Text
Dr. Renato Augusto
O ônibus parou a dois quarteirões do sanatório, abrindo suas portas para que Alan descesse. Alan andou os dois blocos a passos rápidos, checando os bolsos para ver se seu bloco de notas e gravador não haviam ficado no ônibus. Chegando ao sanatório, um prédio de três andares que ocupava uma todo aquele bloco, Alan foi se registrar na portaria, ele tinha uma entrevista marcada com um dos pacientes e já estava atrasado. Alan era um jornalista, ou algo parecido com um, ele trabalhava em um tabloide impresso e gerenciava o blog do mesmo, que publicava histórias de óvnis, assombrações, lendas urbanas e coisas do tipo.
O entrevistado se encontrava em seu quarto, no terceiro andar, onde haviam apenas uma cama e uma mesa com duas cadeiras, alguns livros, papel e uma caneta. Geralmente pacientes não podem ter objetos afiados em seus quartos, mas este era uma exceção, Dr. Renato augusto era um cirurgião aposentado, e havia se internado voluntariamente. Os psicanalistas não acharam nada errado com sua saúde mental ou física, além de sua vontade de se isolar e seus relatos de alucinações.
Alan colocou o gravador na mesa, abriu seu caderninho de notas e se apresentou, pedindo ao entrevistado que se apresentasse e contasse sua história.
- Meu nome é Renato augusto, sou… quer dizer era cirurgião gastrointestinal, trinta e sete anos de idade. Me internei aqui voluntariamente porque não consigo mais viver em sociedade, mas vamos começar do começo: há uns dois anos eu fui morar na fazenda de meus avós. Meu pai estava muito velho e doente, pensando em se mudar para um asilo na cidade, e me pediu para cuidar da fazenda para ele, já que seria minha por herança. A fazenda ficava a meia hora do hospital onde eu trabalhava, era mais confortável que o apartamento que eu alugava, e eu não tinha esposa ou filhos, então me mudei para lá. Era uma fazenda de gado leiteiro, com alguns cavalos e pequenas plantações de cana e milho para alimentar os animais, a casa era grande, com quatro quartos, e havia na propriedade dois barracos, um onde os peões viviam e o outro não era usado. Comigo viviam meu pai, um tio com sua esposa e filho e dois peões que trabalhavam na fazenda. Meu tio só aparecia lá finais de semana para fazer um churrasco, e no reato da semana viajava o país, ele havia vendido sua parte da herança de meus avós e agora gastava o dinheiro, sem preocupações reais.
A vida seguiu normalmente pelo resto do ano, mas então nós começamos a perder dinheiro, todo leite que tirávamos estragava antes mesmo de ser tratado. Lavamos e desinfetamos todo o equipamento, chamamos um veterinário para as vacas mas nada adiantou, um dos peões até teve a absurda ideia que estávamos sendo assombrados pelo saci. No fim tivemos que vender todo o equipamento e comprar novos modelos, mas tudo ficou bem depois disso. Todo o envolvimento com a fazenda estava interferindo com meu trabalho no hospital, então contratei mais dois peões, e isso deixou o trabalho de todos mais fácil por um tempo, até que coisas começaram a desaparecer. Os peões colocavam a culpa uns nos outros e brigavam todos os dias, eram coisas bobas, cigarros, isqueiros, cintos… as coisas sumiam e apareciam no meio das coisas dos outros, as brigas e desconfiança ficaram tão desproporcionais que um dos peões acabou se demitindo.
Uma manhã eu me servi um copo de leite como café da manhã antes de ir trabalhar, foi ai que as coisas ficaram realmente estranhas, o leite era fresco da mesma manhã, havia sido fervido minutos antes e ainda estava quente, mas ao beber o leite estava podre. Não qualho, não com gosto de estragado mas completamente podre, grosso, com um gosto insuportável. Mas o leite no copo estava normal, em algum momento entre o copo e minha garganta o leite havia apodrecido como se fosse deixado as moscas por meses. Vomitei aquele queijo pastoso esverdeado, cheio de larvas e cheirando a carniça, tomei só um gole mas vomitei litros daquela fétida mistura. Foi ai que eu o vi, na janela rindo de mim, e se foi antes de eu desmaiar. O peão estava certo, estávamos sendo assombrados pelo saci. Ou por um saci, não sei se é só uma entidade ou várias, não sei dizer se saci e nome próprio ou da espécie. Pode rir, eu também não acreditaria se me dissessem.
Descreve-lo e difícil, quando se fala em saci a mente das pessoas vai direto para monteiro lobato ou os desenhos que se coloria na pré escola, de um negrinho perneta que fuma cachimbo e usa uma touca vermelha, o que não está errado, mas também não está certo. O problema com as lendas e que elas são verdade e não ao mesmo tempo, mas não chegam a ser mentiras, são mais como meias verdades, ou interpretações diferentes da verdade. O saci não e negro, mas é. Não negro afrodescendente, mas negro como a noite… não, mais escuro, algo como a escuridão absoluta, como as trevas de um abismo. Ele não fuma um cachimbo, quando ele respira ele expira fumaça, como se seu interior estivesse em chamas, não é um menino, é um homem adulto, e não tem somente uma perna. Sim ele tem somente um membro inferior, mas aquilo não e uma perna, é uma cauda, uma falange que sequer toca o chão, ele não pula em uma perna só, ele flutua silenciosamente enquanto atormenta suas vítimas. O saci também não é inofensivo como nas histórias, e um ser maligno, tudo o que ele faz por mais inofensivo que pareça e parte do plano para destruir e tirar a vida das vítimas. As coisas sumindo na casa dos peões por exemplo, era para que eles brigassem e talvez até se matarem.
Continuando, depois de ver a criatura eu desmaiei, fui acordado por meu tio que havia chegado para seu churrasco semanal, achando que eu estava bêbado ele me deu um banho gelado e ligou para o hospital dizendo que eu não estava bem e precisava de uns dias de folga. Depois disso o alvo passou a ser meu pai, que a todo momento pisava em algum prego ou farpa, causando infecções em seus pés até que não podia mais andar, emprestei uma cadeira de rodas do hospital a ele, comida estragava quase imediatamente e começamos a cozinhar menos, pois a comida estragava durante as refeições, as sobras estavam cheias de mofo e larvas dentro de poucas horas, as porteiras dos cercados dos animais se abriam sozinhas durante a noite e os animais fugiam assustados. O único motivo de eu voltar aquele lugar era meu pai que insistia em ficar lá apesar de tudo o que acontecia. Os peões insistiam que era o saci e eu, mesmo tendo visto, não acreditava neles.
Uma manhã fui acordado por gritos de Zé, um dos peões. Assustado ele dizia que o saci havia amarrado as crinas dos cavalos. A princípio não entendi o problema, mas ele explicou que os cavalos estavam amarrados uns aos outros. Ainda assim não achei um problema tão grande, era só cortar os nós e soltar os cavalos. Fui ver assim mesmo, e na frente do estábulo os outros dois peões vomitavam aterrorizados. Os cavalos estavam com as crinas e rabos amarrados, mas não só os pelos, a pele e músculos também estavam amarrados uns aos outros, até as entranhas estavam amarradas, e os cavalos tentavam se separar, derramando sangue e vísceras no chão. Zé voltou com uma espingarda e matou os dois, acabando com seu sofrimento. Os outros dois peões foram embora da fazenda para nunca mais voltar, e Zé começou a falar sobre meios de se capturar o saci, mas na hora estava muito chocado para prestar atenção.
Voltando a meu pai, seus pés estavam pretos e inchados, pus vazava por buracos e rachaduras na sola, ele agonizava de dor pois seus antibióticos e anestésicos haviam desaparecido. Parecia que o mesmo efeito que apodrecia a comida quase instantaneamente havia começado a agir em seus pés. Decidi leva-lo ao hospital para se internar aquela mesma tarde, mas não conseguia achar minhas chaves. Na minha mente veio o rosto daquele ser negro, rindo e zombando de mim. Ouvi tiros atrás da casa dos peões, corri para ver Zé atirando contra algumas bananeiras e um bambuzal, ele gritava que ali era a casa do saci que zombava de nós, e que o mataria. Para minha surpresa e desespero, o bambuzal riu, gargalhou, e um vento muito forte começou a vir de sua direção. Em meio a poeira que começava a girar aquela forma de pura escuridão apareceu perante nós, nos olhando com olhos em brasa e rindo de nós, as nuvens escuras se aproximaram acima de nós e também começaram a girar. Zé gritou para que eu pegasse a peneira de metal e uma garrafa de seu barraco, enquanto recarregava sua espingarda. Enquanto corria Zé atirava contra o ser e o cone descia das nuvens, com ventos fortes e ensurdecedores que quase não me permitiam andar. Dizem que o saci anda em redemoinhos, mas aquilo não era um simples redemoinho, era um verdadeiro tornado, acredito que este seja o motivo da entrevista não? O tornado que destruiu algumas fazendas e casas da cidade? Continuando, quando voltei com a peneira e garrafa vi Zé sendo sugado pelo tornado, ele foi desmembrado e teve seu corpo contorcido antes mesmo de chegar ao cone, eu me escondi atrás do barraco enquanto o tornado ia em direção a minha casa. Em um instante as telhas foram sugadas, vi a cama e o corpo de meu pai serem consumidos pouco antes das paredes cederem, pequenos redemoinhos se formaram e corriam pelos escombros, quando um passou derrubando o barraco onde me escondia. Em um reflexo bati contra o redemoinho com a peneira, e no centro acertei algo solido. Bati contra ele de novo, dessa vez para baixo e pondo todo meu peso sobre ele. O redemoinho se desfez, e embaixo da peneira uma massa negra se contorcia e gritava, o tornado e os pequenos redemoinhos dançavam descontrolados em direções aleatórias. Abri a garrafa e coloquei a ponta embaixo da peneira, e a massa negra se contorceu para dentro dela. Tapei a garrafa rapidamente com a rolha e usando um caco de tijolo desenhei na rolha uma cruz, o tornado imediatamente desfez-se.
Dentro da garrafa aquele ser não ria mais, mas me olhava com ódio. Enterrei a garrafa ali mesmo nos escombros e andei até a cidade. No caminho vi que a ventania havia derrubado algumas arvores e destelhado várias casas. Chegando a cidade eu não via mais o rosto das pessoas, todos que me rodeavam tinham a face daquele ser, rindo e zombando de mim. Após uma semana vendo o saci no rosto das pessoas me internei aqui, onde não vejo ninguém. A enfermeira me deixa comida na porta, me trazem livros, e quase não tenho contato com as pessoas. Rezo para que o mato tenha tomado aquele lugar, e que ninguém nunca ache aquela garrafa com aquele maldito ser dentro, ninguém deveria passar pelo que eu estou passando.
Alan parou o gravador e foi agradecer pela história, mas o doutor virou o rosto. Ao perceber a dúvida em Alan, o doutor respondeu:
- me desculpe não olhar diretamente para você esse tempo todo, e que para mim você também tem o rosto do saci.
Dcm01
1 note
·
View note
Text
O segredo
Esta história de uma amiga minha, se é que posso chama-la de amiga, pois nos poucas anos que nos conhecemos mantivemos uma relação de amor e ódio. Em alguns momentos confiávamos um no outro com nossas próprias vidas, em outros tentávamos matar um ao outro. Em um de nossos momentos de paz ela me confessou seu maior segredo e história. Tudo havia acontecido pouco antes de nos conhecermos, ela andava com seu irmão perto de sua casa, quando avistou luzes descendo do céu. Ela e o irmão tentaram fugir e se esconder em um matagal,mas la foram cercados por seres feitos de sombras, que se esgueiravam por entre as árvores, cortando todas as opções de fuga. As luzes piravam sobre eles e de fora do matagal criaturas de pele escura, baixas, com grandes olhos e apenas quatro dedos em cada mão os cercaram. Ela gritou e tentou fugir, mas não havia um caminho livre de um ser ou sombra. Os seres fizeram algo que ela não se lembra e os dois desmaiaram. A garota acordou de pe, com as mãos e pés atados dentro de algo que parecia um estômago de vaca preso ao teto e ao chão. Do teto saiam tubos que pareciam intestinos, entrando por sua boca até seu estômago. Os tubos dificultavam a respiração, e vez ou outra ela sentia algo passar por eles para dentro de si. Tentou morde-los, mas eram muito resistentes e não pode corta-los. O la se sentia sonolenta, como se tivesse acabado de acordar de um longo sono, e não soube dizer quanto tempo esteve la, naquele estado semi acordado. A sala onde ela se encontrava era redonda, com uma porta no lado oposto a ela. Para seu terror ela não estava sozinha, ao seu lado estava seu irmão, preso como ela, com as tripas em sua boca, e parecendo inconsciente. Ao redor da sala vários outros seres se encontravam na mesma situação, seres semelhantes a sapos, morcegos e alguns tão estranhos e alienígenas que não podia descrever. As necessidades eram feitas ali mesmo, e eram absorvidas por poros no chão, mas vestígios ficavam nas pernas e pés, o que causava um fedor insuportável. Vez ou outra os seres de pele escura entravam pela porta, acompanhados de outros seres com a mesma aparência, mas o dobro de altura, e esses seres recolhiam sangue, pequenos pedaços de pele, fezes e urina. Examinavam os corpos dos seres presos, incluindo a garota e seu irmão, e então saiam pela porta. Não se sabe quanto tempo eles ficaram presos, mas ela acordou um dia solta em um local desconhecido, ao lado de seu irmão e dos outros seres que estavam com eles no óvni, os alienígenas mais altos lhes explicaram que eles estavam em outro planeta, e que teriam que trabalhar para eles. Eles estavam em uma mata, e disseram que havia uma base subterrânea no centro da mesma, ela e os outros abduzidos deveriam viver nessa mata, sem nunca entrar na base, e protege-la das perigosas criaturas que certas noites apareciam para tentar invadir o local. Ela chorou, não acreditando que aquilo realmente estava acontecendo com ela, e foi confortada por seu irmão. Por alguns dias eles sobreviveram bebendo e comendo os peixes de um rio que passava ali perto, os outros abduzidos sentiam tanto medo uns dos outros quanto deles, e tentavam não se aproximar. Uma noite ela percebeu uma movimentação diferente, viu sombras correndo como quando fora abduzida, e algumas criaturas correndo para dentro da mata, amedrontadas. Os pequenos alienígenas saíram da base e corriam pela mata, agitados, e tentavam espantar os abduzidos para os limites da mata. Ao longe sempre viam algumas luzes que ficavam a noite toda acesa, mas não sabiam do que se tratava, mas nessa noite ela descobriu que as criaturas estavam vindo, e ela seria obrigada a lutar contra eles se quisesse sobreviver. Ela ouviu vozes ao longe, e viu claramente três ou quatro dos seres andando em direção a ela, eles tinham aproximadamente a mesma altura que ela, usavam roupas coloridas e carregavam longas armas. Ela se desesperou, gritou e jogou pedras contra às criaturas, que se dividiram em dois grupos, um ficou onde estava, e o outro grupo circulou a mata, entrando por um outro lado. Eles se aproximavam, ela corria pela mata, jogando pedras e pedindo para eles irem embora, aos prantos. Subiu um morro até uma clareira, e não havia mais para onde fugir, pois a vegetação era muito densa e o único caminho era aquele por onde ela havia entrado. Duas das criaturas apareceram na única saída da clareira, segurando suas longas armas e apontando a afiada ponta a ela. Sem meios de fugir, ela se preparou para o pior, e pode ver os seres que a perseguiam, e eles não eram tao diferentes dela, aquele que estava mais a frente segurou o outro com o braço, enquanto a olhava boquiaberto. Por algum motivo ele não a atacou, e recuou com seu companheiro em direção ao outro grupo. As criaturas foram embora em direção as luzes no horizonte, mas essa não foi a ultima vez que ela os enfrentou. Aquela criatura que a havia perseguido, mas ao ver a garota amedrontada e aparentemente indefesa desistiu de atacar, era eu mesmo. Ela era uma himey, assim como a lendária tribo dos homens onça e antigos deuses egípcios, e o estranho planeta onde ela estava presa, era o nosso.
0 notes
Text
A lenda do torneiro de anapolis
Esta é uma lenda que foi perdida na boca do povo anapolino em meados da década de 90 quando eu ainda era moleque.
Fala da história do dono da torneadora que vivia afastado do centro da cidade,num local muito ermo e perto de uma pequena floresta isolada do resto do campo,onde ainda era terra de ninguém,pois tratava-se de uma época muito remota para Anápolis. Era a época em que Anápolis deixou de ser um intermédio na construção de Brasília,pois as obras já haviam sido finalizadas e a pequena cidade foi novamente esquecida pelos seus vizinhos.
Muitos maus elementos foram como forasteiros para Anápolis. Trabalhadores negligentes,assassinos,fugitivos e todos os tipos de meliantes,vieram de outros estados para trabalhar na obra,e assim,após sua finalização,se acomodaram nos arredores do Distrito Federal ou,no caso,em Anápolis.
Mas o torneador,que vivia sozinho no seu próprio depósito,não era um forasteiro. Ele morava naquela área desde que nasceu e não se sabia o que tinha acontecido com a sua família. Não muito conhecido pelo sobrenome(tanto que sua identidade é desconhecida),era de uma família de caseiros que trabalhavam nos sítios nas áreas periféricas de Anápolis(no caso,hoje é conhecido como bairro São Joaquim,um dos mais perigosos do estado).
Em sua infância,os outros caseiros que viviam nas roças vizinhas,notavam a criança solitária,brincando com facas e outros instrumentos perigosos no meio do mato. Um menino extremamente calado,matuto mesmo. Mas era conhecido por suas travessuras brutais e preocupantes,completamente incomuns para uma criança. Gostava de levar animais para um pequeno depósito,lugar escuro e afastado do resto do sítio,para torturá-los com instrumentos de torno,bem rudimentares. Sabe-se disso pelas notáveis broncas que seu pai levava do proprietário da fazenda,pois as outras crianças,filhas do homem,presenciaram tais cenas sórdidas e contaram ao pai,horrorizadas.
Sua adolescencia é completamente desconhecida,não se sabe nem como sua família sumiu,muito menos os patrões da casa . Muitos anos depois,após uma série de adaptações na casa em que vivia,abriu uma torneadora,transformou toda a casa em um enorme depósito,pois precisava desse meio para se sustentar,sabendo que a cidade se expandia e precisava cada vez mais dos serviços de torno para a confecção de ferramentas.
O único torneiro da cidade era um homem estranho,isolado e paranóico,de aparência terrível: extremamente magro,fortes olheiras marcadas sob olhos escuros e arregalados,pele pálida e com várias escoriações na pele,barba grande e cabelos negros maltratados . Pessoas que passavam pelo local,diziam que o homem de estatura baixa,não usava nenhum chapéu,nem debaixo do sol quente e usava uma mesma roupa social surrada e suja. Tinha ódio de crianças e hora ou outra disparava sua espingarda de cano duplo contra moleques que passavam pelo local,fazendo arruaça.
Certa vez,o torneador viu uma menina magra,de pele morena,de uns 10 anos com mochila nas costas passando pelo local,cantarolando. Ouviu-se o grito do homem,que estava dentro da casa. A menina não se pôs a correr,e de tamanho medo,ficou congelada no meio da estradinha. O homem abriu rudemente o portão de ferro de seu depósito e irritado,olhou para a menina com uma estranha feição obssessiva. De longe,o torneiro catou sua espingarda e apontou para a menina,mirando diretamente para sua cabeça. A menina,histérica e desesperada,abaixou sua cabeça e fez o homem errar o primeiro tiro. O homem,profundamente nervoso,acertou o segundo tiro em uma das finas pernas da menina.
O torneiro foi andando rapidamente em direção da criança,que estava gritando de dor,e puxou-a pela mesma perna que estava estraçalhada,banhada em sangue. Arrastando-a de forma truculenta,entrou em seu depósito e passou o cadeado no portão. O homem jogou a menina em uma enorme mesa de metal,cheia de ferramentas sobre sua superfície,ferindo as costas da mesma. Sem que houvesse nenhum soluço de medo sequer,a fim de cessar a gritaria,o homem acertou o rosto da menina com uma marreta de forja,cessando assim o escândalo de forma cruel. No entanto,a menina ainda estava moribunda. O homem jogou a criança num velho sofá,de modo que ficasse de bruços para ele. Sem tirar o vestido da menina,que ainda agonizava,o homem abusou do corpo deformado,banhando o chão e seus pudores de sangue e carne fresca. Quando finalmente atingiu o coito,o homem olhou para a pequena ventilação aberta no canto superior de seu quente depósito,e se deparou com a face de um menino,que estava testemunhando a grotesca cena. O menino,que estava sobre o telhado metálico,saiu correndo,fazendo um estridente barulho marcando o trajeto dos seus passos. O homem,com certa dificuldade,abriu o cadeado e saiu sem roupa,banhado de sangue e foi em direção do menino,que corria rumo à cerca,onde estavam seus outros amigos,que o esperavam. Quando percebeu que sua espingarda estava sem balas e que os garotos já estavam bem longe,o homem se aquietou e entrou.
Aquela menina não havia sido a primeira vítima do torneiro. O homem era um infanticida,o seu afastado depósito era infestado com o cheiro de sangue talhado e podridão. Como os rumores sobre o sumiço da menina que,apesar de não ser conhecida,já tinha passado por aquelas bandas outras vezes,quase todos os meninos largados daquela região conheciam as terras daquele homem e suas lendas. Obviamente,nenhum adulto dava moral para o que diziam os moleques,pois o homem era conhecido como o único torneiro da cidade e já havia prestado serviço a algumas construtoras que atuavam na construção de Brasília.
Certo dia,um outro grupo de garotos,que conheciam as histórias daquela região,se aventuraram a pular a cerca das terras do homem a fim de entrar na isolada floresta que ficava no meio da mata. Era uma tarde quente e ensolarada,e os meninos queriam fumar os palheiros dos adultos sem que eles percebessem,e sabia-se que naquela mata havia um pequeno lago.Era um costume dos meninos da época,no interior de Goiás,fugirem dos seus afazeres enquanto seus pais estavam trabalhando na roça,para fumarem e beberem pinga escondidos,sem que os adultos notassem a falta.
Mas o homem não estava no depósito e nem havia notado a entrada dos meninos. Nem um sinal de vida,nada. Então,o grupo entrou tranquilamente nas terras,achando que estavam abandonadas e começaram a se adentrar na mata fechada,em busca do lago. Depois de exaustivas horas de caminhada,um dos garotos encontra a beira do pequeno lago,e,animados,sacam a garrafa de pinga do engenho e um deles tira um pedaço de fumo de um saquinho,com um canivete na mão. Porém,o mais velho dos meninos,manda os outros calarem a boca e se abaixarem,pois havia ouvido alguém andando na mata.
Esperaram uns minutos,quando se deram conta de que não havia nada naquelas redondezas,voltaram a fazer balbúrdia. Após um tempo,os jovens estavam completamente embriagados e jogados no chão,quando o mesmo menino mais velho chama os amigos para um pulo no pequeno lago. Todos,sem hesitar,pularam na água,quando um dos pequenos começou a chorar,dito que tinha sentido algo estranho quando tocou o fundo.
O torneiro,que estava entre as árvores,apareceu com um enorme saco de lona preta em uma das mãos e na outra,sua espingarda,carregada. Encurralando os moleques no pequenino lago e promovendo o completo desespero,o homem forçou os meninos a ficarem no meio da água,ameaçando-os com sua espingarda. O torneiro desamarrou o saco com os dentes,sem desviar o olhar dos garotos,e despejou o conteúdo em cima das crianças. Dezenas de corpos infantis,uns pútridos,outros ainda tenros,mas todos com duas características em comum: estavam dilacerados e violados. O peso dos corpos fez com que o sangue se espalhasse pela água,revelando os outros corpos decompostos que estavam sob a água,todos com soldas esféricas de ferro alojadas nos estômagos ,formando âncoras que os mantinham em sigilo,no fundo do lago.
Num caos desesperador e brutal,os meninos foram afundados pelo peso dos cadáveres,fazendo com que o torneiro se excitasse ao extremo e pulasse naquele lago de sangue. Entre a água,os meninos que morriam afogados e os cadáveres decompostos,o torneiro praticou sua mais vil orgia,lembrando-o de todas as suas vítimas,que estavam se revelando e fazendo com que sentisse todo o doentio prazer que sentiu ao exterminar e abusar de suas vítimas no passado. Embriagado pelo odor pútrido da morte infestando suas narinas através da água,o torneiro morreu afogado por entre suas vítimas,todas mortas,todas,de certa forma,abusadas.
Satan
#satan maniaco lenda urbana serial killer#satan#lenda urbana#lenda#conto o#serial killer#maniaco#conto#violencia
0 notes
Text
Fé
Paz do senhor, igreja! - Exclamou Pedro, ao se despedir e entrar nos bastidores atrás do altar. Pedro da silva era um pastor, formado em teologia, trabalhava em uma igreja grande, seus cultos eram transmitidos na tv, ele era uma celebridade. Nessa igreja os pastores mudavam toda semana, indo pregar em diferentes templos em diferentes cidades, não havia proximidade entre os pastores e os frequentadores da igreja, o foco era mais em conseguir doações e vendas de livros, Pedro era mais um mercador da fé que um pastor guiando almas em direção a deus, e a algum tempo isso o incomodava. Pedro estava em Goiânia, cidade onde nascera e foi criado. Depois do culto da manhã decidiu visitar o afastado bairro onde morou, foi com o carro da igreja, estacionou à frente de sua antiga casa e andou as ruas do bairro, viajando em sua nostalgia. Andando sem rumo, chegou sem notar as portas da igreja que frequentava quando jovem. O templo simples e humilde estava vazio, mas as portas estavam abertas. Sentou-se em uma das frágeis cadeiras de plástico e relembrou dos cultos que assistiu ali, e como em um deles se decidiu a se tornar pastor. Perdido em suas lembranças, não percebeu o velho homem que se aproximava, o cumprimentando com a paz do senhor. O senhor, de aproximadamente noventa anos era o pastor daquela igrejinha, posição que era dele a décadas. Foi ele que incentivou Pedro a seguir a vocação e cursar teologia, foi ele que ensinou sobre a Bíblia, como pregar a palavra e ajudar as pessoas, foi ele que teve Pedro como obreiro e o ajudou a pregar seu primeiro culto. O senhor morava em um barracão nos fundos do lote da igreja, que era mais simples e humilde que a própria igreja, apenas um quarto, cozinha e banheiro, sem reboco, com poucos móveis e chão de cimento. Sentaram em cadeiras de plástico emprestadas da igreja, tomando um café preto com pouco açúcar e colocando a conversa em dia, cada um falando sobre os acontecimentos de sua vida desde a última vez que se viram. Pedro ganhava um salário alto da igreja que trabalhava, tinha um apartamento próprio em são Paulo, carro do ano, e muitos bens materiais que visitava uma ou duas semanas por mês quando acabava o tour de pregações. O senhor passava dificuldades financeiras, a aposentadoria e doações mal pagavam o aluguel de sua igreja, as vezes cortavam a luz ou água por falta de pagamento, às vezes faltava comida, mas o senhor continuava a pregar por amor a igreja e a palavra de Deus. Pedro se absteve de chamá-lo para se juntar a igreja que trabalhava, já havia oferecido antes e o senhor sempre recusava. Pedro então confessou que sua fé estava abalada. Depois de tanto teatro, tantos cultos com scripts reciclados, Pedro já não sentia a presença de Deus, não via sentido em seu trabalho, e questionava se o sobrenatural era de fato real. O senhor colocou a mão no ombro de Pedro e o guiou em uma oração, e depois o perguntou a quanto tempo ele não fazia um retiro, ou ia orar no monte, e realmente, já faziam anos desde a última vez que Pedro teve tempo de ir ao monte ou retiro. Orar no monte, só ele e Deus seria uma experiência espiritual que reacenderia sua fé, ou, pelo menos seria um tempo de reflexão e meditação que faria bem para Pedro. Na mesma noite, Pedro dirigiu até fora da cidade, meia hora de viagem até um monte onde o senhor da igrejinha levava os membros para orarem. Pedro se embrenhou na mata, subindo o morro, levando apenas a Bíblia e uma lanterna para iluminar seu caminho. No topo do morro ele podia ver ao longe as luzes de Goiânia, Nerópolis e Anápolis. Deveria poder ver Teresópolis, mas a mata obstruía a visão. No topo havia algumas arvores, uma mata de um lado do morro que bloqueava a vista de Teresópolis, ao centro havia um círculo de pedras, não havia vegetação nenhuma dentro deste círculo, e Pedro não lembrava daquele círculo nas outras vezes que visitou o local, se ajoelhou perto do círculo, olhando para o lado de Goiânia, e começou a orar. Já era quase meia noite, e Pedro orava de joelhos quando ouviu um barulho atrás de si. Era um som baixo, como o de madeira quebrando ou pedras rolando, mas que lhe chamou a atenção. Pedro levantou-se e procurou pela fonte do barulho, e essa fonte era o círculo de pedras, a terra do centro do círculo se mexia e afundava, revelando um buraco mal enterrado. Ao se abrir o buraco exalou um cheiro muito forte de enxofre e carniça, Pedro desconfiou que alguém havia enterrado um animal ali, provavelmente em um ritual de magia negra, talvez para amaldiçoar os crentes que ali oravam, e algum tatu ou bicho estava cavando para comer a carcaça. O pastor apontou uma mão para o círculo e repreendeu qualquer trabalho do inimigo naquele local em nome de Jesus. De canto de olho o pastor começou a ver sombras e vultos correndo em sua volta, pensava ver animais e pessoas, mas quando olhava já não havia nada lá. Assustado Pedro olhava em volta, iluminando as trevas com sua lanterna, a lua cheia já não iluminava o local apesar de não haver uma nuvem no céu, que parecia não ter mais estrelas. O cheiro de carne podre e enxofre ficava cada vez mais forte, causando náuseas em Pedro, e de dentro do buraco algo começou a sair. Uma esfera negra se movia com dificuldade tentando sair do buraco, parecia um tatu, e Pedro suspirou aliviado, mas o tatu continuou virando e saindo da terra revelando dois olhos que pareciam estar em chamas, e se levantando mais podia se ver dois buracos onde deveria ser o nariz e uma boca sem lábios, com dentes negros semelhantes a agulhas. Pedro estava paralisado de medo enquanto o ser se arrastava para fora do poço infernal usando seus magros braços. A criatura era magra, podia se ver claramente suas costelas e coluna através da pele cheia de rachaduras por onde vazava uma fraca luz alaranjada. Ele fedia a morte e podridão, e falava palavras impronunciáveis. Os vultos e sombras respondiam a essas palavras em uma doentia e insana dança ao redor dos dois. O demônio já estava com a metade superior fora, Pedro se pôs a orar fervorosamente, primeiro para exorcizar a criatura e quando nada aconteceu, orou por proteção divina, depois por salvação, depois pedindo perdão pelos seus pecados. O único efeito conseguido foi o demônio perceber sua presença, e agora o fitava com ódio nos olhos que pareciam brasas. O ser proferiu palavras amaldiçoadas em direção a Pedro que caiu de joelhos clamando a Deus por ajuda enquanto as sombras e vultos se aproximavam em uma dança ensandecida. Pedro levou a testa ao chão, já chorando de terror. Ouviu a grama se mover atrás de si, como alguém correndo, sentiu um vento frio e ouviu algo voando por cima de sua cabeça. Olhou para cima a tempo de ver um homem com roupas negras pousar a sua frente, entre ele e o demônio. O homem puxou uma faca de sua jaqueta de couro, e levou-a a mão esquerda, fazendo um pequeno corte. Ele repetia uma frase que Pedro não conseguia entender, como um mantra. As sombras e vultos se afastaram e corriam em volta dos três. O homem levantou sua mão esquerda aos céus, levou a direita ao chão se agachando de uma forma quase bestial. Ele rosnava e o pastor podia ouvir sua ofegante respiração, uma última vez ele repetiu seu mantra, com uma voz claramente não humana, e rugiu ao se disparar contra a criatura infernal. O homem agarrou a cabeça do demônio com a mão esquerda, e cravou a faca nas costas do ser que gritou de dor, com a perna direita chutou o peito do ser que caiu ao centro do círculo. O homem de vestes negras então pulou em cima do demônio, caindo com a mão ensanguentada segurando a sua face. Ele gritava seu mantra enquanto a criatura se debatia, empurrando a de volta ao abismo. Pedro sentia a temperatura diminuir enquanto assistia aquela cena, boquiaberto. A borda do poço cedeu, cobrindo a criatura, e o homem finalmente se levantou e olhou para a lua cheia, deu uma risada com os braços abertos enquanto os vultos desapareciam e as sombras se dissipavam. Pedro agora podia ver o céu estrelado e as cidades ao longe. O homem virou o rosto, olhando para Pedro e sorriu, seus olhos brilhavam cor de mel, e seus dentes eram afiados. Ao ver aqueles olhos, o pastor teve a certeza que aquele que estava perante ele era um anjo, enviado por Deus em resposta as suas preces, para salva-lo do demônio que tentava sair dos abismos do inferno para levar sua alma. O homem a sua frente disse, com uma voz grave e áspera, “resplandecer” e correu mata adentro, rumo a estrada. Pedro se levantou, com sua fé restaurada, e se decidiu: deixaria a igreja aonde trabalhava, viveria do aluguel das propriedades que possuía. Decidiu voltar à igreja que frequentara na infância, e quando o velho pastor não pudesse mais pregar, tomaria o seu lugar, mantendo a simples igreja viva como sua fé.
Dcm01
#dcm01 fe demônio conto pastor igreja himey#fe#dcm01#demonio#igreja#pastor#himey#conti#terror#conto#vultos
2 notes
·
View notes
Text
A lenda da tribo perdida
Na época do descobrimento, os índios tupi-guarani foram aniquilados e assimilados pelos portugueses. Suas florestas foram devastadas e suas terras usurpadas pelos conquistadores. Sua cultura e conhecimento quase totalmente perdidas, e o pouco que sobra foi diluído e simplificado em nosso bobo e infantilóide folclore. Quinhentos e dezesseis anos após o descobrimento, o único território realmente indígena e intocado pela civilização se encontra no coração da selva amazonense, uma lenda de uma tribo intocada despertou a curiosidade de antropólogos, estudiosos e curiosos. Um desses antropólogos era marcos, formado em uma prestigiada universidade em são Paulo. Marcos faria parte de uma excursão financiada, e com membros escolhidos a dedo, pelo governo federal para um primeiro contato com os nativos. O grupo seria o antropólogo e linguista marcos, um médico de campo do exército brasileiro chamado s. Pessoa, e um time de repórteres Fábia e seu câmera Joey. Os membros se encontraram em um hotel em Manaus, chegaram cansados das suas longas viagens no início da noite, e foram para seus respectivos quartos pois os equipamentos não chegariam até as seis da manhã do dia seguinte. De manhã os quatro se conheceram pessoalmente pela primeira vez, e as sete e meia os guias, Sebastião e Antônio chegaram em uma van, trazendo consigo os equipamentos e mantimentos necessários para a excursão. O grupo então descarregou a van, pegando suas grandes mochilas com mantimentos, equipamento de acampar, câmeras, e armas, seguindo o guia até um pequeno barco onde eles se apresentaram: - Eu sou o Tião e esse aqui o Antônio, a gente foi contratado para levar vocês lá para o meio da mata para procurar uns índios. A gente vai subir o rio de barco por uns dois dias e depois vamos a pé por três dia até onde vocês querem ir. Todos entraram no pequeno barco, colocando suas malas em um canto. O barco tinha apenas um banco grande no centro e uma cadeira atrás, onde Antônio controlava o fraco motor a gasolina. Marcos se apresentou: - Prazer eu me chamo marcos, sou professor e linguista, a universidade me enviou para tentar um contato com essa tribo recém descoberta. - Eu sou Fabia, sou repórter daqui de Manaus, começando a carreira ainda, esse e Joey, meu câmera. O português dele não é muito bom, não reparem. - Meu nome é Pessoa. Sou médico pelo exército Brasileiro. - Soldado pessoa? - Interrompeu Sebastião- porquê que o governo mandou só vocês quatro para o meio da mata? - Porque o governo não se importa. Isso é um trabalho para um batalhão inteiro, ou ao menos dez soldados, mandaram só a mim para fingirem que vocês estão protegidos, os repórteres para vender a história que o governo se importa com nativos, e o professor para se essa tribo realmente existir termos ao menos a chance de se comunicar antes de tomar flechadas e dar tiros até só um lado sobrar. Todos se entreolharam com cara de quem comeu algo estragado. Sem vontade de continuar a conversa cada um sentou em um canto do barco, e navegaram em silencio até o pôr do sol. Ao entardecer Antônio cozinhou alguns peixes que pescou durante o dia em um pequeno fogão a gás que levava com suas coisas, jantaram a luz do luar, era quase lua cheia e o lampião que seria a única fonte de luz do barco não precisou ser usado. Ao acordar na manhã seguinte, marcos se depara com fabia e joey gravando, provavelmente a abertura do seu documentário, gravavam uma onça e alguns micos na margem do rio. Fabia havia se formado em jornalismo recentemente, mas so conseguiu emprego em um pequeno canal local como reporter de campo, cobrindo acidentes e crimes corriqueiros. Joey era um camera de eventos, com um diploma em video produção de alguma escola técnica americana. Os dois viam esse documentário como a grande chance que teriam para uma carreira próspera, saindo da pequena emissora local direto para grandes canais como discovery e National Geographic. A viagem continuou sem grandes acontecimentos por mais um dia e uma noite, e na manhã do terceiro dia ancoraram o barco a margem, onde seguiriam a pé floresta a dentro. Tião então tirou de sua mochila um rolo de fumo de corda, partiu-o ao meio e amarrou em um galho dizendo em voz alta - Toma caipora, deixa a gente ir embora! Soldado pessoa riu, Joey e marcos observaram curiosos, e Fábia perguntou se ele realmente acreditava no caipora. - Ver eu nunca vi, mas o primo do Antônio já viu então e melhor deixar o fumo para ele. - Ter medo de uma criança de pés virados e desperdício, e melhor ter medo das onças, cobras e caçadores ilegais que podemos encontrar por aqui. - Disse pessoa. - E verdade, quem viu os índios pela primeira vez foram caçadores de pele, fomos nós que gravamos a reportagem quando foram presos. - Completou Fábia. Antônio e Tião colocaram suas mochilas nas costas, espingardas à tiracolo e com facões em mãos, começaram a abrir caminho na mata virgem. Soldado pessoa seguiu atrás, com sua grande mochila e fuzil em mãos. Marcos e Fábia atrás dele levando apenas seus mantimentos e Joey os seguia, levando todo seu equipamento de filmagem e câmera, gravando periodicamente qualquer coisa interessante que acontecesse. Na primeira noite acamparam em uma clareira, dentro de sacos de dormir em redes, sob uma lona amarrada as árvores que os protegia dos gotejos noturnos, uma fogueira os iluminava e afastava os animais. Jantaram os últimos peixes que pescaram na manhã desse dia, assados em folha de bananeira que foi enterrada perto da fogueira. As redes os protegiam de insetos e cobras, mas o saco de dormir não os protegia tão bem da nuvem de mosquitos que não deixou ninguém dormir bem. Ao final de cinco horas de caminhada no dia seguinte, Tião congelou e mandou todos se abaixarem e ficarem quietos. Joey rapidamente começou a gravar. Poucos metros à frente do grupo haviam dois índios. Os dois pareciam estar caçando, os dois estavam enfeitados com penas coloridas e adereços de osso e madeira, um portava uma grande lança de madeira e o outro um arco quase do seu tamanho, e quatro flechas longas e finas. O grupo assistiu o arqueiro derrubar um macaco do alto das árvores, com um único tiro certeiro. Aquele armado com uma lança então percebeu que estavam sendo vigiados, e apontando sua lança começou a gritar palavras indecifráveis. Era a hora de marcos mostrar o fruto de seus estudos, forçou o cérebro e começou a dizer que eles vieram em paz em todas as línguas e dialetos que conhecia. Ao ouvir a língua tupi, o índio se acalmou e respondeu que não machucaria ninguém se não se escondessem. A língua falada pelo índio era desconhecida, mas por sorte ele entendia tupi. O primeiro contato havia sido feito e documentado, Joey e marcos mal podiam conter sua alegria. Um mundo de descobertas, fama e sucesso estava à frente deles, era só convencer os índios a mostrar sua aldeia. O lanceiro explicou que sua tribo ficava a apenas três horas dali, na direção noroeste, muito mais perto do que esperavam. Chegando a tribo Joey e Fabia começaram a gravar, usando marcos como tradutor e o lanceiro como entrevistado, apresentando a aldeia. Haviam quatro ocas pequenas onde os índios dormiam, e uma grande oca ao centro, onde o ancião da aldeia residia. Ninguém poderia ver o ancião, e toda a comunicação se dava através de um tipo de sacerdote que cuidava de todas as necessidades e aprendia com o ancião, para tomar o seu lugar quando este morresse. Em frente a oca do ancião havia uma grande pira onde os índios festejavam a noite se a caçada fosse frutífera naquele dia. Toda a aldeia foi conhecer os curiosos visitantes, tocando suas roupas e armas impressionados. Após ser informado, e conversado com o ancião, o sacerdote anunciou que era a vontade dos deuses que eles descobriram uma nova tribo, e para honrar os espíritos e selar a amizade com esse novo povo a aldeia deveria festejar com um banquete naquela noite. Animais empalados em espetos de madeira eram assados ao redor da pira, mulheres e velhos sentavam em volta cantando e tocando instrumentos de percussão, e os guerreiros dançavam em volta do fogo. Soldado pessoa, Tião e Antônio, como os únicos armados com suas lanças sem ponta dançavam junto aos guerreiros. Joey foi convidado, mas recusou, pois, gravar a cerimonia era mais importante a ele, mesmo sob risco de ofender a tribo. Todos comeram macacos, tartarugas e javalis, e bebiam uma bebida fermentada feita de suco de frutas, dormiram tarde ao redor da fogueira. No dia seguinte, Tião, Antônio e Pessoa foram chamados pelo arqueiro que conheceram para ajudar na caça daquele dia. Marcos decidiu ir junto para ajudar na comunicação Joey e Fabia ficaram na aldeia para gravar e trabalhar no documentário. Na mata, o índio mostrou suas habilidades acertando um macaco que fugia pelos galhos. O índio se assustou quando Tião matou um javali sem toca-lo fazendo o som de trovão. Marcos perguntou se o índio quais outras tribos ele conhecia, pois na noite anterior a tribo se referiu a eles como mais um aliado. Ao Nordeste havia uma tribo de negros famosa pelos seus fortes guerreiros, a oeste uma tribo com grandes plantações, mas que não caçava, e trocava suas colheitas por carne e peles, ao norte uma tribo que Marcos só pode traduzir como a tribo dos homens onça, que não eram inimigos ou aliados, e quase nunca se relacionavam com as outras tribos, mas tinham conhecimento sobre ervas medicinais que nem o ancião tinha. Voltavam a aldeia com dois porcos, dois macacos e alguns pássaros, quando ouviram um grito estridente. Era algo como um porco morrendo, mas mais alto, mais longo… logo após ouviram um grito feminino, era Fabia que corria ao encontro deles, desesperada como se tivesse visto os portões do inferno abrindo a sua frente. Ainda em choque tentou explicar que um porco estava na aldeia. Ninguém entendeu o porquê de tanto desespero, talvez um javali invadiu a vila e ela se assustou? Mas algo estava errado, aquele grito de antes não era normal. Correram até a aldeia. Chegando lá encontraram a aldeia intacta e silenciosa. Não havia som algum, nem conversa, nem música, nem os pássaros e insetos faziam um ruído sequer. Procuraram por toda a aldeia deserta, até mesmo dentro da proibida oca central onde o ancião residia, sem sombras de alguma alma vivente, sem marcas, sem sangue. Talvez se assustaram com o porco e correram para o mato? Não havia marcas de luta, as pessoas simplesmente sumiram. Procurando mais um pouco, o grupo encontrou um único rastro: uma das filmadoras de Joey, ainda em sua mão, sobre uma pequena poça de sangue que escorria do braço decepado. Joey não estava lá. Fabia abafou o grito com as mãos enquanto Soldado Pessoa pegava câmera que ainda gravava, rebobinou a fita e procurou alguma pista nas gravações. Eram duas horas de índios cozinhando, tecendo, trabalhando peles e vivendo suas vidas. Logo depois escutou se um grito na gravação, e vários índios correndo em desespero, uma crina cinza podia ser vista por cima da oca central, e a imagem se transformou em um borrão com Joey fugindo, balançando a câmera, sendo interrompido por um grito angustiante de Joey e a câmera caindo onde foi achada. Ainda se ouvia o mastigar da criatura e os ossos sendo quebrados, os passos da criatura se afastando, mais gritos, até que nada mais se ouvia. O índio sobrevivente caiu de joelhos, chorando e gritando incontrolavelmente, Marcos e os dois guias ficaram brancos de medo, travados sem reação, Fabia chorava e soldado pessoa puxou Tião e Antônio pelo colarinho e gritou para eles os guiarem para o barco, o mais rápido possível. O índio se recusava a sair do lugar e foi deixado para trás, enquanto todos corriam pelo caminho que haviam aberto com seus facões poucos dias antes. Após meia hora de corrida e tropeções pela mata eles encontram um corpo no caminho, um índio deitado de bruços, sem marcas de violência. Ao se aproximar viram que ele estava vivo e respirava com dificuldade, e quando o viraram o reconheceram como o arqueiro que deixaram na aldeia pouco antes. Antes de formarem qualquer pergunta ou reação ouviram um assovio, que não vinha de uma direção especifica, mas parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo, seguido do som de galhos quebrando e um tremor que aumentava. De um lado do caminho surge a imagem do javali, correndo em direção ao grupo, quebrando troncos como se fossem gravetos secos. O grupo conseguiu se dispersar a tempo, mas ao passar pegou o índio em sua enorme boca, e se virou lentamente enquanto mastigava o cadáver que não teve nem tempo de gritar antes de sua morte. Soldado pessoa, Tião e Antônio levantaram seus rifles e gritando atiraram contra a gigantesca fera que avançou contra eles, que se esquivaram mergulhando para o lado. O porco conseguiu puxar Tião pela perna, o arrastando por quinze metros antes de cair morto, tendo como último ato cair em cima do guia, matando o instantaneamente. O animal tinha três metros de altura, e pelo menos quatro de comprimento. Uma aberração da natureza que não deveria existir ou estar ali. Ouviram novamente o assovio, e correram em direção ao barco, tomados pelo medo, mesmo com o animal já morto. Duas horas de fuga, não haviam mais ouvido o assovio, mas ainda não havia nenhum barulho de nenhum pássaro, inseto ou animal. Em choque, ninguém se atrevia a quebrar o silêncio, até que o assovio ecoou novamente. Todos olharam para trás de onde achavam que o som vinha, apesar de não ter uma fonte detectável. Antônio caiu de barriga no chão, e aos gritos foi puxado pelas pernas por uma força invisível para o meio do mato. Os três membros restantes do grupo correram desesperadamente atrás dele, com soldado pessoa dando tiros de fuzil para o alto a fim de assustar o que quer que fosse que atacava o guia. Corriam guiados pelos gritos de socorro que se transformavam em gritos de terror e depois urros de dor, e então um indescritível som de agonia inimaginável, como se gritasse, se afogasse e pedisse socorro ao mesmo tempo. Alcançando a fonte acharam os restos de Antônio, uma canela esmagada, a boca aberta e cara suja de sangue, a barriga dilacerada e entranhas espalhadas fora do corpo, as costelas quebradas para fora, expondo os pulmões e coração, e sem a perna esquerda, que não estava em lugar algum. Soldado pessoa levou as mais ao rosto, tentando segurar o vômito de nojo e terror, marcos, pálido como um fantasma, perdeu a força das pernas e caiu. Fabia ainda conseguiu se perguntar o que poderia ter feito isso. Correram de volta a trilha, sem se recompor. Ouviram novamente o horrível assovio, um presságio que algo monstruoso se aproximava. Soldado pessoa se preparou, apontando o fuzil para a direção onde Antônio foi arrastado, pondo se entre o local e os dois últimos sobreviventes. Foi acertado pela esquerda por um tronco, voou dois metros e bateu a cabeça em uma árvore. Tonto, apontou o rifle para o lado de onde o golpe veio, enquanto marcos e Fabia escondiam-se atrás de outra árvore. Pessoa pode ver, com a visão turva, somente uma sombra embaçada do agressor, e o tronco que foi usado para lhe golpear. O tronco não era realmente um tronco, mas uma perna humana. Gritando, pessoa atirou várias vezes contra a criatura, que se aproximou lentamente, ignorando os tiros que provavelmente havia tomado, e estendeu um braço cinzento e peludo em direção ao soldado. Marcos fugia, mas olhou para trás a tempo de ver a grande mão esmagando a cabeça de pessoa, e jogando o corpo sem vida em sua direção. O corpo de soldado pessoa acertou marcos pelas costas, e com o peso ele caiu alguns metros à frente de onde estava. Fabia com o susto tropeçou em uma raiz. Marcos ao se levantar conseguiu finalmente ver a criatura grotesca que os atacava, coberto de pelos e pele cinzenta, o ser andava sobre duas pernas, caminhava tranquilamente em direção a Fabia, olhando os dois com profundos olhos vermelhos que pareciam em chamas. Deu uma mordida na perna de Antônio, que carregava em sua mão direita, descartando logo em seguida. Esticando seu braço lentamente a criatura pegou Fabia pelas pernas, esmagando as canelas da mesma com sua força ao pega-la, Fabia gritava enquanto a criatura a levantava. O ser então segurou-a pelos braços e pernas, como se fosse uma saborosa espiga de milho cozido. Abriu sua monstruosa boca, revelando três fileiras de afiados dentes. Marcos pegou o rifle de pessoa e atirou três vezes contra a criatura, que deveria ser do mesmo tamanho ou maior que o porco, mas sem efeito, os tiros nem penetravam a grossa pele do ser que sorriu. Sem mais opções, e com lagrimas nos olhos, marcos fechou um olho e mirou bem. Conseguiu dar um único tiro certeiro, bem no meio dos olhos. Marcos suspirou aliviado enquanto o corpo de Fabia parava de se debater, sem vida, segundos antes da criatura dar-lhe uma farta mordida, que tirou parte do abdômen e tórax, espalhando suas tripas pelo chão. Marcos então colocou a arma em seu queixo, respirou fundo, deu uma última olhada no grotesco monstro que o encarava com seus olhos flamejantes, fechou os olhos e puxou o gatilho. Click. Não acreditando, marcos puxou o gatilho de novo e de novo, inutilmente. Não havia mais balas. Abriu os olhos com o ser a apenas centímetros de distância da sua cara, tomando a arma de suas mãos como quem pega um palito de dentes e jogando no meio do mato. A criatura o pôs de pé, virado de costas a ela, olhando em direção ao barco. Marcos ainda sentia o bafo quente do monstro em sua nuca, e já esperava o desmembramento. Sentiu uma garra em suas costas, que lhe deu um empurrão, e com uma voz que não era voz, mas sim um som como onde todos os pássaros e insetos cantando juntos, mas que mesmo assim formava palavras, e em bom português ele ouviu:“ Você não, você vai viver. Vai embora e conte a minha história, lembre os humanos que essa mata e do Caipora.”
Dcm01
#dcm01 criatura índios Amazônia folclore conto terror#dcm01#criatura#indios#filclore#amazonia#conto#terror
0 notes