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"Augusto morreu em 19 de agosto de 14 d.C., um pouco antes de completar 76 anos, em uma de suas casas no sul da Itália. Segundo Suetônio, ele passara as férias na ilha de Capri, em jogos eruditos com seus convidados - insistindo, por exemplo, que todos os convidados romanos se vestissem e falassem como gregos, enquanto os convidados gregos deviam se portar como romanos. O fim foi todo ele bastante melancólico. Quando voltou ao continente, seu estômago estava causando problemas, e acabou deixando-o de cama, onde morreu, de modo um pouco surpreendente dado o destino de tantos de seus contemporâneos. Houve rumores mais tarde de que Lívia teria tido participação no seu fim, com alguns figos envenenados, a fim de facilitar a ascensão de Tibério ao poder, também disseram que ela apressara o fim de outros membros da família por medo que comprometessem as chances de Tibério chegar ao trono. Mas foi um caso a mais de morte inexplicada do mundo romano - já que a maioria delas ocorria em batalhas, no parto ou por acidentes -, e que despertou toda sorte de fofocas. E o envenenamento sempre era visto como a arma feminina preferida. Não exigia força física, apenas esperteza, e era uma inversão medonha do papel tradicional de nutrir da mulher.
Outros acreditavam, o que era mais plausível, que Lívia houvesse desempenhado um papel importante em suavizar a transição de Augusto para Tibério. Assim que a morte do marido pareceu iminente, mandou chamar o filho, que estava a uns cinco dias de distância do outro lado do Adriático. Enquanto isso, ela expedia boletins otimistas quanto à saúde de Augusto, até que Tibério chegou e a morte pode ser anunciada. O momento exato em que o velho homem morreu virou tema de discussão a partir de então. Mas tenha sido antes ou depois da chegada de seu herdeiro, a posse aconteceu sem sobressaltos. O corpo foi carregado por mais de 160 quilômetros até Roma, desde o local em que havia morrido em Nola, nos ombros dos principais homens de cada cidade pelo caminho. Não houve cerimônia de coroação, qualquer que tenha sido o uso que Augusto fez de seu triunfo em 29 a.C., não aconteceu nenhum ritual romano específico para marcar a ascensão imperial. Mas Tibério já estava efetivamente no controle como novo imperador quando providenciou uma reunião do Senado para tornar público o testamento de Augusto, os legados e outras instruções para o futuro, e para discutir os arranjos do funeral.
Há alguns indícios de que os organizadores estavam preocupados com possíveis problemas. Se não, por que fizeram com que a cerimônia e o percurso do funeral fossem protegidos por soldados? Mas tudo transcorreu em paz, e de uma maneira que teria parecido mais ou menos familiar a Políbio mais de 150 anos antes, mesmo que em uma escala mais luxuosa. Um modelo em cera de Augusto foi colocado em pé na rostra enquanto Tibério pronunciava o discurso público. A procissão mostrou imagens não só dos ancestrais de Augusto, mas também de grandes romanos do passado, incluindo Pompeu e Rômulo, como se Augusto tivesse sido descendentes deles todos. Após a cremação, Lívia - agora chamada de Augusta, porque Augusto a havia adotado formalmente em seu testamento - recompensou com a soma de 1 milhão de sestércios o homem que jurou ter visto Augusto elevando-se aos céus. Augusto era agora um deus."
-SPQR: Uma história da Roma Antiga, de Mary Beard.
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"Como seria de esperar, vários observadores antigos bem informados concluíram que o aspecto enigmático de Augusto era aquilo que melhor o resumia. Quase quatrocentos anos mais tarde, em meados do século IV d.C., o imperador Juliano escreveu uma perspicaz paródia de seus predecessores, imaginando todos eles comparecendo a uma grande festa com os deuses. Chegam em bando, cada um correspondendo ao que àquela altura havia se tornado sua caricatura. Júlio César, enlouquecido pelo poder, parece decidido a destronar o rei dos deuses e anfitrião da festa; Tibério mostra-se terrivelmente mal-humorado; Nero não suporta ficar afastado de sua lira. Augusto entra como um camaleão impossível de definir, um velho réptil cheio de truques, continuamente mudando de cor, do amarelo para o vermelho e deste para o preto, uma hora melancólico e sombrio, outra exibindo todos os encantos da deusa do amor. Os anfitriões não tem outra op��ão a não ser encaminhá-lo a um filósofo, para que o torne mais sábio e moderado.
Escritores antigos perceberam que Augusto se comprazia com esse tipo de provocação. Se não, que outro motivo teria para adotar como desenho do sinete com o qual autenticava sua correspondência - o equivalente antigo de uma assinatura - a imagem da criatura enigmática mais famosa de toda a mitologia greco-romana: a esfinge? Dissidentes romanos, no que têm sido acompanhados por vários historiadores modernos, levaram esse ponto adiante, acusando o regime de Augusto de se basear na hipocrisia e na simulação, e de abusar das formas e da linguagem tradicionais da República para encobrir uma tirania relativamente linha-dura."
-SPQR: Uma história da Roma Antiga, de Mery Beard.
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"Algumas pessoas na época mostravam-se suficientemente fatalistas, ou realistas, para achar que não fazia muita diferença qual dos dois vencesse. Uma curiosa anedota a respeito de corvos falantes resume de modo bem-humorado essa ideia. Otaviano, assim reza a história, voltava a Roma depois da batalha de Ácio quando foi abordado por um trabalhador comum, que havia treinado um corvo para que dissesse: "Parabéns, César, nosso vitorioso comandante". Ele ficou tão impressionado com o truque que deu ao homem uma substancial recompensa em dinheiro. Mas acontece que o treinador tinha um parceiro, que não recebera a parte que lhe cabia do dinheiro, e para se defender foi até Otaviano e sugeriu que o seu parceiro devia ser solicitado a apresentar seu outro corvo. O par de charlatães havia tido o bom-senso de cercar todas as possibilidades. Quando esse segundo pássaro foi trazido, guinchou "Parabéns, Antônio, nosso vitorioso comandantes". Por sorte, Otaviano viu o lado engraçado da história e simplesmente insistiu para que o primeiro homem dividisse a recompensa com seu parceiro."
-SPQR: Uma história da Roma Antiga, de Mery Beard.
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"Em 40 a.C, Otaviano e Marco Antônio haviam repartido o mundo mediterrâneo entre eles, deixando apenas um pequeno pedaço para Lépido. Assim, pela maior parte da década de 30 a.C, Otaviano comandou no Ocidente, lidando com alguns de seus inimigos romanos que permaneciam à solta - incluindo o filho de Pompeu, o Grande, principal elo sobrevivente das guerras civis do início da década de 40 a.C - e conquistando novos territórios do outro lado do Adriático. Enquanto isso, no Oriente, Marco Antônio montava campanhas de um perfil bem mais ambicioso, contra a Pártia e a Armênia, mas com sucesso variado, apesar dos recursos de Cleópatra.
Relatos que chegavam a Roma alardeavam o luxo da vida do casal em Alexandria. Circulavam histórias fantásticas sobre seus fabulosos banquetes, e a famosa aposta entre eles sobre quem era capaz de promover o banquete mais caro. Um relato romano registra, em tom de profunda reprovação, que Cleópatra venceu, ao oferecer uma festa de 10 milhões de sestércios (quase o valor da casa mais majestosa de Cícero), que incluiu o custo de uma fabulosa pérola que - num ato de consumo conspícuo e absolutamente sem sentido - ela dissolveu em vinagre e bebeu. Igualmente preocupante para os tradicionalistas romanos era a sensação de que Marco Antônio estava começando a tratar Alexandria como se fosse Roma, a ponto de celebrar ali um triunfo pela pequena vitória na Armênia. "Por causa de Cleópatra, ele proporcionou aos egípcios as honrosas e solenes cerimônias do seu próprio país", como reportou as objecções um escrito antigo.
Otaviano explorou esses medos em uma intervenção drástica em 32 a.C. Marco Antônio havia se divorciado de Otávia mais cedo naquele ano, e Otaviano reagiu ponto as mãos no testamento de Marco Antônio e lendo em voz alta no Senado alguns trechos particularmente incriminadores. Eles revelaram que Antônio reconhecia o jovem Cesarião como filho de Júlio César, que planejava deixar grandes quantias de dinheiro para os filhos que tivera com Cleópatra e que queria ser enterrado em Alexandria ao lado dela, mesmo que morresse em Roma. O boato nas ruas de Roma era que seus planos de longo prazo eram abandonar a cidade de Rômulo e transferir a capital toda para o Egito.
Foi contra esse pano de fundo que irrompeu a guerra aberta. No início do conflito, em 31 a.C, a melhor aposta teria sido uma vitória de Marco Antônio: ele tinha mais soldados e dinheiro à disposição. Mas Antônio e Cleópatra perderam a primeira batalha marítima, perto de Ácio [...] no norte da Grécia, e nunca retomaram a iniciativa. Considerando que foi um dos grandes confrontos militares decisivos da história mundial, que colocou um ponto final na República romana, a Batalha de Ácio, em setembro de 31 a.C, foi um conflito contido, um pouco vexaminoso até - embora talvez outros confrontos militares decisivos tenham sido também um caráter mais contido e vexaminoso do que tendemos a imaginar. A vitória fácil de Otaviano foi mérito de seu segundo no comando, Marco Agripa, que conseguiu cortar a linha de suprimentos de seu oponente; ou então de um punhado de desertores bem informados, que revelaram os planos do inimigo; ou dos próprios Antônio e Cleópatra, que simplesmente desapareceram. Tão logo as forças de Otaviano mostraram estar levando a melhor, os dois bateram em retirada da Grécia para o Egito, com um pequeno destacamento de navios, abandonando os demais soldados e marinheiros, que incompreensivelmente não se incomodaram em continuar lutando por mais algum tempo ainda.
No ano seguinte, Otaviano navegou até Alexandria para terminar o serviço. No que foi com frequência descrito como uma espécie de farsa trágica, Antônio apunhalou a si mesmo quando imaginou que Cleópatra já estivesse morta, embora ele tenha sobrevivido o suficiente para descobrir que ela estava viva. Cerca de uma semana mais tarde ela também, ao que se diz, suicidou-se, com a picada de uma serpente trazida escondida aos seus aposentos em uma cesta de frutas. Segundo a versão oficial, o motivo foi privar Otaviano da presença dela em sua procissão triunfal: "Não serei vencida", teria murmurado repetidas vezes. Mas talvez a coisa não tenha sido tão simples - ou tão shakesperiana assim. Suicídio por picada de serpente é um feito difícil de conseguir, e de qualquer modo as mais confiáveis cobras mortais são robustas demais para se esconder em uma fruteira real. Embora Otaviano lamentasse publicamente ter perdido o seu principal troféu de seu triunfo, talvez no íntimo tenha concluído que a rainha morta era um problema menor que vivia. No mínimo - como vários historiadores modernos suspeitam - ele facilitou a morte dela. Certamente não quis correr riscos com Cesarião, dada sua suposta paternidade. Mas este, então com dezesseis anos, foi morto.
No triunfo de Otaviano, no verão de 29 a.C., o que se exibiu foi uma réplica em tamanho natural da rainha no momento de sua morte, e mesmo assim ela roubou a atenção da multidão. Como relatou um historiador posterior, "Foi como se ela estivesse ali com os demais prisioneiros". A procissão foi um evento cuidadosamente coreografado, com duração de três dais, ostensivamente para celebrar as vitórias de Otaviano pelo Adriático na Ilíria e contra Cleópatra em Ácio e no Egito. Não houve qualquer menção explicita a Marco Antônio ou a qualquer outro inimigo das guerras civis, e tampouco mortos que Júlio César havia feito desfilar, ouvindo maus conselhos, em sua celebrações quinze anos antes. No entanto, não poderia haver nenhuma dúvida a respeito de quem realmente havia sido derrotado, ou sobre quais seriam as consequências do sucesso de Otaviano. Esse foi não só um desfile de vitória mas igualmente um ritual de coroação."
-SPQR: Uma história da Roma Antiga, de Mary Beard
Antônio e Cleópatra, por Lawrence Alma-Tadema
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Airco DH.2 (De Havilland 2) single-seater “pusher” biplane, of the type used successfully against the Fokker biplane early in 1916, taking off at Beauval Aerodrome. Note flag on strut on right of plane, indicating its a Flight Commander’s machine.
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British troops coming home for Christmas leave in London. December 1916
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"Por volta do final de 43 a.C, pouco mais de dezoito meses após a chegada de Otaviano à Itália, a política de Roma estava de cabeça para baixo. Brutus e Cássio haviam sido destinados a províncias no Oriente e deixaram o país. Otaviano e Marco Antônio tiveram uma série de confrontos militares no norte da Itália e depois se acertaram novamente, formando com Lépido um "triunvirato para o estabelecimento de um governo". Era um acordo formal de cinco anos, que dava a cada um dos três poder igual ao de cônsules, permitindo-lhes escolher a província que quisessem e controlar as eleições. Roma estava sob o comando de uma junta.
E Cícero estava morto. Havia cometido o erro de falar com excessiva eloquência contra Marco Antônio, e na rodada seguinte de assassinatos em massa, que foi a principal realização do triunvirato, seu nome figurou entre aquelas centenas de outros senadores e equestres das temidas listas. Um esquadrão da morte especial foi enviado atrás dele em dezembro de 43 a.C., e o decapitaram enquanto era transportado de liteira de uma de suas propriedades rurais, para onde fora em uma desesperançada tentativa de se esconder (desesperançada em parte porque um dos ex-escravos da família havia vazado seu paradeiro). Foi outro final simbólico da República romana, e que continuou sendo debatido por séculos. Na verdade, os últimos momentos de Cícero foram repetidos à exaustão nas escolas de oratória de Roma, onde a questão se ele deveria ter implorado misericórdia a Marco Antônio ou (mais complicada ainda) se deveria ter proposto destruir todos os seus escritos em troca de sua vida, era um dos tópicos favoritos para debate. No entanto, a continuação foi ainda mais sórdida. Sua cabeça e sua mão direita foram enviadas a Roma e pregadas à rostra no Fórum. Fúlvia, esposa de Marco Antônio, que já havia sido casada com Clódio, outro grande inimigo de Cícero, veio ver o troféu. Conta-se que, em sua exultação maligna, derrubou a cabeça no chão, cuspiu nela e puxou a língua para fora, perfurando-a repetidas vezes com os grampos que retirara do próprio cabelo."
_SPQR, Uma História da Roma Antiga, de Mery Beard. Publicado pela Editora Crítica.
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"De volta a Roma, as procissões triunfais de César apresentaram um desfile dos espólios, animados e inanimados, conquistados por todo o mundo romano. Em seu triunfo de 46 a.C., celebrado durante uma de suas breves visitas à cidade, exibiu não apenas o rebelde gaulês Vercingetorix, mas também a meia-irmã de Cleopatra, que estivera do lado errado na disputa de poder egípcias; ela foi exposta ao lado de uma maquete do farol de Alexandria. A vitória de César sobre Farnácio, filho de Mitridates, que havia morrido perto do mar Negro, foi comemorada nas mesmas celebrações com um único cartaz, sobre o qual estava escrito um dos mais famosos slogans de todos os tempos: "Veni, vidi, vici" ("Vim, vi venci", que buscava transmitir a rapidez do sucesso de César). Mas ali havia também sinais alarmantes, nas imagens das vítimas romanas de César.
Desfiles triunfais supostamente destinavam-se a celebrar vitórias sobre inimigos estrangeiros, não sobre cidadãos de Roma. César expôs pinturas dos últimos momentos de figuras destacadas do grupo de apoiadores de Pompeu: desde Catão desentranhando a sim mesmo a Metelo Cipião atirando-se ao mar. A aversão de muitas pessoas a esse tipo particular de triunfalismo ficou registrada nas lágrimas das multidões quando essas imagens foram exibidas. Em retrospecto, foi uma estranha antecipação do sangrento destino de César, menos de dois anos depois."
SPQR, Uma História da Roma Antiga, de Mery Beard. Publicado pela Editoria Crítica.
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"Uma grande mudança, porém, ocorreu: a guerra civil romana agora envolvia quase todo o mundo conhecido. Enquanto as guerras entre Sula e seus rivais haviam testemunhado incidentes ocasionais no Oriente, a guerra entre os seguidores de César e Pompeu abrangeu o Mediterrâneo, da Espanha à Grécia e Ásia Menor. Nomes famosos tiveram seu fim em lugares distantes. Bíbolo, o infeliz colega de César em 59 a.C., morreu no mar perto de Corfu enquanto tentava bloquear o litoral grego. O assassino de Clódio, Titus Annius Milo, abandonou o exílio para se juntar a um levante do grupo de Pompeu e tombou na ponta da botada Itáloa, atingido por uma pedra. Catão, quando ficou claro que César seria inevitavelmente o vencedor, matou-se na cidade de Utica, no litoral da atual Tunísia, da maneia mais sangrenta imaginável. Segundo seu biógrafo, que escreveu 150 anos mais tarde, transpassou-se com a própria espada mas sobreviveu ao corte. Apesar das tentativas dos amigos e da família para salvá-lo, Catão afastou o médico que haviam chamado e arrancou as próprias entranhas pelo corte ainda aberto.
O Egito teve papel importante em fornecer apoio. Foi ali que Pompeu, o homem que havia antes governado o mundo romano, encontrou seu ignominioso fim em 48 a.C. Ele esperava uma calorosa acolhida quando aportou. Na realidade, foi decapitado pelos apoiadores de uma dinastia local, convencido de que, ao eliminarem o líder inimigo, estariam ganhando pontos com César. Ao refletir sobre esse episódio, muitos observadores romanos, Cícero incluído, concordaram que teria sido muito melhor para Pompeu ter morrido uns dois anos antes, quando caiu gravemente doente em 50 a.C. Do jeito que aconteceu, "sua vida durou mais do que seu poder". O assassinato, no entanto, revelou-se um lance equivocado para os seus perpetradores. César, que chegou alguns dias depois, ao que parece chorou ao lhe mostrarem a cabeça de Pompeu, e em seguida apoiou um dos rivais ao trono do Egito. Esse rival era a rainha Cleópatra VII, mais conhecida por sua aliança, política e romântica, com Marco Antônio, no capítulo seguinte das guerras civis romanas. Mas a essa altura os interesses dela estavam todos em césar, com quem teve um caso - e a crer em suas afirmações sobre paternidade - também um filho."
- SPQR, Uma história da Roma Antiga, de Mery Beard. Publicado pela Editora Contexto
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A dog handler of the Royal Engineers (Signals) reading the message that has just been brought to him by his messenger dog. The dog swam across the canal to deliver the message and still looks quite wet. The photograph was taken at a Army Veterinary Corps HQ Kennel near Nieppe Wood. 19 May 1918 (Photo source - © IWM Q 10960)
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"Como maior parte das pessoas, eu ficava aturdido com o poder das guerras religiosas em nossas vidas cotidianas, e à medida que eu descobria mais sobre elas, percebia que nós estávamos sendo arrastados por um conflito antigo para qual nos desenvolvemos uma espécie de amnésia coletiva. A razão, acreditávamos, governava o mundo no lugar da religião. A guerra diz a respeito de ideologia, economia e ego, e não a fé. Nós fomos pegos cochilando na história. A marcha do progresso é uma fábula que os vitoriosos contam para eles mesmos; os vencidos tem uma memória maior. Nas palavras dos islâmicos de hoje [...] a podridão se estabeleceu há quinhentos anos. Isso aconteceu quando o último emirado muçulmano foi expurgado da Europa ocidental, quando Cristov��o Colombo chegou às Américas - e quando Vasco da Gama chegou ao Oriente. Esses três acontecimentos se desencadearam em uma década dramática, e suas raízes intimamente entrelaçadas mergulham profundamente em nosso passado comum. Sete séculos antes da década crucial, conquistadores muçulmanos tinham avançado profundamente na Europa. Na sua extremidade ocidental, a península Ibérica, eles fundaram um Estado islâmico avançado, e tal Estado havia protagonizado um papel vital em tirar a Europa da "Idade das Trevas". Tanto cristãos quanto muçulmanos começaram a esquecer que o Deus que adoravam em formas diferentes era a mesma deidade, e os fogos da guerra santa foram acessos na península ibérica. Eles queimaram violentamente a medida que portugueses e espanhóis buscavam tirar suas nações de dentro das terras do islã, e eles ainda estavam queimando quando os portugueses embarcaram em uma missão secular para perseguir seus antigos senhores pelo mundo - uma missão que inaugurou a Era dos Descobrimentos na Europa." - Guerra Santa, de Nigel Cliff
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"No início de 1848, o eminente pensador político francês Alexis de Tocqueville tomou a tribuna na Câmara dos Deputados para expressar sentimentos que muitos europeus partilhavam: "Nós dormimos sobre um vulcão... Os senhores não percebem que a terra treme mais uma vez? Sopra o vento das revoluções, a tempestade está no horizonte". Mais ou menos no mesmo momento, dois exilados alemães, Karl Marx com trinta anos e Friedrich Engels com vinte e oito, divulgavam os princípios da revolução proletária para provocar aquilo que Tocqueville estava alertando seus colegas, no programa que ambos tinham traçado algumas semanas antes para a Liga Comunista Alemã e que tinha sido publicado anonimamente em Londres, por volta de 24 de fevereiro de 1848, sob o título (alemão) de Manifesto do Partido Comunista, "para ser publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês". Em poucas semanas, ou, no caso do Manifesto, em poucas horas, as esperanças e temores dos profetas pareceram estar na iminência da realização. A monarquia francesa tinha sido derrubada por uma insurreição, a república proclamada e a revolução europeia tinha iniciado. Tem havido um bom número de grandes revoluções na história do mundo moderno, e certamente a maioria bem-sucedidas. Mas nunca houve uma que tivesse se espalhado tão rápida e amplamente, se alastrando como fogo na palha por sobre fronteiras, países e mesmo oceanos. Na França, o centro natural e detonador das revoluções europeias, a república foi proclamada em 24 de fevereiro. Por volta de 2 de março, a revolução havia ganho o sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, e quase imediatamente a Hungria; em 18 de março Milão e, em seguida, a Itália (onde uma revolta independente havia tomado a Sicília). Nesta época, o mais rápido serviço de informação acessível a qualquer pessoa (os serviços do banco Rothschild) não podia trazer notícias de Paris a Viena em menos de cinco dias. Em poucas semanas nenhum governo ficou de pé numa área da Europa que hoje é ocupada completa ou parcialmente por dez estados, sem contar as repercussões em um bom número de outros. Além disso, 1848 foi a primeira revolução potencialmente global, cuja influência direta pode ser detectada na insurreição de 1848 em Pernambuco (Brasil) e poucos anos depois na remota Colômbia. Num certo sentido, foi o paradigma de um tipo de "revolução mundial" com o qual, dali em diante, rebeldes poderiam sonhar e que, em raros momentos como no após-guerra das duas conflagrações mundiais, eles pensaram poder reconhecer. De fato, explosões simultâneas continentais ou mundiais são extremamente raras. 1848 na Europa foi a única a afetar tanto as partes "desenvolvidas" quando as atrasadas do continente. Foi ao mesmo tempo a mais ampla e a menos bem-sucedida deste tipo de revoluções. No breve período de seis meses de sua explosão, sua derrota universal era seguramente previsível; dezoito meses depois, todos os regimes que derrubara foram restaurados, com a exceção da República Francesa que, por seu lado, estava mantendo todas as distâncias possíveis em relação à revolução à qual devia sua própria existência. [...] [...] pela sua ocorrência, e pelo medo de sua recorrência, a história da Europa nos 25 anos seguintes seria muito diferente. 1848 estava bem longe de ser "o ponto crítico quando a Europa falhou em mudar". O que a Europa falhou foi em mudar de uma forma revolucionária. Já que tal não ocorreu, o ano da revolução permanece sozinho, uma abertura mas não a ópera principal, uma entra da cujo estilo arquitetônico não leva exatamente ao que se espera quando se passa através do portão." - A Era do Capital, de Eric Hobsbawn
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“Os leitores mais velhos ou os de países mais antiquados conhecem o mito napoleônico tal como ele existiu durante o século em que nenhuma sala da classe média estava sem o seu busto, e talentos panfletários podiam afirmar, mesmo como piada, que ele não era um homem mas um deus-sol. O extraordinário poder deste mito não pode ser adequadamente explicado nem pelas vitórias napoleônicas nem pela propaganda napoleônica, ou tampouco pelo próprio gênio indubitável de Napoleão. Como homem ele era inquestionável, muito brilhante, versátil, inteligente e imaginativo, embora o poder o tivesse tornado sórdido. Como general, não teve igual; como governante, foi um planejador, chefe e executivo soberbamente eficiente e um intelectual suficientemente completo para entender e supervisionar o que seus subordinados faziam. Como individuo parece ter irradiado um senso de grandeza, mas a maioria dos que deram esse testemunho, por exemplo, Goethe, viram-no no auge de sua fama, quando o mito já o tinha envolvido. Foi, sem sombra de dúvidas, um grande homem e – talvez com exceção de Lênin – seu retrato é o que a maioria das pessoas razoavelmente instruídas, mesmo hoje, reconheceriam mais prontamente em uma galeria de personagens da História, ainda que somente pela tripla marca registrada de tamanho pequeno, cabelo escovado para frente sobre a testa e da mão enfiada no colete entreaberto. Talvez não tenha sentido fazer uma comparação dele, em termos de grandeza, com candidatos a esse título no século XX.
Pois o mito napoleônico baseia-se menos nos méritos de Napoleão do que nos fatos, então sem paralelo, de sua carreira. Os homens que se tornaram conhecidos por terem abalado o mundo de forma decisiva no passado tinham começado como reis, como Alexandre, ou patrícios, como Júlio Cesar, mas Napoleão foi o “pequeno cabo” que galgou o comando de um continente pelo seu puro talento pessoal. (Isto não foi exatamente verdadeiro, mas sua ascensão foi suficientemente meteórica para tornar razoável a descrição.) Todo jovem intelectual que devorasse livros, como o jovem Bonaparte o fizera, escrevesse maus poemas e romances e adorasse Rousseau poderia, a partir daí, ver o “céu como o limite” e seu monograma envolvido em lauréis. Todo homem de negócios daí em diante tinha um nome para sua ambição: ser – os próprios clichês o denunciam – um “Napoleão das finanças” ou da indústria. Todos os homens comuns ficavam excitados pela visão, então sem paralelo, de um homem comum que se tornou maior do que aqueles que tinham nascidos para usar coroas. Napoleão deu à ambição um nome pessoal no momento em que a dupla revolução tinha aberto o mundo aos homens de vontade. E ele foi mais ainda. Foi um homem civilizado do século XVIII, racionalista, curioso, iluminado, mas também discípulo de Rousseau o suficiente para ser ainda o homem romântico do século XIX. Foi o homem da Revolução, e o homem que trouxe estabilidade. Em síntese, foi a figura com que todo homem que partisse os laços com a tradição podia se identificar em seus sonhos.”
- A Era das Revoluções, de Eric Hobsbawn
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A group of men from the Royal Regiment of Artillery, photographed alongside a long-barreled field gun, 1916. For the occasion, they have chalked the words, ‘Somme gun’ on the side of the barrel.
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"Do Grande Templo às vias calçadas e aos canais, o desfile periódico dos deuses, dos sacerdotes e dos cativos, a prática rotineira do sacrifício humano - concebido ao mesmo tempo como alimento e oferenda para os deuses e como pagamento de uma dívida - mobilizam a vida e as riquezas acumuladas antes de engoli-las para sempre. O rito dramatiza o instante, acelera ou retarda o tempo. Em suma, manifesta e anima, aos olhos de todos, os fundamentos numerosos do mundo e sua marcha implacável. Órgãos humanos, objetos preciosos, animais e plantas se interpenetram ou se superpõem em jogos incessantes de correspondências entre os seres, as palavras e as coisas, nos quais transparecem a marca do divino e do sagrado. O coração humano arrancado ao peito do sacrificado remete ao figo-da-barbaria de tons violáceos, mas fruto e coração, por sua vez, indicam o sol vermelho e nascente. Aqui, nada de simbólico ou metafórico, tampouco de uma palavra que se encerraria no âmago das páginas, num livro chinês ou europeu. Tudo converge para suntuosas e custosas encenações que se repetirão por tanto tempo quanto viverem os deuses. “Encenação” é um conceito bem leve, e “mito”, um termo literário demais. Os “mitos” recobrem experiências físicas, coletivas, olfativas como o fedor das carnes e do sangue em decomposição, como as visões de carnificina humana em sociedades nas quais a carnificina de animais é inexistente; ou ainda como as cenas de embriaguez coletiva provocada pelo efeito do pulque, o suco fermentado do agave e dos alucinógenos. Os mitos são vividos como mergulhos comunitários no além da morte e do sagrado, simultaneamente estruturantes e traumatizantes. São bem mais do que esboços a recitar de cor, e cuja exegese buscaríamos junto da lareira, com uma pena ou um pincel na mão."
-A águia e o dragão, de Serge Gruzisnki
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