Embriague-se de amor que a ressaca é de poesia. (Yaporan)
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SANKOFA
Ia escrever sobre isso ontem, mas a preguiça tomou conta de mim. Na verdade foi até melhor, tive a oportunidade hoje de ouvir um pouco mais de sankofa pela voz de Ríssiani, no lançamento de seu primeiro livro. Pois bem, este ano foi um ano de retorno. Um ano que percebi que para cumprir para com meus esforços, para seguir em frente, para permanecer forte e para trilhar todos os objetivos que possuía, eu precisava voltar. Mas voltar para quê? Para quem? Voltar para onde? Crescemos em uma lógica branca e ocidental que nos ensina que tudo que ficou para trás deve ser esquecido pois é ultrapassado. E é em meio a essa ladainha barata que os colonizadores corroboram seus esforços para nos manter longe de nossa história. Esse ano, foi um ano de retomar. Retomar minhas raízes, conhecer meus ancestrais, lembrar até mesmo das histórias de família. Além das lembranças, está sendo um ano de descoberta, contudo, descoberta de vivências que já me cercavam, mas as lentes branqueadoras não deixavam que eu visse. Comecei explorar mais as periferias, ouvir as histórias dos meus, ler mais sobre toda história roubada da gente, e perceber que tudo que eu passei até hoje, muitas e muitos passaram antes de mim. Se hoje eu posso ter n direitos que tenho, é porque muito sangue preto foi derramado antes de mim. Foi preciso quebrar muito a cara, me debater muito com a raiva, a raiva de um futuro que eu não sabia vislumbrar. Tudo isso porque eu não me lembrei de sankofa: "não é errado voltar atrás pelo que esqueceste". Hoje não só sei que não é errado, como sei que é necessário que todas nós pretas e pretos voltemos atrás. Olhar para os caminhos já trilhados é necessário para que novos possam ser criados no presente e no futuro. Precisamos retomar tudo que nos fizeram esquecer, tudo que tentaram apagar de nossas lembranças, tudo que nem nos deixaram conhecer. Nós somos compostos de todos os tempos e atemporalidades. Um pouco de Chronos e um pouco de Kairós. Não esqueçam de retornar, para retomar nosso orgulho, nosso amor próprio, nossa força, nosso combate, nossa conexão com a natureza e o respeito por ela, a união entre os nossos, o ubuntu. É apenas voltando que a emancipação do povo preto se fará possível. A história preta é viva, não morre com o passado. O passado vive e nos constitui.
O pretérito para nós é sempre (im)perfeito. Sigamos!
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Cuidar... é só que vem na cabeça nesse fim de noite e início de madrugada. Quanto venho me cuidando? Eu realmente nem sei. Percebo que tenho sido até bem feliz ultimamente, mas acredito que tenho cuidado pouco de minhas tristezas, de minhas angústias, das minhas reflexões. Parece estranho ter que cuidar dessas coisas, mas é verdade que precisamos conversar com nossa tristeza, não que tenhamos que deixar ela entrar e dominar nosso corpo, mas talvez tomar um chá com ela, quem sabe. Por que não? Às vezes só seguimos o baile e não dançamos a música, passamos por aquelas que nos tocam e nos catam uma lágrima, mas não as sentimos. Entorpecida é como me reflito, é como me encontro. Eu nem quis fazer disso poesia essa noite, acho que me tem faltado prosa. Prosa, prosa, prosa... Me tem faltado disso pra completar os meus textos.
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QUANDO NÃO ESTOU SOL
hoje eu sou só águas um conflito das minhas águas, costumeiramente doces, com as salgadas que escorrem de mim que levam e trazem os sentires que misturam passado, presente e futuro que fazem do tempo uma coisa só
hoje, mãe oxum, me agita um tanto perturba minha calma, mas lava a alma tirando as feridas, cicatrizando-as lavando meus pés para o caminho que vem caminho de rios e mares e mais um tanto de turbulências
hoje apenas escorro, devaneio alguns versos também liberto um pouco de cada mistério meu mistérios que tão no fundo de toda essa água que me afoga me afaga me afeta me constitui
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EU, EU MESMA, JÁ FUI
Acho que é hora de voltar dizem sempre que temos que seguir mas por ora, preciso retornar olhar para o que não foi dito e dizer para o que não foi sentido e sentir para o que não compartilhei e compartilhar
Às vezes a dor vivida no futuro é pelo fato de deixarmos o passado sempre lá nunca aqui pertinho pra guiar o presente é por fazermos do passado como livro que por vezes apenas arquivamos ou deixamos acumulando poeira na estante erro nosso, erro besta
Tempo é meio que sem tempo de entender mas tem hematoma que fica na pele que retoma fora do Chronos as coisas sentidas e as coisas que preciso lutar pra continuar sentindo é hora de retornar, para que enfim eu possa seguir em frente.
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HIPERSSEXUALIZAÇÃO DO CORPO NEGRO: Precisamos falar sobre afeto
Apesar de (ainda) não ser a mais exemplar leitora de Asante, li algumas coisas que me inquietaram um bocado, uma delas é quando ele traz, dentro do conceito de Afrocentricidade, a ideia de agente. Crescemos nessa sociedade que anula os nossos corpos todos os dias, que prega controle, posse e insere em nós diversas prisões que temos que lutar diariamente para escapar. O eurocentrismo tatuou em nossa pele, uma história fria e triste, transformaram nossos corpos em meros objetos, sem intelecto, espírito ou alma.
Contudo, quando tomamos posse da ideia que Asante nos traz, vemos como é necessário que comecemos a escrever o nosso próprio rumo, como precisamos sair das senzalas que os senhores de engenhos criaram para nós e fortalecer os nossos quilombos. Ser agente da própria história é centrar os seus olhares a partir de referenciais de resistência, referenciais nossos. É ter voz para dizer que nosso percurso somos nós quem trilhamos.
Nessa trajetória de massacre, fica evidente como nossos corpos sempre foi marcado. Falam da nossa boca, no nosso nariz, do nosso cabelo, de nossa cor. Somos genitálias ambulantes, que servem apenas para sexo fácil. Tiraram dos nossos toques o afeto genuíno, e os transformaram em corpos travados. Acreditamos todos os dias que não merecemos afeto, que quando recebemos devemos estar desconfiando deles o tempo todo. Não abraçamos nossos amigos, não pegamos em suas mãos, não os beijamos, tudo porque as barreiras que colocaram sobre nós são enormes. A colonização também está no campo dos afetos.
E negar de dar e receber afeto, é mais uma marca dessa animalização que nos colocaram, é uma das denúncias bizarras de como, mesmo que inconscientemente, esse racismo mata a humanidade que temos em nós. É incrível ver espaço de resistência preta, como ali parece ser sempre o escape nesse modelo. Não sei se percebem, mas tudo quanto é criação nossa, transformamos em roda, e isso não tem nada de novo. Sempre foi assim. Esse modelo me traz a horizontalidade nas relações, ele faz que todos nos enxerguemos, faz termos contato de olho no olho, faz possível sorrir para todos. Traz esse afeto que deveríamos desfrutar sem a culpa e o pecado que essa sociedade introduziu em nossos corpos.
Tenho refletido muito ultimamente por estar me formando em psicologia. Esse curso muito pouco me preparou para o cuidado que almejo, mas foi e é uma denúncia diária de como essa epistemologia e toda essa cultura branca sempre serviu para nos adoecer. Como essa produção de conhecimento só serve para reprodução e manutenção da dor. Como é difícil criar formas de cuidado para corpos que cresceram sem referenciais de beleza, intelecto, cultura, etc. Para corpos que cresceram todos os dias sendo representados nas figuras marginais e secundárias. Ocupando lugares subalternos e de violência. Como conseguir produzir cura para corpos que são maltratados todos os dias? Temos dificuldade de receber afeto, exatamente porque só nos trazem violência. Infelizmente irei formar, pegar meu diploma, e em quase nada ele terá me acrescido, mas de tudo que tenho refletido sobre cuidado, tenho o feito entre os nossos.
Pretinhas e pretinhos: precisamos urgentemente quebrar com esse ciclo de auto-ódio, quebrar com essa história que o branco criou para gente. Nós somos não só merecedores, como produtores incríveis de cuidado e cura. Sempre fomos exemplo de afeto, de amor, de amizade, é só retomar nossa história. Não coloco nisso aqui nenhuma carga romântica como se tudo sempre tivesse sido perfeito, nunca foi. Mas essa história de nos matarmos todos os dias sem dúvidas não parte de nós. Lutar pelo direito de ser gente ainda é o nosso maior objetivo, então que façamos não apenas pegando em armas, mas também amando a nós mesmos e a nossos pares.
Diga para seu amigo preto o quanto ele é lindo, mas não só, diga também o quanto ele é inteligente, o quanto suas poesias são incríveis, o quanto a sensibilidade dele te cativa. Diga para preta que toda força que ela traz é incrível, que quanto ela canta exala uma energia maravilhosa, o quanto as reflexões que ela cria te dão um sul. Temos de lembrar a nós mesmos que somos corpos também, mas corpos que possuem muito mais do que a obrigatoriedade de servir. Nosso corpo tem marcas de história e resistência, não podemos deixar que ele seja menos que isso. Amor preto cura e é necessário!
É nós por nós!
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NÃO É SENZALA, É QUILOMBO!
é indigesto, esse teu gesto de gerir meu corpo eu não sou um pedaço de carne eu não sou seu produto barato meu cabelo é pra cima não tente o rebaixar meu corpo é preto sim mas o pecado é todo seu essa sua luz me cega me nega a ser gente como sou feita de carne osso e afeto afeto que teu povo sujo me negou afeto que teu povo fez acreditar que não merecia
transformaram os toques entre os meus em violência e se hoje meu corpo trava é porque suas prisões o fizeram mas não eu não sou mais a colônia pra sua festa meu cheiro é de liberdade é cheiro de força purinho é cheiro de quem se quer, quer o outro quer e sabe que pode amar que seu ódio branqueador me dê licença, porque eu sou amor da cabeça aos pés
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olha, olha, olha o que vês? seu espelho te reflete? reflita pele preta olho, boca, nariz se veja se ame seja por si hoje sou eu por mim mesma
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POESIA BREGA
ela olha e depois disfarça ela sorri e eu acho graça tem jeito difícil, um tanto de marra mas é só encostar que ela desaba
e mesmo eu sendo um tanto solta ela tem algo que me prende o olhar e apesar de aquariana ser um tanto difícil me perco facinho quando ela fala: "vem cá".
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PENSANDO NO PRÓXIMO NÃO
É sempre pela falta que inicio a falta das palavras certas pra falar um pouco do nada que foi o dia pra falar sobre a chuva que me esfriou dos olhares que encontrei do cabelo que me perdi por instantes e de tantas vontades que me sobraram
eu queria parar de fazer metapoemas de falar sobre a própria fala queria criar histórias só das coisas que vivi das coisas que senti queria que fossem tantos (a)casos que eu nem tivesse tempo para escrever
é sempre pela falta que inicio e nesse papo de metapoema percebi que ando terminando sempre assim e além disso, sem saber quais são as faltas que tenho.
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preciso tirar minhas poesias do bolso mas é tanta coisa que mata mata a gente, nossa respiração e inspiração tira o sorriso da manhã, da tarde e da noite tira da criança o sonho deixando só um futuro amargo tira da mãe a esperança de ter sua cria em casa ou da dona Maria de reunir a família no domingo não tem mais família
tira da gente a vontade de falar nossas poesias porque a vida tá tão cinza que o silêncio às vezes soa mais alto E se tiram tanta coisa da gente fazendo morrer todo dia um pouco como que faz pra escrever das belezas da vida? do lado de cá a gente sabe que brilho nos olhos no geral representa a próxima lágrima a cair
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SOZINHA UMA MULHER PRETA, BISSEXUAL E NÃO-MONOGÂMICA
Faz tempo que não escrevo, deu até saudade. Hoje nas minhas gastações pessoais fiquei pensando na trajetória de meus relacionamentos e como me configuro hoje emocionalmente após eles. Pra quem não sabe há pouco mais de dois anos eu iniciei uma relação aberta a qual terminou faz alguns meses, e que pra minha felicidade foi uma relação frutífera. Acabou, pois parto do pressuposto que as coisas não duram para sempre e sempre se rearranjam. A gente tem que saber aproveitar o melhor delas e saber a hora de dizer "basta". Contudo, após dois anos de uma relação com diversas reflexões, hoje cheguei a conclusão que nem esse modelo de namoro aberto que tinha me contempla mais. O que fica para mim é: como se relacionar com as pessoas, sendo que você já parte do pressuposto que as coisas não são pra sempre, e que essa pessoa não tem exclusividade em sua vida? Vivi uma relação aberta, que apesar de o ser, muitas vezes eu me deparava com a situação de preferir o meu namorado a outras pessoas, e acho que isso me travava de manter relações saudáveis com elas. Porque se, você parte do pressuposto que existe alguém que é principal e você gosta mais, logo outras pessoas você vai dedicar menos atenção, e às vezes até menos cuidado. E isso é um perigo. Eu vejo muitas pessoas hoje criticando relações abertas, e entendo a maioria das críticas, contudo o que penso é que, se uma mulher preta banca ser não-monogâmica, vai ter um tanto de gente pra deslegitimar também. Como se automaticamente querer se relacionar assim fosse uma violência ao meu corpo. "mas você é preterida", "você é segunda opção", "a pessoa que você está se relacionando pega geral e você não". Chegou um ponto que tais discursos passaram de toleráveis a muito problemáticos para mim. Acredito que para muitas mulheres isso realmente seja agressivo, contudo, às vezes parece que eu sou uma ameba que não posso opinar em nada nas relações que estou. Como se nós mulheres negras estivéssemos fadadas a viver relacionamentos baseados numa estrutura de opressão e isso não fosse possível transformar. Eu também tenho ação nas relações que construo. Além do mais, relação não se baseia em quantas bocas você beija, ou com quanta gente você transa. Pelo menos não pra mim. Para além disso, vejo muito pouco a reflexão do preterimento nos diversos âmbitos na vida da mulher preta. Que acontece não só quando você está em uma relação hétero (que parece que é o único alvo das críticas em relação a não-monogamia, como se todos casais fossem héteros), mas também em uma homo. Mesmo que as composições sejam diferentes. Outro ponto, é que uma relação fechada em nada assegura que essa mulher seja respeitada, valorizada e humanizada. Somado a essa ideia, vivenciei diversas vezes pessoas que ao saberem que eu não era monogâmica, me tratavam automaticamente como algo que iriam descartar, mesmo que o rolê tivesse fluindo bem. Me questiono: qual é o medo? O racismo destrói nossa capacidade de amar todos os dias, então eu penso que quaisquer relações que a gente vá construir, vai ter alguma problemática, não acho que chamando alguém de "meu" a gente se blinde mais. E não quero com isso rotular a relação que você tenha que ter, quero refletir em como sair disso e criar possíveis. Vejo muita dificuldade em viver de fato uma relação onde o outro lado não me veja como posse, e pensando no racismo, vejo como isso também é colonizador. Como esse desejo de que o outro te pertença é branco. Como fazer entender que relações não necessitam durar pra sempre, mas que o momento pode ser vivido com respeito, companheirismo e conexão? Como se relacionar intrarracialmente, colocando no lugar de toda essa imagem de auto-ódio e desprezo, um amor que não vise prender e nem tenha compromisso com o amor romântico? Como efetivamente amar livremente numa sociedade racista, machista e lgbttfóbica, lembrando a todo tempo que apesar das opressões nos atravessar, elas não tem que definir a todo tempo nossa forma de se relacionar? Como não usar das armas que os colonizadores usam contra nós mesmos? Enfim, eu não sei bem o que pretendo com esse texto, talvez conversar mesmo com a galera que topa o rolê da não-monogamia ou com a galera que é monogâmica mas volta e meia se relaciona com quem não é. Confesso que ando perdida, cheguei a um ponto de saber muito bem o que eu quero, e concluí que ser uma mulher preta bem resolvida também é motivo de ataques, e além disso, é motivo para que pessoas se afastem. Daí pra mim surge um problema: A gente tá fadado, mesmo que em alguma porcentagem, ter que se render às garras de um amor romântico e exclusivista para ser feliz?
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A noite passou Mas a lua, o sorriso e a voz dela continuam A noite acabou Mas lembro do chamego do preto O sorriso de outras guardei E teve uma que partiu Mas guardei dela a vontade As poesias também se foram, mas as entrelinhas ainda leio Com um toque de amarelo E ao som (da memória) do samba que escutei da preta que cantava sentindo cada palavra Foram tantos quereres olhares tabacos cervejas poesias não ditas, lidas, escritas (e uma, ou várias, músicas ruins ao fundo) Não sei bem o que ficou e o que levei E no uber apertado não consegui distinguir muito bem Sei que depois da ponte tudo misturou um pouco Os afetos, o sono, e a dificuldade de terminar essa poesia ruim
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Ela é de amores Não os que tem compromisso com a posse Não os que ensinam que é dor Não os que te fazem menos gente Ela vive de amores poéticos, ambulantes e que luta Luta pra viver todo dia num lugar que mata Ela é de amores porque dá pra amar muita gente Às vezes ao mesmo tempo Às vezes depois de uma pausa Às vezes no tempo do outro Às vezes quando nem tem tempo direito
Muita gente acha que ela gosta de estar só, Porque viver de muitos amores Precisa de quem tem o seu pra compartilhar E não oferecer como moeda de troca
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Hoje escrevi uma carta para mim mesma foi uma tentativa um tanto frustrada de tecer uma prosa eu me perdi um tanto com as palavras e não consegui ficar brincando de trocadilhos
eu até queria compartilhar essa carta mas acho que ela é pra ser só para mim
ela é para os momentos desesperadores quando eu perco meus gestos de poesia quando esqueço que sou mais que rótulos quando me sinto só mesmo tendo tantos a minha volta quando simplesmente esqueço de sorrir
é para de certa forma ajudar com que eu pare de escrever sobre minhas faltas e viver o que eu tanto quero afirmar é para que eu não tenha mais medo de ser, às vezes, apenas humana assumir que às vezes só quero ir ao cinema ver um filme ruim e comer doritos
assumir que às vezes só quero ficar olhando os barquinhos de cima da ponte ou ficar tendo o desfrute de sentir a areia nos pés assumir que às vezes também quero ser fraca chorar no ombro de alguém e depois rir de mim mesma porque nada faz sentido
assumir que não tenho disciplina com meus sono e que odeio acordar cedo e respeitar horários assumir que não tenho de estar na prosa e que posso fazer revolução escrevendo poesia ou sendo "apenas" feliz mesmo que de madrugada
essa carta é para que "eu não me esqueça de voltar" e ser mais do que me permitem ser eu queria escrever mais mas acho que já tenho páginas suficientes escritas em mim...
... pelo menos por hoje!
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hoje já tentei escrever um tanto mas apaguei quase todas as vezes apaguei todas as tentativas exceto essa na verdade ainda escrevo sem a certeza se não irei apagá-la talvez daqui há alguns segundos e palavras eu decida que não gostei disso também
é engraçado como é sempre esse meu ciclo quando não consigo escrever das minhas saudades estas que a cada dia parecem se tornar solidões vontades de inícios que nunca chegam e eu fico aqui brincando com as palavras pra talvez rir delas e de mim um pouco também
hoje irei dormir sozinha isso provavelmente não será apagado e continuarei aqui pensando em tudo que não consegui escrever no poema lindo que teci em mim ontem mas não consigo lembrar e da saudade que virou solidão (de novo)
o silêncio dos outros tem se tornado até um hábito estou me acostumando a ter muito barulho a minha volta e poucas vibrações chegando de fato em mim mas o silêncio que me incomoda é o que está em mim, e que eu não entendo é estranho
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molhou seus pés tocou seu corpo jogou seus cabelos para cima sorriu para si e encostada na janela ela foi feliz por um momento
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AMOR DE LONGO PRAZO
Eu vi um arco-íris no chão nasceu de leve com a chuva que chegou sorrateira e acabou com os pequenos planos do dia. A mescla de cores tinha forma de mulher e aroma um tanto nostálgico acho que foi para combinar com esse dia todo molhado, um pouco resfriado que te acorrenta na cama e nos pensamentos de outrora. Eu não sei qual nome que dá pra mal de coração com nostalgia. Eu sei que o meu tá em nível avançado, sinto saudades de um tanto de troço e tantas pessoas Olho pra fora, barulho estranho compondo com a chuva, nada demais, acredito ser só a realidade atrapalhando meus sonhos. E o tempo? Bem cinza! De uma maneira que não costumo gostar Mas, hoje tem algo diferente, Acho que as cores que vi no asfalto, contrastando com o cinza amargo diário fez eu achar o céu um tanto mais colorido. Poeta tem disso, sempre achando jeito de achar beleza nos paradoxos e nas tantas outras figuras de linguagem da vida.
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