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A vida mundana, que me inebriava no início por seu brilho e afagos à minha autoestima, logo dominou todo o meu ser, tornou-se um hábito e me aprisionou, passando a ocupar na minha alma o lugar que deveria ser dos sentimentos.
Tolstói. A felicidade conjugal, p. 101
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A noção de utilidade é uma corruptela que a mentalidade humana produziu, do fenômeno da adaptabilidade ao qual todos os seres estão sujeitos. A ideologia central dessa fantasia, é de que toda coisa que existe, existe para ser útil à algo. Poderia usar-se de exemplo para dar corpo à narrativa, de que o canto dos pássaros seria um elemento claramente útil pois os auxiliam na reprodução e adocica os ouvidos dos homens.
Entretanto basta um respiro para a superfície de uma visão contaminada pela redoma que o homem criou ao redor de si mesmo para perceber o absurdo que tal ideia representaria, a não ser mais absurda que o fato de ser aceita de bom grado por desavisados. Supor que o canto dos pássaros é útil, traz em linhas minúsculas do contrato, a condição de que o mesmo canto é o que o torna útil; afinal com que eficiência reproduziria, se anuncia a longa distância entre potenciais parceiros sobre sua disponibilidade sexual com a sinalização de boa, saúde que sai dos pulmões ou pior quem despenderia tempo cuidados estudos e dinheiro na aquisição de um animal que trancafiado em uma gaiola não exerce a função que o acaso lhe deu e o destino apreciou? Assim pensa o ser humano que com seu impeto "antropocenificador" espelha a maneira que se vê, nas lentes para o mundo exterior. Talvez para não assumir os próprios delírios ou simplesmente não sentir-se como o único miserável, ao invés de fagocitar sua imaginação cancerosa, envolve o mundo na sua metástase.
O homem se convenceu através de longa relação com um sistema baseado em recompensa (tal qual um caça níquel) de que ele não apenas vivem em função de algo como (trabalho educação prosperidade) mas que ele vive em função: não é necessária a presença do "quê" apenas que ele esteja pronto para qualquer coisa que lhe seja atribuída e automaticamente obedecida sem pausa ou questionamentos, o homem-funcional não ve sentido numa vida sem sentido, direção, orientação, rótulos e protocolos a serem devorados sem que ao menos tenham tido tempo para serem sentidos, o homem funcional se desconfigura quando seu sistema operacional é minimamente afetado e sucumbe em combustão espontânea ao contato com a substância corrosiva do Ócio.
O canto dos pássaros não é útil, é adaptável fazendo parte de uma cadeia de infinitas possibilidades de encaixes. O que é util deixa de ser quando as condições favoráveis a sua utilidade são distorcidas ou deletadas. O que é adaptável sempre encontrará condições que lhe caibam, pois não se define a uma validade mas é simbiotico a mutabilidade. fora de sua caixa de ferramenta, como seria o homem útil? Quem é útil se limita, quem é adaptavel ultrapassa a si mesmo.
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Comparação de imagens microscópicas do comportamento de células sanguíneas eucariontes em diferentes meios (isotônico/hipotônico/hipertônico)
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A metamorfose final do desejo é o seu fim.
O propósito do desejo não são os prazeres de suas consequências, o desejo não é um meio ou um caminho, o propósito do desejo é o seu consumo.
O desejo é um incômodo, sua presença é intolerável a psique humana, e a resistência dela é inconcebível.
A consumação frenética do desejo nos leva a impulsividade desordenada. A censura, à uma repressão dolorosa. Ignorando a utopia da mediação dos sentidos, devemos ser animais descontrolados ou recalcados?
O desejo surge no nosso espírito de maneira inexplicável, seguindo o próprio tempo alheios as demandas humanas, não importa quantas vezes ele seja destruído, sempre ressucitará de novo. É o desejo que persegue o homem ou o homem que persegue o desejo? Somos seres propensos a sermos vitimizados por ele ou essencialmente ansiosos por ele?
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