egosimprecisos
para a poetisa íntima
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escavadora do existir
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egosimprecisos · 4 years ago
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ruminância
minha avó não tinha medo de olhar bois pela cara:
domava ira de bicho com os olhos bem abertos no
confronto silencioso de pupila contra pupila só que
uma vez grávida da minha mãe ela entrou no curral
e uma vaca brava com bezerro recém-parido forçou
a cancela na testa desatou a correr em sua direção a
minha avó colou as costas contra a cerca e só soube
fechar os olhos esperando a morte ou se despedindo
das filhas do marido da neném coitadinha mal nasce
já tem que passar aperto e nem pensou em rezar que
nessas horas nem deus ajuda a pacificar os instintos
ou a abrir a porteira começou a sentir gotas no rosto
o focinho do bicho orvalhava a sua fúria territorialista
avó contava ainda de olhos pregados a vaca abaixou
a cabeça cheirou o relevo de sua barriga alta de mãe
inspirava frio e expirava quente foram bons minutos
disso de cheirar barriga virou as costas e voltou para
a cocheira a passos lentos parecia miragem quando a
avó voltou para uma realidade em que uma mãe sabe
reconhecer outra mãe pelo cheiro de seu fardo: a mãe
da minha mãe não tinha medo de cravar os olhos nos
bois domava ira de bicho sem pestanejar as pálpebras
mas com as vacas a calma só vinha quando maternal
amanda vital
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egosimprecisos · 4 years ago
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mi abuela desde que me recuerdo siempre cargó una mirada lejana, melancolica
dela herdei meus olhos profundos, um olhar de mulher velha selvagem que viveu dores que compartilha somente com todas as almas que carrega proximas pelo lado de dentro
faz dias que voltamos a reviver o cotidiano juntas y eu tanto desejava isso. não sei aproveitar como queria em meus sonhos antes do mundo parar pelo vírus. pintar dançar jogar papo fora plantar se alegrar pela comida criar todo tipo de arte costurar.
me sinto muito parecida com minha avó em tanto, até nas tristezas.
a vó me ensina a coragem de ser mesmo diantes dos olhares dilacerantes. de ser o que se é, uma corpa, viva, pulsante, uma mulher, uma mulher que teve filhos, uma mulher que sofreu, uma mulher que atravessou humilhações de todos os tipos. uma corpa viva pulsante que revela toda sua dignidade de ser. uma deusa.
os medos são aqueles da doença de sofrer encamada talvez da morte.
eu sou tão as mulheres que me fazem que sinto conhecer desde os meus ossos todos seus temores. tremo por dentro por seu medo de morrer. estou para amparar, preparar a boa morte, com a boa vida, com o amor. manter a morte a esquerda lembra a preciosidade da vida.
eu tenho vinte e cinco anos (sim de sonho de sangue e de américa do sul), por força desse destino o batuque me faz lembrar sempre da marcação do meu peito e meu corpo todo treme. treme junto com a terra. salve seu treme terra e seus ensinamentos sobre o tempo. lá naquela serra tem folha, lá naquela serra tem água...salve seu serra negra.
minha avó é benzedeira que não se chama por esse ofício. minha vó é plurimestra de mil coisas mais. tem parte com mercúrio certamente. nunca tive como saber de carta natal da minha vó, causa de que seu nascimento tem registro em papel em paranaguá, mas que se conta que seu parto se deu antes do escrito. minha bisa contam que morreu afogada em dia de carnaval no mar de paranaguá. esses dias a vó contou que acharam ela na praia, do outro lado, acho que matinhos, dias depois. que o irmão dela, tio da vó, tentou salvar e não deu conta. a vó só lembra do cabelo dela...
não sabemos de muito, só que a bisa teve irmãos, capaz já todos mortos. não temos foto do seu rosto, não sabemos seus gostos ou histórias, sei que ela tinha cabelos encaracolados, morava em paranaguá, teve uma filha tânia minha avó e também outro filho que morreu ainda bebê. não sabemos ao certo seu sobrenome, porque fizeram ela de casada no cartório com meu bisavô, mas nem disso se tem certeza. é tanta moralidade que encoberta tanta história viva.
uma vez a vó contou de uma memória. de ser deixada numa casa de madeira de fresta grossa por onde passava o vento. ela dizia sentir o frio que atravessava os vão das tábua. ela dizia ter menos de quatro anos e estava acompanhada do seu irmão ainda bebê. ela cuidava do irmão e a mãe tinha saído. ela contou de lembrar ficar muitas vezes sozinha e não saber pra onde a mãe ia. mas sabia onde ela guardava um dinheiro e certa vez subiu pra alcançar o trocado em algum lugar pra comprar alguma coisa que anunciava na rua. capaz um doce, uma fruta.
dia desses ela negou de ter me contado essa história, porque dizia não lembrar. mas eu lembro dela contar porque aquela memória me doeu tão fundo. eu via essa memória toda em cinza e o abandono minha vó leva dentro e eu sempre soube de algum modo, porque o abandono tava em mim também. minha palavra não dá conta de descrever essa união que tenho com minha vó, passando pela minha mãe, até minha bisa e outras mais, além de agora também minha irmã.
a vó tem reclamado muito das dores. seu olhar triste me traz um peso do medo de não viver com ela todas as maravilhas que sonhei. levar ela pra pescar, pra conhecer seu jovino, pra molhar os pés no mar de lá dos caiçara, ir na festa do divino, comer um peixe num lugar que ela escolher, dançar até ela lembrar que não é sozinha.
a vó diz isso que se sente sozinha, que tá pra entregar os pontos, que já não tem força...eu sinto seu cansaço. a secura e a doçura aprendi com minha avó. seu amor é de outros modos que meu olhar de criança no corpo de jovem mulher hoje entende melhor. curo minha criança, cuidando de minha avó enquanto envelhece.
minha vó gosta de plantar rosas e outras flores que dão em folhagens vistosas. mas sempre foi das rosas. ela plantou um pé de café que tapa quase toda a frente da casa e nunca deixou cortar apesar da família querer outra coisa muito mais chata e domesticada. na frente da casa queu cresci tem um limoeiro que conheço desde que me entendo por gente, um pé de café, as rosas da minha vó, uma folhagem que dá sementes pretas em pequenos saquinhos e flores vermelhas que foi plantada pelos pássaros. agora tem também um pé pequeno de folha da costa e uma planta suculenta que dá em flor todinha feito uma mandala, linda que enche os zói com suas pétalas de berada roseada. ela gosta até de ficar pendurada, como a da casa da taty, minha sogra. no meio do jardim tem uma arvorezinha aparada tipo de casa burguesa, em uma das tentativas de domesticação das energias selvagens dessa casa, por parte do meu padrasto que vem de contexto muito outro, quase que estrangeiro a meus olhos.
as janelas eu amo imenso. elas são gigantes, quase toda a parede da frente. eu sempre amei as janelas da minha casa. sempre amei chegar da escola e ver elas embaçadas nos dias frios, entrar e sentir o cheiro da comida da minha vó. 
é muito bom a chegada da ísis porque ela trouxe muita vida pra nossa casa. trouxe amor, trouxe esperança, trouxe a lembrança de que somos uma ela eu mãe vó bisa e outras mulheres.
recentemente pensando na travessia do ano que passou, o corpo que exigiu recolhimento e pausa. o lado esquerdo todo em um dor terrível. salve seu serra negra, todos os pretos velhos, exus, guardiões, espíritos da floresta, medicinas sagradas que me puseram novamente viva. mas atravessei duas mortes pela parte do espírito.
eu atravessei a cidade sem saber ao certo o que me levava e corri aos prantos até o cemitério no dia que victor foi enterrado. eu chorava pela morte precoce, pela dor da mãe que perde o filho. a dor das mulheres da minha família. a dor de todas as mães. eu corri e vi ele no caixão e fui até ele e pedi perdão, agradeci sua vida.
tempo depois eu adoeci mais intenso. busquei a medicina ayahuasca pra ORIentação. eu sentia muitos medos, internamente me preparava para morrer. achava que ia morrer. todo meu lado esquerdo doía, minha perna travava e eu quase que não podia andar. na força da jiboia encontrei com os espíritos que viviam acoplados ao meu corpo, consumindo da minha energia. eram parentes. muitos seres os acompanhavam de todos os tipos. sentia o frio e a dor descendo do rosto ao dedo do pé. pedi ajuda e a ayahuasca me levou para com eles conversar sozinha. no vazio adentrei e pude reconhe-los, sem falar língua de gente. victor me dizia de nosso pacto, nosso pacto de morte, dizia como se eu houvesse traído nosso combinado. o outro espírito era uma mulher, madura, que me cobrava os devidos respeitos, me cobrava a boa memória perante a família. parecia que ela havia sido esquecida, abandonada ou maldita pelos familiares. era em mim que ela depositava sua amargura. em mim ela habitava e tomava conta.
não sabia me comunicar na língua deles, entendia pela via-coração. mas sentia medo por estar só. chamei guias e protetores, mestres, pais e mães, continuei só. então comuniquei a eles minha gratidão por suas vidas, pedi que deixassem meu corpo. que fossem embora, que me deixassem viver, pedi perdão, queria viver. pedi perdão ao victor, queria seguir viva. disse a eles que era hora de irem, que não podia abrigar suas existências, que agradecia suas vidas. sentia fios roxos e pretos saírem do topo da minha cabeça. acredito que victor aceitou, apesar da mulher não. uma presença mais, completamente escura seguia nas minhas costas. não pude saber quem era, nem ao menos me conectar. soube então que passaria por três mortes. mais que isso não sei explicar.
mas acredito que a outra memória que tinha enquanto passava por essa travessia, a mulher amargurada de seus quarenta e tantos, a criança cheia de vida devotada a cuidados da casa e das enfermidades da mulher, tem raíz nas memórias minhas com minha avó; da minha mãe com minha avó; da minha avó com minha bisavó; e não sei quantas outras mais. o corpo é transportador de memória e a dor precisa de ser transmutada profundamente, pra brotar em flor. 
uma vez atrás fui no mercado e comprei uma violeta cheia de flor. as flores caíram uma a uma, ainda tá por cair a última. não sei cuidar ainda, parece. estou por entender nossa relação. trouxe da última vez uma jibóia, aquela que trepa por onde você botar caminho dela crescer. eu tenho tanta esperança que pouco a pouco a amargura vai curando na profundidade da rotina. que a sabedoria das avós adentre meus poros, vaze por meus ossos, preencha minhas carnes e eu possa viver o tempo do agora, ouvindo as velhas e as crianças. brincando entre as velhas e as crianças. curando entre as velhas e as crianças. que eu nunca esqueça esse ensinamento.
gratidão vó tânia, mãe janaina, irmã ísis, tio matheus, vô joão, avó lua, avô sol, estrelas, pais mercúrio e saturno. gratidão a todos os espíritos que se agregam na força do amor. gratidão todas as amizades. gratidão todos os aprendizados. gratidão vida e morte, eterno ciclo. gratidão corpo. sou e sigo. carrego
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egosimprecisos · 6 years ago
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aquí había sido primero como una sangría, un vapuleo de uso interno, una necesidad de sentir el estúpido pasaporte de tapas azules en el bolsillo del saco, la llave del hotel bien segura en el clavo del tablero. el miedo, la ignorancia, el deslumbramiento: esto se llama así, eso se pide así, ahora esa mujer va a sonreír, más allá de esa calle empieza el jardin des plantes. parís, una tarjeta postal con un dibujo de klee al lado de un espejo sucio. la maga había aparecido una tarde en la rue du cherche-midi, cuando subía a mi pieza de la rue de la tombe issoire traía siempre una flor, una tarjeta klee o miró, y si no tenía dinero elegía una hoja de plátano en el parque. por eses entonces yo juntaba alambres y cajones vacíos en las calles de la madrugada y fabricaba móviles, perfiles que girban sobre las chimeneas, máquinas inútiles que la maga me ayudaba a pintar. no estábamos enamorados, hacíamos el amor con un virtuosismo desapegado y crítico, pero después caíamos en silencios terribles y la espuma de los vasos de cerveza se iba poniendo como estopa, se entibiaba y contraía mientras nos mirábamos y sentíamos que eso era el tiempo. la maga acababa por levantarse y daba inútiles vueltas por la pieza. más deu na vez la vi admirar su cuerpo en el espejo, tomarse los senos con las manos como las estatuillas sirias y pasarse los ojos por la piel en una lenta caricia. nunca pude resistir ao deseo de llamarla a mi lado, sentirla caer poco a poco sobre mí, desdoblarse otra vez después de haber estado por un momento tan sola y tan enamorada frente a la eternidad de su cuerpo. 
en ese entonces no hablábamos mucho de rocamadour, el placer era egoísta y nos topaba gimiendo con su frente estrecha, nos astaba con sus manos llenas de sal. llegué a aceptar el desorden de la maga como la condición natural de cada instante, pasábamos de la evocacións de rocamadour a un plato de fideos recalentados, mezclando vino y cerveja y limonada, bajando a la carrera para que la vieja de la esquina nos abriera dos docenas de ostras, tocadno en el piano descascarado de mada noguet melodías de schubert y preludios de bach, o tolerando porgy and bess con bifes a la plancha y pepinos salados. el desorden en que vivíamos, es decir el orden en que un bidé se va convirtiendo por obra natural y paulatina en discoteca y archivo de correspondencia por contestar, me parecía una disciplina necesaria aunque no quería decírccelo a la maga. me había llevado muy poco comprender que a la maga no había que plantearle la realidad en términos metódicos, el elogio del desorden la hubiera escandalizado tanto como su denuncia. para ella no había desorden, lo supe en el mismo momento en que descubrí el contenido de su bolso (era en un café de la rue réaumur, llovía y empezábamos a desearnos), mientrar que yo lo aceptaba y lo favorecía después de haberlo identificado; de esas desventajas estaba hecha mi relación con casi todo el mundo, y cuántas veces, tirado en una cama que no se tendía en muchos días, oyendo llorar a la mafa porque en el metro un niño le había traído en recurdo de rocamadour, o viéndola peinarse después de gaber pasado la tarde frente al retrato de leonor de aquitanía y estar muerrta de ganar de parecerse a ella, se me ocurría como una especie de eructo mental que todo ese abecé de mi vida era una penosa estupidez porque se quedaba e mero movimiento dialéctco, en la elección de una inconducta en vez deu na conducta, de una módica indecencia en vez de una decencia gregaria. la maga se peinaba, se despeinaba, se volvía a peinar. pensava em rocamadour; cantaba algo de hugo wolf (mal), me besaba, me preguntaba por el peinado, se ponía a dibujar en un papelito amarillo, y todo eso era ella indisolublemente mientras yo ahí, en una cama deliveradamente sucia, bebiendo una cerveza deliberadamente tibia, era siempre yo y mi vida, yo con mi vida frente a la vida de los otros. pero lo mismo estaba bastante orgulloso de ser un vajo conciente y por debajo de lunas y lunas, de incontables peripecias donda la maga y ronald y rocamadour, y el club y las calles y mis enfermedades morales y otras piorreas, y berthe trépat y el hambre a veces y el viejo trouille que me sacaba de apuros, por debajo de noches vomitadas de música y tabaco y vilezas menudas y trueques de todo género, bien por debajo o por encima de todo eso no había querido fingir como los bohemios al uso que ese caos de bolsillo era un orden superior del espíritu o cualquier otra etiqueta igualmente podrida, y tampoco había querido aceptar que bastaba un mínimo de decencia (!decencia, joven!) para salir de tanto algodón manchado. y así me había encontrado con la maga, que era mi testigo y mi espía sin saberlo, y la irritación de estar pensando en todo eso y sabiendo que como siempre me costaba mucho menos pensar que ser, que en mi caso en ergo de la frasecita no era tan ergo ni cosa parecida, con lo cual así íbamos por la orilla izquierda, la maga sin saber que era mi espía y mi testigo, admirando enormemente mis conocimientos diversos y mi dominio de la literatura y hasta del jazz cool, misterios enormísimos para ella. y por todoas esas cosas yo me sentía antagónicamente cerca de la maga, nos queríamos en una dialéctiva de imán y limadura, de ataque y defensa, de pelota y pared. supongo que la maga se hacía ilusiones sobre mí, debía creer que estava curado de prejuicios o que me estaba pasando a los suyos, siempre más livianos y poéticos. en pleno contento precario, en plena falsa tregua, tendi la mao y toque el ovillo pars, su materia infinita arrollándose a s misma, el magma del aire y de lo que se dibujaba en la ventana, nubes y buhardillas; entonces no había desorden, entonces el mundo seguía siendo algo petrificado y establecido, un juego de elementos firando en sus goznes, una madeja de calles y árboles y nombres y meses. no había un desorden que abriera puertas al recate, había solamente suciedad y miseria, vasos con restos de cerveza, medias en un rincón, una cama que olía a sexo y a pelo, una mujer que me ppasaba su mano fina y transparente por los muslos, retrardando la caricia que me arrancaría por un rato a esa vigilancia en pleno vacío. demasiado tarde, siempre, porque aunque hiciéramos tantas veces el amor la felicidad tenía que ser otra cosa, algo quizá más triste que esta paz y este placer, un aire como de unicornio o isla, una caída interminable en la inmovilidad. la maga no sabía que mis besos eran como ojos que empezaban a abrirse más allá de ella, y que yo ansaba como salido, volcado en otra figura del mundo, piloto vertiginoso en una proa negra que cortaba el agua del tiempo y la negaba. 
en esos días del cincuenta y tantos empecé a sentirme como acorralado entre la maga y una noción diferente de lo que hubiera tenido que ocurrir. era idiota sublevarse contra el mundo maga y el mundo rocamadourm cuando todo me decía que apenas recobrara la independencia dejaría de sentirme libre. hipócrita como pocos, me molestava un espionaje a la altura de mi piel, de mis piernas, de mi manera de gozar con la maga, de mis tentativas de papagayo en la jaula leyendo a kierkegaard a través de los barrotes, y creo que por sobre todo me molestava que la maga no tuviera conciencia de ser mi testigo y que al contrario estuviera convencida de mi soverana autarquía; pero no, lo que verdaderamente me exasperaba era saber que nunca volvería a estar tan cerca de mi liberdad como en esos días en que me sentía acorralado por el mundo maga, y que la andiedad por liberarme era una admisión de derrota. me dolía reconocer qeu a golpes sintéticos, a pantallazos maniqueos o a estúpidas dicotomias resecas no podía abrirme paso por las escalinatas de la gare de montparnasse adonde me arrastraba la maga para visitar a rocamadour. ?por qué o aceptar lo que estaba ocurriendo sin pretender explicarlo, sin sentar las nociones de orden y de desorden, de libertad y rocamadour como quien distribuye macetas co geranios en un patio de la calle cochabamba? tal vez fuera necesario caer en lo más profundo de la estupidez para acertar con el picaporte de la letrina o del jardín de los olivos. por el momento me asombraba que la maga hubiera podido llevar la fantasía al punto de llamarle rocamadour a su hijo. en el club nos habíamos cansado de buscar razones, la maga se limitava a decir que su jijo se llamaba como su padre pero desaparecido el padre gabía sido mucho mejor llamarlo rocamadour y mandarlo al campo para que lo criaran en nourrice. a veces la maga se pasaba semanas sin gablar de rocamadour, y eso coincidia siempre con su esperanzas de llegar a ser una cantante de lieder. entonces ronald nevía sertarse al piano con sua cabezota colocada de cowboy y la maga coviferaba hugo wolf con una ferocidad que hacía estremecerse a madame noguett mientras, en la pieza vecina, ensartba cuentas de plásico para vender en un puesto del boulevard de sébastopol. la maga cantando schumann nos gustaba bastante, pero todo dependía de la luna y de lo que fuéramos a gacer esa noche, y también de rocamadour porque apenas la maga se acoradaba de rocamamdour el canto se iba al diablo y ronaldo, solo en el piano, tenía todo el tiempo necesario para trabajar sus ideas de debop o matarno dulcemente a fuerza de blues. 
no quiero escribir sobre rocamadour, por lo menos hoy, necesitaría tanto acercarme mejor a mi mismo, dejar caer todo eso que me separa del centro. acabo siempre aludiendo al centro sin la menor garantía de saber lo que digo, cedo a la trampa fácil de geometría con que pretende ordenarse nuestra vida de occidentales: eje, centro, razón de ser, omphalos, nombres de la nostalgía indoerupea. incluso esta existencia que a veces procuro describir, este parís donde me muevo como una hoja seca, no serían visibles si detrás no latiera la ansiedad axial, el reencuentro con el fuste. cuantas palavras, cuántas nomenclaturas para un mismo desconcierto. a veces me convenzo de que la estupidez se llama triángulo, de que ocho por ocho es la locura o un perro abrazado a la maga, esa concreción de nebulosa, peinso que tanto sentido tiene hacer un muñequito con miga de pan como escribir la novela que nunca escribiré o defender con la vida las ideas que redimen a los pueblos. el péndulo cumple su vaivén instantáneo y otra vez me inserto en las categorías tranquilizadoras: muñequito insignificante, novela transcendente, muerte heroica. los pongo en fila, de menor a mayor: muñequito, novela, heroismo. pienso en las jerarquías de valores tan bien exploradas por ortega, por schele: lo estético, lo ético, lo religioso. lo religioso, lo estético, lo ético. lo ético, lo religioso, lo estético. el muñequito, la novela. la muerte, el muñequito. la lengua de la maga me hace cosquillas. rocamadour, la ética, el muñequito, la maga. la lengua, la cosquilla, la ética. 
2, rayuela
vertigem na cabeça
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egosimprecisos · 6 years ago
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https://literaturaenpdf.files.wordpress.com/2012/03/en_la_mitad_del_camino_recorrido.pdf
soy la muchacha mala de la historia
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egosimprecisos · 6 years ago
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sabe uma faca me rasgando
:::ummm::: um mundo se acabando, não sei a gal costa cantora a gal costa  mulher a mulher-terrivel a mulher-linda. a noiva/ a morta/ a viúva/ a maravilha . é muito dificil falar essas coisas, eu não sei fernanda sempre me trata com choques elétricos. eu chego pra ver ela e, não vejo ela e me arrebato por ela e me arrebento por ela; e me desarrumo por ela não sei é sempre surpreendente eu nunca sei o que vai acontecer cada vez acontece uma coisa estranha
cada vez é como a vida tivesse se partindo se começando se acabando. fernanda é muito maravilhosa (haha)
meu bem 
meu bem, você tem que acreditar em mim. ninguém pode destruir assim um grande amor. não dê ouvidos a maldade alheia. e creia. sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo. 
meu bem, meu bem
sua incompreensão já é demais. nunca vi alguém tão incapaz de compreender que o meu amor é bem maior que tudo que existe mas sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo. quantas vezes eu tentei falar e o mundo não dá lugar pra quem toma decisões na vida sem pensar. conte ao menos até três, se precisar conte outra vez. mas pense outra vez, meu bem, meu bem, meu bem, queu te amo. meu bem, meu bem, use a inteligência uma vez só. 
quantos idiotas vivem só, sem ter amor. e você vai ficar também sozinha. eu sei, porquê. sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo. eu te amo. eu te amo. eu te amo. 
tom zé e gal costa 
sua estupidez e declaração de amor
quarto dela joão krasinski, portal do belém, do espírito do rio que vive além-cerca: vivo
ela e ela e ela e chuva
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egosimprecisos · 6 years ago
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CARTAS REVOLUCIONÁRIAS
1
Acabei de perceber que sou eu o que está em jogo Não tenho outro Dinheiro para o resgate, nada para quebrar ou barganhar A não ser minha vida ou meu espírito parcelado, em fragmentos, esparramado sobre a mesa de roleta, eu recupero o que eu posso não tenho mais nada para enfiar debaixo do maitre de jeu nada mais para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca esta carne é tudo o que tenho para oferecer, para fazer a minha jogada com esta cabeça imediata, e o que vem nela, meu movimento enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, pisando sempre (assim esperamos) nas entrelinhas
2
O valor de uma vida individual é um credo que nos ensinam para incutir o medo, e a inatividade, “você apenas vive uma vez” uma névoa nos nossos olhos, nós somos infinitos como oceano, inseparáveis, nós morremos um milhão de vezes por dia, nós nascemos um milhão de vezes, cada respiração vida e morte: levantar, colocar seus sapatos, começar, alguém irá finalizar.
A tribo um organismo, emanando prazer como as estrelas emanam destinos para nós, seguindo, mãos dadas, milhares de filhos irão ver quando você cair, você irá crescer milhares de vezes na barriga de suas irmãs
4.
Deixadas a sós as pessoas deixam crescer os cabelos. Deixadas a sós elas deixam os pés descalços. Deixadas a sós elas fazem amor dormem fácil dividem lençóis, drogas & crioanças não são preguiçosas ou medrosas plantam sementes, sorriem, falam umas com as outras. A palavra no seu íntimo: toque de amor no cérebro, no ouvido.
Nós retornamos com o oceano, as marés nós retornamos com a frequência das folhas, tão numerosos como a relva, gentis, insistentes, n[os lembramos do caminho, nossos filhos tropeçam descalços pelas cidades do universo.
10
Estes são anos de transição e os custos serão pesados. A mudança é rápida mas a revolução demorará um tempo. A América nem sequer começou. Este continente é semente.
12
o vórtice da criação é o vórtice da destruição o vórtice da criação artística é o vórtice da autodestruição o vórtice da criação política é o vórtice da destruição carnal a carne está em chamas, ela se contorce terrivelmente a gordura está em chamas, ela goteja em chiados os ossos estão em chamas, eles quebram revelando sutis hieróglifos do oráculo o carvão cantou o cheiro do seu cabelo em chamas porque cada revolucionário deve ter como último desejo sua própria destruição enraizado como está no passado que ele busca destruir"
Diane Di Prima
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egosimprecisos · 6 years ago
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Se a Lua, enquanto efetua o seu eterno curso ao redor da Terra, fosse dotada de consciência de si mesma, estaria profundamente convencida de que se move por sua própria vontade, em função de uma decisão tomada de uma vez por todas. Da mesma forma, um ser dotado de uma percepção superior e de uma inteligência mais perfeita, ao olhar o homem e sus obras, sorriria da ilusão que esse homem tem de agir segundo a sua própria vontade livre. Esta é a minha convicção, embora saiba que ela não é plenamente demonstrável. Se pensassem até suas últimas consequências o que sabem e o que compreendem, poucos seres humanos permaneceriam insensíveis a esta ideia, na medida em que o amor de si mesmos não os fizesse rebelar-se contra ela. O homem defende-se contra a ideia de que é um objeto impotente no curso do universo. Mas o caráter legal dos eventos, que se afirma de maneira mais ou menos clara na natureza inorgânica,deveria cessar de se verificar ante as atividades de nosso cérebro?
poeta indiano tagore.
apud PRIGOGINE, apud DUTTA, K. Robinson A. Rabindranath Tagore, 1995.
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egosimprecisos · 7 years ago
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4 POEMAS DE AMANHÃ ALGUÉM MORRE NO SAMBA
significar o osso da coisa queridinha os enfeites da casa gritam comigo ombreiras esquadrias agulhas gatinhos da china decoram as margens do meu amor o ossome afundo na tua reminiscência o osso e as antenas gritam como se tudo fosse o grande do tempo as esquadrias dos óculos gatinhos da china omoplatas de prata queridinha o bafo da trilha a carne da coisa tão necessária insignificante na estrutura superfície da aberração amor
§
eu tinha medo de morrer tímida mordia a ideia tinha medo do suicídio sendo tão tímida outras noites já batiam meu queixo outras dicções e eu ainda com medo de morrer tímida mudei os móveis de lugar encontrei uma agulha perdida tinha anos e ainda o medo de morrer tímida abocada numa quina da casa a boca tão perto do segredo tímida lembrando a uma poltrona torta lembrando a uma boca morta um peixe sem boca uma poltrona sem braços
§
o burro trota tão lentamente perdido do nome gritado carrega ovos nas mãos escondidas nas mangas do casaco extralargo coitado do burro com mãos perdido da moldura antiga pacífico de sua própria demência bonito tão bonito pacífico tão lindo lentamente ruma já a casa de fé nos olhos de burro parece um peixe coitado pacífico tem esse jeitão de aquário trincado gosta de cadeiras em geral mas é boa gente gosta de leite quente e de cadeiras em geral chega ao templo das irmãzinhas castanheiras do último dia deixa os ovos no altar faz carinho nos porcos pega o microfone e repete quase porque quase porque quase tudo empilhado quase porque quase porque quase porque
é mesmo um burro queria ser pianista tem muita fé quase porque tudo empilhado mas é mesmo um lento burro de carregar ovos pacífico todo pacífico demente e lindo tão bonito tudo empilhado
§
passo por esse casal de amantes é como meter as mãos num balde de sardinhas são tantas as mordidelas estou ferida não é mortal passei por aquele casal de amantes foi como meter num balde de sal estraçalhadas as mãos são tantas as sardinhas como corta o sol nem meio gato à vista como corta a luz como corta o navio são tantas as escamas é como meter as mãos são tantos os braços nem meio gato nem meia língua nem meio mal
1 POEMA INÉDITO
sons – colo
deita o garfo mudo no meu colo diz coisas incompreensíveis sobre o amor diz coisas domesticáveis sobre a vida e o ódio diz não saber separar a morte da morte momentânea diz a aflição sobre a comunicação entre gatos deita a faca nua no meu colo diz coisas interditadas sobre uma ideia de flor diz coisas debaixo das unhas dos mortos entre seus cabelos deita o prato sujo no meu colo diz coisas e diz e dança os dedos deita o copo trincado no meu colo diz coisas diz coisas e tudo que escuto é o rasgo nesse nosso manso idioma
carla diacov
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egosimprecisos · 7 years ago
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O discurso do Rabi Al’zheimer a favor da distinção entre meninos e velhos
peço que os loucos se sentem à esquerda e os sãos se sentem à direita de quem sofre de depressão quem é bipolar peço a você caro sol meu bom e velho amigo se deite para que os que têm saúde pisem e mantenham pés secos sapatos limpos peço que os jovens e magros se façam macios para os joelhos gigantes dos velhos obesos pois é preciso separar o joio do trigo o canhoto do destro e se o sobrinho da noiva sentar no mesmo banco da máfia da família do noivo ou se um velho descansar ao lado dos jovens eles o levarão abaixo o mesmo se diz do contrário o menino que brinca entre adultos mais tarde escuta o avô a avó sussurrar no ouvido: você está tão bonito ah se eu fosse dez anos mais nova ah se eu fosse dois dias mais são uma vez deixaram um doido andar entre os de mente saudável e eis que ele logo se foi e se dispersou na multidão duas semanas passadas já não se notava de cara quem ele era estava com um jeito de andar comum as ideias bem postas o olhar poucas vezes mudava e o discurso era sensato exceto que no meio de uma conversa podia perguntar: por que você não me ama? por que você não me olha com os olhos que deita no pôr do sol nos dias de verão? você se lembra da época em que não se achava feio nas fotos? se lembra da época em que não se achava burro? se lembra da época em que não sabia de cor seus defeitos? duas semanas passadas qualquer um podia soltar no meio da conversa: e se eu te pedisse agora um beijo? por isso separar é preciso os loucos se vistam de verde os sãos de pelos de camelo os que desejam ser amados por favor à esquerda à direita os que perderam a razão à esquerda os que babam dormindo ou após arrancar o dente do juízo à direita à esquerda os que não lembram dos filhos à direita os que vão morrer sozinhos os que se sentem sozinhos à direita os tristes de coração à esquerda pois é preciso separar para que a mão esquerda não esteja no braço direito nem o pé direito no meio da coxa no peito da perna errada quando chegar a velhice cada coisa esteja em seu lugar e cada lugar em seu tempo certo como as peças de um grande mosaico em que um pedaço completa o outro e o que está em cima não se confunde com o que está no século quarto e o que está de viés não se confunde com o que está anil e o que está usando um anel não se confunde com o que está aqui vivo bem como as abelhas na colmeia ou as formigas sobre o cadáver de um boi ou um burro morto três tempos depois da morte uma cor dá luz à próxima por isso separar é preciso
lucas matos, três semblantes
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egosimprecisos · 7 years ago
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Além de serem agricultoras, donas de casa, tecelãs e pro - dutoras dos panos coloridos utilizados tanto na vida cotidiana quanto durante as cerimônias, também eram oleiras, herbo - ristas, curandeiras e sacerdotisas a serviço dos deuses locais. No sul do México, na região de Oaxaca, estavam vinculadas à produção de pulque-maguey, uma substância sagrada que, segundo acreditavam, havia sido inventada pelos deuses e es - tava relacionada com Mayahuel, uma deusa mãe terra que era “o centro da religião campesina” (Taylor, 1970, pp. 31-2). Tudo mudou com a chegada dos espanh óis, que trouxeram sua bagagem de crenças mis óginas e reestruturaram a eco - nomia e o poder político em favor dos homens. As mulheres sofreram também nas mãos dos chefes tradicionais, que, a fim de manter seu poder, começaram a assumir a propriedade das terras comunais e a expropriar das integrantes femininas da comunidade o uso da terra e seus direitos sobre a água. Na economia colonial, as mulheres foram assim reduzidas à condição de servas que trabalhavam como criadas para encomenderos, sacerdotes e corregidores, ou como tecelãs nos obrajes. As mulheres também foram forçadas a acompanhar seus maridos no trabalho de mita nas minas — um destino que era considerado pior que a morte —, uma vez que, em 1528, as autoridades estabeleceram que os cônjuges não podiam ser separados um do outro: mulheres e crianças seriam assim compelidas a trabalhar nas minas, além de prepararem a co - mida para os trabalhadores homens. A nova legislação espanhola, que declarou a ilegalidade da poligamia, constituiu outra fonte de degradação para as mulheres. Do dia para a noite, os homens se viram obrigados a se separar de suas mulheres, ou então convertê-las em criadas (Mayer, 1981), ao passo que as crianças que haviam nascido dessas uniões eram classificadas de acordo com cinco 402 403 categorias diferentes de ilegitimidade (Nash, 1980, p. 143). Ironicamente, com a chegada dos espanhóis, ao mesmo tempo que as uniões poligâmicas eram dissolvidas, nenhuma mulher indígena se encontrava a salvo do estupro ou do rapto. Dessa forma, muitos homens, em vez de se casarem, começaram a recorrer à prostituição (Hemming, 1970). Na fantasia europeia, a América em si era uma mulher nua, sensualmente reclinada em sua rede, que convidava o estrangeiro branco a se aproximar. Em certos momentos, eram os próprios homens “índios” que entregavam suas parentes aos sacerdotes ou aos encomenderos em troca de alguma recompensa econômica ou de um cargo público. Por todos esses motivos, as mulheres se converteram nas principais inimigas do domínio colonial, negando-se a ir à missa, a batizar seus filhos ou a qualquer tipo de cooperação com as autoridades coloniais e com os sacerdotes. Nos Andes, algumas se suicidaram e mataram seus filhos homens, muito provavelmente para evitar que fossem às minas e também devido à repugnância possivelmente provocada pelo maus-tratos que lhe infligiam seus parentes masculinos (Silverblatt, 1987). Outras organizaram suas comunidades e, diante da traição de muitos chefes locais cooptados pela estrutura colonial, se converteram em sacerdotisas, líderes e guardiãs dos huacas, assumindo tarefas que nunca antes haviam exercido. Isso explica por que as mulheres constituíram a coluna vertebral do movimento Taki Onqoy. No Peru, elas também realizaram reuniões confessionais com o fim de preparar as pessoas para o momento em que se encontrassem com os sacerdotes cató- licos, aconselhando sobre que coisas deveriam contar e quais não deveriam revelar. Se antes da Conquista as mulheres estavam encarregadas exclusivamente das cerimônias dedicadas às divindades femininas, posteriormente se converteram em assistentes ou principais oficiantes em cultos dedicados aos huacas dos antepassados masculinos — algo que era proibido antes da chegada dos espanhóis (Stern, 1982). Também lutaram contra o poder colonial, escondendo-se nas zonas mais elevadas (punas), onde podiam praticar a religião antiga. Como assinala Irene Silverblatt (1987, p. 197), Enquanto os homens indígenas fugiam da opressão da mita e do tributo, abandonando suas comunidades e indo trabalhar como yaconas (quase-servos) nas novas haciendas, as mulheres fugiam para as punas, inacessíveis e muito distantes das reducciones de suas comunidades nativas. Uma vez nas punas, as mulheres rejeitavam as forças e os símbolos de sua opressão, desobedecendo os administradores espanhóis e o clero, assim como os dirigentes de sua própria comunidade. Também rejeitavam energicamente a ideologia colonial, que reforçava sua opressão, negando-se a ir à missa, a participar em confissões católicas ou a aprender o dogma católico. E o que é ainda mais importante, as mulheres não rejeitavam só o catolicismo, mas retornavam à sua religião nativa e, até onde era possível, à qualidade das relações sociais que sua religião expressava. Ao perseguir as mulheres como bruxas, os espanhóis atingiam tanto os praticantes da antiga religião como os instigadores da revolta anticolonial, ao mesmo tempo que tentavam redefinir “as esferas de atividade nas quais as mulheres indígenas podiam participar” (Silverblatt, 1987, p. 160). Como assinala Silverblatt, o conceito de bruxaria era alheio à sociedade andina. No Peru, assim como em todas as sociedades pré-industriais, muitas mulheres eram “especialistas no conhecimento médico”, estavam familiarizadas com as propriedades de ervas e plantas e também eram adivinhas. A noção cristã de demônio era desconhecida. Não obstante, por volta do século xvii, devido ao impacto da tortura, da intensa perseguição e da “aculturação forçada”, as mulheres andinas 404 405 que acabavam presas — em sua maioria idosas e pobres — admitiam os mesmos crimes que eram imputados às mulheres nos julgamentos de bruxaria na Europa: pactos e fornicação com o diabo, prescrição de remédios a base de ervas, uso de unguento, voar pelos ares e fazer amuletos de cera (Silverblatt, 1987, p. 174). Também confessaram adorar as pedras, as montanhas e os mananciais, e alimentar os huacas. O pior de tudo foi que reconheceram ter enfeitiçado as autoridades ou outros homens poderosos, causando a sua morte (ibidem, p. 187-8). Como na Europa, a tortura e o terror foram utilizados para forçar os acusados a revelar outros nomes. Assim, os círculos de perseguição se ampliaram cada vez mais. Contudo, um dos objetivos da caça às bruxas — o isolamento das bruxas do resto da comunidade — não foi alcançado. As bruxas andinas não foram transformadas em párias. Pelo contrário, “foram muito solicitadas como comadres [parteiras], e sua presença era requerida em reuniões aldeãs, pois na consciência dos colonizados, a bruxaria, a continuidade das tradições ancestrais e a resistência política consciente passaram a estar cada vez mais entrelaçadas” (ibidem). De fato, graças, em grande medida, à resistência das mulheres, as antigas crenças puderam ser preservadas. Houve certas mudanças no sentido das práticas associadas à religião. O culto foi levado à clandestinidade às custas do caráter coletivo que tinha na época anterior à Conquista. Mas os laços com as montanhas e os outros lugares dos huacas não foram destruídos. Encontramos uma situação parecida no centro e no sul do México, onde as mulheres, sobretudo as sacerdotisas, cumpriam um papel importante na defesa de suas comunidades e culturas. Segundo a obra de Antonio García de León, Resistencia y Utopía [Resistência e utopia], as mulheres “dirigiram ou guiaram todas as grandes revoltas anticoloniais” (De León, 1985, vol. i, p. 31) ocorridas na região a partir da Conquista. Em Oaxaca, a presença das mulheres nas rebeliões populares continuou durante o século xviii. Nessa época, “visivelmente mais agressivas, ofensivas e rebeldes” (Taylor, 1979, p. 116), elas lideraram um em cada quatro ataques às autoridades. Também em Chiapas, as mulheres foram os atores-chave da preservação da religião antiga e da luta anticolonial. Quando os espanhóis lançaram uma campanha de guerra para subjugar os rebeldes chiapanecos, em 1524, foi uma sacerdotisa quem liderou as tropas nativas contra o invasor. As mulheres também participaram das redes clandestinas de adoradores de ídolos e de resistência, que eram periodicamente descobertas pelo clero. Em 1584, por exemplo, durante uma visita a Chiapas, o bispo Pedro de Feria foi informado de que muitos chefes indígenas locais ainda praticavam os antigos cultos, e que estes estavam sendo aconselhados por mulheres, com as quais mantinham práticas obscenas, tais como cerimô- nias (ao estilo do sabá) durante as quais dormiam juntos e se convertiam em deuses e deusas, “ficando a cargo das mulheres enviar a chuva e prover riqueza a quem as solicitava” (De León, 1985, vol. i, p. 76). A partir desse registro, é irônico que seja Calibã — e não sua mãe, a bruxa Sycorax — quem os revolucionários latino-americanos tomaram depois como símbolo da resistência à colonização. Calibã só pôde lutar contra seu senhor insultando-o na linguagem que havia aprendido com ele próprio, fazendo que sua rebelião dependesse das “ferramentas do senhor”. Ele também pôde ser enganado quando o fizeram crer que sua libertação chegaria por meio de um estupro e da iniciativa de alguns proletários oportunistas brancos transladados ao Novo Mundo, a quem ele adorava como se fossem deuses. Em contraposição, Sycorax, uma bruxa “tão poderosa que dominava a lua e provocava os fluxos e refluxos” (A tempestade, ato v, cena 1), pode ter ensinado seu filho a apreciar os poderes locais — a 406 407 terra, as águas, as árvores, os “tesouros da natureza” — e os la- ços comunais que, durante séculos de sofrimento, continuam nutrindo a luta pela libertação até o dia de hoje, e que habitavam, como uma promessa, a imaginação de Calibã: Não tenhas medo; esta ilha é sempre cheia de sons, ruídos e agradáveis árias, que só deleitam, sem causar-nos dano. Muitas vezes estrondam-me aos ouvidos mil instrumentos de possante bulha; outras vezes são vozes, que me fazem dormir de novo, embora despertado tenha de um longo sono. Então, em sonhos presumo ver as nuvens que se afastam, mostrando seus tesouros, como prestes a sobre mim choverem, de tal modo que, ao acordar, choro porque desejo prosseguir a sonhar. (Shakespeare, A tempestade, ato iii)
calibã e a bruxa
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egosimprecisos · 7 years ago
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Neste caso, vemos como o sonho, os idolum (como espectro e como medialidade) borram a distinção entre sujeito, objeto e mundo, gerando não tanto uma zona de indistinção, mas sim uma zona ontologicamente delimitável que abre a região daquilo que queremos explorar sob o nome do Outside (fora do sujeito, fora do objeto, fora do mundo), e, por isso mesmo, constitutivo de todos eles. O espectro como simulacro, neste sentido, é uma espécie de andaime metafísico que articula os graus do ser, a escala dos seres, sem pertencer a nenhuma. Nas palavras de Ficino, é a linguagem comum dos homens e dos deuses e, portanto, um objeto terceiro que, ao se manifestar (por exemplo, mas não só) no sonho, constitui a cifra e o mistério da metafísica do ser como laço e sela a impossibilidade de um sujeito autônomo ou de uma consciência individualizada enquanto identificável inteiramente com as características do si mesmo.
Assim, o espectro, como tentaremos mostrar em nossas próximas investigações, comporta algumas das chaves para a compreensão do modo de abordar uma nova metafísica em que o primado da consciência seja completamente subvertido pela disjunção do Ser. Contudo, e isso por ora só podemos sugerir, a disjunção no Ser, sua irremediável multi-versidade que torna impossível a coincidência do conjunto de suas propriedades com um Um completamente homogêneo, talvez assinale o caminho não tanto para uma metafísica, como dissemos até agora, mas sim para uma espécie de região nem para aquém nem para além do Ser, mas que, espreitando-o desde o seu interior, o torna habitado por intensidades que denominamos “espectralidades”. Se a ontologia e a metafísica não podem, em última instância, dar conta dos espectros, talvez seja pelo íntimo pertencimento da metafísica a um saber logológico do aparecer como fenômeno e da presença como atributo do dizer. É por isso que talvez seja necessário pensar, para a ciência dos espectros, em uma para-onto-sofia que desvele um novo reino do in-sistente independente do pensamento, dos objetos do mundo e das qualidades sensíveis das espécies ou mesmo dos inexistentes. Em suma, um espaço pouco explorado, ou frequentado esquivamente, pelas geografias da metafísica do Ser e que se constitui em completa independência de toda subjetividade mas que, ao mesmo tempo, torna possível a existência desta. Nesse sentido, podemos falar de um reino do ultra-ser, do qual a subjetividade é seu acontecer precário e seu resto último que ainda devemos compreender, dado que só a partir desse frágil espaço em que nos situamos é possível aceder ao Outside.
ludueña, brillantemente, do espectro da metafísica à metafísica do espectro.
no caminho, no caminho, caminhando, caminhando
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egosimprecisos · 7 years ago
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um lenço.a adoração a frida kahlo. um nojo de pelos. um olhar no espelho e a sensação da beleza. outro momento, a certeza da feiura. a vida interpreta tudo que desenrola bem dentro. a beleza, feita num lenço no cabelo, me durou meia hora ou pouco mais. arrancado numa brincadeira de criança, passado àquela que tem tudo. beleza, vida certa, riqueza, leveza, força. a vida bem aponta e briga. acho que tudo que tenho medo me acontece. só me falta as atrocidades. tenho medo de ter medo. 
o poder é grande. quero chorar. estou seca.
não tenho humildade para fracassar: tenho ódio do fracasso. do erro. de ser apontada para o riso. para o escárnio. de ser motivo de fofoca. de ser odiada. de ser desprezada. 
eu odeio ser invisível. e sou, transito invisível em meio aos normais.
desculpe a medicina sagrada, pois não honro os meus compromissos. o exercício a mim se apresentou. e tudo o que senti foi ódio. de mim e do mundo. raiva de ser quem sou, estar onde estou, fazer o que faço.
o ciclo se repete: admiro, sou invisível, desprezada, usada: ódio. o que faço para sair? eu me sinto um fracasso enquanto tento ser humilde. enquanto tento a humildade me humilho. me faço tapete para os outros deitarem. me faço degrau para os outros subirem. me faço colo para os outros chorarem. me faço ouvido para os outros falarem. 
e eu sumo. apática. desapareço.
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egosimprecisos · 7 years ago
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Discarded Objects are Beautified with Colorful Coral-Like Growths by Stephanie Kilgast
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egosimprecisos · 7 years ago
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Um buraco com meu nome, de Jarid Arraes
há tardes e pequenos espaços
de tempo
em que uma mulher pergunta
de que adianta
se as mãos dos homens
dirigem o metrô e os ônibus
os carros blindados
as motos que serpenteiam
entre corredores breves
se as mãos
dos homens
assinam os papéis e carimbam
autorizam o prontuário
a entrada e a saída do corpo
o reconhecimento dos órgãos
doados
se as mãos dos homens
orquestram as violências
balas esporros olhares
e tocam seus instrumentos
fálicos curtos enrugados
colocados para o lado
se os homens e suas
mãos
discam os números
estabelecem os valores
fazem listas de nomes
de outros homens
e se as as mãos dos
homens
alcançam todas as coisas
que quebram ou selam
acordos
e apertam botões 
que começam guerras
internas
por muitas e muitas
gerações
há um dia em que a mulher
pergunta a si mesma
pergunta para outra
mulher
e as perguntas pairam
flutuam
sobre a cabeça
as perguntas incomodam
e vazam como excremento
de aves de árvores de céu
nesse dia a mulher procura
a resposta
por que de que adianta
se há mãos que fazem dançar
as cordas
e os pequenos membros
do corpo vivem em sacolejo
o ventre morre em liminares
gestações que formam mãos
de homens
e a partir do ventre
as mãos nutridas pela mulher
saem na direção do mundo
de tudo que é externo
de tudo que é global
antropológico
fágico
e social
e a mulher nesse dia pergunta
para outra mulher
para o espelho
de que isso tudo
adianta
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egosimprecisos · 7 years ago
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Submission Friday:
Nora Drew, Virgin Mary Charcuterie Board, 2018
See more work of her work on IG.
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egosimprecisos · 7 years ago
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Paintings by Esther Sarto
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egosimprecisos · 7 years ago
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corrente de zap da fortuna
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