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Volta ao Monoteísmo
Após um grande hiato sem escrever, resolvi voltar aqui. Isso aconteceu depois de eu acessar esse blog (o que também não acontecia há tempos) e me deparar com um determinado texto. Nele, eu defendia com unhas e dentes o politeísmo, ou crença em diversos deuses.
Pode soar cômico, mas eu mudei. E já faz um bom tempo. Impressiono-me com esses escritores que seguem uma vida inteira defendendo as mesmas ideias, com as mesmas convicções. Eu vivo mudando, a ponto de isso me incomodar bastante.
E a religião é um dos temas que mais roubam minha atenção.
Já faz mais de dez anos que tive uma experiência tenebrosa com a maconha, que me levou a pesquisar sobre o rastafarianismo, o que, por sua vez, despertou um profundo interesse pela religião e pela teologia. Hoje acredito que a única coisa boa que a cannabis me trouxe foi esse interesse. Mas isso é assunto para outra ocasião. Sabe-se lá se eu não teria me interessado por religião sem a influência da substância?!
Desde esse "despertar", eu fico alternando entre o monoteísmo e um politeísmo quase que blasfemo, satânico.
Antes de qualquer coisa, esclareço que minha interpretação sobre satanismo é diferente do que a mais comum. Não, eu não acho que satanismo seja fazer a maldade, sacrificar animais ou pessoas, etc. Eu via e vejo o satanismo apenas como uma oposição ao conservadorismo judaico-cristão.
Esclarecido esse ponto (crucial), e voltando ao assunto principal, volto-me para a incessante alternância.
Às vezes eu sofria muito com meu problema com drogas, ou quaisquer outros problemas pessoais, e sentia um conforto no cristianismo. E aí começava a ler, pesquisar e consumir todo tipo de conteúdo cristão e monoteísta.
Até que, repentinamente, poderia ver alguma pregação infeliz, alguma fala descabida, que me incomodava e gerava uma reviravolta na minha mente e me levava de volta às convicções politeístas.
Vivi esse ciclo alguns intermináveis anos, quase uma década. É por isso que, como disse no início desse texto, fico admirado com os pensadores que seguem uma mesma linha durante a vida toda.
Antes disso tudo, eu não me importava muito com religião, era indiferente. Mas vamos dizer que eu pendia para o lado mais “blasfemo” e anti-religião. Isso me levaria a pensar que esse é o meu estado normal. Por outro lado, eu tinha o hábito de rezar mentalmente, pois era muito medroso. Eu já tinha medo de espíritos e recorria a oração. A grande questão é que esse conflito ideológico não me angustiava, eu não via problema.
Até que comecei a fumar maconha e, como tantos outros, comecei um fascínio pelas músicas do Bob Marley e outros cantores de reggae. Dali descobri o Rastafarianismo, e esse origina-se da Igreja Ortodoxa Etíope, que é cristã!
Sem me estender muito nessa parte, eu comecei a me interessar pelo Cristianismo. E, ali, eu já não via contradição em pegar livros católicos ou protestantes para ler. Li coisas interessantíssimas, que me fascinaram ao mesmo tempo que me traziam conforto em momentos de angústia. Logo procurei a Igreja Católica mais próxima de onde eu morava e fiz a catequese e o crisma (pois não havia feito na infância).
Mas, ao mesmo tempo, ainda havia uma forte raiz ateia e/ou crítica do Cristianismo. Logo eu via um pastor ou padre cometendo e falando atrocidades e me revoltava. Já botava a culpa no Cristo por coisas que alguns idiotas fazem dois mil anos depois da crucificação! Voltava a ouvir heavy metal (pois apesar de gostar da sonoridade, acredito que seja incoerente um cristão ouvir metal), mudava o foco das leituras e vivia procurando maneiras mais duras de criticar o Cristianismo.
Esse é um angustiante ciclo mental que eu vivia. Mas parece que findou. Já faz bastante tempo que me considero cristão, rompi com o meu eu blasfemo e ignorante. Pois o Cristianismo é caloroso e te aconchega. Parece-me que são vantagens de se acreditar num único criador, numa única fonte de vida. Eu não excluo a possibilidade de haver outras entidades espirituais, mas a divindade é só uma.
Eu, mesmo quando me considerava politeísta, achava que a humanidade era incapaz de dizer como eram esses deuses. Mas, mesmo nesses tempos, via no Deus Abraâmico, bíblico, único, o mais provável de realmente existir.
Vale lembrar que eu não acredito em tudo que a Bíblia diz, nem conseguiria. O próprio Papa Francisco disse, esses tempos, que Deus não opera com uma varinha mágica, e que o evolucionismo é real. Está aí algo que me fez comemorar e me identificar ainda mais com o catolicismo.
#monoteísmo #religião
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Quero ser imortal
Recentemente, eu, como um assíduo leitor de histórias em quadrinhos, deparei-me com uma notícia que me causou indignação. A polêmica girava em torno do nosso célebre quadrinista Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, que concorria a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Seu concorrente, James Akel, cujo maior trabalho foi um livro sobre marketing do setor hoteleiro, atacou com uma declaração que virou assunto na internet: “Gibi não é literatura”.
Logo, um tema que tanto me atinge e me rouba atenção estaria bombando nas redes, fato que me animou. O ponto aqui não é se eu desejo ardentemente a vitória de Maurício de Souza, e sim a arrogância de muitos defronte aos quadrinhos, uma modalidade da arte e da comunicação. De fato, quadrinhos não são o mesmo que literatura, mas o sujeito precisava falar dessa forma? O uso do termo “gibi” foi feito com humildade? Você pode até achar que não, mas a sequência da entrevista me leva a crer que sim. Segundo James Akel, o rei do marketing do setor hoteleiro:
- Na Justiça, a toga do juiz é parte da liturgia do cargo. Ninguém tira. Da mesma forma, a letra no papel é a liturgia da literatura. Histórias em quadrinhos estão no campo do entretenimento, não da educação, como ele defende.
Ok, deixem-me respirar. Não quero focar na arrogância e na ambição do sujeito em ser um imortal. O problema é que ele consegue piorar a situação. Perguntado se ele já lera um gibi da Turma da Mônica, ele responde:
- Claro que sim, mas depois de já ter aprendido a ler e a escrever, com o uso dos livros de verdade. Fico assustado quando dizem que os brasileiros se alfabetizam com a Turma da Mônica. Defender isso é uma incongruência.
Eu sou um dos que se alfabetizou com quadrinhos e posso garantir que meu Português evoluiu drasticamente com eles. E estou certo de que, na era dos videogames e smartphones, é muito mais fácil uma criança iniciar no caminho da literatura através das HQs do que com livros. Está aí o seu potencial educativo. Já li quadrinhos adultos que me assustaram, que me entristeceram, que me fizeram rir. Já li reportagens em quadrinhos e já soube de quadrinhos pornô (por esses eu não tive curiosidade).
Eu inclusive sonho com uma revolução educacional através dos quadrinhos, mas isso é papo para outro dia…
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Elementos da Criação
Quem já me leu sabe que tenho uma forte veia politeísta, ou seja, acredito em diversas entidades espirituais grandiosas, deuses. Por outro lado, não acho que a humanidade seja capaz de identificar suas características e peculiaridades. Posto isto, fica claro que não me faz sentido a ideia tradicional do Criacionismo, a de um único deus como fonte da vida e de tudo que há no universo. Eu consigo imaginar a vida surgindo a partir de uma reação química, ou um evento espiritual, sem a ação de alguém.
Vale ressaltar que o politeísmo pode apresentar as suas versões de Criação, mas, logicamente, mais complexas, o que me agrada.
Essas ideias não me impedem de respeitar o Deus judaico-cristão, ou abraâmico (incluindo o islamismo), e considerar a possibilidade de sua existência. Já desrespeitei, sim, não serei hipócrita. Foi uma época de pura revolta, em que eu ouvia muito death metal, lia sobre ocultismo e me identificava com o Satanismo como uma oposição ao conservadorismo judaico-cristão. Logo vi que muitos satanistas são maus por natureza, fazem a maldade, e isso não é o meu caso. Motivado pelo hedonismo Satânico, aventurei-me com drogas e me afundei nas trevas até um ponto em que rezar o Santo Anjo era inevitável.
Nesse momento, eu consigo ouvir as vozes dos professores de redação me criticando: “você não estava escrevendo sobre Criacionismo? Por que resolveu falar sobre Satanismo?” Porque eu quero! Vá para o Diabo!
Pensando sobre a Criação, eu gosto de refletir sobre três elementos interessantes. O primeiro é que, se fomos criados, o criador, ou os criadores, nos fizeram sentir o prazer sexual! Sim, o orgasmo é um incentivo para a reprodução. Já parou para pensar como seria o mundo sem o prazer sexual?
Outro elemento importante é a dor. Creio que o criador, ou os criadores, fizeram-nos sentir dor para que procuremos viver ao máximo e valorizar a vida. E, vale ressaltar, quanta dor podemos sentir! Seria isso um castigo divino?
O terceiro é a fé! Em todos os povos, em todas as nações, podemos identificar uma religiosidade. Isso é quase um instinto humano. As pessoas precisam de fé. E esse instinto me faz refletir e pensar que sim, o mundo espiritual está aí, apesar de não podermos vê-lo.
Concluindo, depois de pensar sobre esses elementos da criação, confesso que atingi um certo momento de fé, com o Criacionismo me fazendo sentido. Mas, não posso deixar de citar o Papa Francisco que, sabiamente, reconheceu que o evolucionismo é real e criticou a interpretação das pessoas que leem o Gênesis, achando que “Deus tenha agido como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”.
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Avistamento Alienígena
O indígena caminhava pelo costão de uma das belíssimas praias da ilha de Santa Catarina. Angustiado pelas fofocas que rolavam em sua aldeia, encontrou uma série de mariscos colados às majestosas pedras da praia. Seria uma bela refeição para a caminhava de volta para sua casa. A perspectiva da barriga cheia não consolava o rapaz, que era motivo de chacota pelos guerreiros da sua tribo. Ele não conseguia engravidar sua parceira, e seus companheiros não perdoavam. Ora, um dos mais nobres guerreiros, caçadores e pescadores da tribo não conseguia procriar? Seria isso um castigo dos deuses?
As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Mal percebia a quantidade de marisco que caía pelos cantos de sua boca. Um siri picava seu pé, e ele, um guerreiro acostumado à dor, sequer reagia. Mas junto à ele estavam duas tainhas e um pedaço de caça, o que ainda era uma prova de seu valor. Em uma manhã, carregava uma boa quantidade de comida para alimentar seus familiares e amigos. Sim, ele ainda podia resgatar a sua honra!
Até que ele ergueu seus olhos para o horizonte, para pedir misericórdia aos deuses, quando avistou alguns pontos pretos no mar. Não eram baleias. Agora seu desespero tomava proporções catastróficas. Estaria ficando louco? Ou eram as divindades dos mares? Estariam ali para acudi-lo? O medo e o respeito perante tais entidades era enorme, entretanto ele decidiu ficar na praia para ver o que aconteceria. Tinha paciência e comida. Logo decidiu assar uma de suas tainhas e orar aos deuses do mar.
Nesse momento de intensa atividade cerebral, não esqueceu de fumar tabaco para aprimorar seu espírito. Naquele momento, todas as atenções do mundo espiritual estavam voltadas para esse guerreiro indígena. Ele dançava, se jogava no chão, erguia os braços para os céus para que tenham misericórdia de sua alma. Até que suas intensas orações, somadas à quantidade de tabaco fumado, levaram o rapaz a um transe. Desmaiado, sonhou com sua família, com filhos, com paz, comida e uma existência harmoniosa perante o mundo espiritual.
Sonhava que estava transando com sua mulher, até que, por não sentir o prazer carnal, deu-se conta de que estava no mundo dos sonhos. Aos poucos foi abrindo os olhos, enquanto o sol do verão queimava sua pele. Ainda estava mais no mundo das ideias do que na realidade terrena, e tinha esquecido dos pontos pretos no horizonte do oceano. Até que… Bum! Um estrondo enorme fez o indígena sentir um imenso frio na espinha. Era uma série de estruturas enormes, bizarras, estranhas, no mar, que provocavam estrondos enormes. O indígena estremecia tal qual um cachorro presenciando fogos de artifício.
A guerra naval continuava a todo vapor, porém aquilo era demais para o guerreiro indígena. Sejam aquilo deuses, animais, ou até homens em embarcações sofisticadas, aqueles barulhos estavam levando o rapaz à loucura. Fugiu para o mangue, onde se sentou na beira de um rio. Estava tão inerte que não percebeu um jacaré se aproximando. Quando finalmente avistou o animal, teve apenas tempo de tacar sua caça a uma meia distância para que o réptil se afastasse.
Já entardecia quando o guerreiro indígena chegou à sua aldeia. Lá todos os habitantes logo perceberam a inquietude do rapaz, que foi de imediato ao encontro do chefe e do xamã. Ao redor de uma fogueira, os três fumaram tabaco e iniciaram uma reunião. O guerreiro indígena, gaguejando, explicava o que viu, mas o chefe da tribo demonstrou uma enorme falta de empatia:
Ora, nosso guerreiro, além de infértil, está ficando maluco!
E logo o chefe soltou uma risada que serviu como um soco no estômago do jovem. Mas, para sua sorte, o xamã demonstrou uma maturidade mais elevada:
Isso é uma tremenda falta de respeito, caro chefe. E se essa loucura tiver uma fonte de verdade? Você estará cometendo uma grande injustiça com nosso guerreiro!
Logo o assunto virou a grande notícia na aldeia. Todos falavam sobre o jovem guerreiro, que parecia estar enlouquecido. Nem mesmo sua companheira estava levando ele a sério. Pior, estava abandonando-o.
O rapaz deitou em sua rede e esperou o amanhecer, e, apesar de toda humilhação, ele sentia que tinha recebido uma grande missão pelos deuses. Logo ao nascer do sol, ele correu em direção a aldeia de uma tribo rival. Com ornamentos e pinturas corporais que sinalizaram um contato de paz, ele queria saber se essa tribo rival tinha avistado algo semelhante.
Para chegar a essa aldeia rival, o guerreiro indígena tinha que subir um morro. Correndo, chegou ao topo, onde decidiu comer frutas e fumar tabaco. Estava orando aos deuses quando sua prece foi interrompida com mais um estrondo, semelhante ao que ouviu na praia no dia anterior. Seu corpo estremeceu. A aldeia rival estava sendo atacada. O rapaz desceu o morro e se aproximou da aldeia. Lá, ele viu seres estranhos, de uma cor branca, com vestimentas bizarras, portando canos trovejantes. Eles atearam fogo nas cabanas e matavam os indígenas rivais.
Aquilo tudo era suficiente, ele tinha que avisar sua tribo, era essa a sua missão! Mas seus familiares e amigos não o levavam mais a sério. Transtornado, decidiu partir. Atravessou a ilha, tomou uma embarcação com uma aldeia aliada, partiu para o continente. De lá encontrou o início do Caminho do Peabiru, que leva até o Império Inca. Sua missão era avisar todos os povos. Os deuses já o incubiram.
Corra, guerreiro, corra!
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Caminho Perigoso
Há algumas semanas, quando eu vivia um fascínio pelas ideias politeístas, comecei a escrever um texto sobre o tema. Não sei se a produção resultaria em uma crônica ou em um artigo de opinião, sei lá, faz tempo que estudo e faço a produção de textos, mas ainda sinto muita insegurança no momento de classificá-los.
O politeísmo era tudo o que rondava em minha mente naquele dia. Tudo parecia se encaixar. Eu não só via nele como a corrente filosoficamente e intuitivamente mais plausível, como já estava vendo-o como a solução para os grandes problemas da humanidade. Eu estava com esse espírito até minha psicóloga, também interessada nesse assunto, trazer algumas elucidações que frearam meu ímpeto: o politeísmo também cometia atrocidades, e ainda hoje existe o politeísmo praticante, onde, ao prestarmos atenção, não há um "paraíso terreno".
A destruição desse sentimento foi muito frustrante, admito, mas eu sempre optarei pela verdade. Continuarei pesquisando e estudando temas que me dão mais vontade de viver. De qualquer forma, é muito interessante notarmos o quão pode ser perigoso o caminho que percorremos no plano ideológico. Veja o caminho que eu seguia no meu texto de poucas semanas atrás:
- "De início, gostaria de trazer ao debate um ponto chave do meu posicionamento e minhas opiniões sobre o sobrenatural. Eu honestamente não acredito na necessidade de existir um criador de tudo. A ideia de que exista um criador da vida - e não do mundo material - me causa menos estranhamento, porém mesmo essa não "entra na minha cabeça". Em outras palavras, faz mais sentido a mim uma entidade ter criado apenas a vida. No entanto, é mais verossímil para mim a vida ter surgido através de um acontecimento cuja explicação científica ainda não existe. Uma reação química, um evento biológico ou sei lá o que. Pode estar parecendo que tenho uma forte veia ateia a quem não me conhece, porém o fato é que tenho uma fé gigantesca no mundo espiritual.
Dito isso, vale ressaltar que não sigo nem adoro nenhum Deus porque já tive surtos com esses pensamentos e, hoje, eu não condiciono minha vida em função de nenhuma entidade espiritual e seus representantes. Refletindo sobre essas má experiências, constato que as projeções da realidade que eu criava em minha mente eram errôneas. Ademais, eu creio que a imensa maioria das versões do sobrenatural criadas pelos humanos também são errôneas. Portanto, não aceito que ninguém me diga o que eu devo fazer com base em preceitos do sobrenatural É por isso que o laicismo vem me atraindo cada vez mais. Eu acredito muito na existência de deuses, entidades espirituais superiores, mas não aceito que ninguém me diga como esses seres são.
Eu acredito que se você faz um pacto com um Deus, você deve ter a honra de cumpri-lo. Aliás, eu altamente recomendo isso. Quem somos nós para desonrarmos um Deus. E é por isso que muitos monoteístas, ávidos por honrar seu Deus, atacam as coisas diferentes. Acho o monoteísmo segregador nesse sentido"
Não sei quantos possíveis leitores, principalmente os crentes, riram ao lerem isso. O terceiro e último parágrafo é de assustar, se pensarmos como seria a continuação do texto. Sim, esse sou o eu ideológico de poucas semanas atrás. Confesso que sinto vergonha ao compartilhar isso, mas acredito que as reflexões as quais posso causar com isso compensam o vexame.
Isso só me faz ver com mais nitidez como a humanidade tem uma tendência em se radicalizar em uma ideologia, corrente de pensamento ou religião, a ponto de cometer atrocidades por ela, quando, de fato, um faro de cunho democrático pode ser mais frutífero. Tenhamos mais cautela antes de tremular uma bandeira em nome de uma ideia.
Além disso, faz-me lembrar do fato de que eu sou um ex-comunista. Eu seria um legítimo soldado bolchevique no início do século passado, antes de constatar que o mundo comunista, na verdade, não foi um "paraíso terreno". Porém, vale ressaltar, ainda guardo princípios do marxismo, os quais vejo como válidos.
O mesmo ocorre com o politeísmo. Passaram-se alguns dias, minha ideologia curiosamente mudou, mas ainda guardo a intuição e a crença de que existem deuses.
#politeismo
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Das crônicas às crônicas
Esta crônica que você está começando a ler apresenta origens diversas. É porque quando eu decido escrever, seja um conto ou uma crônica, um artigo de opinião ou reportagem, eu o faço movido por intensa atividade criativa cerebral. Em outras palavras, vem-me à mente uma ideia digna de ser registrada e eu corro para meu tablet a discorrer o que se passa em minha cabeça. Dessa vez não foi assim. Eu planejo escrever um conto sobre o litoral catarinense na Era dos Descobrimentos. Para tanto, comprei um livro de História chamado “Porto dos Patos”, que trata sobre a Ilha de Santa Catarina nesse período específico. Esse livro se mostrou muito interessante para mim. É um material muito técnico, afastado da linguagem literária que tanto admiro. Posto isso, constato que demorarei a concluí-lo, pois sou desses, quando se trata de linguagem técnica e acadêmica.
O que seria de mim sem a prática da escrita por tanto tempo? Ademais, quantas expectativas girariam em torno desse conto, configurando forte fardo para as minhas costas? E assim, nessa costumeira noite de verão, estou forçando-me a escrever de quaisquer formas. Todavia, espere um instante, leitor contundente! Talvez haja sim uma atividade criativa cerebral. Enganei-me! Acabo de ler uma marcante crônica escrita por Machado de Assis. Existe fonte criativa mais poderosa? Os fãs do José de Alencar diriam que sim, mas eu prefiro me abster de tamanho posicionamento, deveras importante no vasto e rico manancial da literatura. Ainda engatinho nesse mundo e, devido ao ritmo lento de minha leitura, assim será por um bom tempo.
A crônica que acabo de ler se chama “Direito dos Burros”, e é no ritmo e na energia cósmica dela que estou escrevendo. Seria uma honra para mim que algum leitor conferisse essa obra e constatasse algum pingo de sentido no que acabei de falar. Já pensou? Eu escrevendo na onda do mestre? Pois bem, chega de divagações! O assunto é a crônica. Vou compartilhar-lhes os dois primeiros parágrafos dela, para vocês entenderem como está meu estado mental:
“Ontem de manhã, indo ao jardim, como de costume, achei lá um burro. Não leram mal, não, meus senhores, era um burro de carne e osso, de mais osso que carne. Ora, eu tenho Rosas no Jardim, Rosas que cultivo com amor, que me querem bem, que me saúdam todas as manhãs com seus melhores cheiros, e dizem sem pudor cousas mui galantes sobre as delícias da vida, porque eu não consinto que as cortem do pé. Hão de morrer onde nasceram.
Vendo o burro naquele lugar, lembrei-me de Lucius, ou Lucius da Tessália, que, só com mastigar algumas Rosas, passou outra vez de burro a gente. Estremeci, e - confesso minha ingratidão - foi menos pela perda das rosas, que pelo terror do prodígio. Hipócrita, como me cumpria ser, saudei o burro com grandes reverências, e chamei-lhe Lucius. Ele abanou as orelhas, e retorquiu:
- Não me chamo Lucius.”
Sim, leitor contundente. Nela, nosso saudoso escritor relata um interessantíssimo diálogo com um burro! Dá vontade de conferir a continuação, não é?! Pois bem, adquira uma coletânea de crônicas dele e seja feliz! Feliz você verá como o burro apresenta uma certa inclinação trabalhista, defendendo os direitos de sua classe contra os maus tratos dos diabólicos cocheiros! E, indo mais longe, até onde essa inclinação se manifesta na alma de Machado de Assis? Bom, eu poderia fazer um sério estudo a partir de materiais acadêmicos e defender uma grandiosa tese, tudo vindouro de uma estupefaciente conversa com um burro! Mas como ficaria meu conto sobre a Era dos Descobrimentos? Iria para o espaço! Por ora, vou conter-me e cuidar-me, afinal, a lógica do meu cérebro não é das melhores.
#cronica #literatura #escrita
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Ladrão Inexperiente
O som do remo rasgando as águas salinas poderia servir de sonífero às almas mais inquietas. Era uma úmida e nebulosa madrugada de inverno na Ilha de Santa Catarina. A névoa pairava na baía e embaçava a vista da iluminada ponte Hercílio Luz, estabelecida no horizonte. Não havia vento, o que facilitava a navegação do pequeno barquinho. De certa forma o clima favorecia um furto de ostras, e Odinei cogitou agradecer a São Pedro, todavia sua consciência não permitia.
O silêncio na prainha era reinante. Destacava-se o espatifar das módicas ondas na areia, que produziriam um efeito inebriante a um bom poeta. Tratava-se de um extremo do gritante e invisível contraste que ali subsistia. O outro era o estado de espírito de Odinei. Tal condição poderia ser definida como uma overdose de adrenalina. Suas mãos eram pura trepidez, porém manuseava o remo com destreza. Odinei sabia que, espreitando as ostras do concorrente, doravante levantaria suspeitas de qualquer nativo que presenciasse a cena. Cada segundo poderia ser determinante, portanto o ladrão não mirou sua retaguarda, nem mesmo de soslaio. Acima das névoas e nuvens, a lua deitada contemplava Odinei de pé. Ademais, o bucólico astro estava sendo usado como um divã por um sujeito demasiado caricatural. Sabe-se lá de que ou de quem era tal representação, tampouco a quem era destinada. O fato é que lá estava um pirata parrudo, acompanhado por uma garrafa de aguardente e um papagaio gagá. Quanto mais Odinei se aproximava das cobiçadas ostras, mais o pirata se regozijava lá de cima, com movimentos viris e violentos sobre o régio divã. O papagaio, por sua vez, sentia a agitação de seu companheiro, e logo se pôs a berrar repetidamente: - Terra à vista!!! Terra à vista!!! Pode-se esperar o que de um pobre papagaio, cujo insano dono, com seus camaradas, enfrentara navios que escoltavam a própria família real portuguesa? Que mais peripécias ultramarinas teria vivido o bêbado e barbudo pirata? O seu comportamento ante o ato furtivo traía um espírito inescrupuloso e aventureiro. Gargalhadas estridentes irrompiam do lânguido divã. Pouco a pouco, a icônica imagem foi desfalecendo, transformando-se em diáfanas linhas e formas nebulosas. Logo as estridentes gargalhadas foram desaparecendo, e, em seguida, a frase "terra à vista" também foi perdendo força, até sumir. Por fim, a lua perdia a qualidade de divã, e retornava a seu estado original. De volta ao plano terreno e marinho, Odinei chegava à estrutura de madeira onde estavam amarradas as ostras do concorrente. A adrenalina ainda dominava seu corpo, mas de forma mais branda. Ele era do tipo de ladrão que agonizava nos momentos preliminares, mas desde que iniciado o ato, ele recuperava o controle. Rápido e cauteloso, retirou os repositórios de ostras da água, colocou no barco. Tomou a direção da praia e retornou, à medida que seu nervosismo diminuía. Frio, ninguém estaria na Rua. Exceto as bruxas. Perto dali, em uma clareira, três bruxas realizavam rituais. Tais mulheres haviam escolhido um lugar especial: um sítio arqueológico, ou funerário, onde os povos indígenas pré-coloniais, que se estabeleceram no local há mais de 5 mil anos, enterraram seus mortos. Ali, a energia xamânica imperava e, naquele dia em específico, se misturava ao paganismo fervoroso das três feiticeiras.
Elas procuravam invocar entidades do panteão greco-romano e de um certo povo originário da Angola. Não imaginavam que ali, no outro plano, só estava a alma de uma sombria e silenciosa bruxa, a qual viveu no século 18 na região. Trata-se de uma das mulheres que causavam frio na espinha dos cristãos de Nossa Senhora do Desterro. Sua perfídia e seu aspecto marcaram época, e geraram lendas que sobrevivem até os dias atuais. Ela observava e ria das modernas feiticeiras, por não realizarem sacrifícios. Concordo, os sacrifícios são práticas brutais e desprezíveis, todavia não podemos negar que eles podem ter um grande potencial na magia. A indizível energia da morte, convertida no que o feiticeiro quer, pode ser derradeira. E os que discordarem disso não passam de fanáticos contaminados pelo monstro da política! Assim também o é com a energia transitória e germinante do nascimento, mas a ciência ainda não pode nos garantir qual o determinado momento que a alma surge na matéria. Essa era uma noite caricatural na praia do sambaqui, cuja relevância os mortais em vida nunca conhecerão.
Passaram-se alguns minutos, e o ladrão já estava à areia carregando as ostras para o seu carro. Conforme o tempo passava, os riscos diminuíam e o ladrão recobrava a serenidade. Ele estava fechando o porta-malas do carro quando ouviu berros. Seu coração subiu para a boca e parecia pesar o triplo. O meliante logo olhou em volta e viu, de longe, mulheres desnudas que extravasavam nas águas de uma outra prainha. A visão das nuas mulheres serviu de chave de ouro para Odinei, que soltou uma enérgica gargalhada.
Após duas horas, e Odinei já estava na casa de sua mãe vangloriando-se por seu feito com seu irmão mais velho. Esse, por sua vez, agonizava em desespero:
- Vai dar merda, Odinei!!! Vai dar merda, o Jucilei não é bocó não!!!!
Odinei relaxava com seu copo de cerveja, enquanto seu irmão mal conseguia segurar seu café de nervosismo. As primeiras luminosidades do dia irrompiam, e o vento sul, que começava a vir forte da baía, fazia vibrar as janelas da singela casa.
No meio da tarde desse dia, os pescadores estavam em sua rotina habitual na praia. Até que berros quebraram a calmaria no local. Jucilei, o roubado, vociferava em frente aos barracos de pesca:
- Quem foi? Quem foi o filha da puta que pegou minhas ostras?
Outros pescadores tentavam, em vão, apaziguar os ânimos de Jucilei. Mas o seu ódio por ladrões não dava tréguas. Ora, ele, um trabalhador incansável, passara meses criando suas dúzias de ostras, para depois um verme ladrão de trabalhador surrupiá-las?
Logo, um bolo de pescadores se formou na rua. Jucilei, pescador astuto, percebeu que ali estavam todos os pescadores da região. Era muito provável que o autor daquela vergonha estivesse dentre eles. Eis que Jucilei, forte e másculo, em uma manifestação de grande virilidade, “jogou um verde”, gritando esses dizeres:
- Eu sei que foi tu, seu filha da puta! O Pedrinho viu tudo e me contou, seu viadão do caralho! Vem pro pau!
Odinei mordeu a isca como um peixe, e alucinado em nome da honra de sua mãe, correu para a fatídica briga. Ele era fraco e levou assustadores socos e chutes até que o bolo de pescadores chegou para apaziguar a situação. Curiosamente, alguns pescadores acabaram machucando outros, que iniciavam brigas paralelas. Crianças choravam, mulheres berravam, e o tempo tardava a passar.
Até que tudo acabou, assim como uma chama se apaga, e os pescadores voltavam à rotina. Salvo Odinei, o ladrão inexperiente, que procurava o seu dente da frente!
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Líquido Inflamável
Faz um ou dois meses que decidi parar de beber bebidas alcoólicas, e essa experiência está sendo muito interessante. Resolvi adotar essa drástica medida após escrever o texto "Minha experiência no mundo da escrita" que está neste blog. A produção de tal texto me fez refletir muito sobre as coisas que prejudicam a minha vida e, entre elas, o álcool.
Foram inúmeras as situações vexatórias pelas quais passei alcoolizado. Pra ser sincero, eu não sei como nunca apanhei na noite em função das besteiras que eu fazia bêbado. Na grande realidade, eu não sei nem se isso aconteceu. Tenho alguns resquícios de memória de confusões incrustrados em minha mente, mas o fato é que nunca acordei seriamente ferido nas manhãs de ressaca.
Mas espere um instante, caro leitor contundente. Suspeito que estou passando uma sombria impressão para você. Eu nunca bebi diariamente, e essa história não é tão trágica assim. Sei que muitos jovens da minha idade bebem muito mais que eu e não sentem remorso algum. Bom, no meu caso, creio que cheguei no meu limite. Não posso mais conviver com essa vergonha e esses perigos.
O meu grande desafio em evitar a bebida acontece durante as festas, é claro, e quando assisto aos jogos do meu time de futebol. Inclusive, em uma dessas ocasiões, eu não consegui me segurar, e acabei bebendo. Era um belo dia de sol na praia, com direito a churrasco e música boa. Graças aos céus, nada de trágico aconteceu. Simplesmente vomitei e dormi.
Nas outras ocasiões em que saí, até consegui curtir e me divertir. Noto que, em minha experiência com as drogas, existe um ponto determinante em que mentalizo que vou usar usar tal substância. É a partir desse momento que a abstinência se manifesta em mim. Ao passo que se eu não mentalizo que vou beber, sinto tranquilidade e serenidade. Posto isto, minhas últimas saídas foram bem tranquilas.
A experiência de um churrasco (por exemplo) sem beber me traz uma nova visão sobre tudo o que já passei. Acabo não entrando na "vibração" dos beberrões e adoto uma postura profundamente autorreflexiva. Eu fico mais introspectivo, é claro, mas a serenidade não tem preço.
Resolvi escrever isso porque é o que sinceramente senti vontade de escrever. Fazia algumas semanas que eu não conseguia me concentrar, e meu ritmo de leitura decaiu drasticamente. Devido a isso, adotei uma estratégia: interrompi a produção de textos que vinha fazendo e resolvi mudar minhas leituras. Parei de ler um livro-reportagem sobre o imperador etíope Ras Tafari e passei a ler o livro "O último chefão", de Mario Puzo (autor de "O poderoso chefão).
E a vida é feita de mudanças, o importante é seguir em frente!
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Trilha de ideias
Paulo, entre recortes e realces feitos no Photoshop, sentia seu sangue esquentar. Estava no fim do expediente, que fora deveras caótico, quando viu no fundo do corredor a figura do diretor de arte aparecer. A partir desse momento, seu sangue não só esquentava: fervia.
Ele não conseguia definir a energia nebulosa que pairava naquela agência de publicidade, mas tentava. - É como uma aura de morte. É o que eu sinto, uma sensação de morte, explicava para sua mulher. Em todas as manhãs, o trajeto de carro até o seu trabalho era prazeroso. Passava voando. Paulo botava as músicas de que gostava e pensava nas coisas mais aleatórias possíveis. Contudo, todos os dias, aquele estado de espírito era bruscamente interrompido quando o sujeito adentrava a rua da agência. Ali, ele sempre sentia um frio na barriga, uma aceleração no coração e um nó na garganta. A visão da porta da agência era icônica, e evocava nele os sentimentos mais sórdidos. Qualquer um, se soubesse disso, perguntaria o motivo de ele não sair daquele emprego. Mas o autoconhecimento não era o forte de Paulo, assim como não o é para grande parte das pessoas. Isso é comum. Ademais, era a maior remuneração que ele conseguira em sua vida, e a ideia de voltar a trabalhar como garçom não o confortava. Ele se envergonhava por trabalhar em um restaurante. Ali, sentindo um forte frio na barriga, Paulo parou e esperou a vinda do diretor de arte. Este, por sua vez, travou uma corriqueira conversa com a faxineira, agravando a espera ansiosa do designer. Nesse momento, em alguma longínqua dimensão de sua mente, Paulo começara a cogitar que a fonte de tanto desconforto era a insegurança. Sim, o medo de não conseguir corresponder às tarefas de seu ofício. Essa era a primeira vez que ele conseguia codificar um pouco os seus sentimentos, mas sua atenção também estava voltada para a vinda de seu superior. Não havia espaço para maiores reflexões. Acabada a conversa com a faxineira, o diretor de arte caminhava rapidamente na direção de Paulo. Cada passo do monstruoso homem atingia o ex-garçom, como estouros de frio na barriga. Veio junto a ele e disse, com muito desprezo: - Cara, a mulher do Lanche Verde não gostou de novo do tom do verde. Ela até aceitou a fonte do slogan mas também não ficou muito satisfeita não. Dá um jeito aí. Paulo, no desespero de esconder seus sentimentos, respondeu com apenas uma palavra: - Ok Afinal, desde quando eles tinham tanta intimidade para seu chefe falar assim? Se é para cometer grosserias, por que não romper o contrato? O melhor momento do dia a dia de Paulo, obviamente, era nos fins de semana. Sobretudo ao meio-dia dos sábados, quando saía da agência. Era quando ele sentia uma paz indescritível, conquanto, por vezes, interrompida pela lembrança da segunda-feira. Foi num sábado, depois do almoço, que Paulo encontrou algo que mudaria seu jeito de ser. Ele estava tranquilo no sofá, depois de comer uma saborosa lasanha, a navegar pelas redes sociais. Sua respiração estava mais devagar, seu batimento cardíaco também. O sujeito provava da santa paz dos monges budistas. Isso, com certeza, influenciou na forma como ele reagiu a uma determinada postagem no Facebook. Foi nesse estado de espírito que ele abriu uma postagem de uma página chamada "Ancap - Viva o Anarcocapitalismo". Na imagem, um homem de braços abertos olhava para o céu, cercado de algumas árvores de um lindo pomar. A frase, cuja elegante fonte chamara a atenção dos seus olhos de designer, dizia assim: "Livre mercado, livres ESPÍRITOS!". Já no texto da postagem, os ancapistas condenavam a quantidade de impostos que somos obrigados a pagar, defendiam a liberdade econômica e atacavam o autoritarismo do Estado. Aquilo tudo pegou Paulo de jeito. Somado a isso, as músicas que ele colocara na TV, o pote de pudim no seu colo, e a brisa que vinha da janela marcavam aquele momento. Ele logo abriu o perfil da página e se pôs a ler aquele discurso. Não percebeu a sua mulher que vinha lhe falar, nem sequer lembrava do design gráfico. À medida que lia aqueles textos, imaginava-se de braços abertos, em um pomar, na santa paz dos monges budistas.
Passaram-se meses, e, naturalmente, Paulo aprofundou seus estudos sobre o Anarcocapitalismo. Nos fóruns deste tema, ele fez amigos e conheceu materiais novos, os quais fortaleciam as suas convicções. O dia a dia em sua agência continuava angustiante, mas parecia afetar um pouco menos o designer. A aura em torno daquele lugar persistia, mas o design parecia espiritualmente mais forte.
É interessante como a ideologia interfere no nosso jeito de ser. Assim como uma eleição interfere em nossa ideologia. As eleições presidenciais chegavam, e Paulo, imerso em suas convicções sobre a liberdade econômica, começava a ver a esquerda como uma grande inimiga. Os comunistas, que pregam a abolição da iniciativa privada e o fim da economia de mercado, aborreciam-no profundamente.
Era nas redes sociais onde tudo acontecia. E era o medo do comunismo que mexia com o coração do designer. Foi um grupo virtual de uma universidade de seu município que direcionou o seu caminho ideológico. Aquilo era como um ringue das ideias, onde numerosas pessoas, entre elas muitos que nem estudavam naquela instituição, diagladiavam. Ali se lhe esclareceu o cenário político brasileiro. Era preciso defender o mercado capitalista, mesmo que isso significasse relativizar certas atrocidades.
Os debates naquele grupo, assim como em muitos outros, eram acalorados e terminavam em ofensas. Mesmo que o partido esquerdista, que estava no poder há mais de duas décadas, não tivesse operado um golpe comunista, Paulo o receava. Nos debates, ele dizia com todas as letras que a esquerda estava gradativamente orquestrando um aparelhamento comunista. “A-PA-RE-LHA-MEN-TO”, dizia ele. Logo ele se viu ao lado da extrema-direita, justificando os atos da ditadura militar brasileira. Ele argumentava que esse era um contexto de guerra, e que os comunistas, em conjuntura semelhante, assassinaram muito mais gente pelo mundo.
Certo dia à noite, Paulo decidiu assistir televisão para arejar um pouco a mente. Estava fatigado após um dia cansativo de trabalho. Porém, o tempo diria que seu objetivo não seria alcançado. No canal que escolhera, um jornalista comentava sobre o anarcocapitalismo:
- Esse é um fenômeno extremamente curioso e deve ser estudado com atenção, afinal, o anarquismo sempre fora alinhado à esquerda. Os primeiros teóricos anarquistas eram movidos pelo sonho da igualdade social. A ideologia anarquista, em suma, ataca quaisquer tipos de autoritarismo. O que leva então anarcocapitalistas a relativizar as atrocidades da ditadura militar brasileira?
Paulo, com rispidez, desligou a TV de imediato. Não era a primeira vez que se irritava com o jornalismo dos grandes veículos de comunicação. Começava a vê-los como “esquerdopatas”. Respirou fundo e, com as mãos trêmulas, trouxe a xícara de café até a boca. Fitou o teto, ao passo que tudo começava a fazer sentido em sua mente. Havia algum tipo de conspiração, e chegar a essa conclusão acabou serenando seu espírito. Enquanto sorvia o café, ponderava sobre as respostas que daria ao esquerdopata midiático. De fato, Paulo acreditava que a economia de mercado é a mais inclusiva, a mais humanitária, a mais libertária. E caso seja preciso guerrear para defendê-la, Paulo pegará em armas. Com um pequeno, mas muito sincero sorriso, murmurou consigo:
- Tudo no seu tempo, esquerdopata, tudo no seu tempo...
Aquilo virou uma piração. O recém-nascido anarcocapitalista passava horas em sua guerra virtual ideológica, estressando-se, revoltando-se. E isso resultava em ódio. Não era saudável. Ele passou a odiar o discurso esquerdista. Não suportava mais a defesa das minorias, por exemplo, que ele denominava vitimismo. Ele via isso nos jornais, na TV, na internet, nas músicas e nos filmes. E a sua revolta aumentava diariamente.
Em outro dia, Paulo estava em mais um acalorado debate virtual, aparentemente “perdendo” a discussão. O adversário era um acadêmico da Economia, que o entortava através de argumentos concisos e vocabulário rebuscado. As ideias de Paulo sobre Economia eram a fonte de todo o seu recente trajeto ideológico, eram a sua convicção mais cristalizada. Portanto, Paulo estava fora de si, ciente de que muitas pessoas estava assistindo aquilo, entre elas comunistas risonhos. O designer batia no teclado, virava copos de cerveja, respirava de forma ofegante. Estava ensandecido naquele sábado, dia que era para ser de paz.
Foi com esse estado de espírito que Paulo recebeu uma mensagem de sua mulher. Ela dizia que ia sair com o Alex, seu cabeleireiro, um bonito e másculo negro homossexual. Paulo respirou fundo. Aquele sujeito era a típica origem do vitimismo que tanto o aborrecia. Alcoolizado, o designer logo passou a imaginar coisas fantasiosas nos mínimos detalhes. Conseguia ver os dois se beijando, escondidos, rindo dele. Conseguia ouvir a conversa que os levaria até a cama. Seu coração ardia e batia violentamente, suas mãos trêmulas mal conseguiam segurar o copo de cerveja.
Paulo não se conteve. Levantou bruscamente da mesa e correu em direção a seu quarto, onde estavam as chaves do seu carro. Seu coração doía e batia rápido, seu sangue fervia. Suas mãos tremiam tanto que ele mal conseguiu agarrar as chaves. De si para si, com uma voz trôpega, sofrida, difícil de ser emitida, sussurrou:
- Ah, eles vão ver. Porra, eles vão ver!
Naquele ponto, a violência de seus movimentos e gestos já não eram uma opção, ou uma demonstração: era inevitável. Bateu a porta de casa e desceu as escadas do prédio com muita dificuldade, pois suas pernas tremiam.
Correu de carro, por pouco sem se acidentar, até o bar onde estavam sua esposa e cabeleireiro. Lá, em frente a todos, gritou com agonia:
- Vocês tão tirando com a minha cara, caralho?! Seus filha da puta!!!
Em seguida, Paulo avançou na dupla de amigos. Sua mulher, que o tentava afastar desesperadamente, foi a primeira a ser agredida, com um soco no rosto. Com ela fora de seu caminho, Paulo pegou uma garrafa de uma mesa e atacou o rapaz.
Assim acabou o seu casamento, e, quem sabe, as suas convicções políticas.
#conto #literatura
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Proezas do Ribeirão da Ilha
Hoje está um dia um pouco quente. O sol, que de vez em quando resplandece por entre as nuvens de um céu nublado, esquenta-nos, mas sem queimar. O leve vento noroeste harmoniza com a os raios da majestosa bola de fogo, fazendo deste o habitat ideal para a humanidade e outros seres.
Eu estou no Ribeirão da Ilha, tomando um café, após saborear uma moqueca de frutos do mar. A vista da baía, cujo horizonte é coberto pelos morros do continente, é o tipo de coisa que gera muitas obras por meio dos artistas. A arquitetura local, característica dos antigos imigrantes açorianos, intensifica a experiência, ao levar-nos a outros tempos e retemperar-nos a alma. Tal condição transcendental pode ser amplificada através de uma boa carga de leitura. E eis aí meu conselho a ti, caro leitor contundente. Cedo ou tarde, eu iria começar a divagar e mentalmente a viajar para longínquos campos das ideias. Entre esses pensamentos, ultimamente, escolho os mais dignos para compartilhar em crônicas, esse magnífico gênero textual.
Agora estou passando pela Igreja Nossa Senhora da Lapa, construída em 1763. Com meu celular, esse tremendo artifício que nos veio transformar as vidas, vou registrando minha experiência transcendental.
Como seria o dia a dia daquele bucólico local durante o século 18? Logo me pus a imaginar um dia de sol e nuvens, como esse em que escrevo, com grande agitação pela praça que antecede a igreja. Era uma festa paroquial, com crianças correndo para todos os lados, pescadores aproveitando um tempo de ócio, carroças, cavalos, freiras, padres, militares, escravos, nobres… Em um canto, falava-se sobre os resultados das pescas; em outro, comentava-se sobre a performance do padre, as novidades do Rio de Janeiro, a urgência de uma alfândega no centro da cidade. Senhoras, senhoritas e moçoilas fofocavam sobre as intrigas amorosas da vila e conspiravam contra as mulheres suspeitas de praticar bruxaria. Tudo acontecia em câmera lenta, tal qual supõe o meu lado menos cientificista.
Em certo ponto, refleti que nesse contexto viveram grandes escritores de nossa literatura brasileira. Nessa realidade viveram José de Alencar, Machado de Assis e Aluísio Azevedo. Em meio a esse panorama, a essa energia, eles percebiam o que ninguém mais percebe. Decodificavam sentimentos como mais ninguém decodifica. Talvez sentiam o que mais ninguém sente. E passavam para o papel.
Até que imaginei, olhando para um canto da praça, sob uma árvore que não sei identificar, um homem negro bem vestido: não era um escravo. Ele ignorava comentários hostis de uma senhora, esforçando-se em focar naquela árvore. Esse homem era Cruz e Souza, jornalista e escritor, um dos precursores do Simbolismo no Brasil.
Eu o imaginava contemplando uma árvore porque isso foi o que me marcou no único livro que tenho dele, chamado Evocações. Com que maestria ele descrevia as plantas e as árvores! Parecia dar-lhes vida. As formas das folhas, as flores, o caule, as cores, tudo parecia atingir em cheio a alma do escritor, e ele compartilhava isso nos papéis. Esse olhar também podemos identificar nas obras dos outros escritores dessa geração. É marcante. Noto também esse olhar por parte de nossos idosos, em comparação ao ponto de vista de nossa juventude.
Minha intenção não é colocar uma geração como superior a outra, afinal, isso seria um equívoco absurdo. Somos humanos. Mas não deixo de questionar sobre o que mudou para esse olhar estar menos presente na atualidade. Poderíamos apontar para a intensa urbanização, mas eu creio que a questão é muito mais complexa. O evidente é que isso é uma pena, posto a beleza de tal olhar. Ele evoca os sentimentos mais puros.
E, já em casa, folheando a obra de Cruz e Souza, concluo minhas considerações de hoje. Mas sem antes deixar de contar-lhes que estou começando a pensar em fazer um curso de jardinagem!
#cronica #escrita #literatura
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Folhas e Telas
Hoje foi um dia bom. Reuni-me com meu pai e outros parentes, onde tratamos de vários aspectos de sua vindoura campanha para vereador. Não poderia deixar de citá-lo, apoiá-lo e convidá-los a votar nele. Após momentos que nos exigiam criatividade e boas ideias, decidi de mim para mim que iria continuar botando o cérebro para funcionar: fui ler na praia. Estou lendo dois livros por diferentes meios, um é o PDF de "Sobre a Escrita", de Stephen King, e o outro é um livro físico de "Diário do Hospício/O cemitério dos vivos", escrito por Lima Barreto. Posto isto, devia escolher algum.
Confesso que minha decisão inicial foi a obra autobiográfica do Stephen King, cuja leitura é mais leve e harmoniza com a praia. Porém, com um simples mas derradeiro olhar, vi milhares de minúsculos grãos invadindo meu tablet, pela entrada dos fones, as saídas de áudio e os botões. Caso encerrado: trouxe o de Lima Barreto. Lá na Praia Mole, em meio a relatos escabrosos sobre um antigo hospício, afora belas ondas de um metro e vento terral, irrompeu-me uma reflexão.
O debate sobre os meios digital e impresso é interessante e rende. Há inclusive os fanatizados:
- Jamais! Nunca vou substituir a tinta e o papel por esses trecos. Geração de mimados!.
Ou então:
- Tolos! Vocês estão aí torrando fortunas em papel enquanto eu leio essa obra prima por R$ 1!
Diabos, onde está o espírito democrático, pessoal?
Larguemos a bobice, cada caso é um caso. Veja, com os livros impressos não corremos o risco de clicar em botões sem querer, mudando de página. Aliás, é mais fácil mudar de página de um livro do que de um PDF. A sensação de ter a obra em mãos, com aquela bela capa, também é agradável. Lembro-lhes também da visão dos exemplares figurando em nossas prateleiras. Que belos sentimentos temos ao avistar nossas coleções completas! Tanta história vivida e sentida ali. Nesse sentido, destacam-se os leitores de quadrinhos. Como se gabam na internet os donos das vastas coleções! As lombadas formando imagens, dos personagens em ação, atacando, voando, gesticulando. Os fãs da nona arte gastam fortunas em função disso.
Ah! Também há o cheirinho de tinta no papel, que nos traz boas sensações.
Por outro lado, as vantagens do meio digital também não são difíceis de adivinhar. Pelo tablet temos um acesso mais fácil às obras, já que a chegada das encomendas físicas são demoradas. Ademais, com a recente crise editorial brasileira, as lojas físicas das grandes livrarias não vão bem das pernas. O tablet também proporciona a oportunidade de lermos online, a qual é uma vantagem notável.
Certos tempos, quando ando instigado pelas tramas da nossa política, frequento muito as páginas de nossos grandes jornais, atualizando-as para acessar as mais recentes notícias. Há também a questão, muito considerável, do espaço físico. São numerosos os leitores de livros que não têm mais lugares para guardá-los. Em relação aos quadrinhos o problema cresce ainda mais. Meu irmão, um acadêmico de Direito, simplesmente teve que diminuir as compras, pois não há mais espaço em seu quarto. E, vendo o montante de quadrinhos que eu leio em meu tablet, por preço baixos ou grátis, copiou-me comprando um também, em um ato de baixa originalidade.
Ao cabo, responderei à tola pergunta: prefiro o impresso. Mas não posso ignorar a grande vantagem do tablet, que é ler com a luz apagada: de quando em quando o interruptor está longe demais.
#cronica #tablet #impresso
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Manhã Edificante
"De manhã cedo tudo parece em câmera lenta", constatava o pacato Moacir. Estariam florescendo nele lampejos poéticos? Afinal, quantos poetas promissores deixam de ascender, sequer atinam com seu talento, devido a necessidades de trabalho e consumo? Fato é que nosso inusitado "flâneur" estava de folga, e, escusadas quaisquer neuroses do dia a dia, despertou-lhe magias artísticas.
Caso fosse possível avistar o estado da alma das pessoas, naquela rua, destacaria-se a do transeunte Moacir. Seria colorida em meio a tantas apagadas. Em inédita demonstração de obséquio, ajudava serenamente uma velha senhora a carregar sacolas de compras. Após, voltava a circular sem destino nas tortuosas e sujas vielas e ruas de sua comunidade.
Por vezes, Moacir parou em praças, onde se sentou e apreciou o vento matinal fresco. Sua teoria sobre o que acontecia era que, de maneira inconsciente, ele teria se desligado de qualquer problema. Após brincar com alguns garotos que soltavam pipa, foi tomar café em uma lanchonete da região. Aquele sóbrio bem-estar era notável, e ele só queria curtir o momento.
O por ora contemplativo homem provava, embora ignorantemente, uma sensação que droga nenhuma provém. Era como a amostra de um mundo diverso, cuja lógica atende a outros preceitos. Moacir vivera o drama dos narcóticos, e por isso valorizava essa serenidade natural, de uma liberdade edificante. Com efeito, sabia que aquele era um dia bom. Ao seu derredor, contudo, o mundo corria. Subitamente, um bobo acidente entre carros seguido por uma briga corporal ameaçavam aquele momento. Logo, a reação de nosso curioso caminhante foi de se afastar e continuar o passeio.
A caminhada continuava, e, porventura, Moacir passaria próximo a um ponto de venda de drogas. Ali, um jovem rico e forasteiro tratava com traficantes. O jovem, amedrontado, tinha pressa e queria partir o quanto antes; ao passo que os risonhos traficantes, cientes disso, demoravam propositalmente. Até que o terror de todos ali presentes, ou melhor, de toda a comunidade, surgia. Uma viatura da polícia virava a esquina, dando início a uma debandada desesperada.
Por sorte, nada aconteceu com Moacir. Ou melhor, nada no plano físico. No plano espiritual, onde o homem se regozijava imensamente, uma bruta agressão acontecera. O mundo não parecia mais em câmera lenta. De forma sutil, uma ansiedade surgia no peito dele. Pensamentos estressantes também: contas a pagar, um celular a comprar, uma obra a ser feita em casa...
Uma forte preguiça também passou a se apoderar do corpo de Moacir, levando-o a voltar para casa. Ao fim e ao cabo, seu patrão ligava para reclamar de algo. Estava assim dizimada uma experiência especial. Contudo, resquícios disso ainda sobreviviam no âmago do homem. Ele estava reflexivo, questionando sobre as coisas do mundo real.
"Os homens precisam viver assim?", pensava ele. Transformado por uma linda manhã de final triste, notava o caos, a competitividade e o individualismo do mundo atual. Sua alma se elevou naquelas misteriosas horas. Para a felicidade dos revolucionários, nascia assim um sonhador.
#conto #literatura #escrita
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Neco se candidata para vereador
Orlando Carlos da Silveira Mello, o Neco, vai disputar as eleições para vereador em Florianópolis, que acontecerão no dia 15 de novembro. O músico e compositor, conhecido na cidade por sua música "Lagoa da Conceição" e pela casa de samba "Rancho do Neco", concorrerá pelo partido Cidadania. Seu número de candidatura é 23.000.
Caso for eleito, Neco promete um mandato focado em estimular a arte na cidade, valorizando a cultura nativa. Sua atuação nessa área não está começando agora. Desde jovem o artista se inspira nas belas paisagens florianopolitanas para compor suas músicas e promover atividades culturais. Foi em 1976, por exemplo, que ele compôs sua homenagem à Lagoa da Conceição. Posteriormente, em 1989, formou-se em Música na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), onde enriqueceu suas noções sobre a importância social da arte e cultura.
Neco frequentou muito o meio do Samba de Raiz na capital, promovendo eventos, apresentações e festas. Nos anos 90, quem frequentava o Bar do Tião, referência na cena do Samba local, certamente conheceu o músico.
Logo surgiu, em 2003, a ideia de criar a própria festa, e então ele começou a promover pequenas rodas de samba entre amigos. Esses eventos, que aconteciam em um barraco de pesca, o "Rancho do Neco", acabaram crescendo muito. Com muita frequência a festa atingia lotação máxima de pessoas.
Foram 12 anos de casa cheia, até que Neco resolveu vender o rancho. Porém, a sua trajetória ainda não acabava. Em 2014, abriu o Bar Qualé Mané, onde aconteceram valorosas apresentações culturais até meados deste ano, quando a pandemia do Coronavírus irrompeu em nosso pa��s.
Em toda sua obra, nota-se um foco especial na cultura local e nacional, e foi devido a isso que o artista recebeu da Câmara de Vereadores, em 2017, a Medalha Manezinho da Ilha Aldírio Simões.
Neco conta que viu na política a oportunidade de continuar fomentando a arte na cidade. Entre suas propostas estão a elaboração da Arena do Boi de Mamão e do Passeio da Memória, onde fica os jardins do Palácio Cruz e Souza. Além disso, o artista propõe a recriação da FEIRARTE (Feira de Cultura, Artesanato e Arte), iniciativa que participou nos anos 1980.
#politica #eleicoes #florianopolis
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Minha trajetória no mundo da escrita - PARTE 2
A grande questão é que com as drogas eu me afasto da leitura e da escrita, e hoje eu percebo que isso me faz perder meu chão. Não, não vale a pena abrir mão da literatura. A sobriedade é edificante e tem a sua beleza. Valorizemos as coisas simples da vida! Em um ou dois meses eu já estava abrindo o jogo para minha psiquiatra, a qual foi muito eficiente. Ela, ao notar o poder da literatura na minha vida, sugeriu-me a procurar um curso de escrita. O curso tem sido bom, e os textos vêm sendo terapêuticos para mim. Hoje me sinto sereno e realizado, tal qual em adolescente, quando devorava quadrinhos de faroeste.
#literatura #escrita #jornalismo
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Minha trajetória no mundo da escrita - PARTE 1
Lembro-me, com lampejos de nostalgia, do dia em que meu tio me apresentou uma certa história em quadrinhos quando eu tinha uns 9 anos de idade. Ele estava determinado a me iniciar com o bom e do melhor, e, sendo assim, botou uma edição do Will Eisner no meu colo. Os fãs da nona arte sabem de quem estou falando, e certamente saberão do exemplar em questão: "A história de Gerhard Shnobble". Trata-se da história de um vigia de banco que sabia voar, mas não divulgava seu talento. Não vou cometer o crime de dar spoilers, porém saiba que essa história emocionou gerações de leitores.
Recordo-me bem daquela manhã de final de semana, em toda a sua paz, quando não temos uma aula para assistir ou um expediente para cumprir. Eu estava relaxado no sofá da sala, onde as cortinas tremulavam suavemente e a televisão lançava silenciosos ruídos de algum filme da Disney. Até que a obra-prima chegou em minhas mãos. Eu era um garoto normal, que gostava de brincar e jogar video games, e tinha preguiça de ler. Entretando, decidi corresponder aos anseios do meu tio de me trazer ao edificante hábito das leituras. Com esforço fui acompanhando a sequência de quadros, até que, finalmente, concluí a história. Pronto, estava feito o meu dever de casa. Logo me botei às preocupações comuns de criança. Todavia, uma semente germinava. No fundo eu gostei bastante da história, pois era uma narrativa curiosa, cuja conclusão me emocionou e me pôs a refletir. Eu ainda era malandro e tinha preguiça de ler, mas os quadrinhos acabaram adentrando meu universo infantil. Ainda naquela época, certo dia, notei revistas da Turma da Mônica nas prateleiras de um supermercado. Sem pensar muito, em um ato mais consumista do que de leitor, comprei uma edição. Em casa, ao lê-la, fiquei satisfeito. Era uma leitura fácil e leve, que me fazia sentir mais digno. Logo comecei a comprar regularmente essas revistas. Por semana, eu ia duas, três e até quatro vezes na banca de jornal, cujo dono se habituou a ver minha cara. É provável que essa carga de leitura tenha sido a fonte das poesias, estrofes e rimas que eu escrevia em todas as provas da escola. Entre elas, a que eu e minha mãe lembramos com mais facilidade é esta: "Olha aí, O saci fazendo xixi!" A rima, é claro, contava com uma ilustração do saci urinando. Cedo ou tarde eu iria querer variar um pouco minhas leituras. Não lembro bem desse belo dia, mas em algum momento eu ampliei minha visão sobre as prateleiras da banca e notei as revistas do Tex. Ali, certamente me fascinei com os desenhos de faroeste, onde pistoleiros empunhavam suas armas com destreza, cavalgavam em alta velocidade, e lutavam em cenas de ação. Mas, o que com certeza chamou minha intenção foi a figura do índio, com seus cocares, suas pinturas corporais, seus arcos e flechas e machadinhas. Naturalmente me encantei com o conteúdo das histórias também, onde pude conhecer um estilo de vida totalmente alheio ao nosso, vinculado às forças da natureza. De fato, ainda hoje sou encantado pela lógica da culturas indígenas. E isso me fez ler quadrinhos de faroeste exageradamente. Na escola, lembro bem da Oficina de Leitura. Ali, desinibido e empolgado, contava histórias para a turma, encenando um pouco também. Os colegas aprovavam e riam, mas sem maldade. Pelo contrário, me incentivavam e curtiam o momento. Nesse local também empreendi grandes esforços para fundar o clube do Tex (personagem de faroeste). Queria incentivar e, de certa maneira, pressionar meus amigos a ler também. Recordo-me como se fosse agora de fazer isso, sentado na mesa com os amigos, que se entreolhavam risonhos, dando trela. O tempo passou e eu continuei lendo muito. Mas, por alguns períodos, admito, essas leituras diminuíam um pouco. No caso dos livros era eventualmente. Eu era malandro e preguiçoso, e estudava o mínimo para passar de ano.
Foi na sétima série, quando eu tinha 12 ou 13 anos, que voltei a ler bastante quadrinhos. A coleção aumentava e eu a vislumbrava nas estantes cada vez mais fascinado. O que eu não sabia, e que hoje noto com clareza, é que eu estava produzindo conhecimento com aquilo. Inconscientemente eu estudava a arte das narrativas e das histórias. Além disso, meu Português evoluía muito. Inclusive eu tive um blog, onde postava singelas resenhas sobre "Júlia - As aventuras de uma criminóloga", um de meus quadrinhos preferidos. Também cheguei a iniciar uma história em parceria com um desenhista, amigo meu da internet, mas que acabou não saindo da primeira página. Como disse anteriormente, eu era preguiçoso. Eu também participava de diversos fóruns sobre quadrinhos na internet. Neles, recebi dicas e comecei a desbravar outros universos também. Um deles eram os quadrinhos adultos da Vertigo, um selo adulto da DC Comics. Histórias sobre ocultismo, misticismo e o sobrenatural de títulos como Sandman, Hellblazer e Monstro do Pântano me levavam para outros campos da imaginação e do saber. Já os universos dos super-heróis nunca me encantaram, e até hoje não sei por quê. Foram tempos de muita leitura e aprendizado até os meus 15 ou 16 anos. Ali eu desviei um pouco de foco. Não poderia deixar de salientar um problema com bebidas. Em todos os malditos finais de semana eu abusava do álcool. E isso acarretou em diversas situações vexatórias e atitudes de que eu me arrependo até hoje. Eu só pensava sobre bebidas, festas e garotas, e meu hábito de leitura diminuiu. Eu ainda lia, mas menos. Pulando um pouco no tempo, era hora de escolher para que curso iria prestar vestibular. Eu estava indeciso, só sabia que queria algo na área de humanas. Isto posto, minha mãe me sugeriu Jornalismo, e eu segui o conselho. Hoje, escrevendo esse texto, agradeco-lhe, conquanto eu ainda não esteja inserido no mercado de trabalho. Escrever é mágico e me realiza. O tempo iria me pôr nos eixos. Nunca me esquecerei dos meses de agonia que sucederam meu vestibular. Eu não havia passado por um décimo, mas tinha boas chances de ser chamado devido a vagas que surgem oriundas dos desistentes. Por outro lado, nesse período eu fiz um curso de redação tanto na possibilidade de me preparar para um novo vestibular, quanto na de já aprimorar meus conhecimentos para cursar Jornalismo. Ali escrevia regularmente, e eu gostava de me expressar através daqueles chatos e padronizados modelos de texto dissertativo. Também procurei ler bastante revistas e jornais. Eu fui chamado, e na semana seguinte lá estava eu na universidade, com um sorriso de orelha a orelha, fazendo a matrícula. Foram bons e aliviantes dias. Mas não poderia deixar lhes de contar que se iniciava também um certo problema com a maconha. Um problema que desviou durante seis anos o meu foco da escrita e da contação de histórias. Há quem goste de ler e escrever depois de fumar, mas esse não era o meu caso. Eu perdia a concentração e acabava produzindo textos fracos. Vacilava com a objetividade das notícias e reportagens, além de confundir-me na hierarquização de informações. Bom, nesses seis anos eu tive alguns surtos e delirei algumas vezes. Eu captava erroneamente a realidade ao meu redor, e interpretava mal tudo que eu via. Desenvolvi uma mania de perseguição, ou crise do pânico, e achava que todo mundo queria me prejudicar. Por fim, cheguei ao ponto de ser internado em dois hospitais psiquiátricos, com delírios sobretudo no âmbito da religiosidade. Eu vivia agoniado, segurando o choro, e por isso procurei a religião. Só que isso acabou piorando meus delírios e a minha situação. Achava que tudo era coisa do diabo, ou dos santos, ou de Deus.
Eu não sei até que ponto a maconha ocasionou tudo isso, e não quero pisar nos perigosos campos da polêmica. Mas estou certo de que ela tem sim influência no que aconteceu. E o recado que eu quero passar aos meus leitores usuários, entre eles grandes amigos, é que não é porque seu organismo aceita bem certa substância que o mesmo acontecerá a outrem. Mas espere um instante, leitor contundente, não agonize em comiseração! Também vivi ótimos momentos na universidade. Fiz boas amizades, li materiais maravilhosos, participei de debates interessantes e escrevi inúmeros textos. Diabo, cheguei a apresentar um telejornal! O que eu quero deixar claro é que de certa forma eu aproveitei o que a academia tinha a me oferecer. Produzi conhecimento. É indiscutível que eu poderia ter aproveitado mais, e eu me arrependo disso, mas hoje eu noto que não foi tudo em vão. Da mesma forma como, em criança, li contrariado uma história em quadrinhos, mas despertei uma paixão; apaixonei-me pela escrita. Creio que um dos motivos de eu amar escrever é o fato de eu ter muita dificuldade de me expressar pela fala. Considero minha oratória péssima, e é por isso que nunca me aprofundei no radiojornalismo e telejornalismo. O fato de eu conseguir expressar o que passa na minha mente me fascina na escrita. Assim eu tenho tempo para pensar, planejar, e exprimir exatamente o que eu quero. Também gosto da ideia de mexer com os sentimentos dos leitores através das palavras, além de provocar reflexões. Entre as histórias que eu vivi na universidade, escolhi contar especificamente uma por considerar que ela é a ideal para proposta desse texto. O incidente aconteceu durante as aulas de uma determinada disciplina, cujo nome e professor não vou citar aqui. Na primeira aula dessa matéria, chamou-me atenção o conteúdo e a oralidade do professor. Ele era muito inteligente e se expressava muito bem. Eu gostei do que ouvi naquela aula, pois nela foram expostas concretas orientações e técnicas para a escrita. Não eram coisas vagas. Lembro também do texto que nós, alunos, fomos convidados a ler. Era um material muitíssimo bom e interessante. Portanto, eu criei grandes expectativas para aquela disciplina. Minhas boas impressões continuaram na segunda aula. Talvez na terceira também. Eu não lembro em qual delas aquele professor começou a corrigir nossos textos, mas foi nesse ponto que meus problemas começaram. Com o tempo percebi que o cara era rude demais. Nunca tivera um professor tão grosseiro, e eu não conseguia acreditar no que presenciava. Ele xingava vorazmente os textos que não gostava, e não estava nem um pouco preocupado se os alunos se ofenderiam. Certa aula, por exemplo, ele abandonou um texto meu na primeira linha, revoltado, vociferando. E aquilo me atingia. Lembro bem do desprezo desse professor ao ouvir uma certa expressão que escrevi erroneamente. Eu tinha que ler meu texto em voz alta com a turma toda em silêncio, a me ouvir. A revolta com que ele recebeu meu erro, fazendo um “tchauzinho” com as mãos para mim, em frente a todos, atingiu-me como uma flecha no coração. O que sobrou desse meu órgão seria destroçado em outra ocasião, quando ele disse que meu texto era um dos piores da turma. As minhas notas em redação, até aquele semestre, eram relativamente boas, e eu não estava preparado para passar por aquilo. Eu não sabia que meu texto era tão ruim, e nenhum dos professores anteriores foram tão duros comigo. Eu estava arrasado. Era como uma grande decepção amorosa, ou a morte de um ente querido. E isso é um forte indício de como a escrita já era importante para mim. Se eu a considerasse uma atividade qualquer, com certeza eu não estaria tão abalado. Certo dia, eu estava sentado no meu computador, relendo o meu texto da semana, aguardando o atendimento do professor. Lembro que uma forte aflição e adrenalina perturbavam meu espírito. Mas, em meio a isso, havia também a esperança de ter acertado naquela vez. E de grandes esperanças, por vezes, vêm grandes decepções.
Eu lembro que quando foi a minha vez, mal o professor começou a ler meu texto, eu já estava ofegante e nervoso. Logo ele começaria a gritar comigo. Eu, com os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos na cabeça, tentava controlar meus sentimentos, que estavam à flor da pele. Um nó se formava na minha garganta, e eu combatia para segurar o choro. Foi um combate implacável, e eu me admiro por ter conseguido vencê-lo. O professor, por sua vez, parecia querer a minha derrota. Aquilo me marcou profundamente. Entretanto, eu não poderia deixar de apresentar o contraditório. Desde aquela disciplina, passei a valorizar muito mais a leitura e a escrita. O professor, em seu modo hostil, nos pressionava a ler mais, e isso funcionou. Desde então, a simples visão de um livro, de uma página, traz-me uma indizível sensação de dignidade. Além disso, estava claro: não há como escrever bem sem constantes leituras. Aquilo tudo evidenciou que eu ainda tinha um longo caminho a percorrer. Passei a levar mais a sério a produção textual. Às vezes, escrevendo, quando estou prestes a cometer um erro, lembro dos brados desse professor. Acabo corrigindo coisas que antes passariam despercebido. Em suma, a leitura e escrita passaram a ser algo muito mais importante para mim. Com elas, sinto-me mais digno. Passada essa tormenta, eu persisti no curso. Conheci o jornalismo literário, o conto, a crônica, entre outros. Esses gêneros me fascinaram, pois com eles eu sentia uma enorme liberdade. Com eles, eu não sentia o terrível medo da objetividade jornalística, que até hoje eu vou aos poucos superando. Os anos passaram e eu consegui me formar. Meu TCC foi uma grande reportagem sobre turismo religioso, e a nota foi 9. Bom, eu não sei qual é o limite de caracteres do tumblr, e por isso não vou me prolongar. Só queria agradecer à minha mãe e à minha orientadora, as quais não me deixaram desistir. Posteriormente mais uma vez a literatura, a reportagem e a contação de histórias contribuíram em minha vida. Foi num carnaval que conheci a cocaína, em toda a sua força e brutalidade. Foi tudo muito rápido, e logo eu estava viciado, gastando grandes quantias naquele maldito pó branco. Não vou entrar em detalhes, só vou contar aqui como superei esse problema.
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Reflexões Pandêmicas
A crônica é um gênero textual que costuma abordar fatos corriqueiros do nosso dia a dia. E que homérica tragédia é escrever esse tipo de texto com o tema da pandemia do coronavírus! Sim, pois ela está afetando o nosso cotidiano, e coisas antes atípicas em nossa realidade, tornam-se eminentemente comuns de uma hora pra outra.
Atire a primeira pedra quem nunca se aborreceu por sair e esquecer a máscara em casa. Quem jamais se irritou por lidar com indivíduos nada precavidos, ou o contrário (afinal, quem seria eu para controlar quem lê minhas coisas?). Quem não refletiu sobre como o seu organismo reagiria a um possível contágio?
Divague comigo sobre como a realidade mudou. Poderíamos refletir sobre inúmeros aspectos disso tudo. Eu, em minha posição de escritor de crônicas, sinto-me no dever de escolher um enquadramento curioso e novo, abordando coisas desse novo contexto. Afinal, enquanto nessa condição, almejo não fazê-los perder tempo com reflexões comuns e apontamentos conhecidos.
Certo dia eu estava na rua e precisava matar um tempo. Acendi um cigarro e passei a filosofar sobre qualquer banalidade. Não sou de ler os grandes filósofos, porém gosto de divagar, com aquela feição asna e olhar no horizonte. Coçar o queixo também faz parte do pacote. No centro da cidade, cedo ou tarde (provavelmente cedo) essa contemplação seria interrompida. Estou falando dos mendigos, é claro. Grandes personagens para bons cronistas! Logo um desses sujeitos caricaturais me abordaria por um cigarro.
Porventura me irritaria com a interrupção, mas não foi o caso. Desmascarado, o sujeito aparentava simpático. Todavia, despreocupado com a pandemia, ignorando precauções. Conforme ele se aproximava, eu, precavido, me afastava. Um cigarro entregue e algumas respostas rápidas foram o máximo de correspondência que eu pude ceder-lhe. A minha ideia era manter a distância.
O indivíduo, como que em resposta instantânea, não escondeu um certo chateamento e queixou-se sobre a arrogância das pessoas com sua classe, a dos moradores de rua. Eu tinha entendido: ele pensava que eu era daqueles ojerizados com ele. E, remontando a cena em minha mente, compreendi que a falsa interpretação, de certo modo, fazia sentido. De forma desproposital, eu rechaçava insensivelmente o rapaz.
Tal incidente me causou reflexões sobre como a divergência de conceitos sobre algo, que no caso era o Corona vírus, pode causar mal-entendidos. E, em tempos de pandemia, recomendo-lhes: cuidado com os mal-entendidos!
Chamo atenção para isso pois, nesses tempos, novos acontecimentos corriqueiros suscitam tal reflexão. Cada um carrega uma visão sobre o problema, e as ideias divergentes estão gerando novos conflitos em nosso cotidiano. Em meio a esse quadro, cabe-nos prezar pela saúde mental e ter jogo de cintura para lidar com tais situações.
Muitos são os que persistem em uma quarentena firme, porém também são numerosos os que estão começando a sair para as aglomerações. O país, completamente polarizado na política, passa a enfrentar uma nova divisão. Sim, leitor contundente, uso o verbo "enfrentar" pois não há como tal divisão ser positiva para o dia a dia de um país. Trata-se de um problema. Melhor seria se combatêssemos o Corona em unidade.
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