"Textualizando: a escrita em foco 🔎" é um projeto de extensão desenvolvido no âmbito da UFTM, na sede de Uberaba/MG.
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Operadores Argumentativos - parte I
Conceituando o tema
Escrever um texto dissertativo-argumentativo de excelência, ou seja, conseguir produzir a tão desejada redação nota 1000 no Exame Nacional do Ensino Médio depende, como pontuado na temática “Projeto de texto”, de uma construção estratégica que possibilite uma argumentação consistente, convincente e organizada. Essa construção estratégica da argumentação, por sua vez, compreende não somente a estrutura mais profunda do texto, o que envolve a seleção, interpretação, organização e relação de argumentos, ou a estrutura convencional que determina um modelo composto por introdução, desenvolvimento e conclusão, mas também a superfície textual por meio da mobilização de marcas linguísticas que auxiliam na apreensão profunda do texto, na construção de sentidos pelo leitor.
Então, organizar estrategicamente a superfície do texto é considerado um dos fatores primordiais para a produção de um texto dissertativo-argumentativo que demonstre, de modo inteligível, o caminho argumentativo na própria dimensão linguística, possibilitando atingir a finalidade comunicativa de convencer o leitor. Logo, a banca corretora do ENEM, tendo como princípio uma avaliação absoluta, considera como exigência a elaboração de uma estruturação lógica e formal das partes constituintes do texto, a fim de que o candidato possa “demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação”.
Para aprofundar o entendimento dessa competência, esse critério de avaliação, segundo a Cartilha do Participante do Enem, consiste, basicamente, na execução de uma organização textual em que as “frases e os parágrafos estabeleçam entre si uma relação que garanta a sequenciação coerente do texto e a interdependência entre as ideias (2019, p. 21)”. Assim, pode-se destacar a importância de possuir conhecimentos acerca das estratégias de coesão textual, fator de textualidade, conforme já abordado nas temáticas “O que é coesão referencial? e “O que é coesão sequencial?”, integrado por recursos linguísticos que permitem essa construção das ligações entre os elementos do texto no momento da escrita da redação do ENEM.
No entanto, dentre as diversas sinalizações possíveis e necessárias para o desenvolvimento de um projeto de dizer coeso, a articulação das ideias e a continuidade são garantidas, notavelmente, pelos operadores argumentativos, recursos linguísticos recomendados, inclusive, pela própria Cartilha do Participante elaborada pelo INEP para auxiliar os futuros participantes do exame.
Posta esta relevância, torna-se indispensável compreender o que são os operadores argumentativos e quais seus tipos e respectivas funções linguísticas. Os operadores argumentativos, de acordo com Koch e Elias (2017, p. 121), são, à primeira vista, simples “marcas responsáveis pelo encadeamento de segmentos textuais” que garantem a articulação entre orações, períodos, parágrafos e enunciados, contribuindo para que o texto seja apreendido como uma unidade de sentido.
Contudo, apropriando-se de uma definição mais complexa, esses encadeadores não se resumem a apenas isso! Eles apresentam a particularidade exclusiva de estabelecer a orientação argumentativa entre as partes do texto, visto que “têm por função indicar ou mostrar a força argumentativa dos enunciados, a direção ou o sentido para o qual apontam (KOCH E ELIAS, 2017, p. 62)”. Ou seja, além de conectar as frases, orações e parágrafos da redação, os operadores argumentativos, como o próprio nome sugere, são primordiais para a construção de uma argumentação consistente e, primordialmente, organizada, que apresente uma direção objetiva.
Resumindo, como definem Koch e Elias (2017, p. 76), os operadores argumentativos “são responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os em texto e determinando a orientação argumentativa.”. Assim, dito de outro modo, esses operadores argumentativos consistem em palavras - termos - da própria língua essenciais para ligar e transformar enunciados argumentativos soltos e independentes em texto - neste caso, em uma redação estruturada -, estabelecer relações entre os argumentos novos introduzidos durante a escrita e os argumentos já apresentados e, por fim, orientar esses enunciados para as conclusões pretendidas.
Pronto! Destacada a essencialidade desses recursos linguísticos para a persuasão e construção textual, faz-se necessário especificar os tipos de operadores argumentativos e suas principais relações discursivo-argumentativas. Assim, apesar de esses operadores dividirem-se em dez tipo, nesta temática serão explorados, tomando como base as definições e exemplificações das linguistas Koch e Elias (2017), cinco tipos:
operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão;
operadores que indicam o argumento mais forte de uma escala a favor de uma determinada conclusão;
operadores que estabelecem relação de comparação entre elementos, visando uma determinada conclusão;
operadores que introduzem argumentos alternativos que levam a conclusões diferentes ou opostas;
operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias.
O primeiro tipo, denominado operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão, contribui para juntar argumentos que se complementam e que exprimem a mesma orientação argumentativa, ou seja, argumentos que apresentam um mesmo objetivo persuasivo, que pretendem convencer o leitor acerca de um mesmo posicionamento. Assim, a fim de exemplificar, os principais termos são: e, também, não só… mas também, tanto...como, além de, além disso, ainda, nem.
Embora também interliguem argumentos complementares, os operadores que indicam o argumento mais forte de uma escala a favor de uma determinada conclusão apresentam a função específica de destacar o argumento mais convincente, com mais poder persuasivo. Logo, quando a intenção for destacar uma ideia predominante e incontestável, deve-se utilizar os articuladores “até”, “até mesmo” e “inclusive” em afirmações, ou “nem” e “e nem” em segmentos negativos. Além disso, pode-se destacar que o “aliás” também engloba essa tipologia e funciona como um “xeque mate” da superfície textual, já que introduz, como um golpe final, argumentos que aparentam ser desnecessários, mas são essenciais para resumir ou reafirmar os anteriores.
Os operadores que estabelecem relação de comparação entre elementos, por sua vez, estabelecem relações de inferioridade, superioridade ou igualdade entre um termo comparante e um termo comparado. Isto é, operadores como “mais… do que”, “menos… do que” e “tão… quanto” permitem exprimir uma orientação argumentativa de confronto entre dois argumentos, considerando a intencionalidade do autor.
Já os operadores que introduzem argumentos alternativos que levam a conclusões diferentes ou opostas resultam em uma disjunção argumentativa, uma vez que juntam dois argumentos diferentes “em que o segundo procura provocar o leitor/ouvinte para levá-lo a modificar a sua opinião ou, simplesmente, aceitar a opinião expressa no primeiro. (KOCH E ELIAS, 2017, p. 133)”. Como exemplo destaca-se: ou… ou, quer… quer, seja… seja.
Por fim, os operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias, de modo geral, colocam em oposição - em contraste - argumentos de conclusões opostas e dividem-se em: operadores que destacam o argumento que deve ser levado em consideração - ou seja, o argumento decisivo, mais valorativo e importante -, como “mas”, “porém”, “todavia”, “entretanto”, “contudo”, “no entanto”; e operadores que introduzem o argumento que não deve ser considerado - o argumento que será anulado -, como “embora” e “apesar de”.
Compreendidas essas particularidades, percebe-se a existência de uma multiplicidade de categorias e formas de mobilizar os operadores argumentativos durante o ato de escrever. Entretanto, é importante destacar que atingir uma produção coesa não significa utilizar amplamente esses elementos em todas as orações, frases ou enunciados. Ao contrário disso, um texto coeso e que constitui uma unidade de sentido organizada e compreensível requer um uso consciente em que os operadores exerçam suas funções adequadamente, “contribuindo para a articulação dos argumentos ao longo de todo o texto (BRASIL, 2019, p.13)”.
Entender, portanto, o que são os operadores argumentativos, quais os tipos e suas funções, e, por conseguinte, como mobilizá-los durante a elaboração do caminho argumentativo é um movimento primordial para produção de uma redação que “Articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.”, conforme as exigências da Matriz de Referência do ENEM.
2. Exemplificando para fixar…
Como ressaltado anteriormente, a multiplicidade de categorias e modos consiste em uma das peculiaridades dos operadores argumentativos, assim, a fim de explorar seus funcionamentos e relações estabelecidas na própria prática escrita, será analisada uma redação nota 1000, cuja temática é “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”:
"A locomotiva de Marx"
Vanessa Soares Mendes
De acordo com Albert Camus, escritor argelino do século XX, se houver falhas na conciliação entre justiça e liberdade, haverá intempéries de amplo espectro. Nesse sentido, a intolerância religiosa no Brasil fere não somente preceitos éticos e morais, mas também constitucionais estabelecidos pela Carta Magna do país. Dessa forma, observa-se que a liberdade de crença nacional reflete um cenário desafiador seja a partir de reflexo histórico, seja pelo descumprimento de cláusulas pétreas.
Mormente, ao avaliar a intolerância religiosa por um prisma estritamente histórico, nota-se que fenômenos decorrentes da formação nacional ainda perpetuam na atualidade. Segundo Albert Einstein, cientista contemporâneo, é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito enraizado. Sob tal ótica, é indubitável que inúmeras ojerizas religiosas, presentes no Brasil hodierno possuem ligação direta com o passado, haja vista os dogmas católicos amplamente difundidos no Brasil colônia do século XVI. Assim, criou-se ao longo da historiografia, mitos e concepções deturpadas de religiões contrárias ao catolicismo, religião oficial da época, instaurou-se, por conseguinte, o medo e as intolerâncias ao diferente. Desse modo, com intuito de atenuar atos contrários a prática da religiosidade individual, cabe ao governo, na figura do Ministério da Educaçao, a implementação na grade curricular a disciplina de teorias religiosas, mitigando defeito histórico.
Além disso, cabe ressaltar que a intolerância às crenças burla preceitos constitucionais. Nessa perspectiva, a Constituição Brasileira promulgada em 1988, após duas décadas da Ditadura Militar, transformou a visão dos cidadãos perante seus direitos e deveres. Contudo, quase 20 anos depois de sua divulgação, a liberdade de diversos indivíduos continua impraticável. À vista de tal preceito, a intolerância religiosa configura-se uma chaga social que demanda imediata resolução, pois fere a livre expressão individual. Dessa maneira, cabe ao Estado, como gestor dos interesses coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao sentimento desrespeitoso e, até mesmo violento, às crenças religiosas.
Destarte, depreende-se que raízes históricas potencializam atos inconstitucionais no Brasil. Torna-se imperativo que o Estado, na figura do Poder Legislativo, desenvolva leis de tipificação como crime hediondo aos atos violentos e atentados ao culto religioso. Ademais, urge que a mídia, por meio de novelas e seriados, transmita e propague a diversidade religiosa, com propósito de elucidar e desmistificar receios populacionais. Outrossim, a escola deve realizar debates periódicos com líderes religiosos, a fim de instruir, imparcialmente, seus alunos acerca da variabilidade e tolerância religiosa. Apenas sob tal perspectiva, poder-se-á respeitar a liberdade e combater a intolerância de crença no Brasil, pois como proferido por Karl Marx: as inquietudes são a locomotiva da nação."
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2016.ghtml>. Acesso em: 12 de dezembro de 2020.
No intuito de compreender tanto a estruturação profunda como a estrutura da superfície textual, pode-se observar que a redação intitulada “A locomotiva de Marx” é produzida e encaminhada argumentativamente a partir da tese: “Dessa forma, observa-se que a liberdade de crença nacional reflete um cenário desafiador seja a partir de reflexo histórico, seja pelo descumprimento de cláusulas pétreas.”. Logo, destacado o posicionamento da autora no parágrafo introdutório, os parágrafos seguintes são destinados a defender que os “fenômenos decorrentes da formação nacional ainda perpetuam na atualidade” e que “a intolerância às crenças burla preceitos constitucionais”, respectivamente.
Assim, é perceptível, mesmo sem a realização de uma análise profunda, uma estrutura organizada que revela a presença de um projeto de texto, de um planejamento prévio dos argumentos mobilizados. Agora, resta refletir: como essa organização se reflete na superfície linguística do texto? Como esses argumentos selecionados, organizados, interpretados e relacionados antes do próprio ato de escrever foram articulados entre si?
Uma primeira sinalização coesiva é materializada logo no parágrafo introdutório por meio do uso do operador argumentativo “não somente... mas também”. Perceba como a autora, diante de duas frases complementares que encaminham para comprovar duas consequências da intolerância religiosa, opta pela utilização de um encadeador que possibilita essa soma de argumentos. Então, ocupando a posição de leitores, conseguimos interpretar que a intolerância religiosa atinge mandamentos éticos-morais e normas jurídicas do país, sendo revelados dois argumentos com a mesma orientação argumentativa, que caminham a favor da mesma conclusão, e, deste modo, são interligados por um dos operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão.
Ainda no primeiro parágrafo, a autora estabelece outro encadeamento ao articular os enunciados “a partir de reflexo histórico'' e “pelo descumprimento de cláusulas pétreas” com o operador “seja… seja”. Estes enunciados, apesar de constituírem conjuntamente a tese que será defendida no restante da redação, são opostos, uma vez que o cenário desafiador que impossibilita a liberdade religiosa é promovido por causas históricas e, em uma orientação argumentativa diferente desse motivo, por problemas relacionados ao desacato das leis constitucionais, o que condiciona a utilização de fatos, informações, dados ou exemplos diferentes para confirmar cada posicionamento. Há, portanto, duas conclusões que não se complementam, como se uma fosse consequência da outra, mas contribuem simultaneamente para a comprovação de que a intolerância religiosa existe no Brasil, necessitando da articulação, de uma relação permitida, principalmente, por um operador que introduz argumentos alternativos que leva a conclusões diferentes ou opostas.
Prosseguindo, no segundo parágrafo destaca-se outro articulador que orienta argumentativamente dois segmentos: o operador argumentativo que estabelece relações de comparação entre elementos, visando a uma determinada conclusão. Nota-se que a autora pretende convencer o leitor acerca da veracidade do fato de que ainda há reflexos da formação histórica nacional na atualidade e, para tal feito, utiliza uma citação de Albert Einstein em que a expressão “mais… do que” estabelece uma comparação de superioridade entre a incapacidade de um átomo se desfazer - termo comparante - a dificuldade de se desconstruir um preconceito estrutural - termo comparado. Ou seja, nesse confronto, a autora determina, apropriando-se de uma noção da física, que a capacidade de um átomo sumir é muito maior e mais provável do que a possibilidade de exterminar o preconceito da sociedade, o que revela uma argumentação consistente, já que algo verídico e comprovado cientificamente é tomado como comparação para algo que se quer comprovar ainda. É possível pontuar, inclusive, como essa relação comparativa é simplificada e evidenciada pelo uso adequado de um simples articulador discursivo-argumentativo.
A mobilização do “além disso”, no início do terceiro parágrafo, também revela um movimento coesivo. Neste caso, a autora demonstra linguisticamente que está agrupando - conectando - seus argumentos principais, definindo uma relação de continuidade na redação por meio do uso de um operador que soma argumentos. Assim, compreende-se que o “além disso” tem a função de introduzir os novos argumentos relacionados ao outro ponto de vista determinado na tese, o que, consequentemente, contribuirá para a argumentação a favor da existência da intolerância religiosa.
Além disso, pode-se observar, no terceiro parágrafo, a utilização do “contudo”, um operador que contrapõe argumentos orientados para conclusões contrárias. Essa relação de contraposição se dá pela introdução do argumento possível e, até certo ponto real, de que a Constituição de 1988 modificou a concepção do povo brasileiro diante de seus direitos e deveres que é anulado pelo argumento decisivo e mais convincente de que a liberdade de diversos indivíduos continua impraticável, um fato que não confirma essa tal transformação. Ou seja, o primeiro e o segundo argumentos são tomados a favor de conclusões opostas, enquanto o primeiro tenta justificar que houve medidas governamentais para a transformação da visão da população em relação às leis, o que demonstra que deveria ter havido mudanças, o segundo argumento contesta, se opõe a esse fato, comprovando que essa mudança não ocorreu e os direitos continuam restritos a uma parcela da população, o que nega as expectativas do primeiro argumento e torna este segundo muito mais convincente, visto que, ao comprovar a não veracidade do outro, ele argumentativamente faz-se muito mais forte e realista.
Por último, para completar articulação da superfície textual, a autora opta pelo emprego de um operador que indica o argumento mais forte, como materializa a sentença “Dessa maneira, cabe ao Estado, como gestor dos interesses coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao sentimento desrespeitoso e, até mesmo violento, às crenças religiosas.”, em que o termo “até mesmo” destaca o fato de o sentimento provocado pela intolerância ser desrespeitoso e, principalmente, violento. Esse uso se justifica pela concepção de que atitudes violentas são muito mais absurdas e prejudiciais para o ser humano do que as atitudes desrespeitosas, isto é, o argumento que define esse sentimento como violento é muito mais forte, impactante e mais convincente e, deste modo, necessita de um encadeador que exprime essa relação e, consequentemente, convença o leitor.
Isto posto, essa redação, que alcançou nota máxima em todas as competências avaliadas, evidencia uma quantidade significativa de elementos coesivos mobilizados adequadamente e através de relações habilidosas que permitem a construção de uma argumentação consistente. Esta argumentação, no que lhe diz respeito, não se resume somente aos ótimos argumentos selecionados ou, ainda, a escolha de um ponto de vista coerente e consistente, mas também pela utilização de operadores argumentativos que determinam, ou melhor, orientam ao leitor as relações argumentativas estabelecidas entre as frases, orações e parágrafos escritos.
3. Pondo a mão na massa…
A fim de compreender na prática o uso dos operadores explorados, o desafio desta temática consiste em identificar a função do articulador em destaque:
soma argumentos em a favor de uma mesma conclusão
contrapõe argumentos orientados para conclusões contrárias
introduz argumentos alternativos que levam a conclusões opostas
aponta o argumentos mais forte na escala argumentativa
“E para nadar, cavalgar, fazer amigos e até aprender inglês nos melhores acampamentos de férias.”
“Filha mais velha do presidente dos Estados Unidos chama atenção por seu estilo e ganha legião de fãs.”
“Na música popular brasileira, ao longo do século 20, a guitarra elétrica ocupou um lugar na disputa: seja na construção de uma identidade nacional - sendo alvo por exemplo, da anedótica passeata dos artistas da MPB contra a incorporação do instrumento -, seja como agente de ruptura, muitas vezes reivindicada como um símbolo da modernidade por artistas e movimentos que buscavam a renovação em nosso meio.”
“É natural que o especialista, acostumado aos formais embates nos tribunais, acabe por utilizar, em seu cotidiano de trabalho, uma linguagem rebuscada, recheada de termos técnicos, jargões jurídicos e palavras em latim. Porém, nas assembleias de condomínio, o advogado pode e deve usar uma linguagem mais simples e coloquial, de forma que seus esclarecimentos sejam mais bem compreendidos por todos.”
Fonte: Koch e Elias, “Escrever e argumentar”.
Referências
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A redação no Enem 2019: cartilha do participante. Brasília, 2019.
BRASIL, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Material de leitura: Módulo 06 - Competência IV. Brasília, 2019.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2017.
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O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM OS TIPOS TEXTUAIS?
1. Conceituando o tema
Você sabe o que são tipos textuais? Provavelmente, a resposta mais comum para essa pergunta será o não, uma vez que o termo tipos textual é um conceito linguístico. Porém, desde os primeiros momentos que adentramos a educação básica somos chamados a estudar os tipos textuais, que são: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.
As tipologias textuais são fundamentais na organização da produção escrita, visto que permitem a organização das sequências linguísticas do texto. São caracterizadas pelos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais de uma sequência linguística. Ou seja, é o modo como organizamos uma produção textual e tem, portanto, relação com a finalidade que nos leva a produzir um texto: narrar um acontecimento; expor um ponto de vista; defender um ponto de vista, descrever um determinado objeto, dar uma ordem.
Aqui no Textualizando já escrevemos e falamos sobre dois tipos textuais: dissertação e argumentação. Neste texto, vamos apresentar a descrição, a exposição e a injunção. Observe a seguir a finalidade e característica linguística de cada um.
O tipo textual descritivo tem por finalidade descrever objetivamente ou subjetivamente objetos, pessoas ou situações. A descrição objetiva busca apresentar o objeto descrito tal como ele é, sem interpretação ou atribuição de juízo de valor. Por isso, a linguagem usada é literal e precisa. Já a descrição subjetiva, como o próprio termo antecipa, se volta para o modo como uma pessoa vê um objeto, situação ou pessoa. É uma descrição centrada na interpretação. Cabe neste caso o uso de figuras de linguagem como a metáfora. Ou seja, não busca construir uma imagem objetiva, precisa, mas explorar as possibilidades dos cinco sentidos humanos.
A descrição, quando feita de forma minuciosa, faz com que o leitor tenha condições de criar para si, a partir do que está escrito, a imagem do objeto, situação ou pessoa descrita. É uma criação com base na palavra. A descrição objetiva é muito utilizada na escrita de folhetos turísticos; cardápios de restaurantes; classificados; laudos; relatórios; e atas. O lugar por excelência da descrição subjetiva é nos textos literários.
De modo geral, no tipo descritivo há a presença de adjetivos, advérbios e as suas respectivas locuções. Como as palavras têm papel fundamental na construção da descrição, é preciso ter cuidado com o léxico. Nesse sentido, o uso dos verbos de estado, no presente ou pretérito imperfeito do indicativo, é predominante. “A descrição sempre desempenha um determinado papel em um gênero específico: exemplificação, nos gêneros argumentativos; ambientação e apresentação de um personagem”, nos textos literários (KÖCHE; BOFF; MARINELLO, 2010, p. 21).
O tipo textual expositivo, como o próprio termo já define, tem como finalidade expor informações sobre um objeto ou fato exato, um conceito, uma ideia. O uso desse tipo de texto é comum no contexto escolar e principalmente acadêmico. Trata-se da tipologia usada para elaborar comparação, explicação e conceitualização. No caso dos gêneros acadêmicos orais, o tipo textual expositivo pode ser usado na apresentação de seminários, aulas, conferências, apresentação de comunicação e trabalhos para conclusão de curso/disciplinas. No caso dos gêneros acadêmicos escritos, pode ser usado em artigos, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, projeto, dentre outros.
Considerando os gêneros orais e escritos mencionados no parágrafo anterior, podemos afirmar que a exposição é um recurso que pode ser usado nas produções dissertativas-argumentativas. Pode ser usada para expor informações, dados que ajudem a caracterizar o tema abordado. Por exemplo, se estamos produzindo um texto sobre a gravidade da pandemia no Brasil, para situar o leitor, é preciso fazer a exposição do que vem acontecendo. Isso pode ser feito recorrendo ao subtipo expositivo-argumentativo e/ou expositivo-informativo.
Nos gêneros acadêmicos e escolares, espera-se que a linguagem expositiva seja objetiva e impessoal. Isso significa produzir texto com os verbos no presente do indicativo, com omissão dos recursos linguísticos marcadores de pessoalidade. Também não tem lugar nessa tipologia para as opiniões e os julgamentos pessoais. A exposição pode trazer ao texto informações históricas, políticas, conceituais e dados numéricos. Na sua construção, podem ser também usadas (não de forma predominante) a descrição, a comparação, as relações de causa e efeitos e problemas e soluções. Em suma, a tipologia expositiva exige que o produtor textual saiba usar vocabulário simples, preciso e, principalmente, que saiba expor e explicar conceitos e informações nem sempre conhecidos para o leitor.
O tipo textual injuntivo tem como finalidade levar instrução ao interlocutor/leitor de modo que leve esse mesmo leitor a realizar uma determinada ação. é tipo textual usado para definir o como deve ser feito. Dito de outro modo, esse tipo textual é usado em textos que visam instruir, estabelecer regras, ordenar. No dia a dia, frequentemente, nos deparamos com essa linguagem quando recebemos ou damos ordens, orientações e instruções para alguém. Seu objetivo não é convencer, é fazer fazer. De acordo com Neves, o texto injuntivo (ou instrucional) apresenta as seguintes características:
Instrui o leitor acerca de um procedimento;
Induz o leitor a proceder de uma determinada forma;
Permite a liberdade de atuação ao leitor;
Utiliza linguagem objetiva e simples;
Utiliza predominantemente verbos no infinitivo, imperativo ou presente do indicativo com indeterminação do sujeito. (NEVES, 2021, p.1).
Alguns estudiosos desse tema afirmam que as produções injuntivas podem ser divididas em duas categorias: prescritiva e instrutiva. No primeiro caso estão os textos que visam orientar o leitor a fazer algo, mas sem a imposição da ideia de que deve ser somente daquela forma. Estão nesse caso as receitas de alimentos que podem ser inclusive mudadas por aqueles que recorrem a elas. Em contrapartida, o texto prescritivo estabelece uma coerção, uma vez que buscam fixar um único comportamento, modo de agir para todos. As leis em geral estão nesse bloco.
O texto injuntivo tem como principal característica o uso do verbo no modo imperativo. A sua linguagem normalmente é simples, objetiva e direta. Isso é o que possibilita o leitor realizar as ações que estão sendo dadas. A descrição pode fazer parte das produções injuntivas para dar ao leitor a ideia do objeto ou tipo de ação que precisa realizar.
2. Exemplificando para fixar...
Para que você consiga fixar bem o que são tipos textuais, apresentaremos alguns exemplos a seguir e faremos a análise de cada um.
Como dissemos anteriormente, a descrição pode ser objetiva ou subjetiva. Vejamos a seguir um exemplo de descrição subjetiva.
“[...] Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. [...]”. (Fragmento do conto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector).
Neste exemplo, as opiniões, perspectivas e sentimentos do narrador do conto interferem explicitamente no processo descritivo, uma vez que os termos excessivamente crespos, meio arruivado, busto enorme marcam um modo de ver pessoal. Achar o cabelo excessivamente crespo é uma percepção que necessariamente pode não ser confirmada, constatada por outro observador dessa mesma característica da personagem. No nosso cotidiano, produzimos esse tipo de descrição quando procuramos descrever uma comida que gostamos ou não, uma pessoa boa ou ruim. Tais descrições não se firmam em aspectos palpáveis (esse macarrão é tão gostoso que aquece a alma), mas naquilo que valoramos a partir dos nossos sentidos.
Vejamos a seguir dois exemplos de descrição objetiva.
“[...] É na parte alta que fica o colorido Pelourinho, bairro histórico e tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Em suas ruas e vielas estão centenas de casarões dos séculos 17 e 18 que abrigam de museus a terreiros de candomblé, além de templos católicos que atraem estudiosos do mundo todo – é o caso da igreja de São Francisco, considerada a obra barroca mais rica do país [...]”. (Descrição objetiva de um guia de viagem). (PEREZ, 2021, p.4)
"A vítima, Solange dos Santos (22 anos), moradora da cidade de Marília, era magra, alta (1,75), cabelos pretos e curtos; nariz fino e rosto ligeiramente alongado." (DIANA, 2018, p. 2).
Na descrição objetiva, a pretensão é representar com palavras aquilo que é possível de ser identificado por todos. É uma descrição simples e com controle dos sentimentos e influência daquele que escreve. Nos dois exemplos, a descrição é impessoal e procura retratar o bairro e a pessoa tal como são. Ou seja, como a sua finalidade maior é a de apresentar informação, nos dois casos, o produtor da descrição se limita a pôr em palavras aquilo que vê.
Os textos expositivos podem ser: expositivo-argumentativo e expositivo-informativo. No primeiro caso, além de apresentar o tema, objeto ou situação, o produtor do texto deve permear a exposição com argumentos necessários para direcionar o seu posicionamento e linha argumentativa defendida. No segundo caso, o que se busca é transmitir as informações sobre o tema escolhido de forma neutra. Vejamos os exemplos a seguir:
Verbete de dicionário
Significado de Nostalgia (s.f). Tristeza causada pela saudade de sua terra ou de sua pátria; melancolia. Saudade do passado, de um lugar etc. Disfunções comportamentais causadas pela separação ou isolamento (físico) do país natal, pela ausência da família e pela vontade exacerbada de regressar à pátria. Saudade de alguma coisa, de uma circunstância já passada ou de uma condição que (uma pessoa) deixou de possuir. Condição melancólica causada pelo anseio de ter os sonhos realizados. Condição daquele que é triste sem motivos explícitos. (Etm. do francês: nostalgie)
Fonte: Dicionário Online de Português (Dicio)
Enciclopédia
Cervo-do-pantanal (nome científico: Blastocerus dichotomus), também chamado suaçuetê, suaçupu, suaçuapara, guaçupuçu ou simplesmente cervo, é um mamífero ruminante da família dos cervídeos e único representante do gênero Blastocerus. Ocorria em grande parte das várzeas e margens de rios do centro da América do Sul, desde o sul do rio Amazonas até o norte da Argentina, mas atualmente, a espécie só é comum no Pantanal, na bacia do rio Guaporé, na ilha do Bananal e em Esteros del Iberá.
Fonte: Wikipédia
Nos dois exemplos, as informações são apresentadas inclusive com um caráter de verdade. São definições que pretendem ser válidas para todos os leitores como referência importantes para definir o que é nostalgia ou o cervo-do-pantanal. No exemplo a seguir, a exposição é entrelaçada por argumentos que marcam o posicionamento de Clarice Lispector na entrevista.
Clarice Lispector, de onde veio esse Lispector?
É um nome latino, não é? Eu perguntei a meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando outra coisa que parece “Lis” e “peito”, em latim. É um nome que, quando escrevi meu primeiro livro, Sérgio Milliet (eu era completamente desconhecida, é claro) diz assim: “Essa escritora de nome desagradável, certamente um pseudônimo…”. Não era, era meu nome mesmo [...].
(Trecho da última entrevista com a escritora Clarice Lispector, concedida em 1977, ao repórter Júlio Lerner, da TV Cultura). (DIANA, 2020, p. 3).
Neste caso, a exposição aparece em termos como: Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Quando ela afirma Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando outra coisa que parece “Lis” e “peito”, em latim, temos uma exposição entrelaçada de um argumento iniciado inclusive com “eu suponho..”.
Conforme já dito, o tipo de texto injuntivo tem a finalidade de instrução, porém não são construídos somente para informar, pode se utilizar para guiar, conduzir o leitor. Quando estudamos esse tipo textual, temos o exemplo clássico receita culinária. Entretanto, como há outros usos dessa tipologia, apresentaremos aqui um exemplo do texto injuntivo prescritivo. Para tanto, buscamos o exemplo no Código de Proteção e Defesa do Consumidor. No artigo 6º, o leitor poderá encontrar as definições dos direitos básicos do consumidor, principalmente no que se refere à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. Vemos o que diz o texto desse artigo:
São direitos do consumidor:
a) a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
b) a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
c) a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
Neste caso, o verbo ser, na primeira pessoa do plural do modo indicativo, já traz uma afirmação categórica. Consequentemente, as instruções, além de orientar, visa ordenar e garantir uma ação em relação aos referidos direitos. Sabemos que, no caso de texto de leis, a não observância do previsto acarreta penalização. Com isso, o que se pretende é inclusive não deixar margem, possibilidade para não observar, cumprir o que está prescrito no Código.
3. Pondo a mão na massa...
Agora é a sua vez de colocar em prática o conhecimento construído a partir dos exemplos e explicações que apresentamos e ver se consegue diferenciar os tipos textuais. A seguir, as propostas de escrita e análise:
Proposta 1: Faça uma descrição expositivo-argumentativo e outra expositivo-informativo da figura abaixo.
Fonte: https://aguiarbuenosaires.com/jardim-japones-de-buenos-aires/
Não se esqueça que uma boa descrição precisa: determinar o que será descrito (parte ou todo); decidir se a composição descreverá aspectos físicos, psicológicos ou ambos (deixar claro a sua opinião); escolher as palavras, expressões ou orações mais precisas para descrever o que será caracterizado.
Proposta 2: Crie um verbete ou uma definição enciclopédica sobre as características do novo coronavírus. Depois, poste a sua produção textual em nosso blog.
Proposta 3: Crie um conjunto de orientações tendo como base a palavra “esperança”. Esse texto precisa ser criado para ser um guia, uma receita ou manual (escolha um dos modelos) para vivermos no novo mundo pós – pandemia.
Referências
SILVA, Marina Cabral da. "A Argumentação"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-argumentacao.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2021.
DIANA, D. Texto Descritivo. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/texto-descritivo/. Acesso em 22 de fevereiro de 2021.
DIANA, D. Texto Expositivo. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/texto-expositivo/. Acesso em 22 de fevereiro de 2021.
KÖCHE, V. S.; BOFF, O. M. B.; MARINELLO, A. F. A leitura e a produção textual: gêneros textuais do argumentar e expor. Petrópolis: Vozes, 2012.
PEREZ, L., C., A. Tipos textuais. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/tipos-textuais-estrutura-discurso.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2021.
NEVES, F. Tipologia textual: os diferentes tipos textuais. Norma Culta. Disponível em: https://www.normaculta.com.br/tipos-de-texto/. Acesso em 22 de fevereiro de 2021.
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COESÃO INTRAPARÁGRAFO E INTERPARÁGRAFO
1. Conceituando o tema
A produção de textos consiste em movimentos muito mais elaborados do que a simples seleção de informações e ideias pertinentes sobre uma temática. A prática escrita, para atingir sua finalidade comunicativa, requer que o outro - nosso leitor - consiga construir significados, processar e organizar as informações dadas, ou seja, alcance a compreensão do texto. Para tanto, como constantemente discutido no “Textualizando”, o entendimento de um texto escrito implica também no modo como o autor - quem escreve - mobiliza as marcas linguísticas que orientam a leitura e, por consequência, auxiliam na construção de sentidos.
A mobilização de recursos linguísticos que permitem a construção das ligações entre os elementos do texto, a famosa Coesão Textual, é essencial para a produção de qualquer texto escrito. Além da coesão referencial e da coesão sequencial, recursos já muito bem explicados em outros vídeos do Textualizando, o que confirma a importância desse fenômeno linguístico, há outro conhecimento muito importante para o domínio desse fator de textualidade: como estabelecer a articulação entre orações, períodos e sequências maiores do texto.
Tendo em vista essa diversidade de saberes fundamentais para uma boa escrita, torna-se necessário compreender, também, que a coesão textual precisa ser realizada no exterior e no interior dos parágrafos para ser eficiente. Em outras palavras, existem duas maneiras de tornar um texto mais coeso: segundo as discussões desenvolvidas por Abreu e De Oliveira (2020), a primeira categoria, denominada coesão interparágrafo, é responsável pela conexão de um parágrafo ao outro; enquanto a segunda, denominada coesão intraparágrafo, apresenta a função de estabelecer ligação no interior dos parágrafos, isto é, conecta orações e ideias dentro de um mesmo parágrafo.
A coesão interparágrafo e intraparágrafo são modos de construir um texto mais unido e organizado e, por isso, requerem, como já esperado, elementos, recursos, ou melhor, marcas linguísticas que permitam uma conexão adequada entre as numerosas sentenças e parágrafos. Então, dentre os inúmeros recursos disponíveis para estabelecer a ligação no interior e exterior das sequências textuais, por assim dizer, nesta temática serão abordados, especialmente, os articuladores textuais.
Os articuladores textuais são recursos elementares para a prática escrita, já que, de acordo com Koch e Elias (2017), são “as marcas linguísticas responsáveis pelo encadeamento de segmentos textuais de qualquer extensão (p.121)”. Isto é, desempenham um papel fundamental no encadeamento de todas as sequências textuais - desde a organização global do texto até o nível microestrutural - funcionando nas partes maiores dos textos, nos parágrafos, nos períodos e também na articulação entre orações e termos os dessas orações, o que permite a concretização tanto da coesão interparágrafos como da coesão intraparágrafos.
Apesar de toda relevância que envolve o movimento de articular o texto, faz-se importante ressaltar que esses marcadores consistem em palavras e expressões que não somente impossibilitam que a superfície textual fique “solta” e, por consequência, viabilizam a construção de uma unidade de sentido, mas também apresentam funções, assumem sentidos no projeto de dizer, o que enriquece qualquer discurso. Dito de outro modo, a utilização desses elementos linguísticos não se resume à simples ligação de porções textuais de variadas medidas, eles, conforme a função visada, proporcionam a criação de relações de sentidos entre as partes articuladas. Deste modo, adquirir conhecimento acerca das funções dos articuladores textuais é essencial para a produção de textos coesos e coerentes.
Com base nas concepções e exemplificações das linguistas Koch e Elias (2017), abordaremos as principais funções que podem ser exercidas por esses recursos linguísticos. A primeira função, de modo bem simples, compreende a capacidade de situar e/ou ordenar as ideias, as partes textuais no espaço e/ou no tempo, auxiliando o leitor na identificação do que vem antes ou depois em um texto.
Uma segunda função muito importante dos articuladores consiste no estabelecimento de relações lógico-semânticas entre o conteúdo de duas orações por meio de conectores. Essas relações lógico-semânticas abarcam relações de:
condicionalidade: caracterizada por um oração que expressa uma condição para realização e outra uma consequência da condição enunciada.
causalidade: estabelece uma conexão causa-consequência entre dois períodos.
finalidade: constituída de uma oração que explicita um meio para alcançar um fim/um objetivo proposto em outra oração.
alternância: marcada pela associação de dois fatos ou ideias que podem tanto se excluir como se incluir.
temporalidade: construída para indicar simultaneidade, anterioridade, posterioridade, continuidade ou progressão entre orações.
conformidade: expressa por duas orações em que se confirma o conteúdo de uma com algo afirmado na outra.
modo: caracterizada por uma oração que contém o modo como se realizou uma informação e outra que contém a informação em si.
Além dessas duas funções indispensáveis, os articuladores textuais são responsáveis pela organização textual, ou seja, desempenham o papel de organizar uma sequência de partes, independente da extensão, sinalizando o início, o meio e o fim de um texto.
Por fim, mais uma função básica desses marcadores textuais constitui a propriedade de introduzir comentários. Para introduzir informações que orientem o leitor sobre qual procedimento linguístico está sendo realizado, é possível apropriar-se dos:
articuladores modalizadores, que servem para atribuir avaliações acerca do que foi ou será enunciado como verdadeiro, obrigatório, duvidoso ou, até mesmo, para expressar um sentimento diante do fato;
dos articuladores delimitadores de domínio que, como o próprio nome sugere, são produtivos para definir o ponto de vista ou o domínio de conhecimento que determinada informação pertence;
dos articuladores voltados para a formulação textual que podem indicar a característica, a condição de um novo segmento textual em relação ao que já foi dito - como resumir ou acrescentar uma oposição -, introduzir um tópico novo no texto ou, ainda, interromper ou reintroduzir um tópico.
articuladores evidenciadores da propriedade autorreflexiva da linguagem, isto é, articuladores utilizados para refletir, redizer, ou melhor, reformular o que já foi dito e precisa ser bem explicitado para o leitor.
Ressaltadas as funções principais, vale ressaltar, ainda, que o operadores argumentativos, conteúdo explorado em outros vídeos do Textualizando devido a sua relevância para a orientação argumentativa de um texto, também englobam os articuladores textuais e estabelecem relações discursivo-argumentativa entre enunciados distintos, isto é, independentes, auxiliando na construção de um texto articulado e convincente.
Apreender, ter conhecimentos acerca das funções desempenhadas por esse recurso linguístico é, portanto, uma das primeiras etapas primordiais para o desenvolvimento do aprendizado da escrita. Entretanto, uma segunda etapa muito significativa consiste na necessidade da criação e ampliação de um repertório de articuladores textuais, já que conhecer, mesmo que de um modo autodidático, a vasta possibilidade de conectores contribui, imensamente, para um uso adequado e consciente. Assim, a fim de concluir e abordar todos os saberes precisos sobre a temática , a seguir, apresentamos uma tabela que contempla os principais tipos de articuladores textuais e suas respectivas funções:
Articuladores de ordenação no tempo e/ou espaço: antes, depois, em seguida, a seguir, além, mais além, do lado direito, do lado esquerdo, a primeira vez que, a última vez que, muito tempo depois, etc.
Articuladores de relações lógico-semânticas
- Condicionalidade: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, a não ser que.
- Causalidade: porque, como, pois, porquanto, já que, uma vez que, dado que, visto que.
- Finalidade: para que, a fim de que.
- Alternância: ou.
- Temporalidade:
tempo exato: quando, mal, assim que, nem bem, logo que.
tempo anterior: antes que.
tempo posterior: depois que.
tempo simultâneo: enquanto.
tempo progressivo: à medida que, à proporção que.
- Conformidade: conforme, segundo, como, consoante.
- Modo: sem que.
Articuladores de organização textual: primeiro (amente), depois, em seguida, enfim, por um lado/por outro lado, às vezes, em primeiro lugar/ em segundo lugar, por último, etc.
Articuladores metadiscursivos
Modalizadores:
- certeza: realmente, evidentemente, certamente, logicamente, absolutamente, etc.
- obrigatoriedade/necessidade: obrigatoriamente, necessariamente, etc.
- avaliação de eventos, ações e situações: infelizmente, felizmente, lamentavelmente, etc.
Delimitadores de domínio: em termos de…, do ponto de vista…, etc.
Formuladores Textuais:
- indicação do papel de um segmento textual em relação aos anteriores: em síntese, em suma, resumindo, em acréscimo, em oposição a, para terminar, etc.
- introdução do tópico: quanto a, em relação a, no que diz respeito a, a respeito de, no que tange a, no que concerne a, com referência a, relativamente a, etc.
- interrupção ou reintrodução do tópico: é bom lembrar que, voltando ao assunto, etc.
Evidenciadores da propriedade autorreflexiva da linguagem: digamos assim, podemos dizer assim, por assim dizer, vamos dizer assim, em outras palavras, etc.
Fonte: Koch e Elias ( p.151, 2017)
2. Exemplificando para fixar...
Tendo em vista que um texto se constrói a partir da articulação entre vários dizeres - parágrafos, enunciados, orações e períodos - e essa articulação colabora com as relações de sentido pretendidas por quem escreve, será explorado, neste momento, como a coesão interparágrafos e intraparágrafos podem ser mobilizadas por meio de articuladores textuais.
O trecho selecionado da notícia intitulada “MEC pede a universidades federais para 'prevenir e punir atos político-partidários’”, publicada pelo jornal “O Globo” no dia 04 de Março de 2021, é composto por diversos marcadores textuais que, de forma clara, favorecem a articulação entre porções menores do texto:
“BRASÍLIA - O Ministério da Educação encaminhou ofício em fevereiro à Rede de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) em que pede providência para “prevenir e punir atos político-partidários nas instituições públicas federais de ensino".
O documento reproduz trechos da recomendação do Ministério Público Federal (MPF) que diz que bens públicos ‘não podem ser empregados para promoção de eventos de natureza político-partidária, porque destoante da finalidade pública a que se destina, que é a prestação de serviços públicos específicos, a promoção do bem comum da sociedade’."
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/mec-pede-universidades-federais-para-prevenir-punir-atos-politico-partidarios-24907347.> Acesso em: 04/03/201.
Nestes fragmentos introdutórios da notícia, é possível detectar o uso de dois conectores que materializam a coesão intraparágrafos. Assim, em um primeiro momento, há o uso do conectivo “para”, que indica uma relação de finalidade entre duas orações, visto que o MEC pede providência com o propósito/com o objetivo de acabar com atos políticos dentro das instituições. Ou seja, o articulador textual mobilizado permite que duas orações, uma explicitando o que é o pedido e outra qual a intenção da solicitação - o meio para atingir um fim -, sejam conectadas, exprimindo um sentido muito importante para o entendimento do leitor de que o pedido de providência não é neutro, ele tem uma finalidade explícita.
Em seguida, um outro movimento de articulação textual entre duas orações consiste na utilização do “porque”, um conector que destaca uma relação de causalidade, de causa-consequência. Perceba que, de acordo com as informações do documento, o uso de bens públicos para ações partidárias e ideológicas é a causa e como consequência há o distanciamento/ a distinção do que é imposto pelo âmbito público e essa relação entre as orações no interior do parágrafo é articulada, exclusivamente, pelo uso do recurso linguístico destacado.
Diante dessas primeiras exemplificações, podemos visualizar uma interligação muito importante para construção linguística de qualquer extensão: conectar um novo período ao período anterior ao mesmo tempo em que se estabelece relação entre o conteúdo das duas orações, garantindo, consequentemente, a coesão também no interior dos parágrafos.
Visto como se dá a mobilização da coesão intraparágrafos, o outro movimento essencial constitui a interligação entre as partes maiores de um texto. Logo, o fragmento de um texto jornalístico, denominado “Volta às aulas, mas ainda a distância: gadgets para ajudar os estudantes”, do canal sobre tecnologia do UOL materializa a coesão interparágrafos:
“Em tempos de aulas online, muitos eletrônicos podem ajudar os estudantes. Claro que os alunos ainda precisam de lápis, caneta e caderno, mas um notebook, pen drive e até uma impressora também são itens úteis para quem está em casa.
Por isso, fizemos uma lista de alguns gadgets e equipamentos para ajudar na volta às aulas de crianças, adolescentes e, até mesmo, de universitários. Seja para enviar um email, redigir um trabalho ou compartilhar arquivos, eles vão te ajudar.”
Disponível em:<https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/03/04/volta-as-aulas-mas-ainda-a-distancia-gadgets-para-ajudar-os-estudantes.htm>. Acesso em: 04/03/2021
A articulação entre parágrafos distintos, neste caso, é possibilitada pelo uso do articulador textual “por isso” que, além de construir um elo coesivo, atribui o sentido de explicação, de justificativa. Assim, o segundo parágrafo, que apresenta o tema do texto, o que será abordado, conecta-se ao primeiro parágrafo, que apresenta um novo fato a respeito do uso de recorrente de tecnologias na atualidade, ou seja, uma introdução para a temática, configurando-se como o motivo para a elaboração do parágrafo seguinte. Esta pequena introdução à matéria, portanto, demonstra como parágrafos independentes também precisam estabelecer articulações para a construção de sentidos e entendimento do leitor.
3. Pondo a mão na massa
Conceituadas e exemplificadas as estratégias de coesão no interior e exterior dos parágrafos, bem como os elementos coesivos significativos para estabelecer essa relação, analise as sequências textuais abaixo, atentando-se para os sentidos possíveis, e mobilize um articulador textual adequado:
1. Articular orações:
Empresas gastam milhões ______ entender o que faz seus funcionários felizes e para motivá-los, ______ demonização da tristeza talvez não seja saudável, defende novo livro.
Fonte: LACOMBE, Milly. Folha de São Paulo. Equilíbrio. 2015.
2. Articular períodos:
__________ de avançar com fúria, o tubarão rodeia a presa. ________, sinaliza a ação encostando suavemente no corpo da vítima. __________, dá o bote, crava as mandíbulas e não solta mais.
Fonte: Veja, 2015.
3. Articular parágrafos:
Sempre achei que para as mulheres a autonomia financeira é sinônimo de liberdade. Com a TV Mulher nos 80 e a psicologia, vi que essa independência às vezes não resolve a submissão aprendida em casa e culturalmente. Hoje, voltei a acreditar que o primeiro passo é o estudo e a conquista de um bom trabalho. E, se possível, uma carreira. Melhor ainda se for em algo que se tenha prazer e realização.
__________________ a ONU tem razão quando coloca como o grande desafio a questão econômica traduzida em conquista de oportunidades de bons empregos para as mulheres e aponta o que tem que ser feito para esta conquista.
Fonte: SUPLICY, Marta. “O homem primitivo.”. Folha de São Paulo, 2015.
Referências
ABREU, M. T. T. V.; OLIVEIRA, B. M. Estudo dos mecanismos de coesão em editorial de jornais e a necessária reorientação de práticas de ensino na escola. Leitura, Maceió, n. 67, p. 115 - 129, set./dez. 2020.
GIORDAN, I. Redação do Enem: como conseguir a nota máxima na competência 4?. QueroBolsa. Junho, 2020.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2017.
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DEZESCRITA: LEITURA E ESCRITA “ÀS AVESSAS”
Autor: Prof. Dr. Milan Puh (USP)
Ler e escrever são dois processos complementares que fazem parte de vários momentos da nossa escolarização, mas também de vida cotidiana. Na atualidade estamos perpassados por diferentes modos de ler e escrever, os quais refletem a super diversidade da sociedade humana. Porém, muitas vezes nos dedicamos a essas duas atividades, tomando o texto à disposição como objeto acabado, exigindo de nós mesmos uma compreensão ou produção escrita que costuma se reduzir a uma única interpretação. O que se propõe pelo procedimento de dezescrita é uma atividade que não segue as direções interpretativas dos textos tomados como objetos de estudo. Isso significa
“fazer o exercício de tomar os objetos, sejam eles elementos de uma dada teoria dos estudos da linguagem, ou seus resultados definidos novamente como fatos, como dados que compõem uma pesquisa, ou o próprio texto que se está produzindo, não em sua totalidade estática, mas como algo a ser investigado, decomposto.” (PUH, 2019, P.187).
Este conceito foi pensado no contexto do projeto “Movimentos de dezescrita” do Grupo de Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise (GEPPEP) na Faculdade da Educação da Universidade de São Paulo e textualizado no livro “Dezescrita”, publicado em 2014. Posteriormente, ele foi novamente elaborado e repensado, criando-se categorias que podem ajudar na análise dos textos acadêmicos, e não, permitindo que criemos novas acepções e entendimentos do que lemos e escrevemos, bem como novas possibilidades de avaliação do que se produz (PUH, 2019). Citamos aqui seis categorias de análise: localidade, temporalidade, conceito-base, conceito-científico, metodologia e bibliografia, as quais podem ser mobilizadas e trazidas de acordo com a importância para a discussão que se quer fazer do processo ler-escrever.
Entendemos a categoria de localidade como a presença de um ou vários locais abordados por quem pesquisa, sendo que estes podem aparecer simultânea ou separadamente no texto, e ainda se referir a lugares concretos/abstratos e atuais/do passado. A temporalidade se refere aos diferentes tipos de acontecimentos que podemos encontrar num texto, dependendo dos temas abordados e dos históricos dos grupos ou instituições. Já os dois tipos de conceitos nos permitem perceber o que o texto efetivamente descreve, explicita ou explana e o que ele subentende. O conceito-base é utilizado na pesquisa como fundamento, o qual não é abordado a partir de alguma teoria ou teórico específicos. Por outro lado, o conceito-científico é aquele para o qual encontraremos referências bibliográficas, citações e definições, por ser entendido que o leitor/escritor precisava delas no processo de criação textual. E por fim, temos ainda as categorias de metodologia e bibliografia que procuramos entender, colocando-as em contato, uma vez que a bibliografia de um texto pode nos dizer bastante sobre um arcabouço metodológico e teórico, ao passo que a escolha da metodologia é necessariamente feita a partir da bibliografia lida.
Sempre antes de utilizar o procedimento de dezescrita, sugerimos que seja feito um diário de leitura que permitirá um entendimento geral e pessoal das contribuições que a leitura em questão traz. Assim podemos fazer uma conclusão geral sobre o texto, destacando o positivo e o negativo, apontando as informações novas ou aquelas que foram apresentadas de um modo diferente/novo, criando relações com o nosso estudo sobre determinado tema e ainda com os nossos projetos de vida e formações. Em seguida, para aprofundar o que o diário nos proporcionou numa leitura mais linear, iniciamos a dezescrita do texto escolhido, lendo inicialmente o resumo a partir das seis categorias, estendendo o nosso olhar para a totalidade do que consiste numa produção textual. Nesse movimento procuramos identificar, de acordo com cada uma das categorias, novos dados e leituras que podem ser depreendidas da materialidade que está à nossa frente. Este tipo de análise nos permitirá que façamos uma leitura-escrita que irá além da estrutura introdução, desenvolvimento, conclusão, seguindo diferentes caminhos para entender quais são os locais, tempos, conceitos, metodologias e bibliografias, destacando o seu caráter múltiplo.
Desse modo, seguindo essa proposta “às avessas”, poderemos transformar o texto de um fato/produto em um dado/movimento num processo de constante leitura-escrita que oferecerá novas interpretações e possibilidades de se criar conhecimento, tão almejado na Sociedade e na Universidade. Ter capacidade e disposição de fazer diferentes movimentos de observar e analisar um texto, é igualmente necessário para quem está iniciando seus estudos na área de linguagens, como para aqueles que já têm alguma experiência. Por isso, a dezescrita se mostra como uma possibilidade interessante de aprendermos reescrevendo e relendo aquilo que chega até nós num arquivo digital ou impresso.
Referências
BARZOTTO, Valdir; RIOLFI, Claudia R. Dezescrita. São Paulo: Paulistana, 2014.
PUH, Milan. Concepções de leitura entre o Oriente e Ocidente: Ensino de língua russa na Ásia Central. In: Riolfi, Cláudia; Barzotto, Valdir Heitor. (Org.). Leituras Errantes. 1ed.São Paulo: Paulistana, 2019, v. 1, p. 184-197.
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O QUE SÃO PARÁFRASE, CITAÇÃO DIRETA E INDIRETA?
1. Conceituando o tema
Na temática intitulada “O que é plágio?'', abordou-se sobre aquilo que não devemos fazer quando estamos escrevendo. Neste texto, será tratado sobre paráfrase, citação direta e indireta – que são as estratégias que devemos conhecer e saber usar para evitar o plágio. Para pensar sobre o tema de hoje, é preciso ter em mente que a produção de um texto envolve sempre outros textos. Não escrevemos partindo do nada. Não inauguramos, criamos as palavras para cada texto que produzimos. Quando escrevemos, temos que ler, buscar informações sobre tudo o que já foi dito. Nesse sentido, a citação, a referência a outro autor, a outro texto é uma forma elementar e necessária de construção da nossa escrita por meio da apropriação daquilo que foi dito. Entretanto, para fazer isso é preciso conhecimento, estratégia, criação para que o texto que produzimos não seja somente uma reprodução de tudo o que já dito. Quando escrevemos, precisamos dar a nossa parcela de contribuição para que a discussão em torno de um determinado tema contenha algo de novo, que seja realmente resultado da nossa criação.
A citação direta e indireta são formas de apropriação do texto do outro A paráfrase é a forma como essa apropriação é trabalhada. Ou seja, se as primeiras são formas de apropriação, a segunda é uma forma de gestão do texto do outro no nosso texto. Vamos a definição de cada um desses termos? A citação direta talvez seja a mais conhecida de todos nós, é a que temos mais certeza de como usar, uma vez que é a transcrição literal, tal e qual do texto de outro autor. Literal pode ser lido como citar igual, com as mesmas palavras. A citação indireta é mais complexa, deixa mais dúvidas porque é a citação da ideia, dos conceitos, mas não das palavras de forma literal. A paráfrase pode ser definida como um texto que reformula um texto anterior, mantendo com este uma relação de equivalência semântica. Por essas definições, você já deve ter concluído que a citação indireta tem maior relação com a paráfrase do que a citação direta.
Vamos então conhecer os cuidados que devemos ter com cada uma dessas modalidades de apropriação do discurso do outro? A citação direta exige cuidado com a gestão da palavra citada no que diz respeito ao recorte do texto citado. Isto é, quando vamos citar literalmente, temos que observar o tema, o que está sendo dito pelo autor. É muito importante ainda observar se o recorte que fazemos da citação não muda o sentido do que o autor de fato está dizendo. Se isso acontecer, estamos falseando, ou seja, dizendo que o autor disse algo que de fato não disse!
Existem dois tipos de citação direta: as curtas, com no máximo três linhas, que devem, quando usadas, ficar dentro do parágrafo do nosso texto, entre parênteses e com o mesmo tamanho da fonte que estamos usando; as longas, que possuem mais de três linhas e que devem ficar fora do parágrafo do nosso texto. Neste caso, o trecho transcrito é apresentado com a mesma fonte do nosso texto, mas em tamanho menor (geralmente 11 se o texto tem fonte tamanho 12), o espaço entre linhas é simples e há sempre um recuo (de 4 cm) em relação à margem esquerda. O recuo engloba todo o texto citado. Neste caso, não é necessário pôr o texto citado entre aspas ou em itálico. Tanto na citação curta como na longa, é preciso, no final, entre parênteses, pôr o nome do autor citado, o ano da obra e o número da página. Nome de autor é sempre o último, o sobrenome.
Já afirmamos aqui que a citação indireta é o uso da ideia de um autor, sem a transcrição literal de suas palavras. Afirmamos também que a paráfrase é a afirmação do sentido do texto do outro acrescida da nossa interpretação. Então, citar indiretamente pode ser compreendido como parafrasear. Existem modos para fazer isso, que são: a reformulação – quando apropriamos do conteúdo e não da forma textual, mas com sinais que marcam que as palavras/ideias que estamos usando não são nossas (segundo o autor X; o autor X afirma); a evocação – neste caso, fazemos alusão aos trabalhos de outros autores por meio da inserção no nosso texto de referências, mas sem resumir, definir uma ideia específica. Ou seja, é quando escrevemos sobre um tema considerando aquilo que já lemos em outros autores e damos os créditos pondo entre parênteses os nomes dos autores (GERALDI, 2005; KOCH, 1990); o empréstimo – que se trata da citação de uma palavra ou um sintagma (que geralmente é um conceito) do texto de outro autor; a hibridação – que é muito próxima do empréstimo, mas envolve também uma reformulação do texto do autor citado (DAUNAY, 2020).
O uso desses recursos de forma moderada ou em excesso define a modalidade do texto: se parafrástica ou metafrástica. A parafrástica excessiva é quando o produtor do texto assume completamente a palavra de outro autor e, com isso, essa palavra alheia passa a governar os sentidos do texto em que é inserida. Nesse processo de produção de paráfrase, quando muito colada na palavra do autor, a voz do produtor do texto perde força em decorrência da excessiva proximidade com a palavra outra. A metáfrase pode ser entendida como o resultado de um trabalho regulado de paráfrase, uma vez que podemos dizer que existe a metáfrase quando o produtor de um texto consegue, ao parafrasear, assumir a palavra alheia, dizendo com ela e por meio dela, mas mantendo a distância dessa palavra outra. Isso porque essa palavra não é incorporada pela via da fusão, mas pelo apagamento que dá lugar à palavra, a interpretação e compreensão daquele que escreve o texto. Em suma, embora seja um recurso legítimo, o excesso de paráfrase pode se tornar um problema, uma vez que faz do nosso texto uma colcha de retalhos, o que o aproxima muito perigosamente do plágio – que, conforme já vimos, pode ser direto ou indireto. Vamos agora ver exemplos desses recursos de construção da escrita a partir da citação, da referência a outros textos.
2. Exemplificando para fixar...
No Brasil, as citações são orientadas pelas normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas e Técnicas. Observar as normas da ABNT é fundamental para manter a padronização, para que todos reconheçam um modo de fazer as referências bibliográficas. Já pensou se cada pessoa que produz um texto inventasse a sua própria maneira de citar? Seria uma verdadeira babel, para não dizer uma bagunça! Entretanto, além da preocupação com as normas, temos que observar a importância e a razão de citar: quando recorremos a um autor na construção do nosso texto, queremos dar embasamento, credibilidade para o que estamos dizendo. Sendo assim, citar exige cuidado e responsabilidade.
As citações diretas e indiretas podem ser feitas a partir da consulta/leitura a vários tipos de fontes bibliográficas: sites, artigos, jornais, livros, teses, dissertações e monografias. Quando consultamos sites, jornais, blogs, é fundamental avaliar a credibilidade da fonte. Ou seja, o que está sendo dito nesses suportes é resultado de pesquisa, de uma reflexão séria? Não podemos citar, principalmente nos trabalhos acadêmicos e escolares, textos que não temos certeza sobre a seriedade e confiabilidade do seu conteúdo. Sempre que retiramos um texto de algum lugar/suporte, é preciso referenciar. Se isso não for feito, a citação passa a ser considerada plágio.
Conforme já dito no tópico anterior, a citação direta é a transcrição literal, cópia do texto de outro autor. Podemos fazer citação direta curta ou longa. A seguir, exemplo de citação longa e curta:
Citação curta: A prática discursiva nada mais é que um “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa” (FOUCAULT, 1997, p. 133).
Observe que, neste caso, a citação curta é inserida no parágrafo considerando o tema, a definição que se busca apresentar (a de prática discursiva). Nesse sentido, há uma relação de continuidade e complementaridade entre o texto do autor do parágrafo e o de Foucault. O tema do texto do autor que cita e do autor citado são os mesmos. Também a citação é usada para complementar, dar credibilidade ao autor que cita. Este assume uma relação de concordância em relação ao tema da citação.
Vejamos agora um exemplo de citação direta longa:
Nesse sentido, é importante considerar a posição ocupada pelo professor da educação básica no contexto das produções acadêmicas. Ribeiro (1997, p. 03) assinala que mesmo na universidade cada vez mais se restringem as condições de desenvolvimento da pesquisa e de produção das reflexões teóricas e, nesse processo de distinção, “o professor que ensina quase sempre não corresponde ao pesquisador - sujeito construtor do conhecimento”. A autora afirma ainda que:
Espera-se do professor [da educação básica], nesse contexto, um domínio do trabalho científico sem que se lhe exija o conhecimento da história da pesquisa, ou seja, sem que seja necessário o seu envolvimento com a produção do saber a ser transposto para a sala de aula. Por isso mesmo, no movimento de passagem do produto científico a conteúdo de ensino, normalmente silencia-se ou até mesmo ignora-se o movimento da produção científica: resulta que o que é produzido pela ciência como uma das possibilidades de compreensão do real, no processo de informação do conhecimento, transforma-se em verdade absoluta e eterna, apagando outras possibilidades de compreensão de um objeto (RIBEIRO, 1997, p. 3).
A hipótese assumida na discussão desenvolvida neste artigo é a de que, ao definir as condições de produção do trabalho de conclusão de curso, o Profletras retoma essa distinção entre aquele que produz conhecimento e aquele que ensina. Ou seja, ao se ver obrigado a produzir uma pesquisa na sua sala de aula e, principalmente, abordar um problema de ensino e oferecer uma resposta (da perspectiva do que ensinar para solucioná-lo), o professor da educação básica, aluno do Profletras, não consegue vencer as coerções advindas dessa distinção entre a posição pesquisador e posição professor (BARBOSA, 2020 – no prelo).
Neste caso da citação direta longa, embora esteja fora do parágrafo, dialoga com o que foi dito antes e depois. Esse entrelaçamento é de fundamental importância. Não se pode por uma citação solta dentro de um texto e esperar que o leitor sozinho estabeleça a relação. Por isso, além da preocupação com os aspectos de formatação (recuo em relação à margem, espaço simples e tamanho da fonte menor), é necessário citar considerando o tema do que está sendo dito e qual o papel da citação nesse contexto. No exemplo acima, o parágrafo que antecede a citação tem como tema a posição do professor da educação básica na universidade. A citação entra como uma voz de autoridade para confirmar o que foi dito anteriormente. Na sequência, o parágrafo que precede à citação é uma espécie de interpretação e assunção da posição do autor citado e, ao mesmo tempo, a afirmação da posição também assumida pelo autor que cita.
Com relação às citações indiretas, assumindo aqui que a citação é a apropriação e a paráfrase é o modo de gestão dessa palavra outra, temos os seguintes exemplos:
REFORMULAÇÃO:
Na perspectiva de Lucchesi (2006), trata-se, ainda, entre o PB e o PPB, de diferenças que polarizam duas realidades linguísticas constituídas historicamente: uma voltada para a identificação com a língua da metrópole, norma identificada com o lugar de status perseguido pelas elites no Brasil-Colônia; outra formada em processos de aquisição de uma língua estrangeira (o português falado no Brasil) aprendida na fase adulta pelos indígenas, mas, principalmente, pelos africanos escravizados em seu grande contingente populacional constituído por diferentes línguas de origem, num processo denominado pelo autor de transmissão linguística irregular (LUCCHESI, 2003).
No exemplo acima, Pietri (2018, p. 08), no artigo intitulado “O ensino do Português no Brasil: as desigualdades da distribuição linguística'', reformula o pensamento de Lucchesi sobre as diferenças entre o português brasileiro não ser único. É o conteúdo, as concepções que foram apropriadas por Pietri. Não há neste caso aspas, parênteses ou itálico para marcar palavras que porventura possam ter sido tomadas de Lucchesi. Há a referência em dois momentos e, principalmente, o uso do conectivo (na perspectiva de..) que indica a reformulação. Importante destacar que não é um mero ato de dizer o mesmo com outras palavras. Pietri assume o pensamento do autor citado, diz a partir das suas concepções, mas além de usar as próprias palavras, trabalha com os recursos linguísticos e interpreta, reorganiza o texto que está citando.
EVOCAÇÃO:
Parcelas da população que até então eram excluídas dos processos de escolarização chegaram à escola e, como demonstraram inúmeros trabalhos na área da sociologia e dos estudos da linguagem, vivenciaram o conflito com a cultura escolar e com a língua nela ensinada. A escola é então considerada, nas proposições acadêmicas, a principal agência de transformação social, num país em luta por sua democratização política (SOARES, 1986; BEISIEGEL, 2013; FREITAS, 2014).
No exemplo acima, Pietri (2018, p. 40) faz uma evocação a vários autores para abordar o tema da chegada à escola das populações excluídas. Neste caso, não há apresentação ou resumo do que cada autor diz ou compreende a respeito do tema. Essa estratégia também atesta que em um parágrafo estão sintetizadas várias perspectivas de abordagem do mesmo tema: a chegada dos excluídos à escola, as desigualdades linguísticas; a escola na perspectiva da produção acadêmica e a luta pela democratização do país. Observe que Pietri apresenta em um único parágrafo uma releitura bem articulada do que compreende sobre cada autor e, principalmente, sobre como o que cada um disse pode ser posto em uma perspectiva complementar para explicar a questão que está discutindo. A evocação exige de quem a usa o conhecimento sobre o tema lido, uma vez que não é uma repetição das ideias dos autores, mas uma leitura articulada de vários pensamentos sobre um tema. Essa leitura produz uma nova interpretação do mesmo tema.
EMPRÉSTIMO:
De uma outra perspectiva e numa crítica ao que lingüistas e pedagogos têm proposto como tratamento das variedades lingüísticas praticadas pelos estudantes no ensino fundamental e médio, Barzotto (2004) recusa o efeito de certas posições enunciativas marcadas pelos verbos “respeitar”, “valorizar” e “adequar”. Segundo o autor, essas posições enunciativas exemplificam bem as recomendações dos pesquisadores que tratam da questão.
No exemplo acima, Manuel Corrêa (2007, p.273), no artigo intitulado “Heterogeneidade da escrita: a novidade da adequação e a experiência do acontecimento”, apresenta um exemplo de empréstimo bastante interessante, uma vez que os verbos valorizar, adequar e respeitar, por si só, não caracterizam palavras que precisam ser aspeadas. Ou seja, não são conceitos. Passam a ser conceitos que precisam ser aspeados porque estão sendo considerados não pelo significado comum, dicionarizado, mas pelo sentido que Barzotto atribui a eles em seu texto. Nesse caso, Correia toma de empréstimo não os verbos genéricos, que podem ser usados por todo e qualquer falante da língua portuguesa, mas aqueles que tem autoria porque foram circunscritos dentro de uma temática de um texto e a partir de uma concepção específica.
HIBRIDAÇÃO:
Nesse sentido, “um texto como acontecimento a ler” não é nem a matéria gráfica ou sonora nem o suporte em que elas se inscrevem; não se reduz, portanto, a esses corpos. Cabe à memória discursiva o acesso à materialidade dos acontecimentos, que é a do sentido, guardada nos “‘implícitos’ de que sua leitura necessita” (op. cit., p. 52).
No exemplo acima, Correia Correa (2007, p. 284) recorre à hibridação porque mescla suas palavras com as palavras de Pêcheux, referenciado com o “op. cit., p. 52”, porque já tinha sido devidamente referenciado imediatamente antes dessa citação. É hibridação neste caso porque há o empréstimo das palavras de Pêcheux (que estão marcadas com aspas). Estas se mesclam, misturam com as próprias palavras de Corrêa. Isso faz com a discussão desenvolvida, principalmente no parágrafo em que foi retirado o fragmento, esteja fortemente ancorada nas ideias do autor citado. Ao mesmo tempo, há um jogo de interpretação, reformulação e manutenção das palavras próprias e alheias.
3. Pondo a mão na massa
Acreditamos que os tópicos anteriores deram uma breve dimensão para vocês sobre a importância de saber usar os modos de citação (principalmente a indireta que é mais complexa) e, com base nisso, saber parafrasear, mas sem produzir uma colagem no texto citado que leve à aproximação do plágio. Vamos então pôr a mão na massa? Escrever para saber como se faz?
Parafraseie os parágrafos a seguir usando a reformulação como modo de reescrita da palavra do outro.
O sistema educacional, fruto de um processo histórico, configura-se no bojo das relações sociais e de produção, que dividiram e ainda dividem a sociedade em grupos econômicos distintos e, ainda mais, estabelece uma relação entre classes sociais antagônicas.
Segundo PONCE (2005), o sistema educacional constituiu-se a partir do momento em que a sociedade se estruturou em classes sociais antagônicas, com o fim da chamada sociedade primitiva. Os interesses e as necessidades da classe social dominante passaram a delimitar o campo da Educação na medida em que passou a servir para a dominação social de poucos sobre muitos. O referido autor, ao analisar a gênese da escola, entende que esta instituição surgiu a partir do fato de que a dominação militar e política não surtiam mais os efeitos desejados em uma sociedade, que se tornava cada vez mais complexa e multifacetada. Sendo assim, a necessidade de se construir um aparato de dominação ideológica e intelectual encontrou, na escola e no sistema educacional em geral, seu ponto de apoio (GUZZO e FILHO, 2005).
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-98432005000200005. Acesso: 06/01/2021.
2. Parafraseie os parágrafos a seguir usando a evocação como modo de reescrita da palavra do outro.
Assim, identificar o nível de desigualdade das condições educacionais dos estudantes brasileiros é importante, pois contextualiza o grau em que as políticas públicas estão contribuindo para a universalização das oportunidades educacionais, em termos de acesso e de qualidade. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é identificar as desigualdades de acesso em cada nível de ensino da Educação Básica (creche, pré-escola, ensino fundamental e ensino médio), bem como os dois indicadores que integram o conceito de qualidade: desempenho e fluxo escolar (MUYLAERT, 2019, p. 85).
Disponível em: http://www.saece.com.ar/relec/revistas/15/art5.pdf. Acesso em: 06/01/2021).
A palavra crise, quando esta se refere ao contexto das políticas educacionais, não é unanimidade entre as pessoas. Ela ganha espaço de acordo com a concepção que se adota sobre o assunto, sobre a função das instituições educacionais e suas potencialidades. Afinal, se considerarmos que o Estado não tem responsabilidade sobre a Educação e que, sua finalidade deve ser mercantilista e de preparação para o mercado, não caberia aqui a utilização deste termo. Neste sentido, a compreensão do quadro atual remete, portanto, a uma leitura referenciada por determinada opção ético – política (GUZZO e FILHO, 2005).
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-98432005000200005. Acesso: 06/01/2021.
3. Parafraseie o parágrafo a seguir usando o empréstimo como modo de reescrita da palavra do outro.
A palavra crise, quando esta se refere ao contexto das políticas educacionais, não é unanimidade entre as pessoas. Ela ganha espaço de acordo com a concepção que se adota sobre o assunto, sobre a função das instituições educacionais e suas potencialidades. Afinal, se considerarmos que o Estado não tem responsabilidade sobre a Educação e que, sua finalidade deve ser mercantilista e de preparação para o mercado, não caberia aqui a utilização deste termo. Neste sentido, a compreensão do quadro atual remete, portanto, a uma leitura referenciada por determinada opção ético – política (GUZZO e FILHO, 2005).
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-98432005000200005. Acesso: 06/01/2021.
4. Parafraseie o parágrafo a seguir usando a hibridação como modo de reescrita da palavra do outro.
A Educação emancipadora, no entanto, não é tarefa apenas de professores. Ela se constitui em um processo coletivo que assume como norte, a reflexão acerca da necessidade e da possibilidade de a população oprimida despertar para as tarefas necessárias para a modificação da estrutura social vigente. A proposta de Educação Emancipadora, engloba alunos, professores ou quaisquer outras pessoas que optem pela transformação social, que entendam a sociedade sob a perspectiva das tensões expressas pela desigualdade social (GUZZO e FILHO, 2005).
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-98432005000200005. Acesso: 06/01/2021.
Referências
DAUNAY, Bertrand. Metáfrase e paráfrase: modalidades de apropriação do discurso de outrem na escrita acadêmica. Linguagem em (Dis)curso, Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina, 2020, 20 (2), pp.363-380.
FOUCAULT, M. (1969). A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
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FAKE NEWS
1. Conceituando o tema
Fake News - notícias falsas em português - é um termo que está muito presente no cotidiano das mídias, das redes sociais nos últimos tempos. A popularidade desse termo decorre de uma das principais características da sociedade contemporânea: a grande expansão das tecnologias da comunicação da informação (TIC). Vivemos conectados a redes, mídias impressas e eletrônicas, blogs etc. Essa conexão ocorre também de maneira diversificada, mas principalmente pelo celular, um aparelho que se transformou em uma espécie de coringa, uma vez que por meio dele é possível acessar os mais diversos espaços digitais. Acesso esse sempre individualizado, personalizado pelo próprio modo de funcionamento das TIC.
Cabe destacar que a notícia falsa, embora tenha se tornado um fato característico do século XXI, não é uma prática nova. Estudos desenvolvidos por historiadores apontam que a Fake News é uma prática que remonta há vários séculos. Robert Darnton, em entrevista dada ao Jornal Folha de São Paulo em 19/02/17, afirma que sempre existiram. Para esse historiador:
Procópio foi um historiador bizantino do século 6 famoso por escrever a história do império de Justiniano. Mas ele também escreveu um texto secreto, chamado "Anekdota", e ali ele espalhou "fake news", arruinando completamente a reputação do imperador Justiniano e de outros. Era bem similar ao que aconteceu na campanha eleitoral americana.
Nos dias atuais, esse fenômeno ganhou força em decorrência dos meios usados para a sua divulgação. Além disso, a Fake News se propaga, ganha lastro na desinformação. Também ganha espaço em decorrência da característica de um certo tipo de leitor: aquele que lê somente chamadas, compartilha textos nas suas redes pelo mero gesto de compartilhar, não porque leu e entendeu o que está compartilhando. Soma-se a isso a velocidade na produção de informação, a fragmentação. Tudo isso prejudica a nossa capacidade de analisar, processar o volume de informação recebido;
A Fake News tem como principal característica o exagero, o boato, a mentira. Muitas vezes é produzida por personalidades do mundo político que deveriam adotar posição de confiabilidade. A mistura entre personalidade de poder e a produção de Fake News cria uma combinação emblemática, uma vez que confunde a população. Confunde porque nasce de fontes que em tese deveriam emanar confiabilidade. Há os casos em que as mesmas personalidades afirmam que as notícias credíveis são falsas. É o que apontam Monteiro (et.al, 2018), da Agência de Notícias da Universidade de São Paulo (USP), quando afirmam que, “Para Trump, as mudanças climáticas são uma mentira prejudicial à economia americana. A relação dele com o assunto é similar com aquilo que ele chama de Fake News, ou seja, “notícias falsas”.
Nesse jogo de verdades que se transformam em mentiras e mentiras que se transformam em verdades, você deve estar se perguntando sobre a relação da Fake News com a leitura e escrita na universidade e na escola. Ler, pesquisar para escrever são práticas comuns nos espaços educacionais. Soma-se a isso o fato de que as pesquisas na internet ganharam papel preponderante nessas práticas escolares e acadêmicas. Há um grande volume de artigos, livros, sites de divulgação científica, bibliotecas online que podem ser usadas como fonte de leitura, estudos e pesquisas. Esse acesso amplo é muito bom, mas exige cuidados quando recorremos a eles ou a produções textuais que fazem uso deles.
As notícias falsas se aproximam dos espaços educacionais por meio do discurso da divulgação científica – que nada mais é do que o movimento que busca popularizar, tornar acessíveis os conhecimentos produzidos no campo da ciência. Nos dias atuais, essa divulgação da ciência também ganhou força nas redes sociais, por meio de matérias jornalísticas. Monteiro (et.al, 2018) afirmam que “[...] as informações científicas são algumas das que sofrem maior impacto no mundo digital. As ciências são amplamente atingidas por contar com informações de interesse público — e político — e também por depender de pesquisas, teses e análises científicas”. O entrelaçamento entre divulgação científica e jornalismo cria uma certa opacidade quando isso é atravessado pela prática da Fake News.
Ao pensarmos o caso de uma ciência levada a cabo em uma sociedade fortemente afetada pelas tecnologias digitais, enfocando a participação dos sujeitos-usuários enquanto produtores de conteúdo para a rede, percebemos que o processo de divulgação não é unidirecional. Na verdade, ele é circular, na medida em que o trabalho da ciência é metaforizado em informação a ser “transmitida” ao público, que poderá emitir, em rede, opiniões baseadas em informações-tornadas-conhecimento (LACERDA e Di RAIMO, 2019, p. 184).
Ao fazer essa afirmação, não estamos reduzindo o discurso de divulgação científica à Fake News, mas afirmando que esta se aproveita da roupagem daquele para se apresentar em espaços que podem ser usados por alunos para pesquisar, para ler sobre determinados temas. Nesse sentido, essa situação exige cuidado porque, muitas vezes, informações e conhecimentos comprovados cientificamente são utilizados como roupagem para divulgação de Fake News, conforme demonstra matéria da agência universitária de notícias da Universidade de São Paulo:
No início deste ano, por exemplo, circulou na internet a notícia de que o Brasil teria o inverno mais frio dos últimos cem anos por causa da atuação do La Niña, fenômeno de resfriamento das águas do Oceano Pacífico. De acordo com os meteorologistas, de fato, este ano o evento La Niña vai acontecer e terá forte atuação no que diz respeito às temperaturas baixas do inverno brasileiro, mas não se pode afirmar com certeza — e com a precisão que a ciência exige — que este será o inverno mais frio dos últimos 100, 200 ou 300 anos (MONTEIRO, et.al, 2018).
Neste caso, o La Niña existe e é comprovado cientificamente por estudiosos dos eventos climáticos. Logo, tem credibilidade quando está vinculado a uma informação sobre o seu comportamento. O problema está na notícia que se vincula a ele. São típicos casos de notícias que exigem cuidados àqueles relacionados ao movimento antivacina, o que nega a ida do homem à lua e o que afirma que o coronavírus é uma invenção chinesa ou da imprensa. A educação, o conhecimento, a informação credível são de fato os maiores antídotos para combater a mentira. Para isso, para quem está na escola ou universidade, assumir a posição de leitor atento, curioso e, principalmente, que questiona o lido é de fundamental importância. Para isso, há caminhos, roteiros produzidos por projetos que visam combater a Fake News.
2. Exemplificando para fixar...
Os autores do Projeto Desordem da Informação afirmam, baseados nos jornalistas Claire Wardle e Hossein Derakhshan, que “o termo ‘notícia falsa’ é inadequado para descrever o fenômeno da produção, difusão e consumo de uma gama variada de informações que podem ser comparadas à poluição”. Isso se dá exatamente por causa do uso insidioso de conteúdos científicos, políticos, religiosos, literários com o objetivo de fazer valer um ponto de vista, uma visão polarizada. A insistência de que a Cloroquina pode ser usada para tratar o coronavírus é um típico exemplo dessa desordem. Para os autores do projeto, existe um ecossistema que vai muito além do mero ato de contar uma mentira na forma de notícia ou usando um conteúdo credível. Tais artimanhas estão exemplificadas no quadro a seguir:
Disponível em: https://www.manualdacredibilidade.com.br/desinformacao.
Esse quadro dá uma dimensão maior da complexidade desse tema. Existem várias possibilidades de nos depararmos com um conteúdo falso. Há vários modos de manipular o conhecimento e a informação. Diante disso, várias iniciativas têm surgido no sentido de orientar o leitor sobre como não cair nas armadilhas da pós-verdade [1]. O site SAE digital (https://sae.digital/o-que-e-fake-news/), baseado numa lista adaptada do Guia de Checagem de Fatos do Instituto Poynter (https://www.poynter.org/news/), apresenta um roteiro básico e prático para verificação de fake news:
1. Verifique os detalhes do endereço web do site.
2. Olhe a seção “Sobre nós”, geralmente sites confiáveis têm informações de contato dos autores e das redes sociais.
3. Confira se os perfis das redes sociais são verificados (se possuem o “tique-azul”).
4. Veja sempre a fonte primária da notícia (links, referências…).
5. Procure confirmar a informação em outras mídias.
6. Confira sempre a data e a localização das publicações para verificar se não são republicações de notícias ou boatos que já circularam anteriormente.
7. Não saia compartilhando o conteúdo sem pensar (verifique antes sua veracidade).
Esse roteiro pode ser aplicado inclusive nas pesquisas de materiais que podem ser usados como referências bibliográficas para estudos e pesquisas. Não é qualquer texto, nem toda e qualquer referência que vale para a fundamentar o seu texto. No blog tecnológico (2018), que aborda a questão da Fake News na universidade, há três passos que podem ser adicionados aos que foram listados acima. São eles:
a) “Um site bem elaborado, com boa apresentação, nem sempre é uma referência concreta do assunto pesquisado;
b) Os blogs podem, de uma forma geral, possuir a opinião do blogueiro que a escreveu, e não exatamente a veracidade sobre o assunto;
c) Pesquisar o assunto em mais de um site, aproximadamente 3 sites, faz com que a persistência daquela notícia comece a aparecer duvidosa”
Lembre-se, a leitura e escrita, na escola e na universidade, precisam ser ancoradas em referências sérias, credíveis! Por isso, o roteiro produzido pelo Diretório Acadêmico de Gestão da Informação da UFPE traz outros aspectos que são relevantes para quem usa a internet como meio de pesquisa e estudos. São dicas que orientam inclusive a considerar aspectos do texto que está sendo lido. São eles:
Avalie a fonte, o site, o autor do conteúdo: muitos sites publicadores de fake News têm nomes parecidos com endereços de sites de notícias. Portanto, avalie o endereço e verifique se o site é confiável, missão. Também veja se outros conteúdos do site também são duvidosos.
Avalie a estrutura do texto: site que divulgam fake News costuma apresentar erros de português, de formatação, letras em caixa alta e uso exagerado de pontuação.
Preste atenção na data da publicação: veja se a notícia ainda é relevante e está atualizada.
Leia mais que só o título e o subtítulo: leia a notícia até o fim. Muitas vezes, o título e o subtítulo não condizem com o texto.
Pesquise em outros sites de conteúdo: duvide se você receber uma notícia bombástica que não esteja em outros sites de notícia.
Veja se não se trata de site de piadas: alguns sites de humor usam da ironia para fazer piada.
Só compartilhe após checar se a informação é correta: não compartilhe conteúdo por impulso. Você é responsável pelo o que você compartilha.
Os três roteiros apresentados aqui se complementam e/ou reafirmam a necessidade de cuidados quando se trata de pesquisar e estudar usando a rede mundial de informação – a famosa internet. Você precisa ter em mente que o conteúdo falso engloba a mentira, a distorção, o falseamento, a omissão, dentre outros.
3. Pondo a mão na massa
Com base nos roteiros mencionados e considerando o exposto no quadro sobre o ecossistema da desinformação, procure identificar em textos publicados na internet as seguintes situações: “falsa conexão; falso contexto e manipulação do conteúdo”. Após, pense se essas situações, em grau atenuado, podem também ser encontradas em produções escolares e acadêmicas, naqueles trabalhos que os professores pedem para que os alunos façam para avaliação.
Referências
DARNTON, Robert. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859726-noticias-falsas-existem-desde-o-seculo-6-afirma-historiador-robert-darnton.shtml>. Acesso em: 24/01/21.
LACERDA, Gustavo Haiden; DI RAIMO, Luciana Cristina Ferreira Dias. “SE TÁ NA INTERNET É VERDADE”: ANÁLISE DISCURSIVA DE FAKE NEWS SOBRE SAÚDE E ESTÉTICA. Disponível em: <file:///C:/Users/marin/Dropbox/26960-Texto%20do%20artigo-82808-2-10-20191213.pdf >. Acesso em: 24/01/21.
MONTEIRO, Carla (et. Al. Fake news e os impactos na divulgação científica. Disponível em: <https://paineira.usp.br/aun/index.php/2018/09/27/fake-news-e-os-impactos-na-divulgacao-cientifica/>. Acesso em: 24/01/21.
Como identificar Fake News?. Diretório Acadêmico de Gestão da Informação, 2020. Disponível em: < https://sites.ufpe.br/dagi/2020/07/05/como-identificar-fake-news/ >. Acesso em: 24/01/2021
Fake News no meio acadêmico. Blog Tecnológico, 2018. Disponível em: < https://www.eng.com.br/artigo.cfm?id=6249 >. Acesso em: 24/01/2021
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[1] “[Adjetivo] Relativo ou denotativo de circunstâncias em que os fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que atrai a emoção e a crença pessoal. "Nessa era da política da pós-verdade, é fácil escolher dados aleatórios e chega a qualquer conclusão desejada. "Alguns comentadores observam que vivemos numa era da pós-verdade." Disponível em: https://www.manualdacredibilidade.com.br/conceitos Acesso: 24/01/2021.
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O QUE É PLÁGIO?
1. Conceituando o tema
A escrita de resumos, artigos, trabalhos de conclusão de cursos, dissertações, dentre outros é sempre feita por alguém. Escrever consiste em um modo de trabalhar com a língua a partir do conhecimento que se tem sobre um determinado tema. Logo, uma produção textual tem sempre um responsável por ela, o autor.
Tendo um autor, o texto é sempre uma originalidade. Afirmar a originalidade do texto não implica dizer que a cada texto precisamos dizer o absolutamente novo, o que ainda não foi dito por ninguém. Isso seria o texto inédito! A linguagem nem possibilita o ineditismo de um texto porque é sempre carregada sentidos e valores que são construídos a partir dos usos que fazemos dela. O que se espera em termos de originalidade é um texto que não seja mera reprodução de outros textos.
A originalidade o autor de um texto consegue a partir do modo como organiza a linguagem e, principalmente, do como consegue apresentar uma interpretação própria, marcada pela visão de mundo, ideologias e crenças que possui. É impossível que duas pessoas diferentes, mesmo escrevendo sobre um mesmo tema, consigam produzir um texto com as mesmas interpretações, com as palavras, frases, orações e períodos organizados de forma idêntica.
Além disso, o reconhecimento da existência do autor de um texto e deste como o resultado de um trabalho com a linguagem é também uma forma de respeito. É um ato ético, uma vez que entende que o texto e o conhecimento produzido por ele não é uma terra de ninguém em que qualquer um pode se apossar.
Nesse sentido, o plágio se define exatamente pelo fato de ser aquele que se apossa, furta o texto do outro e se autodefine como autor daquilo que não escreveu. O plagiário é uma fraude, uma vez que assume a posição de autor a partir de algo que não produziu. Plagiar é o ato de apresentar como seu (trabalho intelectual de outrem). Imitar obra alheia. De acordo com Kirkpatrick (2001, p. 01):
Um trabalho plagiado é fácil de reconhecer por não indicar claramente os empréstimos. Ele é cheio de fatos, observações e ideias que o escritor não poderia ter desenvolvido sozinho e é escrito num estilo diferente. Os escritores experientes, tanto quanto os plagiadores, se baseiam em outros escritores; eles sabem que suas ideias são geradas no contexto das ideias dos outros. Por uma questão de honra, eles indicam seus débitos para com outros escritores e, ao fazê-lo, indicam mais claramente sua própria contribuição original.
Existem muitos tipos de plágio. Aqui vamos apresentar três tipos, que consideramos ser os mais comuns. São eles: o plágio direto; plágio indireto e plágio da internet. O plágio direto é a cópia literal do texto de outro e não apresenta as indicações sobre o autor, ano e página de onde foi retirada a parte do texto. No plágio indireto, muitas vezes o texto original é reescrito com as palavras próprias do redator, mas sem a citação da fonte de onde as ideias foram retiradas. O plágio da internet pode ser caracterizado como a cópia de textos de blogs, Wikipedia, sites em geral sem citar a fonte (KROKOSCZ, 2012).
Enfim, a prática do plágio, em qualquer um dos tipos mencionados, coloca em descrédito a produção de qualquer um que a ele recorra. O plagiário, como já dito, é uma fraude porque além de roubar a palavra do outro, apresenta um atestado falso de aprendizagem. Isso porque a produção de texto na escola ou na universidade é uma forma de atestar conhecimento sobre um determinado tema.
2. Exemplificando para fixar...
O plágio direto;
Neste caso, a produção dos alunos, ainda no primeiro período do curso, é completamente colada ao texto lido. Texto esse que foi oferecido pelo professor da disciplina, o que permite a conclusão de que o aluno sequer sabia que estava praticando o plágio. Este, quando é um ato consciente, geralmente é seguido de artimanhas para camuflá-lo. O plágio indireto;
Neste caso, o plágio se dá porque o aluno faz uma espécie de colcha de retalhos com as ideias de vários autores. Mesmo citando-os, há uma repetição de ideias e conceitos que transformam o texto numa paráfrase mal ajambrada – ou seja, mal articulada e que, de fato, é a repetição literal de conceitos e palavras dos autores.
O plágio indireto;
Neste caso, o plágio se dá porque o aluno faz uma espécie de colcha de retalhos com as ideias de vários autores. Mesmo citando-os, há uma repetição de ideias e conceitos que transformam o texto numa paráfrase mal ajambrada – ou seja, mal articulada e que, de fato, é a repetição literal de conceitos e palavras dos autores.
Plágio da internet;
Neste caso, o aluno buscou o texto na internet e procurou realizar pequenas modificações para transformá-lo em algo próprio. Neste caso, quando questionado, o responsável por essa produção justificou o ato com a falta de tempo para cumprir todas as exigências do curso. Ou seja, a falta de tempo, por ser um aluno que trabalha e estuda à noite, para conciliar as exigências acadêmicas e profissionais.
3. Pondo a mão na massa...
Aprender a usar as referências bibliográficas é uma das coisas mais importantes que você precisa aprender para evitar o plágio. Para tanto, você precisa várias possibilidades de manuseio da palavra do outro. Para isso, sugerimos que faça uma pesquisa e busque exemplos de: citação direta; citação indireta; paráfrase e resumo.
Referências
KIRKPATRICK, Ken. Evitando Plágio. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/352423/mod_resource/content/1/O%20que%20%C3%A9%20pl%C3%A1gio.pdf >. Acesso em 04/11/2020.
KROKOSCZ, M. Autoria e plágio. São Paulo: Editora Atlas, 2012.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
1. Conceituando o tema
Por mais que já seja do conhecimento de todos que o gênero dissertativo argumentativo se faz muito presente quando o assunto é vestibular, é importante saber que ele não é uma exclusividade do Exame Nacional do Ensino Médio. Outros vestibulares também fazem uso desse gênero para avaliar a criticidade dos candidatos que pretendem ocupar alguma vaga em suas universidades, o que faz dele uma construção textual bastante explorada. Contudo, se realizando em um vestibular à nível federal, esse gênero possui uma especificidade de grande peso e que está diretamente, mas não unicamente, ligada à competência da conclusão (Competência 5): a proposta de intervenção.
A proposta de intervenção pode ser definida como uma iniciativa do vestibulando que busca enfrentar e/ou solucionar o problema apresentado pelo tema da redação. Levando em consideração que os temas escolhidos para cada edição do ENEM são sempre temas sociais bastante complexos e polêmicos, diferentes formas de intervenção serão consideradas para a avaliação, desde uma sugestão de combate até uma solução efetiva da questão em foco. Para isso, é importante que uma estrutura de intervenção seja facilmente identificada na escrita do candidato, pois explicita a intenção do autor de propor uma iniciativa que interfira no problema. É o caso, por exemplo, do verbo modalizador “dever” (Ex. “O Ministério da Educação deve ... ”) ou de algumas construções com o verbo “ser” + adjetivo, como “é necessário”, “é preciso”, “é importante” etc. Mas, também é preciso tomar cuidado com construções que, mesmo utilizando o verbo “dever” e outras estruturas próximas às citadas, não expressam intenção de intervenção, mas apenas uma constatação com base em algo já posto, como em “De acordo com o pensamento de Thomas Hobbes, o Estado deve garantir o bem-estar de todos”.
Outra questão muito relevante de se tratar é a ideia da distribuição dessa proposta de intervenção durante a escrita da redação do Enem. Por mais que muitos aproximem a proposta de intervenção unicamente à conclusão, por conta da ideia de conclusão-solução exigida pelo ENEM, ela pode facilmente compor a introdução e a argumentação (parágrafos 2 e 3) da redação, aparecendo de forma diluída e não concentrada apenas no parágrafo conclusivo.
Um importante ponto a ser considerado é a forma de avaliação dessa Competência, o que muitas vezes pode confundir os candidatos. Na tentativa de somar altos pontos, alguns estudantes acabam criando listas numerosas de propostas de intervenção e anexando à redação, mas o problema está justamente aí, pois a análise da proposta de intervenção é feita de modo qualitativo e não quantitativo, ou seja, vale mais a qualidade e completitude de uma única proposta do que a listagem de várias propostas sem aprofundamento. Portanto, os níveis de nota nessa Competência devem ser atribuídos em função da qualidade do que é elaborado, avaliado pela contagem de elementos – valendo 40 pontos cada um – e não em função da quantidade de propostas. Caso um texto apresente mais de uma proposta, apenas a mais completa delas deve ser avaliada.
Assim, chega-se a um ponto crucial da proposta de intervenção, que são os elementos que a compõe. Para tornar mais clara a pretensão do estudante e provar a aplicabilidade da proposta, é importante que esses 5 elementos apareçam na proposta de intervenção: ação, agente, modo/meio, finalidade e detalhamento. A ação é o elemento essencial que se liga ao agente, o responsável indiciado para realizar a ação, bem como ao modo/meio de execução dessa ação e ao efeito pretendido – ou já alcançado – pela proposta. Além disso, é necessário fazer um detalhamento de algum desses elementos anteriores. Caso uma proposta repita algum desses elementos, ele deve ser contabilizado apenas uma vez.
Portanto, já que a concretude de uma proposta de intervenção está ancorada na presença e articulação desses elementos, é válido observar cada um deles mais de perto. A ação é o elemento que diz respeito à ação prática apontada pelo participante como necessária para a solução do problema apresentado pelo tema e é a partir dela que os demais elementos se organizam. A pergunta a ser respondida para definir a ação é “O que deve ser feito?”. No que se refere à avaliação, esse elemento equivale a 1 elemento válido se tiver caráter interventivo, caso contrário, quando colocado de forma genérica, será considerado “elemento nulo”. Vale lembrar que, por conta do teor contextual da redação do ENEM, a definição de quais ações são válidas e quais são genéricas dependerá do tema para o qual se está escrevendo, de modo que alguns admitem determinadas ações e outros não.
O agente é o elemento que identifica o ator social apontado para executar a ação que se propõe. Para determinar o agente, o participante deve considerar o problema abordado pelo tema e a ação apresentada. Apesar de os atores sociais variarem em função do tema e do problema, eles se enquadram em determinados níveis de ação: individual, familiar, comunitário, social, político, governamental e mundial. A pergunta a ser respondida para identificar o agente da ação proposta é “Quem executa?”. Vale lembrar que o agente não precisa necessariamente estar antes da ação ou em posição sintática já conhecida, pois o mais relevante são os aspectos semânticos que fazem dele o agente. No que se refere à avaliação, esse elemento também equivale a 1 elemento válido independentemente de quantos ou quais sejam listados e, caso apareça de forma não precisa para identificação do ator social (Ex. ninguém, alguém. alguns, outros, vocês), ele deve ser considerado “elemento nulo”. Aqui valem duas informações importantes: a) deve-se considerar “todos”, “as pessoas” e “nós” como se considera “a sociedade”, como um ator social preciso e, por isso, elemento válido e b) em 2019, o pronome “nós” e o uso da desinência verbal de 1ª pessoa do plural (sujeito oculto) passam a ser considerados elementos válidos na identificação do agente.
O modo ou meio é a maneira e/ou os recursos pelos quais a ação é realizada. Esse elemento dialoga com a exequibilidade da ação, características indispensáveis à proposta de intervenção para que a torne realmente cabível. A pergunta a ser respondida para identificar o modo/meio apontado é “Como se executa/Por meio do quê?”. No que se refere à avaliação, o modo/meio equivale a 1 elemento válido e não existe modo/meio considerado elemento nulo. Porém, o que pode acontecer é a utilização de construções indicativas da postura que se adota diante de uma determinada ação. Nesse caso, não serão consideradas modo/meio pois, embora expresse circunstâncias, não se relaciona à execução prática da ação e, consequentemente, não é contabilizada como um elemento.
Já o efeito é o elemento que corresponde aos resultados pretendidos ou alcançados pela ação proposta. Ele pode vir expresso por meio de uma estrutura indicativa de finalidade, consequência ou conclusão. A pergunta a ser respondida para identificar esse elemento é “Para quê?”. No que se refere à avaliação, esse elemento equivale a 1 elemento válido e, tal como o modo/meio, não há efeito considerado elemento nulo. É importante salientar que a posição desse elemento pode variar bastante, iniciando o parágrafo de conclusão com teor de finalidade ou encerrando-o com teor de consequência e conclusão. Por conta dessas possibilidades sintáticas, cabe também destacar que um mesmo efeito pode servir a várias propostas de intervenção. O avaliador deve estar atento para verificar se, mesmo estando estruturalmente distante da proposta considerada mais completa (em outro período ou até parágrafo), o efeito não está semanticamente relacionado a ela, contabilizando na competência.
Por fim, o detalhamento é o elemento que acrescenta informações à ação, ao agente, ao modo/meio ou ao efeito. Ele tem papel fundamental para uma formulação mais concreta e mais elaborada da proposta de intervenção, bem como os demais elementos, o que o coloca em posição de mesma importância com os supracitados. A pergunta a ser respondida para identificar o detalhamento é: “Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo participante?”. Uma situação a ser considerada é o detalhamento para alguma ação ou para algum agente nulo: nessa situação, os elementos agente e/ou ação são nulos, não inexistentes, o que faz com que o detalhamento possa sim existir e ainda possa ser contabilizado. No objetivo de detalhar devidamente, temos de nos atentar para o aspecto semântico de cada elemento, o que faz do detalhamento da ação, do agente e do modo/meio diferente do detalhamento da finalidade. Quando identificamos um detalhamento para ação, agente e/ou modo/meio, é preciso delimitá-lo como algo além do elemento a que está ligado, ou seja, uma informação a mais. Já para a identificação do detalhamento do efeito, admite-se apenas o desdobramento do efeito, ou seja, uma ampliação explícita do primeiro efeito. O participante deve deixar muito claro que se trata de um efeito do efeito e não de apenas mais um efeito independente.
Antes de passarmos para a exemplificação de cada um desses elementos, é sempre muito importante relembrar e reafirmar que toda a construção da sua proposta de intervenção, bem como a construção textual integral da sua redação, possui um peso muito grande no que se refere a estar de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Uma vez que se trata do momento em que seus ideais pessoais serão levados à nível social, é obrigatório considerar todos os envolvidos nessa proposta e aplicar um filtro que reconheça possíveis individualidades e egocentrismos como integrantes da sua escrita, a fim de eliminá-los antes mesmo de passá-los para o papel e, assim, preservar os direitos de todos.
2. Exemplificando para fixar...
Após compreender um pouco mais sobre a proposta de intervenção e os elementos essenciais para sua composição de qualidade, é interessante observar exemplos de cada um desses elementos funcionando dentro de uma redação do ENEM, para que se tornem mais claros em sentido e em estrutura.
Primeiramente, como exemplos de ações propostas, podemos analisar estes três trechos retirados de uma redação que fazem uso, respectivamente, da estrutura verbo modalizador “dever”, da estrutura “ser” + adjetivo e de uma ação considerada elemento nulo em função da generalidade.
Como exemplos de agentes, podemos analisar os trechos abaixo que apresentam agentes que se enquadram nos agentes governamental, social e nulo, nessa ordem.
Como exemplos de modo/meio, podemos analisar os trechos a seguir que trazem colocações bastante claras sobre como o elemento deve ser desenvolvido durante a escrita e, também, como não devem aparecer na redação a fim de não se tornarem inválidos, respectivamente.
Além disso, também é importante prestar atenção em construções que se parecem com o elemento modo/meio, mas na realidade se tratam apenas de mais um agente em conjunto, como é o caso desse exemplo em que a frase 1 faz uso de um duplo agente e a frase 2 apresenta uma indicação de como efetuar a ação proposta.
Já como exemplos de efeito, é possível analisar estes exemplos que trazem esse elemento posicionado de formas semanticamente distintas, estando no início da conclusão com uma ideia de finalidade, no final da conclusão com uma ideia de consequência e conclusão e se referindo a mais de uma ação proposta.
Por fim, como exemplos de detalhamento, podemos analisar os trechos abaixo que abordam casos de detalhamento de ação, agente, modo/meio e efeito, respectivamente, atendendo e respeitando as especificidades de cada qual. Notem que, diferente do que muitos acreditam, o elemento detalhamento não se prende exclusivamente à exemplificação, podendo abranger estruturas que especificam, justificam e desdobram o elemento anterior.
3. Pondo a mão na massa ...
Agora, para fixar o conteúdo desenvolvido até o momento e para que vocês possam tomar familiaridade com a construção de uma proposta de intervenção que realmente faça uso destes 5 elementos, temos um desafio para vocês: com base no primeiro tema proposto e algumas sugestões de elementos retiradas de duas redações nota 1000 da edição do ENEM 2019 (autores: Daniel Gomes e Augusto Scapini), ordene-os de forma a produzir uma proposta de intervenção que abarque ação, agente, modo/meio, efeito e detalhamento. Após isso, passe para o segundo tema proposto e, de forma independente, produza outra proposta de intervenção completa e merecedora da nota máxima (200 pontos) na Competência 5.
1º tema: Democratização do acesso ao cinema no Brasil (2019)
Sugestões de elementos:
- Ações = lançamento de plano nacional / acesso ao conhecimento e lazer
- Agentes = MEC / Ministério da Cultura
- Modos/meios = instalação de cinemas públicos nas periferias / debate amplo
- Efeitos = aumentar usuários do cinema / erradicar a alienação e insuficiência intelectual
- Detalhamentos = ingressos com preços acessíveis / percentual de ingressos à comunidade de baixa renda
2º tema: Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil (2017)
Referências
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). MATERIAL DE LEITURA MÓDULO 07. Brasília, 2020.
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PROJETO DE TEXTO
1. Conceituando o tema
Escrever, conforme amplamente explorado no Textualizando, envolve diversos fatores de textualidade, compreensões sobre o que é texto, sentido, discurso e movimentos que contribuem para a produção de textos coerentes e coesos. Ou seja, a atividade de escrita requer conhecimentos e uma preparação inicial, não se resumindo ao simples ato de colocar a ponta da caneta ou do lápis em uma folha de papel. Essa preparação, por sua vez, inclui uma reflexão tanto acerca do conteúdo que constituirá o texto quanto do “como” esse conteúdo previamente definido será apresentado - mobilizado - a fim de que o leitor consiga construir sentidos e compreender o que o autor - quem está escrevendo - pretende transmitir/comunicar.
O texto dissertativo-argumentativo, como abordado na temática “O que são dissertar e argumentar?”, também demanda, de modo bem autêntico, uma reflexão concentrada no que nos incomoda e nos faz querer escrever, na problemática acerca de determinado tema para que seja possível alcançar um posicionamento, uma tese. No entanto, essa análise e a percepção de um ponto de vista, sabe-se, não é suficiente. É necessário pensar em que construirá uma argumentação consistente, convincente e autônoma.
Para tal feito, a elaboração prévia de uma estrutura do texto é relevante para a seleção de informações, fatos, opiniões e argumentos que comprovarão o posicionamento escolhido, ato essencial para construção de sentidos e para atingir a finalidade comunicativa desse tipo textual.
Então, no momento da escrita da redação do ENEM isso não é diferente! A preparação e planejamento constitui-se uma etapa essencial, já que auxilia no entendimento do que está sendo dito, na identificação dos argumentos e da tese, o que irá, consequentemente, convencer o leitor, e na distinção de todos elementos necessários para atribuição de uma nota significativa ao texto. Assim, demonstrar que houve um planejamento anterior à escrita do texto, isto é, que há um projeto de texto implícito para o desenvolvimento da redação é um dos critérios avaliados pela banca corretora do Exame Nacional do Ensino Médio. Mas, afinal, o que é, como elaborar e como executar um projeto de texto?
O projeto de texto, a fim de definir tal noção, não é um simples pensar a respeito do tema da proposta de redação, mas sim “o planejamento prévio à escrita da redação. É o esquema que se deixa perceber pela organização estratégica dos argumentos presentes no texto. É nele que são definidos quais os argumentos que serão mobilizados para a defesa de sua tese, quais os momentos de introduzi-los e qual a melhor ordem para apresentá-los, de modo a garantir que o texto final seja articulado, claro e coerente.” (BRASIL, 2019, p. 19)
Dito de outro modo, o projeto de texto consiste em uma estrutura planejada do texto definida a partir do posicionamento adotado, a qual se deve, além de definir como será desenvolvida a argumentação e quais os pontos primordiais que o texto deve abordar, determinar qual a relevância desses argumentos escolhidos e o momento adequado de inseri-los no texto, a ordem que serão postos.
Embora aparente ser uma atitude simples e habitual para a escrita de qualquer texto, vale ressaltar que não basta planejar, fazer esquemas ou rascunhos representativos da estrutura do texto. O projeto de texto, conforme já mencionado, deve, obrigatoriamente, estar visível na própria redação. Logo, essa etapa não é apenas uma forma de o vestibulando se preparar e se organizar em um instante anterior a escrita da redação, mas também um modo de demonstrar, durante a própria prática escrita, a sua capacidade argumentativa-dissertativa, o seu domínio do tipo de textual, a presença de um senso crítico e, principalmente, sua habilidade de desenvolver um raciocínio claro e coeso que inclua argumentos importantes e bem articulados. A redação, portanto, precisa mostrar - materializar - o caminho argumentativo planejado e que será percorrido para a defesa/comprovação de um ponto de vista.
Definido o que é um projeto de texto, para a formulação estratégica desse planejamento prévio, conforme as exigências do ENEM, o participante precisa evidenciar o controle de quatro habilidades cognitivas - mentalmente processadas - primordiais: selecionar, organizar, relacionar e interpretar.
Partindo da aptidão que permitirá o desenvolvimento das outras habilidades, selecionar consiste na habilidade banal de juntar, raciocinar e apurar, a partir do repertório e dos conhecimentos de mundo, dados, fatos realistas, informações verídicas e provas concretas, isto é, argumentos que sejam condizentes com a temática, bem como com o posicionamento assumido. Ou seja, dominar a estratégia de seleção resume-se a simplesmente reunir todas as ideias possíveis sobre o tema proposto e, em seguida, selecionar as que podem contribuir para a defesa da tese. Assim, nessa primeira etapa, deve-se refletir e ter em mente os apontamentos que constituirão - mesmo que mentalmente - um material de apoio para a escrita do texto.
Após a elaboração desse material de apoio, é necessário realizar uma atividade interpretativa dos argumentos selecionados. Interpretar, como aborda o “Material de Leitura” disponibilizado pelo Inep (2019), constitui-se como a habilidade mental do participante de construir significados para os argumentos do seu repertório, isto é, transformar meros conhecimentos em argumentos pertinentes e contextualizados a temática, evitando uma reprodução automática e contribuindo para a construção de sentidos dos dados, fatos, opiniões e informações priorizados. O domínio dessa estratégia, portanto, está condicionado à compreensão da existência de diversas possibilidades de leitura para um mesmo objeto, sendo essencial delimitar essa leitura através de sentidos que realmente se relacionem com o tema proposto e a tese que será defendida.
Compreendido como se dá a seleção e interpretação de argumentos pertinentes, organizar diz respeito à capacidade de estabelecer uma ordem lógica para esses argumentos escolhidos, hierarquizando-os por grau de importância no decorrer do texto. Logo, nesta etapa, o escritor da redação deve refletir e definir uma estratégia que especifique os argumentos mais relevantes para convencer o leitor e os argumentos complementares a essa argumentação. Ou seja, é necessário, por meio de uma organização racional, determinar os argumentos “mais fortes” que irão fundamentar a parte destinada ao desenvolvimento do texto dissertativo-argumentativo e, consequentemente, ajudarão a persuadir o leitor.
Por último, relacionar, de modo simples, pode ser considerada a habilidade de textualizar todas as etapas anteriores, já que consiste na forma de demonstrar no próprio texto as habilidades do participante. Segundo a Cartilha do Participante do Exame Nacional do Ensino Médio (2019, p.19), a inteligibilidade da redação depende da “progressão temática adequada ao desenvolvimento do tema, revelando que a redação foi planejada e que as ideias desenvolvidas são, pouco a pouco, apresentadas,de forma organizada, em uma ordem lógica.”, sendo assim, nesta etapa, deve-se relacionar os argumentos, mentalmente, selecionados, interpretados e organizados no plano semântico e sintático do texto, possibilitando a construção de uma “teia”, ou melhor, uma rede interligada de argumentos que, como resultado, convença o leitor por ser clara e coesa.
A capacidade de relacionar, devido a sua relevância para a articulação coerente das partes do textos, para o desenvolvimento adequado das ideias e para a apresentação da tese, está condicionada a estrutura requerida no texto dissertativo-argumentativo, uma vez que este deve ser composto por introdução, desenvolvimento e conclusão relacionados entre si por meio do “Encadeamento das ideias, de modo que cada parágrafo apresente informações coerentes com o que foi apresentado anteriormente, sem repetições ou saltos temáticos.” (Brasil, 2019, p. 20). Ou seja, estabelecer a relação entre as partes e argumentos do texto permite que este se explique por si só, impossibilitando que o leitor crie suas próprias relações de sentido e, por fim, construa uma interpretação equivocada e não convincente.
Pronto! Compreendida a importância de desenvolver conjuntamente essas habilidades fundamentais para a elaboração de um projeto estratégico de redação, torna-se relevante reafirmar que a comprovação de que o texto foi pensado e organizado antes de ser escrito depende não somente dessa formulação mental do projeto de texto, mas também do modo como é executado, já que, como pontuado anteriormente, uma apresentação consistente e organizada dos argumentos e ideias requer uma ordem, um caminho mais explícito, ou melhor, uma estrutura textual.
Assim, a execução do projeto de texto, segundo Estevam (2019, p. 67), compreende uma estrutura composicional rígida e que divide-se em três partes básicas: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Na introdução, de modo simplista, espera-se que o tema seja iniciado. Logo, esta primeira parte, conforme afirmam Koch e Elias (2017, p. 162), deve, além da contextualização acerca da temática proposta, conter, por meio de uma excelente estratégia argumentativa, o posicionamento - a tese - que será defendido no restante do texto.
O desenvolvimento, por sua vez, é a parte destinada a convencer os possíveis leitores a respeito da validade do posicionamento assumido (ESTEVAM, 2019, p. 68). Neste momento, o participante deve, portanto, focar em desdobrar as ideias já apresentadas, podendo utilizar definições, tecer comparações, informar dados estatísticos, recorrer a exemplos, refletir sobre citações legítimas, entre outros recursos que possibilitem persuadir o outro.
A conclusão, como propõe Paulinelli e Fortunato (2016, p. 287), “deve conter uma proposta de ação social capaz de promover mudanças na perspectiva em que se insere o problema debatido.”. Em outras palavras, a conclusão do tipo textual exigido pelo ENEM é composta por uma síntese da principal ideia tratada no texto juntamente a uma proposta de intervenção que respeite os Direitos Humanos.
Isto posto, conclui-se que o projeto de texto, passo importantíssimo para produzir a redação nota 1000, requer um planejamento dos argumentos e ideias pertinentes à temática, bem como a adequação a uma estruturação textual pré definida, possibilitando, deste modo, a produção de um texto que “apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma consistente e organizada, configurando autoria, em defesa de um ponto de vista.”.
2. Exemplificando para fixar...
Tendo em vista que a produção de um projeto de texto fundamenta-se por movimentos abstratos e, até mesmo, subjetivos, já que este elemento varia conforme os conhecimentos e saberes de cada participante, será explorada, a partir da análise de uma “Redação Nota Mil” do Enem 2019 sobre a temática “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, como materializa-se no próprio texto a elaboração e execução desse planejamento:
Texto sem título
Ana Clara Socha
Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o cumprimento dessa garantia, principalmente no que diz respeito ao cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros urbanos e à condição cultural de que a arte é direcionada aos mais favorecidos economicamente.
É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram construídas sob um viés elitista e segregacionista, de modo que os centros culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço ocupado pelos detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a chegada do cinema, já que apenas 17% da população do país frequenta os centros culturais em questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação social — evidenciada como uma característica da sociedade brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no livro "Raízes do Brasil" — se faz presente até os dias atuais, por privar a população das periferias do acesso à cultura e ao lazer que são proporcionados pelo cinema.
Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange a população de baixa renda é um fator limitante para que haja a democratização plena da cultura e, portanto, do cinema. Isso é retratado no livro "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus, o qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim, mostra como acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade, não necessariamente pela distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.
Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do cinema é imprescindível para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo que Ministério da Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo custo ou gratuitas, nas periferias brasileiras por meio da inclusão de seu objetivo na base de Diretrizes Orçamentárias, com o intuito de democratizar o acesso à arte. Além disso, cabe às instituições de ensino promover passeios aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das crianças, mediante autorização e contribuição dos responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo em regiões carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para completude da democracia no âmbito cultural.
Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/enem/2020/noticia/2020/06/03/enem-leia-10-redacoes-nota-mil-em-2019-e-veja-dicas-de-candidatos-para-fazer-um-bom-texto.ghtml. Acesso em: 01/12/2020
Posta em evidência a temática “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, torna-se primordial, primeiramente, destacar que a tese, ou melhor, o posicionamento que será defendido no desenvolvimento da redação consiste no enunciado “Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros urbanos e à condição cultural de que a arte é direcionada aos mais favorecidos economicamente.”. Ou seja, a autora opta, entre as diversas alternativas de abordagem ao tema, pela perspectiva que trata sobre os motivos, o porquê do cinema não ter um acesso democrático no Brasil, o que revela que houve um planejamento antecedente à escrita, visto que seria possível abordar as consequências dessa problemática, ou ainda, as soluções.
A partir da definição dessa perspectiva que orientará o restante da redação, pode-se destacar também que a autora realiza outras escolhas, outros planejamentos para construção da sua introdução. A temática, por exemplo, é contextualizada e apresentada ao leitor por meio de uma problemática, de uma oposição que revela que apesar de haver uma lei que determina a cultura como um direito de todos, essa não é a realidade brasileira principalmente em relação ao cinema. Além disso, mesmo com a existência de diversas possibilidades de motivos dessa falta de democratização, o planejamento possibilita a seleção das principais e mais relevantes razões, como a restrição dos cinemas aos centros das cidades e a concepção realista de que a arte é destinada para um público privilegiado.
Assim, percebe-se que a introdução compreende uma etapa essencial para comprovar ao avaliador a realização de um planejamento prévio da redação, já que há uma pequena amostra do projeto de texto, em que, além de uma contextualização acerca da temática, define-se o ponto de vista que será justificado, defendido ou comprovado nos outros parágrafos.
Identificado brevemente esse caminho argumentativo que será percorrido, os parágrafos seguintes, denominados desenvolvimento, são destinados, de modo bem simples, à validação do posicionamento da autora. Logo, o segundo parágrafo é reservado para comprovar a “concentração de salas de cinema nos grandes centros urbanos”, enquanto o terceiro parágrafo é exclusivo para a defesa da “condição cultural de que a arte é direcionada aos mais favorecidos economicamente”.
No segundo parágrafo, o movimento argumentativo que pretende defender a tese de que o cinema é centralizado em locais mais desenvolvidos constitui-se de três argumentos principais: o fato histórico de que a sociedade foi edificada a partir do elitismo e da segregação; o dado estatístico de que apenas 17% da população frequenta o cinema; e a retomada da existência de uma segregação social. No entanto, torna-se possível notar que o parágrafo não se resume a esses elementos, os argumentos são desdobrados, isto é, há um desenvolvimento desses argumentos mais forte por argumentos complementares, como a analogia entre o fato histórico do elitismo induzir à restrição dos centros culturais e a centralização do cinema em pólos de poder econômico, ou ainda, a comprovação da segregação social por meio da citação do livro “Raízes do Brasil”.
O terceiro parágrafo, por sua vez, é fundamentado por dois argumentos que comprovam a tese de que a destinação da arte e da cultura a uma parcela mais rica da sociedade promove a não democratização do cinema: o fato do direcionamento da cultura ser um fator limitante e a exemplificação de tal problemática por meio do livro “Quarto de Despejo”. E, assim como o parágrafo anterior, apresenta justificativas, descrições e explicações que garantem o desenvolvimento dos argumentos e uma persuasão mais orientada, não permitindo a simples escrita de informações desconexas e passageiras. Percebe-se, inclusive, que a utilização e descrição do livro de Carolina Maria de Jesus imprime a noção de que as informações e ideias do repertório da autora passaram por um processo interpretativo, uma vez que a obra poderia ser aplicada e delimitada a diversas situações e leituras distintas.
Ainda, a fim de materializar a habilidade de relacionar da autora, é possível apontar a relação, isto é, a progressão temática estabelecida entre os parágrafos de desenvolvimento. Após pontuar que a segregação social é uma condição real do Brasil, a autora encaminha a finalização do segundo parágrafo para a constatação de que essa separação visível acarreta a privação da cultura e do lazer a população periférica, assunto que é retomado no parágrafo subsequente pela abordagem acerca da a arte não abranger a população de baixa renda, transformando-se no tema principal e não na repetição do que já havia sido escrito.
Ambos parágrafos de desenvolvimento, portanto, também corroboram para a materialização do projeto de texto, visto que não somente demonstram que houve uma seleção, interpretação, organização e, claro, relação entre os argumentos principais e complementares, mas também exprime o caminho argumentativo planejado pela autora, convencendo o público-alvo de que a localização dos cinemas e a barreira física, ideológica e estrutural posta entre a arte e a população carente, realmente, impossibilitam uma democratização do acesso ao cinema.
Por fim, a conclusão reserva-se tanto ao reconhecimento, considerando a argumentação convincente desenvolvida, de uma necessidade urgente de debates que promovam igualdade social através da aquisição da cultura cinematográfica por toda a população como a formulação de uma intervenção que mude o cenário problemático descrito.
Embora esse planejamento da escrita da redação depende, em grande parte, das habilidades cognitivas do participante, visualizar a materialização linguística do caminho argumentativo percorrido em uma redação nota 1000 revela-se essencial para a compreensão de como se dá a elaboração e, principalmente, execução de um projeto de texto implícito que seja organizado, consistente e autônomo na defesa do ponto de vista evidenciado.
3. Pondo a mão na massa...
Compreendidas as habilidades, planejamento e a estrutura necessários para a construção de um projeto de texto e, consequentemente, a escrita de uma redação nota 1000 no ENEM, o desafio desta temática consiste na elaboração de um projeto de texto a respeito da temática “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”:
Após a leitura dos textos motivadores e reflexão acerca do tema proposto, siga os seguintes passos:
Defina duas teses que serão defendidas no decorrer da sua redação. Nesta etapa, torna-se importante definir também a ordem lógica desses posicionamentos no texto.
A partir da escolha da tese, selecione uma definição, alusão histórica, citação ou relato que contextualize e apresente a temática proposta.
Agora, pense e agrupe todas as ideias, os conhecimentos e as informações possíveis sobre esse tema.
Feito isso, selecione as mais relevantes para justificar e comprovar os posicionamentos que serão defendidos.
Faça uma atividade interpretativa com os argumentos selecionados. Qual a relação deles com a temática? Como delimitar a leitura? Qual ponto deve ser abordado para que seja condizente com a perspectiva adotada? O que eles significam?
Desenvolvida a construção de sentidos desses argumentos, organize-os de acordo com a capacidade persuasiva de cada um. Qual é mais relevante, mais forte? Qual deve ser o principal? E os complementares?
Pronto, por último, pense em como relacioná-los na própria escrita do texto, encadeando-os e mobilizando a progressão temática deles. Evite que eles fiquem soltos e desconexos.
Referências
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A redação no Enem 2019: cartilha do participante. Brasília, 2019.
BRASIL, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Material de leitura: Módulo 05 - Competência III. Brasília, 2019.
ESTEVAM, Madson Bruno Soares. A (não) assunção da responsabilidade enunciativa em redações nota mil do exame nacional do ensino médio - ENEM. 2019. 149f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2017.
PAULINELLI, Maysa de Pádua Teixeira.; FORTUNATO, Geralda Cristina. A redação do ENEM à luz dos gêneros discursivos e textuais. RevLet. Goiás, v. 08, n. 1, jan-jul, 2016.
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OPINIÃO, FATO E ARGUMENTO
1. Conceituando o tema
A redação do ENEM é a etapa do exame que mais gera expectativas e, em contrapartida, frustrações nos candidatos. Essa frustração decorre do peso dessa etapa no conjunto do exame. Escrever uma boa redação é fundamental para que o candidato comprove a sua capacidade de fazer um curso universitário. Isso porque, na universidade, a formação tem como ponto central a escrita dos diversos gêneros acadêmicos. Além disso, para entender a função social da escrita na redação do Enem, é primordial compreender essa atividade linguística como uma ferramenta de posicionamento do candidato, por meio da qual a banca de correção avaliará a capacidade crítica e discursiva do concorrente. Em tempos tão superficiais, é necessário exigir a formação de jovens que saibam se posicionar com embasamentos teóricos e práticos que realmente influenciam na realidade brasileira. Diante disso, torna-se muito importante que o candidato conheça e distinga os elementos que permeiam essa formação de um candidato crítico, conhecedor das estratégias que tornam viáveis a construção e articulação linguística-discursiva do posicionamento mediante o tema da redação. Ou seja, para produzir uma boa redação, é importante que o candidato saiba o que são: opinião, fato e argumento. Opinião = é o substantivo derivado do verbo opinar, cujo significado é dizer o que se acha a respeito de algo. Dessa forma, o significado de opinião é pensamento sobre algo, o que nós achamos de algo, a nossa forma de ver as coisas sobre determinado assunto. Ou seja, um dos significados de opinião é a manifestação de um ponto de vista que representa o nosso estado de espírito e atitude face ao que está sendo analisado. A nossa opinião em relação a alguma coisa ou alguém é o nosso julgamento em relação a ele. Nós podemos ter diferentes opiniões a respeito de uma dada pessoa. Por exemplo, nós pensamos que ela é simpática, ao mesmo tempo em que achamos que ela é dúbia. Temos também diferentes opiniões sobre as coisas, acontecimentos ou atitudes. Ou seja, nós tecemos opiniões a respeito de quase tudo. Fato = a palavra “fato” pode ser definida por três perspectivas, sendo a ontológica, a epistemológica e a comunicativa. De acordo com a perspectiva ontológica, perspectiva principal que o reconhece como realidade no mundo, fato deriva do latim factum e designa eventos ou acontecimentos que realmente aconteceram. No dicionário Aulete Digital é definido como ato; feito; evento; circunstância; aquilo que é real ou verdadeiro; realidade; verdade; ocorrência; evento observado objetiva ou cientificamente. Já no dicionário online de Português Dicio, fato é uma coisa cuja realidade pode ser comprovada. Em contrapartida, no Dicionário de Filosofia, fato é tido como o estado de uma coisa concreta e suas variações, ocorrência possível ou efetiva no mundo real, não podendo ser sinônimo de verdade, pois fato é o estado visível e comprobatório de uma proposição verdadeira. Por fim, de acordo com o tradicional Dicionário Michaelis, fato é aquilo que é ou acontece, e que, portanto, pode ser tomado como um dado real da experiência, ocupando um lugar limitado no tempo e/ou no espaço; aquilo que, por ser dotado de possibilidade objetiva de verificação, independe de opiniões, juízos e valorizações que não sejam aqueles intrínsecos aos meios e instrumentos capazes de proceder a tal verificação; algo sobre cuja existência há consenso geral, por ter sido confirmado reiteradamente e por muitos observadores independentes e de competência inquestionável. Argumento = De acordo com o Dicionário Online de Português Dicio, argumento é uma prova usada para afirmar ou negar um acontecimento: argumento válido; meio linguístico usado para persuadir, para tentar convencer alguém, fazendo com que esta pessoa mude de ponto de vista ou de maneira de agir; pensamento através do qual é possível entender, deduzir algo. Segundo o “significado.com”, argumentos são ideias lógicas relacionadas entre si e com o propósito de esclarecer e resolver determinada situação ou dúvida, por exemplo. Por norma, os argumentos servem principalmente para provar alguma coisa, como um ponto de vista, uma decisão ou ideia. Seu objetivo, neste caso, consiste em justificar determinado objeto que é causa de um debate. Já sob a perspectiva filosófica, o argumento é fundamentado em lógica. É um conjunto de enunciados que está relacionado uns com os outros. Argumento é um raciocínio lógico formado por premissas (afirmações que têm como função justificar, sustentar, defender, dizer o porquê) e conclusão (aquela afirmação no argumento que apresenta ou expõe uma ideia ou opinião que se quer defender). Os argumentos são normalmente baseados em premissas que ajudam a construir uma conclusão. No entanto, todas as premissas devem ter como alicerce um sentido lógico, caso contrário o resultado final pode não ser verdadeiro ou válido. Um argumento possui sempre uma conclusão e uma ou mais premissas. Em princípio, quanto maior o número de premissas mais convincente será o argumento. Assim, para termos um argumento é necessário dois tipos de afirmações: premissas e conclusões. Além disso, é fundamental que elas estejam relacionadas e a conclusão seja inferida das premissas. E inferir aqui nada mais é do que concluir uma afirmação de outra. Há também outro elemento que compõe o argumento: a proposição, que é uma frase informativa cujo conteúdo pode ser verdadeiro ou falso, sendo enunciados simples compostos de quantificador, termo/sujeito, cópula e termo/predicado (Ex: Todo homem é mortal.). Por fim, a validade e verdade desses argumentos se dá por uma relação direta e lógica. Sabendo que o argumento é a passagem de uma ou mais premissas a uma conclusão e que é preciso que a conclusão derive da premissa, têm-se que quando a conclusão é uma consequência necessária das premissas, o argumento é válido. Quando a conclusão não é uma consequência necessária das premissas, dizemos que o argumento é inválido. A validade de um argumento, portanto, depende de sua estrutura, depende da maneira como este argumento está organizado. Tendo em vista as delimitações semânticas acima, é importante ter com clareza a informação de que todos esses elementos estarão ou devem estar presentes na sua redação do Enem, embora seja preciso que isso apareça de um modo estruturado em que cada unidade se ligue a outra de forma a reforçar o trabalho que a terceira pretende desenvolver. Em outras palavras, podemos dizer que o objetivo da redação do Enem é acusar claramente uma posição social (opinião) acerca de um determinado assunto polêmico e factual (fato) de modo a convencer (argumento) o leitor de que o ponto de vista em questão é o mais relevante. Por fim, e antes de passarmos para a exemplificação desses elementos, há algumas questões bastante discutidas em cursinhos preparatórios e muito reforçadas pelos professores de redação que estão relacionadas a opinião, fato e argumento e devem ser mencionadas. No que se refere a opinião, cabe aquela regra básica que é diversas vezes repetida, a regra de que o autor NÃO pode utilizar a primeira pessoa do singular na redação do Enem. Por mais que exija um posicionamento, o gênero dissertativo-argumentativo possui como uma de suas características o discurso impessoal e não admite colocações como “eu acho”, “eu acredito” ou o famoso “na minha opinião”. É primordial que sua opinião fique clara durante o texto, mas isso deve ser feito de forma indireta, impessoal e respeitando as exigências gramaticais apontadas pelo gênero acadêmico. Quanto ao fato, é muito importante que se tome cuidado com os supostos fatos que se utiliza em uma redação. Em tempos de fake news, é primordial que cada informação selecionada por você para integrar a sua redação venha de uma fonte confiável e possua comprovações cabíveis, que tornem possível a diferenciação dessa informação entre fato e opinião disseminada em grande volume. E no que se refere ao argumento, é importante lembrar que a sua argumentação e posicionamento devem estar obrigatoriamente em consonância ao que determina a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Após tantos anos lutando por tal conquista, é mais do que justo que redações que desrespeitam os direitos humanos - redações que defendem e disseminam ódio, preconceito, racismo e outros - sejam zeradas e desconsideradas para fins de correção.
2. Exemplificando para fixar…
Para tornar mais claro o funcionamento desses elementos em uma redação do Enem, vamos analisar a redação abaixo que foi retirada do banco de redações presente no setor Educação do portal de notícias UOL. Essa redação foi escrita em 2019 para a proposta de título “Agrotóxicos ou defensivos agrícolas: dois nomes e uma polêmica”, recebeu nota 840 após a correção e o nome do autor não é informado.
Antes de analisarmos os pontos específicos da redação, apresentamos a transcrição do parágrafo de proposta, posto anteriormente aos textos da coletânea pelo site:
O fato é recente, mas o debate já dura mais de 50 anos. Fato: o governo brasileiro aprovou 262 novos tipos de pesticidas, desde o começo do ano. Polêmica: o nome desses produtos químicos ou pesticidas, utilizados na agricultura. Para os ambientalistas, deve-se chamá-los de "agrotóxicos", porque, além de eliminar as pragas das lavouras, intoxicam as próprias plantas e, por conseguinte, outros animais, entre os quais os seres humanos, com consequências desconhecidas e imprevisíveis. Para seus fabricantes, inclusive os cientistas que os inventam, bem como para os agricultores, esses pesticidas devem ser chamados de "defensivos agrícolas", pois servem para defender as plantações das pragas. Argumentam, ainda, que a produção da agricultura em larga escala - como exige o mundo atual - não seria possível sem o uso desses defensivos. Assim, com base nos textos da coletânea, desenvolva uma dissertação argumentativa, explicando qual dos nomes você considera mais adequado para os pesticidas: agrotóxicos ou defensivos agrícolas. Justifique sua opção com argumentos.
Agora, vamos à redação.
Conforme o parágrafo da proposta, o reforça no título (“Agrotóxicos ou defensivos agrícolas: dois nomes e uma polêmica”) e o parágrafo de introdução do autor da redação, é possível identificar quais fatos principais sustentam a construção e organização da redação: a polêmica em torno da nomenclatura agrotóxicos ou defensivos agrícolas e a intervenção no meio ambiente pelo uso exacerbado de agrotóxicos - intensificado com a aprovação de 262 novos tipos de pesticida no ano vigente. O fato é apresentado pelo vestibulando logo no início da sua redação ao fazer alusão a uma situação do mundo da ficção. Nesse sentido, o conectivo “contudo”, além de cortar a possibilidade de o problema ser algo distante, do mundo da ficção, demarca com força o posicionamento do autor logo de início: “Contudo, não tão distante da ficção, a intervenção no meio ambiente, pelo uso exacerbado de agrotóxicos, tem preocupado a população brasileira, devido à sua alta toxicidade para a saúde humana.”, o que é de extrema importância, já que norteará o leitor quanto aos rumos no decorrer da dissertação.
Ainda na introdução, o candidato já se posiciona quanto à polêmica proposta pelo Exame Nacional do Ensino Médio, ou seja, expressa a sua opinião quanto à problemática quando escreve “Devido a isso, são necessárias ações não somente governamentais, mas da sociedade como um todo, com o intuito de melhorar essa situação.”
No segundo parágrafo, para construir sua argumentação, o autor inicia definindo o que é agrotóxico, um fato utilizado como recurso de argumento. Em seguida, o vestibulando lança mão de novos fatos que corroboram para a opinião contrária ao uso excessivo de agrotóxicos na agricultura brasileira, como a afirmação “Inicialmente, a adoção de tecnologias originárias da Revolução verde, entre elas, a utilização de agrotóxicos, trouxe o aumento da produtividade e, por conseguinte, propiciou que o Brasil se tornasse um grande exportador de produtos agrícolas, mas infelizmente também um dos maiores consumidores de pesticidas no mundo.” que evidencia o fator positivo do agrotóxico como o gatilho inicial para o descontrole e consequências desse uso. Além disso, como mais um elemento para embasar o argumento, ele traz uma alternativa para a questão ao dizer que uma das causas dessa problemática é a “falta de interesse na busca por uma alimentação mais saudável, encontrada na agricultura orgânica, da qual não faz uso de produtos químicos, então, depende do ciclo natural das plantas.”
Em um movimento de argumentação ascendente, ou seja, em que o argumento de número 2 é ainda mais consistente e relevante do que o argumento de número 1, o candidato traz mais um argumento bastante impactante: a consequência dos pesticidas em excesso para os agricultores que trabalham em contato direto com tais substâncias. Para fundamentar essa argumentação e torná-la ainda mais densa, lança mão de um fato comprovado por meio de dados ao citar que: “Dados do Programa de Vigilância da Saúde das Populações Expostas a Agrotóxicos, da Universidade de Campinas, apontam que 1,5 milhões de trabalhadores estão intoxicados no espaço rural, seja pela falta de fiscalização ou de uniformes adequados.”. Após, mantendo a ideia de trazer alternativas, o autor aponta os pesticidas modernos em estado de carência como mais um argumento que evidencia os prejuízos aos agricultores e aos consumidores e, em consequência, a necessidade de repensar o uso dos mesmos, o que se expressa em “Além disso, a carência de pesticidas modernos (os quais devem ser menos tóxicos e sua quantia diminuída) afeta tanto quem aplica os agrotóxicos, quanto quem os consomem.”.
Para finalizar a argumentação, o autor da redação enfatiza com clareza sua opinião ao iniciar o parágrafo conclusivo com o posicionamento de que “É indiscutível, portanto, que o uso excessivo dessas substâncias tóxicas é uma problemática no país, subitamente, medidas são necessárias.” e segue respeitando a conclusão com proposta de intervenção exigida pelo ENEM. Assim, fica claro que esses três elementos - opinião, fato e argumento - são peças fundamentais a serem articuladas na redação do ENEM, pois consistem na matéria-prima de uma dissertação argumentativa que atende às expectativas do gênero em questão. É indispensável, portanto, que se conheça muito bem a definição de cada um deles e pratique a utilização desses de forma a acrescentar valor a sua redação.
3. Pondo a mão na massa
Agora, para fixar todas as reflexões feitas sobre opinião, fato e argumento, vocês devem analisar a redação escrita por Carolina Mendes Pereira, uma das estudantes que recebeu nota 1000 no ENEM 2019, bem como a proposta de intervenção a fim de identificar, a um só tempo, o que há de opinião, o que há de fato e o que há de argumento nessa dissertação-argumentativa que obteve a nota máxima.
TRANSCRIÇÃO DA REDAÇÃO: “Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento. Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal. Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir. Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão, cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias – , de maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos novos meios comunicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma sociedade emancipada.”
PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2019:
Referências
SIGNIFICADO DE OPINIÃO. Meus dicionários. 2016. Disponível em: <https://www.meusdicionarios.com.br/opiniao/>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
SPONHOLZ, Liriam. O que é mesmo um fato? Conceitos e suas conseqüências para o jornalismo. Revista Galáxia, São Paulo, n. 18, p. 56-69, dez. 2009.
FATO. In.: Aulete Digital, 2020. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/fato>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
FATO. In.: Dicio, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/fato/>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
FATO. In.: Oxford Languages and Google. Google, 2020 Disponível em: <https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/fato>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
FATO. In.: Michaelis On-line. Melhoramentos, 2020. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/busca?id=pAxp>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
ARGUMENTO. In.: Dicio, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/argumento/>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
SIGNIFICADO DE ARGUMENTO. Significados, 2015. Disponível em: <https://www.significados.com.br/argumentos/>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
O QUE É ARGUMENTO?. Filosofia na escola, 2019. Disponível em: <https://filosofianaescola.com/logica/o-que-e-um-argumento/>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
STRECKER, Heidi. Lógica - Argumento - Um conjunto de enunciados articulados entre si, 2020. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/logica---argumento-um-conjunto-de-enunciados-articulados-entre-si.htm>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
BANCO DE REDAÇÕES. Redações corrigidas - outubro/2019 Agrotóxicos ou defensivos agrícolas: dois nomes e uma polêmica, 2019. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacoes/o-perigo-esta-na-mesa.htm>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
MORENO, Ana Carolina. 5.168 professores farão a correção das quase 4 milhões de redações do enem 2019, 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/enem/2019/noticia/2019/11/11/5168-professores-farao-a-correcao-das-quase-4-milhoes-de-redacoes-do-enem-2019.ghtml>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
REDAÇÃO DE ANA CAROLINA MENDES PEREIRA. Ministério da Educação, 2019. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/images/stories/noticias/2019/outubro/24.10.2019redacaolink1.pdf>. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
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TEMA E TANGÊNCIA
1. Conceituando o tema
Com a proximidade do Enem, é comum os alunos realizarem uma revisão dos conteúdos estudados durante todo o período do Ensino Médio. Dentre esses conteúdos que precisam ser revisitados, o que mais preocupa os estudantes é a “querida redação”, que para alguns é pavorosa. Trata-se de uma etapa importante no conjunto de avaliação que compõe o ENEM. Para alcançar uma boa avaliação na redação, o candidato precisa atender algumas exigências da Matriz de Referência do Enem - usada para avaliar as produções. Ou seja, essa matriz apresenta as normas a serem seguidas.
Primeiramente, será abordada a discussão sobre questões diretamente relacionadas à prova do ENEM com um tema que causa um pouco de dúvida, a saber: o “Tangenciamento do tema”. Este tema, quando não observado, pode acarretar a perda de ponto no conjunto total da nota na prova de redação e, dependendo da correção, pode levar a eliminação do candidato. Daí a importância de saber do que se trata efetivamente em termos de escrita da redação.
O tangenciamento do tema se aproxima da questão da fuga ao tema. Então, faz-se necessário mostrar aqui como fazer essa distinção. Lembrando que, no caso de fuga ao tema, a nota atribuída à redação será zero. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão governamental que tem a missão de criar a prova, distingue o tangenciamento ao tema como “(…) a abordagem parcial, realizada somente nos limites do assunto mais amplo a que o tema está vinculado, deixando em segundo plano a discussão em torno do eixo temático objetivamente proposto. Quanto à fuga ao tema o Inep entende que acontece “quando nem o assunto mais amplo nem o tema proposto são desenvolvidos.”
Uma dica para que os alunos respondam ao tema de forma completa é questionar o que se espera, como recomenda o blog “escrever com vencer”:
Uma dica prática, para saber se o aluno respondeu ao tema de forma completa, é observar se ele responde ao comando do tema. Por exemplo: Tema > Lei Seca: efeitos da implantação da lei no Brasil. O que está destacado é o comando do tema e o aluno tem que, obrigatoriamente, tratar dos efeitos da lei em vigor, não podendo simplesmente dissertar sobre ela sem dar uma resposta a isso. (escrever como vencer blog, 2020, p.1)
Continuando a busca para compreender todo o processo do tangenciamento, vale lembrar que ele está inserido nas competências II, III e V, que tem a nota 40. Em cada uma é preciso muita atenção porque, além de tangenciar, pode chegar à fuga ao tema, acarretando à eliminação, pois é atribuída a nota zero.
A seguir serão pontuadas algumas dicas que ajudarão nessa diferenciação
A preguiça e/ou a pressa não são bem-vindas neste momento de escrita, leia toda a proposta;
Releia a proposta e faça marcação das informações importantes que possam ajudar na construção do seu texto;
Do lado das propostas escreva breves paráfrases, para não precisar ler a proposta toda vez já vai às informações importantes;
Tome cuidado para que todas as palavras pertencentes ao tema estejam no seu projeto de texto;
Não esqueça de elaborar o projeto de texto, deixe claro qual é a sua tese;
Selecione os seus argumentos para que sua defesa seja bem feita;
Cuidado para não mudar o tema no meio do texto.
Todas essas recomendações, de fato, apontam para o cuidado que o candidato deve ter com o desenvolvimento do tema da sua redação. Portanto, é importante observá-las na hora de fazer a redação esse processo já esteja internalizado e, consequentemente, seja simples para que você aluno não fique preocupado com o que deve ser feito. Escrever é bem mais do que seguir esses processos, mas é preciso obedecer às regras propostas para alcançar uma boa nota na redação. Em seguida, para compreender melhor as especificações que envolvem o tangenciamento do tema, será explorado o que é assunto, tema e tangenciamento.
2. Exemplificando para fixar…
Primeiramente, torna-se importante definir o que é o assunto de um texto: Assunto, de modo didático, é a parte maior, mais abrangente do texto. Por exemplo, a pandemia, em um texto que fale sobre o crescimento dessa doença, é o assunto. A definição é sobre o tema. O tema está inserido no assunto e, por isso, precisa ser delimitado. O assunto pandemia é abrangente. Se a escrita é sobre ela, faz-se necessário apontar sobre qual tema, dentre os muitos que existem dentro desse assunto. Ou seja, o tema tem a função de delimitar um aspecto a ser discutido sobre o assunto. Especificando esse exemplo, pode-se usar como tema para uma produção escrita o seguinte: “Pandemia na educação, quais foram às mudanças, nas escolas e nas famílias”. Na produção do texto, é necessário manter o projeto de texto. Assim, ir elencando o que deve aparecer e a ordem que deve estar.
TEMA: Delimita um aspecto a ser discutido sobre o assunto
Imagine uma roda de conversa entre amigos e alguém faz o seguinte comentário: “Vocês perceberam como o índice de depressão aumentou entre os jovens?”
Pronto! Considere que o que está sublinhado é o TEMA suscitado por um deles.
Em resposta, todos começam a apontar as possíveis causas que consideram para o aumento desse índice de depressão entre os jovens. Todos se expressando dentro do TEMA. (imagine blog, 2018 p.1).
A citação acima trabalha a questão do tema como caminho para reduzir o assunto que é amplo. Considerando ainda essa exemplificação, alguém pode apresentar a seguinte opinião sobre o tema: “Ah, mas os jovens estão muito imersos à realidade das drogas e ingestão de bebida alcoólica”. Neste caso, o aluno faz a tangência do tema, porque aborda um tema que está ligado à adolescente, mas leva a conversa para outro rumo, para outras reflexões.
Pode-se dizer, em uma analogia com o jogo de futebol, que passa perto de fazer o gol, bate na trave, mas não faz finalização. Ocorre que, com a redação do ENEM, não adianta passar perto e não fazer o gol, pois o jogador-aluno será eliminado. Dito de outro modo, se tangenciar você será desclassificado e todo treinamento durante todo ano ou mais será em vão.
Outro exemplo retirado do Blog Imagine, que mostra os principais erros que podem resultar no tangenciamento. Trata-se de um exemplo que toma como base a prova de 2018 e as possibilidades que temos para fazer um texto assertivo. Vejamos:
ENEM 2018: quais foram as situações de tangência?
Veja a prova:
Prestou atenção na frase temática? Veja: “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet.”
Vejamos algumas possibilidades de tangência:
– Abordar apenas internet;
– Abordar apenas fake news;
–Abordar apenas controle de dados, por meio de plataformas digitais, como Spotify;
–Abordar apenas manipulação do comportamento do usuário, dentre outras possibilidades.
Em qualquer dessas situações, o candidato atingirá, no máximo, 120 pontos distribuídos entre as competências II, III e V. Veja que o problema é a abordagem muito limitada, pois o texto tangente ao tema restringe uma discussão ampla a um universo muito restrito. (escrever como vencer blog, 2020, p. 4 a 6.)
O exemplo trabalhado acima mostra bem o quanto é estreita a relação entre o tangenciamento e a fuga do tema. Diante disso, é preciso não perder de vista a importância de dedicar um tempo especial para elaboração da sua redação. Não esqueça que a avaliação da redação é maior, porque o que está sendo avaliado pelo corretor é o domínio que o candidato possui da leitura e da escrita.
Ainda sobre os exemplos, encontramos vários no manual do ENEM feito aos estudantes em 2019 e que enumeram os possíveis tangenciamentos que podem acontecer. Caso você queira aprofundar o assunto, todos os itens citados a seguir possuem exemplos no material da competência III. São aspectos da avaliação em torno do desenvolvimento do tema da redação.
Tangente ao tema: aborda apenas o assunto mais geral da proposta e é sem direção, por isso deve ser avaliada no nível 0;
Tangenciamento ao tema e com direção;
Tangente: abordagem completa do tema e sem direção;
Projeto de texto e desenvolvimento de informações, fatos, opiniões e argumentos;
Além de apresentar abordagem completa do tema, possui projeto de texto com muitas falhas, e informações, fatos e opiniões sem desenvolvimento;
Não indica necessariamente que se trata de um desenvolvimento;
Desenvolvimento de apenas uma informação, fato ou opinião;
Refere às ideias com contradições que invalidam o ponto de vista defendido no texto;
A redação deve ter um projeto de texto perceptível, embora apresente algumas falhas;
Além de já possuir uma abordagem completa do tema, apresenta um projeto de texto com algumas falhas, e informações, desenvolvimento de algumas informações, fatos e opiniões;
Além disso, deve haver desenvolvimento da maior parte das informações, fatos e opiniões;
Por apresentar um projeto de texto com poucas falhas e desenvolvimento da maior parte das informações, fatos e opiniões;
Devido à falta de conhecimento sobre os mecanismos presentes no mundo virtual, o usuário se tornaria vulnerável diante da manipulação dos dados.
Observe que existem várias possibilidades do tema da redação ganhar um rumo diferente do esperado. Entender cada uma dessas possibilidades é de fundamental importância. Por isso, sugerimos que você acesse o site “INEP, 2020 Material de Leitura, módulo 05, competência III.”, pois encontrará vários exemplos de análise, os exemplos, para cada um desses casos. Ou seja, depois de todas essas dicas, estudadas, agora você pode colocá-las em prática assim deve treinar para que seu objetivo seja alcançado, tirar uma ótima nota na redação e além realizar o sonho de entrar em uma universidade.
3. Pondo a mão na massa
Agora que você já conhece os diversos níveis de tangenciamento, leia o texto abaixo e veja se consegue identificar os problemas existentes com relação ao desenvolvimento do tema. Após identificá-los, reescreva o texto procurando resolver os problemas identificados.
Referências
CASTRO, R. L. Tangenciamento do tema: a bola na trave. disponível em; https://escrevercomvencer.com.br/tangenciamento/. Acesso 03 de agosto de 2020.
INEP, 2020 Material de Leitura, módulo 05, competência III. Disponível:http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2020/Competencia_3.pdf. Acesso 03 de agosto de 2020.
RINALDI, R., Tangenciamento e fuga ao tema: saiba diferenciar. 2018. Blog imaginie. Disponível: https://blog.imaginie.com.br/tangenciamento-e-fuga-ao-tema-saiba-diferenciar/. Acesso 03 de agosto de 2020.
UM DOS CRITÉRIOS DE CORREÇÃO DA REDAÇÃO DO ENEM É O TEMA QUE CONSTITUI O NÚCLEO DAS IDEIAS SOBRE AS QUAIS A TESE SE ORGANIZA E FAZ PARTE DA COMPETÊNCIA 2. Redação Perfeita. 2016. Disponível em: <https://www.redacaoperfeita.com/redacao-para-concursos/enem-criterios-de-correcao-da-redacao-competencia-2/#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20tangenciar%20o,do%20eixo%20tem%C3%A1tico%20objetivamente%20proposto>. Acesso em: 03 de agosto de 2020
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MARCAS DA ORALIDADE E ESCOLHA VOCABULAR
1. Conceituando o tema
A Matriz de Referência do Enem avalia se o candidato possui ou não domínio da modalidade da escrita formal da Língua Portuguesa. E essa avaliação é orientada pelo que dispõe a norma-padrão prescrita na gramática normativa, aquela que define as regras de certo ou errado. O domínio exigido na Competência 1 considera o uso adequado do léxico, a estruturação sintática, uso adequado dos sentidos das palavras, adequada ortografia, aspectos que são considerados fundamentais para a produção de um texto que deve possibilitar fluidez na leitura. Diante disso, o olhar do corretor se volta basicamente para dois importantes aspectos da redação: organização da estrutura sintática e a presença dos desvios. Hoje, em específico, a discussão será sobre dois tipos de desvio: desvio de escolha de registro e desvios de escolha vocabular.
As modalidades oral e escrita da língua são elementos que se complementam quando o assunto é a língua em uso. Sobre isso, assunto já tratado algumas vezes aqui no Textualizando, sempre valorizando as características particulares de cada modalidade e ressaltando o funcionamentos em continuum de ambas na língua. Tanto que um dos nossos primeiros temas foi intitulado “Fala e escrita”. Nesse vídeo, apresentamos um pouco mais sobre a fala e sobre a escrita sob a perspectiva de Marcuschi. Agora, voltamos ao assunto mais uma vez. Então, é inegável a relevância de cada uma.
Contudo, quando se trata de um gênero específico como a dissertação argumentativa, exigida pelo Exame Nacional do Ensino Médio, na tão temida redação, é preciso compreender que estamos trabalhando com uma seção de uso da língua, que não reflete o todo, mas responde a um objetivo específico, esperado pela banca de correção. Assim, muitos se questionam “A oralidade tem algum lugar na redação do Enem?”. Vamos aqui chamar de “marcas de oralidade” tudo aquilo que pertence à modalidade oral e aparece na escrita. Quando as marcas de oralidade aparecem na redação do Enem, são consideradas desvios de registro, uma vez que fogem ao registro exigido para a elaboração da redação, ou seja, o registro formal da Língua Portuguesa. Então, começamos a concluir que se há algum lugar para a oralidade na redação do Enem, esse lugar é o lado de fora.
Antes de nos restringirmos a não utilizar essas marcas de oralidade no momento de escrita da redação do Enem, é preciso conhecermos o que são essas marcas da oralidade mais a fundo e, principalmente, porque elas aparecem na nossa escrita. Para isso, é preciso compreender o que acontece durante o processo de escrita. Quando nos propomos a escrever sobre algum assunto, nosso cérebro automaticamente inicia um trabalho cognitivo a respeito desse tema, traz pensamentos diversos e resgata memórias e conhecimentos com os quais previamente nos conectamos. Tudo isso tem o objetivo de formular uma escrita que faça sentido para quem vai ler, tornando-a a mais rica possível. Assim, é como se uma voz interna ao nosso cérebro nos orientasse nessa escrita, lançando mão de estratégias diversas e, até mesmo, da oralidade. O problema está justamente nessa questão: por ser um movimento espontâneo, essa voz interna nos traz conteúdos relacionados e importantes para o desenvolver da nossa escrita, mas de uma maneira menos monitorada e que diverge do normatizado.
Quando não passamos essas informações pelo filtro da modalidade escrita, escrevemos do mesmo modo que a atividade cognitiva nos trouxe, ou seja, registramos na escrita algumas formas que cabem apenas na fala: as marcas da oralidade, que são expressões linguísticas que usamos no dia a dia, principalmente nas situações informais de fala. A oralidade está muito associada à fala informal, a variedade coloquial de usos da língua portuguesa, embora exista também a oralidade formal, culta da língua. Porém, para efeito da redação do ENEM, em que o registro que vale é o escrito de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, precisamos evitar esses usos orais cotidianos, informais e que podem levar o candidato a se enquadrar na condição de quem não apresentou boa estruturação sintática no texto e ainda produziu muitos desvios.
Agora sabendo como essas marcas podem aparecer no texto, é importante tomarmos conhecimento da parte mais técnica, no que se refere à correção e penalização. No caso de desvio de registro por uso de marcas da oralidade, será considerada desvio apenas a primeira ocorrência de desvio de escolha de registro em uma mesma palavra ou palavra com o mesmo radical, não ocorrendo a somatória dessas penalizações na chamada C1. De todo modo, é imprescindível que fiquemos atentos a todas essas marcas, já que a penalização acontece.
Já o desvio de escolha vocabular está diretamente ligado ao contexto do texto, pois diz respeito à escolha lexical imprecisa de uma palavra no contexto em que ela se encontra, ou seja, é escolher um léxico para preencher sua redação que não se encaixe da melhor forma no sentido pretendido ou mesmo não faça sentido algum. Essa escolha não assertiva normalmente é motivada por situações em que a palavra mais precisa tem uma semelhança sonora ou gráfica com a palavra que de fato foi utilizada. Isso pode levar o participante a se confundir com as palavras e acabar escolhendo a que, por algum motivo, já escutou mais vezes, já leu mais vezes ou já escreveu mais vezes e acredita ser a melhor opção.
Porém, é necessário que se tenha atenção quanto a isso, pois toda uma construção de sentido presente em muitas linhas anteriores pode ser prejudicada por conta dessa má escolha lexical, já que estamos falando de textos e o texto é um tecido de muitas partes ligadas. Normalmente, o caminho de tentar identificar qual palavra o escritor realmente pretendia utilizar não é muito difícil, mas é preciso lembrar que o corretor não terá essa preocupação individual e penalizará essa troca como “imprecisão vocabular”. Mas não é só a confusão entre palavras que caracteriza desvio de escolha vocabular. A utilização de palavras que não existem na Língua Portuguesa ou mesmo palavras que sofreram alguma alteração morfológica indevida para funcionar em um determinado contexto também é considerada desvio.
Para finalizar a nossa parte teórica, é muito válido que seja feita uma ressalva de teor mais técnico por aqui. É muito comum que desvios gráficos sejam cometidos durante a escrita da redação do Enem, seja pela tensão que a prova gera ou pela necessidade de correr contra o tempo, e esses desvios podem fazer com que determinadas palavras se tornem outras também existentes no vocabulário da Língua Portuguesa. Nesses casos, os corretores são orientados a penalizar a ocorrência como erro ortográfico na Competência 1 e não como desvio de escolha de vocábulo. É fácil diferenciar um desvio de vocábulo de um desvio gráfico, pois os desvios de escolha vocabular são evidenciados pelo uso de uma determinada palavra cujo sentido o participante desconhece ao escolher outra em seu lugar de sentido claramente diferente, e nada disso corresponde ao desconhecimento da grafia de uma palavra, que no caso é o desvio gráfico.
2. Exemplificando para fixar…
É importante que conheçamos exemplos de marcas de oralidade e que muitos nem imaginam ser, pela frequência com que usam em outros gêneros textuais sem maiores complicações. Como exemplos que podem ser citados nós temos: a) as expressões coloquiais, como “um monte”, “um bocado”, “é isso aí”, “né”, “tá”, “beleza”, “nada a ver”; b) as tão usadas formas da internet, como “blz”, “vc”, “neh”; c) os diminutivos e aumentativos, como “basiquinho” e “muitão”; d) as reduções que normalmente fazemos quando falamos, como “pra” e “pro” e e) as abreviaturas, como p/ (pra substituir “para”) e c/ (pra substituir “com”); f) Construções sintáticas do tipo: vou na igreja; me dá café, diz pra mim porque não foi na festa. Esses são alguns exemplos de construção para as quais necessitamos dedicar uma certa atenção, considerando se é mesmo aceita na modalidade escrita ou se é influência da oralidade. Ao fazer essa análise, perceberemos que não há lugar para elas se o objetivo for a redação nota 1000.
Além desses primeiros exemplos, é muito comum que aconteça isso que está sendo exemplificado na imagem: a escrita do verbo “estar” e suas variações com a supressão do início do verbo, ou seja, sem a sílaba “es”. Esse é mais um exemplo de marcas da oralidade que comumente reproduzimos por ser algo que usamos muito na fala. É claro que existem outras marcas da oralidade que acabam invadido a dissertação e não há como decorar quais são elas. Logo, para não cometer mais esse desvio, o melhor caminho é formular um planejamento textual que considere esse cuidado com interferências orais e realizar uma revisão gramatical e linguística minuciosa antes de dar o seu texto por finalizado. Assim, será bem mais provável que a tão sonhada nota 1000 seja alcançada.
Ademais, como exemplos de desvios de escolha vocabular, podemos dividi-los em exemplos do que chamamos aqui de confusão lexical e alteração indevida da palavra. Como exemplos de confusão na escolha das palavras, temos o caso abaixo, em que o participante utiliza a palavra “logaritmo” e, pelo contexto e próprio tema da redação, é certo que ele pretendia utilizar, ao invés, a palavra “algoritmo”. Há também outro exemplo de imprecisão vocabular na construção “Podemos fazer várias conjunturas a respeito das possíveis consequências da manipulação dos usuários da internet, mas o fato é que ela é prejudicial” pois, pelo contexto, o autor utilizou a palavra “conjuntura” no lugar de “conjectura”.
Podemos relacionar alguns dos exemplos mais comuns de imprecisão vocabular, sendo eles: afinidade x finalidade / burocracia x democracia / descriminalizar x discriminar / escultural x estrutural e por aí vai. São muitas as ocorrências desse tipo de desvio na redação Enem.
Já como exemplos de casos de alteração indevida temos: substantivos criados a partir de um verbo existente na língua, como “registramento” (do verbo “registrar”), ou criações como “emboramente” (em “muito emboramente a saúde esteja precária, as pessoas ainda são atendidas nos postos de saúde”). Fica nítido que o vocábulo “emboramente”, derivado da conjunção “embora”, não existe como advérbio e foi inadequadamente empregado nesse contexto.
3. Pondo a mão na massa ...
Para exercitar um pouco esse movimento de adaptação textual, considerando que o que se constrói em nossa mente antes de ir para o papel é o primeiro passo do texto que pretendemos escrever, propomos aqui um treinamento para que esse movimento de filtrar a oralidade se torne mais familiar até o grande dia. Leia as 5 palavras abaixo e as relacione de forma a construir um sentido para elas. Primeiro, faça isso em sua mente e registre tudo que você pensar sobre o assunto, da forma que vier e na construção que fluir. Agora, volte às cinco palavras e as relacione novamente, mas agora registrando em um texto de 5 a 10 linhas, como se estivesse escrevendo uma redação que será lida por um professor ou corretor. Depois disso feito, compare os dois registros e observe as diferenças presentes, o que deixou de existir e o que foi adicionado, quais informações foram valorizadas em cada registro e o mais importante: verifique se ambas fizeram sentido. Caso observe que o registro espontâneo foi prejudicado quando construído como registro para a forma escrita, evitando as marcas da oralidade, é tempo de praticar um pouco mais e alcançar uma escrita que filtre essas marcas sem fazer com que o conteúdo seja minimizado. Caso queira a avaliação de alguém sobre o seu desempenho, nos envie suas produções no direct do nosso instagram (@escritaemfoco) que teremos o maior prazer em te auxiliar.
Já para exercitar a escolha de vocabulários de forma a não reproduzir a escolha lexical imprecisa, temos a seguinte proposta para vocês: leiam o pequeno texto construído logo abaixo e identifiquem, pelo contexto, quais palavras foram empregadas de forma imprecisa, caracterizando uma má escolha vocabular. Depois, substitua cada uma delas pelo léxico que colabora para o sentido textual. Caso tenha alguma dúvida ou queira ter acesso ao gabarito, nos envie uma mensagem no direct do instagram (@escritaemfoco) que estaremos à disposição.
Os conhecido ambulantes e flanelinhas são parte integrante do trânsito atual brasileiro e lucram números consideráveis com seu trabalho em função do tráfico de automóveis, uma vez que há cada vez mais carros nas ruas. Contudo, o crescimento dos conflitos e acidentes ocasionados por esse movimento entre homens e veículos dividindo o mesmo espaço são eminentes. Cada vez mais motoristas infligem as regras de trânsito e ambulantes não fazem uso da descrição em seus afazeres, gerando tensões desnecessárias. Assim, entende-se como um impotente diligente o Sistema Nacional de Trânsito, o que retifica, mais uma vez, a má administração do governo atual.
Referências
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A redação no Enem 2019: cartilha do participante. Brasília, 2019.
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O QUE SÃO DISSERTAR E ARGUMENTAR?
1. Conceituando o tema
A linguagem, como constantemente apresentada no “Textualizando”, é fundamental para a constituição dos sujeitos e dos posicionamentos destes no mundo (GERALDI, 2003). Os usos que fazemos da linguagem não se restringem a um mero ato de se comunicar. Ler, escrever e falar são ações que nos permitem compreender o mundo, o outro e, ao mesmo tempo, agir, produzir compreensões.
Além disso, a escrita de textos, como uma ação de linguagem, tornou-se uma prática requisitada em concursos, vestibulares e provas que almejam avaliar o desempenho e comprovar o domínio da linguagem dos alunos e participantes. Esse domínio, no entanto, não se reduz somente ao conhecimento das regras gramaticais, de ortografia ou de acentuação. Em nossa sociedade, dominar a linguagem envolve saber dissertar e argumentar a respeito de um tema, uma vez a capacidade de discorrer sobre um determinado assunto, aliado à manifestação de um senso crítico que defenda um ponto de vista, tornou-se super valorizado dentro das exigências contemporâneas.
A contextualização desse reconhecimento da linguagem como uma instância primordial torna possível a compreensão do porquê existem tantos sites, textos e plataformas voltados para o ensino do texto dissertativo-argumentativo. Ou ainda, o porquê de tantos comandos referentes à produção desse tipo textual. Apesar dessa associação recorrente entre a dissertação e a argumentação, no conteúdo desta temática, optou-se, com o intuito de entender como realmente funcionam essas práticas escritas, por outro movimento. Afinal, o que é dissertar e o que é argumentar?
Para responder a tal questionamento, primeiramente, é necessário compreender o que é produzir um texto. A produção de textos, apropriando-se da definição de Paulo Coimbra Guedes (2009, p.90), “pressupõe leitores que vão dialogar com o texto produzido: concordar e aprofundar ou discordar e argumentar, tomando o texto como matéria-prima para seu trabalho.”. Ou seja, a produção escrita propõe uma relação essencial e intimista entre o autor e o próprio texto que, além de promover a escolha - a seleção - do que realmente se quer “transmitir/comunicar” ao outro e a materialização desse dizer em forma de texto, visa a possibilidade do leitor construir um sentido, estabelecer a interação e, consequentemente, internalizá-la para a reflexão e produção de outro projeto de dizer, através da refutação, da argumentação, ou da aceitação.
A apreensão dessa funcionalidade do diálogo para a produção de textos permite a visualização de uma particularidade essencial para entender o que é a argumentação: argumentar constitui-se como um ato fundamental para qualquer produção textual. Independente de um tipo de texto, ela faz parte de toda atividade de leitura ou escrita. Argumentar, como explorado no vídeo “Argumentação em textos orais e escritos”, é humano, já que frequentemente, mesmo antes da ida para a escola e da inserção dos indivíduos no universo da linguagem escrita, as palavras são utilizadas para uma eficácia, para um posicionamento, para a emissão de uma opinião. Ou seja, nós estamos constantemente argumentando.
Para compreender melhor esse primeiro ato, argumentar, como abordam Koch e Elias (2017, p. 24), é “a atividade discursiva de influenciar o nosso interlocutor por meio de argumentos.”. Logo, a argumentação consiste em uma atividade em que um autor – quem fala ou escreve - utiliza meios verbais – os textos – para ter uma ação sobre o outro. Essa ação, por sua vez, pode ser tanto simples, como uma orientação sobre os modos de ver o mundo ou uma provocação que leve o leitor a questionar sobre um problema, causando um impacto, quanto mais complexa, como fazer o outro aderir a uma tese ou modificar e reforçar uma opinião, uma crença. O princípio da argumentação, desse modo, baseia-se no compartilhamento de modos de compreender o mundo e a sociedade, de uma convicção ou de um raciocínio a fim de persuadir e modificar o comportamento ou a opinião de um sujeito alvo da argumentação.
Assim, finalizando essa primeira abordagem, pode-se concluir que a argumentação “é o resultado textual de uma combinação entre diferentes componentes, que exige do sujeito que argumenta construir, de um ponto de vista racional, uma explicação, recorrendo a experiências individuais e sociais, num quadro espacial e temporal de uma situação com finalidade persuasiva. (KOCH E ELIAS, p. 24)”.
Compreendido que argumentar é uma forma de agir sobre o outro que não se limita a um único tipo textual, torna-se necessário distinguir o que é dissertação. Dissertar, como delimita uma pesquisa rápida no dicionário, consiste em “expor algum assunto de modo sistemático, abrangente e profundo, oralmente ou por escrito; discorrer” (DISSERTAR, 2020). Logo, dissertar, assim como argumentar, também é uma atividade discursiva, mas, neste caso, voltada para a exposição de ideias, para a abordagem de uma realidade, um ato muito utilizado no dia-a-dia, visto que, regularmente, há a transmissão de informações, a exposição de uma realidade ou a abordagem de uma temática, como a ação que está sendo realizada para explicar o que é dissertar e o que é argumentar.
Diferentemente da narração, tipo textual predominante em histórias de aventura, e da descrição, como amplamente utilizado em biografias ou diários, a dissertação se fundamenta, de modo bem simples, em um questionamento. Para dissertar, para produzir um texto dissertativo, conforme afirma Guedes (2009), é primordial desenvolver a produção de conhecimento a partir de um determinado assunto, problematizar uma temática e, principalmente, questionar. Ou seja, a dissertação parte do reconhecimento de um problema - de uma questão adversa sobre algum tema - que pode ser exposto, comparado, analisado, definido ou, até mesmo, classificado, clarificando uma realidade e organizando conhecimentos para que o leitor, o público-alvo, consiga compreender, dialogar e internalizar essa produção textual.
Pronto! Exploradas as semelhanças e diferenças que caracterizam a argumentação e a dissertação, entender o porquê da junção de ambas no texto dissertativo-argumentativo torna-se uma tarefa descomplicada. Essas atividades discursivas, de modo didático, se complementam, uma vez que não basta propor um questionamento, levantar um problema a respeito de um assunto, é fundamental convencer, persuadir o leitor de que essa problemática é real. É necessário, portanto, desenvolver, encontrar ou, inclusive, procurar incessantemente um ponto de vista sobre o tema, enquanto demonstra as convicções, os modos de ver o mundo que confirmam tal questionamento e que convençam o outro sobre sua veracidade ou importância.
O texto dissertativo-argumentativo, como pontua as competências elaboradas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), “é mais do que uma simples exposição de ideias” (BRASIL, 2019) . Assim, ao refletir acerca do que te incomoda sobre determinado tema, qual problema circunda esse tema, qual seu questionamento a respeito desse tema, encontrará sua tese, seu posicionamento. Definido isto, resta argumentar, agir sobre o outro por meio de argumentos convincentes, expor o seu problema fazendo com o leitor também o questione, reflita sobre ele.
2. Exemplificando para fixar...
Considerando que a argumentação e a dissertação, como discutido anteriormente, constituem-se como atos discursivos fundamentais com funções e características próprias, mas, simultaneamente, complementares, faz se necessário compreender suas funcionalidades em um dos tipos textuais mais notável: o texto dissertativo-argumentativo. Assim será explorado, a partir da análise de uma “Redação Nota Mil” do Enem sobre a temática “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira���, como esses trabalhos discursivos são realizados:
Texto sem título
Julia Guimarães Cunha
O feminismo é o movimento que luta pela igualdade social, política e econômica dos gêneros. Hodiernamente, muitas conquistas em prol da garantia dessas igualdades já foram alcançadas – a exemplo do direito ao voto para as mulheres, adquirido no Governo Vargas. Entretanto, essas conquistas não foram suficientes para eliminar o preconceito e a violência existentes na sociedade brasileira.
De acordo com o site “Mapa da Violência”, nas últimas três décadas houve um aumento de mais de 200% nos índices de feminicídio no país. Esse dado evidencia a baixa eficiência dos mecanismos de auxílio à mulher, tais como a Secretaria de Políticas para as mulheres e a Lei Maria da Penha. A existência desses mecanismos é de suma importância, mas suas ações não estão sendo satisfatórias para melhorar os índices alarmantes de agressões contra o, erroneamente chamado, “sexo frágil.”
Mas, apesar de ser o principal tipo, não é só agressão física a responsável pelas violências contra a mulher. Devido ao caráter machista e patriarcal da sociedade brasileira, o preconceito começa ainda na juventude, com o tratamento desigual dado a filhos e filhas – comumente nota-se uma maior restrição para o sexo feminino. Além disso, há a violência moral, ainda muito frequente no mercado de trabalho. Pesquisas comprovam que, no Brasil, o salário dado a homens e mulheres é diferente, mesmo com ambos exercendo a mesma função. Ademais, empresas preferem contratar funcionários do sexo masculino para não se preocuparem com uma possível licença maternidade.
É evidente, portanto, que ainda há entraves para garantir a segurança da mulher brasileira. Desse modo, o Estado deve, mediante a ampliação da atuação dos órgãos competentes, assegurar o atendimento adequado às vítimas e a punição correta aos agressores. Além disso, cabe às empresas a garantia de igualdade no espaço laboral, pagando um salário justo e admitindo funcionários pela sua qualificação, livre de preconceitos. Por fim, é dever da sociedade o respeito ao sexo feminino, tratando igualmente homem e mulher. Assim, alcançar-se-á uma sociedade igualitária e de harmonia para ambos os gêneros.
Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-do-enem-2015-que-tiraram-nota-maxima.ghtml. Acesso: 24/09/2020
Posta a delimitação da temática “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, torna-se primordial atentar para como a autora produz um conhecimento, um dado completamente novo a respeito de um tema já dado. Logo, o tema que envolve a persistência da violência contra a mulher é transformado, através de reflexões, em um problema real que consiste na ineficácia de conquistas importantes pelas mulheres para combater um cenário revoltante de agressão. A autora, dito de outro modo, aprofunda o assunto, interpreta uma informação nova e real sobre o tema, analisa uma questão adversa, originando o seu posicionamento, a tese que será defendida durante a produção textual.
Assim, para compreender como se dá o ato de dissertar, percebe-se, logo no primeiro parágrafo, a problematização que a autora desenvolve a partir desse assunto proposto. A autora questiona essa violência contra a mulher e vai apresentando seu ponto de vista através de uma explicação sobre o que é o feminismo e da exemplificação de direitos já adquiridos pelas mulheres em razão desse movimento, sucedendo na interpretação e exposição de um problema muito claro, como pontuado no trecho “Entretanto, essas conquistas não foram suficientes para eliminar o preconceito e a violência existentes na sociedade brasileira.”. Ou seja, o texto se organiza na defesa de um ponto de vista, de um posicionamento visível sobre a conservação de uma brutalidade contra as mulheres brasileiras.
Identificado esse movimento dissertativo que revela o ponto de vista que orientará o desenvolvimento do texto, faz-se necessário construir argumentos que convençam o leitor. Reflita: qual seria a eficácia de apenas apresentar uma problemática? Nenhuma, uma vez que o texto seria constituído apenas pela exposição de ideias. Assim, para a eficiência do texto dissertativo-argumentativo, é necessário possibilitar o desenrolar de um raciocínio que atinja quem está lendo e convença sobre o posicionamento adotado.
No texto, essa tese de que a aquisição de alguns direitos não significa o fim da violência contra a mulher é defendida – comprovada - pela exposição de três fatos principais: a ineficiência dos mecanismos de auxílio a mulher; a existência de tratamentos desiguais entre filhas e filhos; e, por último, a ocorrência de violência moral no mercado de trabalho. Percebe-se, então, que há um movimento de selecionar fatos verídicos e realistas que produzem um raciocínio lógico capaz de persuadir o leitor, modificar o modo de ver o mundo. Isto é, há um movimento expositivo que desenvolve a argumentação, que permite a defesa do ponto de vista determinado.
De fato, existe uma linha muito tênue entre dissertar e argumentar, já que, ao mesmo tempo em que expor ideias não é suficiente, é preciso convencer o leitor sobre tal opinião. Para persuadir e desenvolver um raciocínio lógico e convincente, é fundamental a apresentação de exemplos, acontecimentos, experiências ou, inclusive, dados concretos. Nesse texto, esse movimento de construção de argumentos coerentes e consistentes pode ser revelado pelo uso de dados do “Mapa da violência” que comprovam o aumento gritante nos índices de feminicídio e, ainda, pela menção de pesquisas que mostram a discrepância entre os salários masculinos e femininos.
Tendo conhecimento dessa necessidade de expor e explicar ideias a fim de persuadir o outro, o texto dissertativo-argumentativo, portanto, tem uma dupla funcionalidade. É, conforme materializa o texto analisado, argumentativo porque defende uma tese, uma opinião, e é dissertativo porque utiliza explicações para justificá-la.
3. Pondo a mão na massa...
Reconhecidas as particularidades da argumentação e da dissertação, o desafio desta temática consiste em uma reflexão profunda a respeito da temática “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.
Primeiramente, você deve questionar a persistência dessa violência. Pense nas problemáticas que acarretam esse cenário, o que é possível questionar em relação a isso e o que realmente te incomoda nessa realidade. Após a reflexão, produza uma informação, uma ideia nova que será seu ponto de vista, seu posicionamento.
Definida sua tese, você deve selecionar fatos, exemplos ou dados que contribuirão na defesa da sua opinião. Pronto, você já tem um roteiro para construção de um texto dissertativo-argumentativo. Nas próximas temáticas, será explorado como transformar tudo isso em texto.
Referências
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A redação no Enem 2019: cartilha do participante. Brasília, 2019.
DISSERTAR. In: Oxford Languages and Google. Google, 2020 Disponível em: <https://www.google.com/search?q=dissertar&rlz=1C1CHBD_pt-PTBR880BR880&oq=dissertar&aqs=chrome.0.69i59j0l4j69i60j69i61l2.6157j1j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8> . Acesso em: 06/09/2020.
GERALDI, J. W. Portos de Passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GUEDES, P. C. Da redação à produção textual: o ensino da escrita. São Paulo: Parábola, 2009.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2017.
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O QUE É DISCURSO?
1. Conceituando o tema
Na sociedade, faz-se habitual ouvir ou usar expressões como: “fulano só tem discurso?”; “Discurso de político não é confiável!”; “Isso que estou falando é sério, não é só discurso?”; “Gostei do discurso do paraninfo!”; “Esse discurso é agressivo!”; “Seu discurso é de esquerda!”; “Ouvi o maior discurso da professora porque não fiz a tarefa!”. Nestes casos, discurso assume vários significados, tais como: algo que não tem relação com a prática (pessoa que fala, mas não faz), bronca, modo de agressão, revelador da posição política (de esquerda ou direita) ou religiosa (o discurso do padre). Diante dessas múltiplas possibilidades, é impossível não surgir dúvida sobre o que é discurso e, principalmente, se é algo negativo ou positivo.
Para responder à essa questão, é necessário compreender como são construídas as atividades de linguagem. No dia a dia, usa-se a língua para dialogar com diversos interlocutores. Uma língua tem sempre uma parte que é estrutura – vocabulário, sintaxe, morfologia, fonologia - denominada recursos linguísticos. O domínio dos recursos linguísticos é fundamental, mas não é suficiente para a realização das atividades de diálogo com os interlocutores. Para que haja a compreensão das ações de linguagem do outro, é necessário considerar também quem é o interlocutor, o porquê da interação, a situação em que está desenvolvendo a interação verbal. Ou seja, além dos recursos linguísticos, torna-se essencial também ter conhecimento dos recursos extralinguísticos. Estes definem os sentidos, a forma como se produz a linguagem.
Ainda à título de exemplo, é possível pensar em situações como as seguintes: nas interações verbais cotidianas, informais, durante conversas com familiares ou amigos, o uso da linguagem é descontraído, sem preocupações com as normas e regras do bem falar; também em termos de sentidos, usa-se gírias, palavras inadequadas. Isso tudo porque a situação permite. Entretanto, torna-se importante frisar que durante uma entrevista de trabalho ou apresentação de um trabalho escolar, a linguagem é formal, já que a situação exige. Dito tudo isso, pode-se afirmar que os usos da linguagem são marcados por regras e controles. Conhecer essas exigências extralinguísticas é fundamental. No entanto, resta ainda entender: o que é discurso?
Ao produzir linguagem, que é o resultado do entrelaçamento do linguístico e do extralinguístico, o usuário de uma língua produz discurso. Isso acontece nas produções orais e escritas. Discurso pode ser compreendido, portanto, como o resultado de um trabalho, realizado entre interlocutores, com os recursos linguísticos e extralinguísticos visando à produção de sentido sobre um determinado tema. O discurso é o sentido que se produz entre interlocutores sobre algo dito em decorrência das posições sociais, políticas e ideológicas dos interlocutores. O discurso não é repetível, ele será sempre outro mesmo quando os mesmos interlocutores realizam por mais de uma vez uma mesma fala ou escrita sobre um determinado tema. O professor que dá a mesma aula para várias turmas, sempre produzirá um discurso com maior ou menor grau de diferença, embora repetindo o tema, para cada turma. Isso ocorre porque os interlocutores não são os mesmos e, principalmente, porque a cada produção de linguagem novas respostas e interpretações podem ser apresentadas.
Por essa perspectiva, discurso não pode ser confundido com gramática de uma língua ou somente como os recursos linguísticos. O discurso se produz porque falante/ouvinte, escritor/leitor fazem uso da linguagem inseridos em um tempo e espaço determinado. Por que sempre pertencentes a um grupo social, são dotados de valores culturais, posições políticas e ideológicas. Por exemplo, se solicitar que políticos de diferentes partidos definam o que é democracia, provavelmente cada um apresentará uma interpretação própria para esse termo. O seu discurso sobre o que seja a democracia é constituído com base nos seus valores culturais, crenças e ideologia. Nenhum falante/ouvinte, escritor/leitor está fora, pode produzir um discurso não afetado por essas condições. Daí surge a compreensão de que não há discurso neutro. O discurso de cada falante/ouvinte, escritor/leitor é carregado de sentidos que expressam as suas posições culturais, ideológicas e políticas. Tais sentidos podem ser produzidos de forma explicito ou implícita no discurso.
Por exemplo, a afirmação de que “o discurso político não é confiável”, quando enunciado no contexto brasileiro atual, exige que o ouvinte desta afirmação, para compreendê-la, considere a relação do brasileiro com a política, a postura dos políticos brasileiros e, principalmente, a descrença da nossa sociedade com a classe política em geral. É a partir disso que é possível entender os sentidos dessa afirmação. Se ela for feita em outro país, por exemplo, o sentido não será o mesmo. Em síntese, o discurso não prescinde da gramática da língua, mas, para compreender os seus sentidos, é preciso também considerar os interlocutores (as suas crenças, valores e ideologias), o contexto-situação em que o discurso está sendo produzido (o lugar e o tempo histórico e geográfico).
1.1 Conceitos importantes
Cultura: A cultura de uma sociedade se forma pelo conjunto de crenças, costumes, valores e, consequentemente, pelos objetos, artefatos e instrumentos artísticos, políticos, acadêmicos produzidos/adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de uma sociedade (Thompson, 2009). Na relação com esses objetos, artefatos e instrumentos formam-se os valores e crenças. Estes funcionam como lupas que orientam as interpretações e os posicionamentos que assumimos.
Política: O termo política (Politiká) é de origem grega. O termo politiká deriva de polis (referência ao que é público) e tikós (referência ao que é comum a todas as pessoas). Embora seja bastante ampla, palavra política é comumente usada para definir aquilo que diz respeito ao que é comum a todos. As posições políticas dizem sobre como compreendemos e defendemos esses bem comum a todos. “A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças” (ARENDT, 2004, p. 07).
Ideologia: Ideologia, assim como política, é um termo com significado amplo. Porém, de modo geral, pode ser definido como o conjunto de ideias de um grupo social. Ideologia, numa perspectiva positiva, é a "expressão de visão de mundo de classe [ . . . ] pode-se falar de 'ideologias' no plural como a opinião, teorias e atitudes formadas dentro de uma classe a fim de defender e promover seus interesses” (GUARESCHI, 1997, P. 167).
2. Exemplificando para fixar...
Com o objetivo de entender a materialização do discurso, será analisada a Charge Auxílio Fácil, publicada no dia 10/04/2020, no jornal Diário do Nordeste. De modo geral, pode-se afirmar que a charge é uma produção textual, composta pela linguagem verbal e não verbal, que tem o objetivo de abordar um tema de forma crítica. O termo charge é francês, deriva da palavra charger e significa carregar, atacar exagerar (SILVA, 2004). É um recurso textual-discursivo usado para protestar, criticar algo de errado que está ocorrendo numa sociedade.
Para entender o discurso materializado no texto verbal e não verbal da charge a seguir, é importante considerar que ela foi publicada em um jornal do Nordeste do Brasil, região que possui altos índices de desigualdade social. Nesse sentido, a palavra “auxílio”, postada no canto superior esquerdo, funciona como elemento contextualizador da crítica presente na charge. Ou seja, para compreendê-la o leitor precisa saber que o governo brasileiro, em decorrência da pandemia e por decisão do Congresso Nacional, está liberando um auxílio de 600 reais para as populações desamparadas e, principalmente, que a inscrição para receber esse auxílio precisa ser feita pela internet.
A afirmação verbal “É muito fácil receber os 600 reais. Resolve tudo pela internet”, se pronunciado, por exemplo, pelo gerente do banco que está fazendo o pagamento do auxílio, tem um sentido completamente diferente do que está na charge. Isso porque, para esse gerente, o acesso à internet é comum. Aliás, um gerente de banco é alguém que vive imerso na cultura digital. Então, sua posição cultural, política e ideológica é a de que é muito fácil fazer tudo pela internet.
Na charge, com um fundo cinza, duas pessoas, usando um brinquedo comum na cultura de brincar das populações não urbanas, um telefone feito com duas latas e um fio de barbante, conversam. Nessa situação, uma pessoa fala para a outra: “É muito fácil receber os 600 reais. Resolve tudo pela internet”. Sentadas no chão, ocupando a posição de uma criança que ainda brinca, em cenário cinza, que remete à falta de luz, as duas pessoas que conversam, portanto, materializam o discurso crítico da charge ao governo por disponibilizar a inscrição para recebimento do auxílio por meio da internet quando os destinatários desse auxílio sequer tem acesso à internet. Esse discurso crítico não é algo específico, marcado no texto, mas é o resultado do conjunto verbal e não verbal que compõe a charge. O leitor constrói essa compreensão de crítica a partir dos sentidos possíveis, decorrentes da forma como a charge foi construída.
3. Pondo a mão na massa...
Agora, é a sua vez! A charge a seguir, de autoria do cartunista Duke, foi publicada no Jornal o Tempo, edição do dia 22/09/19. Procure identificar os elementos textuais e extratextuais necessários para se compreender o discurso crítico dessa charge. Para tanto, analise o pano de fundo, as placas postadas na criança, as características raciais das personagens e as relações de complementaridade entre esses elementos não verbais com os enunciados verbais. Qual o discurso crítico desta charge?
Referências:
ARENDT, Hannah. O que é política? tradução de Reinaldo Guarany. - 3' ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Disponível em: http://arquivos.eadadm.ufsc.br/somente-leitura/EaDADM/UAB_2017_1/Modulo_1/Ciencia%20Politica/Material%20Complementar/O%20que%20%C3%A9%20pol%C3%ADtica%20Hannah%20Arendt.pdf
Charge: Auxílio Fácil. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/image/. contentid/policy:1.2232839:1589933161/image/image.jpg?f=default&$p$f=9563970. Acesso em 02/08/2020.
Charge O Tempo. Disponível em: https://www.otempo.com.br/charges/charge-o-tempo-22-09-2019-1.2239876. Acesso em: 03/08/2020.
GUARESCHI, Neuza. Ideologia e Discurso. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/71370/40522
SILVA, C. L. M. e. O trabalho com charges na sala de aula. Pelotas, RGS: UFRGS, 2004.
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna. Teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petropólis: Vozes, 2009.
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O QUE É COERÊNCIA TEXTUAL E QUAL A IMPORTÂNCIA DE UM TEXTO COERENTE?
1. Conceituando
Quem ainda não ouviu um professor de língua portuguesa relembrando, mediante o pedido para que alunos escrevam sobre um determinado tema, sobre a importância do texto ser coerente? Geralmente, este termo aparece atrelado ao da coesão. Nas temáticas anteriores abordamos coesão sequencial e referencial. Elas estão implicadas na produção de um texto coerente, mas não são a mesma coisa.
Para definir o que seja coerência textual, precisamos ter sempre em mente que um texto não é um amontoado de palavras e/ou frases soltas numa página. Um texto, para ser declarado como tal, precisa que suas partes tenham relação uma com as outras. O famoso nexo! Na língua portuguesa, temos um vasto vocabulário, cada vocábulo tem significados próprios. Quando vamos ao dicionário, por exemplo, é exatamente para saber quais são os significados individuais das palavras, para a partir disso, definirmos qual o melhor sentido para aquilo que estamos querendo escrever.
Quando estamos produzindo um texto, precisamos relacionar palavras para produzirmos frases, orações, parágrafos e assim por diante. Dentro de um texto, as palavras que no dicionário tem várias possibilidades de significados, passam a ter um sentido mais restrito, adequado ao que está sendo dito no texto. Então, um aspecto da coerência textual está diretamente ligado a essa relação de delimitação dos sentidos das palavras. Isso fazemos a partir da delimitação do tema do texto. Ao delimitar o tema, orientamos o leitor sobre o que estamos querendo dizer.
A coerência diz respeito à harmonia, à conectividade que existe em um texto – seja pelo seu todo, seja pelas suas partes. Isto é, coerência diz sobre a articulação das ideias que conferem sentidos ao texto. As ideias precisam ter nexo. Este é o resultado do entrelaçamento das partes (frases, orações e parágrafos). Este entrelaçamento produz o texto como um tecido coerente. Esse tecido começa a ser formado pela sua organização global – que sempre assegura que o texto tenha um começo, meio e fim (ou introdução, desenvolvimento e conclusão).
Nesse sentido, para se produzir um texto coerente, o primeiro passo a ser dado é planejamento, que envolve o seguinte: qual é o tema; qual o objetivo de escrever sobre esse tema, o que pretendemos dizer sobre ele; qual o posicionamento que assumiremos com relação ao tema; como construir as relações linguísticas para demarcar o posicionamento assumido (adversidade, concordância, explicação); qual ordem será seguida para apresentar as discussões em torno do tema (genérica para o especifico ou vice-versa). Enfim, é fundamental verificar se o texto não apresenta partes que se contradizem, se possui um fio condutor em torno do desenvolvimento do tema.
Por fim, vamos recorrer as linguistas Koch & Elias (2008, p. 184), para afirmar o seguinte: a coerência não é um aspecto material, como é, por exemplo, a oração. Não é possível apontá-la, sublinhá-la. A coerência, de fato, depende do reconhecimento do leitor. É ele que, ao ler o nosso texto, pode definir se há coerência. Obviamente, ele não fará isso baseado no nada, como um ato de mera vontade. Para decidir se o texto é coerente ou não, o leitor precisa considerar o que o autor do texto fez, o trabalho que ele apresentou com os recursos da língua, também precisa se basear nos conhecimentos que possui sobre o tema apresentado. É nessa interação que pode definir se o texto é coerente ou não.
2. Exemplificando para fixar...
Considerando que a coerência textual não consiste em um aspecto material e facilmente identificável na produção textual, serão analisados três pequenos textos que demonstram, de forma didática, a importância desse mecanismo para a escrita e suas particularidades.
Neste primeiro exemplo, um Cartum intitulado “Último ano de faculdade”, é possível observar a interação entre dois personagens que conversam sobre a existência de convicções e a possível entrada no mercado de trabalho, produzindo um efeito cômico a partir de uma situação habitual. Contudo, há uma falta de nexo no diálogo, já que desligar os aparelhos equivale a morte das convicções e possuir esses ideais aparenta ser primordial para conseguir um emprego. Ou seja, a pretensão de desligar os aparelhos é incoerente com o desejo de se inserir no mercado de trabalho após concluir a faculdade, não há uma competência para a realização de um desempenho mínimo.
Essa incoerência, no entanto, é fundamental para produzir o humor do Cartum, visto que introduziu uma discordância entre o que o indivíduo quer e o que ele irá fazer, ou melhor, deixar de fazer, neste caso. Assim, esse texto constitui-se de uma incoerência totalmente proposital e necessária.
Identificada a possibilidade de construir intencionalmente um texto incoerente, o segundo exemplo corresponde a um texto dissertativo-argumentativo com a temática “Redução da maioridade penal”:
Redução da maioridade penal
A redução da maioridade penal é um tema muito discutido mais não resolvido, muitas pessoas apoiam e muitas se contradizem.
Adolescentes a partir dos seus 16 anos já tem consciência sobre seus atos e acaba sendo uma das principais causas que é discutido pelas pessoas que querem que a redução seja aprovada.
As causas para essa redução acontecer é que os jovens estão entrando no mundo do crime muito cedo e sabem que não vão sofrer nenhum tipo de punição.
Concluimos que a redução da maioridade penal não é a melhor solução, tendo como investir em educação e preparando o jovem para uma carreira bem sucedida e profissional contribuindo para o mundo.
Neste texto, sem a necessidade de uma leitura trabalhosa, é possível notar que o autor apresenta, em um primeiro momento, argumentos que fundamentam a redução da maioridade penal, visto que no desenvolvimento da produção textual disserta-se sobre a existência de uma consciência dos jovens em relação às atitudes criminosas, bem como sobre a percepção de que existe impunidade para esses infratores.
Entretanto, para concluir o raciocínio desenvolvido, o autor, no último parágrafo, revela outro ponto de vista, um posicionamento completamente diferente do proposto até o momento, defendendo que a redução da maioridade penal não é a solução mais viável. Logo, o texto compõe-se de duas ideias discrepantes em relação a temática, ou seja, dizeres e colocações contraditórias.
Assim, percebe-se que, além da utilização de premissas inadequadas e baseadas em verdades particulares que não garantem argumentos lógicos e coerentes, a incoerência se dá pela falta de relação entre a conclusão e o que foi dito anteriormente. Neste exemplo, portanto, há uma incoerência por insuficiência de saberes linguísticos e enciclopédicos que possibilitam o desenvolvimento de uma argumentação interligada e harmônica.
Por último, o terceiro exemplo demonstra uma produção textual coerente, em que a organização global não permite quebras de sentidos ou a incompreensão do leitor:
DUPLA
Mal encerrou o dia de lava, cozinha, arruma casa, bota menino para dormir e de deixa a janta à mesa. É hora de morfar. E lá se foi: silícios postiços, ok; cabelo solto, ok; cinta modeladora, ok; batom vermelho, ok. Noutro palco: bebe, dança, tira a roupa, deita, chora e até rir. Ih, amanheceu; transformar! Na bolsa algum dinheiro. Na alma cicatrizes! (Robério Pereira Barreto)
Disponível em: http://www.minicontos.com.br/
Embora seja curto, esse miniconto apresenta ações e informações que possibilitam a construção de um sentido, sem contradições ou ideias sem nexo. Observe, então, como as atividades justapostas constituem sequências aceitáveis e que realmente podem acontecer. Seria incoerente, por exemplo, se “noutro palco” houvesse ações relacionadas a estudar ou ministrar aulas.
A partir dessas leituras e análises, torna-se possível compreender como a coerência textual requer a construção de um tecido organizado com começo, meio e fim conectados. A coerência, portanto, é um fator primordial para a escrita de textos eficientes e que possibilitam que o leitor produza sentidos.
3. Pondo a mão na massa
DESAFIO DO LOBO ESCRITOR
Oi? Lobo escritor? Calma. Vamos fazer o exercício de escrita e você já vai entender.
Quando queremos escrever, a primeira preocupação que surge é sobre o começo. Por onde começar? Geralmente, quando a gente está produzindo um texto para um professor, o tema já é pré-definido.
Entretanto, isso não é tudo. Para produzirmos algo coerente, é necessário selecionar e organizar as ideias em torno desse tema. Por exemplo: vamos imaginar que o seu professor pediu para que escreva um pequeno texto explicando a famosa afirmação do Filósofo Thomas Robbes, na obra o Leviatã, “O Homem é o lobo do Homem”.
Além da necessidade de ler - mesmo que pouco e não diretamente a obra, mas o que alguém já escreveu sobre o pensamento desse filósofo - para ter o que dizer; você precisa ter outras preocupações, a partir do como pretende explicar essa afirmação. Mãos à obra!
Referências
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça.; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos dos textos. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
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O QUE É COESÃO SEQUENCIAL?
1. Conceituando
Para dar continuidade ao tema coesão textual, torna-se necessário relembrar que a coesão textual consiste nos recursos linguísticos que permitem a construção das ligações entre os elementos do texto. Por meio deste mecanismo, é possível criar e sinalizar toda a movimentação do texto - para cima, para baixo, para frente, para trás. Logo, a função da coesão é garantir a continuidade, a sequência em sintonia das partes textuais para que o leitor não perca o fio condutor das ideias, posições, argumentos que são apresentados em torno do tema abordado.
Dentre as funções da coesão textual, a presente temática abordará, exclusivamente, a coesão sequencial, responsável pelas condições que permitem a progressão de um texto. Coesão sequencial é nome dado aos recursos e procedimentos linguísticos usados para estabelecer relações entre parágrafos, orações e períodos textuais. A coesão sequencial mantém, portanto, a continuidade lógica das partes textuais. Ao contrário da referencial, que retoma ou antecipa partes do texto, a sequencial se materializa mediante os acréscimos, correlações, uso de conectivos ou pela simples ordenação dos termos.
Os mecanismos de coesão sequencial contribuem para o desenvolvimento do tema. A quebra desse mecanismo leva a produção de um texto desconexo, uma vez que sem essa relação de continuidade o texto tende a se tornar incoerente. Nesse sentido, são operações concretas realizadas, ao escrever, “de repetir, substituir, usar palavras semanticamente próximas, ou usar uma conjunção” ou qualquer outro tipo de conectivo que possibilite a progressão do texto (ANTUNES, 2005, p. 60).
Substituição e repetição são dois conjuntos que, dentro do escopo da coesão sequencial, são fundamentais para se pensar a organização da escrita. Por meio da substituição é possível modificar um termo do texto por um pronome, advérbio ou por termos sinônimos. Obviamente, que essas mudanças não podem ocorrer sem um propósito, somente para mudar uma expressão ou palavra por outro. De fato, a substituição é o recurso que reitera, reafirma algum elemento ou aspecto do tema que está sendo desenvolvido.
A repetição, que tradicionalmente é apresentada como algo negativo na construção textual, de fato é uma estratégia básica na construção textual. Isso porque, por meio deste recurso, pode-se voltar a um segmento anterior do texto para manter em foco um aspecto do conteúdo ou da forma. A coesão por repetição é construída por meio da paráfrase, paralelismo e da repetição propriamente dita de uma palavra ou expressão textual (KOCH & ELIAS, 2017; ANTUNES, 2005).
Por essa perspectiva, a repetição é muito presente na produção textual. Para compreender isso, faz-se necessário ir além da ideia da repetição banal e que, de fato, é somente um resultado do não saber escrever. A repetição abordada é uma estratégia usada para construir o texto. Esses recursos linguísticos possibilitam estabelecer vários tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas entre as partes de um texto.
A paráfrase, também fundamental na produção textual ao usar a voz de outro autor para embasar o que está sendo escrito sobre um tema - é o procedimento linguístico de redizer o que já foi dito. Porém, trata-se de um dizer novamente com outras palavras, para explicar, detalhar, traduzir para o leitor aquilo que queremos dizer. Para introduzir expressões parafrásticas, utiliza-se recursos linguísticos como dito de outra forma; dito com outras palavras; isto é; ou seja; em resumo; em suma, que sinalizam claramente para o leitor que há a repetição do já dito, mas de uma outra forma. Essa estratégia pode ser usada para evitar que o leitor compreenda de uma forma diferente daquela que se quer dizer. A paráfrase é, portanto, um meio utilizado para clarear, reafirmar uma informação, uma ideia e mesmo um conceito dentro do texto.
De acordo com Antunes (2005), o paralelismo é o recurso que permite estabelecer relação de coordenação entre elementos que apresentam valores sintáticos iguais, isto é, os elementos textuais que possuem estruturas gramaticais similares. Para isso, torna-se fundamental se atentar à igualdade das construções sintáticas para a construção de sentidos. Ainda de acordo com Antunes (2005, p. 85), o paralelismo aparece nas construções de adição, por meio do uso das expressões conjuntivas “não só, mas também, não apenas, mas ainda”, dentre outras, bem como para indicar complementos ou adjuntos de um mesmo termo, por exemplo, na construção de expressões enumerativas.
Por fim, a repetição propriamente dita, recurso usado para fazer reaparecer uma parte do texto (unidade) que já foi anteriormente escrita, dita. “Assim, à repetição corresponde todo e qualquer empenho por fazer reaparecer no texto alguma palavra ou sequência de palavras que já ocorreram anteriormente” (ANTUNES, 2005, p. 71). É importante frisar que a repetição não consiste em um repetir por repetir, mas sim de uma estratégia que visa reiterar, dizer de novo visando a construção coesa dos sentidos do texto como um todo.
2. Exemplificando para fixar...
Tendo em vista que a produção de textos eficientes, em que o leitor consiga acompanhar as ideias, os argumentos e as informações, depende, em grande parte, da coesão textual, será explorado, neste momento, como esse recurso garante a continuidade lógica do projeto de dizer. O ensaio “A partilha da miséria”, pertencente ao livro “Como conversar com um fascista” da filósofa Márcia Tiburi, é composto por diversos movimentos que materializam, de forma clara, estratégias essenciais para o desenvolvimento coeso do tema:
A partilha da miséria
Márcia Tiburi
A sedução capitalista que escamoteia a opressão organiza-se na forma de uma constelação de palavras mágicas, por meio das quais o falante e o ouvinte acreditam realizar todos os seus desejos. Palavras como felicidade, ética, liberdade, oportunidade, mérito, são todas mágicas. Uma dessas palavras mágicas usadas pelo capitalismo é a palavra “democracia”. Antidemocrático, o capitalismo precisa ocultar sua única democracia verdadeira - a partilha da miséria e, hoje em dia, cada vez mais, a matabilidade - em nome da aparência de outra que é feita com as palavras mágicas. Aristocrático, ele acusará a crítica de ser antidemocrática, pois ele faz parecer que o monopólio da democracia é seu. Assim como todo sujeito autoritário reserva para si certas verdades, acontece com o todo do regime, pois esta reserva faz parte da sua lógica.
Podemos dizer que a democracia é polissêmica, mas também podemos dizer que alguns de seus significados são vendidos no mercado. De um lado, há uma democracia que deve aparecer como realizada contra outra democracia, que está na ordem do desejo e do sonho e que não teria preço.
Como véu acobertador de manejo simples, a democracia usada em sentido mágico perde sua história carregada de importantes significados políticos. Em seu fundo bem oculto, no tempo presente, sobrevive alguma coisa que ainda parece razoável, algo que desejamos, um governo de todos, direitos e igualdade social. Ao mesmo tempo, é evidente que há uma mentira concreta na democracia: a estabilização do capitalismo ou de outros regimes autoritários para a qual a palavra serve de acobertamento. O casamento entre opressão e sedução promete realizar a mágica capitalista em fiat lux redentor.
A democracia nesse contexto é também um reducionismo, mas ainda não achamos um nome melhor para uma utopia possível.
Neste ensaio, que dispensa a necessidade de uma leitura trabalhosa, a autora busca persuadir seu leitor de que uma das “palavras mágicas usadas pelo capitalismo é a palavra “democracia””. A partir desse posicionamento, torna-se possível observar os movimentos, as pistas textuais que a autora mobiliza para fazer com que seu texto progrida, seja coeso e, consequentemente, convença seu público.
Assim, para realmente atingir a intenção dessa produção, pode-se notar, primeiramente, o reaparecimento constante da expressão “palavras mágicas”. Ou seja, o mecanismo de repetição é amplamente utilizado para que a premissa inicial do ensaio seja reiterada, seja dita novamente. Essa repetição, no entanto, não consiste em um movimento de mera repetição, o que poderia deixar o texto redundante e desinteressante, mas introduz novas informações sobre a temática, como exemplificar quais seriam as palavras mágicas, delimitar qual a palavra mágica para o capitalismo, afirmar a existência de uma constelação de palavras mágicas ou, inclusive, explicar qual a finalidade dessas palavras.
Ainda, em relação ao termo “palavras mágicas”, é possível identificar o uso do mecanismo coesivo de substituição, uma vez que, ao final do ensaio, a repetição frequente dessa ideia de que o capitalismo se apropria de palavras com poderes é mudada pelo sinônimo “mágica capitalista”, a fim de concluir a associação entre a suposta existência de palavras mágicas e o capitalismo.
O recurso de repetição é utilizado pela autora, devido a sua importância na construção dos argumentos, mais uma vez para reiterar o termo “democracia”, a fim de desenvolver reflexões a respeito do que se pretende defender, já que é primordial discutir a existência de duas concepções antagônicas, elucidar as consequências da atribuição de um sentido mágico, revelar a implantação de uma mentira e reafirmar o que é democracia no contexto discutido. É importante ressaltar também a substituição deste termo pela expressão “única democracia verdadeira”, estratégia que caracteriza e dá novas peculiaridades ao termo já utilizado.
Além disso, finalizando a análise do recurso de repetição no texto, percebe-se a reiteração única das palavras sedução e opressão, que são escritas novamente para relembrar, para que o leitor retome o foco na relação estabelecida entre esses dois termos desde o início do ensaio.
O recurso coesivo de paralelismo, por sua vez, aparece para enumerar quais são as palavras mágicas, construindo um exemplo significativo e igualitário, bem como para atribuir valores idênticos ao fato de a democracia ser polissêmica e, ao mesmo tempo, ter significados mercadológicos. Ou seja, o paralelismo não se resume ao simples agrupamento de termos sintáticos parecidos, mas sim expressa um valor de igualdade na construção de sentidos do texto, o que possibilita a autora também por esses termos dentro da definição de palavras mágicas. Na oração “Podemos dizer que a democracia é polissêmica, mas também podemos dizer que alguns de seus significados são vendidos no mercado”, a expressão conjuntiva “mas também” permite a criação de equilíbrio, igualdade entre as construções sintáticas da oração e antecede e precede ao termo conjuntivo.
Por último, o recurso coesivo de paráfrase pode ser observado na oração “Assim como todo sujeito autoritário reserva para si certas verdades, acontece com o todo do regime, pois esta reserva faz parte da sua lógica.”, visto que a conjunção “assim como” explica, detalha através de uma comparação o que realmente a autora quis dizer, qual argumento quis utilizar. Isto é, a autora utiliza um exemplo, algo já dito, para clarear, traduzir, ou melhor, simplificar para seu público o que ela tem como propósito defender.
Portanto, como discutido anteriormente, a coesão sequencial é um mecanismo fundamental para a escrita, uma vez que, muito além de uma simples tarefa mecânica de repetição ou substituição, garante algo imprescindível para qualquer texto: a progressão do texto e a construção de relações semânticas e pragmáticas que orientam o leitor.
3. Pondo a mão na massa
Conceituadas e exemplificadas as estratégias que auxiliam a coesão sequencial, leia os textos abaixo e identifique os recursos coesivos – substituição, repetição, paralelismo e paráfrase- mobilizados:
Texto 1
“Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro; se com amor, o demônio é formoso; se com ódio, o anjo é feio...” (Padre José Antônio Vieira)
Texto 2
Os índios moram longe,
no alto do rio Negro.
Quer dizer: longe para nós.
Para eles, não é longe de nada.
Pelo contrário:
quem mora longe somos nós,
estrangeiros nas florestas do rio Negro.
Fonte: NESTROVSKI, Arthur; SANDOVAL, Andrés. Viagens para lugares que eu nunca fui. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.
Referências
ANTUNES, Irandé. Lutar com as palavras - coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. 21. ed. São Paulo: Contexto, 2008. 84 p.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Escrever e argumentar. São Paulo: Editora Contexto, 2017.
TIBURI, Márcia. Como conversar com um fascista: reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Record, 2016.
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Argumentação em textos orais e escritos: breves lições
Autor: Profa. Dra. Janaína Zaidan Bicalho Fonseca (UFTM)
A argumentação pode ser definida como a arte de convencer o outro a partir da escolha de uma linha de raciocínio sedutora e persuasiva. Nessa medida, a palavra precisa ser selecionada com bastante astúcia, a fim de que ela seja capaz de trazer esse outro para o universo de sentidos de quem fala ou escreve.
Para expor um ponto de vista, no entanto, não convém a apresentação de ideias ou opiniões vagas e desarticuladas. Ao contrário disso, um repertório estrategicamente fundamentado garante a defesa da tese lançada, que irá se direcionar pelo jogo retórico ao qual o texto se submete.
O ato de argumentar procura atingir a vontade do outro, buscando com que aceite crenças, ideologias e valores que circulam no texto. Nem todos, porém, estão dispostos a ser convencidos e a mudar sua posição em relação a algo. Por isso, o exercício argumentativo revela um estado de tensão, já que nunca abandona a visão de mundo de quem fala ou escreve, mas também jamais pode abrir mão da interação com as ideologias que supõe ter quem lê ou escuta um texto. Bakhtin, importante estudioso da linguagem, explica que
“Ao falar, sempre levo em conta o fundo aperceptível da percepção do meu discurso pelo destinatário: até que ponto está a par da situação, dispõe de conhecimentos especiais de um dado campo cultural da comunicação; levo em conta as suas concepções e convicções, os seus preconceitos (do meu ponto de vista), as suas simpatias e antipatias – tudo isso irá determinar a ativa compreensão responsiva do meu enunciado por ele.” (BAKHTIN, 2003, p. 302).
Em outras palavras, o papel do outro é fundamental para o sucesso do que desejamos comunicar, ainda que enfrentemos sua indiferença, crítica ou antipatia. O que fazer, então, para convencer nosso leitor ou ouvinte e trazê-lo para o nosso campo de referências?
Vejamos um exemplo bastante presente na vida cotidiana. Uma mãe, antes de ir trabalhar, pede ao filho que arrume o seu quarto há muito tempo bagunçado. No retorno da mãe, o quarto do filho continua em desordem. Como argumentar efetivamente para não ser surpreendido por um castigo? Há pelo menos duas possibilidades. Vejamos qual das duas funciona melhor:
Mãe, não arrumei meu quarto porque tinha muita tarefa da escola para fazer.
Mãe, não arrumei meu quarto, mas lavei toda a louça.
A primeira tentativa de argumentação não nos parece muito convincente porque somente explica para a mãe o motivo pelo qual o filho não arrumou o quarto. Claro está que uma mãe pode primar pelas tarefas escolares do filho e, por isso, achar a argumentação muito justa. Contudo, entendendo o papel social da mãe, fundado historicamente no ensino da responsabilidade e no compartilhamento das atividades domésticas com os demais membros da família, a segunda tentativa parece mais convidativa, já que compensa a não execução de uma tarefa pela realização de outra.
Suponhamos, porém, que fosse necessário argumentar no plano da escrita e que tenhamos iniciado um texto desta forma:
A adoção de cotas nas universidades é uma oportunidade única para o país, já que permite à população de baixa renda e com menor acesso ao capital cultural desfrutarem de educação de qualidade.
De quais argumentos seria necessário lançar mão a fim de que o texto se tornasse consistente? É possível elencar um rol de tipos de argumentação a fim de fundamentar a tese que se deseja defender. Testemos.
Primeiramente pela argumentação de autoridade. Esse tipo de argumento é bastante eficaz, pois cria credibilidade no texto ao articulá-lo à fala de alguém com potencial de dizer. A fala de um ministro da educação ou de um sociólogo, isto é, de pessoas públicas que compartilham dessa visão ideológica, poderia ser citada no texto para torná-lo confiável.
Outra possibilidade seria a argumentação por comprovação, a partir da qual usaríamos fontes estatísticas (do IBGE, por exemplo) para comprovar que a qualidade de vida no país aumentou após a instituição das cotas.
Além disso, a argumentação por analogia também pode ser uma boa saída, uma vez que outras políticas públicas que colaboraram para a melhora de vida do brasileiro poderiam ser comparadas às benesses trazidas pelo sistema de cotas.
Ainda, a argumentação por exemplificação poderia ser chamada ao texto, por meio de um exemplo concreto de algum cidadão que tenha tido a vida modificada pela política de cotas.
Por fim, a argumentação por causa e consequência pode assessorar a perspectiva argumentativa do texto na medida em que explicar os motivos da temática em questão possibilita confirmar as ideias expressas pela tese.
Seja de uma forma ou de outra, é importante ponderar que a técnica por si só é apenas uma ferramenta para colaborar na tessitura do texto. Em tempos de extrema intolerância, faz-se necessário, antes de tudo, argumentar levando em conta uma chave ética do dizer; selecionando, assim, argumentos que primem por direitos e dignidade humanos.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
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