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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Miguel Ângelo - Exposição Casa das Associações  20.01 - 27.01.17
Acho bonita a ponte que se estabeleceu entre dois espaços que não são, actualmente, parte integrante da vida do Miguel, mas que carregam, de maneiras diferentes, uma memória que lhe é familiar.
fa·mi·li·ar 1. Da família, caseiro, doméstico. 2. Íntimo; sem-cerimónia; usual, habitual; simples; sem adornos.
Ele também inseriu na exposição um cenário: duas cadeiras (diferentes) e uma mesa. Mesa essa que foi desfeita pelo mar, acontecimento que foi testemunhado num dos cartazes. Um dos vídeos tem essa composição, penso que no jardim de casa da sua avó.
1+1/2+1 (e que tal transformar arte em matemática?)
As cadeiras são diferentes, estão vazias, e a mesa foi partida a meio. Não sei bem o que pode significar, e ele também não me disse nada em concreto, mas há algo na metade que falta que me atrai, e eu não percebo bem porquê.
E acho que é capaz de ser algo assim que o Miguel sente por estes lugares, que o prenderam o suficiente para ele os integrar na vida dele no porto.
e onde é que o porto se situa em tudo isto?
No museu aparecem elementos da sua família, nomeadamente a irmã e a prima. // A casa da avó está abandonada.
As imagens inquietas da viagem de comboio // A estaticidade do cenário
as cadeiras vs as vozes
uma cadeira vazia sugere não só a pessoa, como também a sua ausência.
Senti a proximidade da relação do Miguel com o trabalho. E, apesar de tudo, eu gosto quando há coisas que não entendo, que me ultrapassam. E se calhar nem ele entende. E se calhar não há nada para entender. Haja gosto e prazer, e fico à espera do Algarve.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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João Tabarra - 4.56.20 Solar, Galeria de Arte Cinemática 8.10 - 31.12.16
Voltamos ao Centro Virtual Camões, que informa que João Tabarra nasceu em Lisboa, em 1966. 
Esta exposição partiu de um trailer inédito do filme Numéro Deux de Jean-Luc Godard. Era uma sequência de projecções, curtas montagens que Tabarra desenvolveu a partir desse trailer. 
Sinceramente não fiz o esforço de tentar perceber, visto que é um trabalho com uma forte carga conceptual. Mas, gostei bastante a nível de experiência visual e audio. E o espaço da Solar é lindíssimo. Por isso foi um dia bem passado, e que venham mais como esse. 
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Cristina Regadas - Mapa Natal Espaço Mira 22.10 - 3.12.16
Cristina nasceu no Porto em 1977.
A exposição estava dividida em dois momentos: o primeiro, o corredor do Espaço Mira, tinha a sua parede coberta de vídeos do mar. Mas mais especificamente das rochas. Havia cerca de 5 projectores que criavam camadas de vídeo, mas também camadas de sombra. Sombras estas que surgiam devido ao caminhar, ao aproximar, à interação do espectador com a obra. Sombras, como sempre, inevitáveis.
No segundo momento, ao fundo, no local mais resguardado do espaço, havia uma mesa onde estavam pousadas fotografias, alguns objectos que pertenciam, ou tinham sido feitos pela mãe, e um herbário de plantas que tinha recolhido na sua infância; e, na parede, uma série de fotografias.
Neste conjunto de fotografias, Cristina visita, ou re-visita, as praias onde os seus pais tinham tirado fotografias quando tinham aproximadamente a sua idade.
Achei esta parede particularmente bonita por ser quase uma homenagem à fotografia, ao papel da fotografia para o cidadão comum: um instrumento de memória. Viemos depois a saber que a morte do seu pai foi um dos motivos para esta exposição, ou melhor, para este trabalho de rever e produzir um arquivo, o que revela um aspecto mais pessoal e confidencial do que seria expectável à partida.
E, ao mesmo tempo, e como foi falado com ela, a presença do mar. O mar que continua a ser o mesmo, o mar que vai e vem e volta repetidamente, como o fez para os seus pais, e como voltou a fazer para ela. A ideia de que o tempo passa, mas o mar não envelhece. Poderíamos também dizer que a instalação de vídeo falava também sobre isso, mas penso que transparecia muito mais a rocha. E, se me recordo,  era mesmo essa a intenção de Cristina. A rocha que é um acumular de coisas, um efeito, um sólido, como nós também o somos.
Ou seremos talvez um híbrido destas duas dimensões.
Falámos também do factor ‘privacidade’. Usar fotografias de família, tornar público aquilo que apenas lhes pertence, que só a eles lhes leva memórias e sentimentos.
Este ‘dilema’ surgiu depois no meu próprio trabalho, quando encontrei vídeos de quando era criança, e tive duas vontades imediatas: de os trazer para o meu trabalho, e de os esconder e esquecer-me deles. O acto de editar, cortar, gravar uma memória que pertence a um mundo tão privado, é verdadeiramente violento. No entanto, aquilo que me parecia tão especial rapidamente se tornou em arquivo de imagens, (quase) iguais a tantas outras. Depois desta minha experiência valorizo muito mais o que Cristina fez porque acredito que é um genuíno acto de entrega.
Esta exposição era uma segunda parte da exposição que estava na Patch, intitulada Nuvens Passageiras, que era constituída por imagens azuis, livros, e uma espécie de escultura circular feita com pedras. Este primeiro momento era bastante mais frio, distanciado e relativo a algo universal. Portanto, quase que um oposto perfeito do que estava presente no Mira.
Cristina foi um exemplo daquilo que acho que todos os meus colegas e amigos mais próximos tentamos trazer para o nosso trabalho, (e é talvez aquilo que não encontrei em Dresden), que é ser o mais genuínos e verdadeiros possível com o que fazemos, e perceber que o fazemos, essencialmente, por amor, por prazer e porque, na verdade, arte é vida e vida é arte.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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~.{ }.~ - Dorota Jurczak Culturgest Porto 15.10 - 7.1.17
No site da culturgest, a obra de dorota é descrita como ‘excêntrica e fascinante’. E imediatamente a seguir diz o seu ano e local de nascimento: Varsóvia, 1978. O que significa que tem 38 ou 39 anos. Tinha a sensação que era bem mais velha por acaso.
Tratou-se de outra exposição flash. Tenho uma vaga ideia de figuras ilustrativas, fantasias, metais. Um mundo de fantoches. Mas a verdade é que entrei, dei uma volta, e saí. Por tudo isso, e por gostar de cores, segue aqui outra. No entanto, desta nem tenho a certeza se existia mesmo lá, ou se apenas imaginei.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Embankment #09 - Colectivo Embankment Maus Hábitos // Projecto Ao Monte 12.11 - 7.12.16
Embankment, colectivo constituído por: Aida Castro, nasceu no Porto em 1979, apresenta-se como artista e investigadora no site do i2ads. Maria Mire. Só sei que foi minha professora. Jonathan Saldanha… Vi que faz parte dos HHY & The Macumbas. Fiquei contente.
Fizemos uma visita flash a esta exposição. Apenas me lembro de ver três imagens nas paredes, de relativamente grandes dimensões. E lembro-me de pensar que eram, ou pareciam, montagens. A memória falha-me demasiado. No entanto, fiquei com uma sensação desconfortável da luz estranha e mórbida na sala, com um tom que se prolongava nas obras apresentadas. Faltam-me palavras, por isso mostro uma cor:
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Zabriskie Point Michelangelo Antonioni 1970
//
Our Point 2017
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Pedro Tudela e Miguel Carvalhais - 6 elementos
Sala de Exposições da Reitoria da Universidade do Porto 4.10 - 6.11.16
Tutela nasceu em Viseu, em 1962, vive e trabalha no Porto (acho eu) e foi meu professor em 2014. Sobre Carvalhais: nasceu no Porto em 1974 e apresenta-se, no seu site, como designer e músico. Ambos são professores na FBAUP.
Não tenho nada a dizer. Se calhar só sou sensível a coisas pseudo-poéticas. E pronto, que se lixe.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Mauro Cerqueira - Tudo Jóia
Galeria Múrias Centeno 30.09 - 20.11.16
Mauro nasceu em Guimarães em 1982, logo tem 34 anos, e vive e trabalha no Porto.
A exposição do Mauro na galeria Múrias Centeno era, pelo que percebi, a última fase de um projecto que vinha a ser desenvolvido desde a bienal de Jafre, em Espanha, no ano de 2013.
Trata-se da apropriação de chapas tipográficas, que Mauro manipula posteriormente, colando-as em espelhos. Nesta exposição em particular tratam-se de espelhos quadrados e as peças estão divididas em séries de 4 ou 5, totalizando 25 peças.
Os trabalhos em si não me disseram muito. Achei algumas peças bonitas, mas não percebi se havia algo por trás de todo aquele trabalho. Pareceu-me fruto de um processo sem grande intenção.
E quando falo em intenção não falo em sentido ou em lógica. Falo só em vontade.
E, na verdade, o discurso de Mauro acabou por confirmar o que eu sentia. Disse que, com a exposição Tudo Jóia, encerrava este capítulo. Mas o que pareceu era que este capítulo já estava encerrado há muito tempo. E também acho que ele próprio sabia disso.
Falámos no uso dos espelhos, no recorte das chapas, na origem do trabalho:
que é interessante! Ele vivia perto de uma tipográfica, ou o seu estúdio era perto de uma tipográfica, e numa conversa com um senhor que lá trabalhava, descobriu que o seu atelier lhe tinha pertencido na altura.
E quando Mauro falou disso percebeu-se o gosto que ele tinha por essa ocasião, mas isso não se traduziu naquele trabalho. No entanto, quando fui ver as fotografias das outras exposições deste projecto, nomeadamente em Paris em 2014, existe ali algo genuinamente complexo e rico. Talvez este assunto tenha sido levado à exaustão, e não o merecia.
Se ganhei alguma coisa com esta exposição foi aperceber-me que as coisas têm um tempo de vida e ter atenção para não saturar alguma coisa pela qual estive verdadeiramente apaixonada, ao ponto de lhe tirar valor. E muito menos que isso aconteça por medo de abandoná-la.
Como um amigo meu disse ontem à noite num bar: Esta é a altura perfeita para sair.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Francisco Tropa - Dânae
Galeria Quadrado Azul 24.09 - 14.11.16
No site do Centro Virtual Camões, diz que Francisco Tropa nasceu em Lisboa em 1968. No site da Galeria Quadrado Azul também refere que ele vive e trabalha em Lisboa, mas pelo que percebi também passa bastante tempo no Porto.
Depois de ter visto o filme ‘Quatro’ de João Botelho fiquei com a ideia de que Tropa trabalhava de uma forma muito oficinal. Isto é, como se o factor matéria fosse mais importante.
Eu vi a exposição Dânae sem ler o texto que a estava a acompanhar. Li-o posteriormente apenas, e na verdade, estou muito contente por ter tomado essa decisão.
Sim, porque Francisco Tropa surgiu de repente na galeria! Como se fosse planeado - mas não foi. Mas a melhor parte mesmo foi ouvi-lo falar. A maneira como ele falou do seu processo criativo, como separa as coisas. Aquelas peças na exposição tinham sido desenhadas há muito tempo e quando surgiu a oportunidade de as expôr já praticamente só faltava decidir o título.
Ah! O título!
E depois aconteceu um momento mágico na minha vida, porque ele disse qualquer coisa como ‘o título surge sempre no fim porque eu não quero que o trabalho seja uma ilustração’. Pouco depois uma luz intensa abateu-se sobre mim e ouvi anjos cantar.
[Eu sei que isto não é sobre mim, mas eu tinha comentado com o Miguel e o Gonçalo que estava farta de trabalhar do modo como eu trabalhava: pensar primeiro, fazer depois. Comecei a achar o meu trabalho tão ilustrativo de conceitos ou de ideias. Decidi-me a começar imediatamente a trabalhar, de forma intuitiva, a ser regida por vontades e desejos e não à procura de fazer sentido. Queria retirar a dimensão conceptual do processo. Claro que foi impossível, mas é muito melhor pensar só depois de ter material sobre o qual pensar.]
Claramente que foi um momento importante para mim, mas voltando à exposição.
Só comecei a gostar realmente das fontes depois dele ter mencionado que representavam uma figura feminina e uma figura masculina. Porque assim era de facto. Tratavam-se de duas fontes douradas: uma delas era ‘perfurada’ por um jacto de água vindo de um patamar inferior, enquanto que a outra deixava-se ser preenchida por água que vinha de cima e caia com pouca pressão. Uma fonte era o oposto da outra. Uma mais violenta, outra complacente. E, de algum modo, só consegui ver isto depois de ele ter referido os géneros das fontes.
O texto e o título que acompanham, que dão um rumo sem, na minha opinião, o enclausurar numa temática ou numa narrativa. Fornecem-nos as ferramentas que permitem olhar de forma mais atenta, mais informada.
Enfim, gostei muito. Gostei mesmo muito.
Posteriormente surgiu uma grande discussão entre a turma porque o texto de Tropa (que ele disse ter surgido muito depois das peças terem sido concretizadas, mas que ele sentiu que ‘colavam’, isto é, que se criou uma relação entre as duas, sendo coisas diferentes) falava sobre Dânae, e a história da sua violação.
Posso agora comentar, depois de ter lido o texto, que acho que, mesmo pela maneira como está escrito, não era intenção de Tropa focar-se nisso. Parece-me muito mais sobre a geometria dos acontecimentos e de como os ciclos se repetem.
‘In this great chain of events and effects, no single fact can be considered in isolation.’ - Alexander von Humboldt
E, de qualquer forma, outro dia o Ricardo Araújo Pereira disse numa entrevista: ‘As pessoas acham que têm o direito de não serem ofendidas’, e é verdade! E apesar de não achar que a intenção dele fosse ofender, houve quem ficasse ofendido. Mas o que a questão é: será que alguém trabalha ou censura o seu trabalho a pensar nas ofensas alheias?
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Pedro Cabrita Reis - Pinturas
Galeria Fernando Santos 16.09 - 5.11.16
Tem 60 anos, nasceu em Lisboa, onde vive e trabalha. Sei que gosta dos prazeres da vida, como comida, charutos e penso que um bom whiskey, mas não o posso confirmar, é apenas uma ideia.
Portanto, muito diferente das exposições que tínhamos visto até então. Uma galeria! Um espaço grande com paredes brancas e bem iluminadas. E que sorte! Tivemos a oportunidade de falar com o próprio Fernando Santos! E com quanta condescendência ele nos tratou. É sempre agradável. Enfim.
Tomei conhecimento do trabalho de Cabrita Reis apenas em 2015 numa ‘espécie de museu pop-up’ em Adémia, Coimbra, numa exposição intitulada ‘Primeira Pessoa Plural’ com curadoria de Delfim Sardo. Era composta por parte da colecção de arte contemporânea do arquitecto João Mendes Ribeiro.
De qualquer maneira, isto para dizer que estava mais familiarizada com os trabalhos em luz dele, com um carácter mais escultórico, ou até as instalações, como é possível ver na exposição ‘Conversas’, no Museu de Serralves.
Mas claro, as pinturas de Cabrita Reis não eram mesmo pinturas. Logo à partida tratavam-se de caixas: eram alumínio, eram vidro, eram borracha, eram o espaço entre a tela e o vidro. E imediatamente, o meu reflexo ocupava a posição de destaque, não a tinta. E era impossível ignorar os vultos que iam surgindo reflectidos nestas ‘pinturas’.
No entanto, havia algo de muito poético, aos meus olhos pelo menos, no facto de se tratarem claramente de janelas (a moldura, o vidro, a dimensão…) e praticamente apenas me conseguir ver a mim própria.
Uma espécie de janela/espelho?
Será uma declaração de amor?
A verdade é que a tinta em si, a pincelada, o gesto do pintor (!) pouco importavam. Era só ruído, era só um ambiente de fundo, uma música de elevador. Claro. As pinturas de Cabrita Reis não são sobre a tinta nem sobre a tela. E acho que ele o sabe precisamente, senão não teria dado este título.
Tratavam-se de peças pesadas e intimidantes. Mas, na verdade, também ele o é.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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José Almeida Pereira - Passar o tempo
Espaço Mira 3.09 - 17.09.17
Não sei a sua idade, encontrei algures na internet a informação de que nasceu em Guimarães e que vive no Porto. Sei também que a artista Cristina Regadas é sua companheira*.
Tratava-se de uma exposição de pintura sobre pintura. Era composta por pinturas, uma intervenção na parede e um vídeo feito em colaboração com Max Fernandes e Cristina Regadas.
Todas as pinturas naquele espaço eram reproduções de outras pinturas (de Manet, Richter, Courbet, etc.)
(As de La Tour eram as minhas preferidas.)
Estas reproduções sofriam, no entanto, uma alteração: a Olympia de Manet foi truncada no tronco, duplicada, tornada monocromática e, numa delas, invertida a nível de cor; as restantes tinham sido duplicadas, mas essa segunda camada repousava quase por cima da ‘original’, apenas desviada para um lado uns centímetros.
O vídeo, como explicou José, é um paralelo à pintura nos dias de hoje, uma espécie de ponte entre tinta e luz, tela e ecrã, e sinto que aquele vídeo em específico acabou por ser mais uma reflexão do que um trabalho em si.
A intervenção na parede chamou-me imenso a atenção e estabeleci uma relação imediata tanto com o trabalho, como com o título. Um símbolo do infinito em que uma metade se sobrepõe à outra, repetida incansavelmente por toda a parede e portas do espaço.
Era um conjunto de trabalhos que dizia muito sobre a realidade que vivemos: ter estas imagens disponíveis na palma da mão, vulneráveis a todas as reproduções e modificações. A sobreposição das camadas, em conjunto com o símbolo que se repetia na parede, relembrava que estamos perante algo que já sofreu incontáveis ‘violações’ (desde a fotografia do original, à cor da digitalização, às manipulações ocorridas por outros, à impressão, à interpretação do José, até nós).
E não consigo evitar estabelecer um paralelo com o que vivemos e com o que sinto particularmente. A ironia de ter informação mais disponível e mais rápida do que alguma vez foi possível e eu não me conseguir abstrair da distância que me separa da realidade que vejo (através de fotografias e vídeos) da qual ouço falar.
Foi uma exposição com a qual me demorei a relacionar, também porque não me consegui rever no José (ou no seu trabalho) na altura em que conversámos. No entanto concluo hoje que a exposição disse tudo o que tinha a dizer ou que, pelo menos, me chegou mais do que eu pensava e mais do que o suficiente.
Houve uma discussão na altura sobre o que queria ele dizer com o que fez sobre a pintura de Olmpya, de Manet (uma pintura por si só carregada de análises sociológicas e políticas), ao transformar a criada numa mulher de raça branca e a puta/Vénus numa mulher de raça negra.
Mas, sinceramente, essa pintura não foi a que mais me interessou e penso que se o José percebeu o que fez ou não (e eu acho que sim), tentou e conseguiu esquivar-se à questão, tal como o fez com todas as outras questões e, por isso, dou-lhe os meus parabéns e quem quiser que se deixe ofender.
*A minha mãe disse que um(a) companheiro/a é alguém com quem vivemos e temos uma relação amorosa sem que haja nenhum compromisso legal.
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escrevi-em-ambar · 8 years ago
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Max Fernandes - Cão-rio (saco de arroz cozido no chão)
Uma Certa Falta de Coerência 16.09 - 08.10.16
Não sei a sua idade. Sei que vive e trabalha em Guimarães e que, por vezes, serve a sua sala de estar como espaço de galeria aberta ao público.
Na entrada lê-se “Caminho na estrada plana e do que ficou para trás trago tudo ao pescoço/ Não fico e espero a migração total”, o que ele depois revela ser um excerto de um poema de João Almeida, intitulado Formiga Argentina. Tratava-se, provavelmente, de uma boa introdução sobre o que íamos ver, mas na altura não lhe dei a importância necessária.
(será que foi porque estava no exterior?)
Visitamos esta exposição com a presença do Max e tenho plena noção de que me chegaria muito menos se assim não fosse. A voz dele falava muito mais alto do que o seu trabalho (pelo menos aos meus ouvidos).
Todo o trabalho tinha como ponto de partida os camiões de Calais, a migração ‘ilegal’ e penso que teria como grande gesto a própria revelação. Dar a conhecer o que está a acontecer e direccionar o olhar. Talvez de uma maneira pouco clara para quem fala de um tópico tão preciso. Tenho a certeza que sem ele não saberia do que se tratava.
Mas visto que sei…
Quando entramos na primeira sala ele inicia a visita com a frase ‘Estamos dentro de um camião’. Estamos, de facto, limitados por portas. Portas estas que têm desenhos inspirados em vídeos de camionistas de Calais. Umas delas tem escrito os destinos mais desejados dos migrantes e os países de origem da grande maioria.
Eu gostei muito desta primeira sala, principalmente depois da frase que o Max disse. Um aspecto daquele tipo de migração é estar à mercê do outro, daquele que tem o poder de nos transportar. Estar ali entre duas portas trouxe-me uma sensação de desconforto, de claustrofobia que desencadeou imediatamente empatia com quem vive aquela situação, muito mais, penso, de que se visse imagens disso mesmo.
Seguidamente entramos numa sala com um vídeo projectado na parede, sobre o qual não vou comentar porque precisava de ter visto outra vez. Mas comento a instalação que quase impossibilitava que o público parasse para ver o vídeo completo. Não acho que deva ser uma situação assim tão desconfortável querer ver um vídeo até ao fim. Mas (atenção) vi.
Na última sala havia, de novo, portas. Por esta altura comecei a achar que se estava a tornar demasiado ilustrativo (principalmente os desenhos de traseiras de camiões). Num canto, no chão, estava uma televisão que passava um vídeo intitulado ‘Os Invisíveis’ (será este o verdadeiro título da exposição? Era uma forma de unir tudo e trazer um bocadinho do discurso dele para dentro do espaço.)
Este vídeo consistia numa série de pessoas que, cobertas por um manto de invisibilidade, se deslocavam dentro do espaço do coerência. No final entravam dentro de uma paisagem pertencente ao arquivo pessoal do Max.
Quase como se nós, que nos deslocamos dentro do mesmo espaço, estivéssemos também, finalmente, a entrar no mundo do Max.
E o factor da invisibilidade grita sobre direitos do Homem e o poder da comunicação social. É incrível como este tipo de assuntos nos passa completamente ao lado se não estivermos empenhados a procurar e a informarmo-nos sobre eles. Depois desta exposição fui informar-me sobre Calais e no dia em que escrevo isto, a ‘selva’ de Calais já foi desmantelada.
E as pessoas que viviam nessa ‘selva’?
Foi uma exposição e uma conversa que reforçou em mim a ideia de que a arte é um ponto de partida, é um início de uma discussão com outros ou de uma reflexão entre nós mesmos, e pode ser (e normalmente é) uma consciencialização do mundo que nos rodeia. 
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