Soneto do Arrependimento
Imagina conhecer a melhor pessoa do mundo
E fazê-la sangrar
Na fonte límpida da vida sinto-me imundo
Afundo na queda livre do último andar
Viver é muito complicado
Conviver com essa dor é impossível
Ainda que tenhas me perdoado
Reduzi-me à partícula invisível
Fiz da nobre escultura milhões de pedaços
O calor do arrependimento é brasa nos pés descalços
Minhas madrugadas são sessões de pesadelos horripilantes
Nas manhãs soturnas e frias
Não leio as belas palavras que me dizias
Dói a alma não causar os sorrisos de antes
- Caos
0 notes
1 minuto da sua atenção
Leve-me para a igreja
Preciso me redimir dos meus pecados
Uma seita onde a bondade enseja
E todos os meus erros sejam apagados
Prezado supervisor, não importa quem seja
Perdão pelos corpos enterrados
Pelos corações magoados
Pelos prantos derramados
Faz um milagre em mim e veja
A conversão de um dos caminhos mais desviados
O importante é que esteja
De mente aberta para meus olhos fechados
Salvador?
Senhor?
Não banque o árbitro do meu arbítrio livre
Coloque-me no pedestal que nunca estive
Pensei que podia contar contigo
Por que não fala comigo?
Por que não podemos ser amigos?
Estou ciente que me faltou traços de humanidade
Entenda que não tenho os poderes de uma divindade
Apesar de ter criado vidas
Apesar de ter tirado vidas
Ter alterado a natureza
Responsável por tamanha tristeza
Cá estou humilde
Implorando que não duvide
E também não revide
Se possível revise
E tão breve me avise
A gravidade do meu caso
Se a vida é destino ou acaso
Se eu já nasci com determinado prazo
Tu ou ninguém quem determina?
Quando tudo isso começa e termina?
Se existem classificados ao Paraíso
Ou à sete palmos a consciência se elimina?
Se ao final temos juízo
Ou a falta dele nos incrimina?
Na possibilidade de minha súplica
Tocar seu espírito divino
Visite minha república
Procure esse menino
Que tão cedo acha que é muito tarde
E na frieza humana tem um peito que arde
Réu confesso disposto ao confessionário
Com os pés cansados pelo tortuoso itinerário
Sabe onde me encontra
Disseram que era onisciente
Sempre fui rebelde que se diz do contra
Cansei de nadar contra a corrente
Aguardo pacientemente
Para sanar árdua dúvida que corrói a minha mente
Se finalmente terei uma conversa olho no olho com Deus
Ou o até logo da vida é um eterno adeus
- Caos
0 notes
A droga do mundo
A busca pela redenção é ilusória
O mundo é podre
O mundo é sujo
E eu sou um universo
Sempre fujo
Só comigo converso
Meus quebra-cabeças estão sem peças
Meus inimigos estão sem pressa
Meus fracassos estão transbordando
Os amigos que tinha acabei matando
Esse é o velório dos meus segredos velados
Aqui exponho pecados ocultados
Um cavalo de corrida aposentado
Correndo atrás do tempo perdido
Mas o tempo não é dinheiro, mulher e carro importado
Uma vez perdido, ele jamais volta
Não importa seu arrependimento ou sua revolta
Ele nunca para para ouvir
Ele até ouve enquanto anda
Ignora o que foi dito e te deixa cair
Suas costas ardem enquanto o tempo passa por cima
Sua impotência, perante tudo, sublima
Tomei atitudes positivas para tirar meu saldo do vermelho
Continuei negativo
Hemorrágico com o soco no espelho
Eu só queria ser saudável
Eu só queria ser feliz
Mas sou herdeiro da tragédia
Ainda que escreva os melhores versos
Ainda que componha obras primas
Ainda serei eu
Com o dom da infelicidade melancólica nas minhas veias
No meu copo absinto
Da realidade me abstenho
Meu corpo no labirinto
Vários caminhos a seguir e nem sei de onde venho
Para mim mesmo minto
Dizendo que me empenho
Alquimista reverso doente
Levando destruição e dor onde meus pés rastejam
Pegadas pesadas
Alma pelada e penada
Fantasmagórico
Sem fãs eufóricos
Nada de emoções plenas
Em pleno Sol do meio-dia tremo
Nem estrela na calçada da fama
Pode iluminar meu negrume
Todos ignoram meu drama
Como de costume
Todas com quem dividi a cama
Somente deixaram dores e perfumes
Cansado de andar em círculos
Por não frequentar os círculos adequados
Exausto de distribuir currículos
E perder vagas para os indicados
Meu pai ficou uma década desempregado
Dormindo no tapete bege da sala
Circunstâncias levaram cada um para um lado
Lembro apenas das fotos perdidas na mala
Nasci com defeito congênito
Nasci com desejo de ser gênio
E aptidão para ser genro
Vivi três décadas, dois séculos e milênios
E nem cheguei aos trinta
Minha namorada queria ouvir que posso conquistar prêmios
Mas não quer mais que eu minta
Fardo amargo de ser auto-destrutivo
Desequilíbrio de um morto-vivo
Preso na reflexão da ilha do medo
Viver mais tarde ou morrer mais cedo?
Descobri que livros salvam vidas
Recomendado cem páginas por dia
Mulheres submissas tornaram-se divas
Pena que minha mãe não lia
- Caos
1 note
·
View note
Pente e Meias
Meu pai não teve pai
Talvez eu o cobre demais
Como ele me cobria de madrugada
Há alguns anos perdemos a paz
A manhã memorável é a menos ensolarada
Já me imaginei cometendo parricídio
No segundo domingo de Agosto
Lágrimas no início seriam indício
Do sangue a escorrer no rosto
Mas por herança paterna
Lato e nunca mordo
Minhas vontades internas
Morrem por aborto
Sempre recolho meus ideais
Para executar o ideal
Meus desejos reais
Perdem para a necessidade do real
Prefiro contar frustrações
Para não contar trocados
Por melhores condições
Meus sonhos foram enterrados
Sonhei com um banho sanguinário
Temi o banho de sol
Ser um nobre revolucionário
E não um imperceptível mol
Trago em meu peito desilusões profundas
Poço fundo de aspirações imundas
Escândalos de vozes mudas
Gigantes almas miúdas
Desavenças com meu velho e pensamentos no gatilho
Problemáticos verbos, sério empecilho
Péssimo homem, terrível filho
Questionamentos eu empilho
Na dúvida de ser ou não ser?
Não me tornei Shakespeare
Sem saber por onde correr
Nem de rotas para fugir
Parado nos momentos paradoxais
As datas mudam mas meus dias são iguais
Impaciente com as patologias terminais
Preso nas intermináveis horas do dia dos pais
- Caos
0 notes
Cara ou Coroa
A agulha vicia braços heróis no Bronx
Álcool e sexo distraem a miséria do rei em Havana
Uma irmã derrete órbitas oculares em Hiroshima
Enquanto a outra filha compromete a genética em Nagasaki
Uma cantora prodigiosa é silenciada pela overdose em Londres
Um jovem sem futuro é ouvido pela última dose em São Paulo
A guerra civil desorienta o homem médio em Aleppo
Uma jovem atriz ascende ao estrelato em Hollywood
Um campeão olímpico torna-se herói nacional em Trelawny
Cientistas descobrem água líquida em Marte
Casais tiram fotos ao pé da Torre Eiffel em Paris
A banda de rock clássica faz uma performance histórica em Wembley
Um líder rebelde recebe o prêmio Nobel da paz em Oslo O primeiro presidente negro dos Estados Unidos faz seu discurso da vitória em Chicago
Sou sortudo por não estar na primeira estrofe
Ou azarado por não pertencer à segunda?
- Caos
0 notes
Intermitências da Morte
Eu tinha medo da morte
Achava que causaria grande estrago
Ela me conheceu e tive sorte
Apaixonou-se por mim como no livro de Saramago
A velha senhora apaixonada como adolescente
A frieza mortal tornou-se incandescente
Na minha cama encheu-se de vivacidade
Desistiu do luto por toda a eternidade
Abandono do cavalo branco
Aposentadoria da foice fatal
Implodiu o peito no ato franco
Declarando que não conhecera igual
Sentimento solavanco
Imprevisibilidade do improvável casal
Quem diria que a morte é o amor da minha vida?
Quem dissesse estaria insano
Era a poesia não lida
Senhora de outro plano
Planícies policromática coloriram minha amada
Iridescente alma resgatada
Desertou do vale sombrio
Nova habitante do país tropical
Aceitou esse desafio
Disse que me acompanha até o final
Na verdade, fez juras à mim
Prometeu que não teremos fim
No árduo trabalho não teve substituta
Não sucumbiu e jamais voltou à labuta
Encantada no feitiço meu
Nova era que se concebeu
E no dia seguinte ninguém morreu
- Caos
0 notes
Ofensas silenciosas
A madrugada de domingo me convidou para mais uma jornada escrava
Calça verde, blusa amarela e azul
Tênis velho e rasgado rumo à zona sul
O espanto das pessoas me espantava
Acalma-te, não sou como tu
Na fogueira das vaidades o objetivo é ser igual, prefiro ser iglu
A moda me incomoda
Meu jeito é quadrado, o mundo é uma roda
Gigante pela própria natureza
Em que a naturalidade gera estranheza
Não sigo padrão nem tenho beleza
Desprezo sorrisos falsos e exponho real tristeza
Apesar de não me enquadrar
Meu retrato emolduro
Feição consternada a me guiar
Pelos passos que costuro
Essa foto não posto
Pois no futuro não aposto
No banco frio encosto
Ensaio um levante esperançoso porém recosto
Recorto memórias amargas das quais não gosto
No meio da multidão
Ninguém fica no meu caminho
As taças se quebrarão
Eu sempre sou vinho
No inverno há migração
Eu sempre sou ninho
Estrela sem constelação
Eu sempre sozinho
Meu vestuário colorido contrasta
Com minhas emoções cinzentas
Há tempos deram um basta
Nas ilusões sedentas
Não cederam nem mesmo nas noites de tormentas
Atormentado pelos traumas da infância
Pela sirene da ambulância
Pela sirene da viatura
Pela vida dura sem estrutura
De um jeito torto representando a bandeira
Mesmo sem pôr o coração na ponta da chuteira
Pote de medalhas de ouro no fim do arco-íris
Tudo desmorando frente à minha íris
Ruínas nas minhas retinas
As tragédias pulsam nas esquinas
À passos curtos sigo
Apesar dos olhares ofensivos
Cansei de procurar abrigo
Nas covas dos vivos
- Caos
0 notes
Finalmente posso viver como um ser humano
Esses versos vêm do coração
Mas não é um poema de amor
Vermelho de vingança, não de paixão
Vermelho de raiva na linha Equador
Sangue fervendo próximo da explosão
Se me calo ou pisam no meu calo sinto calor
Pequenos movimentos levam meu peito à erupção
Jovem suburbano irado
Latino-americano colonizado
Incerto sobre a minha real raiz
Certo que o real não me faz feliz
Preconceitos enraizados
Cercam por todos os lados
Transportaram a destruição direto da matriz
E os filhos da filial tomaram bem no nariz
Nocaute
Blackout
Mesmo com olhos abertos
Não é possível ver a luz
Flertamos com céus encobertos
E a fé cega é o que nos conduz
Mas a mim não condiz
É meu tórax, não meus pulsos, marcado por cicatriz
Ideias insanas, meio maníaco
Pensamentos grandes, megalomaníaco
Estou fazendo de propósito
À procura de um propósito
Que me afaste do niilismo
Enquanto isso não sirvo para depósito
Sou ambiente inóspito
Para a doutrina do existencialismo
Existia em minha essência
Um traço de mudança
Que erradicaria a decadência
Dos tempos de bonança
Criatura de extrema paciência
Aos longos tempos de andança
Porém esses tempos me levaram à templos
Que me apresentaram exemplos
De tragédias colossais
Podridão humana que consta nos anais
Perdição material representada por anéis
Descoloração dos céus azuis anis
Tempestades ambiciosas ferem a nós Valorizamos vestuário e repudiamos espíritos nus
Esses versos pulsam em meu peito
Cada linha um efeito
Ainda não sei do que sou feito
Ou como corrigir defeitos
Nem como seres se acham perfeitos
Mesmo com desprezíveis costumes
Ateamos morte aos cardumes
Choramos chorume
É o cúmulo exterminar a base para chegar no cume
Enquanto há quem não coma
Muitos vivem em redoma
Na nossa defesa são linfomas
Conterrâneos com diferentes idiomas
Idiotas
São os que enganam
Ou são enganados?
Poliglotas
Diversas línguas emanam
Os pensamentos ultrapassados
No passado eu era pacato
Atualmente meu interior é um caos
A teoria é que me eleve ao estrelato
A realidade é percorrer degraus
Graus: Farenheit 451
Livros? Nenhum
A leitura desencadeia encarcerados mentais
Se todos devorassem livros, jamais seríamos desiguais
Por isso cada dia leio mais
Mas ainda é pouco
E quanto mais eu leio
Mais me chamam de louco
O jogo está passando
Venha ver o escanteio
Seu time está ganhando
É para isso que você veio?
Alguns me dizem: "calma, não se irrite
Foi assim que enlouqueceu Nietzsche"
Isso me deixa consternado
Não acredito que alguém acredite
Que contestar é errado
É cada atitude absurda
Impossível incorporar Buda
E não ficar incomodado
Vivemos em um jogo de cartas marcadas
Marquei todas vezes que nossas castas foram renegadas
Quantas costas foram rasgadas
Rasguei o contrato com a paz
Portas e janelas trancadas
Vidas inteiras traçadas
Batalhas, em vão, travadas
Ainda me julgam incapaz
Antes incapaz do que capataz
Antes viver melhor do que viver mais
Quantificam a felicidade como algo palpável
Se na palma de nossas mãos há um mundo imensurável
E justamente nessa imensidão foi onde nos perdemos
Caçadores por necessidade
Tornaram-se ditadores por crueldade
Jogados no mar das atrocidades
Sem barcos e remos
Quando mares e olhos estão fechados
Destacam-se a visão dos privilegiados
Que herdaram a superioridade do tempo das naus
Navios potencializados
Nativos massacrados
Homens que vivem bem são os homens maus
Esse é o cenário e dele sinto nojo
Difícil de mudá-lo com o que tenho no estojo
Eles controlam educação, saúde, quartel
Oceanos, terra e céu
Só coordeno a caneta no papel
Não quero um mausoléu
Tampouco um óbito glorioso
Meu rosto carrega honroso brio
Apenas peço: atirem no meu coração raivoso
Não destruam meu perfil
- Caos
0 notes
O Sol
O Sol simpatizou comigo e me fez seu pupilo
Conversamos olho no olho e não queimou minha pupila
Acalorados segredos que mantenho em sigilo
Um astro cuja magnitude não se assemelha mas o brilho se assimila
Estrela solitária, proprietária de um sistema
Suntuosidade é o seu emblema
Fulgor perene de invisibilidade manifesta
Sua partida traz sensação funesta
Na sua ausência nasce o desvio moral
Ao papel se confessa melancolia existencial
Inspiração para soturna sinfonia
Dolorosa feito grave misofonia
Madrugadas medievais aquecidas por fogo
Chamas de um frágil concorrente demagogo
Para os indigentes, fogueira
Para os abastados, lareira
Suplentes ineficientes não confundem mente sã
Fagulhas não se comparam ao nascimento pela manhã
Do grande astro de irradiante coroa
Expõe sua face e o canto do bem-te-vi ecoa
Responsável por enormes planetas e ínfimos detritos
Presencia demasiada baboseira
Menos insignificante que poeira
E ilumina penumbra de conflitos
A escuridão remete ao sono
Sua alcunha remete ao trono
Antes abanar do que abandono
Não sou dono do mundo mas sou protegido do dono
- Caos
0 notes
BoAte
Saí das trevas para abrir meu clube noturno
Sou anfitrião e atração tocando piano
Percepção do momento oportuno
Para triunfar no plano humano
As salas de aulas estão vazias
Finda-se o ensino médio
Os teatros estão vazios
Monólogos causam tédio
Todos querem uma noite infame
Na candura de um mélico enxame
Em chamas de luxúria e vingança
O caçador pede à presa uma dança
Dois corpos se movem pelo salão
O tempo de um velho amor urge
Dois olhos dizem ao coração
O instante que um novo amor surge
Quando o Sol estreia no novo dia
Sentem falta das teclas namorando meus dedos
No meu espetáculo há magia
E cumplicidade de seus segredos
- Caos
0 notes
Tijolos e Tintas
Os belos são os que mais tem a perder
Quando seus corpos sarados
E rostos santificados
Se rendem ao pesar de envelhecer
Pobre alma que se ilude
Pensando ser eterna sua juventude
Há necessidade de oferecer outras virtudes
Velhos admiradores buscam novas atitudes
Deixam de olhar suas bocas
E ouvem o que tem a falar
Palavras rasas e poucas
Planetas rebaixados de patamar
Os feios nada tem a perder
Conseguiram ser respeitados
Através da capacidade, admirados
Sempre um belo leão a abater
Cientes do olhar rude
E ainda que o brinde não o saúde
Alcançam sua plenitude
Aos padrões dão amplitude
Face disforme supera cabeça oca
O conteúdo põe a capa em seu lugar
Aleijadinho foi mestre da arte barroca
Sua aparência sombria não o impediu de brilhar
- Caos
0 notes
O-
A estrada percorrida pela humanidade é banhada de sangue
Olhe para nossos pés mergulhados em sangue
Estamos inebriados com cheiro de sangue
Chuva ácida desumana com gotas de sangue
O solo fértil da nossa terra foi adubado com sangue
No alicerce da nossa casa há todos os tipos de sangue
Finjo que não sei toda a verdade
A verdadeira face da hipocrisia
Nosso estado mental é de calamidade
Atrocidades cometidas todo dia
Estou sentado em um dormitório quente
Enquanto corpos esfriam
O futuro morre silenciosamente
Enquanto os vizinhos espiam
Sou mais um hipócrita desse sistema
Admito e não nego
Também sou um dos problemas
Antes de me resolver não sossego
O menino me pediu dinheiro no farol
Neguei mesmo com a carteira cheia
Cobro meu lugar ao Sol
Porém assombro quem me rodeia
A frieza de nossos corações
Concebe caveiras de cristais
É tão fácil condenar multidões
Difícil é salvá-las com um tratado de paz
Tratamento de esgoto para nossas podridões
Sanar o básico tipo menos filhos sem pais
As mãos que balançam os berços
Não são as mesmas que abriram os sutiãs
De noite devoram os beiços
Mas há fome pelas manhãs
Avós apelam aos terços
Para manterem as almas sãs
A opção de compra que exerço
São de tecnológicas maçãs
O mundo nas palmas, milhões de aplicativos
Pessoas à margem, milhões de inativos
Ilusões reais, milhões pensam estar vivos
Cravar infinitos leões para vencer milhões de crivos
Tudo isso para nada
A hora do rush congestiona
Estamos parados na estrada
E o caminho decepciona
Muita luta nas jornadas
Muitas mães que se emocionam
Irmãos com as veias marcadas
E os espelhos já não os reflexionam
Refletimos pouco e erramos em demasia
É um ciclo perigoso que o cérebro vicia
Ficamos mudos para a mudança e ela não se inicia
Os laboratórios atestam sermos uma droga em primazia
Perdido nesse tiroteio nem as balas me encontram
Os parentes me desapontam
Comigo também não contam
E já não conto nada para ninguém
Queria escrever um conto mas me atraio pela poesia
Queria escrever uma poesia romântica mas me atraio pela doentia
Quero curar os doentes mas não curo nem meu dia
E já assumo que sou doente também
Tenho problemas na visão
Dos olhos, do quarto, de mundo
Pensei ter visto o clarão da salvação
Era só um vagalume no poço fundo
Movimentos involuntários, translação e rotação
E até com esses dois me confundo
Talvez a vida seja sobre lesão
E eu sempre me contundo
Não vou descansar em paz e quietação
Mesmo que caia em sono profundo
Movemos a areia do tempo sem exatidão
E é na imperfeição do tempo que me aprofundo
- Caos
0 notes
Manuscrito Revisado
Perco o sono mas não perco o trono
Insônia insossa com índices de abandono
Eleito Rei por ser muito solidário
Mas como o Sol, sou um astro solitário
Um brilho intenso no céu límpido
Tão forte que fortalece o ímpeto
Fulgor revigorante que desperta a preguiça
O temor se esvai e a coragem se atiça
Perguntaram quão disposto estava a salvar a humanidade
Abdiquei de minha simplicidade
E personifiquei total complexidade
Que absorve surrealismo e materializa realidade
Homens maus ganharam poderes econômicos
Começaram a nova ordem mundial
Enclausurados em cultos maçonicos
Obtiveram um domínio nunca visto igual
Controlavam países dos quais nem sabiam a língua
Não demonstravam remorso vendo crianças morrendo à míngua
Tudo era sobre poder e não poder perder
Podar a pose de ascensão de quem almejava crescer
Mas não para fortificar como planta
Para enfraquecer raízes da genealogia que se levanta
Em armas intelectuais
Revolução mental que pregava sermos iguais
Enquanto presenciavam dores e nos aniquilavam como rivais
Ri e vai como vencedor da guerra
Chora e cai de rosto na terra
Sorrisos e lágrimas na mesma atmosfera
A fúria se propaga e a desigualdade impera
Os céus pediram reforço para ressurreição da luz
Sozinhos não chegavam onde minha força reluz
Reli os ensinamentos e os refiz
Equilíbrio controlado entre livre arbítrio e martelo do juiz
Fiz jus ao chamado e chamei a chama
Para gelados corações que a honra não emana
E a manada de elefantes que nos pisavam como formigas
Foram trombados e tombados durante as brigas
Abatidos nos embates
Minimizados nos debates
Força física e psíquica foram nossos diferenciais
Acreditamos demais, deixamos eles pra trás e não nos alcançarão jamais
Amais a mais torta forma e a consertarás
Consentir graça ao rude e o curarás
O ódio pode fundar sua seita
Mas só o fundamento do amor que se aceita
Fundamental fase mas sem dar a outra face
Cristalino que transparece porém sólido pra que não transpasse
Linha tênue entre disciplina e castigo
Tecido fino que difere prisão de abrigo
Abri gota a gota, desvendando os sete mares
Centímetros sentido a hectares
É que os ares eram propriedades vinculadas
Com embarque veiculado às verbas arrecadadas
Garanti passagem para os que a mereceram na viagem
Vi que agem no deserto, vendendo miragem
A montagem mostra oásis que se revela sertão
Ser tão seco que não possui emoção
Moços e moças simples que são ludibriados
Lucifers e Diabos no ápice endiabrados
Observo do Alto, todos endividados
Sangue de pagamento, todos débitos quitados
Todas classes quites, extinção de quitinetes
Requinte distribuído, chuva de confetes
Confere o que te cerca e lembra do que cercava
Cerca elétrica extinta, ninguém mais precisava
Precisa atuação que deixou meu povo são
Sanei toda a loucura, trajando preto na escuridão
Escudo fortalecido, recompensa do sacrifício
Insatisfeito com o final, criei um novo princípio
No princípio nada foi fácil, elevado edifício
Edifiquei nossas estruturas mesmo que o solo não fosse propício
Reformando dicionário, significado de difícil
Aquilo que é possível quando não desiste no início
- Caos
0 notes
Volúpia
A tempestade caindo lá fora
E um temporal de amor aqui em nossos lençóis
No calor dos seus braços, meu fogo aflora
E nosso vulcão entra em erupção quando estamos a sós
Puxo seu cabelo e você delira
Beijo seu pescoço e até no frio transpira
A sua pele macia me inspira
A cada palmo viajo e meu mundo gira
No seu cangote deságua o cabelo comprido
Cumpro a meta de ser o escolhido
Sua coxa arrepia e traz nova textura
A minha mão viaja e o pensamento vai à loucura
Puro e verdadeiro, te entrego beijo sincero
Não é mais nenhum segredo, o quanto te quero
Seu olhar sedutor tem contato direto com a minha alma
Frenesi me alucina enquanto tento manter a calma
Você e eu no Éden, provo do fruto proibido
As línguas se entrelaçam, depois o lábio é mordido
Vestida aos meus olhos, despida na imaginação
Mesmo sendo perigoso não me dá tensão
A luxúria me consome e me dá tesão
Você sentou no meu colo e senti poder
Seu toque me faz transbordar de prazer
Me perco na sua pele branca
Me enlouquece com sua palavra franca
Sussurra no meu ouvido e me excita
Desejo em cada centímetro do seu corpo fazer uma visita
Desperta e injeta adrenalina em toda minha malícia
Seu corpo na minha boca é uma delícia
Mamilos lindos e rosados
Naquele instante ficamos alucinados
Rosa virou minha cor preferida
Quero te degustar sem pudor e te deixar desfalecida
0 notes
De Repente
De repente
Como duvidavam os céticos
O Sol cospe sua última fagulha
Não há mais dia para iluminar os açoites
Noites de 24 horas, anos de 365 noites
De repente
O fogo deixa de aquecer
O corpo que te incendiava
Nas gélidas madrugadas invernais
Não tem mais graus Celsius positivos
Apenas ocupa espaço como vulcões inativos
De repente
O sorriso entristece
A piada mais engraçada do comediante
Causa o tédio de uma tarde chuvosa
Pingos de melancolia corroem o teto
Expondo o céu sem estrelas e triste
Poluído pelo tempo infame que o consiste
De repente
Os olhos doces amargam a visão do outro
Assim como a doçura dos beijos torna-se insípida
O inebriante perfume, inodoro
O toque desejado, repulsivo
Minutos juntos, eternidade
Pequenos defeitos, pecados
Longos telefonemas, recados
De repente
O poema mais belo deixa de ter sentido
O amor existente deixa de ser sentido
A ausência antes dilacerante
Não é mais sentida
Há uma sensação revigorante
No ato da despedida
Corações machucados saram com a partida
O suspiro da morte vira sopro de vida
- Caos
1 note
·
View note
O que senti sem ti
Arrepios frios
Carne trêmula
Terremoto cutâneo
Palpitações vulcânicas
Padecimento efusivo
Erupção pungente
Ejeção dramática
Danos indiscriminados
Dilúvio salgado
Afogamento silencioso
Madrugada calada
Manhã calamitosa
Data interminável
Segundos dilatados
Precedente eternidade
Esperança assassinada
Ponte demolida
Destino inalcançável
Metas inexequíveis
Sonhos despertados
Pesadelo emocional
Saudade robusta
Ausência tua
Extinção minha
- Caos
0 notes
Pilares Sociais
Mente sã, corpo saudável
Com saudades, saudado
Conquistando futuro suado
Sede de conhecimento insaciável
Mente força, corpo fortaleza
Amado e armado contra a incerteza
Exploração do território da alma pureza
Sede de essência que não cessa com beleza
Mentem muito, corpos doentes
Cedem muito cedo, são negligentes
Sede da guerra é a capital do capital
O presidente anuncia o uso do arsenal
Semente da paz não foi incorporada no mundo
Se a mente é incapaz, o corpo é moribundo
Muitos estão perdidos sem saber de onde são oriundos
Resolver primeiro as coisas pelas quais desejamos todos os segundos
Segundo estudos, vivemos realidade caótica
Seguindo tudo que é admirado por nossa ótica
Perseguindo todos que diferem da nossa filosofia
Demasiados embates e escassa empatia
Empate agrega um ponto e não muda trajetória
Derrota ensina a lutar mais pela vitória
Para alguns dias de luta se transformam em dias de glória
Para muitos a realidade é sobreviver sem escolha como escória
Não necessitamos atingir material riqueza
Para nos livrarmos da pobreza
E mostrar nossa força independente da alheia fraqueza
Envenenar a rainha não te torna princesa
O princípio do altruísmo vem através da liberdade
De viver sem buscar recompensa, agir pela boa vontade
Ter um coração puro de verdade
Independentemente se céu e inferno existem na realidade
Não pensar por preguiça ou covardia
Pode ser letal, deixar o cérebro em letargia
Quanto mais se pensa, mais difícil é ser feliz
O conhecimento fere as certezas e deixa cicatriz
As dúvidas machucam e as respostas curam
Questionamentos são necessários, mesmo quando faltam soluções
Se felicidade é obter controle nas coisas que nos rondam
Os pormenores agigantam nossas frustrações
Queria descobrir quem criou o universo para iluminar meus breus
Mas me digam religiosos: quem criou seu Deus?
Se contentar com o atalho não dignifica a chegada
A linha final não é sucesso pra quem não evoluiu na estrada
Quanto mais me oprimem
Muito mais me fortifico
Palavras atiradas não me deprimem
Adiciono-as ao meu vocabulário e fica mais rico
Cérebro que se destaca, leva martelada
Mas não conseguem pregar, religião estagnada
Mesmo que me atirem no abismo
Jamais corroborarei com desigualdade e racismo
Raças, etnias, fome e miséria
Há diferença na cor da artéria?
Reclusão dos direitos não são férias
Exclusão da humanidade e sequestro da dignidade são situações sérias
Estômagos vazios ou cheios... de bactérias
Faminto e na barriga, apenas verme
Não comer dói mais que o corte da derme
As paredes vão se fechando e vou estourar o teto
Claustrofobia sentimental sufoca o afeto
Sofrimento excessivo judiando dos fetos
Se a decisão fosse minha, usaria diversos vetos
Mesmo com vidas tortas, mantenha os passos retos
Se o mundo virar uma selva, não sejam insetos
- Caos
0 notes