jannando
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a única realidade para mim são as minhas sensações tudo me interessa e nada me prende
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jannando · 6 months ago
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31 de Janeiro de 1996
passei o dia meditando neste dia 31 de janeiro há 23 anos no dia 31 de janeiro de 1996 após receber a notícia da morte do meu melhor amigo serginho de apenas 7 anos num acidente na rodovia airton senna eu que estava na bahia na casa da minha vó no sertão em férias fugi desnorteada durante todo o dia parei debaixo do pé de umbu atrás da casa e ali permaneci chorando a tarde toda atormentada pela sua morte precoce e por perceber que enquanto chorava a morte do meu amigo e corria com os pés descalços aquela terra vermelha pisava e matava com indiferença as formigas que caminhavam debaixo da árvore eu chorava um choro sincero soluçava sozinha e me intrigava ao pensar que talvez somente eu estava pensando na morte das formigas tão insignificantes naquele momento em que chorava a morte do meu melhor amigo e me sentia tão só e insignificante quanto as formigas que pisava e me sentia cruel por não me importar em pisá-las enquanto lamentava a morte do meu amigo aquele choro não tinha nenhum sentido no mundo das dimensões humanas nem para o universo o universo todo que parecia não se importar que as formigas morriam também seria indiferente a morte do meu amigo comecei a perceber que o meu luto era insignificante e parecia ridículo e sem sentido para o universo todas as coisas ainda vivas continuavam a existirem sem se importar com a morte do meu amigo ou das formigas nem com meu luto passados alguns dias voltei com minha mãe à são paulo e ao chegar descobrimos que meu tio também havia falecido no mesmo dia em que meu amigo e nós não tivemos tempo de nos despedir dele mas eu guardo ainda a memória do revéillon daquele ano que passamos juntos no litoral de são paulo em que ele me disse talvez como uma despedida para aproveitar a vida viver intensamente e nunca desistir dos meu sonhos porque a gente não leva nada dessa vida o universo pode continuar indiferente mas neste dia eu chorei de novo a morte do meu tio do meu melhor amigo e das formigas
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jannando · 5 years ago
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Lições que aprendi com minha mãe
Aprendi com minha mãe que mãe é antes de tudo renuncia o que o amor que a mãe habita ensina de mais valioso é a redenção
Mãe é a virtude mais bonita mãe tudo perdoa tudo suporta tudo pode
Ela era uma só mas sendo só uma ela era tantas estava em toda a parte ao mesmo tempo nunca me faltava Mãe é onipresença
Na minha meninice à ela eu tudo perguntava até as perguntas mais ingênuas e as mais difíceis eu não sabia nada dela mas achava que ela tudo sabia de todas as coisas Mãe é onisciência
Não havia nada que ela não podia eu pensava não conheci o temor enquanto estava ao seu lado a sua presença me acalmava e me fortalecia me enchia de coragem e bravura coisa que mais me agrada é enxergar na minha própria face o destemor de minha mãe Mãe é onipotência
Mas ai! Mãe nem sempre está não sabe tudo nem tudo pode Essa descoberta tão desterradora o início da maturidade e das dores! Em toda vida - confesso meu maior erro e minha maior coragem foi deixar minha mãe quanto dói a sua ausência! que aprendi a suportar Foi por deixar de perguntar à minha mãe as perguntas essenciais e até as mais ingênuas que muitas vezes errei Ela não conhece tudo mas conhece os caminhos Há pouco tempo descobri o maior segredo de minha mãe o seu poder está na oração os seres celestes e divinais trabalham a seu favor Deve ser porque a plenitude e a força do seu amor é igual ao amor de Deus por toda a sua criação Deus se compadece pela sua semelhança e verdade
Foi assim que cheguei a conhecer que mãe é o caminho que conduz à Deus
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jannando · 6 years ago
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a vida é uma dádiva
ser é tão impreciso quanto infinito como se pode compreender o que é ser se não sabemos se as possibilidades foram findadas? ser será determinante será causal imutável? o que se foi é ainda o que se é como uma soma infinita de seres? o que sou e o que faz de mim o que sou? é tão complexo e frágil só sei que ser começa com a vida e a vida é uma dádiva
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jannando · 6 years ago
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5 years
yesterday i cried so many tears thinking that today complete 5 years from the last time i hugged my mother today i woke up with joy in my heart freed from all anguish and pain szymborska and kundera are right yes life it is like a sketch for nothing an outline with no picture it's this a performance without rehearsal as the rehearsal for life it's life itself but the anguish and pain comes from not knowing nothing about the role we play in this perfomance called life to know it is to dream to trust in your dreams to have faith in God in yourself in your intuitions and feelings and know that know your role in this life it's a privilege as well as live and be grateful for the privilege of living and for the privilege of know in your intimacy what you live for the meaning of your life
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jannando · 6 years ago
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mãe
eu não tenho uma única foto com minha mãe e isso diz muito sobre nós duas a nossa intimidade é como um bem valioso que deve ser guardado e preservado a última foto de que tenho memória de nós duas juntas é de quando eu tinha 1 ano de idade uma foto analógica eu tenho pensado todo filho diz ter a melhor mãe do mundo eu de fato tenho nada define melhor uma mãe do que o sacrifício desde o nascimento ser mãe é sacrificar-se todo filho pensa que sua mãe é uma super heroína a minha de fato é ela não conhece o impossível nunca houve nada que eu temesse porque sempre tenho minha mãe como meu escudo todo filho diz que sua mãe é a melhor pessoa do mundo a minha de fato é o que pode definir melhor a qualidade de uma pessoa do que a sua bondade o seu altruísmo em suma a sua compaixão? compaixão não há melhor palavra para descrever a pessoa de minha mãe milan kundera escreveu que não há nada mais forte que a compaixão o sentimento supremo vez ou outra eu tenho tido sonhos bizarros em que só a sua presença me acalma não há nada que eu deseje mais do que deitar a minha cabeça sobre o seu colo e me alimentar da paz e do sossego que ainda e para sempre emana do seu ventre maternal numa celebração da nossa intimidade sagrada o tempo tem-me revelado no meu rosto os seus traços e tenho nisso uma exultante alegria cada vez mais me assemelho ao meu único ídolo eu te amo mais do que amo a mim própria mãe sou o que sou por sua causa somos ambas na vida lutadoras somos ambas na vida sonhadoras pelos meus sonhos você sacrificou os seus pelas minhas vitórias eu te celebrarei mãe
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jannando · 6 years ago
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o sentido da vida
viver a que serve? qual o sentido a vida? da minha vida? por que essa angústia lancinante? que vim eu fazer neste mundo? terá a minha existência algum sentido? a tua? a de todos nós? ouço caetano cantar cucurrucucu paloma essa graciosa canção em cena do filme hable con ella do almodóvar e o sentido da vida se revela para mim sentir o corpo e o espírito em comunhão vibrar fascinados com a beleza que vivencia neste momento ao ouvir caetano sentir o espírito dançar e o corpo tremer em êxtase com a beleza e encanto que experimenta lili me lambendo as mãos enquanto escrevo balançando o rabo feliz com a presença da mãe acabada de chegar a casa essa alegria toda que por mais que se descreva e escreva todo esse meu enfadonho prolixismo verbal incapaz de fazer a outro perceber e sentir esse entusiasmo essa alegria tão minha tão verdadeira e tão presente que sinto agora e que dá sentido à minha vida à minha existência à existência de caetano  e dos que o acompanham tocando essa canção à existência da lili e por fim e último de tudo e todos que existem ou alguma vez existiram porque foi preciso que os homens àqueles dos quais já nem sabemos ou temos conhecimento das suas existências para que o cantar e o tocar e os instrumentos e objetos tão antigos quanto a existência da humanidade e toda sorte de coisas fossem inventadas criadas será a criação o sentido último e primordial da nossa existência como o é da existência de Deus O Criador? talvez as nossas criações darão o sentido à nossa existência que em vida não somos capazes de compreender certa estou de que para descobrir o sentido da vida é preciso viver
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jannando · 6 years ago
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zita
nascemos irmãs de pai e mãe mas foi a vida com seus caminhos tortuosos que edificou a nossa irmandade na infância não via nela maior semelhança que o sangue comum que corre nossas veias nada nela me era familiar e tudo nela me intrigava a beleza a graciosidade travessa que seduzia à todos e me causava inveja o desleixo e a liberdade pueris que contrariavam a minha própria personalidade introvertida metódica e sisuda e que tardiamente despojada de minhas idiossincrasias aprendi a apreciar e a praticar a vida a maturidade alcançada mostrou-nos a nossa essencial parecença tardei em enxergar naquela criança carismática a sua virtude falhei em não perceber a beleza e a genuína liberdade daquela criança cativante mas hoje a vejo refletido no seu espírito obstinado e na devoção incondicional pelos que amamos que Deus a abençoe abundantemente e te permita desfrutar das alegrias da vida minha irmã te amo
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jannando · 6 years ago
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nada
pôr-do-sol vim passear lili no parque da ribeira como de costume tre ragazzi italiani brincam com ela a mente é curiosa até então fiz alguns esboços rústicos da paisagem que contemplo do outro lado do douro em gaia como sempre um encantador entardecer dolce far niente dizem os italianos quando a mente está exausta e o corpo aflito doce é não fazer nada não fazer nada ainda é um ato um ato de fé eu diria quando tudo urge quando tudo oprime como é doce o nada é no nada que reside a fé e a existência de Deus como creem os místicos medievais com uma sabedoria adormecida Deus é um mero nada alcançar o nada é estar em comunhão com Deus
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jannando · 6 years ago
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velhos
aos jovens impetuosos e imediatos sempre preferi os velhos que se encontram numa altura da vida em que compreendem que aquela impetuosidade pelo gozo imediato quando jovens é para a vida sem sentido eu mesma jovem de espírito impetuoso sustentado por um corpo débil e senil sempre estive mais próxima daqueles e daquilo que de mim estão mais longe no tempo aqueles que vingam na vida o tempo parecem dela receber com o tempo que vencem cotidianamente uma sabedoria genuína que a mim causa encanto e anseio 
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jannando · 6 years ago
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arte
arte é uma coisa européia me intriga por exemplo objetos domésticos úteis de tribos e povos exóticos dos trópicos do oriente da áfrica serem denominados arte aquando da colonização desses territórios esse valor artístico que os europeus atribuíram à esses objetos que acabaram ressignificando-os também para os próprios povos que os criaram depois de serem catequizados educados com a educação acadêmica européia fiquei confusa por exemplo quando soube há alguns anos da criação de um curso de história da arte e da cultura africanas eu tendo a pensar que a denominação arte africana bem como arte egípcia arte indígena também podem ser encaradas como um ato neo-colonial continuação de um esforço dos colonizadores em se apropriarem e produzirem conhecimento especializado sobre a produção desses povos a partir dos seus próprios saberes cânones doutos e em suma um ato que pode ser opressor uma expansão dissimulada e progressiva de práticas arcaicas de colonização
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jannando · 6 years ago
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viver plenamente
às vezes enferma vencida pela dor chego a pensar que devia ceder à realidade da efemeridade do meu corpo parar de sonhar me esforçar para viver de acordo com a debilidade orgânica de meu corpo viver de acordo com os limites que meu corpo me impõe o que se é bom e certo mas a vida me ensinou a pensar ao contrário a agir mesmo contrariada pela minha intuição e sensibilidade a ser alheia a tudo e todos porque convém porque pelo que sou pelo que tenho vivido quase nada do que dizem que é certo parece certo quase nada do que se impõe como justo parece bom porque quase tudo que dizem ser certo e justo e bom é alheio à mim é uma verdade pragmática e cotidiana viver é quase sempre um cansaço exaustivo em momentos de dor e moléstia mas a vida tem me ensinado que se pode viver para além daquilo do que o que se é que o sonho o querer-ser a fantasia também é o que somos eu vivo pelos meus sonhos dedico-me aos meus interesses às minhas sensações pois são para mim a única realidade sensível aprazível e possível que posso experimentar plenamente com tudo aquilo que tenho sido porque o mundo não é capaz de compreender o que cada pessoa tem de individual de seu só eu vivo errante alheia ao mundo e isto me parece certo e bom porque só assim é que consigo viver plenamente 
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jannando · 6 years ago
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mundo
o mundo todo - todo mundo - é todo um tédio - até nem dá vontade de ter vontade - nem de nada nem de tudo - nada é todo um tédio - tudo é um tedioso nada
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jannando · 6 years ago
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gormley
era véspera do meu aniversário vaguei desnorteada a noite pelo centro de são paulo completamente deserto completamente sozinha por entre os corpos-monumentos de gormley a vida parecia poesia a grande epopeia da humanidade a sua vitória sobre a natureza e sobre toda a vida expressava-se na solidão desses corpos-monumentos com uma melancolia profunda que irradiava beleza cada um daqueles corpos-monumentos consternados que eram todos e ao mesmo tempo cada um de nós vitoriosos diante do seu reino a cidade contrastava-se e contrariava-se diante de toda a sua criação contemplava com apatia toda a angústia da história humana reencontrava-se com a sua essência original o seu corpo toda a história naquele momento parecia não ter sentido toda a criação parecia sem sentido diante daquele débil corpo-monumento que descobria toda sua monumentalidade na pequenez ridícula de seu corpo triunfante tudo era beleza tudo era poesia e tudo toda a existência a vida humana com suas dores e glórias fazia sentido porque parecia uma metáfora à história da humanidade que perdia seu sentido histórico para reencontrar seu sentido essencial na patética efemeridade do corpo porque a história da humanidade é a história da épica luta do homem para vencer os limites do seu corpo e o seu fatídico fim
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jannando · 6 years ago
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lugar nenhum
bom mesmo era caminhar sem dono não ter nunca chegada nunca optar por nada os passos levando sempre para lugar nenhum  lugar nenhum é o melhor lugar de se chegar não há de ter nem começo nem fim
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jannando · 6 years ago
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revolução
as capacidades humanas do afeto do amor da compaixão e da compreensão são a grande ameaça ao capitalismo o que por consequência significa que o triunfo do capitalismo está diretamente relacionado ao equilíbrio entre caos e estabilidade dado pela sua capacidade de destruição e reconstrução da vida humana das sociedades dos seus costumes e dos seus valores devemos ser capazes de compreender que em prol do bem-estar e da prosperidade relativa dos mais afortunados e poderosos o capitalismo promove o sofrimento a depreciação e a opressão e exploração dos desafortunados e dos miseráveis o que significa que a revolução deve ser conduzida pelos mais nobres sentimentos e valores humanos
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jannando · 6 years ago
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respirar
sentir o ar entranhar o corpo pelas narinas sentir o corpo existir vibrar desejar viver deixar que o ar nos preencha o corpo com vida querer viver dar existência à vida dentro dos limites do nosso corpo dar força e liberdade ao nosso corpo de se expandir para além de qualquer limite e transformar-se ou pode ser que seja também uma alegria tão natural somente digna de reparo quando nos falha uma felicidade tão comum que não nos damos conta e que portanto não celebramos e proclamamos eu respiro!
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jannando · 6 years ago
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são paulo
já tenho somados quase 5 anos contínuos distantes de são paulo e o retorno uma breve visita a princípio está próximo nem tão próximo assim por curiosidade achei um arquivo digital com textos do vilém flusser um dos teóricos que marcou minha formação há algumas horas que tento aliviar o espírito após acordar broncoasmática e delirante ao som dolente de alfred schinittke lendo trechos e textos do flusser dentre eles um texto intitulado a volta em que ele descreve a sua volta a são paulo que me fez imaginar minha volta e me emocionar com essa imagem do meu retorno à minha terra nativa são paulo já não é a mesma coisa objeto instrumento eu sou outros transformada mudada irreconhecível à mim mesma deslocada sem lugar mas é certo que esse estranhamento que o vilém testemunha a boca aberta espantada admirada parada diante do corpo concreto paulistano durará a brevidade de um instante intemporal de um abrir e fechar de boca e então eu também poderei dizer bom dia são paulo ou melhor boa noite porque sou como são paulo notívaga 
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