeiro livro já foi terminada e pode ser encontrada no nosso drive.
Créditos
Autor: Nisio Ishin
Ilustrador: VOFAN
Editora Original: Kadokawa
Editora (Versão Inglesa): Vertical
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