Divagações, devaneios, desabafos e delírios pessoais...
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O amor é uma companhia
O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só. Um pensamento visível faz-me andar mais depressa E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
“O Pastor Amoroso”. In: Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Sim��es e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
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Saudades, de Clarice Lispector
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades… Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei… Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser… Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro… Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser…
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências… Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer! Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar! Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar… Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que… não sei onde… para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi…
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades.
Em japonês, em russo, em italiano, em inglês… mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que se costuma usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados… para contar dinheiro… fazer amor… declarar sentimentos fortes… seja lá em que lugar do mundo estejamos.
Eu acredito que um simples “I miss you”, ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades… Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência…
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A vida parece não oferecer barreiras para a autorrealização, e os imperativos de gozo tornam-se cada vez mais exigentes; no entanto, as barreiras existem, e, em consequência, as perdas se avolumam. E o homem tem de elaborar o luto de suas não realizações, dos sonhos não atingidos. Se tanto é permitido, só a insuficiência, a incapacidade pode justificar não atingir patamares de excelência. E o homem se deprime. Não é por acaso que se corre tanto hoje, quando as maratonas viraram moda. O corredor vive uma luta constante para ultrapassar seus próprios limites, uma obsessão de velocidade. Entramos em uma verdadeira “era da maratona”, na qual o tempo urge, e todos querem disputar um lugar.
Urania Tourinhos Peres em “Uma ferida a sangrar-lhe a alma” apud Freud em “Luto e melancolia”
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[…] o que revela a própria conduta dos homens acerca da finalidade e intenção de sua vida, o que pedem eles da vida e desejam nela alcançar? É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes.
Freud em “O mal-estar na civilização”
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É evidente que a guerra afastará esse tratamento convencional da morte. Não é mais possível negar a morte; temos de crer nela. As pessoas morrem de fato, e não mais isoladamente, mas em grande número, às vezes dezenas de milhares num só dia.
Freud em “Considerações atuais sobre a guerra e a morte”
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Use every man after his desert, and who should scape whipping? (Dê a cada homem o que ele merece, e quem se salvará de apanhar?)
Hamlet II, 2
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Todos os dias que depois vieram eram tempo de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar. Quando chegava o poder de chorar, era até bom – enquanto estava chorando parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lembranças, as mais novas e as muito antigas. Mas, no mais das horas, ele estava cansado. Cansado e como que assustado. Sufocado. Ele não era ele mesmo. Diante dele, as pessoas perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutum – se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Miguilim se achava mesmo diferente de todos.
JOÃO GUIMARÃES ROSA [“Campo Geral”, Manuelzão e Miguilim]
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O luto, como sabemos, por mais doloroso que possa ser, chega a um fim espontâneo. Quando renunciou a tudo que foi perdido, então consumiu-se a si próprio, e nossa libido fica mais uma vez livre (enquanto ainda formos jovens e ativos) para substituir os objetos perdidos por novos igualmente, ou ainda mais, preciosos.
Freud em “Sobre a transitoriedade”
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O luto pela perda de algo que amamos ou admiramos se afigura tão natural ao leigo, que ele o considera evidente por si mesmo. Para os psicólogos, porém, o luto constitui um grande enigma, um daqueles fenômenos que por si sós não podem ser explicados, mas a partir dos quais podem ser rastreadas outras obscuridades. Possuímos, segundo parece, certa dose de capacidade para o amor – que denominamos de libido – que nas etapas iniciais do desenvolvimento é dirigido no sentido de nosso próprio ego. Depois, embora ainda numa época muito inicial, essa libido é desviada do ego para objetos, que são assim, num certo sentido, levados para nosso ego. Se os objetos forem destruídos ou se ficarem perdidos para nós, nossa capacidade para o amor (nossa libido) será mais uma vez liberada e poderá então ou substituí-los por outros objetos ou retornar temporariamente ao ego. Mas permanece um mistério para nós o motivo pelo qual esse desligamento da libido de seus objetos deve constituir um processo tão penoso, até agora não fomos capazes de formular qualquer hipótese para explicá-lo. Vemos apenas que a libido se apega a seus objetos e não renuncia àqueles que se perderam, mesmo quando um substituto se acha bem à mão. Assim é o luto.
Freud em “Sobre a transitoriedade”
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[...] O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição. [...] Uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela.[...]
Freud em “Sobre a transitoriedade”
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Só mesmo rejeita bem conhecida receita quem, não sem dores, aceita que tudo deve mudar
Semana prestes a acabar, e eu cheia de ideias (ou seriam paranoias?) embaralhadas na minha cabeça. Então olho pra essa tela em branco, sem saber nem por onde começar e tento passar a limpo... Meus dedos quase não conseguem acompanhar a velocidade dos meus pensamentos, e eu me desespero, a fim de captar e transcrever esse turbilhão aqui dentro, que quer se dissipar. Não passará. rs
Eu tenho um frila pra terminar, mas sinto que preciso fazer isso antes, antes que aquele material sugue minha energia e roube minhas ideias...
Queria escrever sobre diversas coisas, mas aí urge uma ideia aqui: Por que não escrever sobre a autossabotagem? Sobre como tenho me sabotado de várias maneiras, em diversos momentos. Sobre como as minhas palavras e atitudes muitas vezes vão tão na contramão dos meus sentimentos.
Eu confio muito mais no meu corpo do que no que digo. Tenho certeza absoluta de que meu corpo fala muito mais que as minhas palavras. E é um grande esforço tentar extrair o meu sentimento até mesmo nesse momento sem me autossabotar. Então eu deixo meus pensamentos e o texto fluírem, sem pensar muito no que escrevo aqui. Na verdade, sem censura (na medida do possível), me desnudo nesse texto e receio relê-lo muitas vezes e editá-lo. (Ossos do ofício... edito textos há mais de 12 anos.)
Talvez eu escreva muitas groselhas, dando muitas voltas no mesmo lugar, em mim mesma, pra conseguir, de fato, passar a limpo o que me perturba... Se alguém for ler isso (e assim quiser fazê-lo), então seja paciente. (Eu mesma estou sendo paciente para continuar e não deixar esse texto pela metade nem sem desfecho.)
Falei sobre “dizer uma coisa e agir na contramão” nessa semana com uma amiga em particular. Sobre como falamos coisas pras pessoas, sobretudo as que mais queremos por perto, e, no fundo, inconscientemente nos arrependemos do que dizemos, por percebermos o quanto nossas ações nadam contra essa correnteza. Eu me pergunto, nesse momento: Por que obstruímos nossos desejos, nossos sentimentos, nos sentimos tão confusos e receosos de sermos tão sinceros sobre o que pensamos, sentimos, com o que o nosso corpo diz/grita/anseia e todo nosso ser? Por que não sabemos o que queremos? Por acharmos que queremos uma coisa quando, na verdade, queremos outra? Pelo medo de sermos censurados, julgados, criticados, rejeitados? E se formos rejeitados pelos sinais contraditórios que emitimos? Eu mesma me sinto um lixo quando sinto que, além de não ter sido verdadeira com tudo aqui dentro de mim, eu ainda passei justamente a impressão/mensagem errada, no sentido de ela ser o oposto do que eu sou, penso, ajo, sinto, transbordo. Poxa, isso me mata aos poucos, vai me entorpecendo, envenenando... silenciando e drenando vagarosamente minha energia vital. É destrutivo...
É como querer alguém perto e, ao mesmo tempo, fazer de tudo pra afastar essa pessoa. Quantas e quantas vezes não fazemos isso? Como somos capazes de querer alguém perto e dizer e fazer coisas que nos afastam cada vez mais? Que nos repelem... nos distanciam... nos separam? Até o ponto de nos desconhecermos... um ao outro e até a si próprio? Por que fazemos isso? Por que nos desconectamos e nos afastamos, afinal, de nós mesmos? Por que colocamos em xeque o que acreditamos, desejamos, amamos, queremos tão perto?
Com a terapia e lendo um pouco sobre psicanálise, eu entendi o quão importante é se conectar consigo próprio, se perceber/sentir e ser generoso consigo mesmo. Também tenho compreendido aos poucos o quanto nossas experiências pessoais nos assombram, e o quanto reproduzimos comportamentos destrutivos e vamos gerando e cultivando um padrão nocivo...
Assim, achando que estamos nos preservando e nos protegendo para que outros não nos magoem, nós nos poupamos... no mínimo, de uma possível dor, e, no máximo, de quebrar a cara, partir o coração, ficar em frangalhos... E mesmo nos poupando, não há garantia alguma de que também não nos machuquemos (no processo e a nós mesmos). Que loucura isso!
Eu mesma tenho a impressão de que, agindo conforme meu modus operandi, posso evitar algum ou todo sofrimento, mas, em contrapartida, também posso agravá-lo, não é mesmo? Na medida em que me poupar também possa significar me privar de me aproximar do que quero perto de mim, de ter o que talvez eu possa conquistar, que possa ser meu... Então, contraditoriamente, na verdade eu não me protejo, mas agrido a mim mesma, me mutilo. Consequentemente, eu sangro... Às vezes, o dobro (caso eu fosse, de fato, sofrer). Ou também pode ser que eu sangre desnecessariamente ao me poupar (caso eu não fosse sofrer). Mas, tendo me poupado, nunca saberei... assim, já tendo me poupado, de qualquer modo, sangrarei...
No fundo, consideramos que nos sentimos acuados com medo de viver algo semelhante e nos “quebrar” novamente... mas, então, tenho a impressão de que esse medo seja o de lidar com algo novo, desconhecido, diferente do padrão de frustração que conhecemos. Porque penso que o que mais nos assombra é sempre o novo, e não o velho. É que o passado (o “velho” conhecido) vem à tona quando nos deparamos com o novo... Nós sentimos falta da familiaridade, dos nossos conhecidos padrões de frustração. Que, de certo modo (tão avesso), parece que nos acolhe.
Temos medo do novo, da mudança, do diferente. Temos dificuldade em sair do mesmo lugar, em nos mover, em nos arriscar. É como se tivéssemos pavor de experimentar algo novo e, mais do que isso, de gostar, de mudar, de nadar contra (aquilo que pensamos ser) a nossa maré. Nos autossabotamos diante da possibilidade de arriscar tudo em que acreditamos e confiamos e dar certo e, depois disso, já sofrendo por antecipação, de pensarmos que não saberemos lidar com os novos desafios, de nos ressignificarmos.
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Você sempre vai decepcionar alguém.
Theodore em Her (2014)
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Todo mundo que se apaixona é um pouco louco. É uma coisa louca de se fazer. Eu acho que é uma forma de insanidade socialmente aceitável.
Amy no filme Her (2014)
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O passado é só uma história que contamos a nós mesmos.
Samantha no filme Her (2014)
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Acho que uma das coisas mais sinistras da história da civilização ocidental é o famoso dito atribuído a Benjamim Franklin, ‘tempo é dinheiro’. Isso é uma monstruosidade. Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida, é esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo. Esse tempo pertence a meus afetos. É para amar a mulher que escolhi, para ser amado por ela. Para conviver com meus amigos, para ler Machado de Assis. Isso é o tempo. E justamente a luta pela instrução do trabalhador é a luta pela conquista do tempo como universo de realização própria. A luta pela justiça social começa por uma reivindicação do tempo: ‘eu quero aproveitar o meu tempo de forma que eu me humanize’. As bibliotecas, os livros, são uma grande necessidade de nossa vida humanizada.
Antonio Candido
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Desde que decidi me aventurar em mar aberto, cansei de contar quantas vezes me senti à deriva, a quilômetros de distância da terra firme. Quantos banhos de água fria eu tomei e quantas vezes o medo me desesperou a ponto de eu, que sei nadar, quase me afogar... Mas, apesar de sentir medo, eu também tive coragem, e ela foi crucial para que eu enfrentasse rajadas de vento, correntes intensas e até ondas gigantes...
A aproximação das ondas sempre deixava meu corpo todo em alerta e fazia com que eu desse grandes braçadas na água a fim de nadar o mais rápido pra longe dali. Consegui fugir de muitas ondas, mas também tomei muitos caldos.
Até que me dei conta de que identificar o mau tempo e avistar as ondas previamente não tornava possível modificá-lo ou evitá-las. Foi aí que eu aprendi a surfar!
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