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Sou a que fica depois da festa.
Um dia num jantar aleatório, fiz uma carbonara maravilhosa, acompanhamos com um vinho e uma coisa leva á outra e de repente dançávamos ao som de Abba, porque podemos, porque dentro de casa sou o que quero ser.
Palavras bonitas, abraços e dolorosas conversas onde certas frases proferidas me traziam á realidade, e limpavam do meu sangue o Lemoncello que me fazia dormente e alegre.
Nunca o amor é fácil, seja ele qual for, é dor, é magoa que fica, ficará sempre e apesar de querer crer que seria algum dia diferente não é nem será.
Repito padrões á procura de algo que nunca tive.
E por isso, Hoje chorei
Chorei porque perdi quem nunca tive
Porque amei quem nunca me quis amar
Porque dei tudo a quem não queria nada
Porque fui vela onde não havia oxigénio
Porque tive que aceitar tudo isto.
Na manhã seguinte levantei-me, tomei um banho, arranjei-me o melhor que pude depois de uma noite de plena reflexão e lágrimas que insistiam em lavar o meu rosto.
Lavei o cabelo e vi como crescera, depois de anos a usá-lo curto em sinal de castração, não o fazia na altura com consciência, mas agora percebo que me castrava, que me amava muito pouco, porque procurei amor no sitio errado. Procurei amor numa paternidade disforme, grutesca até, narcisista e manipuladora. Procurei amor na embriaguez de alguém que me dissesse que gostava de mim, e por isso enchia o copo, mas nunca o enchi o suficiente e agora vejo isso.
Procurei amor na violência e por isso deixei-me maltratar, era o amor que conhecia. Tornou-se confortável. O choro sufocado no fim do dia, a falta de apetite, os cigarros tornaram-se casa.
Hoje fumo um cigarro ocasionalmente, e bebo um copo a mais, faço-o como os discípulos faziam em honra de Deus. Faço-o de forma nostálgica, ritualística.
Saí do quarto, arrumei e limpei a sala e a cozinha, fiz isto minuciosamente. Fi-lo de modo a arrumar e limpar cada pequeno estilhaço de dor que restava na minha alma. Porque sei que o dia é outro e a dor é minha. Vivo dela também. Sou melancólica por natureza e não sei ser de outra forma.
Mas esta sou eu. Sou a que no fim da festa fica. Que limpa o que os outros sujaram, que arruma o que deixaram desarrumado. E faço-o com o maior carinho. Porque sou assim. Porque sou a que fica. Fica mesmo na dor, porque me é familiar e já não incomoda. E porque de alguma forma quase bíblica sinto que faz parte de mim, de quem sou e quem devo ser, da minha missão neste mundo, permanecer e curar. Que a dor do outro possa sempre ser sanada, eu para mim a guardo, trabalho-a e um dia liberto-me dela quando estiver algo mais polido e bonito para entregar ao mundo.
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