Tumgik
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Digitei o seu numero mesmo sem saber, apenas para ouvir o que só os seus lábios podem dizer. Mas sequer sei o seu nome do meio ou quais são as coisas que você mais ama. E mesmo se eu me por a andar procurando sua campainha, não serei capaz de encontrar. Você entrou quando mais ninguém conseguiu, você atravessou, você tomou e partiu. Veio como as ondas do mar, me inundou e me levou, mas eu não sei nadar. E tão logo, tão logo eu me afoguei. Mas apagado, no sonho de doces ilusões, as minhas mãos conseguem te tocar mais uma vez. E eu sou puxado para baixo.
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É hora de interromper o retorno e a repetição. Dissipo o meu passado, descarto as breves capturas que iluminavam as noites em claro. As duras vias da desidentifcação. Não posso voltar ao que era e não posso dizer quem sou. Não creio, mas me ponho a rezar. Quero de volta aquilo que era meu, os afetos, os sorrisos, as vontades. Vago pelas ruas em busca de um principio de orientação. Na vida dilacerada, não há caminho. A falta perde seu lugar, só resta o vazio. A morte libertadora não me quis como súdito. Ensina-me a viver de modo a que possa temer tão pouco o túmulo quanto o meu leito, ensina-me a morrer.
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Corpo atravessado. A opacidade da vida nunca superada, permanece em latência. A presença de Thanatos, que revela-se diante de mim periodicamente, o sinal do tormento. Ó grande presença, quando farei parte de teus feitos? Por tuas mãos tudo finda, e, no entanto, ages como sádico, se apresenta a este que escreve sem tornar ato, aquilo que é de sua potência. Non sum qualis eram. Os anos se abatem sobre mim, cada dia é um passo em direção à boca que tudo devora. Como uma flecha que atravessa este corpo, eu ainda sangro o nosso encontro. Eu não sou o homem desses predicados, isto é falso. Quero sentir o toque, ser alvejado por olhos que desejam. Quem olhe para mim e não veja a imagem construída. As luzes da cidade, de cidades não iluminadas. Os olhos sem descanso visualizam a possibilidade de outro encontro. As luzes da cidade ofuscam as paixões. O eu que se perde nas dinâmicas prescritas, o constrangimento dos processos. Ao menos há algo no âmago de mim que não passou à sua negação, ainda.
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A solidão do meu oficio se espraia e aos poucos se torna a minha própria. A complexa distinção entre amor e doença, medo e esperança. Agora repito a pergunta da carta de amor datilografada, esperando pela dança no inacabado. Tento me expressar por fragmentos que são reunidos em parataxe. Sua união não gera nenhuma totalidade. Um amor que se intensifica tanto mais distantes os momentos, a marca do passado daquilo que não se reconciliou. Algum pensamento diz que o medo paralisa e a esperança é o afeto que leva a agir, apostei tudo na segunda para que o campo de possibilidades permanecesse aberto, e, no entanto, continuei estagnado. Para ser levado a agir, deveria passar os dias sem aquilo que eu não sei viver, o medo e a esperança. Como Genesis, eu sou a existência que permanece para atestar o fracasso da promessa de mudança. Para se esgueirar pelas sombras, dando cada passo para finalmente encontrar o fim da jornada e o presente da deusa.
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Jamais deixarei que Cronos tome de mim a única coisa que restou de ti. Ele inevitavelmente engole tudo, e eu sou seu filho, que desesperadamente se rebela. Sozinho, guardo o que nunca foi e conservo sua potência. Os dias escorregaram pelas minhas mãos sem que eu fizesse algo para que se mantivessem acesas, e ele veio e a tudo apagou. Me perdoe, eu sou fraco. Toda essa fumaça que preenche meu peito, não esconde como uma neblina, mas é ela mesmo evidência. Minha vitalidade se esvai a cada tragada e nunca antes havia me sentido tanto como Werther. Essa solidão não será a minha ruína, mas a marca de um evento. No dia em que você e eu recitamos a epopeia em uníssono, senti no peito o frêmito, sabia que nada seria o mesmo. A disputa dentro de mim, contra o pai e até a eternidade, para a lembrança perpétua do fato.
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Gostaria de dizer que o sentimento de esperança se esvaiu e que as circunstancias seguintes eram livres. Vivo na lacuna do passado e da incerteza. Ainda tão jovens e ainda sim, tão nostálgicos. O pensamento do negativo toma minha mente, o ponto de não-retorno atingido. Um estranho a viver sem o sentimento de pertencimento. Ao bater da porta, deixa-se nada senão a sua falta. O que é que tanto preservei sob minha égide no decorrer dos anos? Aquela cena cravada na memória poderia preencher o quadro vazio. Quando minhas mãos tocavam as suas e ouvíamos melodias e vozes cantarem a carta de amor datilografada. Quando o verão desdobrar, você estará lá? Você saberá?
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Manhãs frias do passado contém o adeus nunca dito. O retrato jamais apagado. Há algo de mim em você? Os passos esperdiçados buscam o que há de mais trívio. Ao grito da saudade, o banco permanece vazio. Quão pretensiosos são os que respondem sem hesitar. O dinamismo posto à melancolia me narcotiza e a repetição melancólica do movimento da azo ao que me sustenta. Tudo perece, pois farsa do real. Trajetória finita da ponta da flecha. Não há interjeição capaz de velar aquilo que se jungiu a essência do meu eu.
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Sou rasgado. O final clama pelo imensurável. As últimas agulhas luminosas e o estado intrêmulo. No fim, por baixo desta pele não há outro que não eu, sempre e só. E quem? Quem poderá? Fadado ao fracasso, erro, repetição. Insônia, uma velha amiga. Quando há muito os braços de Morpheu me abandonaram, encontro nessas confusas páginas, um acalento. Um breve momento, único lapso. Finitude posta ao ato! As palavras convictas, mundo prometido, a fé inabalável por fim soçobra. Hecatombe de mim.
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Me calava em quefazeres a consumir completamente meu tempo. Seguia em frente, sem parar pra pensar demais. O corpo gelado, o rosto cansado. Compulsão, insistência, oculta e afasta. Quero sair daqui. Estrada rumo aos pinheiros. Cômica trajetória do falso eu. Chave que enclausura, implode o não acontecimento. Aspiro ir aos céus como Werther. Reinstituição falseada de recomeço. Sou expelido para dentro. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Desenredo longínquo. Era devido a prenuncia da negação, mas tomou para si. Você diz “esse fardo é só meu”, mas sou eu quem o porta. Sinto na carne suas pungentes mentiras. Eu, a cúpula de Brunelleschi.
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Eu não me reconheço mais. Toda a certeza se esvaiu, e a mais simples das perguntas se tornou complexa. Quem sou eu? Suplico-lhe, responda! Porque eu sou incapaz. Dizem-me que é preciso se perder para se encontrar. Não. Sozinho, porque já não sei se quero me encontrar. Me nego a sucumbir ao meu desejo. Estar vivo? O nome, a pedra, a terra fria. Não ouse lembrar de mim. Eventualmente a chuva irá passar. As asas negras dançam à minha volta, não há mais ---- aqui. Eu minto, eu não estou cansado. O relógio aos poucos para, derrete. Sustentar a posição. Pra onde me viro, não vejo saída. Essa é a anátema imposta a mim? As sombras se alastram, perco meu único caminho. Os corvos começam a cantar. Vejo meu auto-retrato, não sou o único pintado ali. Algo sussurra, a sutil voz dos corvos. Está sempre ali, repetindo incessantemente. Me vejo num jardim em tons de cinza. Sinto a grama, as gotas da chuva. O rosto pálido, as vestes negras. O silêncio ensurdecedor, a voz que não ecoa. Os olhos sem vida. Os corvos, os corvos, os corvos.
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Sozinho, estático. Os olhos doem, o céu perde a cor. Tudo que preciso, é a ultima coisa que quero. Não suporto. Deplorável. A ininterrupta ânsia de perder os sentidos. Afundar em si. O tormento no âmago de mim. Rosto de plastico, intacto. As coisas. Perco a volúpia. Tanto faz. Aquilo que tomava como sólido, segurava em minhas mãos, e vi desmanchar, escorrer como grãos por entre os dedos. Impassível. Inverdade estampada no rosto. Alguém, por favor, tire-a. Me ajoelho, sem fé. As paredes deste quarto parecem encolher. Peito aberto, abraço o que se projeta contra mim. Esgotado. Usurparam tudo aquilo que eu tinha para lhe dar. A promessa, eu sou a negação. Vidas que passei na transversal, deixei a marca pífia da minha existência. Dissimulei meu caminho, me prendi, arrochei-me em cada pegada. Doravante, cante o Réquiem, se encerra o percurso. Defesso. Puxei as cordas do meu mártir. Aqui estou. O manto branco, a ilha rochosa. Pinte-me em cores mortas no quadro de Böcklin.
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Não quero mais viver sob essa pele, nem levantar essa carcaça todo dia. Quero liberdade, quero fim. O correr dos dias é exaustante e a rotina aos poucos me mortifica. Cada semana, toda ela, ilusão. Não sei o que fazer, deixo a fumaça fazer por mim. Apático, vejo a vida passar diante de meus olhos. A carne é fraca e não reage mais. A minha curta caminhada, fiz me arrastando. O que procuro de fato? Minha obsessão ocupa os espaços e tira a vida de tudo que já amei. Não sinto mais o calor, e as difíceis letras enfileiradas fazem o meu dia. Desejo aquilo que põe fim em mim, a vida de solitude. Já desacreditado, falta o toque, o abraço. Não há espaço para outro. O nó impõe respeito perante mim. O que os faz me venerar, é o que aos poucos me tira o ar. Continuo arrojando-me pela lentidão dos dias. Coloco o tecido sobre minha pele, fantasio eu. Hoje eu falhei, de novo eu falhei.
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Com os pés descalços caminho por estas ruas, passos dados procurando um fim. Todo dia a mesma coisa, todo dia a mesma trilha. Cansado e Calado. Maldito é, o momento que sai de mim. Preenche meu peito vazio por um lapso, e tira de mim o viço. O não dito sai em palavras carbonizadas, e o constante gosto amargo, já não sei se é da vida ou do cigarro. Talvez esteja mentindo, e o único a acreditar seja somente eu. Elas já não escorrem mais, não podem. Não há tempo, e mesmo com as horas contadas, eu encontro tempo para me sabotar. O porta-retratos ainda está lá, quebrado. A velha foto, já carcomida pelo tempo, tem manchas em seu rosto. Mas eu ainda posso vê-lo, sim, sempre conseguirei vê-lo, porque sua fétida presença marcou a minha alma. Você está ai? Eu sei que está. Dessa vez você vai me ouvir falar? De que adianta perguntar? Resta-me apenas esperar, o barco te levar. Os dias tem passado depressa, e nada pode aplacar o que debaixo de mim floresce. Incessantemente, pilhas de papel aumentam, a muralha do castelo dentro de mim. Sacrifico tudo àquilo que tem valor, mas sou incapaz de incendiar a pena que me restou. Deito-me em torpor, esperando que um dia isso tenha fim.
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