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Monólogo sobre o tempo.
“Não perca tempo.”, dizia o panfleto do entregador. Tempo… “Marca o tempo.”, “não vai dar tempo!”, “se der tempo…”, “leva quanto tempo?” Tempo… Será que estamos indo ou voltando? Quanto tempo leva pra dois corpos ocuparem o mesmo afeto? Se é agora que queremos, por que a agenda não permite? O tempo aprisiona. Ou é a noção de tempo? Como pensar o tempo? O guitarrista é em 1…2…3…4…, o motorista é as 14hrs45min. A advogada em dias úteis e corridos. Será que o jogador de futebol conta mentalmente os minutos finais dos 45’ do segundo tempo? Penso no tempo acumulado nas células de minha avó. Será que herdamos no DNA o sentir o tempo? O recém-nascido sente fome, chora. Sente frio, chora. Os pais criam horários de comida, brincadeira e sono. Vira rotina: colocar rota nos atos. A necessidade de orientar ao norte, sabendo de onde se veio. Passado e futuro. Tempo, tempo, tempo… compositor de destinos. Vai ver Deus é ritmo. O exato momento de início da corrente elétrica do nó sinoatrial: tum…tumtum…tum…tumtum. E pulsaaaaa mortevidacorreandavelhonovoirevir. Tempo.
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Microdoses de eu
Dia desses eu chorei pq me senti miudinha
Foi quando fui no canjica
Eu olhava as montanhas e os cânions e me sentia tão pequena
Mas não me sentia pequena só, sentia que as montanhas também eram miúdas,
Que os cânions apesar da grandeza eram miúdos também
Que as formigas que passavam por perto de mim eram gigantes
Mas que aquele vale que parecia um mar de árvores e montanhas era algo miúdo e lento e resistente
As vezes esqueço como ser eu, e fica estranho até de andar. Eu literalmente esqueço como é o andar da Luana e se torna esquisito. Andar, conversar, estar a vontade
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Cair de amores
Digo que não tenho mais medo da paixão, mas no fim, tenho sim
Me abri a apaixonar-me por outres, num ímpeto de sentir amor, de sentir fogo
Me abri a apaixonar-me por algo externo, que movimente meu coração e me arme de energia
Mas ainda assim fujo de apaixonar-me por mim. Por medo de me ser em toda sombra e luz, não sou.
Tenho medo de mergulhar em mim e a profundidade fora da periferia ser tanta, que nunca mais voltaria a leveza
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Reflexões terapêuticas 25/08/2021
O que tô sentindo agora?
Me sinto sobrecarregada, como se tivesse muitas coisas a serem feitas e eu priorizasse algumas a frente quando deveria priorizar outras. Hoje por exemplo não lavei meu uniforme nem máscaras ou meias, e sei que amanhã preciso de algo seco. É muita coisa a fazer e ao mesmo tempo tenho que descansar. Fora que existem demandas alheias e me sinto oprimida por essas demandas. Ter que ficar dizendo "não" me incomoda um tanto. Talvez por querer deixar tudo meio entreaberto, talvez só por uma sensação de isso ser mais uma coisa a fazer. Como se fosse uma demanda social, ou melhor, como se o social fosse uma demanda. Minha folga é minha. E é folga. Não quero ter que dar satisfações. Acredito que se tiver mais uma folga semanal algumas coisas possam melhorar.
Acho que a raiz de não gostar de ser ajudada é em pensar que tô sendo uma demanda pra alguém, e isso me enfurece. Não quero que ninguém seja minha demanda, e não quero ser a demanda de ninguém. Em algum lugar pode existir minha criança ferida, triste por sentir que a mãe sair pra sustentar a casa, seja por conta de ela existir, e a partir disso não querer ser um incomodo.
Porque minhas falas giram tanto em torno do respeito? O que é esse respeito que tanto falo, que tanto admiro e almejo? Será que é uma clamação minha através do outro pelo respeito que eu mesma não consigo dar pra mim?
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Se conectar com sua ancestralidade não é só assumir antepassados que vêm de povos originários. É importante entender e assumir também sua rede que colonizou, para quebrar com lógicas agressivas
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Oração 19/10/2021
Hoje eu escolho me mover pelo amor
É ele quem vai guiar minhas ações, escolhas e sentimentos
No amor fortaleço quem sou
No amor fortaleço quem tu és
O medo não me previne de sentir dor, só me faz fugir
O amor não me previne de sentir dor, mas me acolhe quando ela vem
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Aluga-se em Alto Paraíso
Pensar que não consegui alugar uma casa por conta da minha aparência me chateia profundamente. Saber que sou uma mulher dedicada, honesta, que sempre fez as coisas com muito compromisso e saber também que desde muito nova essas qualidades não podiam ser mostradas pq o filtro da aparência vinha antes, me deixa puta e triste. Lembro que com 14/15 anos uma chefe do meu irmão fez um comentário pra ele sobre como eu me apresentava sugerindo que eu me cuidasse mais pra ser mais aceita profissionalmente, e assim, eu era só uma adolescente otaku com notas de rockeira, que tava passando pela transição capilar, coisa normal pra uma adolescente. Em entrevista sempre vestia uma camisa e calça social e dava o meu melhor dentro do que considerava boa aparência. Para além disso sempre me vesti de um jeito meio diferente, gostava de umas combinações diferentes com roupas normais. E pensar hoje que mesmo me apresentando com um macacão preto, uma blusa e uma bota bem sóbria com cara de adulta, e para além da roupa, me mostrar direta e com uma postura de igual pra igual, não convence um locador de que eu cumpro com meu compromisso. Mesmo sugerindo de provar renda como comprovação. E aqui eu descrevo a roupa porque só eu sei o quanto isso já me abriu e fechou portas. Como dizer que a autoconfiança vem de dentro pra fora, quando vem esse tipo de golpe? Quando vc é lembrada que não basta estar autoconfiante, tem que ter outra aparência que não é a sua.
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Se eu for cuidada, tenho que ser uma boa menina? E se eu souber que tô desagradando o que se espera de mim, ainda vou ser digna de cuidado? Ainda posso receber seu cuidado? Ou tenho que negar até que vc entenda que não posso recebê-lo, porque não vou ser o que é esperado e não quero ficar lhe devendo? Eu posso receber amor sendo eu? Sendo contraditória, e quebrando expectativas?
Quando vc não me desejar mais, ainda vai me amar?
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Existe amor, existe tesão, mas...
"você fica com gente demais"
quando nem as cartas mais promissoras em vários tarot podem prever onde um amor vai desaguar em fim
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O desabafo
É cansativo em pleno dia da consciência negra ter que explicar o óbvio.
É cansativo em pleno 2021 ter que explicar o óbvio.
É cansativo ter que explicar o óbvio em meio a pessoas que têm acesso a conhecimento.
Eu queria que o dia 20 de novembro fosse de comemoração, de exaltação a existência e consciência preta, de valorização ao que a gente trouxe e traz pro mundo. E em partes isso acontece.
Mas o dia permeia tantas sutilezas onde as pessoas brancas em vez de fazerem seu trabalho de consciência branca e ajudar nesse cansaço que foi colocado pra cima dos pretos (e também dos indígenas), preferem se colocar de novo como protagonistas. É sempre sobre vocês.
Eu poderia e vou listar todas microagressões ou situações constrangedoras que pude notar durante essa semana
Empreender não é fácil, parece papo coaching, mas não é, é a realidade. É corre constante. Empreender tendo que manter um outro emprego então, é como ter que trabalhar e estudar morando em periferia (é cansativo e seu rendimento não vai ser igual), e se é um emprego muito físico e mental em que você é remunerado com o mínimo, isso também vai afetar a autoestima. Muito se fala em "precisar ter uma vila pra criar uma criança" e isso vale pra tudo. Descolonizar é descentralizar e tornar coletiva a responsabilidade, o corre. Vocês não querem ser antirracistas? Então começa por aí, divide o peso da dor que sistematicamente foi criada. Eu fico de cara com o tanto de gente que nesse dia 20 poderia ter agido de forma mais parceira, na hora de ajudar, no jeito de falar, em como está presente. Pessoas brancas que pasmem, mesmo sendo remuneradas, escolhem agir dentro da sua arrogância em vez de olhar com carinho e contribuição para o que acontece quando um pessoa preta decide parir um negócio. Em vez de amenizar o trabalho, cês dão mais trabalho. Não nos ouvem, não contribui pra que tudo seja feito no horário, não pensa que aquela pessoa tá cheia de coisa pra fazer, e que é bem vindo tudo que você puder fazer pra diminuir o tempo que a pessoa vai gastar com essa questão.
"O bang não é apenas cor, interpretem
Parece que ainda estão no ano lírico
Pela cor cê só não sente o que eu sinto
Mas pela boca e pelas atitudes, branco é seu estado de espírito" (Djonga, VOZ)
Eu queria listar essas situações mas percebo que tudo se permeia e acaba que não dá pra ser uma lista. São tantas coisas. Pessoas que passam e perguntam "quem vai ser o dono?" como se a pessoa preta ali não "tivesse o perfil" de dono de negócio. O fato de a autoestima, cuidado e aparência da pessoa negra não ser vista. Priorizar sua própria aparência branca, priorizar em aparecer trajado da cultura negra, em vez de priorizar que a pessoa negra que tá ali do seu lado também se sinta bem, bonita, minimamente tranquila nesse dia tão importante pra ambos os lados. Ter que ser falado o óbvio. Acho que as pessoas não pensam que se tem trabalho a ser feito, e você não fizer a sua parte do trabalho, alguém vai ter que fazer né?! E que lembrar do trabalho que tem que ser feito, é uma tarefa a mais. A solução pra isso: se colocar verdadeiramente a disposição. Estar atento ao que o outro precisa e caso não saiba o que é preciso, perguntar (mas de forma atenta, não como alguém que tá alheio ao que acontece).
Para além do negócio que está sendo criado, é importante também observar como é a postura dos empregos paralelos de quem tá empreendendo. Como um patrão fala que vai facilitar as funções da semana e logo de cara coloca uma tarefa complicadíssima de ser realizada?! Parece que quer testar a sanidade do funcionário. Fazer a pessoa se sentir uma louca. Na moral, a gente tá cansado. Cansado de sentir que o racismo que sofremos poderia ser evitado se assumíssemos postura x ou y. O jogo é sujo.
Também existem os terceiros. Ouvir gente duvidando da minha índole me dá vontade de surtar. Eu não tô aqui pra fazer um plano mirabolante pra pegar dinheiro de branco nenhum, se eu tivesse essa intenção já tinha ganhado é bolada, do tanto que já fui assediada em trabalho. Moralmente, sexualmente. Sim, eu quero ter dinheiro pra fazer minhas coisas, mas na real, ser parceira e responsável me brilha muito mais. Não só com quem é meu parceiro de vida, mas com todo mundo que mostra uma postura responsável comigo também, então inclui relações de trabalho. Então para além da raça, consciência de classe é outro tema. O pior é que as mesmas pessoas que te julgam uma pessoa de má fé (partindo do seu lugar de pessoa branca classe média alta), vão estar no seu convívio, agindo como se nada tivesse acontecido. E de novo, quem sai como louco com mania de perseguição?
"Drama, drama, drama, me arrancou um pedaço
Ter que resistir ter que te engolir e te dar um abraço" (Tássia Reis, SHONDA D+)
Algumas pessoas eu queria desabraçar.
E por último e tão importante quanto. Assim como o que vocês brancos fazem não é pessoal, esse desabafo também não é. Não é pessoal. Não é pra ficar acuado, sentindo culpa. Culpa não resolve, vai continuar tendo preto morrendo porque acharam que o guarda-chuva era arma, vai continuar tendo preto se matando porque não aguentava mais. É pra pegar tudo isso, e mudar a postura. Isso é né, se vocês realmente tiverem partindo de um lugar antirracista.
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Não tenho paciência pra corrigir pessoas ou contextos ignorantes sobre minhas negritudes básicas. Ser didática sobre minhas tranças não serem dreads ou não serem feitas com "apliques" é cansativo, e diante disso tenho que escolher as lutas nas quais vou lutar no decorrer dos dias. O bizarro é que no fim de tudo, quando consigo ser incisiva, ainda me sinto mal em ter corrigido, como se tivesse só expondo "ao ridículo" uma pessoa que não sabia usar o termo correto
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Meu peito é saudade
E também saudosismo
Ao passado reservo a sensação boa ou nem tanto do sentimento vivido e costuro os retalhos de cada pessoa, cada singularidade, aos meus amores, sabedorias, faltas. Saudade.
Ao presente me abro ao novo, com o saudosismo de me cobrir com a colcha de retalhos das saudades. Sentindo que cada partezinha de mim chegou pelo amor (ou falta de), e também tentando entender que essa colcha faz parte de mim, mas quem a costura sou eu. E assim como outros deixam seus tecidos aqui, os meus foram deixados no caminho, em outras artesanias.
Estou chorando depois de assistir Sex education, porque vejo ali as delicadezas e estranhezas e contradições de sentir amor, de ser pessoa, e permear camadas, dúbias, de se identificar com o que não tem nada a ver comigo essencialmente, mas que tem a ver com a colcha de retalhos que é tudo e sou eu. Eu sou tudo. E todos. E isso as vezes torna difícil o meu processo de ser eu. Tecer é paciência e processo.
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Amor livre é pleonasmo
O meu amor é passarinheiro, e hoje ele tá engaiolado. Hoje eu a amo no limite da liberdade que tenho para amar quem ou o que eu quiser. Esse amor não teve sempre esses limites da gaiola e nem acho que vai ter pra sempre. Mas hoje, sentir que só posso amar a você, e demonstrar amor só a você, me adoece. E não porque não te amo profundamente (até porque amo demais). Mas porque limitar esse amor que sinto por outras, limita também o amor que sinto entre nós.
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Reflexões NM
Lembrar que não é um problema as outras relações dos seus parceiros terem linhas tênues de afetos e conexões amorosas. As conexões são feitas de fluências e mudam conforme a convivência e nutrição (ou não) delas.
Nesse sentido acho importante encontrar um ponto de segurança em nós mesmos, não no outro, para que assim não aconteça restrição dos sentimentos alheios e em contrapartida não sejam gerados gatilhos internos de insegurança e desconfiança constante.
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Querer não é poder (nem conseguir)
Eu sinto que quando a conversa se estende por muito tempo nesse desejo de se ver sem conseguir isso na prática, e não tá rolando um contato online natural, acaba que a espontaneidade se perde no caminho.
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Tu te tornas eternamente responsável pelo coador do café que passas
Obs: coletividade é não deixar esse coador pra o outro que nem tomou desse café
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Muito pensei essa semana sobre intenção de atenção. Intenção de atenção habita um lugar que sim, existe a intenção de tratar a pessoa com atenção e cuidado, mas não necessariamente essa intenção se concretiza. E isso por n motivos, que podem ir de falta de tempo, passar pelo excesso de demandas e cair até na falta de disposição.
Tento internalizar que a ideia juvenil de "quem quer faz" não se aplica na vida adulta, até porque sabemos que a demanda da vida pode ser muito grande, e as vezes a gente só não consegue dar a presença que gostaríamos pra quem amamos ou compartilhamos afeto. Mas independente disso, penso até onde estou disposta a abrir mão dessa atenção esperada. O que é inegociável. E entender que assim como eu não consigo ser presença na vida de certas pessoas, certas pessoas não conseguem ser presença na minha.
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