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efeitolsd · 5 years
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efeitolsd · 5 years
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Friday, August 23, 2019
12:20 AM
.
22 de Agosto,
Conversei com um rapaz no ponto de ônibus,
Eu queria um isqueiro, e ele queria chegar antes da barca das seis
22 de Agosto,
Esbarrei numa senhora, lhe pedi desculpas
Eu queria chegar na sala de aula, ela queria limpar o chão do corredor
.
22 de Agosto
Parece que vai chover, mas não chove
Parece que o vento grita contra as folhas,
Mas o céu não chora
Parece que vou me atrasar, mas as portas não abrem, a barca não sai, e os pés não querem andar,
Mas eu queria apenas um isqueiro, para um trago dessa droga dos filmes americanos, para chegar numa sala, numa cadeira, em lugar algum, lugar qualquer
.
Vinte dois de Agosto,
Os fones gritavam alguma música melancólica, e eu me esgueirei pelas grades dos prédios, percrustando algo nas poças de restos de água, de alguma chuva que não vi, alguma noite que perdi, alguma madrugada que não estava, nessa rua deserta uma luz pisca
Uma luz pisca
Uma luz,
Ou quase
Vinte dois de Agosto,
O ônibus passa por aquela praça, de um começo e tantos finais, os bêbados cambaleam, gesticulam copos, e acho que já estive naquele lugar
Em algum outro tempo, em algum começo, e tantos finais
.
Dia vinte e dois de Agosto
No bandejão um rapaz faz alguma piada, eu rio, comendo sem fome, rindo sem graça
Estou com sono,
Mas quando chegar em casa, o sono já não virá
Dia vinte dois de Agosto
Algo sobre alguma insegurança, qual não posso olhar, bloqueia a tela do celular, que a aula já começou, a aula já terminou
E o que não termina é esse aperto no peito, é esse passo apressado pela praça XV, e talvez se correr ninguém vá me assaltar
E talvez se levarem um resto de dignidade, eu não saberia dizer, não saberia por palavras, não saberia explicar
.
22/08
Se fosse tão simples quanto saltar desse ônibus e trocar uns putos por um resto de embriaguez,
Houve tempo talvez que bastasse, mas creio que fosse impressão
Que a gente caí pelas esquinas da cidade, e talvez tenha essa ideia,
De que há um mundo naquele lugar,
Mas o verdadeiro sentido dali é o mundo que não há
Que não se pode enxergar,
E o que eu vejo,
Não saberia dizer,
Já não vejo nada,
Ando apressada, me esgueirando nas grades dos prédios, com medo da noite
E do futuro
22/08
Passa das dez, alguém janta um resto da comida de ontem, e lá fora se escuta o som do mar
Posso então estar consternada sem saber dizer o porquê, posso acender um cigarro na boca do fogão, e não saber o que causa as insônias,
Dizer que é presente, passado e futuro, é o tempo que criamos para nos dizer algo,
E o que se diz,
Não saberia lhes dizer
.
22.08
Não saberia me dizer,
O que quero propor, o que proponho buscar,
Estar tudo bem e não esta,
Onde a única certeza é que um copo de cerveja nunca pode salvar,
E as respostas são os nãos,
A única certeza é saber aonde não vou mais andar
.
22 de Agosto
Esqueci o boa noite, e troquei o banho por um poema,
Toquei violão e ouvi mais uma vez aquela música,
Não li os textos,
Não quis saber desses desfechos,
Que deixo estar,
E talvez há alguma certeza no que foi dito,
Que há fraqueza nos ossos, remediada por posturas austeuras,
É o medo que grita, quando todas as fugas estão cerradas, e a vida é crua,
Hoje perdi meu isqueiro,
Conversei com um rapaz no ponto, mas seu rosto já não posso lembrar
22 de Agosto
Passa de meia noite,
Já não é mais vinte e dois,
Mas ainda há algo que retém,
Que transpassa os ponteiros e prolonga daqui até um tempo longínquo,
Que cruza o passado e o futuro,
E persiste no olhar,
Indo e vindo como as ondas que cruzam a barca, e o balanço constante nas poltronas do ônibus,
Há algo que permanece, vestindo roupas do tempo que convem
Há algo que hoje vi com clareza, com a calma dos antigos vesti novamente as roupas dessa antiga tristeza,
Qual já não cabe fugir ou remediar,
Visto as roupas, sem obstinação,
Que talvez tão perto assim, eu possa te desvendar
.
23 de Agosto
Hoje acordo às oito,
Mas já adianto ao despertador, só mais quinze minutos
.
(23.08.19)
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efeitolsd · 5 years
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efeitolsd · 5 years
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efeitolsd · 5 years
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Christian Lacroix, 1997-98
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efeitolsd · 5 years
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Almaty, Kazakhstan | by Sasha and Dasha Bakani
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efeitolsd · 5 years
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Sumo
Fumo quando estou triste
Fumo quando tenho medo
Sumo por vezes,
de mim mesma
Nessas camadas alternadas de rancor,
Nesses temores incompreensíveis,
De onde o tempo for
.
Fumo quando estou em demasia,
Pois até o tanto de alegria,
Dá-me medo
Em sumo calor, elevado ao meio dia,
Durmo com os cabelos embaralhados, em sonho talvez estivesse
Em seus braços.
.
Consumo, talvez
Apenas mais um trago,
Desse ilusório último cigarro
Mais um brado afogado,
Algoz é o ganido dos cães que não mordem,
Sumo dessas incongruências,
Desses planos malditos de transcendência,
As vezes me lembro à alguém,
Que fui,
Que talvez,
Jamais deixe de ser.
.
Pétalas de margarida,
Somem na palma das mãos,
A paz é uma brisa, que tento prender entre bordões
Que toda a brisa presa se desfaz,
E a paz é um instante,
De impermanente conduta,
De displicente sorriso,
Sumo, nas frestas dos cílios, borda água salgada,
Como os litorais poluídos de garrafas,
Conquanto os poemas se desfaçam,
para que possa guardar restos de brisa,
És o presente almíscar, de inefável sabor
Tenho medo que suma,
Então prendo,
Retenho,
Para que desapareça
Na palma das mãos.
.
Fumo quando tenho medo,
Sumo quando torno-me fera,
De pirraças jogo pedras em pinturas perfeitas.
Que desbotam em cada pequena lasca,
Um corte na plenitude dessas areias,
Faço barreiras,
Para que o litoral não nos possa carregar,
Talvez devesse deixar as ondas,
Que jamais hão de cessar,
Encontrar a certeza de que tudo é incerto,
E o medo possa me deixar,
Deitar numa tempestade de inverno,
onde o calor se esconde nos dedos gélidos,
E nas listras de suas meias.
.
Os tesouros estão expostos nos contornos de pintas pelos braços alvos,
E a escuridão é um tato permanente, de que toda noite de sexta há de ser nossa,
As garrafas estão atiradas, nas ondas da baía,
Há de escolher,
Viver pelas garrafas que afundam e surgem,
Ou compreender a beleza do litoral.
Beleza inefável,
Que não se desmancha em papéis,
Em restos de garrafas,
em memórias,
Vivídas no presente.
.
Apago restos de cinzas,
Desmanchadas inseguranças,
Corto-me para salgar alguma dor,
Sumo em palavras bem postas e metáforas de mesquinharias,
Deito-me só,
Num resto de Domingo.
O mundo abre seu véu,
Não feche os olhos,
(para a beleza do litoral)
Não escolha os restos,
De algo já completo.
19/05/19
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efeitolsd · 5 years
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efeitolsd · 5 years
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Photograph by Ryan McGinley for Edun Spring 2012 Ad Campaign
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efeitolsd · 6 years
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“Writing is the ongoing act of forgiving & apologizing to the women I used to be.”
— Blythe Baird, from If My Body Could Speak
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efeitolsd · 6 years
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efeitolsd · 6 years
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efeitolsd · 6 years
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efeitolsd · 6 years
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efeitolsd · 6 years
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Carnaval Rubro
Amanhã será,
Comprometido,
Corrompido,
Amanhã será, carnaval Rubro.
.
Está predito nas estrelas,
e nas carteiras escolares,
Esta prescrito no assoalho do banheiro,
que amanhã será.
Carnaval Rubro.
.
Está escrito nos contornos do braço,
Amanhã então será,
Guarde uma boa lembrança,
Diga o que deve dizer,
Que amanhã será.
.
Carnaval Rubro,
uiva seus tambores,
Desfile derradeiro,
Exiba seus poemas,
E restos de tabaco,
Amanhã chega,
Para nunca mais chegar.
.
Amanhã.
Escreva cartas às pressas,
Entregue palavras pendentes,
Fez-se a hora, Mefistófeles
Sussuros nos ouvidos de crianças,
Crianças choram ao anoitecer,
Crianças de Mefistófeles,
Crescem prontas à perecer,
Filhas do Carnaval,
Novembrinas sambam de rubro,
as paredes do banheiros.
.
E tão perto se aproxima,
Um amanhã que se anuncia,
Para nunca mais chegar.
Carnaval Rubro.
Faz-se um
(e volta nenhum)
11/03/19
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efeitolsd · 6 years
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efeitolsd · 6 years
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Seremos?
Seremos putos.
À ladrar como cães para restos de estrelas.
Nesse lodaçal infame, quanto mais se limpa mais se macha.
Seremos corvos,
À comer carne putrefa de comercias de televisão.
Incompetentes algozes,
De finas correntes de prata,
À dançar numa madrugada de um verão.
.
Seremos anjos.
De asas cortas e planos frustrados.
Na plenitude de alguma ilusão.
Entorpecidos com pílulas e prescrições.
Seremos carrascos,
Que cantam na escuridão de seus porões.
.
Cubram o manto púrpura,
De buracos de cigarro,
Do vício curado,
Em vício maior.
Que não há nada o que se perder,
Que se a vida se resume em um suspiro,
Abraçar-ei os escombros de algum mundo,
no subterrâneo de ilusões,
De que toda madrugada não precede alguma manhã.
E quando o sol banhar às águas dessa baía fétida,
Já será tarde.
Já estaremos escondidos
Em covas,
Em túmulos,
Em nossas frustrações.
.
Então seremos putos,
Porque já não se cabe ser nobre,
Num mundo de cães.
01/03/19
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