fredcaju

[fredcaju]

mosaico

escrever não é solitário e nunca nunca meu bem repita o contrário abandone esse clichê esse papo raso escrever meu bem é estar acompanhado da família dos demônios dos amigos dos que nem se conhecem entrelaçados escrever meu amor é entregar muito mais do que deveria ser computado porque não cabe em planilhas em bancos de dados não percebes o quanto um poema é um afago disfarçado escrever meu bem é dar chance ao acaso e aceitar receber o que nunca foi planejado para ser parte desse mosaico de algo maior que nunca será revelado e por isso mesmo meu bem escrever passa longe desse silêncio no quarto e reverbera nessa legião de perdidos que se acham sem encontro marcado

do livro estilhaços, 2017

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la sombra me devora el corazón y lloro des de esta ventana solo para devolver la prim avera a mi rostro hacer lo que pueda nunca se rá suficiente así que no creas que esto es solo una sonrisa esto no es solo una disputa de re cuerdos y heridas abie rtas esto es una recon strucción de los que pi erden y siguen adelante

do livro breu: poemas de oscuridad, 2024

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mantenha seu espanto a vida é este pouco e está só começando

do livro transpassar: poemas de atravessamento, 2017

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didática

põe o pé no pedal equilibra o medo e só vai

do livro roda livre, 2021

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quem não escuta quer calar

do zine o ovo da serpente, 2018

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bem que poderias descansar dessa luta de ser diferente de todo mundo basta uma lógica simples pra perceber que isso só lhe leva à solidão quase ninguém espera nada de você e eu também não e �� por isso que sou grato pelo mar sussurrar teu nome um atlântico inteiro galopado por esses ventos só pra dizer um eu te amo e por mais gasto que você ache que isso esteja ele continua esperando a pronúncia da sua boca é claro que você não precisa verbalizar coisa alguma mas se a sua ficha ao menos caísse um atlântico inteiro e você não escuta você é imbatível

do livro permanência, 2018

[fredcaju]

silêncio com prata palavra com ouro eu falo na lata mas não dizer nada é meu maior tesouro

do livro intervalo aberto, 2016

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a concha

a concha é caverna a concha é permuta

a concha da pérola é concha- armadura

a concha é espera a concha é escuta

do zine a concha, 2018

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eu sonho com bisões sem saber pra onde eles podem me levar não tenho bagagem maior que as costas suportam e não há nenhuma ambição que me faça encher os bolsos com metais abandono as próteses que nunca me serviram pelo caminho quando me dou conta que isso não é mais um sonho

do livro quatro elefantes sustentam o mundo em cima do casco de uma tartaruga, 2020

[fredcaju]

os meus ombros baixam quando sinto irresetáveis todos os fracassos da humanidade

me sinto cada dia mais fechado e mais soturno diante do temor que nos acossa

do livro breu, 2019

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Véu de escombros

Hoje, é preciso que haja algum céu. Uma fresta apenas, nada mais que isso de anil em ferrugem nos basta por hoje. Estamos aqui, sob um véu de escombros, na fila do banco, no banco da praça, enquanto sorrimos antes do disparo, nos dentes trincando por não dispararmos, no nosso mais íntimo e velado sono, nas nossas famílias e despretensões. Não serve de alívio este fio de azul que estamos pedindo. A tragédia está posta em nossa mesa e não há mais nada que nos alimente. Ainda não se trata de juntar as forças para levantar ou juntar as mãos por misericórdia; o que precisamos desta frincha sobre as nossas cabeças é menos que um lance de uma pipa voando para que se guardem em nossos ouvidos o pouco que resta das crianças correndo no barro batido.

do livro bívio, 2023

[fredcaju]

tourear

havia o silêncio mas não havia o teu silêncio não o da tua camisa listrada havia tua falta teu olho que pastorava as crianças e não importa o quanto crescíamos em família é assim mesmo somos todos crianças e eu que julgava impenetrável teu olhar não tinha percebido que já estávamos todos dentro dele foi preciso distância foi preciso a lâmina do tempo a lágrima dos pais herdo teu silêncio mas não sei calar não sei transmitir ou um corpo de navalhas e não tenho forças para impulsionar com os pés a mesma cadeira de balanço não sei como tourear a chuva sobre nosso teto e transformá-la em ternura não sei

do livro estilhaços, 2017

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ponte de ferro

os gradis enquadram os coelhos ao longe

a sombra no rio que pesa mais sujo

os passos os prédios os pássaros

o sangue fundido na ponte

da revista a geometria da cidade, 2018

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deitar no rio ouvir a força do rio sentir o som espelhar o rio pro céu espalhar ao rio um nome

o teu

do livro abrigo ou um nome o teu, 2022

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seguir

dançar sob a música que você detesta

do livro é sempre trôpega a última dança de um salão esvaziado, 2018

[fredcaju]

benefícios

não se trata apenas do corpo do tônus muscular do fôlego da pressão arterial diabetes colesterol ou rejuvenescimento são menos mortos no trânsito menos combustível fóssil virando monóxido de carbono porque não se trata apenas do meu corpo mas do corpo do mundo

do livro roda livre, 2021

[fredcaju]

escrevi sobre um coelho roxo e não aceitaram a cor que o vi apenas por isso mataram meu coelho com risos debochadíssimos mas eu prometi que não iria chorar mesmo que o mais bruto entre os brutos ali se rendesse

do livro nada consta, 2018