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Os Rascunhos
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Os Rascunhos que tenho no meu "journal", que, por sua vez, decidiram fugir para o World Wide Web.
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intercidades · 3 years ago
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Pergunto-te
E eu respondo-te.
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intercidades · 3 years ago
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Roma
No final da semana passada, fiquei a saber que as coisas caíram. Chegou-se a meio de maio, pensava já em meio de setembro, quando afinal havia um desfiladeiro por passar. O desfiladeiro, contudo, era impossível de se evitar. Foi então no meio de maio que percebi que não existiria meio de setembro. Por culpa de quem? Por minha, tenho a certeza que não. Por culpa de outrem? Não sou do tipo que culpa outras pessoas pelas desfortunas da sua própria vida.
Ambicionava participar, até ao trigésimo dia de maio num concurso de escrita importante, onde tinha que escrever duzentos mil caracteres para participar. Estava quase a metade.
Nesses duzentos mil caracteres, contava-se a estória de um jovem que, farto da vida lisboeta, seguia, em intercâmbio, para terras romanas, encontrando lá a felicidade, descobrindo a vida, conhecendo pessoas interessantes, encontrando o amor, entre outras coisas de uma vida nada original.
Basear-se-ia numa estória futura minha, depois da minha querida universidade dizer que seguiria eu em Erasmus exatamente para Roma. Soube então a meio de maio que a meio de setembro não seguiria para a capital italiana.
Ao mesmo tempo, fazia planos com o meu amor que, ao contrário da personagem da minha ambicionada obra, encontrei em Lisboa, embora seja de facto italiana. Os planos foram por água abaixo. Eram rios e rios de sonhos e planos, felicidade extrema, por não vivermos separados no próximo semestre, mas, ao fim e ao cabo, esse rio era uma cascata, que seguia para uma grande baía de sonhos destroçados.
Agora, para além de não ir para Roma, não consigo escrever mais sobre uma realidade que viveria. Diz-se que os escritores devem escrever sobre realidades conhecidas minimamente pelos próprios e eu, não conhecendo a realidade académica italiana, mas conhecendo a realidade italiana, não consigo mais escrever sobre algo que não viverei.
Nem me é permitido, por mim mesmo, viver algo na ficção.
Agora quero o meu diploma. Apenas isso.
Os próximos dois anos vão ser apáticos.
Não esperem reação minha.
Pois não tenho motivo para reagir.
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intercidades · 3 years ago
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Dói-me a barriga
Amo-te e sei que te amo por me doer a barriga com medo de te perder.
Há pessoas que metem a sua relação por um fio de forma consciente ou inconsciente. Nós temos tudo para ter a relação mais sólida de todas, mas a efemeridade do tempo deixa-nos por um fio.
E tenho um tamanho medo do fio deixar-se ir. Sei que não será por opção tua; sei que não será por opção minha.
Não escolhemos apaixonarmo-nos e, se esse fio se deixar ir, não será escolha nossa.
Dói-me a barriga.
De tanto te amar.
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intercidades · 3 years ago
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Tive uma ideia
Tive como ideia algo que nem sei se vou materializar.
Não tenho motivação.
Não tenho força.
Será isto apenas um capítulo da minha vida?
Ou será isto parte da minha personalidade?
Não sei.
Só sei que não materializo ideias.
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intercidades · 3 years ago
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Um raciocínio introdutório bastante complicado
Enquanto ouvia um belíssimo álbum de Jorge Palma, um de meados da década de setenta, pensava no quanto queria escrever. Não sabia sobre o quê, contudo. O último livro que lera, após um grande período de tempo de seca literária, foi A Capital, do caro Eça, que tanto me fez rir, com toda a sua classe de letras que possuía, ou que possuí, como se diz em presente histórico.
A Capital é um livro, digamos, curto, se compararmos com a magnum opus de Eça, Os Maias. Curioso: tenho um fascínio enorme pel’Os Maias, mas nunca li na íntegra. Talvez seja um facto curioso apenas para mim e também para a minha mãe, que ainda hoje se admira como tive treze valores, num máximo de vinte, num teste sobre tal obra, cuja não li, como disse. Mas sempre tive um fascínio enorme pela obra, principalmente pela descrição do Ramalhete (essa, sim, li na sua totalidade). Comecei a ter essa admiração quando tentei escrever pela primeira vez algo grande. Já há algum tempo que escrevia, mas cansava-me sempre a um oitavo do suposto “livro”, ou, digamos, rascunho. Ao cansar-me e ao perder o raciocínio, lembrava-me não dos escritores, mas de um escritor em particular, de Eça, que descreveu em quatrocentas e cinquenta nove páginas um tapete feito, sei lá, na Turquia.
Pensei então que se de facto queria ser escritor, deveria tentar escrever. Já escrevi muitas coisas. Já fiz uma sebenta de quase sessenta páginas sobre direito administrativo, que foi encurtada para trinta, pois o editor não gostou que fosse tão extensa: o editor era o futuro “eu”, que estudaria aquilo antes do seguinte semestre. Depois tentei escrever sobre uma viagem fictícia de comboio que faria desde a minha porta do quarto de Moscavide (isto porque o meu quarto é muito perto da estação de Moscavide) até Roma. Parece-me fundamental dizer que esta minha viagem fictícia – esta que me pareceu uma tentativa de ser o Almeida Garrett do século XXI, escrevendo sobre as viagens na minha terra, sendo que a minha terra seria a Europa – ficou-se pelo Entroncamento. Tentei também escrever sobre o meu ano de 2021, ano em que o Universo, ou Deus, ou o quer que queiram chamar, me deu a conhecer o meu amor. Nem ao primeiro beijo cheguei e olhem que não demorou muito tempo até lá chegar no calendário gregoriano. Maior parte dos meus escritos permaneceram no meu journal, que eu levo para todo o lado. Vejamos: fui a Itália duas vezes nesse ano e ele veio comigo; fui para a universidade todos os dias e se tivesse peso a mais na minha mala, retirava a Constituição da República Portuguesa, mas nunca o meu journal. Estão a ver aquelas pessoas que imperativamente têm que andar com os auscultadores no bolso? Eu sou ambas: auscultadores e journal. (reparem também como escrevi auscultadores: já me sinto mal por ter escrito “journal” e não “jornal”).
“Ist’ p’ra d’zer o quê?”, pergunta a pessoa que acabou de apresentar o raciocínio mais complicado alguma vez apresentado?
Não sei, perdi-me.
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