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Eixão do Lazer: onde Brasília se encontra, se move e se reconhece
De palco de corridas automobilísticas e trânsito pesado a espaço de encontros, cultura e esporte, o Eixão do Lazer traduz o espírito plural da capital

Por décadas, ele foi conhecido como “Eixão da Morte”, uma via expressa que cortava Brasília de ponta a ponta, palco de acidentes e símbolo do trânsito veloz e impessoal. Hoje, aos domingos e feriados, esse mesmo asfalto se transforma. O barulho dos motores dá lugar às risadas, à música, ao som das rodas de patins e ao compasso das passadas dos corredores. É o Eixão do Lazer, uma tradição que, mais do que espaço de esporte, é território de encontros, diversidade e pertencimento.
O Eixão é mais do que uma rodovia. É uma avenida viva, onde histórias atravessam gerações. Foi uma das primeiras vias asfaltadas da capital, inaugurada junto com Brasília, em 21 de abril de 1960. No ponto em que as duas asas se encontram, está o Marco Zero: o centro e o começo de Brasília. Dois dias depois, já servia de pista para o Grande Prêmio Presidente Juscelino Kubitschek, uma corrida automobilística que marcou época. Mas, por anos, o Eixão ficou restrito aos carros. Espaço de passagem, não de permanência.
Essa lógica começou a se transformar lentamente. A partir dos anos 1970, surgiram os primeiros movimentos para abrir temporariamente o espaço aos pedestres, com passeios ciclísticos e eventos esporádicos quase sempre concentrados no Eixão Sul. Mas foi só em 1991 que uma mudança definitiva começou a tomar forma. Naquele ano, um decreto assinado pelo então governador Joaquim Roriz fechou oficialmente o Eixão para veículos, das 8h às 16h, aos domingos e feriados, criando o que viria a ser chamado de Eixão do Lazer. E o que era provisório virou lei em 2012, ampliando o horário e consolidando de vez esse símbolo brasiliense.
Esporte

Seja na corrida, na bike, no skate ou nos patins, o Eixão do Lazer é o endereço certo para quem quer se mexer. Aos domingos e feriados, o asfalto se transforma em uma verdadeira pista democrática, onde iniciantes, amadores e atletas profissionais dividem espaço com quem simplesmente quer curtir o dia ao ar livre.
As subidas e descidas do Eixão Norte são o cenário perfeito para quem busca treino de resistência: maratonistas e triatletas encaram o desafio das ladeiras como parte da preparação. Já quem prefere percursos mais planos encontra no Eixão Sul o lugar ideal para pedalar ou correr com mais tranquilidade. Para o administrador Hugo Braga, de 29 anos, que corre por lá toda semana há seis meses, o espaço vai além do treino: “É um privilégio, porque não são todas as áreas da cidade que são apropriadas para a prática de esporte ao ar livre. Aqui, a pista fechada, a segurança e esse clima de todo mundo querendo se movimentar fazem muita diferença”.
No meio disso tudo, há espaço para todas as idades. Crianças descem as ladeiras em carrinhos de rolimã, se equilibram nas primeiras pedaladas ou acompanham os pais nas cadeirinhas. Skatistas, patinadores e ciclistas cortam o Eixão de ponta a ponta. E para quem quer começar, não faltam opções: tendas espalhadas pelo trajeto oferecem aluguel de bicicletas, patinetes e até carrinhos de rolimã. A jornalista Bruna Alves, de 30 anos, costuma levar seu filho Bento, de 2 anos, para aproveitar o espaço e vê no Eixão uma oportunidade valiosa: “Significa muito ter um espaço livre para ele brincar, já que nós moramos em apartamento. É uma oportunidade de levá-lo para brincar de forma livre, conhecer culturas diferentes, já que o espaço oferece bastante diversidade, e sempre tudo muito organizado”, conclui.
E não é só sobre esporte. Quem pratica slackline, joga frisbee ou até ensaia passos de dança também encontra no asfalto um espaço de treino e diversão. O Eixão é mais do que uma via fechada aos carros, é um circuito de saúde, lazer e encontro, onde o esporte é só mais um dos motivos para estar ali.
Gastronomia

A gastronomia do Eixão Norte é uma atração à parte, quase uma viagem pelos sabores do Brasil e do mundo bem no coração de Brasília. Espetinhos, água de coco, açaí e picolé dividem espaço com pratos que vão muito além do esperado. É possível saborear um churrasco completo, com mandioca e vinagrete, experimentar ceviche, shawarma, arroz carreteiro, feijoada e até um autêntico acarajé preparado na hora. Uma mistura que traduz exatamente o que é Brasília: um encontro de culturas, de sotaques e de paladares.
Maria Liu, de 46 anos, comanda a cozinha do Acarajé da Liu há cinco anos, levando o sabor da Bahia para o Eixão todos os domingos. Embora também atue em outros pontos da cidade, é ali que, segundo ela, acontece a verdadeira mágica. "Aqui é diferente. É um ponto de encontro, um lugar onde temos muita história. Enfim, o mundo no eixo", define, enquanto prepara a massa do acarajé e conversa com clientes que vêm de todos os cantos do país.
E a experiência vai além da comida. No canteiro L do Eixão, quem passa é atraído não só pelos aromas, mas também pela trilha sonora elegante que vem de um piano elétrico. É Eládio Oduber, de 66 anos, que desde 2020 estaciona ali seu food truck de vinhos, combinando taças bem servidas com música ao vivo e boa conversa. O charme do lugar está justamente nesse encontro: a mandioca com vinagrete combina com o chimichurri, que harmoniza com o vinho, que acompanha o acarajé, tudo lado a lado, no mesmo gramado.
E o que não falta opção é cerveja: diversas choperias da capital levam todos os domingos seus barris para os canteiros do Eixão. Uma das figuras sempre presentes, próximo ao Choro no Eixo, é a Cervejas Capivara. José Roberto Moreira, mestre cervejeiro, conta que marcar presença no local foi uma maneira de encontrar novos clientes para sua cervejaria no Lago Oeste e também de ir até os clientes que já tinha. Toda semana ele leva ao menos dois tipos de cerveja; na ocasião, encontramos uma Cream Ale e uma Indian Pale Ale, ambas queridas pelos clientes de diferentes paladares. Sua temática de capivaras atrai até quem não gosta de cerveja: vimos uma família se aproximar pois a filha adorava o animal. Mesmo não gostando de cerveja, o pai comprou um copo de vidro com a logomarca e a filha ganhou porta-copos ilustrados com o roedor.
Essa mistura de sabores, sotaques e experiências faz da gastronomia do Eixão Norte muito mais do que uma pausa para comer. É parte essencial do passeio. E, apesar dos desafios que todo comércio ambulante enfrenta, os vendedores seguem firmes, unidos pela paixão de servir e pelo desejo de manter viva essa tradição, que transforma o asfalto da cidade em um verdadeiro festival gastronômico a céu aberto.
Cultura

Professor e músico, Eládio leva, além de vinho, um piano elétrico para seu cantinho no Eixão. Ele lembra que, na infância, na Venezuela, costumava brincar com os amigos nos gramados dos campos de golfe, que surgiram por influência dos estadunidenses. Eram espaços privados, vigiados, dos quais eram expulsos sempre que o watchman aparecia.
Quando chegou a Brasília, se encantou com os imensos canteiros livres, onde qualquer um podia estender uma canga, montar uma rede ou simplesmente sentar sob a sombra das árvores. Foi essa sensação de liberdade que inspirou o nome de seu food truck, 3 Taças. Assim como Maria, Eládio também circula por outros pontos da cidade, mas é no Eixão que se sente, como diz, em casa ou, melhor, no próprio jardim. Define o espaço como um lugar público sem ameaça, onde se pode desfrutar da natureza e das relações que ela proporciona.
Ainda assim, acredita que a continuidade do Eixão do Lazer, tal como conhecemos, depende de um equilíbrio frágil. Faz críticas à falta de valorização do espaço, que, segundo ele, tem um enorme potencial turístico e cultural. Enquanto conversa, seus dedos deslizam pelas teclas do piano, improvisando uma melodia que lembra uma guajira cubana. Ao nos despedirmos, ele permanece por ali, tocando, rindo e dançando com os amigos e clientes que se juntam em torno de sua música.
Seguindo em direção à Rodoviária, a trilha sonora muda. No gramado, uma banda de rock toca Plush, do Stone Temple Pilots. Mais adiante, um DJ anima um grupo de pessoas que dançam ao som de trance no meio da pista. E, logo depois, no maior ponto de encontro do Eixão atualmente, na altura das quadras 07 e 08, dezenas de comerciantes e visitantes se espalham em torno da tenda do grupo Choro no Eixo. A apresentação já havia terminado, mas no centro da via, no que muitos chamam de faixas presidenciais, um malabarista rouba a cena com acrobacias e fogo, encantando adultos e crianças.
Nas redondezas, sentado sobre uma canga e tomando água de coco, encontramos Pedro Lima, de 24 anos, que já se apresentou ali com sua banda, Elefante na Sala. Conta que a experiência foi não só divertida, mas também surpreendente do ponto de vista financeiro. Colocaram uma placa com a chave pix da banda e se surpreenderam com a generosidade de quem passava.
Jéssica Carvalho, brasiliense, fundadora do grupo Choro Delas e professora de pandeiro na Escola de Choro, é musicista do grupo Choro no Eixo. Ela contou que no Eixão é possível uma proximidade com o público; uma roda de choro aberta que conecta o músico com o público. Além disso, há o céu, as árvores, as pessoas que passam.
Problemas
Entretanto, há quem se incomode com a música e com o movimento proporcionado pelo fechamento do Eixão. Em setembro de 2024, o DER e o DF Legal abordaram os comerciantes e pediram que se retirassem. José Roberto, que estava presente no dia, contou que foram pegos de surpresa; os órgãos do GDF não informaram os comerciantes de que deveriam regularizar sua situação. Descobriram no dia, notando uma movimentação atípica da polícia e os rumores surgindo aos poucos prevendo o que aconteceria.
Após o acontecido, José Roberto deixou de comparecer por dois finais de semana: ele e os outros comerciantes foram convidados a retirarem-se e tudo ficou indefinido.
Em outubro, um mês após a intervenção, foi publicada a Instrução Normativa nº 03/2024 do DER que, além de regularizar os comerciantes, também organizou os chamados “pontos de música”, localizados nas SQNs 113, 203 e 207, criando uma referência para quem busca apresentações ao vivo.
Tanto Roberto quanto Eládio afirmaram ainda estarem insatisfeitos. Afirmam que a resolução ainda deixou muita coisa em aberto e que falta uma infraestrutura melhor, como banheiros químicos e pontos de luz. Roberto conta que registrou “com GPS e tudo” seu ponto no Eixão, junto ao DER; mas não há fiscalização e, sendo assim, qualquer um pode pegar esse lugar; depende da amizade que tem com seus vizinhos.
Futuro
Um fator que contribuiu diretamente para o fortalecimento do Eixão do Lazer foi o programa Vai de Graça, lançado em março de 2025. A iniciativa garante transporte público gratuito de ônibus, metrô e BRT nos domingos e feriados, das 7h às 21h30, facilitando o acesso de quem vive tanto no Plano Piloto quanto no Entorno.
O Eixão do Lazer é, hoje, muito mais do que uma via fechada para carros. É um retrato vivo do espírito brasiliense: diverso, criativo e coletivo. É onde as histórias se cruzam, das crianças no rolimã aos músicos de choro, dos ciclistas aos comerciantes, das famílias que ocupam os gramados aos artistas que transformam o asfalto em palco. Mesmo diante dos desafios, o Eixão segue pulsando, lembrando a cada domingo que nenhuma cidade é feita apenas de concreto, pistas e monumentos. Sem gente ocupando os espaços, não há cidade; não há vida.
Para além das palavras, o vídeo abaixo traz um pouco da atmosfera do Eixão do Lazer. Cenas e trilha sonora que mostram Brasília em movimento, no espaço onde a cidade se encontra, se reconhece e vive.
Fotos e Vídeo: Vítor Lacerda e Raquel Câmara
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(i)mobilidade urbana: no centro de Brasília, Asa Norte oferece poucas opções de transporte público
Frota insuficiente, ônibus atrasados e lotados dificultam a locomoção de quem depende do transporte público na Asa Norte

Para circular bem em Brasília, é quase indispensável ter um veículo próprio. Quando o deslocamento depende de ônibus, os vinte minutos de trajeto viram quase uma hora, sem contar com as esperas nas paradas de ônibus.
Nunca me esqueço das experiências que tive quando estagiei na Embrapa Sede, no final da W3 Norte. Morando em Taguatinga, a única opção era a linha 379. O Moovit (aplicativo que serve de guia para transporte público) dizia que o ônibus “chega em cinco minutos", mas o ônibus parecia ignorar essa estimativa do aplicativo. A teoria e a realidade se desencontravam.
Já faz um bom tempo que terminei esse estágio. Ironicamente, hoje moro a uma distância que basicamente dá para ir a pé, na 914 Norte. Entretanto, de um jeito ou de outro, a história se repete: estudo na 614 sul e continuo dependendo do transporte público. O passe estudantil é importante, pois possibilita uma economia significativa nas contas do mês.
Infelizmente, o que economizo com meu tempo, sempre que espero o ônibus, gasto com meu tempo. Ele nunca chega, às vezes parece ter sumido; quando aparece, já chega lotado e atrasado. Volta e meia cedo ao Uber: nove quilômetros que custam em média pouco mais de vinte reais, dinheiro que anula qualquer economia do passe.
O cenário tem causas conhecidas: frota enxuta, fiscalização irregular, pouca integração entre as linhas e a inexistência de um ramal de metrô que avance além da Rodoviária do Plano. Esse prolongamento foi prometido mais de uma vez, mas continua no papel. Enquanto o projeto não sai dos trilhos, quem mora ou trabalha na Asa Norte troca tempo por tarifa dinâmica.
Mobilidade deveria aproximar centro e periferia, moradia e estudo, salário e lazer. Na Asa Norte, ela ainda separa quem tem carro de quem só tem paciência e um aplicativo aberto na mão.
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Perfil: um músico fruto da Asa Norte
Lucas Miranda, 31 anos, músico e professor. Nasceu na Asa Norte e lá mora a vida inteira. Se descreve como caseiro e complementa que a Asa Norte é sua casa.

Foto: Vitor Ávila
Origens
Lucas cresceu seus anos formativos na 314 Norte. Foi lá que nasceram laços que marcaram sua vida. Um deles foi Giovanni: amigo de infância da quadra que se tornou parceiro musical de longa data — escreveram juntos quase todas as músicas. A relação começou ainda na adolescência, quando um influenciou o outro a tocar violão. Sem essa convivência intensa da quadra, isso talvez não tivesse acontecido.
Aos 11 anos, Lucas já tinha montado uma banda com amigos da quadra, chamada *Laia da 14*. A prefeita da época promovia eventos culturais na quadra, como festas juninas e campeonatos de futebol, e chegou a montar um palco para apresentações musicais. Foi ali, nesse palco montado no meio da 314, que ele teve sua primeira experiência tocando para um público.
Estava nervoso, mas ao ver a plateia sorrindo e reagindo, se sentiu transformado. Após a apresentação, ficou tão abalado pela emoção, que precisou ser carregado por um adulto para descer do palco — e ouviu dele: “um dia eu vou poder dizer que carreguei essa criança no colo.” Tornou-se uma memória inesquecível, um marco na decisão de seguir a música como vocação.
O Contato com a natureza
“Eu acho que deve ter sido um dos melhores lugares para crescer”, afirma Lucas. Descreve o bairro como uma mistura rara: ao mesmo tempo em que era cidade, era livre. Bastava descer as escadas de seu prédio e estava ao mesmo tempo cercado de cidade e de natureza. Árvores frutíferas, céu límpido, araras azuis, terra marrom; em pleno centro urbano.
Sobre as árvores frutíferas, Lucas conta outra história de sua infância:
"E outra coisa que sempre foi muito forte é a questão das árvores, né? De fruta, né? Muita árvore frutífera e a gente subia muito em árvore, catava muita manga, muita abacate, pitanga, amora, tudo isso sempre fez parte do meu dia a dia. Assim, né, de descer, brincar, pegar as frutas nas árvores, subir. Ficou uma época que foi moda fazer guerra de manga, e aí a gente pegava todas as mangas verdes, os moradores ficavam bravos com a gente, com as crianças, a gente pegava todas as mangas verdes pra ficar atacando um no outro, até alguém se machucar, mas era essa possibilidade."

Foto: Vitor Ávila
Reflexões do presente - Asa Norte como ponto de encontro cultural
A Asa Norte é uma inspiração artística? Ela possui uma cena cultural própria?
De acordo com Lucas, a resposta não é tão simples. O cerrado como um todo seria uma inspiração, argumenta ele, embora relembre muitas vezes das memórias envolvendo as árvores frutíferas da 314 Norte de sua infância.
Sobre a cena cultural, o músico não pensa que o bairro possua propriamente uma cultura local, mas que ele é um palco alimentado por pessoas que vem de diversos locais.
Em suas palavras:
"Eu também não acho que a Asa Norte em si tenha uma cena cultural própria, mas ela é um local muito privilegiado porque ela é alimentada por pessoas de outra região. Então, como tem muita gente que vem estudar na UnB, por exemplo, ela se torna um polo cultural muito forte. Muitas pessoas que vêm de outras cidades, satélites, de outras regiões do DF e se encontram na Asa Norte para fazer essa produção cultural."
A Asa Norte do Futuro
Como Lucas imagina o seu bairro no futuro? O que falta nessa parte de Brasília que ele descreve como sua casa?
"Eu gostaria que ela fosse mais acessível, mais conectada com o resto da cidade. Sonho com um metrô que passe pela UnB, que cruze toda a Asa Norte e siga até Planaltina, passando por Sobradinho. Acho que isso facilitaria muito a vida das pessoas e diminuiria a dependência do carro.
Também queria ver mais espaços e estrutura para a cultura, mais lugares para shows, ações comunitárias acontecendo com frequência, e a galera das próprias quadras se reunindo pra tocar, criar, trocar ideia.
Além disso, acho que o esporte tinha que ser mais valorizado. Cada quadra devia ter sua quadra de esportes bem cuidada, acessível. Isso tudo poderia transformar a Asa Norte num lugar ainda mais rico culturalmente e mais vivo no dia a dia."
Escute O Gosto, canção de Lucas Miranda, parte do EP “Seca (Agosto)”
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Asa Norte sob vigilância: helicópteros, tráfico e desafios sociais
O bairro presenciou crimes chocantes neste ano. A polícia reforça o patrulhamento mas, além do desafio de segurança, há um grande desafio social.
Todas as noites, por volta da meia-noite, moradores da Asa Norte escutam um helicóptero sobrevoando a região. O barulho é alto e os helicópteros, que diariamente sobrevoam o bairro, voam baixo. Esses helicópteros fazem parte de uma operação de segurança pública que começou em fevereiro. Em entrevista para o DF1, Edimar Oliveira, porta-voz da Polícia Militar, afirma que “a operação é feita para aumentar a sensação de segurança”.
Tráfico
Em operações recentes da Polícia Civil do Distrito Federal, foram presos indivíduos suspeitos de vender e entregar drogas para moradores da Asa Norte. De acordo com o Correio Brasiliense, cinco suspeitos de “abastecer usuários de alta renda da Asa Norte” foram presos pela PCDF.
Em março, outro caso foi divulgado pelo portal Metrópoles. Em operação também da PCDF, um indivíduo foi preso em flagrante, acusado de vender droga por mídias sociais. O portal afirma que o suspeito “fazia delivery em áreas nobres do DF.”
Violência
Uma das questões mais presentes nos jornais é a violência vinda de pessoas em situação de rua. Neste ano, alguns casos repercutiram significativamente. No dia 20 de janeiro, uma pessoa idosa de 77 anos foi agredida na 203 norte, às 18 horas, enquanto voltava da academia. O suspeito foi identificado como um homem de 34 anos em situação de rua.
No dia 22 de janeiro, um sábado, na 210 Norte, onde diversos bares frequentados por estudantes universitários estão localizados, uma mulher de 24 anos foi violentada por um homem de 31 anos identificado como pessoa em situação de rua. O acusado foi preso e levado para a 2ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte.

Em levantamento de 2023, o Distrito Federal representava a unidade da União com o percentual mais alto de pessoas em situação de rua. Em dados divulgados pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), em 2024, havia quase 3000 pessoas sem moradia no Distrito Federal.
Neste ano, ao menos duas ações de acolhimento de pessoas em situação de rua foram realizadas em diversas regiões da Asa Norte. A mais recente ocorreu nos dias 18 e 19 de março, visitando 28 endereços da Asa Norte.
As ações são coordenadas pela Secretaria de Desenvolvimento Social, pela Secretaria de Saúde e por outras 6 pastas do Governo do Distrito Federal, além de outros órgãos como a Novacap e o Conselho Tutelar.
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Entre utopias e desvios: o olhar de Ulisses Zoccolaro sobre a Asa Norte de Brasília O arquiteto Ulisses Zoccolaro analisa as diferenças entre Asa Norte e Asa Sul, o impacto da UnB na arquitetura da cidade, os desafios do brutalismo, a revitalização da W3 Norte e as mudanças propostas pelo PPCUB.

1. O que, arquitetonicamente e urbanisticamente, diferencia a Asa Sul da Asa Norte?
Há talvez dois aspectos a considerar nessas diferenças entre Norte e Sul que são bem visíveis.
Um é que o setor comercial da Asa Sul se beneficiou de um pioneirismo no momento da oferta dos lotes e colonização gradual de Brasília.
Já as superquadras, residenciais, da Asa Norte, me parecem se beneficiar de uma situação inversa: os primeiros colonizadores da Asa Sul, no afã de rapidamente ocupar o território para já poderem trabalhar na nova capital federal, fizeram os edifícios e casas de maneira mais espartana, quase que como uma pioneira e despojada ocupação militar ou bandeirante.

2. Falando de algumas obras e pontos específicos do bairro, temos o Instituto Central de Ciências (ICC), também conhecido como Minhocão, que é uma das obras arquitetônicas mais marcantes de Brasília. Além dele, a presença da UnB na Asa Norte parece ter trazido algumas influências para o bairro. Como você avalia essa presença e influência arquitetônica da UnB? Além disso, você acredita que ela influencia ou influenciou o urbanismo da cidade?
Como em tudo, a presença de um pólo gerador de idéias e centro de debates da cultura e das ciências pode ter gerado bons e maus resultados.
A meu ver, uma das vantagens da UnB ali na Asa Norte foi ter à disposição, e muito perto, uma certa quantidade de espaço onde pudesse experimentar na prática, conceitos que estavam sendo discutidos nos âmbitos da arquitetura à época nos Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna, a exemplo do modernismo, brutalismo e Bauhaus, e implementá-los.
Isso permitiu surgir o próprio ICC no coração da UnB, mas também outras experimentações em edifícios comerciais ali circundantes.
Porém a esperança em muitos casos foi vã, porquanto edifícios comerciais muito modernos ou brutalistas, embora icônicos por um lado, tendem também a "assustar”.
3. Ainda um pouco ligado a UnB, outro ponto notável da Asa Norte é a o CLN 205/6, que foi projetada para ser diferente, como afirma a arquiteta responsável pelo projeto, Doramélia da Motta. Idealmente, no térreo se localizariam lojas que atendem necessidades mais urgentes (mercearias e farmácias), no primeiro andar encontraríamos serviços (bancos e correios), no segundo andar, negócios (dentistas, gráficas, advogados) e na cobertura áreas de lazer, até com parquinho para crianças. Desde que a quadra foi inaugurada, em 1979, a própria arquiteta afirmou que “desde o início da construção a coisa foi desvirtuada”. Na sua opinião, quais aspectos contribuíram para a quadra não ter conseguido manter os planos originais?

O problema de não ter dado tão "certo" a quadra 205/206 tal como planejado, foi justamente a pretensão arquitetônica de querer tudo planejar e de ditar regras de antemão que deveriam ser seguidas pelas pessoas, os usuários que "desvirtuam" a bela idéia, como se elas não fossem capazes de ter outras idéias e destinações para os seus espaços.
A pretensão, repito, de não querer deixar margem à criatividade e liberdade humana foi a grande falha dessa quadra, e esse é o problema inerente de toda e qualquer utopia.
Mas quando entra a livre escolha humana, opta-se por lugares mais espontâneos, aconchegantes, vernaculares e mais abertos às adaptações dos gostos e tempos da população usuária.

4. Falando das quadras residenciais, na SQN 107 temos alguns blocos que chamam muita atenção pela sua arquitetura brutalista, projetados por Mayumi Watanabe e Sérgio Souza Lima. O projeto englobava a 107, a 108, a 307 e a 308; porém, por conta de uma mudança de governo do DF, somente 3 blocos foram construídos e o resto do projeto foi abandonado. Mesmo Brasília não sendo alheia ao brutalismo, porque você acredita que não houve mais interesse em construir blocos como os da 107?
O brutalismo nunca caiu muito no gosto popular. Mesmo na época de seu maior avanço, nas décadas de 50 a 70, a maior parte dos emblemas brutalistas-modernistas consistiu em prédios públicos ou residenciais sob encomenda governamental. Quando cessa dito governo, a verdade é que a proposta brutalista, com sua descomunal pretensão de tabula rasa em quase tudo, em detrimento da arquitetura mais ao gosto comum, também é descontinuada. Ou seja, somente vindo meteoricamente de cima é que o brutalismo foi viável, ao menos num primeiro momento.

Em alguns casos os resultados foram positivos, como foi toda a história do Niemeyer com Kubitschek, em que, bom, muita coisa se salva e possui manifesta beleza, de longe, pelo menos.
No caso bem mais modesto do Watanabe e Souza Lima, e de muitos outros aqui em Brasília, houve ganhos e perdas nessa arquitetura brutalista de menor projeção e pretensão, como no dessas quadras citadas, já que ali não havia, ao que parece, um ativismo tão declarado pelo estilo. Então a coisa fica mais passável, por assim dizer. Esses blocos são prédios de exotismo temperado, de fealdade interessante, e no italiano, é preciso lembrar, brutto tem a ver com feio, repulsivo, ruim, além do bruto mesmo, com um "t".

5. A proposta original de Brasília incluía a ideia de "superquadras", pensadas para integrar moradia, lazer e serviços de forma adequada. Na Asa Norte, você acha que essa proposta se manteve fiel ao conceito original ou houve transformações significativas ao longo do tempo?
Na Unité d'Habitation em Marselha, de Le Corbusier, de onde o conceito do prédio feito bloco da quadra inteira foi extraída, existia esse propósito de ser "modelar", de o arquiteto dizer "vejam como sei projetar e integrar tudo numa bela forma - quadradona e brutalista".
O resultado é que lá em Marselha virou praticamente um museu, com gente morando dentro. Muito semelhante é o caso do Ed. Copan, do Niemeyer, em São Paulo, um edifício com o intento totalizante de ser tudo ao mesmo tempo, comércio, moradia, serviços, quase que prescindindo da própria cidade na sua variedade.
Em Brasília essa noção já desde o projeto das superquadras, com os blocos retangulares, não foi imposta rigorosamente dentro do dogma corbusiano, haja vista que os pilotis desses blocos tiveram real uso de "praça" permeável e sem comércio dentro deles, ficou algo separado com o espaço vazio, arborizado ou não, isto é, moradia aqui, comércio ali etc.
Não vejo radicais diferenças entre a Asa Norte e Sul, salvo casos pontuais. O que se percebe é que malfadadamente esses blocos, falando só deles, são muito parecidos entre si por essa obrigação de construir dentro da projeção do lote, instituído pela Terracap.
6. A W3 Norte passou por diversas fases ao longo das décadas, de um importante polo comercial a um período de decadência e, mais recentemente, uma tentativa de revitalização. Na sua opinião, quais foram os principais fatores que levaram à sua fuga e como estão disponíveis as propostas de recuperação desse eixo?
Difícil predispor os fatores realmente determinantes, até porque muitos trechos de grandes cidades, sobretudo o centro histórico, se não for bem cuidado, apresenta problemas desse tipo da W3, simplesmente aquilo deixa de ser atrativo e interessante e parte-se para outros lugares, supostamente mais atraentes e bonitos.
O que impede a W3 sair do torpor em que está, para ser um eixo gastronômico, cultural, talvez de vanguarda tecnológica, ali bem no coração da cidade?
Se o VLT, por exemplo, tivesse sido implantado, talvez essa mudança para melhor, para a revitalização da W3, já pudesse ter sido começada e acelerada.
Mas há muitas outras possibilidades de renascimento que prescindem do pontapé inicial governamental.
7. Mudando um pouco de assunto, no ano passado, muito se discutiu na CLDF e nos jornais locais o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília. Como você entende o PPCUB?
O fato de que o PPCUB tenha surgido pelo intuito de atualizar os crivos preservacionistas de Brasília, parece-me que no fundo todo esse afã é de criar mais e mais regras, quando o recomendável seria liberalizar Brasília.
Veja-se que uma cidade não é uma múmia, as pessoas estão ali indo e vindo, vivendo e amando, e toda a instituição de preservação, se não for sábia e atenta à dinâmica humana, só sabe lidar com a vida autêntica amordaçando-a, isto é, sendo altamente conservadora do que precisa viver, caminhar adiante.
Mesmo com todo o bom propósito dos planos de conservação urbana de Brasília, se não couber aí uma índole de flexibilização das regras de preservação urbana (urbana, pois da arquitetura é outra história...), o resultado no longo prazo será inviabilizar a cidade tal como deve ser, e transformá-la numa ruína, bem preservada, mas estagnada.
Até quando, podemos questionar, Brasília se contentará em ser uma bela maquete que não pode ser mudada, às vezes radicalmente, nos seus dogmas modernistas.
8. Tratando-se da Asa Norte, o PPCUB propõe certas mudanças que permitiriam habitações nos pavimentos superiores de prédios da W3 Norte, hotéis de até 12 andares no Setor Hoteleiro, permissão para construção de comércios varejistas e lojas de materiais de construção no Setor de Embaixadas, além de outras. Como você avalia essas mudanças, que impacto elas poderiam trazer para o urbanismo Asa Norte?
Esses são os pontos que redimem o Plano, no sentido de desamarrar certos entraves urbanos, e conforme dito anteriormente, somente assim o Plano possui alguma validade, não no sentido contrário de ultra-preservação.
É preciso assistir aos desdobramentos do PPCUB e demais regras preservacionistas de Brasília com precaução, sem o oba-oba inicial.
Tratando-se do aspecto comercial da Asa Norte, toda mudança visando insuflar mais dinamismo urbano é, de cara, sempre bem-vinda, mas isso pouco adiantará de se não forem pensados e executados os meios de se levarem os modais de transporte rápido para a Asa Norte, de forma efetiva e abrangente.
Até hoje a UnB, por exemplo, é destituída de linha de metrô, e em nenhuma capital mundial isso seria permissível em relação a uma das universidades nacionais mais importantes.
Note-se em suma que por mais brilhante que seja a letra do PPCUB se não for colocado em prática de maneira firme, rápida e decidida, será outra "obra-prima" engavetada.
Fotos: Vítor Lacerda
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Feirinhas da Asa Norte atraem público e fortalecem pequenos empreendedores
Misturando produtos orgânicos, artesanato e atividades culturais, feiras livres da Asa Norte trazem muitas opções de alimentos e oportunidades de socialização
O Distrito Federal possui um aquecido mercado de produtos orgânicos. As feiras são os melhores lugares para encontrar hortaliças e frutas orgânicas e a Asa Norte possui ao menos 8 feiras livres que ocorrem regularmente todas as semanas, de terça a sábado.
Algumas dessas feiras contam com a produção de assentamentos agrários, com preços mais baixos que os da maioria dos supermercados da cidade, afirma Pedro Rafael Vilela, em matéria para o Brasil de Fato.

Em entrevista para o portal Metrópoles, o agricultor João Marcolino, que vende em feiras da Asa Norte e do Cruzeiro, conta que chega às 2h20 para montar sua barraca, tudo para que às 6 horas esteja pronto para receber o público.
Embora muitos moradores apreciem as feiras, certos impasses com a Secretaria do DF Legal e com a população local já ocorreram. Foi o caso da Feira da Ponta Norte, que ocorre todos sábados pela manhã na 216 Norte. Clauder Diniz, em entrevista para o Brasil de Fato, conta que “[…]depois que a feira se tornou mais conhecida, começaram a ocorrer alguns eventos pós-feira, depois das 14 horas, com música e som que incomoda muitos moradores[…]”. Além disso, os organizadores da feira enfrentam dificuldades para conseguir regularizar a feira, sem sucesso desde 2020. Buscadas pela reportagem de Pedro Rafael Vilela, nem a Administração Regional Do Plano Piloto nem a Secretaria do DF Legal deram esclarecimentos ao jornalista.

Apesar dos eventuais embates com moradores locais, as feiras chegam a atrair até mesmo novos moradores para a vizinhança. Luiz Sarmento, arquiteto, conta que se mudou para a 415 Norte e já visitava a feira da 216 antes disso, "Vejo a feirinha como um importante ponto de encontro da vizinhança, de ampliação dos ciclos de amizade e laços comunitários. A feira também dinamiza um espaço super agradável que antes era subutilizado, permitindo um maior uso das áreas verdes das superquadras pelos moradores, como planejou Lúcio Costa”, conta o entrevistado.

Fotos: Vítor Lacerda
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