Dos meus sete mares permito que este adentres com tua ilustre embarcação.
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Como se vai embora de uma pessoa? Onde se compra a passagem? Vai-se de ônibus? Avião? Trem? Ou vai-se a pé tropeçando na vontade tola de voltar? Quantos quilômetros de tempo são necessários para estar longe o suficiente? É preciso viajar até mudar de estado para mudar o estado da alma? Como se vai embora de uma pessoa? Esquecer é sofrer um acidente neste incidente todo que é amar.
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Por que eu parei de escrever?
Porque todos os cigarros não têm gosto algum, só causam dores. Só preenchem espaços internos vazios, consequentemente espaços que já foram esvaziados. Porque os últimos filmes que assisti demonstram que não há amor, há uma sobra de algum sentimento solidário, talvez dó. E todo o amor é resto, por isso a tamanha inquietude que todos os seres se incubem. A música é um acalento, doce ou salgado, ela só ameniza o fato inicial dos cigarros insípidos. E quando tento pensar em uma resposta para todas essas minhas respostas, uma resposta que também seja uma saída, não uma constatação, meu cérebro alega insanidade temporária. Porque o sangue que circula aqui dentro está talhado e não há tratamento disponível, não há cura pra minha ressaca, pro meu pessimismo, pro meu otimismo utópico também.
Meus gritos precisam de legendas por serem tão mudos, tão inexpressivos e estrangeiros, precisam de tradução. Eu sorrio socorro com dentes que não são meus. Com uma boca que não é minha num corpo que é completamente eu. Com palavras que outrora nunca pensei em utilizar.
Porque eu não quero ser quem não sou. Principalmente dentro de mim.
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A gente se reinventa
Depois de um café sem açúcar, de uma chuva no mês de julho, de uma partida que não pôde esperar que a gente se reinventasse. Nas paredes da sala que já não podem ser azuis, nas roupas que agora abandam os tons e estilo antigos, nos passeios que mudam seus destinos. Quando quer, quando não quer tanto assim, quando é necessário. Uma vez ao mês, cinco ao ano, quantas vezes forem precisas. Pra mudar de ares, pra se ter diferente, pra sair de um labirinto que a gente mesmo faz questão de criar ao se reinventar sempre.
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Maldito seja o primeiro pavor plantado no coração. Germinou e deu frutos, acostumou o peito com o azedo dos receios. Resultou em queixumes. Aos montes.
Escritora de Araque (via escritora-de-araque)
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Pode ser. Pode ser que haja uma frestinha, assim bem miudinha, pr'eu te espiar enquanto você dorme. Pode ser que exista uma janela pequenina, bem discreta e escondida, que dê justamente pr'aquele quarto escuro onde 'cê se tranca e pra onde você foge. Pode ser que eu bata na porta com os nós dos dedos e peça timidamente para entrar. Pode ser que uma vez lá dentro eu te cative assim d'um jeito tão mimoso que enfim possa ver o que é que 'cê esconde debaixo do seu cobertor azul. Mas também pode ser que aqui eu permaneça, te espionando enquanto você nem imagina onde eu possa estar. É que pode ser que eu me mantenha assim, nas suas beiradinhas, continuando a dizer que "de amanhã não passa", sabe? Mas pode ser que esse amanhã finalmente amanhã chegue e não seja um amanhã qualquer. É, pode ser...
Escritora de Araque
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Ter seu riso frouxo no abraço mais apertado da hora mais quente pra espantar o gelado Ter seu corpo junto pra fugir do separado ter-te assim bem perto e não te querer afastado Ter sua mente solta e seu olhar bem fixado pra gente imaginar devagarinho, mas concretizar acelerado
Escritora de Araque
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Tem mais uma navegante, disposta a tentar equilibrar o barco quando tudo for bagunça. Tudo lindo por aqui.
Que amor! :3 Bem-vinda!
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Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar.
Chico Buarque. (via maretiza)
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tô encontrando em minha vida um canto só pra você
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Dei tudo. Tanto o que tinha quanto o que não mais podia ter e ainda assim as dívidas chegaram. Bateram na porta com os nós dos dedos calejados de tanto colidirem contra uma madeira desgastada cuja pintura há muito havia descascado.
Quando finalmente as atendi tinha a cara estrategicamente lavada, recentemente ensaboada e livre de qualquer semblante capaz de indicar que de alguma coisa eu sabia.
Ofereci um chá. De cadeira por não haver mais gás no botijão. Fizeram-me desfeita, não aceitaram, embora boa tenha sido minha intenção. Nesse momento seus olhares tortos teriam me atingido caso tivessem andado em linha reta e foi aí que ao evitar futuros golpes informei-lhes que retornaria num instante.
Sem esperar pela contestação por saber que ela viria tão rápida quanto o meu desespero, subi o lance de escadas contra o tempo. Contra ele também me seguraram. Já era hora, me disseram. Imobilizaram-me em meu limbo particular, entre o primeiro andar e o térreo do meu casebre, mais precisamente na metade da escada. Ficaram com o controle e a mim sobrou a cólera. Pude me imaginar descendo os degraus por mais que meus pés quisessem caminhar em sentido contrário. No entanto, não havia solução, o fato é que perderia o meu refúgio por tempo indeterminado.
Mal consegui calcular o quão desconfortável seria dividir a sala de estar com elas mais todos os pensamentos que jamais permiti ocupar outros cômodos. Então supliquei. Pedi por todos os santos e até por Deus, pedi pelos vivos e falecidos. Pedi por mim, por minha mãe, pelo meu sobrinho e até pelo meu tio-avô. Pedi por todos aqueles que defenderiam minha causa ou ao menos por quem eu esperava que a defendesse. Representei todas as vozes em uníssono a cada berro, ou a cada tentativa dele quando a voz inaugurou a falha.
A lista foi longa, mas não longa o bastante para me fazer esquecer que pedi também por você. Mais que isso, pedi pra você. Pra você me devolver, Cecília. Devolver tudo que te dei e que um dia foi meu. Tudo que está guardado no teu sótão empoeirado e pelo que você não tem mais zelo.
Com isso ganhei mais algum tempo pra te escrever, Cecília. Ajuda-me, por favor. Cilinha, só você sabe o quanto do tanto que devo a mim mesma está contigo: tudinho.
Com carinho, Alguém Que Já Disse Adeus
Cilinha,
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